quarta-feira, 29 de agosto de 2018

ONU considera "chocantes" manifestações da extrema-direita na Alemanha


O Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos considerou hoje "verdadeiramente chocantes" as manifestações da extrema-direita na Alemanha em que simpatizantes desfilaram fazendo a saudação nazi e instou os políticos "de toda a Europa" a condenarem-nas.

"Penso que é fundamentalmente importante que os responsáveis políticos de toda a Europa denunciem isto", disse Zeid Reid al-Hussein numa conferência de imprensa em Genebra.

O Alto-Comissário respondia a um pedido de reação aos acontecimentos dos últimos dias em Chemnitz, na Saxónia, no leste da Alemanha.

Após a morte por esfaqueamento de um alemão e a detenção pela polícia de dois suspeitos do crime, um iraquiano e um sírio, grupos de extrema-direita lançaram no domingo uma "caça aos estrangeiros" nas ruas de Chemnitz.

Na segunda-feira, uma contramanifestação convocada por movimentos de extrema-esquerda foi recebida por quase 6.000 simpatizantes da extrema-direita, alguns dos quais desfilaram fazendo a saudação nazi. Confrontos entre ambos os grupos fizeram 20 feridos.

Zeid frisou que quem matou o cidadão alemão "deve ser punido", mas disse que "o que se passou na Saxónia nos últimos dias é verdadeiramente chocante".

"Podemos por vezes sentir-nos desencorajados por ver que o avanço contínuo destes partidos de extrema-direita, com uma amnésia aparentemente total e uma falta de orientação a longo prazo, continua apesar do que vemos", disse o Alto-Comissário.

"Não podemos simplesmente ocultar da nossa memória os traumas do passado, porque é assustador ver como os mesmos instrumentos voltam a ser usados", acrescentou.

O Alto-Comissário considerou também "preocupante" que "em vários países europeus, o mesmo crime tem mais cobertura se for cometido por um migrante, do que se for cometido por um não-migrante", dada "uma corrente de preconceitos ligados à extrema-direita que se infiltram nos 'media'".

"É particularmente preocupante ver isto na Europa dado os enormes traumas que a própria Europa testemunhou ao longo do século XX", concluiu.

MDR // EL | Lusa

Moçambique | Conselho de Ministros retira mandato a Manuel de Araújo


Manuel de Araújo foi mesmo afastado oficialmente do cargo de edil de Quelimane. A decisão foi tomada esta terça-feira (28.08) pelo Conselho de Ministros moçambicano. Ex-autarca diz que vai recorrer.

O Conselho de Ministros retirou na terça-feira (28.08) o mandato a Manuel de Araújo por ele ter saído do partido MDM, pelo qual foi eleito, e ter ingressado na RENAMO, em julho, ainda antes de terminar o mandato.

Manuel de Araújo está inconformado com o seu afastamento do cargo de presidente de Conselho Municipal de Quelimane, mas diz que não se surpreende com a decisão.

"Era um passo espectável, nós estávamos à espera, a qualquer momento, que o Conselho de Ministros tomasse essa decisão", disse.

Araújo refere que ainda está à espera do documento oficial com a decisão do Conselho de Ministros, além do documento com o pedido da Assembleia Municipal para o seu afastamento, da semana passada. Assim que os obtiver, promete recorrer.

"Posso garantir, neste momento, que vamos exercer o nosso direito. Nós não podemos agir com 'ouvir dizer'. Nós temos de receber os factos e uma comunicação. E, a partir dessa comunicação, temos um prazo, e, dentro desse prazo,  vamos apresentar o nosso posicionamento. Estamos num Estado de Direito, onde as partes têm o direito de serem ouvidas", afirmou.

Ameaças de morte

O ex-autarca denuncia também que tem sido alvo de ameaças de morte desde que foi apresentado publicamente como cabeça de lista da RENAMO nas eleições autárquicas, marcadas para 10 de outubro.

Segundo o porta-voz da corporação da polícia na província da Zambézia, Sidner Lonzo, já foram reforçadas as medidas de segurança para garantir a segurança de Manuel de Araújo.

"A polícia, junto aos serviços provinciais de investigação criminal, está neste momento a trabalhar para identificar as pessoas que proferem ameaças contra Manuel de Araújo, mas ainda não temos pistas a seguir. As vias de ameaças são essas reportadas por mensagens telefónicas", comentou Lonzo.

Manuel de Araújo conta que não é a primeira vez que sofre ameaças.

"Em plena sessão da Assembleia Municipal, fui ameaçado de morte. E na Praça dos Heróis, no dia 7 de abril do ano passado, um antigo combatente também me ameaçou de morte. O que fazemos sempre é alertar as autoridades e eles vão tomar as providências cautelares  que acharem".

Marcelino Mueia (Quelimane) | Deutsche Welle

Parlamento timorense aprova Orçamento Geral do Estado para 2018 na generalidade

Díli, 29 jun (Lusa) - O Parlamento Nacional timorense aprovou hoje na generalidade, com 53 votos a favor, zero contra e 12 abstenções o Orçamento Geral do Estado para 2018, que vai ser agora votado na especialidade antes de ser remetido ao Presidente da República.

O Orçamento teve os votos favoráveis das três bancadas da coligação do Governo - Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) bem como dos deputados da União Democrática Timorense (UDT) e da Frente Mudança (FM).

Votaram ainda a favor deputados da oposição, nomeadamente da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), o Partido Democrático (PD).

O Orçamento tem o valor de 1.279,6 milhões de dólares (cerca de 1.100 milhões de euros) e engloba todas as receitas e despesas do Estado e da Segurança Social de Timor-Leste, durante o período compreendido entre 01 de janeiro e 31 de dezembro de 2018.

A aprovação é essencial para reativar o país cuja economia depende em grande parte do Estado.
Recorde-se que Timor-Leste está a viver em sistema de duodécimos desde o passado dia 01 de janeiro e o VIII Governo teve que solicitar ao parlamento um levantamento extraordinário de 140 milhões de dólares (cerca de 121 milhões de euros) do Fundo Petrolífero para reforçar os cofres do Estado, que estava no início de julho sem dinheiro.

Mais de metade do OGE está destinado aos últimos quatro meses do ano, com a despesa corrente anual a ser de 860 milhões de dólares, a de capital de 334,1 milhões de dólares e os gastos no Fundo de Infraestruturas (agência autónoma) a ascender a 323 milhões dólares.

Os gastos em salários e vencimentos caem 4,5% face ao ano passado - devido a orçamentos excessivos para esta categoria em 2017, na expectativa de que fossem ser contratados funcionários adicionais durante o ano" e as despesas em bens e serviços aumentam 8,1%.

As transferências públicas caem 37,8%, essencialmente "por uma alocação menor para a Região Administrativa Especial de Oecusse Ambeno (RAEOA) e para as Zonas Especiais de Economia Social de Mercado (ZEESM) de Oecusse Ambeno e de Ataúro, uma vez que estas ainda utilizam fundos por gastar de anos anteriores para projetos de infraestruturas em curso e não necessitam de financiamento adicional a nível de capital em 2018", refere o Governo.

Em termos setoriais, 34% das despesas vão para serviços públicos gerais, 17% para assuntos económicos, 17% para proteção social, 13% para educação, 7% para saúde, 6% para ordem pública e segurança e 3% para defesa.

No que toca às receitas, o Governo prevê que as receitas domésticas não-petrolíferas sejam de 188,8 milhões de dólares, com 127,6 milhões de dólares de impostos, 50,2 milhões de dólares de taxas e pagamentos, 5,6 milhões de dólares de agências autónomas e 4,9 milhões de dólares da ZEESM.

As contas do Governo antecipam que o Rendimento Sustentável Estimado (RSE) do Fundo Petrolífero seja este ano de 550,4 milhões de dólares - num cenário em que as receitas totais do fundo rondarão os 600 milhões de dólares.

A restante receita do ano virá de levantamentos do Fundo Petrolífero de 434,4 milhões de dólares, "em linha com a política de investimento do Governo e são utilizados para financiar infraestruturas essenciais para o crescimento a longo prazo".

No arranque do debate na generalidade, Taur Matan Ruak disse que o orçamento é um passo necessário para restabelecer a normalidade política e financeira em Timor-Leste, defendeu o primeiro-ministro timorense.

"O bem comum dos timorenses deve sobrepor-se aos nossos interesses individuais ou estratégias partidárias. Neste sentido, o OGE [Orçamento Geral do Estado] de 2018 que hoje apresentamos, é uma oportunidade para ultrapassarmos as nossas diferenças e trabalharmos juntos em prol do nosso povo e da nação timorense", disse Taur Matan Ruak.

O calendário parlamentar prevê que o debate na especialidade decorra na próxima semana e que a votação final global seja no dia 07 de setembro, devendo o OGE ser enviado ao Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, a 10 de dezembro.

Já há cerca de 80 propostas de alteração.

ASP//PVJ

Miséria gritante em Timor-Leste


É tema de conversa no Facebook da atualidade, a "casa" onde sobrevive uma timorense idosa, desgastada pelos longos anos de luta pela sobrevivência, na atmosfera que envolve o local paira a indiferença das elites timorenses, dos empresários gananciosos, dos políticos do mesmo jaez que aprovam para eles, familiares e amigos mordomias imorais para além dos atos corruptos que praticam com toda a impunidade - exceptuando uns quantos que servem de exemplo na punição, para povo ver.

Pela parte da igreja - aparentemente interventiva socialmente - não toca o sino a rebate perante os milhentos timorenses que sobrevivem na miséria inconcebível e desumana. Falam, dizem aqui e ali sobre estas injustiças sociais, sobre o descalabro das desigualdades que nos saltam à vista, mas não separam o trigo do joio. Nas melhores oportunidades lá vão dar cobertura às elites que têm devastado milhares de milhões de dólares já não se sabe exatamente em proveito de quais benefícios coletivos.

Também não se vê em grandes reportagens dos orgãos de comunicação social timorenses o enorme descalabro de injustiças e desigualdades que sirva de denúncia sobre aquela realidade timorense: a pobreza extrema em grande percentagem causada pelo desvio de avultadas verbas que deviam e devem ser destinadas à melhoria das condições de sobrevivência dos timorenses socialmente mais injustiçados pelos poderes vigentes que se passeiam no fausto, articulando palavras enganosas sempre e não só durante as campanhas eleitorais. Esses demonstram estar desprovidos do sentimento de indignação perante as injustiças sociais de que são cúmplices ou mesmo altamente culpados. São os dirigentes, são as elites, embriagadas por poderes e por valores que experimentam com garbo, inchados de orgulhos que afinal são ainda mais causa das tantas injustiças que vimos se soubermos olhar com olhos de ver e por isso nos indignarmos e não nos calarmos.

Também não se vê por parte de correspondentes estrangeiros da comunicação social a mostra do que acontece em Timor-leste relativamente à pobreza extrema existente. Por uma ou outra vez lá aparece um caso... Para aliviar os pecados da profissão que é erradamente exercida e nos omite a realidade que deve levar ao conhecimento de todo o mundo. Mas essa não é só uma formatação exclusiva para Timor-Leste, é vasta e global. Tanto, sobre isso, que havia para acrescentar...

Certas denúncias surgem, por exemplo, no Facebook e noutras redes sociais. Têm o peso que têm e é real, sendo porém aquilatado somente pela relevância que lhe quiserem dar. O que não acontece neste exemplo que trazemos, basta perceber a indignação, a revolta,  os lamentos, a solidariedade, pelos exemplos e as palavras adendadas...

Perante isto qual será o efeito causado nas elites timorenses? O  que fará Taur Matan Ruak - agora PM - se acaso tomar conhecimento do triste exemplo aqui expresso? E de todos os outros que existem em Timor-Leste? O que farão todos os outros nos poderes políticos e de suas ilhargas? Experimentarão ao menos vergonha? Não tem parecido. Não parece que possuam esse sentimento. A reação é desmentirem e/ou avançarem com números e estatísticas ilusórias que lhes convenham e que permitam prosseguirem na senda dos seus absolutismos e ganâncias.

O povo timorense injustiçado não merece estes maus tratos, estas indiferenças, estas injustiças, este desprezo recheado de falsas promessas por parte dos que desencaminham os milhares de milhões de dólares não se sabe bem para onde nem porquê, quando se constata que existem prioridades gritantes quando olhamos para a realidade timorense.

Diz-se que a esperança é a última a morrer e que o rebate de consciências depravadas, às vezes criminosas, causa reconversões repletas de arrependimentos e de justiça. Fiquemos à espera. Sentados.

Certo é que existe imensa miséria gritante em Timor-Leste.

Beatriz Gamboa | Mário Motta = António Veríssimo

Macau | Autoridades investigam indícios de crime contra segurança do Estado


As autoridades de Macau estão a investigar indícios de crime contra a segurança do Estado, revelou ontem Wong Sio Chak, em conferência de imprensa. Sem avançar com detalhes, nomeadamente o número de casos e quando se deu início à investigação, o secretário para a Segurança apenas confirmou que os crimes investigados estão previstos na Lei Relativa à Defesa da Segurança do Estado. A afirmação do governante surge numa altura em que o Governo se prepara para rever a lei da segurança nacional, instituir a Comissão de Defesa da Segurança do Estado e criar um departamento afecto à Polícia Judiciária (PJ) para aplicar esta legislação.

“Quando falamos de ameaças à segurança do Estado não vamos restringir se é de Macau. Macau, se calhar, também tem indícios e estamos num processo de investigação, mas não podemos restringir apenas ao território de Macau”, afirmou Wong Sio Chak, esclarecendo posteriormente que existe uma investigação em curso e que existem “indícios para ser investigados”. No entanto, o secretário para a Segurança escusou-se a avançar dados concretos, afirmando não ser o “momento oportuno”, conforme está previsto no Código de Processo Penal. “De acordo com o Código de Processo Penal, quando chegar o momento oportuno nós iremos divulgar”, garantiu.

Wong Sio Chak afirmou que as ameaças à segurança interna da China são “óbvias” e que Macau, enquanto “parte integrante da China”, tem a responsabilidade constitucional de garantir a salvaguarda da segurança do Estado. “Ao longo dos anos, as ameaças sentidas pela China são óbvias e a RAEM, sendo uma parte integrante da China, tem a responsabilidade constitucional de continuar a reforçar o combate”, declarou o secretário para a Segurança. A traição à pátria, a secessão do Estado, a subversão contra o Governo Popular Central, a sedição e a subtracção de segredo de Estado são alguns dos sete crimes previstos na Lei Relativa à Defesa da Segurança do Estado, cuja moldura penal pode ir até aos 25 anos de prisão.

Em relação ao departamento que será criado na PJ para aplicar a Lei Relativa à Defesa da Segurança do Estado, Wong Sio Chak apenas afirmou que não será necessário realizar uma consulta pública para a sua constituição. 

CVN | Ponto Final | Imagem: Eduardo Martins

China inicia construção de base de treinamento no Afeganistão


A China teria começado a construir um campo de treinamento no Corredor de Wakhan, no Afeganistão, uma área estreita que separa o Tajiquistão do Paquistão, em esforços para melhorar os esforços de combate ao terrorismo no país devastado pela guerra.

Fontes com conhecimento do assunto disseram ao South China Morning Postque assim que a base estiver completa, Pequim enviará centenas de soldados, totalizando pelo menos um batalhão. Um batalhão pode consistir em mais de 500 soldados, de acordo com o Post.

"A construção da base começou e a China enviará pelo menos um batalhão de tropas, além de armas e equipamentos, para serem alocados lá e dar treinamento aos seus colegas afegãos", disse uma fonte à publicação.

A fonte disse ainda que a data de conclusão da base ainda não estava determinada e que a base provavelmente teria um papel um pouco diferente do da primeira base militar de Pequim em Djibuti.

À época da inauguração em 2017 da base do Djibuti, a Xinhua informou que o local era "destinada a missões de abastecimento" e não era de forma alguma um "posto avançado militar construído para reforçar a presença militar do país e desempenhar papéis de dissuasão na região".

"A base do Djibuti não tem nada a ver com uma corrida armamentista ou expansão militar e a China não tem intenção de transformar o centro de logística em uma base militar", acrescentou a agência.

Song Zhongping, um analista militar baseado em Hong Kong, diz que a nova base poderia servir como base de treinamento para ajudar a "fortalecer a cooperação antiterrorista e os intercâmbios militares entre Pequim e Cabul".

"O Afeganistão é muito fraco no combate ao terrorismo", disse Song ao Post. "E as autoridades de lá estão preocupadas com o ressurgimento do Talibã, mas não podem fazer nada a respeito sem a ajuda dos EUA, da China e de outros países".

Sputnik | Imagem: PLA Navy 

CONTRADIÇÕES DUMA RATOEIRA AUTOINFLIGIDA


Martinho Júnior | Luanda

1- De tanto disseminar manipulações contraditórias com vista a instalar seus processos de ingerência e domínio, tirando partido da revolução de novas tecnologias em plena globalização, a aristocracia financeira mundial geradora do império da hegemonia unipolar, criou nos Estados Unidos a sua própria ratoeira autoinfligida, ao permitir-se a uma tensão interna cada vez mais publicitada entre suas duas linhas vinculativas de interesses dominantes: a do capitalismo financeiro transnacional e a que se prende ao capitalismo produtivo nacional.

Por essa razão, durante a última campanha para as eleições presidenciais, foi precisamente essa tensão que emergiu das sombras, algo que só pode ser sustentado quando os processos de domínio perdem intensidade, se desgastam e começam a tornar-se incapazes de geoestratégica global, na via da tentativa de persistência da hegemonia unipolar.

Se houvesse hoje um “impeachment” a Trump, nem por isso essa tensão intestina se iria apagar, ou fazer esquecer.

A tensão, com as disputas que lhe são inerentes, não parou como é óbvio com as campanhas eleitorais, tornou-se um processo em continuidade, arrastando consigo, de forma subjacente, uma complexa luta de classes nos Estados Unidos, mais visível nos contraditórios por dentro do espectro do Partido Democrata.

A luta de classes na sociedade estado-unidense, tem múltiplas implicações culturais, inclusive por dentro dos meandros e tensões da aristocracia financeira mundial: enquanto os processos elitistas mais genéricos têm predominância das linhas e sinais anglo-saxónicos, só os processos inerentes à continuidade à Doutrina Monroe têm predominantes linhas e sinais hispânicos.

É evidente que a Rússia e os emergentes multipolares têm feito a leitura aferida a essa tensão ( e ao seu espectro sócio-político) por que nela, por tabela, avaliaram quem semeia o caos, o terrorismo e a guerra psicológica que estão inerentes aos expedientes do domínio de 1% sobre o resto da humanidade e quem (como e por que vias) procura afastar-se desse pântano, com uma ementa distinta para os processos dominantes do império da hegemonia unipolar!

Essa leitura está legítima e plenamente justificada, pois de outro modo seria muito mais difícil a sua própria sobrevivência, a sobrevivência de suas alternativas e agora começa a ser mais exequível em nome da civilização, isolar-se até à neutralização a barbárie que afecta a humanidade em pleno século XXI!

A Alemanha, acaba de juntar-se à China, à Rússia, ao Irão e à Turquia, no afastamento para com o (petro)dólar, no momento em que a tensão intestina da aristocracia financeira mundial tende a exacerbar-se!...


2- A tensão intestina na aristocracia financeira mundial reverte para uma “geometria varável” de projectos, programas e acções, que comportam uma avassaladora onda de incógnitas de ingerência e manipulação, o que torna imprevisível os riscos globais, continentais, regionais, nacionais e até locais.

Esses projectos, programas e acções tornaram-se devassos nas suas próprias “trnsversalidades”.

Essa “geometria variável” tira partido da nova revolução tecnológica duma forma criativa, sempre com o sinal pernicioso indexado ao estreitamento do domínio na pirâmide global, mas podendo sempre ocorrer “transversalidades”de cima abaixo no sistema de domínio!

A contínua guerra psicológica levada a cabo pelos interesses da aristocracia financeira mundial sobretudo desde a IIª Guerra Mundial tem, entre diversas outras, também essa função e intrínseca vulnerabilidade.

A mentalidade formatada sobre as enormes massas humanas vegetativas (por que são necessariamente oprimidas), só pode ser “conversa para boi dormir” (é muito perigoso para essa aristocracia, que o “boi” acorde e ganhe desde logo alguma consciência crítica que conduza a alguma estratégia revolucionária, com tudo o que é subjacente a esse acordar), mas até na “conversa para boi dormir” à vínculos condicionados a cada uma das tensões intestinas e seus respectivos mentores.

A panóplia de alienações está intimamente associada a essa tipologia subversiva e tensa de domínio capitalista neoliberal, dos critérios seguidos pela sua contínua guerra psicológica e daí o enorme espaço ocupado pelas alienações, desde as religiosas, até às televisivas, passando pelos desportos, como pelo impacto dos tráficos, tendo como eixo o tráfico de droga.

Por isso uma NATO que surgiu no espaço físico-geográfico do Atlântico Norte antes da introdução do capitalismo neoliberal ao nível do poder anglo-saxónico, se distingue hoje por estar presente entre os meridianos do Afeganistão e a Colômbia, os dois principais produtores mundiais de droga: heroína a leste, cocaína a oeste!

O “soft power” dos processos de domínio estão pois afectados pelo leque desses cancerosos “ingredientes” e por isso as ingerências e manipulações ganharam enormes capacidades “transversais” a todas as sociedades, inclusive, irremediavelmente, na complexa sociedade dos Estados Unidos, por que é aí que se encontra a cabeça do polvo global do poder económico e financeiro como da droga.

A sociedade estado-unidense os dois contraditórios intestinos da aristocracia financeira mundial querem-na completamente vegetativa e embrutecida…

Os espelhos dessas tensões são os inúmeros acontecimentos trágicos com sangrentos dramas de acção armada e policial (repressora) que afectam os Estados Unidos, sem que se vislumbre o seu atenuar, muito menos o seu fim!


3- De certo modo os Estados Unidos não têm como impedir que, na sua complexa sociedade, por osmose rebentem agora sob pressão, as ingerências e manipulações que disseminaram com o capitalismo neoliberal, no estrito interesse do capitalismo financeiro transnacional: a balança ainda não reverte, neste momento, em benefício do capitalismo produtivo que se prende ao surgimento da administração de Donald Trump, mas as tensões manifestam-se nas“transveralidades” da sociedade estado-unidense e reflectem-se sobrenodo nas instituições de inteligência, financeiras e de justiça.

A degradação da indexação das “transversalidades” induzidas nos processos externos de ingerência e manipulação está, por exemplo, patente na Venezuela, onde a oligarquia agenciada se fragmentou politicamente e não possui alternativas credíveis capazes de neutralizar a tendência de poder sustentado pelo voto popular.

Com a expressão sociopolítica dessa oligarquia estilhaçada, então resta ao império da Doutrina Monroe, ao império da hegemonia unipolar, encontrar suportes em oligarquias sedimentares avassaladas como a da Colômbia, reconvertendo em simultâneo o elo terrorista de Miami para, com a oligarquia colombiana e a partir dela, lançar acções para dentro da Venezuela Bolivariana, como a do recente atentado contra o presidente Nicolas Maduro, um atentado sincronizado com a ementa a condizer de guerra psicológica.

Face à coesão cívico-militar bolivariana e apesar de ser necessário uma leitura mais clarividente do processo interno de luta de classes e apurar as capacidades de inteligência externa da Venezuela Bolivariana, assim como apurar as capacidades de prevenção contra golpes que recorram a novas tecnologias, mesmo a agressividade de ponta tende a eclipsar-se como mais uma desesperada manobra de quem vê reduzido o espectro instrumental de medidas de manipulação e ingerência dentro do território venezuelano também por causa das contradições internas da aristocracia financeira mundial elitista e anglo-saxónica.

Essa é também uma das razões da sustentabilidade da estratégia de medidas económicas e financeiras lançadas pelo presidente Nicolas Maduro, que sem contraditórios ao seu nível, nem por isso devem deixar de ser atenta e constantemente acompanhadas.


4- Em relação ao resto do mundo, as tensões internas da aristocracia financeira mundial são também uma oportunidade a aproveitar, não só pelos estados cuja vassalagem foi instrumentalizada por via duma União Europeia ou da NATO, mas também por outros que se perfilam nas potencialidades da emergência.

Os fenómenos de ruptura são visíveis e são tema comum corrente, merecendo no moento a atenção dos mais esclarecidos analistas (Grã-Bretanha, Alemanha, Turquia…).

A manobra do petrodólar está a reduzir-se em termos de influência, não só no Médio Oriente por efeito da vitória substantiva do estado sírio e de seus aliados, mas também em outras partes do mundo.

Em África, por exemplo, uma parte do poder da hegemonia unipolar recorre ao pré-carré da “FrançAfrique”, integrando-o na sua expressão de domínio no continente, socorrendo-o e socorrendo-se com os parâmetros da guerra psicológica, sincronizando por outro lado os movimentos militares e de inteligência de outras potências europeias integradas na NATO, entre elas Portugal, onde proliferam os “experts” nas guerras relacionadas com os “diamantes de sangue”.

A presença de forças militares portuguesas, ao abrigo da missão de paz da ONU na República Centro Africana, relaciona-se com essa vocação que vem de longe, com espectros de inteligência na República Democrática do Congo e em Angola, onde muitas vezes basta a capacidade do seu “soft power” e os expedientes de assimilação.

A manobra política e diplomática de alguns dirigentes africanos tende a traduzir o aproveitamento da situação de tensão intestina e contraditória no seio da aristocracia financeira mundial, até por que alguns são agentes do “lobby” dos minerais, compatível com o Partido Democrata dos Estados Unidos enquanto esteio que se vincula ao capitalismo financeiro transnacional.

Nesse sentido é sintomático o poder de manobra do presidente Paul Kagame do Ruanda, que neste momento possui enorme influência sobre os Grandes Lagos e a região leste da bacia do Congo (particularmente nos dois Kivus).

Um balanço global implica uma revisão às sínteses-analíticas relativas à aristocracia financeira mundial, no momento em que tende a degradar-se o carácter do seu poder dominante, sujeito agora à ratoeira autoinfligida!

Martinho Júnior - Luanda, 22 de Agosto de 2018


Imagens:
- Donald Trump e o clã Clinton, figuras protagonistas da relativa ruptura entre o capitalismo financeiro transnacional e o capitalismo produtivo do“The americans first”;
- Michel Cohen, considerado recentemente culpado de oito acusações, uma brecha no sistema do Presidente Trump, que pode levá-lo ao“impeachment”;
- Paul Manafort, o outro ponto fraco do sistema do Presidente Trump, tem concentrado as estratégias republicanas mais intensas no âmbito do neoliberalismo que flui também no capital financeiro transnacional, ou a partir dele;
- George Soros, um factor “transversal” pela natureza de contenciosos que se prendem à especulação financeira e à filantropia, um pacote capaz de todo o tipo de ingerências, manipulações e de ser usado nas próprias tensões internas da aristocracia financeira mundial;
- Agora a trama das tensões intestinas da aristocracia financeira mundial, pode induzir-se na direcção dum “golpe suave”, a coberto ou não dum pré anunciado “impeachment” ao Presidente Donald Trump.

A Rússia denuncia a diarquia na ONU e nos Estados Unidos


Thierry Meyssan*

Promovendo o desenvolvimento doméstico da propaganda e da doutrinação para a guerra, inexoravelmente os países ocidentais dotam-se de uma censura à Internet. Neste contexto, uma tensão extremamente violenta divide de forma profunda a cena internacional. Constatando o risco acrescido de uma confrontação geral, Moscovo tenta encontrar interlocutores credíveis na ONU e nos Estados Unidos. Aquilo que se passa actualmente não tem equivalente desde 1938 e pode degenerar da mesma maneira.

Durante uma conferência de imprensa a 20 de Agosto, em Moscovo, o Ministro russo dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Sergueï Lavrov, denunciou as instruções dadas pelo Secretariado-geral da ONU a todas as suas agências interditando-as de participar, sob que forma seja, na reconstrução da Síria.

Ele fazia referência a um documento intitulado Parameters and Principles of UN Assistance (Parâmetros e princípios da Assistência das Nações Unidas) redigido, em Outubro de 2017, pelo Director dos Assuntos Políticos e numero 2 da ONU à época, Jeffrey Feltman.

Pode-se aí ler precisamente: «As Nações Unidas só estarão disponíveis para ajudar na reconstrução da Síria quando uma transição política global, autêntica e inclusiva, negociada pelas partes sírias em conflito, for firmemente posta em prática» [1].

Este texto é contrário aos objectivos das Nações Unidas, mas é defendido pelo seu Secretariado-geral. Os Estados membros da ONU jamais foram associados à sua redacção, nem sequer informados da sua existência. Ele corresponde ao ponto de vista dos governos do Reino Unido e da França, mas não ao dos Estados Unidos.

Lavrov declarou ter pedido esclarecimentos ao Secretário-geral, o socialista português António Guterres.

Tanto quanto é do meu conhecimento é a primeira vez que um Estado membro do Conselho de Segurança põe em causa um documento político interno do Secretariado-geral. Este problema não é, no entanto, novo. Em fins de 2015, a Rússia tinha tido conhecimento de um conjunto de documentos internos da ONU, conhecidos como o «Plano Feltman para a Síria» [2]. Tratava-se de um plano detalhado de capitulação total e incondicional da República Árabe Síria, mais drástico ainda que o imposto pelo General McArthur ao Japão [3].

Moscovo (Moscou-br) via-se, então, numa situação muito delicada. Se tornasse públicos estes documentos, a credibilidade da ONU ao serviço da paz teria sido destruída e teria de propôr novas instituições intergovernamentais para a substituir. Vladimir Putin decidiu, prudentemente, conservar o segredo, negociar com Barack Obama e salvar a ONU.

No entanto, na prática, nada mudou: Feltman foi reconduzido nas suas funções por Guterres e apresentou, de novo, um documento com o fim de sabotar a paz. Agora, ele foi substituído pela sua compatriota dos EUA, Rosemary DiCarlo, a qual não revogou as suas instruções.

Desta vez a Rússia não se contentará com desculpas e comentários dilatórios. Ora, é Guterres é o superior efectivo de DiCarlo ou existe uma dupla hierarquia no seio da ONU, uma pública e favorável à paz e outra, desconhecida e empurrando para a guerra?

No início da Guerra Fria, os EUA idealizaram como sobreviver a um ataque nuclear soviético que mataria de um golpe o seu presidente e os seus parlamentares. Assim, o Presidente Eisenhower nomeou um governo fantasma encarregado de assegurar a continuidade se uma tal catástrofe ocorresse. Esta entidade secreta foi periodicamente renovada pelos seus sucessores e ainda hoje existe.

Desde há dezoito anos, defendo a tese segundo a qual os EUA já não são governados pelo seu Presidente e o seu Congresso, mas, antes por esta entidade de substituição. Apoiando-me em documentos oficiais dos EUA, eu interpretei os atentados de 11 de Setembro de 2001 como um Golpe de Estado operado por esta instância não eleita. Temendo que eu ponha em cheque o ideal democrático, os meus contraditores rejeitaram os meus trabalhos em bloco sem realmente os debater, ou sem sequer os ler.

Poderia crer-se que após o segundo mandato de George Bush Jr. e de Barack Obama este debate se tornara obsoleto. Ora, durante a sua campanha eleitoral, Donald Trump denunciou a existência deste «Estado Profundo» que, segundo ele, não mais serviria os interesses do povo, mas, sim os interesses da Finança transnacional.

É claro, nenhum Estado estrangeiro assumiu posição pública sobre uma questão que releva da política interna e da soberania dos EUA. Salvo o Presidente Putin que, na semana passada, se meteu por esta via. Comentando, a 22 de Agosto ---quer dizer, dois dias após a intervenção pública do seu Ministro dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) contra a ONU---, as sanções de Washington contra o seu país, ele declarou: «E, não é somente a posição do Presidente dos Estados Unidos o que conta. É a posição da instituição que pretende ser o Estado, da classe dominante, no sentido amplo do termo. Eu espero que a tomada de consciência de que esta política não tem futuro chegará um dia aos nossos parceiros e que então começaremos a cooperar de uma maneira normal» [4].

Sim, leram bem. O Presidente Putin afirma que não há um Poder nos Estados Unidos, mas, sim, dois. O primeiro é composto pelos representantes eleitos do Congresso e pela Presidência, o segundo é ilegítimo e por vezes mais poderoso.

Em dois dias, a Federação da Rússia colocou em causa a coerência das Nações Unidas e a dos Estados Unidos.

Infelizmente, aqueles que ainda não analisaram os acontecimentos do 11-de-Setembro, nem tiraram as conclusões das guerras que se seguiram, permanecem na vulgata oficial. Provavelmente interpretarão a posição russa como uma maquinação visando perturbar as democracias ocidentais.

Do ponto de vista de Moscovo, é preciso terminar a guerra de agressão ---por interpostos jiadistas--- contra a Síria e levantar as sanções unilaterais dos Estados Unidos, do Canadá e da União Europeia contra a Rússia. Assim, o problema ao qual todos devemos fazer face não é o da defesa da democracia, mas, sim o do perigo de guerra.

Uma hierarquia paralela, em Nova Iorque e em Washington, desprovida de qualquer legitimidade, pretende mergulhar o mundo num conflito generalizado.

Thierry Meyssan* | Tradução Alva | Fonte Al-Watan (Síria)

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Notas
[1] “The UN will be ready to assist in the reconstruction of Syria only when a comprehensive, genuine and inclusive political transition, negotiated by the Syrian parties in the conflict is firmly under way”
[2] “Draft Geneva Communique Implementation Framework”, “Confidence Building Measures”, “Essential Principles”, “Representativness and Inclusivity”, “The Preparatory Phase”, “The Transitional Governing Body”, “The Joint Military Council and Ceasefire Bodies”, “The Invitation to the International Community to Help Combat Terrorist Organizations”, “The Syrian National Council and Legislative Powers during the Trasition”, “Transitional Justice”, “Local Governance”, “Preservation and Reform of State Institutions”, “Explanatory Memorandum”, “Key Principles revealed during Consultations with Syrian Stake-holders”, “Thematic Groups”.
[3] “A Alemanha e a ONU contra a Síria”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan (Síria) , Rede Voltaire, 28 de Janeiro de 2016.
[4] «И дело не только в позиции Президента Соединённых Штатов, дело в позиции так называемого истеблишмента – правящего класса в широком смысле этого слова. Надеюсь, что осознание того, что эта политика не имеет перспектив, всё-таки когда-нибудь придёт к нашим американским партнёрам, и мы начнём сотрудничать в нормальном режиме».

Trump alerta para “violência” de esquerda se democratas ganharem intercalares


O Presidente dos EUA falava perante líderes evangélicos, a quem apelou que usassem o seu “tremendo poder” para influenciar os eleitores indecisos. Os democratas “vão derrubar tudo o que fizemos rápida e violentamente”, avisou. As eleições são, segundo Trump, um “referendo” à liberdade de expressão e de religião, que estão a ser ameaçadas por “pessoas violentas”

O Presidente dos EUA, Donald Trump, avisou que as suas políticas serão “violentamente” revogadas se os democratas ganharem as intercalares de novembro. Falando perante líderes evangélicos na segunda-feira à noite, Trump afirmou que as eleições são um “referendo” à liberdade de expressão e de religião, que estão a ser ameaçadas por “pessoas violentas”.

Numa gravação áudio da reunião que decorreu à porta fechada, a que o jornal “The New York Times” teve acesso, o chefe de Estado norte-americano pediu ajuda aos evangélicos dizendo que estavam a um voto de “perder tudo”. “Não é uma questão de gostar ou não gostar”, prosseguiu, “eles vão derrubar tudo o que fizemos e vão fazê-lo rápida e violentamente”.

“Quando se olha para os Antifa, são pessoas violentas”

Reforçando o advérbio de modo “violentamente”, Trump acrescentou: “Há violência. Quando se olha para os Antifa, são pessoas violentas.” Os Antifa, abreviatura de ‘antifascistas’, são grupos de manifestantes de extrema-esquerda que combatem a ideologia de extrema-direita e se envolvem regularmente em confrontos com os manifestantes daquela ideologia.
Trump já antes tinha condenado a ação destes grupos de extrema-esquerda, responsabilizando “ambos os lados” na sequência do atropelamento mortal da ativista Heather Heyer, que se manifestava contra o avanço de supremacistas brancos sobre Charlottesville no ano passado.

Líderes evangélicos devem usar “tremendo poder” para influenciar eleitores, diz Trump

O Presidente instou os líderes evangélicos a usarem o seu “tremendo poder” para influenciar os eleitores indecisos. “Nesta sala, há pessoas que pregam para quase 200 milhões de pessoas, dependendo do domingo”, disse.

As intercalares de 6 de novembro podem influenciar muito a governação de Trump nos dois últimos anos do seu mandato. Atualmente, os republicanos dominam as duas câmaras do Congresso. Contudo, alguns democratas acreditam que uma “onda azul” pode varrer a Câmara dos Representantes e o Senado.

Esta terça-feira, houve primárias em três estados norte-americanos. Na Florida, o democrata progressista Andrew Gillum derrotou a moderada Gwen Graham. No Arizona, os republicanos escolheram Martha McSally numa votação que se tornou uma disputa para provar quem era mais leal ao Presidente dos EUA. Também o empresário Kevin Stitt questionou a lealdade do adversário, conseguindo a indicação republicana para governador em Oklahoma.

Hélder Gomes | Expresso

Foto: Win Mcnamee | Getty Images

Capitalismo de desastre


Para se ver quando se tiver tempo.

Trata-se de um documentário do mais clássico que existe e sem pretensões, que passou há dias na RTP3, enquanto dava um telejornal quase acéptico e muito martelado, quase sem informação do que vai pelo mundo.

O contraste é ainda maior quando se começa a ver o filme. Um investigador percorre vários países no planeta - Afeganistão, Haiti, Papua Nova Guiné, etc. - e vai repescar os casos em que a comunidade internacional interveio supostamente para ajudar certos países em estado de desastre.

A ajuda foi eficaz? O investimento estrangeiro deu autonomia a esses países? Trouxe-lhes riqueza e prosperidade, tranquilidade e segurança? Ou deixou esses países num círculo vicioso de ajuda - que não chega aos lugares, às populações - e que continuam, cada vez mais, a necessitar de mais ajuda (Afeganistão), que chega sempre de paraquedas aos países em estado de necessidade, com o apoio dos maiores políticos mundiais (Haiti), impondo-lhes contratos de exploração de matérias-primas que abandonam depois de esgotadas, deixando um rasto de poluição (Papua Nova Guiné), pagando salários que não pagam as despesas de transportes e alimentação (Haiti), muitas vezes sem qualquer intervenção dos governos locais, que brincam às democracias ocidentais com o dinheiro vindo de fora (Haiti).

Não há novidades. Não há coisas verdadeiras novas relativamente a décadas passadas. E por isso é que parece ainda mais chocante e criminoso.

Especialmente dedicado a quem, em Portugal, repete e repete e repete que o investimento estrangeiro é a solução para Portugal.  
  
João Ramos de Almeida | Ladrões de Bicicletas

Portugal | Geringonça é para quem pode

Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

Na campanha para as eleições autárquicas de 2017, Santana Lopes assegurava, a alto e bom som, o quanto estava na moda bater no PSD. Menos de um ano depois, prefere fragmentá-lo em pedaços, batendo bolas por fora depois de malhar contra o muro interno, mas sem arrastar (ainda) alguns dos seus principais batedores. Enquanto a recolha de assinaturas para a constituição da "Aliança" decorre a bom ritmo, não há nomes sonantes do PSD que prefiram correr na pista individual de Santana, fora do trilho de sempre. Talvez porque seja unânime a percepção de que a "Aliança" é tão-só a concretização do projecto pessoal de um homem viciado em eleições, incapaz de abdicar do teste de aceitação popular que o seu partido já não lhe proporcionará. No momento em que Rui Rio é a última esperança do PSD para purgar o partido da lógica dos interesses que a deriva neoliberal de Pedro Passos Coelho petrificou, convém a muitos adversários internos de Rio que alguém navegue à vista, impedindo aquilo que mesmo uma vitória do PS nas próximas legislativas não impedirá face à aproximação de Rui Rio a António Costa: o regresso do PSD aos arredores da sua matriz social-democrata para ressuscitar, mais cedo do que tarde, o bloco central.

Na lógica dos interesses, é natural que Santana Lopes já não tenha interesse no PSD. Outros protagonistas esperam, com natural ansiedade e pérfida estima, pelo fim precoce do actual líder. Nessa fila laranja de sucessão, não há lugar para Santana. Na ausência de reflexo, prefere a Oposição. E, perante a sua história política, percebe-se bem a preocupação de muitos sectores à Direita: Santana é um especialista em segundos lugares. O ataque ao ceptro de líder da Oposição far-se-á tão mais forte quanto mais Rio se encostar ao PS e Cristas se afastar do eleitorado ao centro só porque a "Aliança" existe. Esse "lugar de ninguém" da Direita portuguesa está, finalmente, prestes a ser ocupado por uma inequívoca vontade de fragmentação, curiosamente em contraciclo com uma histórica e inusitada união das esquerdas. A Direita pode querer mas já nunca será capaz de uma geringonça. Como os tempos mudam.

Não haverá outro partido que Santana Lopes possa criar caso não ganhe as eleições ou, pés à terra, a liderança da Oposição. Nesse sentido, será bom contar com ele por muito tempo, enquanto aguarda pelo fenómeno de arrastamento no PSD que um eventual desastre eleitoral do partido ditará como inevitável. Sobra a pergunta: se o partido dos interesses sair do PSD para abraçar a "Aliança" e Rui Rio definhar pela purga libertária dentro de portas à espera do abraço do bloco central, o que restará do PSD?

(O autor escreve segundo a antiga ortografia)

* Músico e jurista

Não deixai ir a eles as criancinhas, encarcerem-nos, livrai-nos do mal


Curto para mais tarde recordar. Vale. O Papa espalha-se ao comprido. Deixai vir a mim as criancinhas, disseram os pedófilos lá do burgo gigantesco que alberga gentes feias, porcas e más, que dizem ir ganhar os céus.

As corporações são depósitos da escória da sociedade. As igrejas das várias religiões é o que são e disso vamos sempre tendo notícias ao longo dos milénios. É lá que se acobertam ladrões, assassinos, pedófilos etc. Pelo dito, Francisco, o papa, é cúmplice de pedófilos. E de outros criminosos da dita santa sé católica, apostólica, romana? Vai-se lá saber! Há os bons, os decentes, os humanos, os honestos, os solidários… Ah, pois há. Em todos as corporações e também nos do credo de Roma. É assim, são esses decentes que dão crédito aos que não merecem e são uns criminosos, sacanas, avaros, ladrões, etc. Também acontece assim em quase tudo. Olhem para os políticos em Portugal… Pffff.

Há um lema que não falha: nunca fiando.

Mas o Curto não se resume só a isso. Vá ler, já aqui em baixo.

Bom dia, se não vomitarem com estas e outras de papas, padres, bispos e quejandos, assim como de políticos desonestos, banqueiros salgados e insonsos, toda a restante cáfila dos que nos fazem a vida numa amálgama de trampa e tristeza. Barafustem e exponham vossas razões. Ajam. Não rezem. (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Perdoai-lhes, Senhor? Eles sabiam o que faziam

Filipe Santos Costa | Expresso

Bom dia.

Hoje, no Vaticano, é dia de audiência geral do Papa e a expectativa é sobre se Francisco falará do escândalo de pedofilia que volta a abalar a Igreja Católica - desta vez, atingindo-o diretamente e beliscando a sua imagem de uma forma que nunca tinha acontecido ao longo do pontificado. A acusação de que Francisco sabia dos abusos sobre menores perpetrados pelo cardeal norte-americano Theodore McCarrick, tendo ocultado essa informação e até dado provas de confiança no acusado, fragilizou de forma inédita o atual chefe da Santa Sé, deixando-o na mira dos setores mais conservadores da Igreja.

Ontem surgiu uma nova revelação neste caso: o procurador-geral da Pensilvânia, o estado norte-americano onde teve origem o capítulo que reacendeu a polémica da pedofilia na Igreja Católica, garantiu que existem provas de que o Vaticano tinha conhecimento de décadas de práticas criminosas protagonizadas por centenas de padres de seis dioceses da Pensilvânia. “Há exemplos concretos em que o Vaticano sabia e estava envolvido na ocultação”, assegurou o procurador-geral Josh Shapiro, um dos responsáveis pelo relatório divulgado na semana passada sobre essa longa história de abusos sobre menores e respetiva ocultação por parte da hierarquia católica. Shapiro só não pôde responder se Francisco sabia aquilo que o Vaticano sabia. “Só não posso falar sobre o Papa.”

Mas tudo indica que, pelo menos em relação aos crimes cometidos pelo cardeal McCarrick, Francisco sabia mesmo, e ocultou mesmo. Na segunda-feira, um dia depois de ser divulgada a carta em que o antigo embaixador (núncio) do Vaticano em Washington revelou que em 2013 deu conhecimento ao Papa da existência de dossiês sobre práticas pedófilas de McCarrick - acusando Francisco de ter ignorado essa informação e dado novas responsabilidades ao cardeal suspeito, o que agora motiva a exigência de que o Papa se afaste do cargo -, o Sumo Pontífice recusou-se a responder às acusações. Mas não desmentiu o conteúdo da carta do arcebispo italiano Carlo Maria Vigano. Apenas se recusou a comentá-la.

O New York Times explica quem é o arcebispo Vigano e conta como este desapareceu depois de escrever a carta em que pede a Francisco que resigne.

O silêncio do Papa tornou-se demasiado ruidoso, numa história feita de silêncios que nunca deviam ter acontecido. Ao calar as denúncias que recebeu sobre McCarry, e ao calar-se outra vez agora, que é confrontado com essa responsabilidade, Francisco repete o pecado da Igreja, que desde sempre encobriu os casos de pedofilia de que ia sabendo, escolhendo sempre olhar para o outro lado. Há uns anos, essa conspiração de silêncio caiu com estrondo sobre a própria Igreja, quando o Boston Globe descobriu uma parte do que estava oculto (lembra-se do filme Spotlight?). E agora, que consequências terá mais silêncio e mais ocultação?

A ironia, neste caso, é que a recusa de Francisco em comentar a carta acusatória aconteceu no voo em que o Papa voltava a Roma depois de uma viagem à Irlanda em que admitiu o “falhanço das autoridades eclesiásticas” relativamente aos casos de pedofilia, que classificou como “crimes repugnantes”.

No avião de regresso, como é tradição, o chefe da hierarquia católica conversou com os jornalistas e, embora sem falar das acusações de que é alvo, falou de outros temas. Como a homossexualidade. O seu intuito seria - como já fez noutras ocasiões - exortar os católicos com filhos homossexuais a que os entendam e “não os condenem”. Mas uma frase lançou gasolina num tema inflamável: “Quando [a homossexualidade] se manifesta na infância, a psiquiatria pode desempenhar um papel importante para ajudar a perceber como as coisas são”. A declaração do Papa dava a entender que vê a homossexualidade como um distúrbio psiquiátrico - e essa foi a razão do clamor que se levantou, sobretudo junto de organizações LGBT. Ontem, na habitual transcrição da conversa do Papa com os jornalistas, o Vaticano apagou a palavra “psiquiatria”. Segundo o gabinete de imprensa da Santa Sé, o que o Papa disse não reflete o seu pensamento - Francisco “não queria dizer que se trata de ‘uma doença psiquiátrica’”.

Por falar em doença psiquiátrica, vale a pena ler estas duas reportagens, que desenterram o passado de instituições católicas que ao longo de décadas foram autênticas casas de horror.

Aqui, uma magnífica reportagem multimédia do New York Times publicada em outubro, sobre um lar na Irlanda para jovens mães solteiras e para os seus filhos. A “casa de horrores de Tuam” foi um dos casos que assombraram a visita do Papa à Irlanda, neste fim de semana, e que Francisco prometeu estudar com atenção.

Aqui, uma investigação publicada ontem pelo BuzzFeed sobre um orfanato católico no estado do Vermont, EUA. O caso não é novo, mas a longa reportagem conta com pormenores como era a vida das crianças que caiam nas mãos de freiras sádicas que parecem saídas de um filme de terror de quinta categoria. Há muitos relatos de abusos, violência, e até denúncia de mortes. Um aviso: não é a típica leitura levezinha de agosto. Mas, de qualquer forma, agosto está a acabar...

OUTRAS NOTÍCIAS

Por inesperado que possa parecer, os fabricantes de automóveis andam a enganar-nos. Há anos que a indústria fornece dados sobre o consumo dos veículos que não correspondem à realidade - ou seja, os carros consomem bastante mais combustível do que os fabricantes anunciam. Só em Portugal, os automobilistas gastaram, desde 2000, mais 1,6 mil milhões de euros do que gastariam se os consumos apregoados pela indústria fossem verdadeiros.

Não se sabe quem pagou a conta, mas sabe-se que a situação do PSD constou da ementa. Pedro Santana Lopes e Carlos Carreiras almoçaram ontem e Rui Rio deve ter ficado com as orelhas a arder. Santana, por estes dias a trabalhar no seu novo partido, não precisa de apresentações, mas convém recordar que Carreiras é um dos poucos no PSD com poder real no país real: preside à autarquia de Cascais, a principal câmara liderada pelo PSD e é, desde há semanas, um dos mais destacados críticos de Rui Rio e da atual direção do PSD. Há algo de dejá vú nas críticas que Carreiras tem feito a Rio: há uns anos, quando Rio era o nº2 de Manuela Ferreira Leite, Carreiras também foi dos mais ativos sociais-democratas a demolir essa direção do PSD, que teve um fim inglório e previsível. E agora?

Para já, sabe-se que Rui Rio não diz uma palavra em público desde que foi de férias no início de agosto. Parece que volta ao ativo em setembro.

O setor do turismo continua a valer muita riqueza a Portugal. Só no ano passado foram cerca de 15 mil milhões de euros (mais 3,4 mil milhões do que em 2016). Os dados são da Organização Mundial do Turismo.

Jornal de Negócios examinou o meio milhão de empregos criados em Portugal depois do período negro do resgate da troika. E concluiu que o emprego novo é diferente do que desapareceu: mais feminino, mais envelhecido, mais qualificado e mais concentrado nos serviços e nas regiões de Lisboa e Porto. Na mesma, só se manteve o nível de precariedade.

Na Alemanha, a violência racista voltou às ruas. Hoje poderá ser o terceiro dia consecutivo de confrontos entre manifestantes de extrema-direita e contra-manifestantes de esquerda na cidade de Chemnitz, no Leste do país. Até ontem, a violência já havia feito 20 feridos. Tudo começou, como vai sendo hábito, com rumores empolados pelas redes sociais, relacionados com a morte de um alemão, que levou à detenção de um iraquiano e um sírio. O crime ainda está por esclarecer, mas o rastilho pegou fogo nos movimentos de extrema-direita, exigindo justiça popular. Apesar da condenção de Angela Merkel, a incapacidade da polícia para reagir ao que se passa nas ruas, associada a um "cocktail de medo e preconceito", faz temer o pior.

A propósito: ontem encontraram-se dois dos faróis do racismo, da xenofobia e do autoritarismo na Europa. O primeiro-ministro hungaro, Viktor Orbán, foi a Itália conhecer Mateo Salvini, o ministro da administração interna. Como seria de esperar, houve muitos elogios mútuos, chegando-se ao ponto do PM húngaro dizer sobre o líder da extrema-direita italiana. "Ele é o meu herói!". Podia ser um daqueles momentos em que só se estraga uma casa, mas estragam-se várias: Orbán e Salvini não escondem a ambição de promover uma liga europeia de partidos nacionalistas e xenófobos, para uma União Europeia de fronteiras fechadas. "Estamos próximos de um ponto de viragem para o futuro da Europa", disse o italiano.

Amigos para sempre? Talvez não. Rui Tavares faz uma interessante reflexão sobre este momento de "enlevo" e todas as contradições que encerra.

Um dos alvos da liga Orbán/Salvini é Angela Merkel; o outro é Emmanuel Macron. Mas o presidente francês tem em casa muito com que se preocupar. Ontem, o ministro do Ambiente, Nicolas Hulot, demitiu-se em direto durante uma entrevista radiofónica. Depois de ter sido mais uma vez desautorizado no Governo, anunciou simplesmente: "Não quero mais mentir a mim próprio." Hulot era "apenas" o ministro mais popular do Governo (numa altura em que a popularidade Macron está a pique) e um dos mais conhecidos ambientalistas da Europa, tendo sido um dos grandes trunfos do presidente quando este formou o Governo. O Libération traçou o perfil deste "verde" que estava instalado "à sombra do poder".

Donald Trump continua a sua guerra contra o mundo em geral, e agora contra a Google e os motores de busca em particular. O presidente dos EUA tomou como boa e assumiu para si a acusação de um site conservador, segundo o qual, quando é feita uma pesquisa sobre “Trump news”, 96% dos resultados disponibilizados pela Google são de meios de comunicação social adversários de Trump. Aqueles a quem Trump chama “fake media”, e que sobre ele só produzem “fake news”. Tendo em conta que o inquilino da Casa Branca tem feito esta acusação a quase todos os grandes títulos da comunicação social norte-americana, do New York Times à CNN (escapa a Fox News e pouco mais), talvez o problema esteja na banalização do rótulo, e não no algoritmo do motor de busca...

Entretanto, a Rússia anunciou as maiores manobras militares desde o fim da União Soviética. E a China, que já tem a maior armada do mundo, desafia o domínio dos EUA no Oceano Pacífico.

Sem surpresa, o golo de bicicleta que Cristiano Ronaldo marcou pelo Real Madrid contra a Juventus, nos quartos de final da Liga dos Campeões, foi escolhido como o melhor golo da época no site da UEFA.

Hoje, às 20h, o Benfica joga com o PAOK a segunda mão para decidir quem avança para a fase de grupos da Liga dos Campeões. É um jogo que vale 43 milhões de euros.

João Sousa arrancou bem a participação no US Open. O tenista português bateu, na primeira ronda, o espanhol Marcel Granollers.

AS MANCHETES DE HOJE

i: "Metro desvia fundo de pensões para obras de expansão"
Jornal de Notícias: "Subsídio de desemprego vai aumentar até 17,5 euros"
Público: "Governo e Bruxelas deram aval aos prémios extras da Caixa"
Jornal de Negócios: "Economia recuperou 500 mil empregos. O que mudou?"
Correio da Manhã: "Crime passional ganha força"


O QUE ANDO A LER

Há anos que tencionava ler “O homem que gostava de cães”, de Leonardo Padura (Porto Editora). Tardou, mas aconteceu. A primeira estranheza, quando me recomendaram a obra, foi o facto de essa recomendação ter chegado um amigo apaixonado por História e biografias. Surpreendeu-me o entusiasmo desse meu amigo por um livro do romancista e ex-jornalista cubano, conhecido essencialmente pelos livros policiais em que o detetive Mario Conde investiga crimes nas ruas obscuras de Havana. Depois percebi: em “O homem que gostava de cães” também há um crime, também há deambulações fora de horas pelas ruas erradas de Havana e também há o rigor descritivo de Padura, servindo o cuidado trabalho de investigação do antigo jornalista que virou escritor celebrado internacionalmente. Só que, neste caso, o crime é real, assim como os protagonistas (quase todos, pelo menos).

No princípio - e no fim - deste thriller histórico há um dos mais célebres crimes do século XX: o assassinato de Trotski, por ordem de Estaline. E assim estão apresentados três personagens do livro: Leon Trotski e o seu assassino, Ramón Mercader, são os protagonistas, e José Estaline é uma sombra omnipresente ao longo das 624 páginas - por ter sido o homem que condenou Trotski (primeiro, ao ostracizá-lo e exilá-lo, em sequência da grande cisão que se seguiu à morte de Lenine - uma disputa de poder que Estaline venceu de forma implacável -, e depois ao dar a ordem efetiva para a sua morte), mas também por ter moldado o mundo comunista em que cresceu Iván, o narrador de toda a história - um pacato, frustrado e fictício escritor cubano que tropeça neste caso ao passear numa praia de Havana. Num desses seus devaneios solitários pelas praias, quase sempre acompanhado de um livro, Iván confessa a sua predileção por Raymond Chandler, autor que elevou os romances policiais ao nível da literatura - e não se pode deixar de ler essa passagem como uma referência autobiográfica do próprio Padura (para além de toda a experiência da vida na Cuba dos anos 70, 80 e 90, vivida por Padura e relatada por Iván, personagem que surge como uma projeção do seu criador).

Dividido por este triângulo de protagonistas, “O homem que gostava de cães” é um ambicioso mosaico que entretece três vidas: um jovem e sedutor comunista catalão que conhecemos de armas na mão, no final dos anos 30, em plena Guerra Civil de Espanha; um dos pais da revolução russa, celebridade mundial caída em desgraça e à beira de ser deportado da Mãe Rússia para um exílio que acabou por ser definitivo; e o narrador cubano, que no final dos anos 70 vive num país moldado por essa utopia comunista, embora fosse (então) completamente alheio às desventuras tanto da utopia comunista como de Trotski ou de Mercader.

A História é conhecida: Mercader, jovem burguês tornado combatente republicano, foi recrutado por um agente do NKVD (a agência que antecedeu o KGB), foi para a Rússia onde treinou com o objetivo de vir a assassinar Trotski quando Estaline desse a ordem. O que aconteceu numa tarde de 1940, no México, onde o velho companheiro de Lenine acabou por encontrar refúgio depois de anos de exílio que foram também anos de peregrinação - com Hitler a ameaçar e Estaline a consolidar o seu poder, o homem que um dia comandou o Exército Vermelho era o hóspede que ninguém queria receber. A peregrinação de Mercader também foi longa, minuciosa e paciente - como Moscovo queria distanciar-se do crime, Ramon adotou várias identidades e nacionalidades, e o logro obrigou-o a fixar-se em diversas cidades até tudo confluir para o encontro entre vítima e algoz. Aí tudo se cumpriu, com uma picareta de gelo cravada no crânio de Trotski.

Impressiona o fôlego de Padura ao longo de mais de 600 páginas (o NYT chamou-lhe a “novela russa” do autor cubano, não só pelo tema, mas também pela dimensão) em que saltamos das serras de Barcelona para os cafés de Paris, das estepes russas para uma ilha turca, do bulício de Nova Iorque para a miséria de Havana, do cinzento de Moscovo para o azul saturado da casa de Frida Kahlo e Diego Rivera. São muitos lugares e muitos tempos - ora estamos no início do século XX, num flashback em que Trotski conspira com Lenine, ora nos anos 30 a resistir às tropas de Franco ou em pleno terror estalinista, ora no final do século XX, numa praia de onde os ‘balseros’ fogem de Cuba.

O enorme talento narrativo de Padura mede-se na capacidade com que consegue pegar em tantas peças, em tantas geografias, e em personagens com tanta bagagem, e fazer com que tudo encaixe e se articule num fresco épico, sem gorduras e, quando se trata de factos, sem dever nada ao rigor histórico.

Fico por aqui.

Tenha uma boa quarta-feira.

Mais lidas da semana