Artur Queiroz*, Luanda
Sebastião Coelho (foto à esquerda) foi um dos maiores radialistas angolanos. Ao nível dele só conheci Santos e Sousa ou Norberto de Castro. Começou a carreira profissional no Rádio Clube do Huambo, sua terra natal, onde realizou e produziu, nos anos 50, o programa Cheque Mate, primeiro na Rádio Angolana em que os ouvintes interagiam com o estúdio. Na antena da Rádio Eclésia - Emissora Católica de Angola lançou o Café da Noite, um dos mais populares e de maior audiência da Rádio Angolana.
Nesta altura Sebastião Coelho
virou empresário ao criar os Estúdios Norte. Nos anos 60 lançou a editora
discográfica “CDA” que teve um papel fulcral na difusão da música popular
urbana. Também publicou dois livros, “Informação de Angola” (1977) e “Angola.
História e Estórias da Informação” (1999). Trabalhei com ele mas também com os
outros dois realizadores independentes na antena da Rádio Eclésia: Zé Maria
(Luanda) e Brandão Lucas (Equipa). Ele não gostou que o trocasse pela
concorrência. Mas ficou ainda mais zangado quando trabalhei com Norberto de
Castro no inigualável programa “Paralelo
A cobertura da cimeira do Alvor afastou-o para sempre de mim. Sebastião Coelho estava presente na cimeira a convite do presidente da Junta Governativa de Angola, Almirante Rosa Coutinho. Mas já não tinha os seus Estúdios Norte nem estava aos comandos do programa Café da Noite. Os esquadrões da morte (FRA) invadiram as instalações, partiram tudo e ele escapou da morte porque andou a fugir pelos telhados da Travessa da Sé!
Sebastião Coelho ia todos os dias ao nosso estúdio, montado num dos quartos do Hotel D. João II, fazer um comentário sobre a cimeira, para a Emissora Oficial de Angola. Teve um diferendo com Francisco Simons. Exigia fazer o seu comentário em directo e o Chico disse-lhe que em directo só ele e o Horácio da Fonseca! Eu dei razão ao meu colega. Ficou tão zangado que acabou ali a colaboração e nunca mais me falou. No seu livro “Angola. História e Estórias da Informação” ele diz de mim o que Maomé nunca disse do toucinho fumado.
As estrelas são assim. Sebastião Coelho e João Canedo (sonoplasta) construíram edifícios sonoros com uma dimensão estética inigualável. Fizeram Rádio a um nível superior. Só posso dizer bem deles. E agradecer-lhes por tudo o que deram aos amantes da Rádio, como eu. Pelo que deram à Rádio Angolana.
O Centro de Formação de Jornalistas do Huambo foi inaugurado ontem pelo Presidente da República. Já me pronunciei sobre os equívocos tornados públicos pelo director-geral. Hoje confirmei. Vão mesmo fazer daquela estrutura um lugar de extorsão de “propinas” às famílias de jovens que sonham ser jornalistas. Saem de lá com um papel mas sem saberem nada da profissão. Mais reprodução da mediocridade. Mais equívocos.