quarta-feira, 18 de maio de 2011

EM FACE DA CRISE NA EUROPA: PONTOS DE VISTA CONVERGENTES




Eric Toussaint

Desde Setembro de 2010 que está em curso o feliz encadeamento de um processode convergência entre o CADTM e outros movimentos sobre as formas de fazer faceaos problemas da dívida pública e à sua utilização por parte dos governos paraporem em marcha verdadeiros programas de ajustamento estrutural. Eis algunsexemplos:

1. No Manifesto dos Economistas Aterrados lançado em Setembro de 2010 esubscrito por mais de 2700 economistas e diversos militantes, pode ler-se,entre as 22 propostas concretas para a saída da crise, duas que vãoparcialmente ao encontro das propostas avançadas pelo CADTM: |1|

«Medida n.º 9: Realizar uma auditoria pública e cívica às dívidassoberanas, para determinar a sua origem e conhecer a identidade dos principaisdetentores de títulos de dívida e os montantes que possuem.» «Medida n.º 15: Senecessário, reestruturar a dívida pública, limitando por exemplo o seu peso adeterminado valor percentual do PIB e estabelecendo uma discriminação entre oscredores segundo o volume de títulos que possuam: os grandes financeiros(particulares ou instituições) deverão aceitar um prolongamento considerável dadívida, senão mesmo anulações parciais ou totais. É igualmente necessáriorenegociar as exorbitantes taxas de juro dos títulos emitidos pelos países queentraram em dificuldade na sequência da crise.»

2. A 24 de Novembro de 2010, a ATTAC espanhola avança a seguinte posição acercada Grécia: «Na Grécia, a associação obscura, secreta e delituosa entre aGoldman Sachs e o governo conservador precedente intrujou os cidadãos gregos eeuropeus, com o apoio cúmplice da banca privada alemã e francesa. O plano deresgate europeu permitiu a esses bancos alemães e franceses recuperar as suasperdas, enquanto a Goldman Sachs e os responsáveis políticos precedentesdesfrutam livremente o seu festim. A resposta justa consistia e consiste, emprimeiro lugar, em emitir um mandato de captura contra os responsáveis,levando-os a tribunal pelos seus delitos; em segundo lugar, em exigir umaauditoria à dívida, a fim de determinar e reconhecer unicamente a parte justada mesma; e por fim, em dar prioridade aos interesses sociais dos Gregos sobreos da banca internacional, reponderando os orçamentos e compromissos referentesà compra de novos submarinos à Alemanha.» No caso da Irlanda, a ATTACespanhola afirma: «Neste caso específico, existem também numerosas razões paraacusar os dirigentes actuais e os membros dos conselhos de administração dosbancos privados pelos delitos cometidos. Recusar a continuação do pagamento dadívida até que se faça uma auditoria e pôr os interesses da população à frentedos interesses dos especuladores fundamentalistas de mercado, que nos mentem enos ludibriam.» |2|

3. A coligação irlandesa «Dívida e Desenvolvimento» agrupa uma série de ONGsde desenvolvimento e de organizações de solidariedade Norte¬/Sul com base numaplataforma bastante moderada e essencialmente focada numa melhor gestão dosempréstimos concedidos aos países do Sul. Ela produziu um documento de 24páginas sobre a crise irlandesa, nas quais apela ao governo irlandês para que«ponha em questão a política do FMI, nomeadamente ao reclamar o fim dascondições acrescentadas aos acordos de empréstimo do FMI». |3|

Por seu lado, a principal confederação sindical irlandesa exige que osdetentores de títulos da dívida pública sejam sujeitos a uma redução de 10% doseu valor |4|

4. Num comunicado datado de 30 de Novembro de 2010, a ATTAC francesa avança6 propostas / reivindicações que o CADTM pode subscrever na generalidade:« –taxação e regulação estrita das transacções financeiras, a começar pelastransacções sobre o euro; proibição da especulação sobre as dívidas públicas;encerramento progressivo dos mercados;– declaração de falência para os bancosdemasiado endividados, sem indemnização dos credores e accionistas queacumularam lucros brincando com o fogo;– nacionalização dos bancos salvos pelosfundos públicos; estes bancos devem ser rapidamente socializados, ou seja, postossob controle democrático dos assalariados, dos cidadãos e dos poderespúblicos;– interdição aos bancos comerciais (de depósitos), que gerem aspoupanças privadas, de encetarem acções especulativas e de terem filiais nosparaísos fiscais;– reestruturação da dívida, com redução parcial para osEstados estrangulados pela carga da dívida pública; a dívida agravada pelosbenefícios fiscais dos ricos, nutrida pela crise financeira e pelo auxíliofinanceiro aos bancos, é uma dívida ilegítima;– Em paralelo, monetarizaçãoparcial da dívida pública, devendo o Banco Central Europeu comprar as suasobrigações directamente aos Estados.»

5. A 5 de Dezembro de 2010, um jornal grego de grande tiragem publicou umartigo de opinião do economista grego Costas Lapavitsas intitulado ComissãoInternacional de Auditoria da Dívida Grega: Uma Exigência Imperativa.Concluindo o artigo, o autor afirma: «A Comissão internacional de auditoriaterá um campo de acção privilegiado no nosso país. Basta pensar nos contratosde dívida celebrados com a intermediação da Goldman Sachs ou destinados afinanciar a compra de armas para concluir a necessidade de uma auditoriaindependente. Se se revelarem odiosas ou ilegais, essas dívidas serão entãodeclaradas nulas e o nosso país poderá recusar o seu reembolso, pedindo ajustejudicial de contas a quem as contraiu».

6. A 17 de Dezembro de 2010, a rede europeia da ATTAC publicou umadeclaração comum |5|
propondo verdadeiras medidas alternativas, entre as quais:« – desencadearum mecanismo de suspensão, pelo qual os Estados repudiariam o todo ou parte dasua dívida pública, provocada pelos benefícios fiscais aos ricos, pela crisefinanceira e pelas taxas de juro exorbitantes impostas pelos mercadosfinanceiros;– fazer uma reforma fiscal para restabelecer as receitas públicas etorná-la mais justa, taxando os movimentos de capitais, os rendimentos maiselevados, os lucros das empresas, tendo em vista a maximização da receita.»Tambémaqui verificamos uma larga convergência destes dois pontos entre a rede dasATTAC europeias e a rede do CADTM europeu.

7. Alguns dias mais tarde, Jean-Marie Harribey, ex-co-presidente da ATTACfrancesa e membro do seu conselho científico, publicou um artigo intitulado «ÉPreciso Encurralar os Serial Killers», no qual propõe «acolectivização-socialização de todo o sistema bancário à escala europeia». Noque respeita à dívida, consagra dois parágrafos que não podemos deixar desubscrever:«Anular a parte ilegítima da dívida pública Toda a gente sabe quea subida dos défices públicos e, consequentemente, do endividamento público nãoresulta duma deriva das despesas públicas. Resulta de dois factores: um queestá em curso de forma ascendente desde há várias décadas, exemplarmenteilustrado pelo caso francês: a fiscalidade foi reduzida de todas as formas, emparticular a fiscalidade progressiva, sem que os sucessivos governos tenhamconseguido cercear proporcionalmente as despesas públicas e sociais, das quaisuma grande parte é incompreensível. O segundo factor é recente e mais violento:o endossamento da dívidas privadas para o colectivo público, na sequência dacrise bancária e financeira. Não há justificação possível para que aspopulações sejam obrigadas a acarretar todas as consequências duma situação daqual não são responsáveis. A quase totalidade da dívida pública é ilegítima.»

8. A 3 de Março de 2011, mais de uma centena de personalidades gregas e internacionaislançaram um apelo público a favor da criação duma comissão de auditoria.Declaram: «Nós, abaixo assinados, pensamos que há necessidade urgente deconstituir uma Comissão de Auditoria para examinar a dívida pública grega. Aactual política relativa à dívida pública levada a cabo pela União Europeia epelo FMI acarretou custos sociais gravíssimos para a Grécia. Por conseguinte, opovo grego tem o direito democrático de ser cabalmente informado sobre a dívidapública e a dívida privada que beneficia de garantias públicas. O objectivodesta comissão será o de investigar as razões que levaram a que esta dívidafosse contraída, os termos nos quais tal foi feito e o destino dado aos fundosemprestados. Com base no resultado destas indagações, a Comissão deveráproduzir recomendações relativas à dívida, incluindo as partes reconhecidascomo ilegais, ilegítimas ou odiosas. O objectivo da Comissão será ajudar aGrécia a tomar todas as medidas necessárias para fazer frente ao fardo dadívida. A Comissão tentará igualmente apurar as responsabilidades.» |6|

9. A 10 e 11 de Março de 2011, representantes de sindicatos belgas eeuropeus, de ONGs e de redes de 15 países europeus (de Oeste a Leste)reuniram-se na primeira Joint Social Conference de Primavera. Eis um extractoda declaração final aprovada nesse encontro:«Os trabalhadores não sãoresponsáveis pela crise, mas foram e continuam a ser as primeiras vítimas. Oque é demais basta! A situação crítica dos orçamentos dos países da UniãoEuropeia tem de ser regulada doutra maneira: a. por um sistema fiscal justoque, ao invés das tendências actuais, tribute mais os ricos e os lucrosfinanceiros do que os trabalhadores (nomeadamente regressando à progressividadedos impostos, introduzindo um tributo europeu sobre as transacções financeiras,abolindo os paraísos fiscais, introduzindo um imposto mínimo sobre as empresasà escala europeia); b. por uma auditoria às dívidas públicas nos países daUnião Europeia; não podemos aceitar que o futuro de uma ou várias gerações sejahipotecado por causa duma dívida que de facto é, na sua maior parte, a dívidados especuladores e do sistema financeiro.» |7|

10. Em Maio de 2011, num livro sobre a dívida pública elaborado pela ATTACfrancesa, a associação altermundialista destaca diversas alternativas queconstituem um conjunto coerente para sair da crise |8|...e que são largamente partilhadas pelo CADTM, designadamente no que se refereà necessidade da auditoria da dívida e à anulação das dívidas públicasilegítimas.

11. A 4 de Maio de 2011, uma coligação irlandesa (constituída pela Actionfrom Ireland –Afri-, pelo sindicato UNITE e pela campanha Dette etdéveloppement) dá inicio a uma auditoria independente da dívida irlandesa.

12. Do 6 ao 8 de Maio 2011 teve lugar em Atenas uma conferência internacionalem favor da auditoria da dívida e da anulação da parte ilegítima da dívida.Quase 3 000 pessoas tomaram parte. É incontestável que o tema da dívida públicairrompeu no Norte por ocasião da grave crise que o mundo atravessa desde2007-2008. Os ensinamentos de 30 anos de ajustamentos estruturais no Sul devemser aproveitados e os povos europeus devem mobilizar-se em força, para que asdecisões tomadas no Norte não sejam um símile das decisões impostas ao Sul nodecurso das três últimas décadas. Numerosos movimentos começam já a pôr aquestão da legitimidade dessa dívida e da sua auditoria integral, tendo emvista a anulação da parte ilegítima. Este combate é essencial para estabeleceras bases duma lógica económica e financeira radicalmente diferente. A dívidapública é o ferrolho que é preciso fazer saltar no interesse dos povos. Paracomeçar a pôr em prática uma política económica e social ao serviço daspopulações e para lutar contra as mudanças climáticas, a redução radical dadívida pública é uma condição necessária más insuficiente. É apenas o primeiropasso. Deverá ser acompanhada por uma série de reformas radicais a propósitodas quais o CADTM trabalha há anos para fornecer pistas eficazes e coerentes.Só uma mobilização popular maciça, com objectivos claros, permitirá alcançaresta meta.

Notas
|2
| Verhttp://www.attac.es/realidad-co...
|3| Debt and Development Coalition Ireland, «AGlobal Justice Perspective on the Irish EU¬IMF Loans: Lessons from the WiderWorld», Novembro 2010, http://www.cadtm.org/A-Global-Justi....
|4
|5
| Verhttp://www.france.attac.org/spi...
|6| Texto integral do apelo e lista de signatários: http://www.cadtm.org/Appel-pour-une...
|7
|8
| Ver ATTAC, «Le piège de la dette publique, comments’en sortir, Les liens qui libèrent», Paris, 2011, chapitre 6. http://www.france.attac.org/livres/

P.S

Eric
Toussaint é Doutor em Ciências Políticas pelas Universidades de Liège eParis VIII, Presidente da CADTM Bélgica, membro do Conselho Internacional doFórum Social Mundial e da Comissão presidencial de auditoria da dívida (CAIC)do Equador, membro do Conselho Científico da ATTAC França, autor do livro: ABolsa ou a Vida – As finanças contra os povos, Perseu Abramo, São Paulo, 2002;co-autor do livro: 50 perguntas / 50 respostas sobre a dívida, o FMI e o BancoMundial, Boitempo Editorial, São Paulo, 2006. Próximo livro a ser publicado emJunho de 2011: La Dette ou la Vie, Aden-CADTM, 2011 (obra colectiva coordenadapor Damien Millet e Eric Toussaint).

Tradução de Rui Viana Pereira, revisão de Noémie Josse.


UMA REBELIÃO NA EUROPA É POSSIVEL




David Muratore, EricToussaint

Entrevista realizada em 19 de abril de 2011, por David Muratore |1|,em Rosario (Argentina), terra natal de Che Guevara.

Eric Toussaint, que esteve em Rosario, convidado por diferentes organizaçõessociais (sendo uma delas a seção de Rosário da Central dos Trabalhadores daArgentina - CTA) falou sobre a questão da economia mundial e da América do Sul.Na entrevista ele afirmou também que "uma rebelião popular em algunspaíses europeus é possível." Ele antecipou também o aumento das taxas dejuros no Norte, podendo causar sérios problemas para as economias dependentes.Ele recomendou assim que a América do Sul "faça uma auditoria da dívidailegítima, que não a pague e que invista em fontes de financiamento endógenas,como o Banco do Sul".

Economista e historiador, seu primeiro trabalho por 10 meses, em 1972, foide jornalista esportivo, quando comentava os jogos de futebol para um jornalbelga |2|,muito embora não seja ele do tipo que jogue futebol e ainda deteste os negóciosque giram ao redor do mundo do futebol.

A crise econômica e financeira mundial vai durar entre 10 e 15 anosainda

A crise econômica e financeira mundial vai durar entre 10 e 15 anos aindanos países industrializados, anunciou Eric Toussaint em uma discussão com aequipe de comunicação da CTA de Rosario e com o jornalista Álvaro Torriglia, dodiário La Capital. Ele explica que a situação é diferente para os paísesdo Sul “que se beneficiam de uma conjuntura favorável graças aos preçoselevados das comodites e da situação da China, como locomotiva da economiamundial”. Um outro fator, favorável atualmente para os países do Sul, é astaxas de juros baixas dos países de primeiro mundo “que permitem aos paísesemergentes reembolsar suas dívidas sem que isto afete muito suas economias umavez que pagam uma taxa de juros relativamente baixa, uma taxa sustentável.”Mas isso dito, ele nos oferece uma primeira advertência: “Esta situaçãofavorável resulta de dois fatores que são alheios à América Latina, à África ea grande parte da Ásia. Primeiro fator: as decisões dos bancos centrais doNorte de manter as taxas de juro baixas. Segundo fator: o boom econômico chinês”.Mas isso, de acordo com Eric Toussaint, não altera a situação que causou acrise internacional. “As taxas de juros baixas nos Estados Unidos, desde2008, e na Europa, desde 2009, permitiram às empresas que estavam à beira dafalência, assim como às empresas que detinham ativos tóxicos, de serefinanciarem; isto diminuiu o impacto da crise, mas com uma injeção vultuosade dólares e euros no sector financeiro temos um grande volume de liquidez, doqual uma grande parte vai para as atividades especulativas relacionadas àsmatérias-primas, alimentos e títulos da dívida pública de países europeus comoa Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda. Os bancos centrais deveriam,logicamente, aumentar suas taxas, constrangendo assim a formação de novasbolhas mas, ao mesmo tempo, faria explodir as bolhas existentes, conduzindo a novasfalências. Além disso, uma vez que as taxas de juros aumentam, o custo doreembolso da dívida pública aumenta, o que está acontecendo, já que, há algunsdias, o Banco Central Europeu elevou sua taxa básica, passando de 1% para1,25%. Caso a alta dos juros se confirme, tomando proporções significativas,isso terá um impacto negativo importante sobre as economias do Sul.”

A alternativa do não-pagamento da dívida para os países da periferiada Europa

Eric Toussaint considera uma entrada em dificuldades de vários paíseseuropeus. Ele afirma que “o exemplo argentino |3|está em discussão na Europa. A suspensão do pagamento da dívida pública é umapossibilidade para países como a Grécia, Portugal, Irlanda ou mesmo a Espanha”.Para que isso não seja considerado como um exagero, ele salientou que “estaé uma discussão espontânea, dada a dificuldade da situação e que aparece nojornal econômico de referência que é o Financial Times e também na últimaedição do The Economist. Perante esta situação, movimentos sociais como onosso, o Comité pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, www.cadtm.org , sustentam a perspectiva dainadimplência.” Eric Toussaint propõe a suspensão dos pagamentos, arealização de auditorias – “diferentemente do que aconteceu na Argentina”,para detectar a parte ilegítima e forçar os detentores de títulos a aceitar asanulações ou as reestruturações, com uma redução do estoque da dívida.

A continuidade das velhas receitas neoliberais

Apesar desta discussão sobre a solução da crise para os vários paíseseuropeus através da cessação de pagamentos, as políticas implementadas pelosgovernos são as mesmas receitas neoliberais de sempre, disse Eric Toussaint.Ele dá como exemplo “as privatizações, como na Grécia, um país pequeno ondepretendem impor privatizações de mais de 50 bilhões de euros, mas onde asmobilizações sociais continuam a ser importantes.” Ele aborda desta forma aideia que deu o título a esta entrevista: “não se pode descartar que possahaver uma reviravolta num determinado momento, como resultado do aumento dessesprotestos”, mas “eu diria que estamos sendo confrontados, na Europa, comuma situação do tipo ocorrido no governo de De la Rúa - Domingo Cavallo, emborana Argentina tenha acontecido aquilo que nos é conhecido, em dezembro de 2001.”O governo de centro-esquerda de Fernando de la Rúa e seu ministro da Economia,Domingo Cavallo (ex-ministro da ditadura argentina), aplicou fortes medidasneoliberais, em um contexto no qual a Argentina estava em recessão há mais dedois anos. Isso causou uma revolta social muito forte em dezembro de 2001. Issoderrubou o governo (o presidente "escapou" do palácio presidencialnum helicóptero) e levou o novo presidente (Rodriguez Saa) a decretar, no fimde dezembro de 2001, a suspensão do pagamento da dívida e a fazer importantesconcessões ao movimento social cujas mobilizações foram muito fortes em2002-2003.

Eric Toussaint vê este tipo de "reviravolta" como umapossibilidade em alguns países como a Irlanda, Portugal ou a Grécia. Entretantoele precisa em seguida: “esta situação pode durar anos, pois é claro que asesquerdas tradicionais européias dão continuidade, quando alcançam o poder, àspolíticas neoliberais, e o resultado é, portanto, a necessidade de uma crisedesse tipo de orientação, a crise dos partidos tradicionais da esquerda européiapara que uma mudança ocorra. Vemos isso com os governos socialistas de Portugale da Grécia. Na Europa, pode haver uma rebelião popular com as mesmas dimensõesdo levante argentino ou daqueles ocorridos contra as ditaduras do Norte deÁfrica.” Perguntado se ele vê condições objetivas de revoltas populares empaíses da periferia da Europa (Grécia, Irlanda, Portugal), Toussaint respondeuafirmativamente: “Sim, absolutamente!” Até então, os protestos têm seguidoseu caminho tradicional “greves gerais, sem excessos, exceto na Islândia, ondehouve uma rebelião nas ruas.” Apesar do fato de que a Islândia é um país dequase 350 mil habitantes, os protestos contra os responsáveis ​​pela crisemarcaram a história deste país “e os islandeses rejeitaram, no decorrer de doisreferendos, o pagamento da dívida externa da Islândia” |4|.

Eric Toussaint continua, referindo-se às revoltas na África do Norte quepodem também ter repercussão em alguns países europeus mais afectados pelacrise. A proximidade com a zona mediterrânia da Europa, em particular no quediz respeito à Grécia e à Espanha, e a existência nesses países detrabalhadores originários daqueles países Africanos, vêm em apoio a essapossibilidade.

Sem chegar ao ponto de dizer que estes trabalhadores seriam a causa de umarebelião europeia, ele explica que em alguns setores da opinião públicaeuropeia surgiu a ideia de que “se as pessoas se opuseram na África do Norteaos governos absolutistas e violentos, porque não se oporiam a governos como osda Europa que não respeitam a vontade popular?”. Eric Toussaint vê noresultado das eleições na Europa uma insatisfação que se reflete na busca dealternativas, incluindo aí a extrema-direita. Trata-se de mais uma demonstraçãosuplementar de insatisfação quanto à política econômica praticada pelospartidos tradicionais na Europa, tanto de centro-direita quanto decentro-esquerda. Obviamente que onde o eleitorado volta-se para a direita arebelião parece distanciar-se. A Hungria e a Finlândia são exemplos destavirada à direita.

Rumo ao fim do Euro? O centro e a periferia europeus

“O euro está em crise e, em muitos países, diferentes sectores da opiniãopública sugerem a saída desta moeda, certamente uma discussão que está aberta”,disse Eric Toussaint.

Em seguida, ele propõe uma agenda com os temas mais importantes: o temaprincipal sendo o da dívida e das auditorias da dívida, a decisão de continuarou não os pagamentos e o segundo tema sendo a retirada ou não do Euro, da partede países como a Grécia, Portugal e Irlanda. Ele explica que nos paísesperiféricos da Europa, gosava a União Europeia de um grande crédito, na décadade 1970 e no início de 1980, uma vez que ela simbolizava o distanciamento dasexperiências totalitárias na Espanha, Portugal e Grécia. Hoje em dia estecontexto não existe mais. Havia também uma transferência de capitais da Alemanha,da França e do Benelux para esses países, que também não existe mais hoje. “Agoratemos uma relação Centro-Periferia no seio da União Europeia, uma relaçãodesfavorável para a periferia.”

“Quem são os detentores dos títulos da dívida grega?" pergunta-seele, antes de responder: "os banqueiros alemães e franceses, nummontante de 41%, seguidos por banqueiros italianos, belgas, holandeses ebritânicos; ocorre de forma semelhante com a dívida da Espanha, do Portugal eda Irlanda”, o que tem por concequência que os países mais pobres da Europaefetuam uma transferência de recursos para os países da Europa “Central”. Issogera um sentimento de descontentamento nestes países periféricos. Na imprensaalemã, e mesmo na Europa em geral, tentamos apresentar a Alemanha comooferecendo assistência aos países na periferia, embora não seja este o caso,esta "ajuda" retorna para o sector financeiro privado alemão.

Os países do Sul e a dívida

“O problema na América Latina, por exemplo, é que os governos não levam emconta a forma como a situação poderá evoluir, considerando eles que o pagamentoda dívida é sustentável em função das baixas taxas de juros atuais e, portanto,não tomam nenhuma medida e, o que é pior, endividam-se rapidamente”, afirmaEric Toussaint, mesmo não sendo este o caso para a Argentina, onde não estamospresenciando uma nova onda de endividamento, mas é o caso para os países nosquais a entrada de divisas é devida fundamentalmente ao petróleo. “Trata-sede uma incapacidade de levar em conta a situação que é muito grave, uma vez queseria necessário tirar proveito da situação atual na qual as reservas estãoelevadas para fazer duas coisas: a auditoria da dívida , identificar a parteilegítima e suspender seu pagamento, para reduzir drasticamente o estoque dadívida e acelerar o ritmo da integração regional.”

O Banco do Sul, uma meta necessária

“Os países latino-americanos deveriam lançar a iniciativa do Banco doSul, uma iniciativa ao mesmo tempo necessária e viável, colocando parte dassuas reservas neste banco e financiando desta forma projetos regionais, sem terque pedir financiamento para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),ao Banco Mundial, ao FMI ou ao mercado de capitais.” Ele lança dessa formao seguinte aviso aos governos dos países emergentes: “eles perdem um tempoprecioso e a situação pode se deteriorar rapidamente, devido à falta deprevisão, razão pela qual eu quero alertar a opinião pública sobre os perigos,que não são imediatos. Nós não podemos prever qual será o ritmo do aumento dastaxas de juros no Norte, mas é claro que a tendência atual é no sentido de umaumento, o que irá afetar o Sul.”

Eric Toussaint termina seu café no bar do centrinho, onde fizemos aentrevista; ele pergunta ao colunista do La Capitale como está acirculação deste jornal, o que permite ao repórter lhe contar sobre a tentativahavida de ataque contra os trabalhadores (jornalistas, impressores, ...) daparte dos patrões da empresa, e a reação dos trabalhadores, seguida da reaçãodo povo de Rosario. “E como acabou?” Inquiriu ele, então. O repórter lherespodeu que os trabalhadores haviam tido êxito e, então, ele exibiu um sorrisoe disse "muito bem", mais para ele do que para seusinterlocutores.
Traduzido por Claudia de Siervi

Notas
|1| David Muratore é o secretário de comunicação daConfederação de Trabalhadores Argentinos (CTA), que é a alternativa sindical aosindicato histórico CGT.
|2| Trata-se do jornal de Liége, La Walonie, agoradesaparecido. Foi o órgão do sindicato FGTB em Liége. Na Bélgica não há maisnenhum jornal de esquerda
|3| De 2001 a 2005, a Argentina suspendeu o reembolso dasua dívida pública externa na forma de títulos, num montante de cerca de 100bilhões de dólares. Graças a esta decisão, a Argentina foi capaz de entrar numafase de recuperação econômica e social.
|4| Ver “Islândia: NÃO e mais NÃO!” por YvetteKrolikowski, Mike Krolikowski, Damien Millet http://www.cadtm.org/Islande-NON-et...


ESTAMOS EM FASE DE OBRAS FORÇADAS




REDAÇÃO

Devido a anomalias que assolaram o Página Global estamos a reeditar e formatar alguns conteúdos. Pedimos desculpa e assim justificamos a "desarrumação" que certamente irá encontrar.

Apesar de tudo desejamos boa leitura aos que nos visitam.

ALM

A GRANDE PORCARIA QUE O BLOGGER CONSEGUIU FAZER-NOS PRODUZIR!





REDAÇÃO

URGE PROCURAR OUTRO ALOJAMENTO, ACEITAMOS SUGESTÕES!

AS POSTAGENS DE TRAMPA QUE SE SEGUEM, NA ORDEM DAS TRÊS OU QUATRO DEZENAS, SÃO AS QUE “DESAPARECERAM” POR RESPONSABILIDADE DO BLOGGER, DURANTE OS DIAS 12 E TALVEZ MAIS DIAS ANTES E DEPOIS. POSTERIORMENTE, ONTEM, COMEÇARAM A SURGIR NOS RASCUNHOS ALEATÓRIAMENTE ESTA BARAFUNDA QUE VAI ENCONTRAR MAIS EM BAIXO.

HOJE DECIDIMOS PUBLICAR E MOSTRAR A BOA TRAMPA QUE RESULTA DO NOVO EDITOR DO BLOGGER. AS RAZÕES PORQUE ASSIM É DESCONHECEMOS, MAS O CERTO É QUE QUANDO PUBLICÁMOS OS CONTEÚDOS QUE DEPOIS “DESAPARECERAM” A ORDEM E ASPETO GRÁFICO ESTAVA TÃO PRIMADO COMO É SEMPRE PRÁTICA DO COLETIVO QUE FAZ AS POSTAGENS NESTE PÁGINA GLOBAL E EM TODOS OS OUTROS BLOGUES DA FÁBRICA DOS BLOGUES.

CONTAMOS FAZER OS DEVIDOS ACERTOS EM TODAS AS POSTAGENS DESASTROSAS QUE SE SEGUEM. SABEMOS QUE VAI LEVAR ALGUM TEMPO DEVIDO AO MONSTRO DO NOVO EDITOR DO BLOGGER, QUE ATÉ PARECE QUE ESTÁ A BRINCAR CONNOSCO E TROCA-NOS AS VOLTAS EM ESPAÇOS E NAQUILO QUE MAIS LHE DER NA REAL GANA.

ACRESCENTE-SE QUE NESTE PÁGINA GLOBAL, QUANDO DÉMOS INICIO À SUA PUBLICAÇÃO, POR INCOMPATIBILIDADES QUE O NOVO EDITOR MOSTROU NOS OUTROS BLOGUES ANTIGOS DA FÁBRICA DOS BLOGUES, O EDITOR (AQUI) ATÉ FUNCIONAVA RAZOAVELMENTE BEM. MAIS TRABALHOSO (LOUCO) QUE O EDITOR ANTIGO MAS QUASE NORMAL. APÓS A AVARIA DO BLOGGER, EM 12 DE MAIO (?), TUDO SE COMPLICOU E AGORA É A LÁSTIMA QUE VIMOS.

PROCURAMOS NOVO ALOJAMENTO APESAR DE NOS AGRADAR BASTANTE O BLOGGER COM O ANTIGO EDITOR. FOI COM ELE QUE TRABALHÁMOS DURANTE CERCA DE CINCO ANOS.

O “REI” MORREU! VIVA O “REI”! VENHA OUTRO!

ACEITAMOS SUGESTÕES.


Secretário-geral da UNITA afirma que chegou a hora dos mais jovens dirigirem o país





O secretário-geral da UNITA, Abílio Kamalata Numa, defendeu no Lubango que é chegado o tempo de a governação de Angola passar à gestão das novas gerações.

Segundo aquele alto dirigente do Galo Negro, Angola precisa de ver na direcção dos seus destinos gente que nasceu depois dos anos 50 e 60 e começar a afastar os mais velhos dos anos 30 e 40. Angola disse Numa já perdeu muito tempo e atribuiu a culpa da perca de tempo aos mais velhos da década 30 e 40.

Com os olhos postos nas eleições previstas para 2012, Abílio Kamalata Numa, chamou atenção para que os dirigentes da nova geração, postos no poder, não repitam os mesmos erros diz ele cometidos pelos mais velhos.

“Os jovens dos anos 50 e dos anos 60 a nossa geração assumam mesmo o poder estejam eles no MPLA na UNITA ou onde estiverem mas não repitam os erros que os nossos mais velhos cometeram contra nós, os erros que fizeram contra a nossa juventude, nos mataram todos de um lado ao outro a morrer, mas até hoje não conseguem dar o sentido de unidade do povo angolano, nós jovens dos anos 50 e 60 é mesmo a nossa altura de governar", disse Numa, ex-general nas forças da UNITA

O secretário-geral da UNITA falava na sequência de uma digressão que o levou a avaliar a situação económica e social das populações e do partido nas províncias do Namibe e Huíla.

Abílio Kamalata Numa anunciou ainda para breve a reunião do Comité Permanente do partido que irá definir os passos até ao final do ano onde terá de decidir sobre a realização do próximo congresso do maior partido na oposição.

Voanews

Nota PG: Este conteúdo foi publicado em 12 de Maio mas por “avaria” do Blogger “desapareceu”, tendo agora surgido nos rascunhos. Ao voltarmos a publicar toma automaticamente a posição no dia em que o republicamos. Pedimos desculpa pela “anormalidade”. Nos arquivos de dia 12 de Maio, na barra lateral, esse dia não existe e para republicar somos obrigados a fazer demorados acertos por via do mau funcionamento do novo editor do Blogger.

Brasil quer fazer de Cabo Verde plataforma para expandir comércio na região





Este poderá ser o primeiro passo para fazer de Cabo Verde uma plataforma giratória de produtos brasileiros para países desta região africana.

Praia - A embaixada do Brasil em Cabo Verde criou um sector comercial, o SECOM, para promover o fluxo de investimentos entre os dois países, numa altura em que cresce o interesse dos empresários brasileiros em expandir para África.

Este poderá ser o primeiro passo para fazer de Cabo Verde uma plataforma giratória de produtos brasileiros para países desta região africana.

O SECOM, que está ligado ao portal de investimento do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o BrasilGlobal Net, se propõe a promover a exportação de produtos e serviços brasileiros para Cabo Verde, bem como estimular o fluxo de investimentos entre os dois países. Este organismo da embaixada brasileira na Praia tem ainda como propósito prestar apoio a empresários e missões empresariais que venham a Cabo Verde.

Nota PG: Este conteúdo foi publicado em 12 de Maio mas por “avaria” do Blogger “desapareceu”, tendo agora surgido nos rascunhos. Ao voltarmos a publicar toma automaticamente a posição no dia em que o republicamos. Pedimos desculpa pela “anormalidade”. Nos arquivos de dia 12 de Maio, na barra lateral, esse dia não existe e para republicar somos obrigados a fazer demorados acertos por via do mau funcionamento do novo editor do Blogger.

TIMOR CARTOON – O OLHAR DE UM ARQUITETO PORTUGUÊS




SAPO TL

Em 2004, João Baptista esteve em Timor-Leste a dar apoio aos Médicos do Mundo. Com um olhar atento, nos seus tempos livres fazia pequenos desenhos com situações do dia-a-dia em Díli, silhuetas das suas gentes e caricaturas irónicas sobre as querelas políticas que marcaram os primeiros anos de governação.

Já nessa altura os seus cartoons coloridos chamaram a atenção da Embaixadora Natália Carrascalão que viu neles o registo de vários momentos da História recente do país. Desde os miúdos que espreitavam os estrangeiros a comer torradas no City Café, às Karau Baca que pastam nos campos e mostram que os timorenses também trocam os “vs” pelos “bs”.

Em 2006, inspirado pela situasaun timorense, criou o blogue Timor Cartoon e foi publicando desenhos, esquiços e caricaturas até 2009.

Uma resenha do seu trabalho está em exposição até ao dia 10 de Junho, no Espaço - Biblioteca Por Timor, situado em Lisboa.

Nota PG: Este conteúdo foi publicado em 12 de Maio mas por “avaria” do Blogger “desapareceu”, tendo agora surgido nos rascunhos. Ao voltarmos a publicar toma automaticamente a posição no dia em que o republicamos. Pedimos desculpa pela “anormalidade”. Nos arquivos de dia 12 de Maio, na barra lateral, esse dia não existe e para republicar somos obrigados a fazer demorados acertos por via do mau funcionamento do novo editor do Blogger.

ONU sem "pedido formal" de investigação à operação dos EUA e morte de Bin Laden




PDF – PAL – LUSA

Nova Iorque, 11 mai (Lusa) - As Nações Unidas não receberam qualquer "pedido formal" para que seja investigada a operação das forças norte-americanas que resultou na morte do líder da Al-Qaida, Usama bin Laden, disse hoje um porta-voz da organização.

"Não recebemos qualquer pedido formal", afirmou hoje o porta-voz Farhan Haq, questionado sobre uma carta dos filhos de bin Laden divulgada hoje no New York Times.

Na carta, Omar bin Laden e outros filhos do líder da Al-Qaida, que no passado haviam condenado os atos terroristas reivindicados pela organização liderada pelo pai, questionam a legalidade da operação norte-americana, condenando a "execução de mulheres e de um homem desarmado", sem detenção ou julgamento.

Os irmãos dão 30 dias para que as suas questões sejam respondidas, admitindo então recorrer a outras instâncias, como o Tribunal Penal Internacional ou o Tribunal Internacional de Justiça.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou hoje sentir-se "aliviado" por "se ter feito justiça com este inspirador do terrorismo".

"Devemos entender que toda a operação se realizou em condições muito difíceis e complicadas", acrescentou, referindo-se às críticas que a operação suscitou por não ter levado à captura de Bin Laden para que fosse julgado.

Na semana passada, a Alta Comissária para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, pediu a "divulgação completa dos factos precisos" sobre as circunstâncias da operação.

"Penso que não só os meus serviços, mas todos têm o direito de saber exatamente o que se passou", disse a alguns jornalistas durante uma visita a Oslo.

Para Pillay, se "as Nações Unidas condenam o terrorismo (...), também têm regras elementares sobre o modo como as atividades de contra-terrorismo devem ser conduzidas".

"Isso deve ser feito de acordo com as leis internacionais", disse, sublinhando que estas leis não autorizam, por exemplo, "a tortura ou as execuções extra-judiciais".

Na véspera, o procurador-geral norte-americano, Eric Holder, assegurou ao Senado que a operação das forças especiais norte-americanas no Paquistão foi "completamente legal" e resulta de um "ato de legítima defesa" dos Estados Unidos.

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Maioria dos americanos considera ter sido um erro festejar a morte de bin Laden




JORNAL DE NOTÍCIAS

Seis em cada dez norte-americanos consideram ter sido um erro festejar a morte do fundador da al Qaeda, Osama bin Laden, revela uma sondagem do Public Religion Research Institute divulgada na quarta-feira.

De acordo com os resultados do inquérito telefónico realizado a 1.007 norte-americanos maiores de 18 anos, entre 5 e 8 de Maio, 62% dos inquiridos considera ser errado celebrar a morte de um ser humano, independentemente de quem seja.

A pesquisa indica que existe um grande consenso sobre este aspecto entre pessoas de diferentes credos religiosos e tendências políticas, mas revela uma maior divisão de opiniões sobre a moral e eficácia da tortura.

Cerca de 49% dos inquiridos considera que a tortura de alegados terroristas para se obter informação importante não é justificável em nenhum caso, mas para 43% a tortura é justificável em certas situações.

A mesma sondagem revela que 53% dos norte-americanos acredita que os Estados Unidos não deveriam recorrer a nenhum método de tortura contra os seus inimigos a que não quisessem também submeter os seus militares.

A pesquisa tem uma margem de erro de três por cento.

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COBARDES UNIDOS NUNCA SERÃO VENCIDOS?





ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

«Os cobardes não têm palavra, nem escrevem, mandam sempre dizer por terceiros, e assim podem explicar, à posteriori, que o seu pensamento foi desvirtuado. O comportamento dos cobardes tem sempre um selo de garantia: a garantia de que o dito não foi dito, mesmo que todos saibam que foi dito.»

Esta é uma verdade lapidar, escrita há uns anos por um dos mais íntegros Jornalistas que conheci, de seu nome Paulo F. Silva. Tão íntegro que hoje enfrenta o desemprego para onde foi catapultado exactamente por não ser cobarde, exactamente por ser íntegro.

O que o Paulo escreveu é uma (dura) verdade que pode ser aplicada a uma cada vez mais crescente forma de (sobre)viver na sociedade portuguesa em geral e, em particular, no comércio e indústria de textos de linha branca a que, por manifesta ignorância, se chama em Portugal "jornalismo".

São esses cobardes que, por regra, comandam (mal, mas comandam) este país ou, para ser mais correcto, algumas das partes que no seu conjunto formam o país.

Por isso os cobardes apostam tudo, sobretudo o que é dos outros, na razão da força que é alimentada pelo tal selo de garantia de que muito bem fala o Paulo Silva.

Com a cobertura, mesmo que involuntária, de muito boa gente, levam a que a força da razão perca batalhas e mais batalhas.

Ao contrário do que cheguei a penar, esses cobardes não só estão a ganhar batalhas como poderão vencer a própria guerra. Não lhes falta apoio de quem, ao seu estilo, se está nas tintas para a liberdade de expressão, para a democracia, para as regras de um Estado de Direito.

Para gáudio dos cobardes e dos que dão cobertura aos cobardes, Portugal parece dar-se bem com a cobardia. No entanto, espero eu que um dias destes alguém descubra que esses cobardes, mascarados de heróis, para contarem até 12 têm de se descalçar.

Enquanto não são desmascarados, esses cobardes continuam a espalhar minas para matar os que pensam de maneira diferente. Mas, mais cedo ou mais tarde, os cobardes vão ser vítimas dos próprios engenhos explosivos que colocaram.

Em Março de 2007 (ver «O selo de garantia dos cobardes») já eu dizia aqui que esses cobardes iriam continuar a calar as vozes que tentam dar voz a quem a não tem.

No início de 2009 calaram mais umas dezenas e, ao que tudo indica, irão calar mais alguns ainda este ano. Fico, contudo, com a certeza de que só é derrotado quem desiste de lutar.

E desistir (mesmo com a barriga vazia) é palavra que não consta do vocabulário dos verdadeiros Jornalistas (os tais que o são 24 horas por dia, mesmo estando desempregados).

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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VIAJAM AO TIMOR LESTE EDUCADORES CUBANOS




Havana, 11 mai (Prensa Latina) Integrantes da Brigada de professores e assessores cubanos de alfabetização partirá hoje para Timor Leste para continuar sua missão instrutiva nesse país.

Segundo uma nota do Ministério de Educação, estes profissionais serão condecorados em Dili no próximo 20 de maio com a Medalha Ordem de Timor Leste, durante o nono aniversário da independência da nação asiática.

A dedicação e o esforço dos colaboradores cubanos em condições muito difíceis pela geografia de montanha possibilitou até abril passado a alfabetização de 109 mil 775 timorenses, precisa o texto.

Essa cifra, destaca a comunicação, representa 45 por cento dos que eram iletrados e foram declarados livres de não saber ler e escrever em quatro dos 13 distritos de Timor Leste.

mv/dsa/bj

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SONO DOS JUSTOS E INJUSTIÇADOS




ANTÓNIO VERÍSSIMO*

PORTUGAL CÚMPLICE DO TERRORISMO DA NATO

Somos um país cúmplice de criminosos globais e isso tira o sono a qualquer indivíduo que tenha por principio a paz e o respeito à vida. Além do mais quando implicitamente represente carga negativa a queda na realidade que nos mostra que se somos portugueses jamais podemos deixar de o ser. Usemos ou não truques administrativos, mesmo que nos naturalizemos com outras nacionalidades. Nem assim conseguimos deixar de ser portugueses. É como alcatrão que se agarra à pele e nos acompanha até à cova ou até ao forno crematório. Assim acontece com a naturalidade portuguesa como com outras. Jamais nos livramos disso.

Como se não nos tivesse bastado em história recente determinadas chacinas e massacres concretizadas pelo exército e policias portuguesas nas ex-colónias, eis que presentemente e desde há dezenas de anos fazemos parte do exército global que assassina civis e outros sem olhar a quem por quase todo o mundo. De seu batismo NATO ou OTAN, braço armado da defesa dos interesses dos EUA, de Inglaterra, França e Alemanha – estes últimos com cartas de principais lacaios, e com os criados para todo o serviço e aceno permanente de cabeça de outros países. Entre os quais Portugal.

É essa mesma NATO que anda mundo fora a assassinar civis a eito, classificando as suas hediondas ações de Danos Colaterais. A coberto de uma organização chamada de tratado do atlântico norte, a NATO vai ao fim do mundo matar quem estiver no seu caminho em ações terrestres, em bombardeamentos navais ou em bombardeamentos aéreos - ditos de enorme precisão mas que levam sempre vidas inocentes de civis de modo indiscriminado. Os tais Danos Colaterais. Assassínios são o que cometem. Assassinos são o que são os generais e os pilotos nojentos das grandes máquinas de guerra da NATO. Indivíduos sub-humanos – já que estão tão recheados de desumanidade e tão robotizados.

Os casos de assassinatos de civis por pilotos da NATO, por exemplo, vem de há muito. Avulso lembremo-nos de um comboio com quase duas centenas de pessoas – mulheres, homens, crianças, novos, velhos… Foi na guerra no leste europeu com a Sérvia… Mas as vidas roubadas pela NATO, vidas de civis, explana~se por todo o lado onde capricha nas suas ações terroristas – a não ser que matar civis inocentes não seja terrorismo. Bem, mas para uns ações desse género é terrorismo - desde que os EUA e a cultura ocidental considere conveniente - mas se forem práticas da NATO não é. Não é?

E lá temos o terrorismo no Afeganistão, no Iraque, agora na Líbia… Tudo com o selo de garantia dos EUA, principalmente coadjuvados pelas mini-potências europeias – Inglaterra, França e Alemanha.

Os norte-americanos, as elites, os generais acowboiados, as sucessivas administrações e um número razoável da população robotizada decerto que dormem na paz dos anjos, independentemente de terem no seu historial de mortandade e de invasões de outros países muitos milhares de mortes de inocentes, talvez milhões. O mesmo parece estar a acontecer com os ingleses, os franceses e… os alemães (cuidado com estes e com a exumação de um Hitler que para uns quantos já tarda em reaparecer).

Mas, e os portugueses conseguem dormir sem pesadelos? Parece que não. E não é só por causa da Crise Nacional e das agruras nacionais causadas por políticos pulhas. Quer parecer que lá bem no fundo do subconsciente moram culpas por Portugal fazer parte de uma organização ao serviço dos EUA que anda a assassinar civis inocentes a eito em nome da “paz”, da “democracia”, da “ajuda humanitária” e de todos esses epítetos hipócritas empregues por militares e políticos que são principais autores dos crimes que praticam contra a humanidade. Por vezes de modo muito mais efetivo que aqueles que denominam de terroristas. E são, eles também são terroristas. Uns e outros. Terroristas são todos aqueles, pessoas, organizações ou países, que aterrorizam as populações. A NATO também o faz.

A subserviência da ONU e do seu Secretário Geral, Ban Ki-moon, o Conselho de Segurança (terrorista) da ONU, todos os que de algum modo são a elite daquele circo mundial venerando, obediente e agradecido aos EUA, decerto que também dormem que nem Paxás. Por isso deliberam intervir aqui e ali. Agora na Líbia. Quantas vidas de inocentes já ceifaram? E dormem descansados, os da ONU? Também? Se o conseguem revelam bem lá no fundo mentes criminosas com terrível privilégio de usarem e abusarem de imunidades inadmissíveis.

Sabemos que Kadafhi é um monstro, sem dúvidas. Sabemos que alberga no seu grupo próximo outros monstros que o servem e se servem à custa da miséria do povo líbio. Sabemos que são grandes assassinos. Sabemos que os líbios têm uma vida terrivel sob ditadura. Mas não tem sido os EUA e seus comparsas criminosos de outros países europeus que têm apoiado o ditador Kadafhi? A esse como a muitos outros ditadores pelo mundo fora? Quem tem apoiado os ditadores africanos? Os EUA e aliados. Tal qual como a Rússia e a China. Mas estes últimos, segundo é dito no ocidente, têm democracias muito dúbias. E têm. Pois têm. Mas o ocidente também tem espécies de democracia muito dúbias. Tão dúbias que só existem porque manipulam os cidadãos e andam por aí a assassinarem civis inocentes a eito sem que nos seus países os questionem e impeçam as suas práticas assassinas. Sem que lhes exijam que usem estratégias inteligentes e pacificas para levar a justiça e a democracia aos outros povos. Que é o que pretextam os EUA, quererem levar aos afegãos, aos líbios, aos iraquianos, etc… Pretextam e mentem.

Os EUA deviam de ter vergonha de uma vez por todas das horrendas ações que tem praticado contra os povos do mundo. Contra, por exemplo, os da América do Sul. Logo ali no seu “quintal das traseiras”. Mas sobre isso Obama demonstrou não se envergonhar. Ainda agora, há cerca de dois meses, em périplo por vários países sul-americanos se recusou a apresentar desculpas aos povos pelas políticas dos seus criminosos antecessores criminosos – o que faz de Obama um descarado apologista daqueles crimes. São centenas de milhares no Chile, no México, no Brasil, no Peru… Tantos, em tantos países. Crimes hediondos e apoios descarados aos ditadores assassinos. Ainda hoje a política dos EUA naquele continente – como nos outros – vai nessa direção: apoiar ditadores com aparência de democratas. Em África, em Angola, temos o exemplo de Eduardo dos Santos, próximo da lusofonia… Muitos outros ditadores existem por todo o mundo com o apoio e cumplicidade dos EUA e dos países ocidentais. Entre os quais Portugal. Agora mesmo, na administração Obama, está a ficar cada vez mais claro que os EUA são a super-potência desprezível que arrasta outros países para o desprezo pelas vidas dos povos, incluindo a vida dos norte-americanos do mais baixo estrato social – que são aqueles que em completa maioria se incorporam no US Army e depois enviados para as frentes de batalha. Aos milhares regressam em sacos de plástico fúnebres sem perceberem que participaram numa guerra à priori perdida para os EUA e elites desonestas e desumanas a que Obama, como tantos outros, aderiu.

A eleição de Obama foi uma esperança. Presentemente é uma desilusão e até um temor. Quase todos o encarámos com carinho. Iludidos. Até foi galardoado com o Nobel da Paz sem ter feito um mínimo de esforço por isso – o colégio Nobel anda há muito tempo ao sabor do estapafúrdio e não acerta uma.

Agora vimos e sentimos que afinal está ali um Obama Homem de Guerra. Tão vil e tão cobarde quanto muitos dos seus antecessores ou muitos dos que o rodeiam. Alguém que assume representar o polícia, o juiz, o carrasco e o cangalheiro sem problemas de consciência – como ele o fez relativamente a Bin Laden - vindo em seguida evocar justiça, direitos humanos, democracia, liberdade… Obama, um escroque. Como a maioria dos políticos da atualidade. Ele é mais um, a juntar aos que na Europa o são há muito. Quase todos eleitos e consentidos pelos povos ocidentais, os dos países da NATO.

De Portugal recordo Durão Barroso e as mãos sujas que mantém por via do Iraque e de todo o apoio, mentiras e omissões que proporcionou oferecer-se a Bush, outro criminoso… Mas em Portugal há muitos mais destes recos de focinho achatado que não se cansam de chafurdar em busca de seus interesses pessoais e visivelmente egoístas. Durão Barroso, por exemplo, nunca imaginou vir a ser tão bem “pago” pela sua ação de apoio ao terrífico e nefasto Bush. Aquele seu lugar na UE cheira a imensos cadáveres.

Foi-se Bush e agora sobra um Obama. Os genes de mentes criminosas não escolhem a pigmentação das peles. As peles são apenas as capas de invólucros de aspeto humano… Que escondem imensas vezes seres desumanos.

Paz. Queremos paz para os povos. Na ONU resolvam as diferenças pelo diálogo ou em duelos entre eles, os das elites. Os sabujos que decidem a Guerra com a maior das displicências e segundo as conveniências, opções e decisões dos EUA. Um nariz de palhaço em Ban Ki-moon seria uma grave ofensa para a dignidade e maravilha que são os palhaços. Algo achatado e próprio para a chafurda decerto que lhe assenta bem, só que tem de corresponder a um invertebrado, rastejante, como Ban e outros dos séquitos.

E eis então, nesta longa prosa, que chega a hora de mostrar a NATO no seu vocacional sentido de defensora das liberdades, da democracia, da justiça… Tudo tangas. Mentiras. Deixar morrer dezenas de pessoas em alto-mar foi só mais uma demonstração do desprezo pelas vidas dos cidadãos plebeus, e prova de uso dos seus resquícios racistas e desprezíveis de muitos sub-militares da NATO. Veja-se a notícia.

A notícia é do The Guardian e vem colada já a seguir. Mais uma ação terrorista da NATO sem disparar um tiro. Mais uma mostra da sua propensão para desprezar as vidas de inocentes e indefesos cidadãos do mundo. Bem pode agora a NATO desmentir que essa tem sido a sua desprezível vocação. Bem pode agora vir manipular aqui e ali, por todo o mundo… Claro que os do The Guardian não são loucos, nem anti NATO, e as fontes deles também não. O que podemos admitir é que haverá no plantel militar da NATO generais e outras patentes importantes ou menos importantes que são loucos mascarados de mentes sadias e humanas, justas e democráticas. Quando estes se juntam com políticos do mesmo calibre – que é o que não falta – estamos tramados. Que é o que os povos estão. Tramados e sem poder dormir em paz. Dormimos quando morrermos. Graças à NATO e aos Obamas. Será o sono dos justos e injustiçados.

Notícia do jornal britânico "The Guardian" acusa aliança de não socorrer migrantes africanos

NATO nega ter deixado morrer migrantes no Mediterrâneo


A NATO desmentiu “categoricamente” a acusação, feita pelo jornal britânico "The Guardian", de ter deixado morrer de 61 migrantes africanos, que foram deixados à sua sorte num barco no Mediterrâneo, depois de alertarem a Guarda Costeira italiana e terem passado por um porta-aviões da Aliança Atlântica.

Segundo o diário britânico, a embarcação com 72 passageiros, incluindo mulheres, crianças e refugiados políticos, tinha saído de Trípoli, Líbia, para a ilha italiana de Lampedusa quando se viu em apuros. Fizeram soar alarmes, pediram ajuda da guarda costeira italiana e tentaram contactar um helicóptero militar e um navio da NATO... mas não houve qualquer tentativa para os socorrer.

Depois de 16 dias, 68 dos ocupantes do navio estavam mortos. Onze chegaram a terra, mas dois morreram pouco depois. Nove sobreviveram para contar a história. “Todas as manhãs acordávamos e encontrávamos mais corpos. Deixávamo-los no barco durante 24 horas, e depois atirávamo-los ao mar”, contou Abu Kurke, um dos sobreviventes. “Nos últimos dias, já não nem sabíamos quem éramos.. Todos estavam a rezar, ou a morrer.”

Lei marítima obriga a ajuda

“Houve uma renúncia da responsabilidade que levou àmorte de 60 pessoas”, acusou Moses Zerai, um padre eritreu em Roma que dirige uma organização de refugiados e que esteve em contacto com o navio pelo telefone satélite da embarcação, enquanto a bateria deste durou. “Isto é um crime, e um crime não pode ficar sem castigo só porque as vítimas eram migrantes africanos e não turistas num cruzeiro.”

A lei internacional marítima, sublinha o "Guardian", obriga a qualquer navio, incluindo unidades militares, a prestar auxílio a outras embarcações em dificuldades sempre que possível. Uma porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os refugiados pediu mais cooperação dos navios comerciais e militares. “O Mediterrâneo não se pode tornar no Wild West”, comentou Laura Boldrini. “Os que não ajudam as pessoas não podem continuar impunes.”

As revoltas e instabilidade em países do Norte de África levaram a um aumento do número de pessoas que tentam chegar à Europa de barco – nos últimos quatro meses, acredita-se que 30 mil migrantes tenham tentado atravessar o Mediterrâneo de barco. Muitos morreram.

Ninguém admite contacto com barco

Este barco tinha saído de Trípoli a 25 de Março levando 47 etíopes, sete nigerianos, sete eritreus, seis ganeses e cinco sudaneses. Havia 20 mulheres e duas crianças pequenas – uma delas tinha apenas um ano.

No caminho para Lampedusa, quando estava no mar há apenas 18 horas, a embarcação começou a ter problemas e a perder combustível.

O “Guardian” reconstruiu a história com base em testemunhos dos sobreviventes e pessoas que estiveram em contacto com o barco. Os migrantes começaram por contactar o padre Zerai, que alertou a guarda costeira italiana – que lhe assegurou que tinha dado o alarme e que as autoridades estavam a par da situação.

Um helicóptero militar apareceu pouco depois e forneceu pacotes de bolachas, água, e deu indicações de que o barco deveria manter-se na sua posição até chegar um navio de ajuda. Mas nenhum país admite ter mandado este helicóptero.

Itália diz ter avisado Malta para o barco, Malta nega ter tido qualquer contacto com os migrantes.

O capitão ganês, não vendo sinais do navio de auxílio prometido, decidiu que poderia chegar a Lampedusa com os 20 litros de combustível que ainda tinha. Mas dois dias depois de ter partido da Líbia tinha perdido o rumo, ficado sem combustível, e estava ao sabor da corrente.

O porta-aviões da NATO

A corrente levou-o para perto de um porta-aviões da NATO, tão perto que seria impossível não terem sido vistos. O “Guardian” tentou descobrir que navio da NATO seria este, e descobrindo que o Charles de Gaulle operava no Mediterrâneo nestas datas, tentou obter comentários. Recebeu uma resposta dizendo que o porta-avião francês não estava no local. Confrontado com notícias que falavam da presença do Charles de Gaulle na região na altura, um porta-voz da NATO recusou-se a fazer comentários.

Entretanto, a organização já disse que apenas um navio italiano, o Garibaldi, estaria relativamente perto do local e negou categoricamente que tivesse tido conhecimento de qualquer embarcação em apuros, lembrando que navios da organização já salvaram "centenas de vidas" no mar. Sobreviventes contaram, pelo seu lado, que dois aviões saíram do porta-aviões e sobrevoaram o seu barco. Alguns mostraram os bebés esfomeados, tentado despertar a atenção de alguém. Mas não houve resposta. As correntes levaram de novo o barco para longe do porta-aviões. E sem combustível, comunicações ou comida, as pessoas começaram a morrer.

“Guardámos uma garrafa de água para os bebés, e continuámos a alimentá-los depois da morte dos pais”, contou Kurke, um etíope de 24 anos, que fugia do conflito étnico no seu país, e sobreviveu bebendo a própria urina e comendo pasta de dentes. “Mas depois de dois dias os bebés acabaram por morrer, porque eram tão pequeninos”.

O barco acabou por chegar a uma praia na costa da Líbia, perto de Misurata, com onze sobreviventes. Um morreu quase de imediato ao chegar a terra, outro morreu pouco depois na prisão – os sobreviventes foram detidos pelas forças de Khadafi e ficaram na prisão durante quatro dias.


Os últimos nove sobreviventes estão agora escondidos na casa de um etíope na capital líbia. E consideram tentar, de novo, chegar à Europa. Por barco.

*Original publicado pelo autor em PÁGINA LUSÓFONA. Revisão de BEATRIZ GAMBOA para Página Global

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