Artur Queiroz*, Luanda
Se eu tivesse formação em História fazia tudo para que o Presidente João Lourenço compreendesse a diferença entre a notícia e narrativa histórica. A mensagem informativa só existe se tiver actualidade. O tempo é a sua marca distintiva. Os fragmentos de informação, devidamente recortados, são a matéria-prima. Os jornalistas sabem fazer isso. Os repórteres vão mais longe contando como aconteceu e porque aconteceu. Os jornalistas trabalham o acontecimento.
Os historiadores consultam pacientemente as fontes. Mergulham no passado longínquo, usando ferramentas que permitam estudar o Homem e as suas actividades no tempo e no espaço. Analisam cientificamente processos ocorridos no passado. A História não é o tempo real dos meios audiovisuais. Não é o dia dos jornais diários. Não é a semana dos semanários. Não é o directo da Rádio e da Televisão.
Se já soubesse estas coisinhas, o Presidente João Lourenço nunca teria dito que a guerra na Ucrânia começou no dia 24 de Fevereiro de 2022. Isso dizia eu, que sou repórter e mesmo a cair da tripeça ainda vivo em cima do acontecimento, sempre pronto para a notícia e a reportagem. Mesmo nessa pele velha e endurecida, se produzisse uma mensagem informativa sobre o acontecimento, sempre referia como lastro e “enquadramento” os movimentos “Euromaidan” em Kiev, iniciados no ano de 2014 e orquestrados pela CIA. O golpe de estado que depôs o presidente eleito, Viktor Yanukovych.
Eu, repórter, ao noticiar os acontecimentos ocorridos no dia 24 de Fevereiro na Ucrânia, dedicava pelo menos um parágrafo ao massacre da Casa dos Sindicatos em Odessa, executado pelos grupos de extrema-direita, assumidamente nazis. Referia a guerra no Donbass contra as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e de Luhansk. Fazia uma referência ao relatório da Agência da ONU para os Direitos Humanos que denunciou uma limpeza étnica de hordas nazis no Leste da Ucrânia. Em Kiev mandam os nazis do Sector Direita, Bandera e Batalhão Azov. Referia os Acordos de Minsk e como eles foram rasgados.
Um repórter decente não produzia uma mensagem informativa sobre a “guerra na Ucrânia” sem referir o avanço das bases da OTAN (ou NATO) rumo às fronteiras da Federação Russa. Apesar da guerra, já chegaram à fronteira com a Finlândia e brevemente com a Suécia, tornando o Mar Báltico um espaço exclusivo do bloco militar ao serviço dos EUA. Um historiador medíocre, com o diploma comprado no Mercado dos Congoleses, ao pronunciar-se sobre a “operação militar especial” iniciada em 24 de Fevereiro de 2022 pelas tropas russas, só escrevia sobre o assunto, indo às origens do conflito.