sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O BES, RICARDO SALGADO, O PRESIDENTE CAVACO E A AÇORDA ALGARVIA



Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Os mais antigos decerto que têm por conhecimento que se dizia dos algarvios que tinham uma gaveta para esconder o prato da comida se alguém durante as refeições lhes batesse à porta para assim não verem que estavam a comer sem oferecerem. Era a avareza, era a ganância, chamem-lhe o que quiserem. Até podia ser uma atitude causada pelas dificuldades miseráveis em que muitos sobreviviam. Nunca tive a confirmação da veracidade desta versão sobre os algarvios. O que não impede que no Algarve, como em qualquer outra região de Portugal e do mundo existam avaros e gananciosos que escondem nas gavetas de facto e nas gavetas da memória ou da omissão e da mentira determinadas verdades que consideram não lhes ser favoráveis nos perfis ou até prejudiciais. Por isso reservam o segredo para que não lhes caiam as paredes na lama. Ou reservam-no porque sim. Porque é de sua convicção e postura na vida.

O presidente da República, Cavaco Silva, é algarvio. Um algarvio que transparece no seu semblante de mouro (provavelmente até tem talacémia). E é Silva. Como se sabe, pela história, os cristãos novos foram batizados com nomes de plantas, árvores fruteiras, arbustos, etc. Digamos que é um algarvio dos quatro costados. Talvez que pudesse esclarecer sobre a “história” da gaveta em que escondiam o prato da comida se visitas os surpreendessem quando consumiam a refeição. Mas conhecendo-o, como o conhecemos, para ele isso é um segredo guardado a sete chaves. Provavelmente porque consideraria que isso lhe mancharia o perfil na qualidade de algarvio. E daí talvez não. Pode ser que a “história” nem corresponda à realidade de então.

O que podemos é ficar cientes de que segredo é mesmo segredo para Cavaco Silva. É algo reservado que nunca será tornado público. Ele pode falar, falar, referir vacas que riem e até meter os pés pelas mãos com o propósito de ficarmos a saber o mesmo: nada.

Aparentemente nem todos os portugueses estão conscientes de como Cavaco Silva “funciona”. Só por essa falta de conhecimento é que deputados na comissão de inquérito ao BES se propõem que Cavaco, o PR, revele o que foi conversado nas duas visitas de Ricardo Salgado à Presidência da República. Qual o propósito? Senhores deputados, o melhor é tirar o Cavaco da chuva… Perdão. O melhor é tirarem o cavalo da chuva. O que querem saber está na gaveta de facto ou na da memória e dali não sai. É segredo. É reservado.

Pouco importa a Cavaco Silva que representantes dos portugueses, deputados eleitos democraticamente, queiram inquirir sobre um vigarista que era Dono Disto Tudo (Salgado) e que mantinha conversas com o presidente da República. Segredo é segredo e dá jeito que assim seja. Aliás, Cavaco e banqueiros são unha com carne. Vimos por Ricardo Salgado – que doava milhares e milhares para as campanhas eleitorais de Cavaco – assim como vimos no caso do banqueiro BPN que vendeu ações a Cavaco e à sua filha. Ações que depois lhes comprou por um valor muito superior, com prejuízo próprio, mas que para Cavaco e filha representou um lucro de muitos milhares de euros. Porquê? É segredo. É reservado. Afinal, o banqueiro, Oliveira Costa (outro cristão novo) era e é seu amigo de longa data. O facto de estar envolvido em crimes de burla e de branqueamento de capitais nada tem de depreciativo numa amizade. Muito menos quando se é presidente da República e se foi primeiro-ministro por uma década e esse banqueiro secretário de estado do seu governo. É crime? Não. Isso não. Nada disto é crime. Só que há certas coisas que são segredo.

Não por acaso, Cavaco já declarou o que tinha a declarar aos jornalistas. Leia na prosa retirada da TSF que se segue. Cavaco Silva afirmou não ter “esclarecimentos adicionais a prestar”. E pronto. Disse. Agora só deve falar lá para a Páscoa sobre os coelhinhos e os ovinhos da quadra. Os deputados, os representantes dos portugueses que se lixem. E até os portugueses que lhe querem violar os segredos. Esse ato de violação é considerado tão grave quanto violarem a gaveta com a açorda à algarvia e exclamarem: “Ah! Afinal estavas a comer e não convidavas, não partilhavas.” Lá se ia o perfil imaculado. Fiquem com Cavaco na TSF.

Cavaco Silva diz não ter mais esclarecimentos a dar sobre BES

O Presidente da República, Cavaco Silva, reiterou hoje que todas as audiências que concede são reservadas e considerou não ter esclarecimentos adicionais a dar sobre o Banco Espírito Santo (BES).

Questionado sobre a carta endereçada pelo antigo presidente executivo do BES Ricardo Salgado à comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, onde revela que se reuniu duas vezes em 2014 com o Presidente da República tendo alertado Cavaco Silva sobre os «riscos sistémicos» envolvendo o Grupo Espírito Santo (GES) e o BES, o chefe de Estado repetiu inúmeras vezes que tudo o que se passa nas audiências que concede «é reservado».

«Sempre foi regra na Presidência da República e hei de mantê-la que tudo o que se vai dizer ao Presidente da República é reservado», afirmou Cavaco Silva.

Notando que sempre que «o presidente de um grande banco» pede uma audiência ela é concedida, à semelhança do que acontece com outras entidades, Cavaco Silva relevou que já recebeu «os presidente de todos os grandes bancos e várias vezes».

«Faz parte da função do Presidente da República e seria mau se não o fizesse, porque senão estaria a desprezar o conhecimento que deve ter da realidade nacional», disse, sublinhando que ao longo dos seus dois mandatos em Belém já concedeu mais de 2.500 audiências e, em todas, é mantida «a reserva total do que ali se passa».

Interrogado sobre se vai responder às questões dos deputados do PS, do PCP e do BE da comissão de inquérito BES/GES sobre as reuniões tidas em 2014 com Ricardo Salgado, Cavaco Silva afirmou não ter «esclarecimentos adicionais a prestar», desde logo porque o chefe de Estado «não tem nenhuma competência executiva, não toma nenhuma decisão em relação ao sistema financeiro ou outras áreas».

Reiterando nunca revelar o que se passa nas audiências que concede, quer sejam privadas ou públicas, o Presidente da República adiantou ainda que as informações mais importantes que recebe são do Governo e que em primeiro lugar é informado pelo executivo.

Sobre a possibilidade de lhe terem sido entregues documentos «por parte dos bancos», Cavaco Silva insistiu que não tem poderes executivos, mas que, caso tenham sido deixados alguns documentos, eles vão para os arquivos da Presidência da República ou estão junto dos assessores de Belém.

Cavaco Silva, que falava aos jornalistas no final de uma cerimónia na Gare Marítima de Alcântara, onde se assinalou o 30.º aniversário da empresa de navegação Transinsular, lembrou ainda afirmações de jornalistas e políticos sobre as declarações que fez em Seul, na Coreia do Sul, em julho, quando questionado sobre o caso do BES.

«Na Coreia do Sul não fiz nenhuma declaração sobre o BES, fiz três afirmações sobre o Banco de Portugal», frisou, notando que é o único político em Portugal que «tudo o que diz» é depois colocado no site da Presidência da República.

Na ocasião, o Presidente da República referiu que o Banco de Portugal tinha atuado «muito bem» a «preservar a estabilidade e a solidez» do sistema bancário português e disse considerar que os portugueses podiam confiar no BES «dado que as folgas de capital são mais do que suficientes para cobrir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa».

Um mês de depois de ter proferido estas declarações, a Presidência da República divulgou, «por uma razão de transparência», a transcrição na íntegra das respostas de Cavaco Silva aos jornalistas a propósito do Grupo Espírito Santos.

Para além do BES, o Presidente da República escusou-se a especular sobre o futuro na Grécia depois da vitória do Syriza, mas lembrou que a política económica de cada Estado da União Europeia é «matéria de interesse comum».

«O resultado de umas eleições livres e democráticas tem de ser respeitado. O Presidente da República em público não deve especular sobre aquilo que pode acontecer no futuro».

«Devemos esperar pelas entidades competentes europeias que irão analisar essas políticas anunciadas ou que vão ser aprovadas pelo Governo grego e se elas se conformam ou não com regras comunitárias», referiu o chefe de Estado, que falava aos jornalistas no final de uma cerimónia na Gare Marítima de Alcântara, onde se assinalou o 30.º aniversário da empresa de navegação Transinsular.

TSF

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RISCO DE POBREZA EM PORTUGAL AUMENTA E AFETA QUASE DOIS MILHÕES




O risco de pobreza continuou a aumentar em Portugal em 2013, afetando já quase dois milhões de portugueses, de acordo com os dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, esta sexta-feira, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística.

Segundo os dados do INE, 19,5% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2013 face aos 18,7% do ano anterior, apesar de ter existido um aumento dos apoios sociais às situações de doença e incapacidade, família ou desemprego.

As estatísticas do INE assinalam ainda que, apesar de o aumento do risco de pobreza ter abrangido todos os grupos etários, foi maior nos casos dos menores de 18 anos, tendo o risco de pobreza passado de 24,4% em 2012 para 25,6% em 2013.

"A presença das crianças num agregado familiar está associada ao aumento do risco de pobreza, sendo de 23,0% para as famílias com crianças dependentes e de 15,8% para as famílias sem crianças dependentes", adianta o INE.

As famílias monoparentais e os agregados com três ou mais crianças foram os que registaram maiores taxas de risco de pobreza (38,4%), enquanto os agregados com três ou mais adultos e com crianças dependentes viram o seu risco de pobreza aumentar cinco pontos percentuais entre 2012 (23,8%) e 2013 (28,8%).

Os dados revelam ainda aumentos do risco de pobreza das pessoas com emprego (10,7%, mais 0,3 pontos percentuais face a 2012) e dos reformados (12,9%, mais 0,2 pontos percentuais face a 2012).

Em 2013, o risco de pobreza atingiu com maior impacto as mulheres, segundo o INE, apontando um risco de pobreza feminino de 20,0% face a 18,9% para os homens.

Entre os desempregados, o risco de pobreza atingiu os 40,5%, consolidando-se a tendência de aumento que vinha desde 2010.

O fosso entre ricos e pobres voltou a acentuar-se, passando de 6,0 em 2012 para 6,2 em 2013. Os rendimentos dos 10% da população com maiores recursos foi 11,1 vezes superior ao rendimento dos 10% da população com menores recursos (10,7 em 2011 e 9,4 em 2010).

O inquérito do INE apresenta ainda dados provisórios relativos a 2014 sobre à situação de privação material, adiantando que nesse ano 25,7% dos residentes em Portugal viviam em privação material e 10,6% em situação de privação material severa, dados semelhantes aos registados no ano anterior.

As famílias com crianças são às que mais frequentemente se encontram em privação material (26,3%) e em privação material severa (11,3%).

Entre a população em privação material e privação material severa, 55,5% das pessoas não conseguiam pagar uma semana de férias por ano fora de casa, 42,2% das pessoas não conseguiam assegurar o pagamento imediato de uma despesa inesperada de cerca de 400 euros e 28,3% não tinham capacidade para manter a casa aquecida.

O INE analisou ainda a taxa de risco de pobreza ou exclusão social, que conjuga a taxa de risco de pobreza com a privação material severa e a intensidade laboral "per capita" muito reduzida (menos de 20% do tempo de trabalho possível), concluindo que este atinge em 2014 mais de um quarto da população (27,5%), valor idêntico aos registados em 2012 e em 2013.

Jornal de Notícias

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NOVO GOVERNO GREGO ANUNCIA QUE NÃO RECONHECE A TROIKA COMO INTERLOCUTORA



Opera Mundi, São Paulo

Ministro grego disse que, por isso, não negociará com comissão; Alemanha pediu realização de reformas e sinalizou que poderá suspender a ajuda ao país

Diante do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, em visita à Grécia para discutir a situação econômica do país, o novo ministro de Finanças, Yanis Varufakis, afirmou nesta sexta-feira (30/01) que não pretende cooperar com a troika (formada por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) e que ela não é uma interlocutora válida.

"Não temos intenção de trabalhar com uma comissão que não tem razão de existir, inclusive desde a perspectiva do Parlamento Europeu", disse Varufakis ao lado de Dijsselbloem.

Principal credora do país, a Alemanha afirmou, também hoje, que se as medidas anunciadas pelo Syriza forem implementadas, estudará a continuidade da ajuda: “estamos dispostos a trabalhar com a Grécia… mas não forçaremos nossa ajuda a Atenas”, afirmou nesta sexta o ministro de Finanças alemão, Martin Jaeger.

De acordo com Jaeger, uma extensão da ajuda ao país só é possível se forem realizadas reformas.

O governo grego, por sua vez, reafirmou nesta sexta que não vai pedir um prolongamento do plano de resgate.

Varufakis ressaltou que o governo do Syriza "foi eleito com um programa que não admite o atual plano de resgate e nem que a dívida possa ser paga", mas ressaltou que sua intenção é cooperar plenamente com os parceiros europeus.

Já Dijsselbloem lembrou que o programa de resgate "se estende até o final de fevereiro". De acordo com o representante do Eurogrupo, "antes disso, decidiremos o que será feito. Não há nenhuma conclusão ainda".

A dívida grega é de 317 bilhões de euros, o equivalente a 175% do PIB. O país helênico tem até o dia 28 de fevereiro para negociar com a UE um novo pacote do resgate. Dois resgates já foram realizados, um em 2010, e outro em 2014, totalizando 240 bilhões de euros.

O ministro grego chegou a propor a Dijsselbloem a realização de uma conferência internacional sobre a dívida grega, mas a resposta foi taxativa: "esta conferência já existe e se chama Eurogrupo”.

Neste domingo (1º/02), Varufakis iniciará uma série de viagens, passando por Londres, Paris e Roma. “Tentaremos  convencer todos os nossos sócios na Finlândia ou em outros países de que devemos encontrar uma solução que beneficie o interesse comum europeu”, afirmou.

O representante dos países da zona do euro disse ainda que o Eurogroupo "está comprometido em apoiar a Grécia na condição de que a Grécia cumpra com suas promessas” e ironizou: “os problemas da economia grega não desapareceram com as eleições" de domingo, quando o Syriza venceu com um programa antiausteridade.

Rússia

Enquanto a União Europeia pressiona o governo grego pelo pagamento da dívida tal como ela está definida atualmente, sem auditoria, como propõe o Syriza, a Rússia tem buscado uma aproximação com o país.

Após o governo grego criticar a ameaça da UE de ampliar as sanções impostas à Rússia, o ministro de Economia russo, Anton Siluanov, sinalizou nesta quinta (19/01) que seu país está disposto a ajudar financeiramente Atenas, caso seja solicitado, como afirmou em entrevista à CNBC.

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FAZER POLÍTICA SEM ESQUECER A HISTÓRIA



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Na noite de domingo, perante a expressiva vitória do Syriza, a unanimidade reinava, com raras exceções, entre os comentadores do costume. Alexis Tsipras e os seus camaradas radicais, obviamente, iriam optar pela moderação. A primeira reunião do novo Governo grego, dois dias após o ato eleitoral, mostrou o contrário.

"O povo grego não é um povo complacente/ O fogo disparado sobre ele é-lhe vitória/ Os mais pequenos entre eles são loucos/ Por liberdade razão e sua força", escrevia Paul Éluard, num poema dedicado ao general Markos Vafiades, um dos resistentes à ocupação nazi. A história, tantas vezes esquecida, nesta crise que atravessa a velha Europa.

Não serão loucos os homens do Syriza. Na dura negociação com as instituições europeias, agora encetada, têm com certeza trunfos a lançar. E sabem: se eles têm muito a perder, a Europa também perderá. Os dados, enfim, estão lançados. A Grécia é europeia, não quer sair da Europa. Isso parece claro. Mas a saída pode não ser um drama tão grande como nos querem fazer crer.

Atenas, e foi essa a resposta dada pelo povo grego nas eleições de domingo, não está refém de Bruxelas. Tem para onde se virar. A posição grega, ontem expressa, de poder vetar as sanções à Rússia, por causa da crise da Ucrânia, é o sinal claro de que há alternativa.

Os gregos não esquecem a história. E os primeiros atos públicos de Alexis Tsipras, logo após ter assinado o compromisso enquanto primeiro-ministro, no palácio presidencial, não deixam dúvidas: um encontro com o embaixador russo acreditado em Atenas e uma homenagem, com grande força simbólica, aos gregos mortos durante a ocupação nazi. Se a Europa falhar, a Rússia está ali à porta.

Espancamento: Comandante das forças armadas são-tomenses coloca lugar à disposição




O chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas são-tomenses anunciou hoje que vai colocar o cargo à disposição, na sequência do escândalo do espancamento de um civil na parada do quartel-general.

O anúncio foi feito pelo porta-voz do Conselho Superior de Defesa Nacional (CSDN), coronel João Quaresma Bexigas, no final de mais uma reunião deste órgão destinada para debater o escândalo.

"Na sequência das discussões de hoje, fomos informados pelo senho brigadeiro Justino Lima que iria colocar o seu lugar à disposição", disse o porta-voz.

Questionado sobre a data em que o cargo será efetivamente colocado à disposição, o porta-voz respondeu: "Isso só dependerá do brigadeiro", acrescentando que o governo "aceitou essa posição".

Justino Lima, nomeado para o cargo em finais de fevereiro de 2014, está envolvido, juntamente com outros oficiais do exército, num caso de espancamento de um delinquente, Abidu Nagi na parada do quartel-general do Exército e cujas imagens foram colocadas nas redes sociais.

O caso aconteceu a 08 de setembro do ano passado e há cerca de duas semanas foram divulgadas nas redes sociais.

O ato foi considerado como "um incidente muito grave" pelo ministro da Defesa e do Mar, Carlos Stock, tendo o primeiro-ministro Patrice Trovoada pedido ao Presidente da República, Manuel Pinto da Costa, a convocação com caracter de urgência de uma reunião do CSDN.

A primeira reunião deste órgão, que decorreu na passada segunda-feira, foi inconclusiva.

Lusa, em Notícias ao Minuto

A GOROROBA BRASILEIRA E O AJUSTE À GREGA




Decididamente, o diagnóstico do ministro das finanças do governo Syriza é diferente do que pensa seu congênere brasileiro, o ministro Joaquim Levy.

Saul Leblon, editorial – Carta Maior

A Grécia não é apenas um bloco monolítico de oprimidos, acossados pelo poder financeiro externo, sob o açoite de Frau  Merkel.

Por trás das multidões desesperadas que afluíram às ruas e cercaram o parlamento nos últimos anos, tentando retomar o controle do seu destino, até o desenlace eleitoral deste domingo,  existe a história pedagógica de  um conflito entre a maioria da sociedade e os que detém a riqueza dentro dela.

Nisso a tragédia grega é um clássico.

Condensa o desatino de muitas nações nos dias que correm.

Seu impasse resultará insolúvel se for encarado apenas como um confronto com  banqueiros obstinados em ordenhar juros de uma dívida impagável de 330 bilhões de euros.

Não que essa dimensão do enredo seja negligenciável.

Em uma população da ordem de 11 milhões de pessoas, a dívida grega equivale a uma cota da ordem de 30 mil euros por habitante.

Algo como R$ 350 mil reais por família composta de casal e dois filhos.

A chance de que haja um adulto desempregado dentro dela é alta; um em cada quatro trabalhadores está desocupado na Grécia.

A eletricidade de um milhão de lares foi cortada por falta de pagamento.

Nesse cenário de penúria, pagar a dívida equivale a condenar sucessivas gerações a um regime de servidão às ordens da banca.

A curto prazo a queda generalizada das taxas de juros no mundo   –com exceções notáveis como é o caso brasileiro--  deve aliviar a pressão sobre o novo governo pelo lado externo.

O programa do BCE de injeção de liquidez e o alongamento da dívida grega também ajudam.

Mas a guilhotina continua focada no pescoço do país.

Qualquer solavanco nas taxas de juros internacionais faria desabar a lâmina decapitando a sociedade e o Syriza.

A alternativa real depende de uma frente progressista  que envolve  avanços políticos em toda a Europa. Pode acontecer aos saltos a partir de agora.

Meta:  substituir  a austeridade suicida da troika  por um plano Marshall de regeneração econômica da zona do euro.

É a tese de Yanis Varoufakis, economista de formação marxista, novo ministro da finança indicado pelo premiê Tsipras.

Em entrevista recente (leia nesta pág), o ministro alerta  para outra agenda imediata e imperativa, que aproveite a nova correlação de forças eleitoral para romper o núcleo duro da encruzilhada grega.

Qual?

Nas palavras de Varoufakis:  taxar os ricos e desmontar uma cleptocracia   composta de banqueiros, meios de comunicação e seus aliados no Estado.
Na Grécia,  enquanto o país apodrecia a plutocracia engordava.

A exemplo do que ocorre no Brasil, e em outros pagos,   trata-se de uma elite  alérgica à justiça tributária, cuja bandeira inoxidável, na crise ou fora dela, é a defesa desinteressada do arrocho fiscal e monetário.

Sempre em nome dos bons fundamentos da República --aqueles que  vão garantir o que lhe   interessa de fato: a proteção preventiva  contra a taxação da riqueza  e o superávit fiscal suficiente para abastecer o ralo insaciável dos juros.

Detentores de sólida endogamia com o sistema financeiro global, os endinheirados apátridas de  todas as latitudes  integram uma casta rentista que Piketty desnudou como o grande parasita do nosso tempo.

Essa gigantesca lombriga alojada no metabolismo das nações age determinada a engordar  ininterruptamente, às custas, acima  e à frente do crescimento da produção e do bem-estar coletovo.

‘Não estamos interessados apenas em voltar a 2010’, alerta  o economista Yanis Varoufakis, como a esclarecer que a crise atual já vinha sendo chocada nos ovos da ameba cosmopolia,  muito antes de explodir a desordem sistêmica em 2008.

 Nisso sobretudo, ele  tem  algo a dizer em relação ao ajuste brasileiro que parece focado  na mera restauração das condições  internacionais pré-crise de 2008  –o que de resto parece ilusório diante das novas e adversas  condições do comércio global.

Combater o privilégio tributário da elite será uma das trincheiras mais desafiadoras do governo Syriza.

‘Não é só um problema de evasão fiscal, mas sim de que grande parte da renda dos ricos nem sequer é tributada’, pontua Varoufakis puxando o fio de um outro gargalo clássico, que condensa na tragédia grega a encruzilhada de outros governos, partidos e nações.
  
Sob a sanguinária ditadura dos coronéis, que dominou o país de 1967 a 1974, a elite grega já vivia um período de fastígio e evasão fiscal ímpar.

O endividamento externo que hoje passa de 170% do PIB reflete em boa parte o complacente intercurso entre a farda truculenta e plutocracia fraudulenta.

Pesquisas indicam que sob o tacão dos coronéis menos de 100 mil abnegados pagavam imposto de renda na Grécia.

Era uma espécie de Olimpo no qual os sonegadores ocupavam o altar dos deuses.

Na democracia, uma tentativa de afrontar a evasão, com o rastreamento por satélite das piscinas nas mansões, foi driblada por uma corrida às capas de grama sintética...

Nas últimas décadas, a socialdemocracia, o Pasok,  não teve a coragem de retirar as capas que recobriam privilégios e caixas milionários dos ricos, dos bancos e dos meios de comunicação.

O endividamento externo persistiu como uma solução de menor resistência.

Em vez de arrecadar das amebas gordas, optou-se pelo endividamento externo desenfreado, em sintonia com a lógica neoliberal.

A farra da liquidez e do crédito deu solvência ao modelo.

Com a adesão grega à União Europeia os controles ficariam mais rígidos.

O Tratado de Maastricht determina que o país membro não pode ostentar déficit fiscal superior a 3% do PIB.

A saída encontrada pelos governantes e cleptocratas   foi pagar polpudas somas a consultorias e a grandes bancos norte-americanos, como a indefectível Goldman Sachs, para maquiar a lambança sem afetá-la.

Sofisticadas operações de engenharia contábil foram oferecidas ao país para persistir no endividamento público, sem afrontar Maastricht, nem tributar a elite local.

As capas de grama sintética cederam lugar a um bem urdido manto de criatividade delinquente.

Coisa típica da grande finança.

Um dos artifícios chancelados pelo selo Goldman Sachs foi penhorar receitas futuras do Estado grego, em troca de antecipações de recursos junto aos credores.

O  saque  incluiu, por exemplo,  anos e anos de taxas de embarque e desembarque em aeroportos nacionais  penhoradas  pelo Estado.

Rasparam o tacho da nação para evitar a tributação  dos bolsos gordos.

Como a antecipação de receita foi devorada pelo caminho, o futuro do tráfego aéreo, desprovido de fundos para novos investimentos, terá sérios problemas no país.

A irresponsabilidade ganha cores sugestivas quando se sabe que o turismo representa mais de 14% do PIB grego.

Agia-se como agem as elites predadoras em distintas fronteiras.

Tudo se passa como se  não houvesse amanhã, essa abstração para quem o tempo consiste no átimo de segundo que separa o dedo da operação digital em paraísos fiscais.

Durante anos foi assim que se deu.

O Estado se endividou sem registrar o rombo como déficit público, graças aos espertos petizes da Goldman Sachs  –os mesmos que hoje dão ‘suporte’ intelectual ao jogral brasileiro que reclama ‘arrocho e fim das ‘pedaladas’ nas contas fiscais do governo Dilma.

 Quando estourou a crise mundial, em 2007/8, a reversão do fluxo de crédito  pôs em xeque a ciranda grega e o déficit explodiu.

Imaginou-se inicialmente que ele seria de 10,5%.

Em 2010 verificou-se que era da ordem de 15%.

Trazê-lo à soleira dos 3%  a ferro e fogo, como se fez,  exigiu uma rendição incondicional de sucessivos partidos e governantes, até a vitória do Syriza  no último domingo.

A Grécia deixou de ser uma nação nos últimos seis anos.

Transformou-se  no grande açougue-escola do neoliberalismo.

Praticou-se ali as mais variadas modalidades de cortes (leia nesta pág. ‘Na Grécia, Levy não leva’).

Poucos foram poupados dos talhos profundos para extrair libras de carne em sentido figurado e literal.

O arrocho derrubou o PIB em 25%, produziu 27% de desemprego, elevou em 40% os suicídios, cortou em 20% as aposentadorias.

Pacotes ortodoxos  sucessivos transferiram à população –na forma de um esfarelamento de serviços, salários, privatizações e  imposto indireto—  o sacrifício de sanear décadas de ladroagem fiscal e covardia política.

Fica mais fácil entender a disposição ao risco assumida pelos eleitores no último domingo.

A principal promessa do Syriza não é apenas afrontar a troika e frau Merkel.

Mas, sim, como diz Varoufakis,  resolver um passivo histórico que remonta à conciliação das elites na transição da ditadura para a democracia.

Ou seja, redistribuir a renda e  sacrifícios até então determinados pela cleptocracia.

Soa inspirador?

Decididamente, o diagnóstico do ministro Varoufakis é  diferente do que pensa seu congênere,  Joaquim Levy,  quando se grata de restaurar a saúde das contas públicas e devolver poder de investimento ao Estado.

Num tempo em que todo capital se comporta como capital estrangeiro, as operações offshores para ludibriar o fisco constituem o novo normal das elites e grandes corporações.

Ou alguém acha que o labiríntico passeio do dinheiro frio das empreiteiras no caso Petrobrás e no do metrô tucano foi montado apenas para esse fim?

Ou imagina que  apenas elas estão envolvidas no submundo empresarial das triangulações em paraísos fiscais?

Ou, por distração,  supõe que os bancos, justo eles, zeladores do dinheiro grosso, ficariam à margem das acrobacias da ‘elisão’ fiscal  -- a sonegação untada com chantilly de legalidade?

Bradesco e Itaú-Unibanco, por exemplo.

Noticiou-se agora, economizaram R$ 200 milhões em impostos em 2008 e 2009.

Bastou registrarem parte de seus lucros no elegante e generoso Grão-Ducado de Luxemburgo, um dos mais atuantes paraísos fiscais europeus.

É apenas um caso em uma amostra de somente dois bancos.

Por que o glorioso jornalismo brasileiro não dedica a esse assunto o mesmo empenho investigativo –saudável, diga-se--  exibido em relação ao intercurso de corrupção e favorecimento entre políticos e grandes corporações?

Um pedaço da resposta talvez esteja no fato de que os cronistas também são personagens da trama que encobrem.

Exemplo recente?

A Receita brasileira concluiu no ano passado  que a gloriosa Rede Globo montou uma "intrincada engenharia" para sonegar impostos sobre os direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002.

Um blog da mídia alternativa, o bravo Cafezinho, escancarou o esquema e cobrou o DARF devido , da ordem de R$ 350 milhões.

O que aconteceu até agora?

Nada.

Ou melhor: o braço mdiático da cleptocracia local multiplicou a campanha contra os ‘blogs sujos’.  E reforçou a guerra aberta à regulação das comunicações no Brasil.
Longa vida ao ministro Varoufakis.

BRASIL ESTÁ “MAL NA FOTOGRAFIA” DOS DIREITOS HUMANOS




Human Rights Watch dá nota negativa ao país

Voz da América

A Human Right Watch (HRW), organização internacional que defende a protecção dos Direitos Humanos em todo o mundo, divulgou hoje, 29, o seu relatório anual sobre a situação dos Direitos Humanos no Brasil.

Segundo a organização, apesar de o país ser uma das democracias mais influentes da actualidade, inclusive em debates sobre os Direitos Humanos, o Governo brasileiro continua a confrontar-se com sérios desafios internamente.

Gangues criminais com acções violentas e força policial abusiva são dois dos principais problemas presentes em diversas cidades brasileiras. Tais factos ficaram evidentes durante os protestos da Copa do Mundo de 2014, quando a policia usou forca excessiva e brutal contra manifestantes pacíficos e que não apresentaram resistência.

De acordo com o relatório da Human Right Watch, outro problema muito significativo são as prisões do país, que se encontram superlotadas e violentas, o que denuncia a falência do sistema carcerário brasileiro. A organização também se refere à pratica da tortura por parte de policias e militares, que chama de problema crónico do Brasil.

Luiz Augusto Reis de Azevedo Coutinho, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, reconhece que “apesar de todo o discurso existente, o Governo brasileiro não conseguiu ainda proteger os seus cidadãos”.

A organização também menciona a liberdade à orientação sexual, que continua problemática no pais, assim como direitos trabalhistas, que, apesar de contar com novas leis e estar cada vez mais livre de trabalho forcado, permanecem com dificuldades.

Em entrevista à Voz da América, Coutinho, que também é advogado, acredita que, para mudar a situação do pais, é preciso vontade politica.

A Human Right Watch ressalta, no entanto, a participação positiva do país no cenário mundial a nível dos Direitos Humanos, estando presente em debates e a favor de medidas que protejam o direito dos seres humanos.
Entretanto, internamente, a organização ressalta que ainda existem muitos problemas e dificuldades a serem superados.

DIREITOS HUMANOS REGISTAM MELHORIAS NA GUINÉ-BISSAU




A Freedom House, organização não-governamental com sede em Washington e que monitora a liberdade no mundo, retirou a Guiné-Bissau do grupo de países não livres para parcialmente livre.

Voz da América

Numa escala de 1(melhor) a 7(pior), Bissau recebeu 5 pontos.

O analista e professor universitário guineense Pedro Murato Milaco explica assim essa melhoria.

"Há mais liberdade, as pessoas começam a tomar consciência de que há que respeitar direitos de todos, tanto por parte das forças militares e de segurança, como do cidadão", explicou Milaco.

Quanto aos demais países de língua portuguesa, a Freedom House coloca Cabo Verde e Portugal no grupo dos países livres com a classificação máxima, juntamente com Brasil e São Tomé e Príncipe, mas com dois pontos.

Timor Leste, com três pontos, e Moçambique, com quatro, integram o grupo dos parcialmente livres, enquanto Angola é o único que continua no grupo dos países não livres, com seis pontos.

ECONOMISTA ACUSA GOVERNO ANGOLANO DE GERIR MAL O DINHEIRO PÚBLICO



Coque Mukuta – Voz da América

Em Angola, várias medidas de contenção têm sido levadas a cabo para minimizar as consequências da crise financeira resultante da queda do preço do petróleo no mercado internacional.

Uma carta do Director Nacional do Comércio Externo de Angola determina a suspensão de pedidos de importação de arroz, açúcar, farinha de trigo, óleo alimentar, cimento, telhas, tijolos, bebidas alcoólicas e não-alcoólicas, feijão e carnes congeladas e ovos. Está ainda suspenso o licenciamento de exportação de sucatas ferrosas e não ferrosas.

O economista José Matuta Cuato afirma que o Estado deve também restringir muitas benesses que oferece aos ministros, secretários de Estado e chefes de departamentos.

“As despesas com os combustíveis para a frota do Estado é muito elevada, a Administração Pública tem cartões de combustíveis e quem os paga são os cidadãos, por isso penso que o sacrifício não pode ser apenas para o ´zé povinho´ mas para todos nós”, disse.

O economista sublinha que o Executivo angolano gasta muito dinheiro do erário público mas gasta mal.

“Sabemos que  o Governo gasta muito, mas também sabemos que gasta mal, é tempo de fazermos um saneamento nas nossas contas”, defendeu o economista José Matuta Cuato.

A crise financeira prevê o atraso da implementação dos programas do Governo e vários empresários contactados pela VOA em Luanda, sem gravar entrevista, disseram estar a sentir redução dos investimentos do Estado.

ISABEL DOS SANTOS? NÃO HÁ (É CLARO!) CRISE QUE A AFETE



Folha 8 (ao) Diário

Fernando Ulrich, presidente do BPI, afirmou hoje que o impacto da queda dos preços do petróleo em Angola não irá afectar os accionistas angolanos do BPI e, nomeadamente, a empresária Isabel dos Santos.

O presidente do BPI considerou mesmo que o apoio de Isabel dos Santos para o desenvolvimento dos projectos da instituição financeira, como a expansão em Angola, a compra do Novo Banco, ou o cumprimento da aplicação da regra dos grandes riscos imposta pelo Banco Central Europeu, não está em risco.

“Não penso que resulte daí nenhum problema especial”, afirmou Fernando Ulrich, acrescentando que “a Unitel [que detém 49,9% do BFA] tem uma situação fortíssima”, referiu.

“Não conheço todos os recursos do grupo Santoro e da engenheira Isabel dos Santos. A Unitel tem um investimento importante no banco. Não penso que tenha muitas actividades ligadas ao petróleo em Angola”, concluiu.

Não se sabe a razão (deve ser uma daquelas que a própria razão desconhece) que tem levado Fernando Ulrich a, por exemplo, afirmar insistentemente que não há corrupção em Angola e, a corroborar esta tese, a garantir que o banco nunca pagou comissões para conseguir negócios neste país.

“O BPI nunca pagou nada a ninguém para obter nada em troca como nem nunca ninguém nos pediu nada para fazer o que quer que fosse em troca”, diz regularmente Fernando Ulrich.

VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM ANGOLA PIOROU




O Presidente José Eduardo dos Santos é cada vez mais criticado pela "corrupção desenfreada, má governação e repressão política em Angola", revela o relatório anual da Human Rights Watch. Um cenário que tende a piorar.

Segundo o Relatório Mundial de 2015 da Human Rights Watch (HRW), as autoridades intensificaram as medidas que restringem a liberdade de expressão e voltaram a adiar as eleições autárquicas.

De acordo com a organização, a polícia continua a recorrer a "força excessiva" e detenções arbitrárias para impedir manifestações antigovernamentais.

Jornalistas e ativistas também têm sido alvo de processos em tribunal, detenções arbitrárias, intimidação e perseguição.

O cenário em Angola tem vindo a piorar, contou em entrevista à DW África Iain Levine, da HRW.

DW África: O relatório de 2015 da HRW não apresenta melhorias sobre a situação em Angola. O cenário piorou?

Iain Levine (IL): Achamos que a situação piorou. Infelizmente estamos a ver exatamente os mesmos problemas que temos enfrentado nos últimos dez anos e que o povo angolano tem enfrentado durante vários anos, como medidas repressivas, restrições da liberdade de expressão e de associação, muita corrupção. Infelizmente não registamos nenhum progresso em Angola.

DW África: A lista de denúncias da HRW continua a ser longa. São sinais de que o cenário poderá piorar este ano em Angola? Poderemos assistir a mais violações dos direitos humanos por parte das autoridades?

IL: Sim. Com certeza há a possibilidade da situação piorar, porque simplesmente não estamos a ver nenhum sinal por parte do Governo de Luanda no sentido de reconhecer que há uma necessidade de melhorar a situação e começar a reconhecer o respeito pelos direitos humanos. Não há nenhuma abertura em termos de diálogo com a sociedade civil, não existe nenhuma abertura em termos de reconhecimento da liberdade de imprensa e a importância de um jornalismo livre que possa exigir a prestação de contas por parte do Governo.

Temos uma elite política em Angola que está a beneficiar da corrupção, uma corrupção que se protege na restrição da liberdade de imprensa, ou seja, não há possibilidade de se fazer qualquer investigação sobre actos de corrupção devido a pressões e intimidação dos jornalistas.

DW Africa: Acha que a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) deveria exercer pressão para que haja reformas em Angola, um país cada vez mais influente em África e que tem um assento não permanente no Conselho de Segurança da ONU?

IL: Absolutamente. Angola é um país com um poder emergente ao nível económico-político e achamos que tanto a União Africana (UA) como as organizações regionais, neste caso a SADC, têm que exigir que os seus países-membros respeitem os seus princípios.

A SADC tem um programa em termos de direitos humanos bastante bom mas infelizmente não usa a sua infuência nem para o Zimbabué, nem para Angola e outros países que violam os direitos humanos.

E como Angola é atualmente membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU, tem, na nossa opinião, uma responsabilidade redobrada de refletir os princípios do sistema das Nações Unidas, cuja base são os direitos humanos universais.

DW África: A HRW também lamenta que quem faz negócios em Luanda tem em muito pouca consideração os atropelos aos direitos humanos e a má governação em Angola. O que é preciso mudar?

IL: Achamos que a comunidade internacional e os parceiros políticos e económicos de Angola têm que usar a influência de que gozam para insistir junto do Governo de Luanda para que respeite as leis e os direitos humanos. Têm que reconhecer que o Governo angolano não tem responsabilidades para com a sua população não só em termos de liberdade, mas também uma obrigação de partilhar os benefícios do desenvolvimento económico e os recursos naturais que tem o país. E isto não está a acontecer.

Quando, por exemplo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) não exige transparência em termos dos rendimentos das riquezas naturais está implicado na repressão e na corrupção por parte do Governo angolano. Há muito mais coisas que a comunidade internacional deverá e poderá fazer.

Um aspeto importantíssimo em termos da situação dos direitos humanos em Angola é a necessidade de se manter a pressão e a cobertura por parte dos jornalistas angolanos. Angola é um país onde não é fácil para os jornalistas exercerem a sua profissão e também não é fácil convencer os media internacionais a interessar-se pela situação em Angola. Isso faz com que o Presidente José Eduardo dos Santos possa continuar com a má governação e a repressão sem muitas críticas por parte da comunidade internacional. E isso tem que mudar.

Madalena Sampaio - Deutsche Welle

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Moçambique: Governo manifesta abertura ao diálogo e critica postura da Renamo



William Mapote – O País (mz)

O Primeiro-Ministro (PM), Carlos Agostinho do Rosário, reiterou ontem a disponibilidade do Governo em dialogar com a Renamo sobre qualquer matéria de interesse nacional, em nome da paz e estabilidade nacional.

Numa altura em que prevalece uma tensão política decorrente dos resultados eleitorais contestados pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, o PM não confirmou, nem desmentiu, a existência de negociações paralelas ao diálogo em curso no Centro de Conferência Joaquim Chissano, anunciadas semana finda pelo líder do maior partido da oposição.

“O Governo estará sempre aberto ao diálogo. Temos equipas do Governo que estão neste momento a dialogar”, disse do Rosário, no final de uma visita ao Gabinete de Informação (GABINFO).

O PM diz haver várias plataformas estabelecidas e que podem ser usadas para o diálogo, uma das quais é a Assembleia da República (AR), onde aconselhou a Renamo a mandar os seus parlamentares para tomarem posse.

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Moçambique: UMA VIDA QUE TERMINA NA RUA



Etelvina Muchanga – Notícias (mz)

Laurentina Mudleuia é uma idosa com deficiência visual, cuja idade desconhece. Perdeu o marido, oito filhos, sobrando-lhe apenas o mais novo. Para ganhar a vida, depende da esmola que pede na baixa da capital moçambicana, tal como outras mulheres da sua idade o fazem quando não têm quem as preste assistência na família.

O Notícias encontrou esta mulher na sexta-feira passada defronte do edifício do Banco  Internacional de Moçambique, do lado da Avenida 25 de Setembro, cidade de Maputo.

Sentada em um papelão, Laurentina falou-nos dos momentos felizes que viveu ao lado do marido e dos filhos e da tristeza que a amargura actualmente, embora consolada por ter pelo menos um filho vivo.

Revelou-nos que não conheceu o rosto dos oito filhos por conta da cegueira que desenvolveu depois do nascimento do primogénito. O que há na mente desta mulher são os bons momentos vividos ao lado do marido e dos filhos já perecidos.

“Fiquei pobre quando perdi o meu marido e depois os filhos. Não me faltava nada. Tinha o que comer… Não me tinha ocorrido na cabeça que um dia teria de ir à rua pedir esmola. Não é fácil, mas quis Deus que fosse assim”, precisou Laurentina Mudleuia.

A idosa vive no bairro Intaka, Município da Matola, a cerca de 20 quilómetros da cidade de Maputo. Para se deslocar à zona urbana, Laurentina Mudleuia conta com a ajuda do seu único filho que tem como renda o trabalho de lavagem de viaturas nas ruas de Maputo. 

“Saímos de casa muito cedo, caminhamos até ao terminal do Zimpeto para apanhar o carro no qual seguimos até a baixa. Ao chegar aqui, o meu filho deixa-me neste ponto e vai lavar os carros”, disse.

Acrescento que, por volta das 12 horas, dependendo do que o filho tenha conseguido no trabalho compra-lhe o almoço, água para beber e lhe leva para a casa de banho. As 15 horas regressam à casa.

“Faço esta rotina duas ou três vezes por semana, porque a distância de casa até ao terminal de Zimpeto é longa. Há dias que sinto dores dos pés, por isso, fico em casa para descansar”, explicou.

IGNORAR O IDOSO É UM ERRO

Laurentina Mudleuia é apenas um exemplo de muitas idosas que, por diversas razões, se vêm obrigadas a ir à rua pedir esmola. Algumas dessas mulheres perderam os familiares próximos, outras são vítimas de violência dos próprios filhos que as expulsam de suas casas ou não lhes garantem a assistência alimentar. Há aquelas que vão à rua somente para se ocupar e ter com quem conversar, entende Luís Ndlate, responsável adjunto do projecto mendicidade do Fórum da Terceira Idade.

“Temos pessoas que praticam a mendicidade mas não são necessitadas materialmente. Algumas sentem-se ignoradas nas famílias porque as suas opiniões não são valorizadas. Diz-se que o que a pessoa idosa fala já está ultrapassado”, sustentou Ndlate.

Baseando-se em alguns estudos, Alka Singh, responsável do projecto mendicidade do Fórum da Terceira Idade, acrescentou que alguns idosos recorrem à prática da mendicidade porque, para além de se sentirem ignorados e inúteis nas famílias onde vivem, são vítimas de violência, sobretudo psicológica.   

“As pessoas pensam que o idoso é inactivo, só dá trabalho e não pode fazer nada. Não se sentindo bem tratadas nas suas residências, as idosas acabam saindo à rua à busca de outros ambientes, onde possam ter com quem conversar e fazer algo que lhes ocupe”, referiu Alka Singh.

Em Moçambique, mais de metade da população idosa vive abaixo da linha da pobreza, apesar de ter trabalhado a vida inteira, segundo a organização internacional Help Age. A maioria dos idosos é do sexo feminino e muitos vivem sem poupança e pensões do Estado.

Quando ainda tinham forças, a maioria das idosas dedicava-se à machamba porque não tiveram oportunidade de ir à escola ou continuar com os estudos. Outras foram obrigadas a casarem-se cedo.

Estudos realizados em 2011 e 2013 pela Organização Internacional Help Age, em seis comunidades do país, indicam uma redução de casos de abuso sexual assim como de insultos, abuso físico e abandono de 5.4 para 3 por cento; de 26.9 para 20 porcento; de 10.6  para 3 por cento e de 14.3% para 3%, respectivamente. Contudo, registou-se um aumento para casos de conflitos de terra e acusações de feitiçaria de 23.5% para 25% e 21,3% para 28%, respectivamente.

A LEI JÁ AJUDA

Com a aprovação da lei para a promoção e protecção dos direitos da pessoa idosa, consciencialização das comunidades para a não-violência e do envolvimento de diversos actores sociais na causa, a vida de pessoas da terceira idade tem melhorado nos últimos tempos, segundo António Sitoe, Coordenador de Programas do Fórum da Terceira Idade.

Para Sitoe este avanço resulta do facto de aquele dispositivo legal avançar com proposta de sanções contra todos aqueles que violem os direitos da pessoa idosa, através de aplicação de penas de prisão que variam de três a oito anos, dependendo da gravidade da infracção, algumas pessoas já sabem que ao discriminarem, humilhar, abandonar ou acusar o idoso de feitiçaria podem ser sancionadas.

Para elucidar, Luís Ndlate, responsável adjunto do projecto mendicidade do Fórum da Terceira idade, contou o sucesso que o Fórum teve na resolução de casos de duas idosas. Uma estava a ser expulsa de sua casa pela nora, alegando que estava a mais. Outra era vítima de violência protagonizada pelos filhos acusada de feiticeira.

“Para o primeiro caso, o problema foi levado às estruturas locais que decidiram que a nora e o marido deveriam abandonar a casa da anciã… para o caso da idosa acusada de feitiçaria, dialogamos com os filhos e fizemos perceber que também vão atingir a idade da mãe e como é que se sentiriam indiciados de feitiçaria pelos filhos? Entenderam, a idosa continua a viver com eles e feliz”, comemorou Ndlate.

Contudo, o Fórum da Terceira Idade reconhece que ainda há muito por se fazer, sobretudo no que diz respeito à divulgação da Lei para a promoção e protecção dos direitos da pessoa idosa para que seja do conhecimento da maioria dos moçambicanos, sobretudo idosos.

PEDIR ESMOLA EM PORTUGUÊS

Conseguir algum valor na rua não tem sido fácil para muitas das idosas que diariamente, sobretudo às sextas-feiras, se deslocam à zona baixa da cidade de Maputo para pedir esmola. Algumas faltam-lhes forças para caminhar, optando por sentar-se próximo das igrejas, lojas ou semáforos. Outras que ainda conseguem caminhar palmilham de rua em rua contra todos os riscos de serem atropeladas ou violentadas, sexualmente.

Mas isto só não basta, diz Judite Macie que pede esmola na baixa da capital moçambicana há mais de três anos para cuidar dos três netos órfãos.

“No início não conseguia nada porque pedia ajuda na minha língua materna. As pessoas passavam. Até que um dia, uma amiga da rua disse-me: olha, tens que pedir em português. Aqui na cidade fala-se Português. Diga bom dia, estou a pedir, no período da manhã e boa tarde a partir das 12 horas”, fez saber Judite Macie.

Com o truque, a nossa fonte revelou-nos que consegue em média 100 meticais por dia. Com o valor compra comida, sabão entre outros produtos necessários para o sustento da família.

Judite Macie vive na Mafalala, arredores da cidade de Maputo, e teve dois filhos. Um faleceu. A filha está no lar e o pouco que oferece à mãe, segundo a idosa, não tem sido suficiente para alimentar os netos, por isso busca ajuda na rua.

OS MEUS NETOS NÃO ME DÃO COMIDA

Matilde Sitoe vive no bairro de Hulene, arredores da cidade de Maputo. O seu sustento depende da esmola. “Os meus netos têm as suas mulheres. Quando preparam as refeições não partilham comigo, embora tenham se aproveitado do meu quintal para fazer as suas casas”, lamentou a anciã, caminhando em direcção à avenida Alberto Luthuli à procura de um ponto para se sentar.

Segundo Matilde Sitoe, dos quatro filhos que teve, três perderam a vida. A única viva está no lar e lhe visita quando pode. “Ela também tem dificuldades para sustentar os filhos. No dia que me visita trás algo para mim. Enquanto isso não acontece vou-me aguentando na rua”, referiu.

Encontramos esta anciã por volta das 10 horas da sexta-feira passada, depois de ela ter saído de sua casa ao nascer do sol, isto é por volta das cinco horas da manhã.

“Não tenho dinheiro para apanhar chapa-100 (transporte semi-colectivo de passageiros, por isso caminho lentamente até chegar aqui. As outras amigas que conseguem andar um pouco mais rápido já chegaram ao destino”, disse  

FUNDOS PARA OCUPAR MENDIGOS

O Fórum da Terceira Idade está à procura de financiadores para operacionalizar um projecto de mendicidade que visa, sobretudo, ocupar e garantir auto-rendimento aos mendigos, em especial idosos, deficientes e crianças.

“A mendicidade é um problema que preocupa o fórum da terceira idade… estamos a fazer primeiros contacto a nível dos agentes económicos e outras instituições incluindo religiosas para ver se conseguimos algum apoio financeiro para a execução do plano”, fez saber António Sitoe, coordenador do Fórum.

 Numa primeira fase, o projecto prevê abranger 200 pessoas de quatro bairros, sendo dois da Matola, província de Maputo e outros da cidade de Maputo.

 Segundo a responsável do Projecto, Alka Singh, para o inicio das actividades projecta-se a distribuição de sopas e produtos de primeira necessidade aos necessitados. Depois desta fase seguirá a inclusão dos beneficiários em actividades de geração de rendimento, como a agropecuária, culinária, corte e costura.

“Essas actividades visam ocupar os idosos para deixarem de estar nas ruas a praticar mendicidade. Quando saírem de casa, ao invés de irem à rua, vão às associações nos bairros onde poderão garantir o seu auto-sustento”, referiu.

Para tal, será feito um cadastro para se saber quantas pessoas estão, quantas idosas necessitam de apoio. Os trabalhos iniciarão na cidade de Maputo e posteriormente poderão ser expandidos para as outras províncias, dependendo dos fundos a serem alocados.

“A ideia é de abranger todos bairros da cidade, sendo que no futuro pensamos em ter uma delegação em todas as províncias. O projecto vai durar seis meses e à medida que tivermos apoios, pouco a pouco vamos estendendo as actividades para outros pontos do país”, disse Alka Singh.

Actualmente, para a realização do projecto, o Fórum da Terceira Idade conta com o apoio do Conselho Municipal para a realização dos Inquéritos.

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