Justiça francesa
aperta cerco a Christine Lagarde no caso Tapie
Daniel Ribeiro,
correspondente em Paris – Expresso – foto Getty Images
Ex-ministra
francesa e atual diretora do FMI é suspeita de "cumplicidade de desvio de
fundos". Homem de confiança do ex-Presidente Nicolas Sarkozy diz ter sido
ela que tomou as decisões que renderam 403 milhões de euros a Bernard Tapie.
Depois de buscas da brigada financeira francesa, nos últimos dias, aos
domicílios e escritórios do polémico homem de negócios Bernard Tapie, e de
Claude Guéant, ex-ministro francês do Interior e ex-secretário geral do Palácio
do Eliseu, este descartou qualquer responsabilidade do ex-Presidente Nicolas
Sarkozy na resolução de um litígio de Tapie com o banco Crédit Lyonnais, que
terminou, em 2008, com uma indemnização milionária a este último.
"O Eliseu
estava a par do procedimento que foi decidido e considerou-o uma boa medida,
mas foi o Ministério das Finanças que decidiu recorrer a esse
procedimento", disse Claude Guéant, esta manhã, a uma rádio francesa. O
homem de confiança de Sarkozy referia-se ao facto de o diferendo ter sido
resolvido por uma "arbitragem privada" em prejuízo da via judicial,
que estava então a revelar-se muito desfavorável ao empresário francês e antigo
presidente do Olympique de Marselha.
A Justiça suspeita
que Nicolas Sarkozy e Christine Lagarde , na época ministra da Economia e das Finanças,
tenham intencionalmente favorecido Bernard Tapie, ex-ministro de um Governo
socialista durante a presidência do falecido François Mitterrand e, depois,
apoiante de Nicolas Sarkozy nas presidenciais de 2007 e 2012.
Tribunal de exceção
instrui processo
Com as explicações
de Guéant aperta-se o cerco a Christine Lagarde, que deverá ser convocada nas
próximas semanas pelo Tribunal de Justiça da República, jurisdição de exceção
composta por parlamentares e magistrados, que instrui o processo contra a diretora
do FMI e que é o único tribunal com competência para julgar infrações cometidas
por ministros franceses no exercício das suas funções.
O processo contra a
agora diretora do FMI foi desencadeado em meados 2011, depois do procurador
Jean-Louis Nadal o ter recomendado por considerar terem existido
irregularidades na arbitragem favorável a Tapie. "A senhora ministra
exerceu constantemente os seus poderes ministeriais para chegar a uma solução
favorável a Bernard Tapie, que a assembleia plenária do Tribunal de Cassação
(Recurso) parecia considerar ter comprometido", escreveu na época o
procurador.
Com o procedimento
escolhido por Lagarde, eventualmente apoiada por Nicolas Sarkozy, o diferendo
de Bernard Tapie com o Crédit Lyonnais, que dizia respeito a um complicado
negócio relacionado com a compra da empresa Adidas pelo empresário, no inicio
de 1990, terminou com uma indemnização de 403 milhões de euros (incluindo juros
de 118 milhões) a este último. Na altura da compra da Adidas, o Crédit Lyonnais
era um banco público e Tapie foi apoiado pelos socialistas, que então estavam
no poder em Paris.
Sarkozy também
suspeito
Christine Lagarde,
que é suspeita de "cumplicidade de desvio de fundos públicos", é
igualmente acusada por juristas e adversários políticos de ter prejudicado o
Estado por não ter deixado prosseguir a via judicial normal para resolver
aquele litígio financeiro.
As buscas que esta
semana visaram Claude Guéant têm a ver com o facto de Bernard Tapie ter tido
diversas reuniões com Nicolas Sarkozy na época da "arbitragem
privada". Os inspetores da brigada financeira suspeitam que Largarde e o
antigo Presidente francês agiram de forma concertada neste controverso caso,
com o objetivo de favorecer o polémico homem de negócios que tinha
"evoluído" da esquerda para a direita.
A atual diretora do
FMI indicou há dias estar "à disposição da Justiça para responder no momento
oportuno" sobre um caso no qual garante não ter sido cometida qualquer
ilegalidade.
*Título PG