quinta-feira, 22 de agosto de 2013

CHICO-ESPERTICES, ANGOLANOS NOVOS-RICOS – Mia Couto

 


Ricos são como a cerveja tirada à pressão: num instante, mas a maior parte é só espuma - Mia Couto
 
Lisboa - Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos “ricos”. Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
 
"Novos Ricos angolanos": São nacionais só na aparência porque estão prontos a serem moleques de estrangeiros.
 
Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.
 
O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas.
 
O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.
 
As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.
 
Coitados dos novos ricos. São como a  cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes.
 
Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentadas com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.
 
Os nossos endinheirados às pressas, não se sentem bem na sua própria pele. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos.
 
Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.
 
A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores. Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado “a luta pelo progresso”? Os nossos novos ricos(que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país.
 
São nacionais mas só na aparência. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atractivos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros.
 
Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode ir ás compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem crianças que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação.
 
Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as/os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida.
 
Uma parte da nossa elite está pronta para realizar esse suicídio histórico.
 
Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.
 
Mia Couto - 20 junho 2013
 

IRÁ EDUARDO DOS SANTOS ADOTAR AS TESES DO SEU AMIGO MUGABE?

 


Folha 8 – edição 1155 – 17 agosto 2013
 
O presidente do Zimbabwe, Robert M u g a b e, aconselhou os opositores que estão a contestar a vitória de Robert Mugabe, nas eleições de 31 de Julho, a “enforcarem-se”. Se calhar alguns dos seus homólogos têm outras estratégias mas, ao fim e ao cabo, a finalidade é a mesma.
 
“Os que estão chocados com a derrota, podem enforcar-se, se quiserem. Nunca desistiremos da nossa vitória”, declarou o chefe de Estado zimbabueano, de 89 anos de idade, no poder há mais de 33, e agora reconduzido no mandato, por cinco anos. De nada e para nada conta o facto de tanto a oposição como os observadores locais, terem verificado várias fraudes no escrutínio. É, aliás, caso para dizer que, como noutros países, as fraudes são a alma de algumas “democracias” africanas.
 
O adversário derrotado, o primeiro-ministro cessante, Morgan Tsvangirai, do Movimento para a Mudança Democrática (MDC, oposição), apresentou um recurso aos tribunais para tentar invalidar o escrutínio, por considerar que as listas eleitorais tinham sido manipuladas de forma a favorecer a vitória de Robert Mugabe e do partido União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (ZANU-PF). A oposição, tal como os observadores, deveriam estar felizes com a crescente modéstia do presidente já que, numa clara prova da vitalidade democrática do pais, Mugabe só foi reeleito na primeira volta, com 61% dos votos, contra 34% de Tsvangirai.
 
“Apresentamos a democracia numa bandeja. É pegar ou largar, mas o povo esteve num acto democrático”, acrescentou Mugabe. Aliás, já em Junho de 2008, afirmara que o “Povo do Zimbabwe deu uma lição de democracia”. As afirmações de Robert Mugabe (ou Frankenstein, segundo Desmond Tutu) têm levado o arcebispo sul-africano e prémio Nobel da Paz, tal como já fizera Nelson Mandela, a fazer críticas ferozes ao presidente do Zimbabwe. Certo é que estas críticas de altos dignitários mundiais e vizinhos, Angola é uma excepção dado os laços de amizade entre os presidentes, não alteraram a estratégia de Robert Mugabe que, aliás, as comentou dizendo que “nem Mandela nem Tutu sabem o que dizem quando falam do Zimbabwe”. E não sabem porque são falsas as alarmantes notícias sobre a intimidação levada a cabo pelas forças do Governo para que o povo fosse votar em quem devia. Tão falsas que, diz Robert Mugabe, “a democracia funcionou e a esmagadora maioria do povo votou em mim”. Todo o mundo, com a excepção oficial de Angola, sabe o que se passa mas, mais uma vez, nada faz.
 
Em tempos, num devaneio para africano ver, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, defendeu a demissão pela força de Robert Mugabe. Mas tudo ficou por aí. Desmond Tutu, para quem, “entre outros crimes”, o presidente do Zimbabué “destruiu um país lindo que até foi um celeiro da região”, advoga até o afastamento de Robert Mugabe pela via militar.
 
Também o bispo anglicano de Pretória, Joe Seoka, considerava já em 2008 que o Presidente do Zimbabué, “deve ser visto como um Hitler do século XXI, uma pessoa sem consciência, nem remorsos e um assassino”. É claro que, do ponto de vista do regime angolano, não é correcto chamar Hitler a Robert Mugabe. Essa designação, segundo a tese oficial, tem mais cabimento quando dirigida a esse inimigo público mundial que dava pelo nome de Jonas Savimbi. Qual Robert Mugabe, qual Idi Amin, qual Jean-Bédel Bokassa, qual quê!?
 
O bispo Seoka acusou Robert Mugabe de ter provocado, durante a sua eterna governação no Zimbabwe, “estragos e mortes sem conta” e exortou África e a comunidade internacional a afastarem Mugabe do poder pela força a bem do país e do povo. “Estragos e mortes sem conta”? Se este for o barómetro, Joe Seoka tem de acrescentar muitos, mas muitos, outros nomes à listagem dos potenciais Hitleres. O responsável religioso sul-africano não poupou críticas aos dirigentes políticos da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), acusando-os de protegerem há longos anos o “camarada de ditadura” do Zimbabwe. Será caso para dizer que tanto são Hitleres os que protegem Hitler, como o Hitler propriamente dito?
 
“A liderança da SADC e as suas estruturas têm protegido o seu camarada de ditadura enquanto os líderes internacionais apelam, em número crescente, ao seu afastamento. Membros da SADC como o Botswana têm, no entanto, levantado a voz em protesto contra as violações dos direitos humanos no Zimbabwe, expressando preocupações que continuam a ser ignoradas pelos outros”, afirmou o bispo anglicano da capital sul-africana. Para o prelado, que em Luanda ninguém sabe quem é (como não sabe quem é Desmond Tutu ou Nelson Mandela) “chegou a hora de todos os líderes religiosos seguirem o exemplo de Desmond Tutu e do arcebispo de York, John Sentamu, no seu apelo a Deus para que Mugabe seja afastado da Presidência do Zimbabwe”.
 
“Ele tem de ser afastado à força para que acabe o sofrimento dos filhos de Deus no seu país”, referiu Seoka, salientando que “pedir o afastamento não adianta”. E não adiantou. Aliás, recorde-se que em Novembro de 2008, o Governo do Zimbabwe, aquele próspero e democrático país do sul de África que é na actualidade o maior exportador mundial de... refugiados, vetou a entrada no país do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Aliás, Robert Mugabe impediu a visita de Kofi Annan, do antigo Presidente norte-americano, Jimmy Carter, e da activista dos Direitos Humanos, Graça Machel, que pretendiam avaliar a situação humanitária no país em nome do “Grupo dos Anciãos”, ao qual pertencem.
 
Sejamos francos. O que eles queriam era (e é por essa e por outras que a amizade entre Eduardo dos Santos e Robert Mugabe é indestrutível) atazanar a paciência do presidente. E ele, como bom democrata que é, não está com paciência para aturar gente preocupada com uma coisa que não existe no Zimbabwe: direitos humanos. E se não existe... Harare acusou o “Grupo dos Anciãos” (criado em 2007 por Graça Machel e pelo seu marido, Nelson Mandela) de apoiar o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), o principal partido da oposição. Seja como for, Robert Mugabe parece ter razão quando afirma que só Deus o poderá demitir. Não é o único a pensar assim.
 

Abaixo-assinado em Angola, Portugal e Brasil contra adesão da Guiné Equatorial à CPLP

 


Luanda, 22 ago (Lusa) - Membros da sociedade civil e políticos de Angola, Portugal e Brasil promoveram um abaixo-assinado contra a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) como membro de pleno direito.
 
São promotores do documento, enviado hoje à agência Lusa, os angolanos Justino Pinto de Andrade, Filomeno Vieira Lopes, Nelson Pestana (políticos), Manuel Santos (sociólogo) e Telmo Vaz Pereira (artista plástico, pintor e escultor).
 
De Portugal o subscritor é Jorge Silva (autarca de Sintra) e pelo Brasil, Sónia Marisa Martuscelli (linguista), Susan Aparecida de Oliveira e Mário Arrais (docentes universitários).
 
No documento, os autores referem que se opõem à entrada da Guiné Equatorial como membro de pleno direito da CPLP, devido à existência naquele país de pena de morte, e por ser um Estado em que "não se respeitam os direitos do Homem, nem a democracia ou Estado de Direito", concluindo que "não reúne os pressupostos fundamentais para fazer parte da organização".
 
O abaixo-assinado recomenda que seja retirado Guiné Equatorial o estatuto de observador na CPLP, lembrando que os detentores desta posição "devem comungar e praticar" os princípios pelo qual foi criada a organização em 1996, ou seja, "no que se refere à promoção das práticas democráticas, à boa governação e ao respeito dos direitos humanos".
 
Os subscritores do abaixo-assinado consideram o Presidente da Guiné Equatorial, Obiang Nguema, "uma presença incómoda para a organização", acusando-o de nada fazer "para democratizar o seu regime", persistindo na "manutenção, pura e dura de uma ditadura autocrática feroz e bárbara, violando todos os princípios políticos fundamentais da CPLP, envergonhando a organização, mesmo sendo apenas membro observador".
 
"Ainda assim na Guiné Equatorial continuam as violações dos Direitos Humanos e desrespeito pelo Estado de Direito Democrático. A pena de morte continua em vigor e as prisões arbitrárias, torturas, execuções sumárias, julgamentos injustos, limitação da liberdade de expressão, de imprensa e manifestação mantêm-se como práticas correntes", acusam ainda.
 
"Perante tal situação de flagrante atropelo dos princípios da civilização defendidos pela CPLP, a sociedade civil e as igrejas dos países membros, unidos pelo espírito da liberdade, da fraternidade dos povos, da cooperação mútua e do desenvolvimento sustentado não podem ficar calados e têm o dever moral e cívico de denunciar a conivência de alguns dos Estados-membros e de se operem a este estado de coisas", refere o documento.
 
Criada em 1996, a CPLP é integrada por Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.
 
NME // JMR - Lusa
 

Guiné-Bissau: “Não devemos deixar que qualquer pessoa lidere o PAIGC” - Botché Candé

 


Botché Candé apoia candidatura de Domingos Simões Pereira
 
Bissau Digital
 
Bissau - O deputado e membro do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Botché Candé, aderiu ao colectivo de apoio ao candidato Domingos Simões Pereira, segundo comunicado enviado à PNN esta quarta-feira, 21 de Agosto.
 
Botché Candé justificou a decisão de aderir ao projecto do candidato Domingos Simões Pereira, denominado «Maior Coesão do Partido, Futuro Melhor para a Guiné-Bissau», dizendo que «já chegou o momento em que não devemos deixar que qualquer pessoa lidere o PAIGC, para amanhã vir a ser o nosso Primeiro-ministro. Queremos a unidade do partido e o desenvolvimento do país. São essas as fortes razões porque estou hoje aqui».

Sobre o candidato, o deputado reconhece que este «reúne todas as capacidades técnicas e é um líder à altura e ideal neste momento para o PAIGC».

Oriundo do Sector do Ganadu, região de Bafatá, Botché Candé aderiu ao partido através de uma mobilização da JAAC (Juventude Africana Amílcar Cabral), ainda durante a guerra, nas Zonas Libertadas. Após a independência ocupou vários cargos políticos no partido. Foi ministro dos sectores do Comércio, Indústria, Turismo e Artesanato. Actualmente é deputado, membro do Bureau Político e Coordenador da Província do Leste do PAIGC.

Outras figuras do partido, entre militantes e dirigentes, têm aderido ao Colectivo de Apoio a Domingos Simões Pereira, tais como Bacíro Dja (membro do Bureau político e ex-candidato às Presidências de 2008), Mário Dias Samy (membro do Bureau político e ex-governante), António Tomaz Barbosa (membro do partido), e Rui Diã de Sousa (membro e Presidente do grupo Parlamentar do PAIGC).

(c) PNN Portuguese News Network
 
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REGRESSO DE CARLOS GOMES JÚNIOR GERA DIVERSAS REAÇÕES NA GUINÉ-BISSAU

 

Deutsche Welle
 
As autoridades de transição afirmam que Estado garantirá ao primeiro-ministro deposto a mesma segurança que a qualquer outro cidadão. Mas vários políticos aconselham Gomes Júnior a desistir da corrida às presidenciais.
 
Carlos Gomes Júnior pode regressar à Guiné-Bissau quando entender, afirma o porta-voz do governo de transição.

Fernando Vaz considera que o regresso é “uma decisão pessoal” do primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de 12 de abril de 2012 e que desde essa época se encontra em Portugal.

No entanto, o porta-voz do executivo afasta a ideia de garantir segurança especial a Carlos Gomes Júnior: “nós estamos aqui para cumprir a lei, nós garantimos, como já dissemos várias vezes, a segurança como o Estado garante a qualquer cidadão. O senhor Carlos Gomes Júnior não é nenhum cidadão que está em cima de um pedestal, não é nenhuma estrela, é um cidadão igual a todos os outros cidadãos nacionais. É-lhe garantida a mesma segurança que é garantida a todos os cidadãos”.
 
“Cadogo”, como é conhecido no seu país, afirmou recentemente (08.08), em Lisboa, que pretende regressar à Guiné-Bissau e candidatar-se às eleições presidenciais, agendadas para 24 de novembro. Na mesma conferência de imprensa, o político mostrou-se otimista ao estimar que ganharia o pleito com 80% dos votos.

Reagindo às palavras de Gomes Júnior, Fernando Vaz, porta-voz do governo de transição, diz que se trata de “um mau pronúncio”. “As coisas devem ser transparentes, não deve haver ganhadores antecipados”, acrescenta Vaz.

O porta-voz do executivo de Bissau lança ainda outra crítica: “a comunidade internacional não devia estar calada, devia pronunciar-se nesta altura. A comunidade internacional está a fazer aquilo que sempre fez: cala a boca até haver problemas para depois interferir. Se há uma pessoa que sabe que vai ganhar antecipadamente com 80% dos votos, não vale a pena irmos a eleições”, ironiza.

Regresso de “Cadogo” é tema quente em Bissau

O regresso de Carlos Gomes Júnior à Guiné-Bissau tem sido tema de destaque na imprensa nacional. Vários intervenientes políticos aconselham o primeiro-ministro deposto a abdicar da corrida às presidenciais e a pensar seriamente na sua segurança.
 
De lembrar que a Guiné-Bissau ainda mantém a mesma estrutura militar que deteve Gomes Júnior na capital, durante vários dias, após o golpe de Estado.

Na altura, os militares interromperam o processo eleitoral. Carlos Gomes Júnior ocupava ainda o cargo de primeiro-ministro e candidatava-se à segunda volta das eleições presidenciais. Após ter ganho o primeiro turno, era apontado como favorito à Presidência.

Um dos políticos que aconselha "Cadogo" a abanonar a próxima corrida eleitoral, de 24 de novembro, é Agnelo Regala, do partido União para a Mudança (UM): “se tivessemos em conta a conjuntura que se vive no país e as implicações de uma candidatura que pudesse pôr em causa, de novo, a estabilidade, a segurança do cidadão, nós, em nome de um patriotismo que nos é próprio, talvez ponderássemos abdicar da candidatura para garantir a estabilidade. Não por cobardia mas por uma questão de bom senso” concluiu.

O PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), partido que Gomes Júnior liderava até um dia antes do início da campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais de 2012, ainda não reagiu às declarações de “Cadogo”. O assunto está em análise no seio daquela força política.
 
Mas Rui Diã de Sousa, líder da bancada parlamentar do partido que fez a luta armada contra o colonialismo português, diz que Carlos Gomes será bem-vindo. Rui Diã de Sousa considera que a intenção do primeiro-ministro deposto “é normal". "Ele é livre de dizer o que acha, tem liberdade de opinião, liberdade de pensamento”, comenta.

Já o porta-voz do Estado-Maior General das Forças Armadas, Dahaba Na Walna, abstem-se de comentários, justificando que não é momento oportuno.

Preparação das eleições de novembro

Neste momento, os partidos políticos estão a discutir as leis do Recenseamento Eleitoral, ainda sem data para arrancar.

Pelo que, Agnelo Regala, da UM, duvida que a data prevista para o escrutínio, de 24 de novembro, venha a ser cumprida.
Por sua vez, o Governo garante que já tinha alertado à comunidade internacional para o curto espaço de tempo para a organização das eleições.

Na segunda-feira (12.08), os deputados aprovaram a nova versão da Lei do Recenseamento. A lei prevê que o novo modelo do cartão de eleitor passa a ter a fotografia do titular para além de incluir a respetiva data de nascimento, profissão e um código de segurança (que está a ser ainda analisado).

A nova lei deverá ser submetida à apreciação dos deputados numa sessão parlamentar a ser convocada brevemente.

Até aqui, o recenseamento dos eleitores da Guiné-Bissau tem sido feito de forma manual, sem os dados agora exigidos, o que segundo vários partidos políticos facilitava a fraude.
 
Autoria: Braima Darame (Bissau) - Edição: Glória Sousa / António Rocha
 
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Brasil - Mãe de faxineiro assassinado: “A PM SERVE PARA MATAR NOSSOS FILHOS”

 

Pragmatismo Político
 
Pais de Ricardo Ferreira Gama contam sobre ameaças que funcionário da Unifesp na Baixada Santista vinha sofrendo antes de ser morto a tiros
 
O pequeno cômodo de cerca de dez metros quadrados no fundo de um casarão no bairro de Vila Mathias, em Santos, tem parecido grande para dona Elvira desde que seu único filho, Ricardo Ferreira Gama, foi morto a tiros por homens não identificados na esquina de casa, no dia 2. “É muito difícil ficar aqui dentro”, conta. Na casa há apenas uma mesinha com três cadeiras, uma cômoda com uma televisão, geladeira, fogão e uma cama de casal.
 
O quartinho modesto está cheio de lembranças do “gordinho”, como dona Elvira carinhosamente chamava o filho de 30 anos. “Como o quarto é muito pequeno, não tinha como armar outra cama. Então ele dormia comigo”, conta com a voz embargada. Na tentativa de aplacar a dor e por orientação de amigos preocupados com sua segurança, nas duas noites seguintes ao crime ela dormiu na casa de uma amiga. Mas depois resolveu ficar no seu próprio canto. “Seja o que Deus quiser. Se quiserem vir me matar, que venham. Vou ficar aqui”, diz. A mulher de 58 anos tem certeza que o grupo que matou o rapaz era formado por policiais militares.
 
Ricardo, que era auxiliar de serviços gerais da unidade da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na Baixada Santista, foi morto dois dias depois de ter sido agredido violentamente por PMs na frente do campus da universidade. Antes do episódio, no entanto, ele já vinha sendo seguidamente abordado por integrantes da corporação, de acordo com o relato dos pais e de estudantes que presenciaram a agressão e conversaram com a reportagem sob a condição de anonimato. “Ele não tinha sossego. Quando saía, os PMs o abordavam. Por isso, até quando ia passear colocava o crachá do serviço”, lembra a mãe.
 
José, pai de Ricardo, lembra que nem o crachá e o uniforme adiantavam. Bastava vê-lo na rua para a polícia o abordar. Segundo o jovem relatava ao pai, nessas batidas frequentemente o agrediam. “Pelo jeito os PMs que o perseguiam achavam que não deveria trabalhar, que deveria ficar mexendo com drogas. Ele chegou a falar para eles: ‘Vocês querem me colocar no crime, mas eu não vou. Vou trabalhar, seguir minha vida normal.’”
 
Os “enquadros” que Ricardo sofria começaram a acontecer logo após ele sair da prisão, conta dona Elvira. O jovem ficou detido dois anos e quatro meses por tráfico de drogas. Aos pais, o rapaz garantia que o flagrante havia sido forjado pela polícia. Foi uma época muito difícil: “fizesse chuva ou sol eu estava lá todos os domingos para visitá-lo”. Quando saiu, há um ano e oito meses, Ricardo trabalhou um tempo na padaria de sua irmã por parte de pai. Pouco mais de um ano depois, conseguiu o emprego na Unifesp, onde ganhava um salário mínimo. “Ele estava com tantos planos, estava feliz. Falava: ‘Essa faculdade é muito boa, joga a gente para cima’. Tinha tanto orgulho de colocar o uniforme, o crachá… até em dia de folga ele ia para lá”, conta a mãe. As abordagens policiais que o filho recebia, porém, preocupavam Elvira, que sugeria que fossem para o interior, de volta à sua cidade natal, Tupã, onde mora o restante da família. “Mas ele não queria ir, adorava Santos”.
 
Agressão. A violenta agressão de policiais militares ao jovem auxiliar de serviços gerais aconteceu no dia 31 de julho. Em uma pausa do trabalho, Ricardo estava fumando com um colega em frente a uma casa abandonada, vizinha do campus da universidade, quando foi abordado pelos três PMs. “Quando cheguei à faculdade, ele já estava todo ensanguentado, pedindo socorro e apanhando, principalmente de um dos policiais, que estava sem identificação”, relata à reportagem uma das alunas que testemunhou a agressão. Em seguida, o funcionário da Unifesp foi colocado no camburão, sob protestos dos estudantes. Entre eles, três que filmaram o jovem, com o rosto ensanguentado, sendo levado.
 
Os policiais disseram aos alunos que Ricardo seria encaminhado ao 1º Distrito Policial. Porém, quando chegarem lá ouviram que ele estava no 4º DP, na região da universidade. Enquanto, na verdade o rapaz se encontrava na Santa Casa, onde levava cinco pontos na boca. Os estudantes tentaram fazer um boletim de ocorrência, mas foram intimidados pelos mesmos PMs, que estavam no local. No mesmo dia, segundo relatos, eles foram ao campus da Unifesp perguntar se alguém conhecia os estudantes que gravaram a agressão. Quando souberam da morte de Ricardo, os autores do vídeo foram embora da cidade.
 
Do hospital, Ricardo foi para casa trocar o uniforme ensanguentado, pois queria voltar ao trabalho. “Filho, o que aconteceu? Com quem você brigou?”, perguntou dona Elvira, assustada. “Foram os PMs, mãe.” Com novo uniforme no corpo, o rapaz saiu. Na porta do casarão, policiais o esperavam. “Sujou lá. Os estudantes estão mostrando os vídeos na delegacia”, disse um deles. “Se não derem sumiço nesses vídeos, o negócio vai ficar feio.” Ricardo prometeu que falaria com os alunos e recebeu a promessa de que tudo ficaria bem. Mais tarde, no mesmo dia, ele próprio descreveria esse diálogo à mãe, na tentativa de tranquilizá-la. “Já me pediram desculpas, mãe, e eu pedi desculpas a eles”, falou. “Ele não tinha malícia”, lamenta dona Elvira, que não sabe dizer se eram os mesmos homens que o havia agredido.
 
Nesse mesmo dia, ao vê-lo com os pontos na boca, todo arrebentado, seu José aconselhou o jovem: “Ricardo, isso não está bom. Antes era abordagem, agora é agressão. É melhor você ir embora, filho. Por que você não vai ficar com a família da sua mãe em Tupã? Vai ficar sendo abordado até quando?” Ricardo respondeu: “Mas lá não tem emprego, pai.”
 
Execução. O auxiliar de serviços gerais da Unifesp trabalhava das 13hs às 22hs. Na madrugada do dia 1º para o dia 2 de agosto, passada meia-noite, pediu R$ 6 emprestados à mãe para comer um lanche no Mac Rampa, próximo ao Mercado Municipal, a dois quarteirões de casa. Dona Elvira tentou alertá-lo sobre o risco de sair na rua àquela hora, mas para Ricardo já estava tudo resolvido.
 
Alguns minutos depois, quando voltava para casa, a poucos metros da porta, um carro com quatro pessoas encapuzadas no interior o fechou. Duas motos se aproximaram. Seus quatro passageiros, todos com capacete, começaram a disparar contra Ricardo, que morreu na hora.
 
Dona Elvira já estava deitada quando ouviu o “pen, pen, pen!” Achou que o ruído vinha do escapamento de uma moto, mas logo depois o vizinho bateu na sua porta: “Dona Elvira! Dona Elvira! Atiraram no Ricardo aqui na esquina!” “Eu saí, vi aquele monte de sangue, meu filho estendido, não aguentei ver aquilo, não conseguia ver, tinha muito sangue”, relata. “Horas depois, quando tiraram o corpo dele, peguei água e fui lavar a rua. Lavei o sangue do meu filho.”
 
Seu José estava dormindo quanto tocou o telefone. Era dona Elvira: “Meu deus, mataram nosso filho, mataram nosso filho!” O pai de Ricardo não queria acreditar. “Não, calma, não mataram não! Você está brincando!”. Pegou o carro e foi correndo ao local. Ao chegar, viu as pessoas em volta do corpo e a polícia tentando isolar a área, impedindo a passagem. “Entrei mesmo assim e o vi daquele jeito. Desabou o mundo”, relata. “Ele era um menino bom, tinha um coração enorme, não fazia mal pra ninguém. Só que tinha passagem, então eles acharam que tinha de morrer.”
 
Um vizinho contou à mãe de Ricardo que um grupo de amigos que conversava em uma das casas saiu à rua assim que os tiros foram disparados e viu as motos fugindo em alta velocidade. Antes, na mesma noite, elas já rondavam o local. Os moradores, no entanto, estão receosos em falar. “Aqui na região o pessoal tem medo da PM. E a gente ouve muita história de encapuzados, em Guarujá, São Vicente, Vicente de Carvalho. E são sempre jovens que morrem. Outro dia mataram outro aqui perto”, diz. “Antes, quando ouvia um caso desses, de homens em motos matando um jovem, eu achava que era briga de traficante. Mas, olha, hoje eu tenho certeza que não é, que é essa polícia, que é um grupo de extermínio. A PM não serve para cuidar dos outros, serve para matar nossos filhos, para nos deixar chorando em cima do sangue do corpo do filho da gente.”
 
Investigação. Diante da grande repercussão do caso, especialmente após a divulgação do vídeo da agressão a Ricardo, as investigações estão sendo conduzidas por uma parceria entre a Polícia Civil da Baixada Santista, o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e Corregedoria da Polícia Militar. Em entrevista à reportagem, Aldo Galiani, comandante da Polícia Civil na região, afirmou que há duas linhas de investigação: uma represália de policiais militares ao fato ocorrido dois dias antes do crime e um acerto de contas do tráfico de drogas.
 
“Quanto à primeira, não há nada, nenhum indício que nos leve a essa conclusão. O que mais se encaminha é que ocorreu a segunda hipótese. O tipo de crime é característico de execução de tráfico de drogas, mas é prematuro chegar a alguma conclusão”, disse. Segundo Galiano, a segunda linha de investigação ganha força por causa do “antecedente complicado” de Ricardo. Sobre a primeira hipótese, o delegado afirmou: “Se ele se desentendeu com policiais, que as testemunhas levem à gente esses fatos. Não descartamos ter policiais envolvidos, mas estamos caminhando para todos os lados. Pode até ter sido um grupo de ex-policiais ligados ao tráfico, mas da ativa eu acho difícil”.
 
O defensor público Antônio Maffezoli, que acompanha o caso, discorda. Para ele, execuções praticadas por homens de capacete em motos ou encapuzados em carros são claramente características de grupos de extermínio formados por policiais. “Principalmente aqui na Baixada, onde já houve várias mortes com o mesmo modus operandi. Os assassinatos do tráfico não são assim”, diz.
 
De acordo com ele, os três PMs envolvidos na agressão a Ricardo dois dias antes de seu assassinato já foram identificados, mas ainda não foram ouvidos. “Aquela agressão, que foi filmada, o fato de os policiais terem voltado lá, ameaçado os estudantes querendo conseguir o vídeo levanta muitas suspeitas. O que se espera é que os órgãos de investigação façam a investigação, que sigam o que é uma suspeita ou indício e que consigam colher provas. E logo, para que tudo isso não se perca com o passar no tempo, como aconteceu com outros crimes.”
 
Procurada pela reportagem, a PM não se manifestou até o fechamento da matéria.
 
 
Na foto: Momento em que Ricardo Gama foi detido (Divulgação)
 
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TERRORISMO DE ESTADO NO REINO UNIDO POR INTERESSE PRÓPRIO E DOS EUA

 

 
Ministro brasileiro espera que material apreendido a Miranda seja devolvido
 
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse hoje esperar que o material apreendido no domingo a David Miranda pela polícia britânica no aeroporto de Heathrow, seja devolvido "em breve".
 
"Estamos em contato direto com Miranda para assegurar o exercício dos seus direitos", disse Patriota em audiência na Câmara dos Deputados do Legislativo Federal.
 
Miranda é o companheiro do jornalista Glenn Greenwald, do diário britânico "The Guardian", que divulgou as revelações sobre programas de espionagem eletrónica dos Estados Unidos feitas pelo ex-consultor da Agência de Segurança Nacional americana (NSA) Edward Snowden.
 
O brasileiro afirmou à imprensa local que lhe foram apreendidos um telefone móvel, um computador, uma PlayStation, um aparelho de wi-fi, dois relógios, uma máquina de barbear elétrica e 'pen drives' com informações enviadas por uma documentarista a Greenwald.
 
Miranda foi detido durante cerca de nove horas no aeroporto, com base na lei antiterrorismo britânica. Patriota afirmou hoje que um funcionário do consulado brasileiro em Londres foi enviado ao local, mas não teve autorização para falar com David Miranda.
 
"Conversei com o chanceler (ministro dos Negócios Estrangeiros) britânico para transmitir o nosso descontentamento. Precisamos de métodos de trabalho que fortaleçam a cooperação internacional no combate ao terrorismo, e não métodos que a solapem", disse Patriota.
 
Miranda obteve da justiça britânica uma providência cautelar para impedir que o governo e a polícia do Reino Unido inspecionem, copiem ou divulguem os dados apreendidos, mas que não proíbe que isso seja feito por motivos de "segurança nacional".
 
Patriota voltou a criticar as atividades de espionagem eletrónica de comunicações privadas, domésticas e no estrangeiro, dos Estados Unidos, afirmando que constitui uma violação da soberania nacional. O ministro disse esperar que as conversas com os Estados Unidos sobre o tema avancem.
 
Lusa
 
Polícia tem acesso limitado a material retirado a David Miranda
 
O Tribunal Superior de Londres determinou hoje que as autoridades britânicas só poderão ter acesso limitado e durante uma semana ao material que foi confiscado ao brasileiro David Miranda, detido no domingo durante nove horas no aeroporto de Heathrow.
 
Os juízes determinaram nesta audiência preliminar que até à próxima sexta-feira, quando apresentará a sua decisão final, a polícia só poderá examinar a informação armazenada nos dispositivos eletrónicos de Miranda para “proteger a segurança nacional e averiguar se o brasileiro está envolvido em atividades terroristas”.
 
David Miranda esteve retido em Heathrow quando fazia a escala de um voo de ligação entre Berlim e o Brasil, onde vive com o jornalista Glen Greenwald, que entrevistou o ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos Edward Snowden em Hong Kong e publicou várias notícias sobre a espionagem realizada pelos norte-americanos.
 
Durante a detenção no aeroporto londrino, a polícia britânica confiscou o computador portátil, o telemóvel, a câmara fotográfica e os dispositivos eletrónicos de David Miranda.
 
Os advogados do brasileiro, companheiro do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, pediam ao tribunal que impedisse que o Governo e a polícia pudessem “inspecionar, copiar ou compartilhar” o material apreendido durante a detenção de Miranda.
 
A detenção de David Miranda provocou um incidente diplomático com o Brasil, críticas de associações de jornalistas, organizações civis e a petição do Partido Trabalhista para a revisão da lei antiterrorismo.
 
A Scotland Yard defendeu a aplicação da lei, que permite deter e interrogar pessoas em aeroportos, portos e zonas de fronteira, e a ministra do Interior, Theresa May, admitiu que sabia que iam deter David Miranda num aeroporto de Londres, mas indicou que não participou na decisão policial.
 
Edward Snowden revelou em junho, através de notícias publicadas nos jornais The Guardian (em que trabalha Greenwald) e Washington Post, a existência de um programa de vigilância de grande escala dos EUA, que opera em todo o mundo com capacidade para vigiar e armazenar comunicações eletrónicas e ligações telefónicas e que conta com a colaboração dos serviços secretos britânicos.
 
Lusa
 
*Título PG
 
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ELEIÇÕES ALEMÃS 2013: A ILHA DAS PESSOAS FELIZES

 


Frankfurter Allgemeine Zeitung, Frankfurt - Presseurop
 
A um mês das eleições, os alemães estão bem e não parecem preocupados com os problemas dos seus vizinhos. Entusiasmada com as sondagens, é neste clima de satisfação e despreocupação que Angela Merkel desenvolve uma campanha que procura, acima de tudo, não abalar os seus compatriotas, ironiza o “Frankfurter Allgemeine Zeitung”.
 
 
Quem olhasse para a Alemanha a partir do céu teria a sensação de ver uma ilha, apesar da sua localização continental. Uma bela ilha onde é bom viver, apesar de estar situada no meio de um mar encapelado. Nas ilhas vizinhas, a vida não corre tão bem – são mais planas do que a ilha Alemanha. As ondas rebentam nas suas costas e várias dessas ilhas estão prestes a ser submersas. Os habitantes da ilha Alemanha veem isso perfeitamente, ou leem nos jornais, mas parecem-lhes tão distantes que os moradores da ilha onde tudo corre bem não temem pela sua bela qualidade de vida.
 
É perigoso: de um momento para o outro, a boa vida da ilha Alemanha pode acabar. Ninguém poderá então dizer que não lhe foram apontados sinais de alerta ou avisos. Há doze anos, numa ilha vizinha, a oeste, ocorreu um ataque terrível, que provocou cerca de 3000 mortos. Os habitantes da ilha Alemanha compreenderam a gravidade do sucedido. Logo a seguir, produziu-se um evento semelhante numa ilha a sudoeste e noutra a norte. Novamente, os ilhéus alemães perceberam a gravidade da situação. Também no seu território, tinham sido preparados ataques. Foram detetados a tempo e abortados. O assunto foi rapidamente esquecido.
 
Alguns anos mais tarde, um novo acontecimento terrível ocorreu na grande ilha a oeste. Um banco que ilhéus alemães de apelido Lehmann lá haviam fundado há muito tempo entrou em falência, arrastando consigo muitos milhares de milhões [de dólares]. Muitas pessoas perderam o dinheiro com que contavam financiar a sua velhice. Outros bancos foram contaminados. Também na ilha Alemanha, um banco não se aguentou.
 
Insulares entraram em pânico
 
Num espaço de tempo muito curto, os nossos insulares acostumados à bonança entraram em pânico. O que iria acontecer ao seu dinheiro? O sentimento de ansiedade aumentou quando as ilhas vizinhas do Sul sentiram sérias dificuldades económicas, uma atrás da outra. Foram desbloqueados fundos alemães para ajudá-los. Os dirigentes da ilha Alemanha disseram às pessoas que esse dinheiro não era perdido, que o recuperariam na totalidade e que até iriam ganhar juros com isso. Um pequeno grupo de contestatários veio à praça pública e protestou um pouco contra esta política, mas rapidamente se reduziu à sua insignificância. Os habitantes da ilha Alemanha afastaram rapidamente o caso do seu espírito. A maioria considerava que a situação se iria acalmar, enquanto intermináveis montanhas de milhares de milhões [de euros] invisíveis se erguiam para o céu.
 
Outros acontecimentos horríveis, guerras civis e insistentes banhos de sangue, continuaram a não perturbar verdadeiramente o povo da ilha Alemanha. O facto de, a Sul, já estar rodeada por uma região do mundo destroçada nas suas fundações não lhes levantava problemas. A vida era demasiado bela na ilha Alemanha. A época em que cinco pessoas em cada 80 estavam desempregadas já tinha acabado há muito tempo. Agora, eram apenas três em 80 a viver nessa situação lamentável.
 
Ninguém queria ver que muitas pessoas mal conseguiam viver com o produto do seu trabalho e recebiam em segredo um rendimento adicional da administração insular. O facto de muitas crianças crescerem em situação de precariedade e de as próprias autoridades da ilha as retirarem aos pais, com medo de que não pudessem zelar pelas suas necessidades, não comovia ninguém.
 
Distribuídas fotografias da chanceler
 
De quatro em quatro anos, os habitantes da ilha tinham a possibilidade de eleger um novo chefe. A Alemanha é uma ilha moderna. Há oito anos que esse chefe é uma mulher. Porque não existe uma palavra para designar um chefe tribal do sexo feminino, chamam-lhe “chanceler federal”. E ela é danada de apegada ao seu cargo, como repete constantemente aos seus súbditos. Dentro de algumas semanas, vai haver nova eleição e a chanceler quer a todo custo manter a liderança.
 
Mesmo antes do escrutínio, os ilhéus são constantemente solicitados a dizer o que pensam dela. Embora governe há muito tempo, muitos dos entrevistados das sondagens ainda a consideram eficaz. É muito apreciada, afirma o partido ao qual a chanceler pertence. Para que as pessoas percebam como a sua chefe é fantástica, são distribuídas fotografias da chanceler e exibidas por toda a parte. Sozinha. Com textos onde se pode ler tudo o que ela fez pela ilha. E fica-se a saber que o marido reclama quando ela não põe suficiente Streusel [migalhas de massa doce] no Streuselkuchen [bolo levedado]. É a única queixa que a chanceler tolera.
 
Angela Merkel não é impopular. Também não é adorada. As pessoas não se prostram aos seus pés, como se fosse a filha de um barão da Francónia. Também não estão divididos entre, de um lado, os seus admiradores e, do outro, os críticos. Estão simplesmente satisfeitos por saber que alguém, no centro de comando, faz o que a maioria quer e que, quanto ao resto, deixa os súbditos em paz. Mais Streusel, Angela!
 
Foto: Na praia Friedrichskoog, no noroeste da Alemanha. AFP
 

Inglaterra: EX-PAÍS DA LIBERDADE DE IMPRENSA

 
Jornalista ou terrorista?

Jornal britânico The Guardian é forçado a destruir material sobre espionagem clandestina, mesmo comprovando que não seria suficiente para frear as denúncias
 
Cauê Seignermartin Ameni – Outras Palavras, Blog da Redação
 
Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique.
Todo o resto é publicidade. - George Orwell
 
As pressões para silenciar as vozes que revelam a maior rede de espionagem da história continuam. Após intimidar o jornalista Glenn Greenwald, detendo seu parceiro no aeroporto de Heathrow por 9 horas, o alvo da vez foi o periódico em que seus textos são publicados, o jornal britânico The Guardian - uma das publicações mais respeitadas do mundo. Ao cobrir o caso seguindo à risca a acidez orwelliana, o diário acabou vivenciando um dos episódios mais sinistros da história do jornalismo da era digital.
 
Os editores do jornal revelaram nessa terça (20/08) como foram obrigados a destruir os Hard Drivers (onde se armazenam os dados dos PCs) que continham cópias dos documentos vazados pelo ex-agente da Agência Nacional de Segurança (NSA), Edward Snowden. A decisão foi tomada depois de uma série de ameaças desencadeadas em 20 de julho por oficiais da inteligência britânica, entre elas, entrar com ação para congelar judicialmente a série de reportagens sobre a extensão da vigilância das agências de segurança americana e britânica.
 
Os agentes alegaram que os documentos confidenciais teriam sido roubado e poderiam enquadrar a publicação na a lei de Segredos Oficiais – mas preferiam usar uma rota mais rápida que a Corte. Alan Rusbridger, editor do jornal, explicou que outras cópias espalhadas pelo mundo continuariam alimentando o conjunto de notícias, pois são editadas pela redação de Nova York (protegida pela primeira emenda) e no Brasil por Glenn Greenwald, e portanto, seria em vão destruí-los em solo inglês. O resultado foi “um dos momentos mais bizarros da longa história do Guardian”, segundo o editor. Os agentes da inteligência britânica não entenderam, ou preferiram ver o material sendo mutilado no porão do Guardian, só para ter certeza de que não havia nada que pudesse ser utilizado por “agentes chineses ou russos” na ilha da rainha… A pressão simbólica não funcionou: Rusbridger reafirmou que o jornal vai “continuar fazendo, pacientemente, o minucioso relato sobre os documentos de Snowden, só não vamos fazê-lo em Londres”. Se a internet possibilitou um esquecido sonho totalitário, ela mostra ser também a rota para a fuga.
 
Ameaças ao futuro do jornalismo
 
A intensificação da pressão do governo britânico sobre os jornalistas ficou ainda mais evidente com a retenção de David Miranda, o brasileiro parceiro de Glenn Greenwald, em Heathrow, domingo (18/09). Detido nos termos da Lei de Terrorismo de 2000, Miranda foi liberado 9 horas depois de ser exaustivamente interrogado. Glenn expôs a fragilidade da perseguição ao lembrar como as autoridades abusaram da própria lei, por razões que nada têm a ver com terrorismo: “de acordo com documento publicado pelo governo sobre a lei, ‘menos de três pessoas em cada 10 mil são averiguadas quando passam as fronteiras do Reino Unido’. (David não estava entrando no Reino Unido, mas apenas em trânsito para o Rio.) Além disso, ‘a maioria das averiguações, mais de 97%, duram menos de uma hora’ e apenas 0,06% de todas as pessoas detidas são mantidas por mais de 6 horas”. Em outras palavras, era óbvio que a suspeita de que David fosse ligado a uma organização terrorista era zero, e que esse susto não passou de intimidação e alerta para os jornalistas que ousam revelar as entranhas do poder.
 
Para Glenn, “cada vez que os governos dos EUA e do Reino Unido mostram ao mundo seu verdadeiro caráter – quando impedem o avião do presidente da Bolívia de voar em segurança para casa, quando ameaçam jornalistas, quando se envolvem em atitudes como a de hoje – tudo o que fazem é sublinhar o quão perigoso foi permitir que tenham poder ilimitado para espionar clandestinamente”.
 
Já o editor do The Guardian, Rusbridger, avisa: “Isso afeta todos os cidadãos, porém os jornalistas devem estar cientes das dificuldades que vão enfrentar no futuro, porque todo mundo deixa um enorme rastro digital que é facilmente acessado. Espero que [a detenção de Miranda] faça com que as pessoas voltem a ler as denúncias que tanto perturbam o Estado britânico. Snowden está tentando chamar a atenção para a lama em que mergulhamos, caminhando para a vigilância total”.
 
Sobre Caue Seigne Ameni: Estudante de Ciências Sociais da PUC-SP, pesquisador do NEAMP, editor do Outras Palavras e operador da loja virtual Outros Livros
 
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Alemanha: EM BERLIM, A BITCOIN SUBSTITUI FACILMENTE O EURO

 

Linkiesta, Milão – Presseurop
 
Na capital alemã, cada vez mais estabelecimentos comerciais aceitam pagamentos nesta moeda virtual alternativa, até agora utilizada sobretudo nas compras feitas na Internet. A bitcoin deve o seu sucesso ao amplo movimento de descontentamento contra as instituições financeiras, que se seguiu à crise, e também a algumas vantagens económicas reais.
 
 
Graefekiez, Berlim, agosto de 2013. Como todas as terças-feiras, ouvem-se, junto ao canal, os pregões característicos do mercado turco. Os berlinenses que deambulam entre as bancas deixam-se tentar pelos irresistíveis descontos de última hora. Mikaela compra um quilo de peixe – “três euros”, anuncia o pequeno reclamo – e paga em dinheiro, de mão para mão. Sem recibo, nem caixa. A transação não deixa um único traço visível, a não ser o saco cheio de peixes reluzentes que Mikaela leva consigo.
 
Duzentos metros mais a sul, no mesmo bairro, Brand bebe um latte macchiato, ao balcão do Floor’s Café. Quando chega a altura de pagar, Brand pega no smartphone, fotografa o flashcode que apareceu no ecrã da caixa, carrega no “OK” e vai-se embora. Também ele não deixou rasto do pagamento que fez. Ou quase. Um software transferiu dinheiro da sua conta na Internet para a conta do café e a operação está exposta na “cadeia de cifras em bloco” – o registo que lista as transações por ordem cronológica. O jovem, de 32 anos, não precisou de cartão de crédito nem de conta bancária. Os dados da transação estão a salvo na cadeia, protegidos por processos criptográficos extremamente rigorosos que impedem que qualquer pessoa tenha acesso a eles ou possa alterar o montante, a origem ou o destino.
 
Moedas baseadas na tecnologia da Internet
 
Um milagre da bitcoin, a moeda virtual que, aqui em Kreuzberg, Berlim, está a ter grande sucesso. Cerca de 25 estabelecimentos comerciais – sobretudo bares, mas também hotéis, restaurantes, pequenas lojas de eletrónica e papelarias – aceitam esta moeda, inventada em 2009 por um pirata informático anónimo, conhecido sob o nome de Satoshi Nakamato.
 
Neste momento, a cotação da cripto-divisa é muito alta: uma bitcoin vale cerca de 78 euros, o que quer dizer que um café custa apenas aproximadamente 0,02. Pelo menos no papel, é possível comprar tudo com bitcoins: casas, automóveis, computadores, roupas. Embora satisfaça todos os critérios que definem uma divisa, conforme reconheceu recentemente o juiz texano Amos Mazzant, a bitcoin escapa por completo ao controlo dos governos e dos bancos centrais, que começam a preocupar-se com a sua expansão, em aumento constante.
 
Sentado na sua Vespa branca, em frente do Floor’s, Brand explica em poucas palavras como funciona o sistema bitcoin. Segundo ele, é uma opção responsável, como comprar um produto biológico em vez um produto de baixo custo. Com o smartphone na mão direita, entra na aplicação EasyWallet. Depois, basta fotografar o flashcode do bar, inserir o montante necessário, carregar no OK – e o pagamento está feito. “Pago em bitcoins pelo menos duas vezes por dia: o almoço ou o café. Não sei se a bitcoin será a moeda do futuro, mas serão sem dúvida moedas baseadas na tecnologia da Internet que irão impor-se. Talvez venham a existir várias, mas tenho a impressão de que é uma evolução inexorável”, declara.
 
Um software e um flashcode
 
A proprietária do Floor’s Café chama-se Florentina Martens. Com 26 anos, esta holandesa, antiga estudante de Belas Artes em Berlim, montou a sua pequena empresa de restauração e defende e aplaude a bitcoin. Para Florentina, tudo começou com a experiência como empregada de um bar das proximidades, que autorizava os pagamentos na moeda alternativa. “Ao princípio, a coisa incomodava-me um bocado, porque não percebia muito bem como funcionava, e, quando alguém queria pagar em bitcoins, não me sentia à vontade.” Mais tarde, quando decidiu abrir o seu próprio café, deixou-se convencer por alguns vizinhos, informou-se e decidiu aceitar pagamentos nesta moeda que, não muito tempo antes, ainda associava a uma tarefa complicada. O cliente só precisa de um software e de um flashcode. Até agora, Florentina ainda não trocou bitcoins por euros. Gasta no bairro, tudo quanto ganha em moeda virtual.
 
No início, eram raros os clientes que pediam para pagar em bitcoins. Mas, hoje, todos os dias há alguns que as usam para pagar um café, um bolo ou uma sandes. “Não são nerds com óculos e rabo-de-cavalo. E são tantos homens como mulheres, na maioria jovens, pertencentes aos meios alternativos”, explica Florentina. Para ela, tal como para quase todos os outros “bitcoiners” entrevistados pelo Linkiesta, a principal motivação é o repúdio, que foi tomando forma sobretudo durante a crise, pelos bancos privados e pelas políticas monetárias dos bancos centrais em geral. A divisa alternativa “descentralizada” é considerada como uma coisa mais próxima dos consumidores, além de ser conforme com o espírito da época.
 
Não foi por acaso que esta experiência foi realizada em Graefekiez, um bairro não muito grande, que possui uma alma e uma estrutura económica próprias. A história começou no Room77, “o restaurante nos confins do capitalismo”, que, desde o início de 2012, oferece aos clientes “cerveja quente, mulheres frias e comida de fast-food servida devagar” (como afirma a inscrição por cima da porta).
 
Uma moeda digital
 
O proprietário, Joerg Platze, um alemão de origem norte-americana (o seu pai era texano), tornou-se uma espécie de evangelizador da moeda digital: graças a ele, em boa parte dos estabelecimentos comerciais do bairro, vê-se hoje um autocolante com a frase “Aceitamos bitcoins”. “Para mim, trata-se sobretudo de uma questão prática: é muito rápido e mais económico”, garante. Ao contrário, por exemplo, do cartão de crédito, a transação não envolve qualquer despesa. Joerg Platze conseguiu convencer outro tipo de estabelecimentos, como um velho eletricista, vizinho do Room77, que acaba de instalar o software e de afixar na porta o autocolante Bitcoin. Ainda não recebeu clientes adeptos da bitcoin, mas saberá o que fazer, quando estes aparecerem.
 
Saída de uma escola de hotelaria e antiga empregada na área da restauração, Cassandra Wintgens, de 41 anos, é proprietária da casa de hóspedes “Lekkerurlaub”. O sistema de pagamento Bitcoin ajusta-se à sua conceção de hotelaria alternativa, que se demarca voluntariamente da hotelaria tradicional, com quartos a preços baixos, alimentação biológica, Wi-fi e o uso de uma moeda que não passa pelos bancos. “O nosso primeiro hóspede chegou no fim de maio. Disse que tinha lido que se podia pagar em bitcoins, e que tinha sido por isso que decidira alugar um quarto na nossa casa.” O quarto individual custa 0,52 bitcoins, ou seja, 40 euros, e o quarto duplo 0,85, ou seja, 54 euros. As faturas da casa de hóspedes preveem já o pagamento em bitcoins, que só será preciso converter, para a declaração de rendimentos do fim do ano, como explicou o contabilista do estabelecimento.
 
Perigo de falsificação
 
Contudo, fora do paraíso de Graefekiez, a realidade é um pouco diferente. A moeda virtual já circula nos mercados financeiros: a ausência de um banco central que controle a sua cotação torna-a extremamente flutuante – uma situação que, por um lado, atrai e, por outro, assusta os investidores aventureiros. A Phylax é uma empresa alemã de consultoria financeira, que oferece aos seus clientes assistência tecnológica e que, nos últimos anos, se especializou no sistema de pagamento Bitcoin. “Começámos a interessar-nos pela bitcoin faz agora dois anos e concluímos que era uma experiência atraente. Seduziu-nos a ideia de uma moeda descentralizada, sem banco central de referência, e em que cada um é parte interessada no processo de criação da nova divisa”, explica o diretor-geral da Phylax, Fridhelm Schmitt. Na altura, a bitcoin equivalia a dois euros e a Phylax pressentiu o seu potencial: a empresa comprou bitcoins a entre oito e dez euros e, mais tarde, vendeu a totalidade por entre 45 e 85 euros cada. Foi a volatilidade da cotação que motivou a venda.
 
Segundo os cálculos da Phylax, atualmente, 45 euros [por uma bitcoin] seria um valor “razoável”. “Não compreendo todas as preocupações que esta experiência suscita. É verdade que, hoje, se pode perder muito dinheiro com a bitcoin [nos mercados financeiros]. Mas não é uma burla: é uma moeda real. Acontece que as pessoas confundem burla com risco, mas este é próprio dos mercados.” Para Fridhelm Schmitt, o perigo principal é, “um dia”, a bitcoin vir a ser falsificada: “Atualmente, estão em curso vários estudos sobre essa possibilidade, mas, hoje, a falsificação é impossível.”
 
Fiscalidade
 
A bitcoin passa a ser sujeita a imposto na Alemanha
 
“A notícia foi um golpe rude para os meios alternativos” anuncia o Huffington Post depois de a Alemanha ter reconhecido a bitcoin como moeda oficial.
 
O site chega mesmo a perguntar-se se “a Grécia receberá a sua próxima tranche de ajuda em bitcoins em vez de euros?” e explica esta decisão pelo “aumento significativo do seu valor” e não pelo facto “dos tesoureiros alemães se terem tornado mais flexíveis”. De facto, quem diz moeda oficial, diz imposto:
 
Até à data as transações efetuadas com esta moeda escapavam ao imposto. [A partir de agora], serão deduzidos 25% sobre os benefícios de uma venda em bitcoins. […] Relativamente às empresas, estas deverão incluir uma taxa de IVA em todas as suas transações em bitcoins.
 
O Huffington Post lamenta o facto de esta moeda alternativa, muito apreciada pelos hackers, vir a perder um pouco do seu caráter rebelde…
 
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