domingo, 8 de abril de 2012

“Quando o parlamento é fonte de corrupção como é que pode combater a corrupção?”



SIC

Vice-presidente da organização Transparência e Integridade acusa o Parlamento de ser fonte de corrupção

O vice-presidente da Transparência e Integridade, a organização não-governamental de luta contra a corrupção, acusa o Parlamento de ser a origem de vários casos. Em declarações esta manhã à SIC Noticias, Paulo Morais disse que desta forma é difícil o combate a este crime e deu exemplos concretos.

Opinião Página Global

Opinião? Mas que opinião podemos ter depois de ouvir este senhor, sem papas na língua, a dizer verdades? A opinião é que a Assembleia da República é um ninho de malfeitores, que os políticos eminentes são uns terriveis assalariados dos crimes que têm vindo a lesar a Pátria. A opinião formada a partir destas evidências só pode ser a que conduz à rejeição de que Portugal continue a ser vítima deste exército de bandidos, de corruptos, de gente eleita de boa fé pelos portugueses e que mais não fazem senão vigarizar, roubar. Uns nojentos, como já sabiamos, mas não tanto. E a Justiça o que faz? Justiça? Mas essa não está também no mesmo comboio? (Redação PG - AV) 

Portugal: Marcelo acusa Seguro de se vitimizar e insiste em golpe nos estatutos




Luciano Alvarez, Isabel Gorjão Santos - Público

Antigo presidente do PSD compara atitude de Seguro à de José Sócrates

Marcelo Rebelo de Sousa insistiu neste domingo que António José Seguro deu um golpe no PS ao fazer uma alteração estatutária que não estava autorizada pelo Congresso. E acusou o líder do PS de se estar a “vitimizar” para unir o partido.

No seu habitual comentário na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa retirou a palavra “golpaça”, usada na semana passada, “por não vir no dicionário” e trocou-a por “golpe” ou “golpada”. O antigo presidente do PSD e conselheiro de Estado de Cavaco Silva criticou ainda Seguro por responder a um comentador quando só deve responder a um primeiro-ministro e colou a atitude do actual líder do PS à do seu antecessor, José Sócrates, que segundo Marcelo usava frequentemente a estratégia da vitimização.

O líder socialista tinha acusado Marcelo Rebelo de Sousa de um acto “vil e miserável”, ao que o social-democrata respondeu neste domingo ao dizer que “vil e miserável é a situação criada por Seguro ao ter feito uma alteração estatutária sem autorização do Congresso”.

Sobre essa mudança, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que o Congresso do Partido Socialista não conferiu ao seu secretário-geral legitimidade para avançar com a revisão estatutária, por isso considerou-a “uma ilegalidade”.

Noutros tempos, adiantou Marcelo, o recurso a palavras como vil e miserável “seria fortíssimo, até porque este era um método usado por José Sócrates”. O antigo presidente do PSD considerou que foi apenas “mensageiro” e tinha repetido há uma semana o que membros do Partido Socialista já tinham dito sobre a alteração estatutária. E adiantou que “num momento em que está cercado pelos socráticos, [António José Seguro] arranjou maneira de aparecer e comentar um agressor externo para fomentar a unidade”.

Marcelo Rebelo de Sousa considerou que Seguro tem “meia razão” no que se refere à apresentação das listas de deputados para o partido, depois de, na semana passada, ter referido que a alteração estatutária faria com que a escolha de deputados passasse a ser feita por listas fechadas. Essas listas serão a abertas mas, sublinhou Marcelo, o líder do PS tinha proposto que fossem fechadas. “O problema que se coloca é que Seguro teve de recuar”.

Marcelo Rebelo de Sousa reiterou que houve “um problema de transparência” na forma como os estatutos foram revistos na Comissão Nacional do PS e sublinhou que, num artigo dos estatutos socialistas, o 117, é dito que estes só podem ser alterados por deliberação do Congresso Nacional ou da comissão nacional se o congresso lhe atribuir delegação de poderes, devendo isso estar inscrito na ordem de trabalhos do Congresso, o que não aconteceu, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O antigo presidente do PSD disse ainda não ter ficado esclarecido se o próximo congresso do PS será antes ou depois das autárquicas, o que, adiantou, “fará toda a diferença”. Dessa forma, disse, irá saber-se “se António Costa tem oportunidade de ser eleito ou não”.

Na semana passada Marcelo Rebelo de Sousa tinha começado por dizer que Seguro, com esta revisão dos estatutos – aprovada com quase 90% dos votos da Comissão Nacional –, “fechou os caminhos” a António Costa, quanto à possibilidade de o presidente da autarquia lisboeta avançar para a liderança do partido, porque a mudança do mandato do secretário-geral do PS de dois para quatro anos impediria Costa de avançar com uma eventual candidatura já em 2013, após a realização das eleições autárquicas.

Seguro, que acusou Marcelo Rebelo de Sousa de “má fé”, respondeu na segunda-feira a estas acusações ao dizer que, ao contrário do que afirmou o comentador, não está previsto nenhum acto eleitoral no PS para o início de 2013. Na altura defendeu ainda a legitimidade da alteração estatutária ao dizer que o Congresso mandatou a Comissão Política para a fazer. “Não só tinha legitimidade, como [a Comissão Política] era obrigada a fazê-lo”, afirmou. “Não foi uma golpaça nem um truque de secretaria”.

No seu comentário deste domingo, Marcelo Rebelo de Sousa responsabilizou também o primeiro-ministro por uma semana que considerou “um verdadeiro desastre” para o Governo devido às contradições entre vários membros do Executivo sobre a duração dos cortes dos subsídios de férias e Natal. Disse Marcelo que, com estas atitudes, “a situação está pior do que pensávamos” e que o Governo “vai gerindo o dia-a-dia”. E adiantou: “A culpa é do primeiro-ministro”.

DE POL POT A PASSOS COELHO



Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O governo português resolveu, no maior e criminoso secretismo, suspender as reformas antecipadas. Do mal o menos. Um dia destes suspende mesmo os próprios portugueses.

Como são donos do reino, não foi preciso ouvir as figuras ou entidades decorativas que só existem para troika ver. Parceiros sociais? Sindicatos? Parlamento? Nada disso conta, como ficou provado.

Passos Coelho, com a devida cobertura de Cavaco Silva, traz na testa a lapidar máxima da democracia portugueses: É assim que eu quero, é assim que vai ser feito.

Aliás, de acordo com o diploma em causa – parido por todos aqueles que têm pelo menos três refeições por dia – o mesmo foi referendado. Presumo que o foi entre os invertebrados que se babam quando o querido líder surge, sempre à volta da gamela do Conselho de Ministros.

Há quem diga que, com esta medida engendrada com as mesmas regras de secretismo que caracterizavam o regime de Salazar e cuja inviolabilidade era garantida pela PIDE/DGS, ficarão milhares de pessoas com as expectativas frustradas.

Registe-se, contudo, que a estratégia do Governo é mais do que essa. Passos Coelho espera, deseja e reza para que muitos desses não cheguem sequer a 2014. Ele acredita que muitos vão dar um tiro na cabeça, outros vão ter um ataque cardíaco – se possível fulminante, para não gerar gastos nos hospitais -, e muitos vão emigrar para parte incerta, se possível sem bilhete de regresso.

A Oposição diz que vai "chamar de imediato o ministro Pedro Mota Soares ao Parlamento para dar explicações" e, paralelamente, "pedir a apreciação parlamentar do decreto-lei que o Governo agora fez publicar".

Não adianta. O rapaz está lá para ser um belo exemplar de sipaio da era moderna, para cumprir as ordens de quem manda, no caso Passos Coelho e Miguel Relvas. Mota Soares limita-se, tal como o seu chefe de posto partidário (Paulo Portas), a dar a sua assinatura, em alguns casos se calhar é apenas a impressão digital, a tudo o que é parido nas latrinas do esclavagismo deste governo.

Também é verdade que a Oposição não… nem sai de cima. São atitudes para enganar o povo, nada mais do que efémeras atitudes de quem (como o governo) não vive para servir mas apenas para se servir.

Fica bem à Oposição, sobretudo depois de bem regadas refeições, arrotarem postas de pescada em favor dos mais desprotegidos. Calculam, aliás, que com esses arrotos conseguem alimentar os 1.200 mil desempregados, os 20 por cento de miseráveis e os outros 20 por cento que acreditam que o facto de não verem comida nos pratos se deve a um problema oftalmológico.

Embora numa versão mais europeia (seja lá o que isso for), a estratégia de Passos Coelho inspira-se na dos Khmer Vermelhos de Pol Pot. É mais sofisticada, mas a finalidade é a mesma: instaurar um regime esclavagista.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: COMER FARELO OU PUXAR O GATILHO?

PORTUGUESES DEIXAM O ALGARVE E OS QUE PODEM VÃO PARA CABO VERDE



Paulo Neves – Rádio Renascença

Austeridade mudou os hábitos das férias da Páscoa e foram os mercados internacionais que vieram salvar o turismo

Com a crise os portugueses estão a viajar menos, mesmo dentro de Portugal. Nesta Páscoa, quem saiu foi mesmo para fora de portas.

No Algarve, a Páscoa superou as expectativas, mas não pela procura interna. “As ocupações estão acima do que estava inicialmente previsto, atendendo à situação económica que o país atravessa e às medidas de austeridade. Por um lado, assiste-se a uma descida por parte do mercado interno e espanhol e, por outro lado, uma subida do nosso principal mercado fornecedor, que é o Reino Unido, o que, de alguma forma ajuda a compensar a descida que se verifica no mercado interno e espanhol”, afirma à Renascença o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, Elidérico Viegas.

O mesmo sentem os responsáveis pelo turismo na Madeira: os portugueses foram para outro lado e deram lugar aos estrangeiros.

“Esta época da Páscoa ficou abaixo dos anos anteriores. As ocupações são satisfatórias, mas aquém daquilo que é normal numa época como esta. O mercado que teve um resultado menos bom foi o nacional, que diminuiu significativamente as reservas para a Madeira nesta época do ano. E foi compensado pelos mercados internacionais, que cresceram”, indica João Welch, da Associação das Agências de Viagens.

Ao que tudo indica, os portugueses preferiram sair para fora do país. O destino mais procurado foi Cabo Verde, para onde os voos “charter” esgotaram.

“Foi um destino que se vendeu muitíssimo bem, teve bastante procura”, refere Nuno Anjos, do operador Soltrópico, adiantando que os Açores também tiveram “um aumento da procura” esta Páscoa.

A crise fez-se, assim, sentir nos principais destinos turísticos portugueses, mas os mercados internacionais vieram compensar um pouco a perda.

Guiné-Bissau: Cinco candidatos lamentam que STJ tenha indeferido pedido de nulidade



FP - Lusa

Bissau, 08 abr (Lusa) - Os cinco candidatos que contestaram os resultados das eleições presidenciais da Guiné-Bissau lamentaram hoje "profundamente" que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) tenha indeferido o pedido de nulidade do escrutínio, e reafirmam a não participação na segunda volta.

No sábado, o STJ da Guiné-Bissau confirmou os resultados das eleições presidenciais de dia 18 de março e negou provimento às queixas dos cinco candidatos, que consideram que as eleições foram fraudulentas.

As queixas foram apresentadas pelos candidatos Serifo Nhamadjo, Kumba Ialá, Henrique Rosa, Afonso Té e Serifo Baldé, que não reconhecem os resultados que deram a vitória a Carlos Gomes Júnior. Kumba Ialá, que ficou em segundo lugar, recusa-se a ir à segunda volta, entretanto marcada para dia 22.

Os cinco requereram a anulação das eleições, a declaração de inconstitucionalidade da candidatura de Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro, e a declaração de ilegalidade do uso pelo PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder) da bandeira nacional do país. Tudo foi negado pelo STJ.

Hoje, em comunicado conjunto, os cinco reiteraram "legítima e serenamente a posição anteriormente assumida, não só de contestar a totalidade do processo eleitoral como ainda de não participar na segunda volta e de solicitar a anulação das eleições, permitindo um recenseamento de raiz a fim de se fazer uma verdadeira justiça eleitoral".

Na opinião dos cinco, o STJ "perdeu a oportunidade de faze jus à história ao não saber de novo pautar-se pelo equilíbrio e pelo caminho da dignificação moral e profissional".

"Não recuaremos, a bem da justiça e da verdade eleitoral", dizem os cinco candidatos no comunicado.

Dilma busca parceria estratégica com EUA usando tom mais brando que Lula




Em sua primeira visita aos Estados Unidos como presidente, Dilma Rousseff vai com agenda menos política. Perfil mais técnico e menos contestador da líder indica que Brasil quer explorar oportunidades de lucro.

Nem reforma do Conselho de Segurança tampouco crítica aos subsídios agrícolas. A passagem de Dilma Rousseff pelos Estados Unidos deve seguir à risca a definição de "visita de cortesia" e deixar os assuntos polêmicos de fora. Ela desembarca em Washington a 9 de abril, pela primeira vez como presidente.

Na agenda oficial, temas como educação, tecnologia e segurança energética irão nortear as conversas entre Dilma e Obama, informou o Itamaraty. Acordos de peso, no entanto, devem ficar para a próxima oportunidade – Barack Obama ainda corre o risco de não ser reeleito em novembro, e qualquer contrato firmado agora teria que ser revisto numa presidência posterior.

Com perfil mais técnico, voltando-se para a exploração de oportunidades comerciais – e menos de relações de simpatia e antipatia, como na era Lula –, a administração de Dilma tem objetivos claros. "O país quer que, a médio prazo, o governo dos Estados Unidos lhe reconheça um status de 'parceiro estratégico' que, entre os emergentes, só a China e Índia têm", pontua Rafael Duarte Villa, especialista da Universidade de São Paulo, em conversa com a DW Brasil.

A antiga dependência

O Brasil está mais rico, menos dependente do mercado norte-americano, não precisa mais do suporte financeiro dos Estados Unidos ou do Fundo Monetário Internacional. Mas um cenário permaneceu praticamente inalterado: o país ainda não consegue impulsionar sozinho o seu desenvolvimento tecnológico.

"No passado, foi por meio de um amplo programa de cooperação entre MIT, Cornell University e a Força Aérea Brasileira que foram criadas as bases da indústria aeronáutica no Brasil", lembra Eiiti Sato, da Universidade de Brasília. Hoje, afirma o especialista, o país deve buscar a cooperação com os norte-americanos em setores como a biotecnologia.

Mais cedo, ou mais tarde, um ponto sensível – mas "essencial" – também deverá ser abordado nessa parceria, pontua Marcus Vinícius de Freitas, professor de direito e relações internacionais da Fundação Álvares Armando Penteado. "A cooperação militar para a proteção de recursos naturais. Particularmente na questão marítima, onde o Brasil terá grande exploração de petróleo." Segundo Freitas, as Forças Armadas estão defasadas e precisam melhorar a aquisição de equipamento.

O que deveria estar em jogo

Os Estados Unidos não são mais o principal parceiro comercial do Brasil – depois de 80 anos de liderança, a China desbancou os norte-americanos em 2009. Mas o vizinho de continente ainda é um importante consumidor de produtos manufaturados brasileiros e pode usar o país como fonte para matar sua sede de petróleo.

"O Brasil quer se transformar num fornecedor confiável de petróleo para os Estados Unidos, que enfrentam problemas clássicos com seus fornecedores – como Arábia Saudita e Venezuela", ressaltou Freitas. Há ainda o interesse pelo etanol brasileiro, que deixou de sofrer a taxação extra cobrada pelos norte-americanos desde janeiro. Nessa área, no entanto, o Brasil fica devendo, já que enfrenta dificuldades para atender a demanda interna.

As negociações com Washington também são importantes para aperfeiçoar um setor estratégico para o desejado futuro próspero brasileiro: a educação. Os Estados Unidos ainda detêm as melhores universidades do mundo, e o Brasil enfrenta graves problemas de qualificação de mão de obra. É por isso que a viagem oficial de Dilma Rousseff inclui visita a Harvard e encontros com acadêmicos.

Uma postura diferente

A presidente brasileira chega aos Estados Unidos com uma alta de popularidade em casa. Segundo a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ao Ibope, a taxa de aprovação subiu de 72% para 77%.

A postura de Dilma também deve aumentar as chances de uma agenda mais cooperativa. "A esperança é que esse diálogo esteja entrando numa nova fase onde, em ambos os lados, os ruídos diminuam e haja melhor entendimento das expectativas que cada um alimenta em relação ao outro", comenta Eiiti Sato.

Na visão de Rafael Duarte Villa, isso é o que também os Estados Unidos aguardam. "Bilateralmente, eles esperam, sim, um tratamento mais brando, de menos contestação, e de maior alinhamento que aquele que operou durante os anos dos governos Lula."

Autora: Nádia Pontes - Revisão: Carlos Albuquerque

Brasil: O CAVALO GREGO QUASE TROTOU POR AQUI




Gilson Caroni Filho, Rio de Janeiro – Opera Mundi

O que ocorre na Grécia é produto de uma ação planejada há mais de duas décadas

O que está acontecendo na Grécia, país que perdeu parte significativa de sua soberania, tornando-se um laboratório para experimentos do capital financeiro, não pode ser atribuído a um raio num dia de céu azul ou a uma saída de emergência para salvar o capital dos credores, mesmo que o preço seja levar o país à falência. É produto de uma ação planejada há mais de duas décadas.

A presença permanente de uma equipe da troika (Banco Central Europeu, União Européia e FMI), monitorando o fluxo de empréstimos, a criação de uma conta vinculada destinada exclusivamente ao pagamento do serviço da dívida e aceitação que tribunais de Luxemburgo julguem dissídios, não cabendo ao governo grego qualquer tipo de recurso, são evidências de uma estratégia amadurecida ao longo do tempo. Trata-se de remover os entraves colocados pelo Estado-Nação e pela democracia à dinâmica capitalista que requer, em última instância, salários baixos e elevadas taxas de poupança. Pela capacidade do capital de evitar a tributação e condições empregatícias onerosas, através da livre movimentação para outros mercados, o sonho social-democrata se desfaz como uma carta antiga de Bernstein.

Mas voltemos no tempo para irmos aos fatos.

Na década de 1990,o AMI (Acordo Multilateral de Investimento) era negociado na surdina, entre os países desenvolvidos da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), por iniciativa dos Estados Unidos e da União Européia, com cinco países observadores, entre eles o Brasil, então governado pelo consórcio demotucano.

O que vinha a ser esse documento pôde ser resumido numa frase de Renato Ruggiero, à época diretor-geral da OCDE: "Com este documento estamos escrevendo a Constituição de uma economia global Unificada". Assim, ficamos sabendo por que até 1997 as negociações da AMI eram secretas. Ou seja, o acordo não era conhecido nem pelos parlamentares dos países envolvidos. O sigilo era explicável se conhecermos algumas das condições contidas no documento.

O AMI era uma espécie de carta magna das corporações internacionais concebidas com o objetivo de vigência mundial, para respaldar suas atividades, por cima das instituições e constituições onde atuavam. Uma antecipação do cavalo de Tróia entregue à Grécia recentemente. Criava uma nação corporativa, virtual, acima das nações convencionais, movida por um único e superior motivo: o lucro do capital internacional.

Nos seus termos conhecidos, os investidores poderiam ingressar em qualquer área, setor ou atividade sem qualquer tipo de restrição, podendo contestar ações políticas ou governamentais, desde que entendessem que qualquer uma delas viesse a prejudicar seus lucros. Muito ao contrário, o governo deveria assegurar os investimentos externos e garanti-los contra tudo que pudesse afetar sua rentabilidade.

Os governos nacionais deixavam assim de ser guardiões de seus cidadãos e passavam a representar uma espécie de guarda pretoriana do capital externo. E, se não exercesse bem essa função, cada governo passava a ser responsabilizado para cobrir qualquer intervenção do Estado suscetível de reduzir a capacidade das corporações de obterem um lucro maior. E, vejam a terrível coincidência, quem escolheria o foro para tais litígios seria o grande capital, ficando o Estado sem qualquer status jurídico-político, sem poder negar o tribunal escolhido, nem submeter os litígios à arbitragem internacional.

Nesses temos, a nossa soberania (lembremos que eram os tempos de FHC), inclusive política, estaria num dos livros-caixa dos grandes conglomerados ou disquetes de organismos multilaterais de crédito. Estaria eliminado todo e qualquer sentido de autodeterminação e independência que ainda pudéssemos ter.

O aparente recuo foi meramente tático. O que vemos na Grécia é a implantação de um fundamentalismo de mercado incompatível com o sistema democrático. Repletos de volumosas estatísticas e modelos matemáticos arcanos que fornecem a ideologia para o estabelecimento de governos autocráticos, capazes de impor sua vontade a um povo com seus direitos fundamentais subtraídos.

Se tais fatos e manobras chegam a espantar pelo tamanho da queda imposto a países com tradição democrática, imaginemos o que poderia ter acontecido ao Brasil se o resultado das urnas tivesse sido outro em 2002, 2006 e 2010. O capital nos ensina que "presente de grego" não tem nacionalidade específica. E, principalmente, que "em cavalo dado não se olha os dentes". Principalmente se estivermos diante de um pangaré troiano.

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

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Suíça: O SUICÍDIO POR ARMAS DE FOGO




Correio do Brasil, com Swissinfo - de Genebra

Em 1815, a Suíça brigou pela última vez em um conflito internacional, mas essa nação, famosa desde então por sua neutralidade, possui hoje um dos maiores índices do continente europeu de posse de armas de fogo e também de suicídios por esta via. Contrariamente aos velhos mitos de pacifismo, a Suíça ostenta um exército profissional e um sistema de milícia, o qual estipula que os soldados devem manter em casa seus equipamentos pessoais.

Por isso, não é de se estranhar que em 2007, 37,5% dos domicílios do país tivessem armas de fogo, pois o acesso a estas na Suíça é superior à média continental. Nesse mesmo ano, o Ministério de Defesa, Proteção da População e Esportes estimava que os lares suíços guardavam 2,2 milhões de armas de fogo e, delas, 535 mil pertenciam ao exército.

Não obstante, outro estudo realizado pelo Instituto de Investigação de Genebra, considerava que tal cifra atingia um total de até 3,4 milhões desses dispositivos em moradias. Atualmente, o país possui ao redor de 2,5 milhões de armas de fogo em mãos privadas, o que representa a maior taxa per capita na Europa, e a quarta mais alta do mundo.

Mas o armamento circulante também acarreta consequências em um indicador sumamente negativo: o suicídio.

Na Suíça, mais de 1,3 mil pessoas se suicidam a cada ano, enquanto que mais de 300 falecem em incidentes relacionados com armas de fogo, o que, como demonstram diversas estatísticas, não é algo novo. De 1996 a 2005 foram levados a cabo 3.410 suicídios no país, enquanto que em 2006, a Suíça se situou em segundo lugar neste índice, só superada pelos Estados Unidos, que encabeçam a lista mundial com quase 57% das fatalidades.

Hoje em dia, as regiões com maiores taxas de suicídio são Uri, Obwalden, Nidwalden e Schwyz, que ostentam ao mesmo tempo o mais alto índice de posse de armas de fogo, revela a coordenadora da organização contra o suicídio Stop Suicide, Anne-Marie Trabichet.

Para Trabichet, a solução ao problema começa por fazer mudanças na vigente legislação e para isso se apoia nos casos do Canadá e da Áustria. Na década de 1980, o Canadá modificou suas leis e a posse de armas caiu de 31 a 19%. Em consequência, o número de mortes por suicídio decaiu em seu conjunto, de 32 a 19%.

Igualmente em 1997, a vizinha Áustria alterou seu código legal para restringir o acesso às armas de fogo. Desse modo, entre 1998 e 2005, o país viu uma redução anual de cinco por cento nos casos de suicídio.

Cada ano na Suíça, morrem quatro vezes mais pessoas por suicídio que por acidentes no trânsito.

No entanto, o tema é um grande tabu, reconheceu Trabichet, ao explicar que a maioria das pessoas não são conscientes da magnitude do problema.

– A disponibilidade é determinante para a escolha do método. O fácil acesso aos meios letais eleva a probabilidade de que alguém os utilize, e na Suíça são facilmente acessíveis. Muitos suicídios são de natureza passageira, impulsiva. Isso quer dizer que a decisão de levá-los a cabo é tomada em um brevíssimo lapso de tempo – disse o sociólogo da Clínica Universitária de Psiquiatria de Zurich, Vladeta Ajdacic-Gross, ao portal swissinfo.

Por isso, explicou o especialista, a acessibilidade ao método desempenha nesses momentos um papel crucial: “se alguém tem que se esforçar para conseguir o instrumento mortal, já é em si um grande fator de prevenção”, agregou.

Em sua opinião, os homens são mais propensos a tirar a própria vida com uma arma de fogo: em 2010 representaram 95% das fatalidades por esta via, enquanto que um terço do total de homens suicidas optaram por esse caminho.

Isso se deve a que os homens sabem utilizar melhor as armas de fogo. Já as mulheres são menos hábeis no manejo das armas e por isso quase nunca as usam para se suicidar, concluiu.

O mercado informal torna-se também um problema: em 1999, uma lei federal estabeleceu que as vendas de armas entre os indivíduos não tinham que ser registradas.

Em 2008, o Conselho Federal modificou sua decisão, mas uma grande quantidade desses artefatos se perderam no caminho.

Durante uma recente entrevista com La Tribune de Geneve, o chefe do Serviço de Armas da polícia de Genebra, Bernard Bersier, disse que durante esses nove anos, as autoridades perderam o rastro de mais de 20 mil armas. Atualmente, a venda anônima está proibida, mas é quase impossível controlar todas as transações. As forças policiais só agem quando alguém denuncia um abuso ou suspeita.

Não obstante, tanto a polícia regional, como as autoridades judiciais e o exército criaram grupos de trabalho para estabelecer formas de intercâmbio de informação sobre as investigações penais relacionadas com os soldados e sua equipe.

Mas tais medidas respondem também a outro problema: o excedente de armas provenientes do Exército. Hoje em dia, dos 2,5 milhões em circulação, pelo menos 1,5 milhões estão relacionadas com as forças armadas, já que os suíços guardam em casa em tempos de paz seus armamentos para casos de guerra.

De acordo com o psicólogo Philip Jaffé, os suíços têm uma ideia romântica de defender sua cultura e independência, como parte de uma mentalidade onde cada cidadão é um soldado e na qual as armas de fogo jogam um papel importante. Isso em parte explica a derrota em 2011 de uma iniciativa destinada a criar um registro nacional de armas, que pedia também a proibição daquelas consideradas mais perigosas e exigia que os militares guardassem seu equipamento militar no quartel.

No entanto, persiste a reticência cidadã: Cada morte é uma a mais, e toda arma que circula por aí, seja controlada ou não, é um perigo potencial; diz o secretário político do Grupo por uma Suíça sem Armas, Christophe Barbey.

Não há nenhuma necessidade estratégica de que mais soldados mantenham suas armas em casa, diz Barbey.

– Esses tempos passaram – acrescenta.

Quantas vítimas mais precisaremos – pergunta-se o ativista – antes de mudar as coisas?

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AGENTES DA DITADURA BRASILEIRA PODEM VIRAR RÉUS NA ITÁLIA




Darío Pignotii - Especial para Carta Maior

Desde 1998, o procurador Giancarlo Capaldo trabalha no processo contra ditadores e militares sulamericanos envolvidos no Plano Condor. Capaldo concluiu inquérito sobre o desaparecimento dos ítalo-argentinos Horacio Domingo Campliglia Pedamonti e Lorenzo Ismael Viñas Gigli, sequestrados no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, respectivamente, e aguarda decisão do juiz para a abertura de processo contra ex-agentes da ditadura brasileira. A reportagem é de Darío Pignotti.

Roma - “A Lei de Anistia se aplica só na jurisdição do Brasil. A Itália não sancionou nenhuma lei que possa beneficiar os responsáveis pelos desaparecimentos de cidadãos italianos sequestrados no Brasil, vítimas do Plano Condor. Na Itália não estamos obrigados a perdoar os culpados”.

Categórico, o procurador Giancarlo Capaldo afirma, durante uma entrevista concedida em seu escritório em Roma, que “já fechamos a fase do inquérito sobre o Plano Condor e agora espero que o juiz considere que aportamos elementos suficientes para abrir um processo, talvez em abril, pode ser depois do dia 20 de abril, contra ex-militares e agentes dos serviços de inteligência brasileiros acusados de participar dos desaparecimentos dos ítalo-argentinos Horacio Domingo Campliglia Pedamonti e Lorenzo Ismael Viñas Gigli, sequestrados no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, respectivamente.

“São dois casos onde a participação brasileira nos parece clara. Campiglia foi capturado quando chegou ao aeroporto do Rio, no dia 12 de março de 1980, junto com a argentina Mônica Pinus de Binstock, também desaparecida. Não é possível que isso possa ter acontecido sem a cumplicidade de autoridades brasileiras”.

Ao continuar com o processo sobre os crimes cometidos durante a ditadura brasileira, Capaldo parte do princípio que os crimes contra a humanidade são imprescritíveis e a anistia de João Baptista Figueiredo (1979-1985) é uma anomalia jurídica, seguindo assim um raciocínio similar ao da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Treze brasileiros, entre os quais está Figueiredo e outros alto oficiais já falecidos, integram a lista de 146 chefes militares e agentes de inteligência sulamericanos cuja detenção foi requerida pela Procuradoria de Roma.
Nem todos os repressores morreram: o coronel Carlos Alberto Ponzi, chefe do Serviço Nacional de Informações no Rio Grande do Sul em 26 de junho de 1980, quando ocorreu o sequestro de Viñas, está vivo e parece saudável. Ou, pelo menos, o suficiente para criticar os jovens que realizaram um protesto na frente de sua residência há duas semanas em Porto Alegre.

O prosseguimento do processo Condor na Itália terá uma “repercussão muito grande no Brasil, será um impacto muito maior que em outros países sulamericanos”, porque se algum dos acusados for considerado culpado, será o “primeiro militar brasileiro condenado”, assinala a ex-presa política Amelinha Teles. Espero que a Itália dê uma lição a nossos juízes. O Brasil segue sendo o campeão da impunidade na América do Sul, somos um caso raro em nível internacional”, reforça Teles.

Capaldo disse em várias entrevistas e repete durante a conversa que teve com a Carta Maior, que sua intenção não é violar a soberania de nenhum país, mas sim aplicar o princípio, universalmente aceito, da extraterritorialidade, segundo o qual qualquer magistrado pode declarar-se competente para atuar contra acusados de graves violações dos direitos humanos. “Como fez o juiz espanhol Baltazar Garzón” em 1998 quando ordenou a prisão do chileno Augusto Pinochet, durante uma visita privada a Londres.

A queda de Garzón “não foi uma boa notícia” para os poucos magistrados comprometidos com o esclarecimentos dos crimes de Estado, que “podem ver” nessa condenação uma advertência, assinala Capaldo, que reconhece que nestes últimos anos de “trabalho duro” algumas vezes se sentiu só e sem “respaldo”. “Não foi simples levar adiante esse trabalho que iniciamos em 1998 sobre os brasileiros e outros militares comprometidos com o Plano Condor. Se o juiz decidir receber nossas provas entraremos em uma nova fase do processo, o que será um avanço”.

“Não temos contado com a colaboração das autoridades dos países sulamericanos em geral. Quem nos apoiou foram os familiares e as organizações de vítimas. Temos tido muito pouca colaboração da Justiça e da polícia do Brasil. Precisamos de mais documentos”.

Capalda mede as palavras e se emprega alguma de modo inapropriado do ponto de vista jurídico logo a corrige. Ele se expressa pausadamente, é gentil sem deixar de manter distância em relação ao repórter. Está interessado no Brasil e faz algumas perguntas sobre a presidenta Dilma, de quem conhece muito pouco. Quando se fala da Comissão da Verdade, demonstra bastante interesse no assunto e até faz algumas anotações em sua agenda.

“Creio que essa Comissão pode nos ajudar no que diz respeito à obtenção de testemunhos e de mais informações sobre como funcionava a Condor no Brasil. Não se sabe muito sobre qual foi a participação do Brasil (nessa rede). Temos mais dados sobre a participação da Argentina e do Uruguai.”

O procurador nos recebe em seu escritório do primeiro piso do palácio de justiça romano; veste-se com austeridade jurídica: terno azul, camisa clara e gravata tom sobre tom. Aceitou dar a entrevista se maiores objeções, pedindo apenas que não fosse gravada.

Familiares de desaparecidos latino-americanos que conhecem o mundo da Justiça italiana, o definem como um promotor sério e hermético. Alguns reprovam a demora em acumular provas para a abertura do processo.

“O tempo que nos demandou esse trabalho se deve ao fato de que não podemos apresentar qualquer coisa ao juiz. Tenho milhares de páginas sobre vários países, sobre Argentina, Uruguai, Chile...são mais de 140 acusados, há mais de 20 italianos vítimas do plano Condor. O problema é que se levarmos algo pouco fundamentado ao juiz ele pode recusar a abrir o processo e todo esse trabalho terá sido em vão".

“Você me perguntava se sou otimista sobre a decisão do juiz...É difícil responder. Não sei se sou...”.

Mais italianos

Os casos dos italianos Antonio Benetazzo, nascido em Verona, assassinado em São Paulo em 1972, e Libero Giancarlo Castiglia, oriundo de Cozenza, desaparecido desde 1973 no Araguaia “também podem ser julgados por tribunais italianos já que aqui nem sequer podemos abrir processos”, propõe Amelinha Teles.

“Sabemos que a Justiça da Itália está interessada em esclarecer os crimes contra italianos que caíram no Plano Condor, creio que esses casos podem ser levados para lá e digo isso como integrante da associação que reúne familiares e ex-presos políticos de São Paulo”.

“Conheço muito bem o caso de Benetazzo porque fui presa no mesmo lugar onde ele ficou detido em São Paulo e vi uma mala com seus livros, abandonada. Ele foi assassinado em outubro e eu fui presa em dezembro de 1972”.

Giancarlo Capaldo recebe com cautela a possibilidade de que os casos Benetazzo e Castiglia sejam acolhidos pelos tribunais italianos. Em princípio, diz, isso é possível, mas esclarece que esses casos não podem ser anexados à causa Condor.

“Na América do Sul há uma confusão habitual, quer se meter tudo no Plano Condor, e isso não é assim. Para que seja considerado como Condor deve haver elementos que nos permitam provar a cumplicidade de dois ou mais governos militares. Quando um brasileiro descendente de italianos é sequestrado e morto no Brasil por agentes brasileiros isso não é Condor e não pode entrar nesta causa”.

Baltazar Garzón

“Recebi com preocupação” a expulsão de Baltazar Garzón da magistratura espanhola, logo após ter aberto uma investigação sobre as matanças de Francisco Franco, comenta Giancarlo Capaldo, o procurador que, desde 1998, trabalha no processo contra ditadores e chefes militares sulamericanos envolvidos no Plano Condor.

“Garzón teve a coragem de abrir um processo sobre a ditadura de Franco. Isso foi muito importante para todo mundo. Eu não conheço os elementos desse processo e não poderia pronunciar-me sobre a acusação da Corte espanhola”, que o expulsou da Magistratura. Capaldo diz “suspeitar” que as acusações “talvez tenham sido instrumentalizadas com o objetivo de prejudicar a um personagem importante como é Garzón, na Espanha e na América Latina”.

E conclui: “às vezes as acusações exageradas são no fundo falsas” e procuram prejudicar, com instrumentos jurídicos, uma pessoa que se tornou incômoda devido a sua “integridade”.

Tradução: Katarina Peixoto

A COMISSÃO DA VERDADE E OS ESCRITORES




Urariano Mota*, Recife – Direto da Redação

Recife (PE) - Durante este ano o Brasil passa pela Comissão da Verdade. Diante disso, o que dizem as os escritores brasileiros?

A julgar por suas intervenções públicas, quase nada ou pouco falam. Entenda-se. Não se exige dos nossos criadores obras de engajamento nas questões de peso da pátria. Não, e seria abusiva e estúpida tal exigência, porque exterior à escrita mais pessoal, onde têm vez e voz o mais íntimo de cada um. Mas escritores escrevem artigos ótimos, crônicas cultas, dão palestras brilhantes, entrevistas maravilhosas, espetáculos do mais fino humor, e entre uma exposição e outra do precioso ego, bem podiam dizer, falar, sugerir, recomendar algo como, por exemplo, “olhem, tem a ver conosco esta Comissão da Verdade. Ela é do interesse de todos os artistas”.

Mas tal não se vê, nem mesmo nos lugares de aparência livre de suas colunas. Por quê? Certo não é covardia. Se apostamos no grau de altura moral dos nossos irmãos, poderíamos dizer que o assunto urgente dos crimes da ditadura para eles não vem à tona por uma certa, digamos, acomodação estética. Talvez uma estética de não ferir a boa vontade do dono, não da sua pessoa, pois nosso escritor é livre, mas de não ir contra a corrente dominante no meio. Ou de respeitar o espaço, que não é gratuito por todas as justiças. Ora vá o escritor famoso à custa do jornal, pelo que o magnânimo editor acha, ora vá o dono da folha cair na fria de pagar para o que não lhe interessa divulgar. Um absurdo.

Para que exista paz nas relações materiais do espírito, lembramos. Se o escritor nacional se ausenta do debate sobre a memória da ditadura nas aparições onde lhe pagam, onde o tema poderia causar no público um visível desconforto, e escritor, para a maioria no auditório, ou é um palhaço, ou um pop star ou um bibelô... de passagem imaginamos o desagradável que seria lembrar assassinatos, torturas e sua impunidade numa conversa educada. Imaginem a indelicadeza. Que assunto mais fora de tema, pois a concepção reinante de literatura se dirige mais para a excelência do criador que para o valor absoluto da realidade.

Causa espanto a capacidade que têm os nossos romancistas, poetas, de se ausentar da vida brasileira. A maioria de todos, digamos maioria assim, para ressalvar as exceções, estão metidos na viagem e divulgação da própria criação. Pouco se lhes dá que não só os séculos, mas o presente histórico, aquele que vai além deste minuto, lhes solte gargalhadas quanto à maravilha de suas crias. Aquela mesma gargalhada que um dia Balzac soltou, em um jantar entre os pares, que se achavam ímpares, quando ouviu de um deles “nós, criadores...”. O magnífico Balzac não se aguentou:

- Nós, criadores?!

E a gargalhada soou da altura de A Comédia Humana.

Ora, quando mencionamos a falta da história política do Brasil, como se isso fosse uma qualidade extraliterária, e, acreditem, não o é (perdoem essa construção), queremos dizer: os nossos escritores se ausentam de tudo que não diga respeito à sua extraordinária pessoa. Eles não refletem como agentes sociais, como pessoas que são chamadas à liça, como homens que sentem na própria pele a dor de um semelhante. Perdão, dor de um longinquamente parecido. Mas se assim é no geral, no particular exibem uma descrença – ou ignorância – que chega à raia do absoluto em termos políticos. Aderem fácil, fácil a qualquer onda de descrença em um governo ou pessoa ou ideias de esquerda. Mas isso, essa derrocada, para eles tem o nome de ironia, pose de mais altos estudos e vivências pós-muro de Berlim.

A esta altura sinto – mas não “sinto muito” – que o título do texto deu lugar a uma crítica negativa. Em outra oportunidade, espero sobressair mais o lugar do escritor do Brasil com os exemplos mais eloquentes de Lima Barreto, Joaquim Nabuco, Drummond, Machado de Assis, Graciliano Ramos... Agora, prefiro constatar que todos escritores temos uma arma, que anda empoeirada e sem uso: o nosso talento e sensibilidade para o que os generais e os príncipes jamais possuirão. Pois jamais os poderosos hão de ter algo que remoto lembre um Dom Quixote, um Rosa do Povo, um levante de consciências de levar os nazistas à queima de livros, a ponto de um general de Franco gritar “Morte à Inteligência”.

Por enquanto, a literatura, a poesia do futuro, vem sendo construída à margem dos escritores. Logo, logo, esperamos, ela tomará o seu lugar, o lugar dela, que é seu por todos os direitos.

* É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo.

Brasil: DILMA VIAJA AOS ESTADOS UNIDOS PARA ENCONTRO COM OBAMA




Correio do Brasil, com ABr - de Brasília

A presidenta Dilma Rousseff embarcou na manhã deste domingo para Washington, Estados Unidos, onde se encontra com o presidente Barack Obama, e cumpre agenda em que discutirá temas como a crise econômica internacional, a Conferência Rio+20 e o Programa Ciência sem Fronteiras.

Ainda nesta tarde, em Washington, Dilma manteve a agenda de encontros com empresários brasileiros que estão no país para participar, nesta segunda-feira, de seminário com empresários norte-americanos e discutir alternativas de negócios. O primeiro compromisso da presidenta, pela manhã, será a reunião com Obama, seguida de almoço na Casa Branca oferecido pelo mandatário norte-americano. No início da tarde, os dois presidentes participam do encerramento do Foro de Altos Executivos e, em seguida, Dilma encerra o seminário empresarial Brasil-EUA: Parceira para o Século 21. O último compromisso do dia é um encontro com empresários norte-americanos.

Na terça-feira, a presidenta Dilma cumpre o último dia de agenda nos Estados Unidos. Ela vai à Universidade Harvard, uma das instituições educacionais mais prestigiadas do mundo. A visita faz parte da estratégia do programa do governo brasileiro Ciência sem Fronteiras cuja meta é enviar 100 mil pesquisadores brasileiros para o exterior até 2014.

A intenção da presidenta Dilma na viagem aos Estados Unidos é estabelecer uma relação mais equilibrada entre brasileiros e norte-americanos. Dilma pretende dizer a Barack Obama que as diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos não afastam, mas garantem a consolidação de parcerias e acordos nos mais diversos setores.

A presidenta ainda ressaltará a importância das políticas de incentivo dos EUA para a ciência, tecnologia e inovação. Na ocasião, ela pretende citar o programa Ciência sem Fronteiras.

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COMER FARELO OU PUXAR O GATILHO?




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal, continua a sua luta para colocar o seu país, já sem habitantes, cada vez mais perto do norte… de África.

Embora continue todos os dias a pôr os portugueses mais pobres, mais famintos, mais esqueléticos, mais perto da morte, Passos Coelho continua a dormir bem, a comer bem e a dar o que resta dos seus lautos repastos aos seus cães e não aos pobres dos portugueses.

Em Portugal, para além dos milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para matar a fome, nem que seja nos restos deixados pelos cães de Passos Coelho, uma minoria privilegiada só se preocupa em ter – com a preciosa ajuda do Governo - mais e mais, custe o que custar.

Quando alguém diz isto, e são cada vez menos a dizê-lo mas cada vez mais a pensá-lo, corre o sério risco de que os donos do poder o mandem calar, se possível definitivamente.

Mas, como dizia a outro propósito Frei João Domingos, "não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida". Eu acrescentaria que, apesar de tudo, Passos Coelho estabeleceu outras etapas antes da pena capital. O desemprego, os impostos, as reformas fechadas, o roubo dos subsídios são alguns exemplos. Todos eles podem, contudo, resumir-se na grande meta do governo, que é a de pôs os portugueses a viver sem comer.

O primeiro-ministro foi eleito. Mentiu à grande e conseguiu comer de cebolada os portugueses. Manda o bom senso que se pergunte: Como é possível aos cidadãos acreditar num governo em que o primeiro-ministro mente? Mas como o bom senso não enche barriga…

Adaptando de novo, e tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Portugal "muitos governantes, gestores, administradores e similares têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro".

Mas esses, apesar de podres por dentro, continuam a viver à grande e à PSD, enquanto o Povo se prepara para morrer de fome ou de falta de assistência médica. O tempo em que o mais importante era resolver os problemas do povo, já lá vai. Os políticos anteriores preparam o cemitério e Passos Coelho deu-lhe o golpe de misericórdia.

Tal como muitos dos políticos que passaram pelo reino lusitano, Passos Coelho continua a pensar que Portugal é o PSD (de vez em quando com a muleta do CDS) e que o PSD é Portugal.

E como pensa assim, o que sobra dos abundantes regabofes do Governo não vai para os escravos, mas sim para os rafeiros que gravitam sempre junto à manjedoura do poder.

E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome. Não vai porque, tanto nas teses de Passos Coelho como nas de Cavaco Silva, ou nas de António Mexia, não há pobres em Portugal.

Aliás, como é que poderia haver fome se (ainda) existe fartura de farelo? Se os porcos comem farelo e não morrem, também o Povo português pode comer.

Embora seja um exercício suicida, importa aos vivos não se calarem, continuando a denunciar as injustiças, para que Portugal possa novamente abolir o esclavagismo e, dessa forma, ser um dia um país diferente, eventualmente uma nação e quiçá até uma pátria.

O Povo sofre e passa fome. Os países valem, deveriam valer, pelas pessoas e não pelos mercados, pelas finanças, pela corrupção, pelo compadrio, pelas negociatas.

É por tudo isto que a luta continua. Tem de continuar. Até porque, mais cedo ou mais tarde, a Primavera também vai iluminar (mesmo contra a vontade de António Mexia e da sua EDP) as ruas de Lisboa e chegar ao resto do país.

Enquanto os escravos não se revoltarem, de pistola na mão se for preciso, os donos do país e os donos dos donos vão continuar a vestir Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna e comprar relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.

Enquanto os escravos já nem sabem se têm barriga, Passos Coelho, Migue Relvas, Cavaco Silva e restante corja vão continuar a ter à mesa trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet 2005.

Passos Coelho sabe que os portugueses são – citando Guerra Junqueiro – “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”.

Passos Coelho sabe que os portugueses são – citando Guerra Junqueiro – “um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”.

Passos Coelho sabe que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos”.

Passos Coelho sabe que em Portugal existe – citando Guerra Junqueiro – “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”.

Entretanto, alguns portugueses (não tantos quanto o necessário) sabem que – citando Guerra Junqueiro – Portugal tem “partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar”.

E é por tudo isto que são cada vez mais os cidadãos que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem que na política portuguesa há cada vez mais criminosos a viver à custa dos imbecis dos portugueses.

No entanto, mesmo esqueléticos, famintos e doentes sempre podem ter força para fazer o que é necessário, nem que seja a última coisa feita em vida. Isto é, puxar o gatilho e enfiar um balázio nos cornos de todos aqueles parasitas que se julgam donos do reino.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


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