segunda-feira, 19 de maio de 2014

O ARCO DA RESPONSABILIZAÇÃO



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Em tempo de eleições, mas também noutros momentos de debate político, é muito comum ouvirmos argumentações - de dirigentes dos partidos que nos têm governado ao longo de quase 40 anos, de formadores de opinião e de vozes dominantes nos grandes meios de Comunicação Social, de empresários e de outros atores do sistema - que procuram restringir o leque das alternativas políticas, às propostas e interpretações do que designam por "arco da governação".

Criou-se e tenta-se perpetuar uma espécie de coutada para o exercício do poder:  uma coutada que surge organizada no plano económico, social e cultural. E essa perspetiva de domínio quase absoluto é formulada quer para as políticas nacionais quer para as políticas europeias, quer ainda, para o posicionamento de Portugal no contexto mundial.

Reconhecendo que há diferenças entre as forças do "arco do poder", que uma significativa parte do Partido Socialista não alinha nessa perspetiva e que até à Direita há quem não se deixe fechar na conceção e objetivos desse "arco", chegou a hora de pegarmos nessa apropriação exclusiva das "condições de governação" e colocarmos, de forma clara e concreta, o problema da efetiva responsabilização pela situação em que o país se encontra, pois, essa sim, tem quase exclusividade.

Se formos observar os avanços conseguidos no nosso país nos últimos 40 anos, no desenvolvimento de infraestruturas básicas, de políticas de educação, ensino e formação, de saúde, de proteção social, de afirmação da igualdade, de participação cívica, encontramos, no plano da elaboração de leis e na ação social e política anterior e posterior à sua entrada em vigor, a participação não só de forças do "arco do poder", mas também das forças (partidos, movimento sindical e movimentos sociais, estruturas académicas e de investigação e outras organizações económicas, sociais e culturais) que estiveram fora desse arco, sendo verdade que muitas vezes se avançou por ação destas.

Entretanto, quando se analisa o que correu mal na sociedade portuguesa, nas políticas internas e nos posicionamentos na União Europeia (UE) - desde a secundarização do setor produtivo até aos negócios das swaps ou ao investimento excessivo em cimento armado, à canalização de recursos para setores especulativos e rentistas, à proliferação de compadrio e corrupção, ou ainda, às posições de apoio a desastrosos caminhos trilhados pela UE -, encontra-se o dito arco da governação aberto a interesses poderosos, mas fechado e hostil a todos os outros. Esse arco da governação mais não é, então, do que o arco da responsabilização que tem de ser feita.

Esta "realidade" tem de ser transformada, pois a UE e especificamente Portugal prosseguem a caminhada para o abismo.

Até há dias diziam-nos que tudo corria pelo melhor. A Europa tinha virado a página. O remédio estava a fazer efeito. Era o que ouvíamos e líamos, da Grécia a Portugal, num coro que espantava pela afinação. Mas há dois dias uma estimativa do INE baralhou o cenário: no primeiro trimestre deste ano, depois de alguns trimestres anteriores de crescimento, tomado como efeito milagroso do "ajustamento", o PIB caiu de novo em Portugal. Algo semelhante aconteceu em toda a Zona Euro: apenas 0,2% de crescimento; França estagnada; Itália em recuo; Finlândia em recessão...

Afinal a notícia da cura era um pouco exagerada. Os "mercados", entidade demoníaca em quem inculcaram características humanas, "irritaram-se" de imediato. Os juros da dívida pública subiram, as bolsas agitaram-se. O sinal é claro. Na economia europeia, e ainda mais em Portugal, tudo está preso por arames, dependente, segundo o Governo, de refinaria que encerra para reparações, de linhas de montagem que param alguns dias, ou do calendário de festividades religiosas. E no plano social e político a situação do país continua a ser de enorme gravidade.

Para uma alternativa consistente há diversos bloqueios a vencer à Esquerda mas, no atual quadro político-partidário, a solução impunha a saída do PS do aprisionamento àquela conceção de "arco da governação", sinal que a sua campanha eleitoral não dá.

Com ou sem essa alteração, é imprescindível, e acabará por se construir, um arco de responsabilidade com projeto de futuro.

Cristovão Colombo e os esquentadores



Tomás Vasques – jornal i, opinião

Os portugueses, tal como a generalidade dos povos europeus, cedo se aperceberam que a União Europeia estava a ser "construída" no mais completo divórcio com a sua vontade

1 - Em cumprimento do calendário arrasta-se a mais desoladora campanha eleitoral de que tenho memória, o que não pode deixar de entristecer quem acredita nas virtualidades da democracia. A indigência e o vazio do discurso dos candidatos dos partidos do governo cruza-se, nas ruas, com a gélida indiferença dos cidadãos, aqui e ali disfarçada pela cobertura mediática de visitas a empresas ou jantaradas com a nomenclatura partidária; também os partidos da oposição não conseguem mobilizar o imenso caudal de descontentamento que por aí abunda. O que era de esperar. Um povo enganado, maltratado e sem esperança em dias melhores, não corre atrás de foguetes, nem comemora, como o governo, o empobrecimento, o desemprego, a emigração forçada de centenas de milhares de jovens. Um povo enganado, maltratado e sem esperança em dias melhores só pode desconfiar de qualquer promessa eleitoral, tanto quanto começa a desconfiar de todos os políticos, senão mesmo desta democracia agrilhoada, em que só em véspera de eleições lhe dão palmadinhas nas costas e falas mansas. E depois, uma vez recolhidos os votos, os eleitos engrossam a voz e brandem o chicote escondido atrás das costas. Lincoln já tinha advertido: "não se pode enganar a todos todo o tempo".

2 - O desinteresse dos portugueses pelas eleições para o parlamento europeu já vem de trás. Desde há vinte anos, a abstenção ultrapassa os 60%, apesar de, ainda em tempo de ilusões, em 1987, logo após a integração europeia, mais de dois terços dos eleitores terem votado, ficando a abstenção nos 27%. Isto significa que há uma relação directa entre a abstenção e a percepção da utilidade do voto. Os portugueses, tal como a generalidade dos povos europeus, cedo se aperceberam que a União Europeia estava a ser "construída" no mais completo divórcio com a sua vontade. Sem qualquer debate, e sobretudo sem qualquer envolvência dos cidadãos. O seu voto era inútil, porque em nada alterava o rumo do "monstro" burocrata e autoritário que crescia em Bruxelas. E o desinteresse foi crescendo, de eleição para eleição. Mesmo o terço de eleitores que se deslocaram às urnas de voto nas últimas eleições europeias não foram, certamente, escolher as duas dezenas de deputados portugueses em Bruxelas, aos quais, mal ou bem, não outorga qualquer utilidade, mas foram sobretudo pronunciar--se sobre as políticas do governo português no momento. É o que vai acontecer, também, no próximo domingo. Ao contrário das eleições autárquicas, em que se misturam uma multiplicidade de protagonistas, de candidaturas independentes e interesses locais, estas eleições europeias vão ser um referendo, um plebiscito, uma gigantesca sondagem às políticas deste governo. No fundo, o ensaio geral das legislativas do ano que vem. E, se assim for, os resultados podem constituir uma desagradável notícia para o governo.

3 - Como se não bastasse a dupla Paulo Rangel e Nuno Melo, os candidatos dos partidos do governo, espreguiçarem-se no mais primário discurso político e na completa indigência intelectual, tomando os portugueses por parvos, apareceu ao seu lado Jean-Claude Juncker, no mesmo registo. O candidato à presidência da Comissão Europeia pelos partidários de Ângela Merkel, veio a Lisboa passear a sua ignorância sobre o fundador da primeira cidade de origem europeia na América, o navegador genovês Cristóvão Colombo. Disse o luxemburguês: "Os socialistas lembram-me um dos vossos compatriotas mais prestigiados: Cristóvão Colombo. Quando partia nunca sabia para onde ia, quando chegava nunca sabia onde estava, e era o contribuinte que pagava a viagem." Para além de Colombo não ser nosso compatriota, apesar da ficção o querer fazer galego ou catalão, e mesmo português, a patacoada é alarve, própria desta gente que gere a destruição da União Europeia e que não sabe "que o sonho comanda a vida". Assim os socialistas, portugueses e europeus, fossem capazes de, tal como Colombo, "dar novos mundos ao mundo" e descobrir de novo outras Américas. De Colombo fala-se 500 anos depois; de Juncker, mesmo pago com dinheiro dos contribuintes, daqui a uma década não passa da marca de um esquentador.

Jurista - Escreve à segunda-feira

Angola: O Menino Jesus e o Censo Geral




Jornal de Angola, opinião – em A Palavra do Diretor

Angola somos todos nós, mas para apurar quantos somos, onde vivemos e o que fazemos, está em marcha o Censo Geral da População e Habitação.

Os recenseadores vão bater-nos à porta para fazerem um inquérito de 40 perguntas. É rápido, fácil e muito simples. Ninguém vai fazer perguntas que tenham a ver com a reserva da intimidade privada. Os nossos segredos, os “jardins secretos” de cada um, não são chamados para o censo. Depois de respondermos ao inquérito vamos continuar exactamente na mesma, porque apenas revelamos aquilo que é de interesse para as estatísticas.

O recenseamento da população (e no nosso caso, também da habitação) é uma prática muito antiga. O imperador romano César Augusto quis saber quantos habitantes tinha a Judeia, na época colónia de Roma. Maria e José saíram da sua aldeia em direcção a Belém, para se recensearem. O Menino Jesus nasceu nessa viagem para ser rei. 

Há memória escrita de recenseamentos da população e das terras cultiváveis na Idade Média, desde os reinos africanos à Europa, passando pelo Oriente, na época muito mais avançado que o resto do mundo e com cidades organizadas à custa do recenseamento dos habitantes, da oferta de habitação e dos recursos. 

Na época colonial existiram em Angola vários recenseamentos da população. O último foi em 1970 e ficou marcado o próximo para 1980. Em 1983 foi feito um recenseamento parcial, porque a guerra de agressão estrangeira  impediu uma operação estatística que respeitasse os princípios básicos do censo. 

De resto, os técnicos de estatística recomendam um Censo da População de dez em dez anos, para acompanhar com fiabilidade a evolução das gerações, mas nada pode ser feito na confusão generalizada.

O Executivo precisa de saber quantas crianças existem em Angola até aos seis anos, para poder responder eficazmente aos cuidados de saúde maternos e infantis. É necessário saber quantas crianças vão em cada ano frequentar o ensino pré-escolar e quantas vão para as escolas. Com o recenseamento é possível também prever quantas novas crianças vão entrar, todos os anos, no sistema de saúde ou na rede pública de ensino. 

Quem governa precisa de saber como estão alojadas as famílias angolanas. O Plano Nacional de Habitação só pode responder positivamente às necessidades reais do país se for apurado quantos somos, onde e como vivemos. Sem os dados do Censo Geral da População e Habitação há o risco de construir centralidades onde basta um bairro ou o contrário. Quando forem revelados os dados finais dos inquéritos, quem mais fica a ganhar são os angolanos que hoje vivem os efeitos da interioridade. 

Uma vez tirado o retrato da grande família angolana, é possível responder com eficácia às necessidades exactas de água, luz, comunicações, rede viária, escolas, postos, centros de saúde e hospitais, espaços verdes, equipamentos de lazer, aterros sanitários, saneamento básico e estações de tratamento de águas residuais. O Censo Geral permite dar um forte empurrão à qualidade de vida e fornece dados estatísticos para uma melhor organização e gestão do território.

A constituição das autarquias locais, que alguns políticos querem que seja feita à pressa e sem o conhecimento real da situação de cada município e comuna, tem no Censo da População e Habitação o seu mais precioso aliado. Os municípios e comunas não são todos iguais. Em qualquer parte do mundo o Poder Local é constituído por um número de autarcas que é determinado pela grandeza de eleitores inscritos. Uma comuna com mil habitantes elege menos autarcas do que uma com 100.000. Os recursos financeiros para gerir uma autarquia com 10.000 eleitores não são os mesmos do que os necessários para 80.000. Só depois do Censo Geral é possível desenhar o novo mapa autárquico nacional. Onde há actividades económicas pujantes, as autarquias têm financiamentos garantidos. Onde nada existe, a não ser um comércio rural incipiente ou agricultura familiar de subsistência, o Orçamento Geral do Estado tem que reforçar as finanças locais.

Hoje temos municípios que cresceram de tal forma que justifica o seu desdobramento em dois ou três. E no interior do país, onde a guerra de agressão estrangeira destruiu tudo, há municípios em morte social. Face aos níveis de destruição dos equipamentos básicos e do desmantelamento dos circuitos de produção e distribuição, deu-se um êxodo de milhões de pessoas. É preciso ter em conta estas realidades na reconstrução da nova divisão política e administrativa do país. E só o Censo da População pode dar os números fiáveis para que este importante passo seja dado.

O Censo Geral é o melhor amigo das futuras eleições autárquicas. A pressa só pode dar confusão, oportunismo e corrupção. No actual quadro, com os números que hoje temos, em vez de um poder local democrático, as eleições só podem dar satisfação àqueles que aprenderam a trabalhar com base em clientelas políticas sedentas de poder político e financeiro. 

O Censo Geral é amigo da boa governação e do futuro dos meninos e meninas de Angola. O Censo  fornece os dados que dão sustentabilidade a uma melhor gestão da Saúde, da Educação a todos os níveis, do Desporto, dos Transportes Públicos, da Banca, dos Seguros, da Indústria, do Comércio, dos Serviços, das Novas Tecnologias.  Por isso, devemos encarar os inquiridores do Censo como gente da casa e recebê-los de braços abertos. Quanto melhor for o seu trabalho, melhor Angola vamos ter. Até ao fim deste mês vamos todos vestir a camisola do Censo. Com os seus resultados, Angola fica mais forte.

LUANDA E HAVANA REFORÇAM RELAÇÕES




O vice-presidente do Conselho de Ministros de Cuba, Ricardo Cabrisas Ruiz, efectua uma visita de trabalho a Angola de hoje até ao dia 23. Um comunicado de imprensa do Ministério das Relações Exteriores informa que Ricardo Cabrisas Ruiz chega hoje e vai ser recebido, no aeroporto, pelo ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti.

A visita do vice-presidente do Conselho de Ministros de Cuba insere-se no quadro do reforço das relações de cooperação bilateral e político-diplomáticas entre Angola e Cuba.

De acordo com o programa oficial da visita, Ricardo Cabrisas Ruiz é recebido hoje pelo Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, e vai ter um encontro de trabalho com o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Edeltrudes Costa.

Ricardo Cabrisas Ruiz vai ainda ter encontros com os ministros da Defesa Nacional, Relações Exteriores, Educação, Ensino Superior, Finanças, Construção, Energia e Águas, Agricultura, Transportes e Saúde. 

As relações diplomáticas entre Angola e Cuba foram estabelecidas a 15 de Novembro de 1975. A cooperação abrange a educação, saúde, obras públicas, transportes marítimos, pescas, petróleos, mas radio-difusão e outros domínios.

Jornal de Angola

27 de maio de 1977 e Nito Alves - o tabu da história de Angola




Dezenas de milhares de angolanos foram torturados, mandados para campos de concentração e fuzilados sem julgamento neste período negro da história angolana. 35 anos depois, vamos tentar saber mais sobre o que aconteceu.

Há 35 anos, no dia 27 de maio de 1977, houve manifestações em Luanda a favor de Nito Alves, na altura ministro da Administração Interna e membro do Comité Central do partido no governo MPLA. A seguir ao 27 de maio de 1977, os apoiantes de Nito Alves, o chamados "fraccionistas", são perseguidos pelo MPLA de Agostinho Neto (na foto), o primeiro presidente de Angola. 


Elite política moçambicana obtém vantagens para explorar recursos naturais




Partido governista FRELIMO teria acesso privilegiado sobre localização de recursos naturais. A informação foi divulgada em documento do Centro de Integridade Pública (CIP), que defende transparência no país.

O CIP, Centro de Integridade Pública de Moçambique, publicou o cadastro mineiro do país, que segundo a organização "mostra milhões de hectares de terra tramitados a favor da elite política, sem o conhecimento das comunidades, em todos os distritos do país".

O documento expõe também os interesses do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), que é criticada pelo CIP por "ter acesso privilegiado à informação sobre a localização de recursos naturais em Moçambique".

A DW África entrevistou o analista Edson Cordeiro, do CIP, sobre o tema.

DW África: A distribuição de licenças de prospecção e pesquisa mineira é feita sem transparência em Moçambique?

Edson Cordeiro: De certa forma, pensamos que há pessoas que têm acesso privilegiado à informação e, como tal (sic), no momento, detêm as licenças para um futuro leilão ou venda das mesmas [licenças]. Porque o setor da indústria extrativa é um setor de capital intensivo e muitas das elites políticas de Moçambique não têm capital suficiente para investir neste setor. Então, detêm as licenças para um futuro, ou procura de um investidor estrangeiro, ou então para, futuramente revendê-las como forma de produzir mais-valias.

DW África: E pode dizer-se que a extensão da lista revela, de certa forma, que a venda destas licenças se tornou um padrão de acumulação de riqueza fácil por parte do partido no poder [FRELIMO]?

EC: De certa forma, revela um padrão de acumulação das elites, porque, se reparar, quase todos eles têm interesses no setor extrativo e, como também o CIP tem mostrado e vem elucidado no texto no nosso website, mostramos como o padrão de migração das áreas de interesse da elite tem mudado. E o cadastro mineiro, de certa forma, vem corroborar essa tese defendida pelo CIP: mostrar que grande parte da elite política moçambicana tem interesse no setor extrativo. O que pode trazer, de certa forma, situações de conflitos de interesse e tráfico de influências.

DW África: O cadastro cita nomes sonantes e bem conhecidos. É possível dar-nos alguns exemplos concretos?

EC: Tem lá, por exemplo, o nome (...) dos generais, como o general Alberto Chipande [primeiro ministro da Defesa de Moçambique e político da liderança da FRELIMO], entre outras figuras da elite política nacional.

DW África: Outro ponto que o CIP tem criticado são as regalias fiscais às multinacionais. Acham que estas regalias defraudam as expetativas dos moçambicanos?

EC: Sim, até há pouco tempo, não sabíamos o que estava acordado nos contratos por parte do governo com as multinacionais. Recentemente, o CIP divulgou os contratos com o regime fiscal deles. E, perante a análise que fizemos, pensamos nós que, por exemplo, os contratos no setor do carvão estão de acordo com aquilo [que há] nos contratos dos países vizinhos. Mas, depois, quando se vai analisar profundamente, vê-se nitidamente que os itens do contrato – por exemplo, quando o governo vai começar a tirar dividendos da exploração do carvão –, na nossa análise, o governo de Moçambique sai prejudicado.

Na foto: Mina de carvão de Moatize, em Tete, Moçambique

Deutsche Welle - Autora: Madalena Sampaio - Edição: Renate Krieger/Carla Fernandes

Moçambique: FARINHA DO MESMO SACO



Verdade (mz) - Editorial

Assistimos, impávidos e serenos, à reiteração de uma prática cuja finalidade é deixar o país num abismo sem precedentes. Frustrando as melhores expectativas criadas pelo povo, os partidos políticos moçambicanos revelam-se cada vez mais insensíveis relativamente às inquietações do povo que lhes confiou o destino da nação.

As leis aprovadas, recentemente, pela Assembleia da República sobre os direitos, os deveres e as regalias dos Chefes de Estado e dos deputados são exemplos de mau serviço que se presta à causa do eleitor moçambicano. Mas o radicalismo das formações políticas vai mais longe.

No mês passado, o Centro de Integridade Pública (CIP) publicou um artigo no qual levantava o véu sobre a rede de máfia que lesa o Estado em milhões de meticais, envolvendo os partidos políticos. O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) aparece como o principal actor no esquema de importação de viaturas luxuosas.

Esta semana uma reportagem investigativa do CIP constanta, com consternação, que a Frelimo fez justamente o que as autoridades tributárias moçambicanas procuram erradicar: a fuga ao fisco. Infelizmente, pelas piores razões, a Frelimo e o MDM são, como se diz na expressão popular, “farinha do mesmo saco”.

Diante dos factos, os discursos que se sustentam nos slogans “Moçambique para todos” e “Futuro melhor” são contraditórios, revelando, assim, a falta de moral política por parte de quem pretende dirigir ou dirige o destino do país.

Se a Frelimo e o MDM desejam, realmente, ajudar o povo moçambicano e contribuírem para o desenvolvimento socioeconómico e cultural de Moçambique, basta simplesmente ignorarem a ideia de governar o país. Não precisam de invocar as razões, pois está claro e é sabido, por experiência, que a vocação não é governar um país, mas sim delapidar os cofres do Estado de todas as maneiras possíveis.

Num país normal, a Procuradoria Geral da República já teria agido em defesa das vítimas dessas acções fraudulentas que privam milhares de moçambicanos do acesso à saúde, à educação e ao emprego condigno. Em síntese, ao contrário do que algumas pessoas imaginam, infelizmente os partidos políticos, no poder e na oposição, não estão para servir o povo, mas sim se servirem do povo.

Eles, na verdade, almejam reforçar os seus privilégios de elite, deixando a população morrer à fome e ao abandono. Diante dessa situação repugnante, a pergunta que se coloca é: Afinal, são partidos políticos ou um bando de abutres? É, sem dúvidas, caso para dizer que “a sujeira está na sala” e, como sempre, a solução será empurrar para debaixo do tapete mais próximo.

Timor-Leste: PARLAMENTO LAMENTA MÁS CONDIÇÕES DAS ESCOLAS



19 de Maio de 2014, 17:00

O representante do povo no parlamento nacional lamenta as más condições das escolas públicas em todo o território, pela má gestão do orçamento alocado ao ministério da educação, pelo governo, que tem sido mal gerido.

O deputado Eládio Faculto, membro do parlamento nacional da comissão F, que trata de assuntos de saúde, educação, cultura, veteranos e igualdade de género, disse que as escolas públicas estão em más condições e deu o exemplo do material estragado, como janelas, portas que em tempo de chuva prejudica os estudantes.

“Na nossa fiscalização aos distritos, verificámos que a maioria das escolas ainda estão por reabilitar, apesar de todos os anos o parlamento nacional aprovar orçamento ao Ministério da Educação” disse o deputado Eládio ao Suara Timor Lorosae.

O mesmo acrescentou que as más condições da escolas não se verificam só em Díli mas, em todo o território de Timor. A maioria ainda está por reabilitar, com falta de água e saneamento.

O deputado da CNRT, António Ximenes, é da mesma opinião sobre o estado mau das escolas. 

Virgílio Ornai pediu ao governo para dar atenção máxima na áreas da educação e saúde, por serem ambas muito importantes.
    
SAPO TL ho STL

SEPARADOS PELOS VALORES




Cavaco Silva na China*

CORREIA MARQUES – Hoje Macau, opinião

Há pessoas muito altas
De nome ilustrado e sério,
Porque o oiro tapa as faltas
Da moral e do critério.

António Aleixo, poeta popular português (1899-1949)

Dou as boas vindas ao Presidente da República do meu país, eleito por sufrágio direto e universal. Mas, confesso-me, «não culpado».

Contudo, quanto ao homem Cavaco Silva, separa-nos um mar imenso de valores, pelo que nunca iria ao beija-mão. Ele é o presidente legítimo de Portugal, mas não é o meu presidente. E isto não é uma questão partidária, é uma questão de valores, de preocupações sociais e de postura ética diferentes.

No longínquo ano de 1972, mais precisamente no dia 5 de março, depois de ter estado a conviver com uma das famílias mais pobres da minha aldeia, escrevi o seguinte:

Na lareira ardem pinhas
e carunchosos tocos de acácia.
A familía está reunida,
sem cerimónias.
Sobre a mesa uma toalha de linho,
broa, azeitonas e uma garrafa de vinho:
A ceia dos pobres depois do trabalho.

Nunca pensei que esta realidade, este sofrimento, esta miséria, pairasse de novo sobre as gentes do meu país. Mas é o que acontece, e este homem agora investido de presidente é um dos grandes responsáveis, por ações e por omissões, pelo estado de coisas a que chegámos.

Por isso não irei à Torre, no próximo domingo. Prefiro ir a Coloane respirar ar puro, enquanto ainda há, por lá.

*PG

CAVACO SILVA, UM CAIXEIRO-VIAJANTE NA CHINA



Mário Motta, Lisboa

A viagem de Cavaco Silva à China foi gerida por uma grande máquina publicitária que tem tido o mérito de transformar o odor da urina em água de cheiro. Importa saber os custos desta deslocação e grande passeata de Cavaco àquela parte do mundo asiático acompanhado por mais de centena e meia de penduras de sua comitiva, um avião cheio de empresários, de políticos, de alegados representantes do povo português que na península ibérica definha na tarimba da velhice, do desemprego, da fome e da miséria corroborada e assinada de cruz por Cavaco Silva em sintonia com o seu governo PSD/CDS.

Da longínqua, enorme e emergente China temos escutado e visto nas televisões os sorrisos rasgados de Cavaco e seus acompanhantes. Frases padrão, corroboradas pela máquina da mídia portuguesa, esforçam-se por pintar a passeata de Cavaco e seu séquito como um grande sucesso nos negócios e nos “negócios” entre China e Portugal. “As portas estão abertas para Portugal”, dizem e tentam convencer-nos dos bons frutos do passeio faustoso pago por portugueses famintos. O que se pergunta é se as portas não estavam já abertas para Portugal naquela parte do mundo. Que se saiba já lá vão cinco séculos que as abriram. Mas não, Cavaco precisava de passear, de preferência com gigantesca e dispendiosa comitiva. O festival megalómano do parasitismo precisava desta dezena de dias na passeata asiática para pretextar “portas abertas” para grandes negócios, para muitos mais turistas de olhos rasgados a obrar milhões de dólares no Portugal pequenino à beira mar plantado – mas enorme do Minho a Timor-Leste. E a língua, senhores, a língua portuguesa, tão badalada por Cavaco. Quando sabemos que é à própria China que o português interessa sobremaneira e que tem investido nessa vertente linguística, não pelos os olhos sempre semi-serrados de Cavaco (mais virado para números que cultura), mas sim pelo interesse que é manifesto pela China nos Palop e até em Timor-Leste. Além do gigantesco e apetecível Brasil. Mas não. Cavaco, ilusoriamente, aproveita a passeata em véspera de eleições europeias para mostrar serviço e um El Dorado de olhos em bico que conseguiu junto com o seu apaniguado igualmente decrépito Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros, e mais uns quantos ministros e amigalhaços do tenebroso governo PSD/CDS.

E aí está a chinfrineira que já dura há uma semana. Cavaco na China, em Macau… Blá, blá, blá. Não precisava de ir à China mas foi. Fez-se acompanhar de mais de cem empresários, de políticos de lorpas, amigalhaços azuis e laranjas, de penduras. Os do costume e outros, sem contenção nas despesas, porque para Cavaco a crise não existe. A instituição Presidência da República gasta que se farta. Nada contra Cavaco ir à China. Mas podia ter ido a pé ou a suas expensas. Poupava-nos a este espetáculo de operação “Olhos em Bico”, a tomar-nos por parvos. Foi um regabofe no bem-bom do dispendioso passeio e o retorno será o que tiver que ser desde que interesse à China e não por via da ida de Cavaco com os seus penduricalhos do costume. É que a China já está em Portugal há muito e sabe aquilo que lhe interessa. Não precisa nadinha deste presidencial caixeiro-viajante, vendedor tosco e senil que é Cavaco. Só por que diplomacia oblige os sorrisos são rasgados da parte do grande irmão chinês. O sorriso amarelo de Cavaco… Esse já vem de sua nascença e dizem que é genético. Os trambolhos nunca mudam, só aparentam adaptar-se segundo as suas conveniências. Tem-se visto isso mesmo no atual PR, ante PM, antes salazar-marcelista. Da Pide dizem que foi ao menos colaborador… Este revanchismo já cansa e está a tornar-se intolerável.

Foto em Ponto Final

Leia mais sobre Cavaco na China, em Macau, nos jornais Ponto Final e Hoje Macau ou no blogue Aqui Tailândia, de José Martins.

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