quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Angola | João Lourenço e um ano da sua eleição; uma proto-análise



Ponto prévio que deve ser tido em conta. Na passada quinta-feira, 23 de Agosto, não fez um ano que João Lourenço é presidente, mas, isso sim, que foi eleito. Foram as quartas eleições legislativas nacionais.

Num dia em que os angolanos votaram pela mudança e que o vencedor, tem feito por cumprir as suas três máximas e clara bandeira eleitoral: mudar, combater a corrupção e a impunidade.

Tem tentado, porque a realidade mostra que muito ainda há por fazer, principalmente no que tange quanto à impunidade e à corrupção.

É certo que, como o Presidente João Lourenço afirmou, em 11 meses – ele só tomou posse – já muito foi feito. Nem tudo, terá sido – e na maioria, nem poderia ser – bem feito. Mas como diz o adágio latino, Roma e Pavia não se fizeram num dia…

Mas há situações em que se já poderiam ter dad passos para levar por diante alguns dos seus pronunciamentos eleitorais, como o combate ao desemprego. 500 mil empregos era a promessa. Mas como ninguém acredita em milagres, sabia-se que isso poderia ser para uma legislatura. Todavia, já alguns poderiam e deveriam ter sido criados, porque o Governo já começa a ter condições para isso. No entanto, o que se vê, é algumas empresas nacionais fecharem e outras continuarem sem pagar vencimentos há longos meses. As manifestações de desagrado não mentem.

É certo que eu previa que João Lourenço pudesse ser o nosso Gorbachev. Ele preferiu ser Deng Xiaoping. Ambos à sua maneira, foram renovadores.

Só que Xiaoping, na linha do seu paradigma: um país, dois sistemas, manteve o predomínio do partido único. E se nós não temos esse mau desígnio, continuamos a ter haver predominância de um partido maioritário, não só na Assembleia Nacional, como na vida política, social e pública.

Ou seja, uma mudança que tarda – e muito – a acontecer.

Ainda recentemente, os antigos “partisan” ou militares do ELNA (FNLA) reclamavam não receberem o subsídio de antigos combatentes. Dos FAPLA (MPLA) nunca ouvimos essa reclamação…

Houve algumas alterações económicas; talvez as mais visíveis pelo impacto que teve junto de algumas personalidades que mais detinham esse poder económico. Mas até que a economia nacional tenha uma maior e efectiva diversificação, muita água ainda hão-de correr nos nossos rios. Talvez, até o Cunene consiga manter um caudal visível da nascente à foz.

Ainda assim, um facto já está a ocorrer, por certo, era uma medida que não esperaríamos e não quereríamos ver, caso fossem devidamente penalizados quem, de facto e são sabidos quem,delapidou o erário público: o FMI vai ter de ajudar a nossa economia, com todas as consequências que daí advirão…

Na Justiça, alguns actos continuam a ter a marca anterior. Ainda assim, há que reconhecer algumas – talvez substanciosas – mudanças em alguns acórdãos que, noutra época, não o seriam como forma emitidos.

Vamos aguardar pelo aniversário efectivo da tomada de posse do Presidente João Lourenço para, nessa altura, fazer uma verdadeira análise do seu primeiro ano de mandato.

*Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) e Pós-Doutorando da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto**

** Todos os textos por mim escritos só me responsabilizam a mim e não às entidades a que estou agregado

*Eugénio Costa Almeida – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.

Vítima de racismo na Ilha de Luanda tem ação judicial em vista


Simão Hossi conta como foi agredido, humilhado e expulso de estabelecimento na Ilha de Luanda. Ao invés de desculpar-se, "Café Del Mar" justifica o ato. Ativista ouvido pela DW África exige encerramento do restaurante.

O episódio registou-se no domingo (26.08), quando a alegada vítima e um grupo de colegas escolheram o restaurante "Café Del Mar", na Ilha de Luanda, uma das zonas mais turísticas da capital angolana, para um encontro. O objetivo era despedirem-se de um amigo norte-americano, em fim de missão de serviço em Angola.

O ativista cívico e fotógrafo angolano Simão Hossi Sajamba explicou à Rádio Despertar, na noite desta segunda-feira (03.09), que foi interpelado pelo corpo de segurança quando regressava do banheiro.

"Transportaram-me até o exterior do restaurante e um deles deu-me algumas bofetadas. Para além de proferir aquelas palavras como “estás a ficar maluco, aquele não é lugar para mim, que eu não tenho juízo," descreveu a vítima.

Racismo, "ato deplorável"

A situação está a gerar polémica na sociedade angolana e está a ser entendida como um ato racista. O ativista Jeremias Benedito, do conhecido "caso 15+2", é um dos amigos de Hossi Sajamba que também estava presente no restaurante.

"Aquilo foi um ato deplorável, indignante e de falta de respeito para com o ser humano. Não se pode permitir que no nosso país haja indivíduos, estabelecimentos e instituições que pratiquem racismo," critica.

O restaurante "Café Del Mar" veio a público justificar o sucedido, sem se desculpar. Num comunicado, o estabelecimento afirma que o ativista e fotógrafo angolano estava "mal apresentado". Ou seja, "sujo".

Entretanto, o caso já é do conhecimento das autoridades angolanas. Nesta segunda-feira (03.09), a suposta vítima que diz tencionar intentar uma ação judicial contra os agressores, já recebeu da polícia a cópia do processo.

Jeremias Benedito não acredita que os implicados venham a ser responsabilizados. Mas pede das autoridades o encerramento do restaurante.

"O racista tem rosto e voz em Angola. O racista sabe que aqui a justiça não funciona. Racismo é o maior perigo à humanidade. Racismo enterra milhões e milhares de pessoas em todo mundo," avalia.

Reflexão necessária

Ainda é tabu falar sobre racismo em Angola apesar de ser uma realidade visível. Rappers como MCK e Yanick Afroman já abordam o assunto nos seus temas.

Na música "Realista", Afroman descreve como vê a situação. "Há sítios em que negro é barrado, mesmo bem apresentado. Mas o branco pode entrar de chinelo, calção," canta o rapper.

Mas, uma ampla reflexão sobre o racismo em Angola tarda acontecer, segundo Jeremias Benedito.

"Nós não estamos contra quem quer que seja que venha para o nosso país investir e conviver connosco - de forma harmoniosa, respeitando as regras estabelecidas e também as pessoas tal como são. No entanto, situações do género remetem-nos à seguinte reflexão: Quem é que está a sustentar o racismo em Angola? Qual é a sua origem? De onde parte?" questiona o ativista.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Moçambique | Segurança da Kenmare acusada de violar direitos humanos


Várias pessoas têm sido perseguidas e espancadas alegadamente por seguranças da Kenmare, que explora areias pesadas na província de Nampula, segundo a ONG Solidariedade Moçambique. A multinacional nega as acusações.

A Solidariedade Moçambique está preocupada com o recrudescimento das violações dos direitos humanos em Topuito, no recém-criado distrito de Larde, província nortenha de Nampula. Segundo a organização, tem havido perseguição e espancamento de cidadãos na região por parte de seguranças da Kenmare, que controlam a exploração clandestina de minerais.

E já há mortes entre a população, afirma António Mutoa, diretor-executivo da organização que opera no norte de Moçambique: ''Trabalhamos com o Governo e as empresas para ver até que ponto os direitos humanos têm sido acautelados na exploração dos recursos minerais."

E Mutoa revela: "Infelizmente, há dois meses, em Topuito fomos surpreendidos com o baleamento mortal de duas pessoas daquela comunidade e isso nos constrangeu bastante. Na comunicação que tivemos com a própria empresa [para saber as causas] é que soubemos que membros das Forças Armadas estavam em patrulha na mineração''.

ONG indignada

O diretor questiona por que motivo uma empresa privada é guarnecida pelas Forças de Defesa do país, violando igualmente as convenções internacionais. E assegura  que já pediu a intervenção urgente das entidades competentes para pôr fim à violência.

''Nós falamos com a Comissão Nacional dos Direitos Humanos e falamos também com a quinta comissão da Assembleia da República, porque nós estamos indignados. Esperávamos que a exploração de recursos minerais não fosse uma maldição, porque até este ponto para nós é complicado'', lamentou.

A Kenmare nega as alegadas perseguições e os espancamentos, mas admite uma morte na região. No entanto, diz que os seguranças da empresa não são responsáveis pelo que aconteceu.

Regina Macuacua é a responsável pela área social da mineradora, que explora areias pesadas no distrito há cerca  de dez anos: "Nós não espancamos ninguém na comunidade, é uma pura mentira. Tivemos incidentes, sim, de segurança que foram devidamente comunicados e foram envolvidas as próprias comunidades e a Polícia, mas não há nenhum espancamento. Infelizmente, não sabemos onde é a que a Solidariedade foi buscar essas informações."

Mas Macuacua reconhece que "houve sim, infelizmente, um incidente em que foi baleada uma pessoa pelos militares e é um assunto conhecido e outro cidadão faleceu a fugir, estava a roubar combustível''.

Há mesmo militares a fazerem patrulha

Mas há, de facto, militares a patrulhar as áreas de exploração da mineradora? Foi o que a DW África perguntou à responsável dos assuntos sociais da multinacional Kenmare.

''Temos seguranças nossos que são contratados na própria comunidade e que não têm sequer armas, os militares estão lá, não guarnecem as instalações da empresa, eles estão lá na base de um acordo assinado com a empresa [e o Ministério da Defesa Nacional] por causa dos problemas de pirataria que houve e, por isso, o Ministério da Defesa deslocou alguns dos seus efetivos justamente para olhar por estas questões'', conta Macuacua.

Por seu turno, Zacarias Nacute, porta-voz da Polícia, assume que "a Polícia da República de Moçambique a nível da província de Nampula já teve conhecimento da ocorrência de alguns casos de homicídio naquela região. No entanto é prematuro avançar que sejam casos perpetrados pela segurança da empresa Kenmare, mas a Polícia já está a investigar o caso e temos agentes a trabalhar no mesmo e assim que tivermos os resultados havemos de solicitar aos órgãos de comunicação socia para o devido esclarecimento''.

Sitoi Lutxeque (Nampula) | Deutsche Welle

Moçambique | Padre católico suspenso por abusar e engravidar uma criança

O padre católico identificado pelo nome de C. Herinque Xivite, afecto a uma igreja na cidade de Xai-Xai, província de Gaza, está suspenso das suas actividades, acusado de abusar sexual e continuamente de uma criança a ponto de engravidá-la.

O caso aconteceu entre 2015 e 2018 e chegou aos ouvidos de outros clérigos da Igreja Católica através de uma denúncia. Actualmente, a vítima tem 19 anos de idade e está grávida.

O bispo Lúcio Muandula, que assinou o decreto de suspensão no dia 20 de Agosto passado, considerou o crime grave e contra os princípios da Igreja Católica.

Enquanto a investigação em curso não estiver concluídas, o indiciado deverá manter-se longe daquela instituição, segundo o mesmo decreto.

A Igreja Católica tem sido abalada por uma série de abusos sexuais um pouco por todo o mundo, o que levou o Vaticano a quebrar o silêncio e considerar, há dias, que este tipo de acontecimentos não pode ficar apenas por um pedido de desculpas.

“Vergonha e pesar” é como o Vaticano descreve o que igualmente classifica por “crimes horríveis”. “Os abusos descritos no relatório são censuráveis em termos criminais e morais.

A Igreja tem de aprender lições duras com o seu passado, e tanto os abusadores como quem permitiu que os abusos acontecessem devem ser responsabilizados", disse a entidade eclesiástica.
Em Moçambique, não é a primeira vez que se relatam casos que envolvem sacerdotes estupradores.

@Verdade

Reino Unido aponta governação estável em Timor-Leste mas alerta para violência


Londres, 04 set (Lusa) -- O Governo do Reino Unido admitiu hoje que a governação em Timor-Leste está mais estável, mas advertiu os cidadãos britânicos para a ocorrência de possíveis casos de violência naquele território.

Na atualização do alerta anterior - sobre a instabilidade política no território nos últimos meses -, que foi emitido hoje pelo Foreign and Commonwealth Office (FCO), do Governo do Reino Unido, os cidadãos britânicos são aconselhados a evitar a presença em comícios, manifestações e protesto, uma vez que a situação de segurança em Timor-Leste pode deteriorar-se sem aviso prévio.

Na sua página na internet, o FCO indica ainda que o crime continua a ser um problema em Timor-Leste, incluindo violência relacionada com gangues, roubo (em alguns casos armados), assalto e ataques a veículos.

O aviso da FCO recorda a violência localizada associada a comícios políticos que ocorreu em Díli, capital do Timor-Leste.

A 13 de maio último, a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) venceu as eleições legislativas, antecipadas, em Timor-Leste, com mais de 309 mil votos, ou 49,56% do total, o que representa uma maioria absoluta de 34 assentos no parlamento de 65 lugares.

O primeiro-ministro timorense considerou entretanto, na quarta-feira, "essencial" retomar a normalidade na execução orçamental, depois de quase oito meses de duodécimos, apelando à colaboração de todos para retomar o crescimento económico do país.

"Fazemos votos para que possamos encontrar em conjunto as soluções mais adequadas e necessárias, para a rápida retoma do caminho do crescimento económico, da melhoria das condições de vida do nosso Povo e do desenvolvimento sustentável da nossa querida pátria", disse hoje, no final do debate na generalidade do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018.

Para o chefe do Governo o OGE é "um sinal de empenho, compromisso, esforço e dedicação de todos os políticos no sentido de normalizar no plano financeiro e económico a situação do nosso país, até ao final do ano".

SYSC (ASP) // PVJ

Sobre Timor-Leste mais em Timor Agora

Macau/Hong Kong | Extradição: SCMP menciona acordos “informais e opacos”


A ausência de acordos de extradição entre a China, Macau e Hong Kong pode ter a sua razão de ser. De acordo com analistas ouvidos pelo South China Morning Post, existem pactos “informais e opacos” e os dois territórios formam uma “área cinzenta” operacionalizada pelo continente

O caso do hacker de Macau procurado pela justiça norte-americana, e que terá investido mais de nove milhões de dólares usando informação confidencial acedida através de ataques informáticos, levou o jornal South China Morning Post a tentar perceber o verdadeiro panorama de extradições em Macau e Hong Kong. Recorde-se que Hong Kong não extraditou o fugitivo de Macau para os Estados Unidos, depois de meses de negociação.

Analistas ouvidos pelo jornal defendem que o facto de ainda não terem sido assinados acordos de extradição entre a China, Hong Kong e Macau possibilita ao Governo Central uma certa margem de manobra. Isto porque, aponta a notícia, “Macau tem acordos com vários países, mas nenhum deles permite a detenção de fugitivos”.

Um dos entrevistados pelo jornal de Hong Kong é Simon Young, professor da faculdade de Direito da Universidade de Hong Kong, que defendeu que “com a ausência de acordos formais em matérias criminais, especialmente numa altura de muita incerteza global sobre os cidadãos e em que algo pode comprometer os seus interesses estratégicos alargados, as duas regiões administrativas especiais dão à China uma ‘área cinzenta’ que o país pode operar”.

Um advogado com 30 anos de experiência na região vizinha falou ao jornal sob anonimato, apontando a dimensão política deste tipo de procedimentos.

“Hong Kong tem uma boa reputação na detenção de pessoas, à excepção daqueles que, aos olhos de Pequim, não interessa deter. Em cada caso as autoridades centrais têm sempre a palavra final.”

O jurista afirmou mesmo que “há mecanismos de detenção ‘irregulares’ através dos quais as autoridades do continente podem trazer alguém que lhes interessa de Hong Kong para o continente. Sei de uma fonte credível que há vários casos destes nas mãos da polícia de Hong Kong”, lê-se na notícia ontem publicada.

O mesmo advogado acrescentou também que o facto de ainda não existirem acordos de extradição assinados “providencia um ‘céu seguro’ para os chineses fugitivos”, algo que “tem a aprovação de Pequim”. “E se o continente quiser a pessoa que fugiu para Macau, então eles têm os meios [de que necessitam]”, frisou.

Na notícia lê-se também que, desta forma, o Governo Central tenta travar casos de corrupção, crime e branqueamento de capitais “sem pôr em causa os seus interesses nacionais”. A notícia aponta ainda que o baixo número de fugitivos detidos em Hong Kong ou pelas suas autoridades policiais “levanta a preocupação sobre a possibilidade de Hong Kong e Macau estarem mais confinados a ‘acordos’ opacos e informais na hora de lidar com a busca dos fugitivos e a administração da justiça internacional”.

GOVERNO NÃO COMENTOU

Outro dos entrevistados no artigo é Jorge Menezes, advogado radicado em Macau há vários anos, que falou da componente política que a questão pode acarretar.

“Os crimes com motivações políticas são uma clara matéria de preocupação quando se discutem detenções de ‘infractores fugitivos’. Os acordos de assistência jurídica mútua têm implícita a ideia de padrões globais que podem não se aplicar facilmente às abordagens nacionalistas de repressão criminal”.

O HM tentou, até ao fecho da edição, obter uma reacção do gabinete da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, mas tal não foi possível.

Em 2016, foi notícia a alegada extradição ilegal de três pessoas de Macau para o continente, tendo a Associação Novo Macau exigido informações públicas sobre o assunto. Há muito que os acordos de extradição estão em fase de discussão entre os Governos das três regiões, estando em causa a diferença de regimes jurídicos.

Ana Sofia Silva | Hoje Macau

Myanmar | Jornalistas da Reuters condenados a sete anos de prisão por noticiar a verdade


Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram ontem condenados a sete anos de prisão no Myanmar por posse de documentos classificados. Os dois jornalistas da Reuters encontravam-se detidos desde Dezembro, altura em que investigavam o homicídio de 10 indivíduos de etnia Rohingya.

Os dois jornalistas da Reuters detidos desde Dezembro no Myanmar foram ontem condenados a sete anos de prisão. Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28 anos, incorriam numa pena de até 14 anos de cadeia. Na leitura da sentença, o juiz Ye Lwin acusou os repórteres – que se encontravam a investigar o massacre de 10 indivíduos Rohingya por forças de segurança do Myanmar – de não se terem comportado como “jornalistas normais”. O veredicto tem sido fortemente condenado desde ontem como um ataque à liberdade de imprensa por organizações como a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), Human Rights Watch e pelo próprio director da Reuters, que denunciou a condenação como “um enorme passo atrás na transição do Myanmar para uma democracia”. Em Macau, José Carlos Matias, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), disse ao PONTO FINAL que a condenação é um “sinal bastante preocupante”.

“Eu não tenho medo. Eu não fiz nada de errado. Eu acredito em justiça, democracia e liberdade”, disse Wa Lone, após a leitura da sentença, citado pela BBC. Durante o julgamento, a defesa argumentou que os dois jornalistas, cidadãos do Myanmar, foram enganados pela polícia. A 12 de Dezembro do ano passado, Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram convidados para se encontrarem com agentes policiais que lhes entregaram documentos que os dois jornalistas não chegaram a consultar por terem sido imediatamente detidos. Na altura, os repórteres encontravam-se a investigar o massacre de 10 Rohingya no estado de Rakhine, no Myanmar, por soldados daquele país, posteriormente confirmado pelas autoridades. A investigação foi entretanto publicada pela Reuters com o título “Massacre in Myanmar”, em Fevereiro deste ano.

Numa das sessões do julgamento – considerado internacionalmente como um teste falhado à liberdade de imprensa daquele país – Moe Yan Naing, capitão da polícia, testemunhou que um superior seu ordenou que os documentos fossem utilizados para incriminar Wa Lone. “Eu estou a revelar a verdade porque um polícia de qualquer posição deve manter a sua integridade. É verdade que eles foram incriminados”, disse aos jornalistas o capitão, que acabou condenado a um ano de prisão na sequência do seu testemunho por violação do código disciplinar da polícia.

Segundo o The New York Times, uma das testemunhas arroladas pela acusação, um agente da polícia, testemunhou ter queimado as suas notas da detenção dos jornalistas. Um outro polícia afirmou que os documentos confidenciais que estiveram na origem da detenção tinham já sido publicados num jornal. No entanto, estas confissões não foram suficientes para demover o juiz que determinou que os dois jornalistas violaram o Official Secrets Act, uma lei da era colonial. “[Os jornalistas] tentaram muitas vezes pôr as suas mãos em documentos secretos e passá-los a outros. Eles não se comportaram como jornalistas normais”, declarou o juiz Ye Lwin, de acordo com o The Guardian.

À saída do tribunal, Khin Maung Zaw, advogado de defesa, declarou que o veredicto é “mau para o nosso país”, e que iria “tomar qualquer opção para conseguir a sua libertação imediata”. Desde que foram detidos, os dois jornalistas apenas estiveram com as suas famílias durante visitas à prisão e durante as audiências em tribunal. Segundo a Reuters, Kyaw Soe Oo é pai de uma menina de três anos e Wa Lone foi pai pela primeira vez há um mês.

“ESTE É UM ENORME PASSO ATRÁS NA TRANSIÇÃO DO MYANMAR PARA UMA DEMOCRACIA”

“Hoje é um dia triste para o Myanmar, para os jornalistas da Reuters Wa Lone e Kyaw Soe Oo e para a imprensa em todo o lado”, afirmou Stephen J Adler, director da Reuters, em comunicado. Adler disse que a agência iria avaliar como proceder nos próximos dias, incluindo se iria procurar assistência no palco internacional. “Estes dois repórteres admiráveis já passaram nove meses em prisão sob falsas acusações pensadas para silenciar a sua investigação e intimidar a imprensa”, declarou o director da Reuters. “Este é um enorme passo atrás na transição do Myanmar para uma democracia”.

A FIJ afirmou que Wa Lone e Kyaw Soe Oo “estavam a fazer nada mais do que o que bons repórteres fazem – investigar abusos, homicídios e violações contra civis por parte do poderoso exército do país”. “Esta é uma falha dos tribunais e do Governo do Myanmar, com um sistema judicial a ser manipulado para punir jornalistas e enviar um aviso terrível a outros repórteres que a liberdade de imprensa vem com um preço muito, muito pesado”, declarou a FIJ. Também Shawn Crispin, representante do Sudeste Asiático do Comité para a Protecção dos Jornalistas, condenou a sentença como uma “farsa da justiça que irá definir o Myanmar como um pária anti-democrata enquanto eles estiverem injustamente atrás das grades”.

“ISTO MOSTRA AO MUNDO QUE NÃO EXISTE LIBERDADE DE IMPRENSA NO MYANMAR”

A Associação de Jornalistas do Myanmar afirmou estar “bastante desapontada” com a sentença. “É uma perturbação para a liberdade de imprensa e primado da lei e também uma ameaça e intimidação para todos os media. Isto mostra ao mundo que não existe liberdade de imprensa no Myanmar, que está a andar na Plataforma da Democracia”, declarou. Em Hong Kong, a sentença foi denunciada pelo Foreign Correspondents Club. “O veredicto tem ramificações abrangentes para os jornalistas no Myanmar numa altura em que a liberdade de imprensa está sob ataque por toda a Ásia. Os repórteres no Myanmar continuam a enfrentar acusações por notícias de interesse público, bem como pressão para se auto-censurarem”, afirmou o Foreign Correspondents Club.

Ao PONTO FINAL, José Carlos Matias afirmou que a condenação é um “sinal bastante preocupante”. “Tudo leva a crer que estes jornalistas estavam a fazer o seu trabalho e estavam a trabalhar sobre uma matéria de interesse público e relevante que é a situação dos Rohingya”, declarou o presidente da AIPIM. “É um sinal preocupante e pode ser visto de uma forma mais global e, independente dos aspectos específicos do caso em questão, de uma tendência preocupante a nível global relativamente à liberdade de imprensa e relativamente às condições que o jornalismo de investigação tem um pouco por todo o mundo”.

COMUNIDADE INTERNACIONAL APELA À LIBERTAÇÃO IMEDIATA E INCONDICIONAL DOS JORNALISTAS

Na Europa, o Serviço de Acção Externa da União Europeia apelou à libertação imediata e incondicional dos dois jornalistas, acusando a sentença de “prejudicar a liberdade dos media, o direito do público à informação e o desenvolvimento do primado do direito no Myanmar”. “A sua pena de prisão serve também para intimidar outros jornalistas que vão temer assédios e detenções ou acusações injustificadas simplesmente por fazerem o seu trabalho”, declarou a União Europeia.

Também a Human Rights Watch apelou à anulação do veredicto e à libertação imediata dos repórteres. “Estas condenações não escondem os horrores cometidos contra os Rohingya do mundo – simplesmente revelam o estado precário da liberdade de imprensa no país e a necessidade urgente de acção internacional para libertar estes jornalistas”, afirmou Brad Adams, director-executivo da divisão da Ásia da Human Rights Watch.

Tirana Hassan, directora de Resposta a Crises da Amnistia Internacional, afirmou que o veredicto condenou “dois homens inocentes a anos atrás das grades”, acusando-o de ser politicamente motivado. “Esta decisão politicamente motivada tem ramificações significativas para a liberdade de imprensa no Myanmar. Envia um duro aviso a outros jornalistas no país das consequências severas que os aguardam se olharem demasiado perto aos abusos do exército”, afirmou Hassan, pedindo a libertação “imediata e incondicional” dos jornalistas.  

Scott Chiang: “Seria inocente esperar um tribunal totalmente independente”

Esperar um sistema judicial independente no caso dos jornalistas da Reuters seria “inocente”, afirmou ao PONTO FINAL o activista Scott Chiang. “Esperar um sistema judicial inteiramente independente neste caso pode não ser uma expectativa muito realista. Seria inocente esperar um tribunal totalmente independente, especialmente quando estão em causa interesses considerados muito importantes para governar o país”, declarou o antigo presidente da Associação Novo Macau. “Este país ainda tem um longo caminho a percorrer até chegar ao tipo de democracia com que estamos familiarizados no Ocidente”, disse o pró-democrata.

Scott Chiang aponta que o jornalismo em todo o mundo tem estado em risco, incluindo em Macau, recordando que cinco meios de comunicação instruíram os seus jornalistas a realizarem uma cobertura positiva durante a passagem do tufão Hato. “Em Macau, a forma como o sistema funciona, em termos de controlo social, não é dizer directamente o que tens que fazer mas deixar-te perceber que tens que cooperar e é a isso que nós chamamos auto-censura”, disse o activista, acrescentando que “até agora tem resultado bem para eles”. “Mas agora eles podem insistir mais ao introduzir novos requerimentos para poderem instruir ou desencorajar acções que não queiram”.

Em relação à criminalização do rumor falso, prevista na proposta de lei de bases da protecção civil – medida que motivou já uma carta da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau ao secretário para a Segurança – Scott Chiang diz não ver a necessidade deste desenvolvimento. “Provavelmente, eles estão na linha da frente em relação a Hong Kong e, após termos este tipo de legislação, Hong Kong pode seguir a mesma linha. Mesmo em Macau, onde temos este tipo de controlo social, não vejo necessidade de uma ferramenta extra para eles cumprirem o que querem”, declarou.

Jorge Menezes: “O direito à liberdade de imprensa” está garantido

De acordo com o ordenamento jurídico de Macau, a posse de documentos confidenciais não levaria à acusação ou detenção de jornalistas, à semelhança do que sucedeu com os repórteres da Reuters, explicou ao PONTO FINAL o advogado Jorge Menezes. Em causa poderiam estar os crimes de desobediência ou violação de segredo, se existisse uma lei da Assembleia Legislativa que definisse que os documentos não poderiam ser publicados e se estes fossem, de facto, publicados. Isto porque, afirmou o causídico, o direito à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa estão garantidos como direitos fundamentais, tanto na Lei de Imprensa como na Lei Básica.

“O direito à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa estão garantidos como direitos fundamentais e quer a Lei de Imprensa quer a Lei Básica dizem que os direitos fundamentais só podem ser restringidos por uma lei. Portanto, tinha que haver uma lei a dizer que esta categoria de documentos é confidencial”, explicou Jorge Menezes. Por exemplo, no caso concreto dos processos-crime, o Código de Processo Penal determina que, na fase de inquérito, os documentos e informações são confidenciais. “Depois há outro artigo que diz que, se for divulgado, o jornalista comete crime. São duas leis: uma a dizer que é confidencial e outra a dizer que é crime”, acrescentou.

A publicação de documentos confidenciais, assim decretados pela Assembleia Legislativa, poderia constituir crime de desobediência, explica Menezes. De acordo com o Código Penal, “quem faltar à desobediência devida a ordem ou mandado legítimos, regularmente comunicados e emanados de autoridade ou funcionário competentes, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa de 120 dias”. Em causa poderia também estar o crime de violação de segredo que determina que “quem, sem consentimento, revelar segredo alheio de que tenha tomado conhecimento em razão do seu estado, ofício, emprego ou arte é punido com pena de prisão até um ano ou pena de multa até 240 dias”.

Catarina Vilanova | Ponto Final

China - África | Xi reúne-se com a imprensa após Cúpula de Beijing do FOCAC


Beijing, 5 set (Xinhua) -- O presidente da China, Xi Jinping, reuniu-se na terça-feira com a imprensa junto com os copresidentes africanos do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC, em inglês), depois do encerramento da Cúpula de Beijing 2018 do FOCAC.

Xi foi acompanhado pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o presidente do Senegal, Macky Sall, o anterior e o novo copresidentes africanos do FOCAC.

Xi fez o anúncio de que a Cúpula de Beijing 2018 do FOCAC realizou um bem-sucedido encerramento.

A cúpula publicou a Declaração de Beijing sobre a Construção de uma Comunidade de Futuro Compartilhado China-África mais Sólida, que cristalizou o consenso da China e África sobre importantes assuntos internacionais e regionais atuais, e enviou ao mundo um forte sinal de que as duas partes avançam de mãos dadas, disse Xi.

O Plano de Ação de Beijing do FOCAC (2019-2021) também foi adotado na cúpula para confirmar que a China e a África fortalecerão de forma abrangente a cooperação pragmática focando na implementação das oito principais iniciativas, acrescentou Xi.

Todo os membros do FOCAC concordaram em construir juntos uma comunidade de futuro compartilhado China-África caracterizada pelo compartimento de responsabilidades, a cooperação de benefício mútuo, o bem-estar para todos, a prosperidade cultural conjunta, a segurança comum e a harmonia entre o homem e a natureza, o que estabelecerá um modelo para a construção de uma comunidade do futuro compartilhado para a humanidade, disse Xi.

Todos os membros do FOCAC concordaram que as relações China-África embarcaram em um caminho distintivo de cooperação de ganho mútuo e que estão em sua melhor etapa da história, de acordo com o presidente chinês.

A China e os países africanos estão dispostos a aumentar as junções estratégicas e a coordenação de políticas, impulsionar o desenvolvimento conjunto do Cinturão e Rota, e vincular estreitamente a Iniciativa do Cinturão e Rota com a Agenda 2063 da União Africana, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU e as estratégias de desenvolvimento dos países africanos, assinalou Xi.

Todos os membros do FOCAC concordaram que as relações China-África demonstraram uma força coesiva, vitalidade e criatividade sem precedentes. A China continuará aderindo aos princípios de sinceridade, honestidade, afinidade e franqueza e persistirá na concepção correta da justiça e dos interesses, e impulsionará o desenvolvimento profundo, sólido, estável e duradouro da parceria estratégica integral de cooperação, disse Xi.

Todos os membros do FOCAC também concordaram que a cooperação China-África é parte da cooperação internacional com a África. Ao promover a cooperação com a África, todas as partes da comunidade internacional devem respeitar a soberania dos países africanos, escutar a voz da África, prestar importância a suas posições e cumprir os compromissos feitos ao continente, disse Xi.

O fórum foi estabelecido há 18 anos. A bem-sucedida celebração da Cúpula de Beijing levou a parceria estratégica integral de cooperação China-África a um novo ponto de partida histórico e iniciou uma nova expedição épica, disse Xi.

Liu Weibing |  Xinhua

MH370 | Avião da Malásia desaparecido caiu na selva do Cambodja?


Britânico afirma ter desvendado mistério que perdura há anos

Os restos do avião, desaparecido no dia 8 de março de 2014, da Malaysia Airlines com 227 passageiros a bordo e 12 tripulantes, estão na selva do Camboja, afirma o especialista em tecnologia Ian Wilson.

Ian Wilson, especialista britânico em tecnologia, acredita ter localizado no Google Maps os rastros do avião MH370 que desapareceu com 239 pessoas no dia 8 de março de 2014 durante um voo de Pequim a Kuala Lumpur. Segundo Wilson, os destroços da aeronave se encontram em uma zona de grande altitude na selva do Camboja.

Com Sputnik

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Sanções, sanções, sanções | O estertor final da hegemonia do dólar?


Peter Koenig [*]

Sanções para a esquerda e sanções para a direita. Financeiras principalmente, impostos, tarifas, vistos de entrada, proibições de viagens, confisco de activos no estrangeiro, proibições e limitações de importação e exportação, sanções e punições também para aqueles que não respeitam as sanções impostas por Trump, aliás pelos EUA, contra amigos de seus inimigos. O absurdo parece interminável e crescente, como se houvesse uma data fatal para o colapso do mundo. Parece ser um último esforço para derrubar o comércio internacional em favor de – o quê? – "Make America Great Again" ? Preparar-se para as eleições intercalares dos EUA? Reunir as pessoas atrás de uma ilusão? O quê então? 

Tudo parece arbitrário e destrutivo. Tudo obvia e totalmente ilegal por qualquer lei internacional ou, esqueça a lei, que de qualquer modo não é respeitada pelo império e seus vassalos, mas nem mesmo pelos padrões morais humanos. As sanções são destrutivas. Elas estão a interferir na soberania de outros países. São feitas para punir países, nações, que se recusam a submeter-se a uma ditadura mundial.

Parece que toda agente aceita esta nova guerra económica como o novo normal. Ninguém objecta. E as Nações Unidas, o corpo criado para manter a paz, para proteger o nosso mundo de outras guerras, para defender os direitos humanos, este mesmo corpo está silenciosa – por medo? Medo de ser "sancionada" ao esquecimento pelo império moribundo? Por que não pode a grande maioria dos países – muitas vezes é uma proporção de 191 contra 2 (Israel e EUA) – dominar os criminosos?

Imagine-se a Turquia, de súbito tarifas enormes sobre o alumínio (20%) e o aço (50%) impostas por Trump, além da interferência sobre a moeda do banco central que fez a Lira turca cair 40%, e isso “apenas” porque Erdogan não liberta o pastor Andrew Brunson, que enfrenta na Turquia uma sentença de 35 anos de prisão por "terror e espionagem". Um tribunal de Izmir acaba de recusar outro pedido de clemência dos EUA, convertendo no entanto a sua sentença de prisão em prisão domiciliária por motivos de saúde. Há a plena convicção que os supostos 23 anos de "trabalho missionário" do Sr. Brunson foram apenas uma cortina de fumo para espionagem.

O presidente Erdogan acaba de declarar que vai procurar novos amigos, incluindo novos parceiros comerciais no leste – Rússia, China, Irão, Ucrânia, até na inviável União Europeia, e que seu país planeia emitir certificados financeiros denominados em Yuan para diversificar a economia da Turquia, em primeiro lugar as reservas do país, gradualmente afastando-se da hegemonia do dólar.

Procurar novos amigos, também pode incluir novas alianças militares. Estará a Turquia a planear sair da NATO? Poderá a Turquia ser "autorizada" a sair da NATO dada a sua posição estratégica marítima e terrestre entre o leste e o oeste? A Turquia sabe que ter aliados militares que aplicam sanções por agir soberanamente em assuntos internos significa um desastre para o futuro. Por quê continuar então a oferecer seu país à NATO, cujo único objetivo é destruir o leste – o próprio leste, que não é apenas o futuro da Turquia, mas do mundo? A Turquia já está a aproximar-se da SCO (Organização de Cooperação de Xangai) e pode realmente aderir a ela num futuro previsível. Isto poderá ser o fim da aliança da Turquia com a NATO.

E se o Irão, Venezuela, Rússia, China – e muitos outros países que não se dispõem a curvar-se ao império – prendessem todos os espiões das embaixadas dos EUA ou camuflados nas instituições financeiras nacionais desses países, a actuarem como Quintas Colunas, minando políticas nacionais e económicas dos seus países de acolhimento? Cidades inteiras de novas prisões teriam que ser construídas para acomodar o exército de criminosos do império.

Imagine-se a Rússia – mais sanções foram impostas apenas pelo alegado e totalmente não comprovado (pelo contrário, refutado) envenenamento russo de quatro cidadãos do Reino Unido com o agente nervoso mortal, Novichok e por não admitir isso. Trata-se de uma farsa total, uma mentira flagrante, que se tornou tão ridícula que a maioria das pessoas que pensam, mesmo no Reino Unido, apenas riem disso. No entanto, Trump e seus pigmeus na Europa e em muitas partes do mundo sucumbem a essa mentira e por medo de serem sancionados, também sancionam a Rússia. O que se tornou o mundo?

O ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, ficaria orgulhoso por ter ensinado a importante lição aos mentirosos do universo: "Deixem-me controlar os media e vou transformar qualquer nação numa vara de porcos".Nisto é o que nos tornámos – uma vara de porcos.

Felizmente, a Rússia também já se afastou tanto da economia controlada pelo dólar que tais sanções não mais a afectam. Elas servem Trump e aos seus capangas como meras ferramentas de propaganda para exibicionismo: "ainda somos os maiores!"

Na Venezuela, alimentos importados, produtos farmacêuticos e outros bens estão sendo desviados nas fronteiras e em outros pontos de entrada, de modo que nunca chegarão às prateleiras dos supermercados – tornam-se mercadorias clandestinas na Colômbia, onde esses produtos são vendidos a taxas manipuladas de dólar de que tiram proveito cidadãos venezuelanos e colombianos.

Estes gangs de tipo mafioso são financiados pelo NED (National Endowment for Democracy) e outras “ONG” financiadas pelo Departamento de Estado, treinadas pelos serviços secretos dos Estados Unidos, dentro ou fora da Venezuela. Uma vez infiltrados na Venezuela – aberta ou secretamente – eles tendem a boicotar a economia local, espalhar a violência e tornarem-se parte da Quinta Coluna, principalmente sabotando o sistema financeiro.

A Venezuela que tem pessoas sofrendo, está lutando para sair deste dilema, tirando a sua economia do dólar, em parte através de uma criptomoeda recém-criada, o Petro, baseado nas enormes reservas de petróleo do país e também através de um novo Bolívar na esperança de colocar um freio às crescentes explosões de inflação. Esse cenário lembra muito o Chile em 1973, quando Henry Kissinger era secretário de Estado (1973-1977) e inspirou o golpe da CIA, fazendo “desaparecer” alimentos e outros bens dos mercados chilenos, assassinando o presidente legitimamente eleito Salvador Allende e levando ao poder Augusto Pinochet, um horrendo assassino e déspota. A ditadura militar provocou a morte e o desaparecimento de dezenas de milhares de pessoas e durou até 1990. Subjugar a Venezuela poderá contudo não ser tão fácil. Afinal, a Venezuela tem 19 anos de experiência revolucionária Bolivariana e um sólido sentido de resistência.

O Irão está a ser mergulhado num destino semelhante. Sem motivo algum, Trump renegou o chamado Acordo Nuclear, assinado em Viena em 14 de Julho de 2015 depois de quase dez anos de negociações. Agora de certeza impulsionado pelo ultra sionista Netanyahu novas sanções, as mais severas de sempre, estão a ser impostas ao Irão, dizimando também o valor de sua moeda local, o Rial.

O Irão, sob o Ayatollah, já embarcou num curso de “Economia de Resistência”, o que significa a desdolarização da sua economia e mover-se rumo à auto-suficiência alimentar e industrial, bem como aumentar o comércio com países do Leste, China, Rússia, SCO e outras nações amistosas e culturalmente alinhadas, como o Paquistão. No entanto, o Irão também tem uma forte Quinta Coluna, enraizada no sector financeiro, que não deixa de forçar e propagar o comércio com o inimigo, ou seja, o Ocidente, a União Europeia, cujo sistema monetário do Euro faz parte da hegemonia do dólar, apresentando portanto uma vulnerabilidade similar às sanções como as que o dólar produz.

A China – o grande prémio do Grande Jogo de Xadrez global – está também a ser "sancionada" com tarifas sem fim, por ter-se tornado a economia mais forte do mundo, superando de longe os EUA, quer em produção real quer medida pelo poder de compra das pessoas. A China também tem uma economia sólida e uma moeda baseada no ouro, o Yuan, que está a caminho de rapidamente ultrapassar o dólar americano como a moeda de reserva número um do mundo. A China retalia, é claro, com "sanções" idênticas, mas, em geral, o seu domínio dos mercados asiáticos e a crescente influência económica na Europa, África e América Latina é tal que a guerra tarifária de Trump pouco significa para a China.

Quanto à Coreia do Norte a muito falada cimeira Trump-Kim de meados de Junho em Singapura há muito tempo se tornou um pequeno ponto no passado. Os alegados acordos obtidos estão a ser violados pelos EUA, como era de esperar. Tudo sob o pretexto falso e puramente inventado de que a RPDC não aderiu ao seu compromisso de desarmamento; uma razão para impor novas sanções procurando estrangular a economia.

O mundo olha. É normal. Ninguém se atreve a questionar os auto-intitulados Donos do Mundo. A miséria continua a ser distribuída tanto para a esquerda como para a direita, aceite pelas massas ao redor do mundo, sujeitas a lavagem cerebral. Guerra é paz e paz é guerra. Literalmente. O Ocidente vive uma zona de conforto “pacífica”. Para quê perturbar isso? Se as pessoas morrem de fome ou por bombas isso acontece longe e permite-nos viver em paz. Para quê importar-se? Especialmente porque somos gotejados continuamente a dizerem-nos o que está certo.

Numa recente entrevista à PressTV, perguntaram: por que os EUA não aderem a nenhum dos tratados ou acordos celebrados internacional ou bilateralmente? Boa pergunta. Washington está a quebrar todas as regras, convenções, acordos e tratados, não está a respeitar nenhuma lei internacional ou mesmo padrão moral, simplesmente porque seguir tais padrões significaria renunciar à supremacia mundial. Estar em pé de igualdade não é do interesse de Washington ou de Telavive. Sim, esta relação simbiótica e doentia entre os EUA e o Israel sionista está a tornar-se progressivamente mais visível; a aliança da força militar bruta e o domínio financeiro pleno e traiçoeiro, juntos lutando pela hegemonia mundial, pelo domínio total. Esta tendência está a acelerar-se sob Trump e sob aqueles que lhe dão ordens, simplesmente porque "eles podem". Ninguém faz objecções. Isso tende a retratar uma imagem de poder inigualável, incutindo medo e esperando que incite à obediência.

Na realidade, o que está a acontecer é que Washington está a isolar-se, o mundo unipolar está a mover-se rumo a um mundo multipolar, que desconsidera e desrespeita cada vez mais os Estados Unidos, despreza a sua agressividade e belicismo – que mata e lança na miséria centenas de milhões de pessoas, a maioria delas crianças indefesas, mulheres e idosos, pela força militar directa ou por conflitos liderados por procuração. O Iémen é apenas um exemplo recente, provocando sofrimentos humanos infindos a pessoas que nunca fizeram mal aos vizinhos, muito menos aos americanos. Quem poderia ter algum respeito por tal nação, chamada Estados Unidos da América, pelas pessoas por trás destes monstros mentirosos?

Este comportamento do império agonizante está a levar aliados e amigos para o campo oposto, para o Leste, onde jaz o futuro, longe de uma Ordem Mundial globalizada, rumo a um mundo multipolar saudável e mais igualitário. Seria bom se os membros do nosso corpo mundial, as Nações Unidas, criada em nome da paz, finalmente reunissem coragem e se levantassem contra as duas nações destruidoras, pelo bem da humanidade, do globo e da Terra-Mãe.

20/Agosto/2018

[*] Economista e analista geopolítico.

O original encontra-se em www.informationclearinghouse.info/50077.htm

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/

A Casa Suja de Washington e o que mais vem aí de cafeína


A Casa Suja, em Washington, é novamente tema no Curto forte na cafeína. Cristina Peres é quem serve. Ela refere a Casa Branca… Oh senhora, qual branca!? Nem cinzenta. É negra e fétida, nauseabunda, empestada por um Trump, sua equipa, o sujo passado e presente dos EUA e o que mais nos lembrarmos acerca da sujidade e a trampa acumulada ao longo de séculos. Mas principalmente nestas oito ou nove décadas passadas tem sido contaminante pela negativa. Mais coisa menos coisa é merda viscosa.

Não vamos pôr mais na escrita aqui no PG. Deixamos a pena livre à autora da cafeína bem puxada do Curto que se segue.

Despedimo-nos. Recomendamos que hoje não façam festas aos animais. Nem aos quadrúpedes nem aos erguidos em duas patas. Ainda menos se usarem gravatas e tiverem aquele aspeto sabujo de políticos que não interessam ao país nem aos eleitores. Claro que cada um escolhe os “seus”… Pois. E então, depois, porque reclamam por aí? Sintam-se responsáveis por elegerem porcaria e optem melhorarem as escolhas, esforcem-se por melhorar o país e consequentemente as nossas/vossas vidas. Sejam felizes, porque se fizerem assim a felicidade é possível. Bom dia. (MM | PG)

“Estamos a viver na cidade dos malucos”

Cristina Peres | Expresso

A Casa Branca lançou uma série de desmentidos nas horas que se seguiram à publicação de excertos do novo livro do veterano Bob Woodward no Washington Post, um dos jornalistas que expôs o escândalo Watergate. “Fear” (Medo: Trump na Casa Branca) pinta um quadro negro da administração Trump baseando-se em centenas de horas de conversas com peças-chave da administração, revela o autor. O Presidente tweetou que as citações dos colaboradores seniores eram “inventadas” e chamou a Woodward um “operacional dem”.

Washington Post teve acesso a uma cópia do livro e reporta sobre a crise de nervos que é a presidência de Trump. O artigo contido neste link inclui o registo áudio de uma conversa de 11 minutos entre Woodward e Trump na qual o jornalista lamenta não ter conseguido falar com o PR para o livro e Trump lhe responde que ninguém lhe disse nada, “ninguém me diz nada”…

O jornalista de 75 anos escreve que o livro, além das conversas com os “participantes e testemunhas”, que foram conduzidas em “deep background”, ou seja, a informação podia ser usada mas não seria revelado quem a tinha fornecido, usou também notas de reuniões, diários pessoais e documentos oficiais do Governo.

Donald Trump é descrito como uma pessoa paralisada pela paranóia da investigação russa e a administração caracterizada como estando “à beira de um ataque de nervos” coincide com a imagem de caos e pandemónio dada pelo livro de Michael Wolff “Fire and Fury”. Porém, a credibilidade do perfil de Woodward e a marca do seu jornalismo podem vir a ser um golpe mais sério à "credibilidade" de Trump, escreve o Guardian.

De “mentiroso de merda” (John Dowd, ex-advogado de Trump) a “um idiota" que "perdeu o freio” (John Kelly, chefe de gabinete) a alguém “com uma leitura dos acontecimentos próxima da de um menino do quinto ou sexto ano” (James Mattis, secretário de Estado da Defesa), o livro ilustra como Trump é visto e como ele vê e ridiculariza os seus mais próximos colaboradores.

“O Amazon Washington Post endoideceu a atacar-me”, tweetouDonald Trump em julho passado numa série de ataques seguidos que denunciam a ira do Presidente perante a escala empresarial e fortuna pessoal de Jeff Bezos. A farpa ao jornal deve-se ao facto de Jeff B. ter comprado o Washington Post em 2013, mantendo-o contudo fora da órbita empresarial da Amazon. O grau de irritação do POTUS denuncia a sua indisponibilidade para a competição… Depois disto, adivinha-se que o ataque ao jornal não vá abrandar nos próximos tempos.

OUTRAS NOTÍCIAS

$1.000.000.000.000. A Amazon passou a ser a segunda empresa norte-americana a ter um valor de mercado equivalente a um bilião de dólares (um pouco menos em €). Aconteceu um mês depois de a Apple ter sido a primeira a alcançar um valor equivalente, o qual já pertenceu à ordem do inimaginável, como escreve o New York Times num texto que faz uma comparação quase embaraçosa: Jeff Bezos vale mais apartir de agora do que Bill Gates e Warren Buffett… somados. Se quiser sentir o arrepio aceda a esta página do The Guardian onde poderá a ver a contagem em tempo real do número de encomendas enviadas em todo o mundo durante os segundos em que olhar para a página. Como é que a Amazon se transformou no retalhista mais valioso do mundo? Em 24 de abril deste ano, este jornal britânico titulava assim, “Jeff Bezos vs. o mundo: porque é que todas as empresas do mundo temem a ‘morte por Amazon’”. A revista Forbes di-lo de outra maneira num curto texto ao lado do contador, também atualizado em tempo real, do valor de Jeff Bezos: o chefe da Amazon é a primeira pessoa com um valor líquido que ultrapassa os $150 mil milhões nas três décadas desde que a Forbes analisa os americanos mais ricos.

A Comissão Europeia tem feito caminho a tentar obrigar a Amazon, a Google e o Facebook a pagarem mais impostos depois de ter descoberto que, apesar dos astronómicos lucros, estas empresas pagam metade dos impostos das tradicionais.

E como hoje é dia de coisas em grande, lembra-se do tempo em que não sabia o que queria dizer “motor de busca”? Foi há mais de duas décadas, garante a passagem do 20º aniversário da Google. Chamou-se inicialmente BackRub para rapidamente se rebatizar Google, vindo de googol, o termo que designa o número 1 seguido de 100 zeros. Recorde aqui como tudo aconteceu.

A vida não vai de feição para Emmanuel Macron, que mal fez uma mini remodelação governamental depois da demissão do ministro do Ambiente, Nicolas Hulot, durante uma entrevista à rádio e eis que a ministra do Desporto, Laura Flessel, segue os seus passos e sai alegando motivos pessoais. A única linha contínua é a descida da popularidade do Presidente…

A Turquia tem poucas opções para não mergulhar numa crise financeira séria, argumenta este texto da agência Reuters. E lembra que o Presidente Erdogan, no poder há 15 anos seja como chefe de Governo ou chefe de Estado, tem poder absoluto interno, mas terá de vencer a oposição de Donald Trump para poder sossegar. Fadi Hakura analisa para a Chatham House como Ancara caminha a passos largos para uma crise económica severa.

Aufstehen. Levantar. Desde ontem que a Alemanha conta com mais uma força política. É de esquerda e está empenhada em ganhar o eleitorado alemão trabalhador que passou a sentir-se representado pela extrema-direita populista da Alternativa para a Alemanha (AfD). Não tem programa partidário e foi fundado por figuras de relevo do partido A Esquerda, Sahra Wagenknecht, a líder da bancada parlamentar, e o ex-social-democrata Oskar Lafontaine. Alinham com partidos europeus de esquerda exceto num “pormenor” que é hoje nuclear na Europa: são anti-imigração. A “crise da democracia” existe porque a prosperidade não é distribuída, defende Wagenknecht. Em poucas semanas, o movimento obteve mais de 100 mil seguidores e passou à ação política após os tumultos de Chemnitz, onde se voltou a ver a saudação a Hitler (consultar links mais abaixo).

A África do Sul entrou em recessão técnica, a primeira desde 2009. A produção agrícola anual caiu 29% devido à seca e ao granizo. O rand caiu ainda mais.

“São antigos mas é o que há”, disse o presidente da CPreferindo os quatro comboios a diesel que Portugal vai alugar à espanhola Renfe. Carlos Gomes Nogueira diz que propôs ao Governo português a compra de 22 comboios.

No Dia Mundial da Saúde Sexual veja o 2:59. E leia o trabalhoem que o Expresso entrevistou nove portugueses que quebraram o tabu sobre violência doméstica, machismo, direitos e saúde sexual.

A comunicação do Exército português vai estar pela primeira vez entregue a uma mulher: a major Elisabete Silva, da Arma de Cavalaria e licenciada em Ciências Militares em 2003, é desde ontem porta-voz.

A descoberta do tratamento genético da cegueira infantil valeu a sete investigadores do Reino Unido e dos Estados Unidos e maior prémio do mundo na área da visão, o Prémio Champalimaud de Visão 2018. “A cura através de uma terapia genética de uma doença hereditária conhecida por Amaurose Congénita de Leber, uma forma de cegueira infantil, acaba de ser distinguida com o Prémio António Champalimaud de Visão 2018, no valor de um milhão de euros”, escreve Virgílio Azevedo.

A investigação e o tratamento vão preencher a atividade de um futuro centro único a nível mundial para tratamento do cancro do pâncreas que vai existir no âmbito da Fundação Champalimaud graças a uma doação de €50 milhões.

Benfica. Crimes de corrupção, recebimento indevido de vantagem, favorecimento pessoal, violação de segredo “e etc” é informação revelada no site da PGDL. “O Ministério Público acaba de revelar que acusou José Augusto Silva e júlio Loureiro, oficiais de justiça; Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica e a própria SAD benfiquista no âmbito do processo e-toupeira”, como pode ler na Tribuna.

Hoje no Jornal da Noite da SIC passa a segunda parte da reportagem “Comandos 127”“A Viagem mais longa”, da SIC/Expresso, que acompanhou um grupo de jovens desde o primeiro dia em que entraram no Exército até fazerem parte de uma força especial e chegarem à missão na República Centro-Africana.

Manchetes do dia: “Juíza aceita abandono escolar de jovem cigana em nome da tradição”, Público; “Países europeus estão a estudar transportes gratuitos”, i; “MP quer Benfica fora das competições entre seis meses e três anos”, JN; “Mais de metade das baixas na Educação foram fraudulentas”. Negócios; “Mails ligam Vieira a corrupção”, CM

FRASES

“A normalização das notas e aProva Nacional de Acesso são dois marcos muito importantes para o ensino da Medicina e formação médica”, Fernando Araújo, secretário de Estado Adjunto e da Saúde ao JN

“O Estado está a auto financiar-se”, Luís Lagos, presidente da associação das vítimas de outubro ao i

“Permitir que uma rapariga de 15 anos não cumpra a escolaridade obrigatória é negar-lhe o acesso à vida plena, condenar o seu futuro profissional e cidadão”, Rosa Monteiro, secretária de Estado para a Igualdade e a Cidadania ao Público

“O Brasil é um país onde governar é criar desertos. Destrói-se a natureza a agora está-se destruindo a cultura”, Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo brasileiro ao Público

O QUE ANDO A LER

Ainda não está traduzido noutra língua, mas não é por isso que Strasse der Träume (Estrada dos Sonhos, Be.bra Verlag/Spiegel Online) será um menos útil “descodificador” destes tempos. Explico: os repórteres Raphael Thelen (texto) e Thomas Victor (fotos) lançaram-se a percorrer a “Route 66 europeia”em género grande reportagem, um roadtrip pela Alemanha de Leste. A B98, liga a Saxónia a Sassnitz, em Rüge, a cidade que é a porta mítica de acesso ao Mar Báltico. Aqui fica o link. Porque escrevo sabendo que a maioria dos leitores portugueses não vai ler o livro? Porque há Google translator e muitas fotos. Porque acho que sabemos muito pouco uns sobre os outros e o que estes dois repórteres viveram e contaram ajuda a perceber. A reportagem reflete causas e justificações que vários milhões de alemães poderiam alegar para sentirem que vivem num limbo entre o remedeio do que ficou desde a grande divisão pós-1945 e o investimento pós-unificação, que vale ainda hoje a cada contribuinte alemão um agravamento nos impostos. Há ressentimentos e há “dois lados” quase 30 anos depois da queda do Muro de Berlim. E tudo isto contribui para a estupefação de milhões de alemães perante o regresso à rua das saudações nazis. Foi o freelance Raphael Thelen (que já escreveu para o Expresso) a cobrir para o Spiegel Online os tumultos dos militantes de extrema-direita (aqui em inglês) que incendiaram a cidade do leste alemão de Chemnitz há pouco mais de uma semana. Para ler sobre Die Bösen Deutschen/The Ugly Germans tem aqui um texto de análise do Spiegel Online (em inglês) sobre o que se passou naquele domingo em Chemnitz.

Para melhor compreender as visões da Europa que ameaçam dar cabo da União Europeia fica aqui a análise de Hans Kundnani para o think tank Chatham House. As migrações estão no núcleo da contenda, claro.

E é tudo por hoje. Amanhã haverá mais café matinal. Acompanhe-nos em www.expresso.pt Tribuna e Blitz e faça uma pausa lá pelas 18h, com ou sem café, para ler o Expresso Diário.

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