quarta-feira, 3 de julho de 2013

Portugal: PASSOS COELHO E PAULO PORTAS REUNIDOS PARA NEGOCIAR FIM DA CRISE



TSF

O encontro entre o primeiro-ministro e o líder do CDS-PP deverá já ter começado, dado que Pedro Passos Coelho já se encontra em Lisboa, depois de ter estado em Berlim.

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho e o líder do CDS-PP, Paulo Portas, já estarão reunidos para negociar o fim da crise política, apurou a TSF.

As negociações entre Passos Coelho e Paulo Portas começam imediatamente após a chegada do primeiro-ministro de Berlim, que se verificou pelas 21:00. 

Reunião entre Passos Coelho e Paulo Portas retomada esta quinta-feira (atualização)

A reunião entre Passos Coelho e Paulo Portas desta quarta-feira, que terá durado cerca de duas horas, vai ser retomada na quinta-feira, indicou fonte governamental.

Portugal: JORGE SAMPAIO DEFENDE LEGISLATIVAS A 29 DE SETEMBRO



Jornal i - Lusa

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio defendeu hoje um Governo de transição para preparar as eleições legislativas, que devem realizar-se no mesmo dia das autárquicas, a 29 de setembro.

"Estamos num momento de verdadeira emergência nacional. Houve aqui 48 horas de irresponsabilidade e de factos que eu não julgaria possíveis e quem tem responsabilidade de agir tem de agir depressa", defendeu Jorge Sampaio, em entrevista à agência Lusa, num comentário à crise política que se seguiu à demissão de Paulo Portas, líder do CDS-PP, de ministro de Negócios Estrangeiros.

Para o ex-presidente, "é preciso qualquer coisa que clarifique" a situação política do país e "a única maneira são as eleições", uma solução que diz levantar um problema.

"As eleições em Portugal demoram muito tempo até se poderem realizar, infelizmente, e, [por isso, coloca-se] o problema do Governo de transição, como já houve em Portugal para preparar eleições. (…) Chegou o momento de pensar seriamente que é preciso uma nova legitimidade que abra caminho para várias soluções políticas de outro tipo", advogou.

"É prematuro [apontar qual a melhor solução para chegar a um Governo de transição] porque não sei o que está a acontecer neste momento. Mas é preciso preparar eleições e depressa e ter a noção de que, pela primeira vez nestes dois anos, tem de haver um compromisso largo, identificados os temas fundamentais a que temos de dar resposta para a sobrevivência democrática, social, económica e financeira do país", acrescentou.

Paulo Portas, líder do CDS-PP, demitiu-se de ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros na terça-feira, um dia depois da saída de Vítor Gaspar da pasta das Finanças, substituído pela secretária de Estado Maria Luís Albuquerque.

Horas depois, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, anunciou que tenciona manter-se como primeiro-ministro, numa declaração ao país, horas depois da demissão de Paulo Portas.

Na mesma declaração, Passos disse que não aceitou o pedido de demissão de Portas e comunicou a intenção de esclarecer as condições de apoio político ao Governo de coligação do PSD com o CDS-PP e o sentido da demissão do ministro Paulo Portas.

Portugal: Seguro sai de Belém a defender eleições antecipadas no dia das autárquicas



Luís Claro – Jornal i

O líder do PS, António José Seguro, defendeu, à saída de BElém, a realização de eleições legislativas no mesmo dia das autárquicas, que vão realizar-se no dia 29 de Setembro. “O país teria a ganhar. Poupavam-se recursos, poupava-se tempo, mas sobretudo punha-se fim a esta crie política”.

Sem revelar pormenores da conversa com Cavaco Silva que durou 1h30, o secretário-geral insistiu na necessidade de eleições antecipadas e referiu várias vezes a necessidade de ter um governo coeso. Seguro referiu ainda, diversas vezes, a necessidade de realizar eleger outro governo, que tenha capacidade para “equilibrar as contas públicas”.

O líder socialista confirmou também que esteve esta manhã, a fazer vários “contactos nacionais e europeus”. Seguro falou ao telefone com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz.

Em plena crise política, o líder do maior partido da oposição fez contactos nas “áreas diplomáticas, investidores internacionais, parceiros europeus, credores” e o “sector empresarial e financeiro”.

O objectivo é “tentar minorar os prejuízos da grave crise provocada pelo governo”, garante fonte oficial do PS, sustentando que Seguro “sabe como ninguém a importância da credibilidade externa”.

Portugal: PORTAS DISPOSTO A NEGOCIAR ACORDO DE COLIGAÇÃO COM PASSOS COELHO



SOFIA RODRIGUES - Público

Reunião da comissão executiva do segundo partido do governo terminou sem decisões definitivas e deixa a porta aberta à manutenção do Governo em funções.

O CDS vai mostrar abertura para renegociar o acordo de coligação com o PSD. É essa a principal conclusão da reunião da direcção do partido liderado por Paulo Portas desta quarta-feira.

A reunião, que terminou já depois das 17 horas, deixou em aberto a possibilidade de a coligação se manter, apurou o PÚBLICO.

De acordo com fontes da direcção centrista, a negociação deverá ocorrer directamente entre os dois líderes, Paulo Portas e Pedro Passos Coelho, e deverá acontecer assim que o primeiro-ministro regressar de Berlim.

A comissão executiva decidiu também manter para o próximo fim de semana o congresso electivo do CDS-PP, sendo certo que Paulo Portas mantém a sua recandidatura à liderança do partido.

A forma como decorreu o processo de escolha de Maria Luís Albuquerque para substituir Vítor Gaspar na pasta das Finanças desagradou ao líder do CDS por considerar que a sua opinião não foi tida em conta por Passos Coelho.

Já na última remodelação - a entrada de Miguel Poiares Maduro para substituir Miguel Relvas - Portas queixou-se de não ser ouvido na nova orgânica do Governo. E deu sinal disso ao faltar à tomada de posse do novo ministro, no final de Abril. 

O funcionamento da coligação é uma das razões alegadas para Paulo Portas se ter demitido ontem do Governo. Segundo fonte centrista, uma das razões para o líder do CDS ser ministro permitia ter um maior envolvimento nas decisões estratégicas.

Como considera que isso não está a acontecer, Portas decidiu apresentar a demissão de ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, mas não quebrou a coligação. Sinal disso é que os dois ministros do CDS, Mota Soares e Assunção Cristas, ainda não apresentaram a demissão. Até ao início desta tarde nenhum membro do governo indicado pelo CDS tinha recebido instruções para se demitir.

Portugal: SERÁ QUE PASSOS LEU HAMLET?



TIAGO BARTOLOMEU COSTA – Público, crónica

Não sabemos se Pedro Passos Coelho leu Hamlet, de Shakespeare.

Tivesse Passos lido Hamlet e não teria dúvidas de que a caveira que olha não é senão a sua. E o que vê é a última das surpresas. Tivéssemos nós lido Hamlete saberíamos que a pantomima chegaria a este palácio cheio de mortos.

É fácil imaginar, hoje, o ainda primeiro-ministro a perguntar o que lhe aconteceu, com a caveira de Yorick nas mãos. Como se a caveira fosse o que sobra de um governo a quem Passos pergunta o que aconteceu. E a quem pergunta se é, ou já não é, primeiro-ministro. Diz Passos como se fosse Hamlet: “Esta a caveira de Yorick, o bobo do rei. Hamlet. Este? Hamlet. Este aqui?”

Quase ouvimos o chefe da Casa Civil da Presidência da República dizer: “Chegaram os actores, senhor!”, quando tentamos perceber a "comédia de portas" que foi o disfarce de tomada de posse ontem em Belém, ainda que Cavaco, perdão, Cláudio, padrasto de Hamlet, aceitasse a representação só para saber até onde iria Hamlet.

E, no entanto, a cautela teria de ser posta em Maria Luís Albuquerque. Não foi, afinal, essa Gerturde, que se finge serena mas conspirou contra o próprio filho, quem disse: “Asseguro-te, não me temas”? Cairá o reino, depois da queda do melhor amigo de Hamlet, Horácio (Vitor Gaspar), sobre o qual foi o príncipe silencioso. Estava escrito.

Mas entre Passos ser e não ser Hamlet, esse louco príncipe da Dinamarca que fala para exércitos acólitos que não existem, mas que ele crê prontos para a sua batalha, fica o que Shakespeare previu. Perante o suicídio de Ofélia (Paulo Portas), Hamlet recusa-se a aceitar a sua morte e não deixa que o corpo seja enterrado (o que é isto senão a recusa de um enterro digno, ao qual nem as aias – os outros ministros e secretários de Estado – podem ir?).

Hamlet prefere ir combater contra os polacos (ou seja, a conferência em Berlim, onde se refugiou hoje), onde lhe dirão que não há reino a proteger, se não houver príncipe que por ele morra. Passos, aliás, Hamlet, ainda tentou que Rosencrantz (Miguel Poiares Maduro) e Guildenstern (Pedro Lomba), os seus fiéis soldados, guardassem a porta do castelo, mas nem os fantasmas (os jornalistas) desta vez apareceram à chamada (os briefings anulados). E ficaram os dois a falar sozinhos.

O irmão de Ofélia, Laertes (António José Seguro), jura vingança, sabendo, no entanto, que não terá muito a ganhar com tão antecipada batalha (as eleições), na qual, eventualmente, morrerão os dois. Nem os gritos de Polónio, seu pai (José Sócrates), mais fantasma que susto, lhe valerão. Morrerão Laertes e Hamlet nessa batalha de fim de Verão (as eleições). Tal como morrerá Cláudio (Cavaco Silva), já morto na credibilidade, ferido de orgulho por não ter antecipado a comédia, ou achando ser possível manter a farsa até ao fim. Mesmo que se reúna amanhã com todos os corpos de todos os mortos. 

Cláudio dar-lhes-á, amanhã, o que pedem os espectadores (os eleitores): o copo de veneno que os dissolverá. Assim será ou serão, então, os actores (os deputados) que chumbarão a última tentativa de verdade (a moção de confiança). Está tudo escrito.

Disse Hamlet antes de morrer: “Não viverei para saber notícias de Inglaterra, mas profetizo que será eleito Fortinbras.” O pior é a profecia que se segue: “É para ele o meu voto moribundo.” Porque “o resto é silêncio”, ficamos sem saber se esse Fortinbras é António Costa ou um governo de salvação nacional. Até lá, agonizaremos nesta podre Dinamarca?

PARTIDO DA OPOSIÇÃO ANGOLANA APONTA “ASSASSÍNIOS SELETIVOS” NA LUNDA NORTE



EL – APN - Lusa

O Partido da Renovação Social (PRS, oposição), acusou hoje em Luanda a existência de "assassínios seletivos" na província da Lunda Norte e divulgou imagens de alegadas violações de direitos humanos naquela região do norte de Angola.

A acusação foi feita em conferência de imprensa pelo secretário-geral do PRS, Benedito Daniel, que garantiu a entrega na próxima semana ao presidente do parlamento das provas documentais que o partido alega possuir.

Depois de recordar episódios anteriores que caracterizou como casos de "repressão política", Benedito Daniel acusou o regime angolano de multiplicar depois da independência, em 1975, "as execuções sumárias e seletivas, torturas físicas e psicológicas".

Citou, como exemplos, o assassínio de mais de 80 mil pessoas "em reação ao suposto golpe de estado de 27 de maio de 1977 e os "massacres" do período pós-eleitoral de 1992.

"Permanentemente, o regime usa o quadro de violência preventiva, intimidatória e desmobilizadora ao nível da grande massa da população, através dos organismos de censura, de filtragem política, de vigilância e prevenção policial ou pelos aparelhos de enquadramento político-ideológico do quotidiano, da família, da escola, dos lazeres, do trabalho", acusou.

Para o PRS, quarto partido mais representado, com três deputados entre os 220 que integram a Assembleia Nacional, "os dias que correm estão caracterizados por uma clara situação de insegurança, medo, incertezas, instabilidade social, dor para muitas famílias angolanas".

"Estamos cercados por acontecimentos que tocam o país e o comovem, em resultado de atos afastados do bem e da moral, atos que atacam gravemente a dignidade humana, a nossa dignidade humana, a dignidade humana do angolano", acrescentou.

A conferência de imprensa foi convocada para apresentar dados do assassínio de mulheres na Lunda Norte, que esteve na origem da realização de uma manifestação no passado dia 15 de junho na localidade de Cafunfo, e que segundo o PRS não está a ser devidamente investigada e tratada pelas autoridades judiciais e policiais.

Assim, com datas e nomes, o PRS apresentou uma lista de 15 mulheres, vítimas mortais de violação e mutilação dos órgãos genitais para alegadas práticas de feitiçaria e relacionadas com o garimpo de diamantes, entre o dia 20 de novembro de 2009 e 07 de maio passado.

No total, Benedito Daniel fixou em 578 o número de assassínios seletivos, desde 2003, na região do município de Cuango, Lunda Norte, e acrescentou que no mesmo período 1.275 pessoas "ficaram com alguma deficiência como consequência de torturas e espancamentos".

Cresce risco de tensão social em Cabo Verde, alerta Economist Intelligence Unit



JSD – APN - Lusa

O risco de tensões sociais em Cabo Verde está a crescer face ao elevado desemprego, ao enfraquecimento da economia e à queda das receitas das remessas dos emigrantes, indica hoje um relatório do Economist Intelligence Unit (EIU).

Segundo o documento, o grupo de análise pertencente ao Economist prevê, no entanto, que o arquipélago se mantenha entre os países mais estáveis de África ao longo de 2013 e 2014, apesar da partilha do poder legislativo, nas mãos do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, desde 2001), e autárquico, nas do Movimento para a Democracia (MpD).

O relatório do refere que o défice fiscal cabo-verdiano vai contrair de 11,4 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) registado em 2012 para 7,9% do PIB em 2014, à medida que as reformas fiscais melhorem gradualmente a arrecadação de receitas, enquanto os constrangimentos de financiamento vão levar a uma redução do investimento público.

Após desacelerar para um nível estimado em 4,6%, a taxa de crescimento económico de Cabo Verde vai cair para 3% em 2013, voltando a subir, em 2014, para 3,2%.

A taxa média de inflação vai desde de uns moderados 2,5% em 2012 para 1,8% em 2013, antes de subir novamente para 2,2% em 2014, em linha com os preços das importações, que constitui a maioria do consumo doméstico.

O défice da conta corrente, indica o EIU, vai cair de 11% do PIB em 2012 para 6,2% no próximo ano, tendo em conta as boas perspetivas de crescimento do Turismo e uma desaceleração a importação de bens de capitais no investimento público.

E é na área do Turismo que o relatório indica estar a grande aposta cabo-verdiana, lembrando que, nos primeiros quatro meses deste ano, o número de turistas subiu 18,5% em comparação com idêntico período de 2012.

"Trata-se de um bom sinal, pois, caso contrário, a economia acabaria por desacelerar", realça o EIU, lembrando a aposta cabo-verdiana de investir no setor dos jogos de fortuna e azar (casinos) para ganhar mercado internacional.

No relatório é também ressalvado que os dados são meramente provisórios e podem ser alterados consoante a conjuntura económica internacional, lembrando que a ligação de Cabo Verde ao euro torna o país "vulnerável" a um outro qualquer choque da moeda europeia e a crises políticas na Zona Euro.

No contexto político-económico cabo-verdiano, o EIU destaca também a recente visita oficial do primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, aos Estados Unidos, onde, num encontro com o presidente norte-americano Barack Obama, lhe foi reafirmado o apoio de Washington aos esforços na luta contra o tráfico de droga e reconhecidas as "credenciais democráticas" do arquipélago.

Na diversificação das relações internacionais, realça ainda o EIU, a China concedeu um fundo de 50 milhões de dólares (38,4 milhões de euros) para a cooperação militar com Cabo Verde, em mais uma ação para combater o tráfico de droga e, ao mesmo tempo, proteger a frota pesqueira chinesa no Atlântico Médio.

A COVARDIA EUROPEIA CONTRA O PRESIDENTE EVO MORALES




Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se incomode com eles. Um rumor infundado sobre a presença no avião presidencial boliviano do ex-espião estadunidense Edward Snowden, conduziu a um sério incidente diplomático aeronáutico entre Bolívia, França, Portugal e Espanha. Por Eduardo Febbro.

Eduardo Febbro – Carta Maior

Paris - Os europeus são incorrigíveis. Para não ficar mal com o império norteamericano são capazes de violar todos os princípios que defendem nos fóruns internacionais. O presidente boliviano Evo Morales foi o último a experimentar as consequências dessa política de palavras solidárias e gestos mesquinhos. Um rumor infundado sobre a presença no avião presidencial boliviano do ex-membro da Agência Nacional de Segurança (NSA) norteamericana, o estadunidense Edward Snowden, conduziu a um sério incidente diplomático aeronáutico entre Bolívia, França, Portugal e Espanha. 

Voltando de Moscou, onde havia participado da segunda cúpula de países exportadores de gás, realizada na capital russa, Morales se viu forçado a aterrissar no aeroporto de Viena depois que França, Portugal e Espanha negaram permissão para que seu avião fizesse uma escala técnica ou sobrevoasse seus espaços aéreos. Os “amigos” do governo norteamericano avisaram os europeus que Morales trazia no avião Edward Snowden, o homem que revelou como Washington, por meio de vários sistemas sofisticados e ilegais, espionava as conversações telefônicas e as mensagens de internet da maioria do planeta, inclusive da ONU e da União Europeia.

O certo é que Edward Snowden não estava no avião de Evo Morales. No entanto, ante a negativa dos países citados em autorizar o sobrevoo do avião presidencial, Morales fez uma escala forçada na Áustria. As capitais europeias coordenaram muito bem suas ações conjuntas para cortar a rota de Evo Morales. Surpreende a eficácia e a rapidez com que atuaram, tão diferente das demoradas medidas que tomam quando se trata de perseguir mafiosos, traficantes de ouro, financistas corruptos ou ladrões do sistema financeiro internacional.

Segundo a informação da chancelaria boliviana, o avião havia obtido a permissão da Espanha para fazer uma escala técnica nas Ilhas Canárias. Essa autorização também foi cancelada e, finalmente, o avião teve que aterrissar no aeroporto de Viena. Segundo declarou em La Paz o chanceler boliviano David Choquehuanca, “colocou-se em risco a vida do presidente que estava em pleno voo”. “Quando faltava menos de uma hora para o avião ingressar no território francês nos comunicam que tinha sido cancelada a autorização de sobrevoo”. O ministro pediu uma explicação tanto da França quanto de Portugal, país que tomou a mesma decisão que a França.

“Queriam nos amedrontar. É uma discriminação contra o presidente”, disse Choquehuanca. Em complemento a esta informação, o portal de Wikileaks também acusou a Itália de não permitir a aterrisagem do avião presidencial boliviano. Em Paris, o conselheiro permanente dos serviços do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault disse que não tinha nenhuma informação sobre esse assunto. Por sua vez, a chancelaria francesa disse que não estava em condições de comentar ocaso. Bocas fechadas, mas atos concretos.

Ao que parece, todo esse enredo se armou em torno da presença de Snowden no aeroporto de Moscou. Alguém fez circular a informação de que Snowden estava no aeroporto da capital russa com a intenção de subir no avião de um dos países latino-americanos dispostos a lhe oferecer asilo político. Snowden é procurado por Washington depois de revelar a maneira pela qual o império filtrava as conversações no mundo. O chanceler boliviano qualificou como uma “injustiça” baseada em “suspeitas infundadas sobre o manejo de informação mal intencionada” o cancelamento das permissões de voo para o avião de Evo Morales. “Não sabemos quem inventou essa soberana mentira; querem prejudicar nosso país”, disse Choquehuanca. “Não podemos mentir à comunidade internacional e não podemos levar passageiros fantasmas”, advertiu o responsável pela diplomacia boliviana.

Em La Paz, as autoridades adiantaram que não receberam nenhum pedido de asilo por parte de Edward Snowden. Evo Morales havia evocado a possibilidade de conceder asilo a Snowden, mas só isso. O mesmo ocorreu com outra vítima da informação e da perseguição norteamericana, o fundador do Wikileaks, Julian Assange. O mundo ficou pequeno para Edward Snowden. 

Assange está refugiado na embaixada do Equador em Londres e Snowden encontra-se há dez dias na zona de trânsito do aeroporto de Sheremétievo, em Moscou. Segundo Dmitri Peskov, o secretário de imprensa do presidente Vladimir Putin, o norteamericano havia solicitado asilo a Rússia, mas depois “renunciou a suas intenções e a sua solicitação”. Peskov esclareceu, porém, que o governo russo não entregaria o fugitivo para a administração norte-americana: “o próprio Snowden por sincera convicção ou qualquer outra causa se considera um defensor dos direitos humanos, um lutador pelos ideais da democracia e da liberdade pessoal. Isso é reconhecido pelos ativistas e organizações de direitos humanos da Rússia e também por seus colegas de outros países. Por isso é impossível a entrega de Snowden por parte de quem quer que seja a um país como os EUA, onde se aplica a pena de morte.

Quando se referiu ao caso de Snowden em Moscou, Evo Morales assinalou que “o império estadunidense conspira contra nós de forma permanente e quando alguém desmascara os espiões, devemos nos organizar e nos preparar melhor para rechaçar qualquer agressão política, militar ou cultural”. Os europeus, os campeões da defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade, demonstraram que suas relações com a Casa Branca estão acima de tudo e que podem pisotear os direitos de um avião presidencial caso isso seja preciso para que o grande império não se incomode com eles.


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OEA pede explicações a países europeus por colocarem “em risco” vida de Evo Morales




O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, assegurou que os países europeus que impediram o avião do Presidente Evo Morales de sobrevoar os seus territórios colocaram “em risco” a vida do chefe de Estado boliviano e devem dar explicações.

Através de um comunicado emitido pela Organização de Estados Americanos (OEA) em Washington, Insulza exprimiu o seu “profundo mal-estar face à decisão das autoridades de vários países europeus”, incluindo Portugal, e alegadamente devido às suspeitas que o avião de Morales levava a bordo o ex-consultor dos serviços de informações norte-americanos Edward Snowden.

“Nada justifica uma ação tão irrespeitável face à mais alta autoridade de um país”, considerou Insulza no comunicado.

“Os países envolvidos devem fornecer uma explicação dos motivos pelos quais tomaram essa decisão, em particular porque a vida do primeiro mandatário de um país membro da OEA foi colocada em risco”, assegurou.

O avião presidencial de Evo Morales deslocou finalmente hoje de Viena após uma escala forçada de mais de 13 horas motivada pelo encerramento de vários espaços aéreos europeus, e devido à suspeita da presença a bordo do ex-técnico da CIA Edward Snowden, procurado pelo Governo dos Estados Unidos.

As autoridades bolivianas assinalaram a Itália, Portugal, França e Espanha entre os países que impediram que o avião de Morales sobrevoasse o seu espaço aéreo, obrigando o aparelho a dirigir-se para Viena.

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português (MNE) confirmou hoje ter cancelado por “considerações técnicas” o sobrevoo de Portugal e aterragem em Lisboa do avião do Presidente boliviano, na segunda-feira à tarde.

Em comunicado, o MNE acrescentou que a interdição de sobrevoo do espaço aéreo português foi levantada às 21:10 do mesmo dia, mantendo-se no entanto a interdição de aterragem “por considerações técnicas”.

“No dia 1 de julho, 2ª feira, às 16:28, foi comunicado às autoridades da Bolívia que a autorização de sobrevoo e aterragem, solicitada para o percurso de regresso Moscovo/La Paz, estava cancelada por considerações técnicas”, lê-se no comunicado.

“Perante o pedido de esclarecimento das autoridades bolivianas, recebido às 19:19 desse dia, foi esclarecido às 21:10 que as considerações de ordem técnica não obstavam ao sobrevoo do espaço aéreo nacional, tendo para tal sido expressamente concedida nova autorização de sobrevoo. Apenas a aterragem não seria possível por considerações técnicas”, acrescentou o texto.

Segundo o MNE, as autoridades bolivianas “continuaram a insistir na aterragem do avião presidencial em Lisboa” e, apesar de “múltiplos contactos por via diplomática” feitos na segunda e na terça-feira, “insistiram inicialmente em submeter junto das autoridades aeronáuticas internacionais um plano de voo que previa a aterragem em Lisboa para reabastecimento”.

Só na tarde de terça-feira, explicou o comunicado, é que “a Bolívia submeteu um plano de voo prevendo o sobrevoo do espaço aéreo nacional” e “aterragem em Las Palmas”.

“Está autorizado hoje, como sempre esteve, o sobrevoo do território nacional”, afirmou o MNE.

O chefe da diplomacia espanhola, José Manuel Gracía-Margallo, também negou a existência de qualquer “proibição” para que o avião sobrevoasse espaço aéreo de Espanha e assegurou que Madrid tentou “abrir caminho” para que pudesse fazer uma escala em Las Palmas, nas ilhas Canárias.

No entanto, Morales já qualificou o incidente de “agressão à América Latina” e assegurou que no regresso a La Paz vai analisar “que ações tomar para que haja mais respeito”.

A pedido do Governo de Quito, a União das Nações Sul-americanas (Unasul) já convocou uma reunião extraordinária para analisar a situação, indicou o secretário-geral da organização, Alí Rodríguez.

PCR (MDR) // VM - LUSA

Embaixador de Portugal convocado após incidente com avião presidencial da Bolívia

Os embaixadores de Portugal e da França em La Paz vão ser convocados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Bolívia para consulta, na sequência do incidente com o avião de Morales, indicou o organismo, citado pela Efe.

O embaixador em La Paz é o diplomata acreditado em Lima, capital do Peru, segundo o portal do Governo, pelo que para o encontro deverá ser convocada Helena Margarida Rezende de Almeida Coutinho, em vez do cônsul-geral de Portugal em La Paz, George Rezvani Albuquerque.

Portugal e França rejeitaram inicialmente conceder autorização para a aterragem ou sobrevoo do avião do Presidente boliviano, Evo Morales, acabando por dar 'luz verde', esta madrugada.

O incidente com avião de Morales desencadeou uma 'crise' entre Europa e América Latina, com a Bolívia a qualificar como "prepotente" a recusa de vários países europeus em deixar aterrar ou sobrevoar o avião presidencial, no qual se suspeitava que poderia viajar o ex-analista da CIA Edward Snowden.

"O Presidente bolivariano foi sequestrado hoje [esta terça-feira] pelo imperialismo", afirmou o vice-presidente da Bolívia, Alvaro Linera, em declarações citadas pela Efe.

Diante do seu elenco de ministros em La Paz, Alvaro Linear afirmou que "não pode haver impunidade com este 'rasgo' de colonialismo" e que Morales "não é nenhum delinquente".

A recusa de vários países europeus em deixar aterrar ou sobrevoar o seu território o avião do Presidente da Bolívia, Evo Morales, desencadeou, esta terça-feira, uma crise diplomática face às "infundadas suspeitas", como qualificou o Governo boliviano, de que o antigo analista da CIA Edward Snowden viajava no avião presidencial.

Morales regressava à Bolívia procedentes de uma cimeira em Moscovo quando o seu avião recebeu o aviso de que se negava a sua passagem pelo espaço aéreo de França e uma paragem para reabastecimento em Portugal, pelo que teve de se desviar e aterrar de emergência em Viena.

A partir de La Paz, o ministro dos Negócios Estrangeiros, David Choquehuanca, foi o primeiro a denunciar o ocorrido e a sublinhar a indignação do Governo pelo sucedido, que, a seu ver, pôs em perigo a vida do Presidente.

Choquehuanca negou taxativamente que Snowden tenha viajado no avião de Morales, o qual negou também, em Viena, em declarações à Efe, que o ex-técnico norte-americano estivesse a bordo da aeronave, apontando nada saber do assunto.

"Nunca o vimos" em Moscovo e, em momento algum, Snowden foi tema de conversa com as autoridades russas, disse o mandatário.

Morales insistiu que não tem "nada a ver" com este assunto e afirmou que até à data nem sequer sabia quem era o ex-técnico da CIA, cujas revelações estão a constranger o Governo norte-americano.

La Paz culpou diretamente pelo sucedido os Estados Unidos, a cujo Governo acusa de orquestrar o sucedido "utilizando alguns países europeus", segundo disse o ministro da Defesa, Rubén Saavedra, que acompanha Morales na viagem.

Em conferência de imprensa no aeroporto da capital austríaca, Saavedra anunciou que a Bolívia vai recorrer aos "fóruns internacionais" para denunciar Governos que "tenham violado as normas de direito de trânsito aéreo".

A Bolívia figura como um dos 21 países aos quais, segundo o portal do WikiLeaks, Snowden solicitou asilo, ainda que o Executivo deste país andino tenha garantido, esta terça-feira, não ter recebido qualquer pedido.

Contudo, numa entrevista concedida esta semana a um canal de televisão russo, Evo Morales afirmou que estaria aberto a "debater, a analisar" o assunto em caso de haver pedido.

Vários países do bloco bolivariano, entre os quais Venezuela, Equador e Nicarágua, expressaram de imediato a sua condenação ao que sucedeu com o avião de Morales.

O Equador anunciou que vai solicitar uma reunião extraordinária de ministros dos Negócios Estrangeiros da União de Nações do Sul (Unasur) para analisar "tamanha ofensa", um pedido a que se juntou a Bolívia através da sua ministra da Comunicação, Amanda Dávila.

DM // FV - LUSA

Relacionado em Página Global, com opinião

O “ARCO DA VELHA”!



Martinho Júnior, Luanda

1 – Em Portugal, década após década o “arco do governo” tem sido articulado a três, que “sabiamente” exploram todo o espaço contraditório possível, para manter uma alternância institucional admissível às elites e inibindo sempre a legítima alternativa popular e participativa.

É essa a essência do “arco da velha”, ou seja, da varinha mágica do “Bilderberg” inveterado que é Francisco Pinto Balsemão, o crónico fazedor de opinião (“fazedor de reis”) que é um profundo conhecedor da mentalidade-padrão que é imposta como um acto de cultura “pragmática” e sócio-política de censura desde as experiências e os anos idos do fascismo: alimentar as contradições (neo)liberais entre os três componentes do “arco do governo”, para que nunca seja dada oportunidade à contradição nos termos da luta de classe, sensível a um “governo patriótico e de esquerda”.

No espaço aberto aos três do “arco do governo” assume-se a contradição de fanfarra, impedindo que a contradição essencial alguma vez ascenda na sua fórmula efectivamente justa e patriótica, ou para que ela morra à nascença se por acaso tiver alguma veleidade à ascensão… para que esta não passe “da rua” para os salões governamentais…

Com isto as elites portuguesas aninhadas e submissas ao sentido “Bilderberg” avisam a navegação: uma alternativa de “governo patriótico e de esquerda” será um caminho de caos e por isso que venha a fanfarra!

Ninguém melhor que António João Jardim para fazer esse aviso à navegação, como um “out sider” ao continente ou um “cacique” local, como queiram, o que justifica plenamente o seu papel de avisado “bobo da corte” no seio do PSD: a peça teatral com ele fica completa!

2 – Assim o “Bilderberg” em Portugal, um mês e meio depois do encerramento da reunião anual do grupo elitista em Londres passou automaticamente à ofensiva, “jogando pelo Seguro”… “com recurso a Portas e travessas”… com todo o suporte de “Expressos & SICários”, ou de outros afiliados quejandos!

Teremos um tempo em que o “banho maria” da nova situação (transitória), que ora se despoletou com as sucessivas demissões governamentais, vai preencher o quotidiano mediático, a fim de fazer passar as mensagens da conveniência do “arco da velha” aproveitando “a crise”!

Prometem-se emoções (controladas) a rojos, animando a fanfarra… não percam!

Pode ser que o “banho maria” dure apenas uns dois meses, realizando eleições gerais precisamente na altura das eleições para as autarquias, mas também pode ser que as eleições se venham a realizar só mesmo na data prevista (o que é institucionalmente mais difícil e uma verdadeira “queima” para o Presidente Cavaco.

É evidente que as mensagens para o tempo da transição, pela surpresa de umas, a intensidade de outras e os escândalos da ocasião, convenientemente não ultrapassem determinados limites, ou seja, não podem saturar emocionalmente, nem chocar demasiadamente com os “brandos costumes”, mesmo que eles ordeiramente, de acordo com o legado de leis democráticas, desfilem em manifestações pacíficas por todas as ruas do país…

Os peritos psico-sociológicos feitos jornalistas dos “Expressos & SICários”, ou de outros afiliados quejandos, lá estão para dosear artificiosamente, conferindo coerência à manipulação!

“!Que ganhe o melhor e que o melhor seja… mais um Bilderberger”!

É mesmo um “arco da velha”!

Gravura: Adaptáveis ao “arco da velha”!

A consultar em Página Global: “Portugal – coisas do arco da velha”

Portugal - Jorge Miranda: Está em causa «o regular funcionamento das instituições»



TSF

O constitucionalista defende, em entrevista à TSF, que o Presidente da República deve «demitir o Governo por estar em causa o regular funcionamento das instituições».

Jorge Miranda explica que o Presidente da República (PR) não pode demitir ministros de forma direta, mas tendo em conta a gravidade da situação, o constitucionalista explica que Cavaco Silva pode chamar Passos Coelho e pedir-lhe que entregue o pedido de demissão apresentado ontem pelo ministro dos Negócios Estrangeiros.

«A nomeação e a demissão dos ministros são feitas sob proposta do primeiro-ministro (PM). Portanto, o PR não tem o poder, sozinho, de demitir um ou qualquer ministro. No entanto, perante uma situação deste género, em que não se trata de um ministro qualquer mas do parceiro da coligação, de todos os ministros desse partido, o PR deve intervir junto do PM no sentido do PM propor a demissão dos ministros», explica.

Se ainda assim o PM se recusar a apresentar o pedido de demissão de Paulo Portas, Jorge Miranda entende que o PR tem de demitir o Governo.

Sobre o discurso de ontem de Passos Coelho ao país, Jorge Miranda é muito crítico e diz à TSF que se tratou de um discurso «patético».

«Perante a teimosia e esta inconsciência do primeiro-ministro que se viu ontem naquele discurso absolutamente patético que o país ouviu com espanto, só comparável ao discurso de Vasco Gonçalves, de Almada, quando já estava a cair em 1975», criticou.

Portugal: DEPOIS DA TRAGÉDIA, A FARSA



Daniel Oliveira, opinião - Expresso

Vítor Gaspar escreveu uma carta em que assume que os resultados da sua política o deixaram sem credibilidade para continuar no governo. Na cabeça de Gaspar a sua demissão é de uma naturalidade cristalina: o que tinha de ser feito foi feito, os resultados foram o que foram e outros, menos odiados no País, no PSD, no CDS e no Conselho de Ministros, teriam de continuar o serviço. Não se apercebeu Gaspar que a política é feita de escolhas e consequências. As suas foram estas e os resultados foram um desastre. Deixou os destroços dos seus erros para outros resolverem. Sem assumir um erro, sem se arrepender de nada. Mas escrevendo uma carta que decretava, irremediavelmente, a morte deste governo. Porque, mesmo sem o querer, dava razão a todos os que explicam há meses que o caminho decidido por Gaspar era um beco sem saída.

Pedro Passos Coelho, numa idiota demonstração da força que não tem, resolveu, mais uma vez, ignorar a opinião do parceiro de coligação. O parceiro sem o qual tem um governo minoritário. Para substituir Gaspar escolheu o braço direito de Gaspar. A falta de credibilidade que o ministro demissionário reconheceu em si próprio, e, necessariamente, na sua equipa, não a percebeu Passos Coelho. Porque, na sua confrangedora incapacidade política, nenhuma evidência lhe salta à vista. Sozinho, penosamente sozinho, restam a Passos indefectíveis anónimos, tão deslumbrados pelo seu minuto de poder que aceitam novos lugares num governo que, na realidade, já não existe.

Restava a Passos a ex-professora que ele próprio colocara no governo e que, quando todos julgavam que deveria ser demitida de secretária de Estado, foi promovida a ministra. Achou que escolher Paulo Macedo seria o reconhecimento do erro e uma perda de autoridade. E achou bem. Só que reconhecer o erro (e isso implica sempre uma fragilização) era a única saída que sobrava a este governo perante os resultados desastrosos dos últimos dois anos, que apenas ele parece não ver. Acontece a quem governa e falha ter de recuar e com isso perder, pelo menos por algum tempo, poder. Mas Passos acha que basta ter um lugar para se mandar. Protegido por Cavaco e pela troika, quis continuar na mesma como se tudo o resto fosse um cenário inerte e passivo.

Em Belém, num momento que provocou vergonha alheia colectiva, o Presidente da República mais ou menos em exercício deu posse à ministra das Finanças que antes de o ser já não o era. Também Cavaco Silva parece não ter percebido que alguma coisa estava fora da ordem e que não podia continuar a sua vidinha institucional como se fosse um mero mestre de cerimónias.

Poucas horas antes Paulo Portas encontrara a saída para o pântano em que está enfiado há dois anos. Ao que parece, Pedro Passos Coelho escolheu a nova ministra contra a sua opinião. E Paulo Portas, sem dizer nada aos restantes dirigentes do seu próprio partido, terminou a coligação entre um PSD em que quase nenhum militante do PSD se revê e um CDS que é sua propriedade unipessoal. Um com o partido longe de si, outro com o partido no seu bolso, decretaram divórcio pelo qual todos esperavam. Mas nenhum divórcio a sério se faz sem o pequeno escândalo, a pequena chantagem emocional. Foi a isso mesmo que assistimos, às oito horas, em São Bento.

Todas as pessoas normais esperavam que o resultado desta decisão de Paulo Portas fosse a evidente: perdida a maioria parlamentar, perdidos, em apenas 24 horas, o número dois e número três do governo, Passos demitia-se e passava a bola para Cavaco Silva. A confrangedora tomada de posse de Maria Luís Albuquerque poderia ter levantado a suspeita de que as coisas não seriam bem assim. Mas uma fuga para frente, mesmo vinda de Passos Coelho, seria demasiado irresponsável para ser plausível. E até Cavaco Silva poderia ter convencido o primeiro-ministro da impossibilidade de manter um governo que já só tem, na realidade, uma pessoa lá dentro. E manter até 2014 uma coligaçãoo contra a vontade de uma das partes.

Foram claras as intenções de Passos Coelho nas suas declarações em São Bento, cenário para onde esta novela mexicana passou ao princípio da noite: se era para o governo cair que fosse o CDS a fazer tudo de forma bem escandalosa. A acabar expressamente com a coligação e, quem sabe, a chumbar uma moção de confiança. O estadista, que dá tudo pelo País e tudo faria para evitar uma crise política, já só se preocupa em garantir que Paulo Portas fica mal na fotografia. Preocupação inútil: já ninguém se safa nesta decomposição ao vivo e em direto de um governo.

Passos já só pensa nas próximas eleições a que, não me admiraria, ele pode vir a concorrer para bater todos os recordes de humilhação eleitoral para o PSD. Passos lida com um país a afundar-se numa gigantesca crise social e económica como se estivesse perante um congresso da JSD, com mal amanhados golpes de teatro. Passos tenta fazer em versão amadora aquilo em que Portas é um profissional.

Mas o momento mais patético, se é possível escolher um nesta deprimente encenação a que o País, atónito e falido, assiste, foi quando Passos Coelho disse que não aceitava a demissão de Paulo Portas. É uma requisição civil de um ministro? Quer sequestrar um partido numa coligação? É um ato de negação perante o rompimento de um casamento disfuncional? Nada disso. É teatro, mais teatro, mais teatro. Uma novela rasca em que os protagonistas enchem de episódios inúteis uma trama que já tem o fim decidido.

Já não se pede que se ajude Passos Coelho a pôr fim ao seu mandato com alguma dignidade. Isso é impossível. Ainda mais quando tal golpe final está nas mãos de um Presidente que vive em pânico de decidir seja o que for. Apenas se queria que nos poupassem a isto tudo. Já chegam a crise, o desemprego, os impostos, a emigração em massa. E, por favor, não nos venham mais com a chantagem da credibilidade do País perante os mercados e os parceiros europeus. Quem deu, nas últimas 24 horas, tão triste espetáculo, não pode, nunca mais, abrir a boca sobre a credibilidade de Portugal. Nem Passos, nem Portas, nem Cavaco.

Somos apenas mais um País, entre outros, a sofrer os efeitos de uma crise internacional e de uma União Europeia em desagregação. Infelizmente, temos direito a um bónus: para lidar com tudo isto estão um garoto, um habilidoso e um cobarde, em simultâneo, no mesmo palco. E esta é a parte pela qual somos, como cidadãos, realmente responsáveis.

Portugal: O GOVERNO ACABOU MAL MAS FELIZMENTE SEM VIOLÊNCIA



Mário Soares – Jornal i, opinião

Há longas semanas que tenho escrito – e falado nas televisões – que o actual governo Passos Coelho estava moribundo. Poucas pessoas me deram crédito, julgando que tomava os meus desejos pela realidade. Finalmente os meus ditos consumaram-se. Primeiro com a demissão de Vitor Gaspar que escreveu uma carta muito inteligente ao primeiro-ministro que aliás divulgou.

A substitui-lo, Passos Coelho fez ministra das Finanças a sua secretária de Estado, Maria Luís Albuquerque, que mentiu sem vergonha ao parlamento. Foi a pior coisa que fez para indignar Paulo Portas. Uma provocação que lhe foi feita, dado que a já nomeada (depois do governo cair), uma vez que ia fazer a mesma política de Vitor Gaspar. O que levou Portas também a demitir-se, com os seus ministros, e assim a tirar a maioria ao governo.

O primeiro-ministro – que fala hoje [ontem] ao país às 20 horas – e que não pode deixar também de demitir-se porque perdeu a escassa maioria que teve. Até agora o Presidente Cavaco Silva não disse nada. Falará seguramente amanhã [hoje], com o governo, finalmente, no chão. E agora? Que vai ele fazer que até a este fim triste sempre apoiou incondicionalmente este governo. Demitir-se também? Era o melhor que poderia fazer… Desacreditado como está.

Portugal: Há duas semanas, clientes de supermercado cuspiram em Vítor Gaspar



Jornal i

Vítor Gaspar e a mulher viveram um autêntico pesadelo num supermercado. A história foi confirmada ao i por dois ex-membros do governo. Foi há duas semanas em Lisboa. O ministro das Finanças, que, a exemplo da grande maioria dos membros do governo, andava sempre com segurança pessoal, decidiu ir às compras com a mulher. Sozinhos, sem qualquer elemento da PSP. As compras no supermercado correm normalmente, sem sobressaltos. Mas a presença de um dos ministros mais odiados do governo no estabelecimento começou a correr de boca em boca. Os olhares silenciosos dos clientes ao casal não faziam prever qualquer reacção mais desagradável ou violenta. Mas tudo mudou quando Vítor Gaspar e a mulher acabaram as compras e foram para a fila de uma das caixas.

Um cliente mais exaltado fez um comentário alto, outro atirou um insulto e de um momento para o outro tudo ficou descontrolado. Os seguranças do supermercado foram alertados pelos gritos dos clientes e aproximaram-se do casal para evitar males maiores. Pagas as compras, Gaspar e a mulher dirigiram-se para a saída protegidos pelos seguranças, que não conseguiram evitar as cuspidelas de outros clientes, misturadas com insultos e tentativas de agressão.

TELEFONEMA A PASSOS 

Mal chegou a casa, Vítor Gaspar telefonou a Pedro Passos Coelho. Por uma razão. Tinha chegado a hora de o primeiro-ministro acelerar a sua saída do governo. Como é sabido, o ministro das Finanças já tinha pedido a demissão duas vezes. Ficou por razões que fez questão de explicar na carta de demissão e que, em última análise, se prendiam com as negociações com a troika e com o Eurogrupo. Era importante, de acordo com Gaspar, fechar a difícil sétima avaliação, garantir a tranche de 2 mil milhões de euros e a extensão das maturidades da dívida portuguesa aos fundos europeus por sete anos. Nesse telefonema, feito a poucos dias da reunião do Eurogrupo de 20 de Junho, em que ficou fechada a sétima avaliação, Vítor Gaspar fez questão de frisar que a sua decisão era irreversível e que a saída teria de ser rápida. Por todas as razões. Até pela família.

Portugal: EDP CONTRATA MARIDO DA MINISTRA MARIA LUÍS ALBUQUERQUE



Jornal i

António Albuquerque foi jornalista do "Diário Económico"

A EDP contratou o marido da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, para prestar serviços de consultoria nos projectos fora de Portugal, avança a revista “Visão”. Dispensado há dois meses do “Diário Económico”, António Albuquerque tem no currículo a agência de comunicação Cunha Vaz & Associados.

No final de 2011, após a nomeação da mulher para o Tesouro, o ex-jornalista deixou de exercer cargos executivos naquele diário especializado em Economia, detido pela Ongoing. Em finais de 2012, foi incluído numa lista de cerca de duas dezenas de funcionários a dispensar pela empresa, tendo chegado a um acordo de rescisão há cerca de dois meses.

Foi Maria Luís Albuquerque que no final de 2011, enquanto secretária de Estado do Tesouro concluiu a venda de uma participação de 21,35% da empresa pública aos chineses da “Three Gorges” por 2700 milhões de euros.

A operação está a ser investigada pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), onde Maria Luís Albuquerque já foi prestar explicações sobre eventuais pressões a que poderá ter sido sujeita durante a privatização.

Marido de Maria Luís Albuquerque rescinde contrato com EDP (atualização PG às 14:55)

António Albuquerque, marido da ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque, pediu a antecipação do final do contrato que mantinha com a EDP, revelou hoje à agência Lusa fonte oficial da elétrica.

Portugal: PAULO PORTAS FALA HOJE AO PAÍS



Jornal i

Paulo Portas vai falar, esta quarta-feira, ao país. Para já, ainda não há hora marcada para fazer essa comunicação.

Neste momento, o líder do CDS está reunido com o núcleo duro do partido para explicar as razões da sua demissão.

Recorde-se que, o CDS vai-se reunir ainda esta tarde em Comissão executiva para discutir o futuro da coligação. Tudo indica que, os dois ministros do CDS - Assunção Cristas e Mota Soares - deverão pedir a demissão, assim como os secretários de Estado.

Em cima da mesa poderá também estar o adiamento do congresso do CDS, marcado para este fim-de-semana.  

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O FADÁRIO PORTUGUÊS




Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião

Vítor Gaspar foi embora compulsivamente. Era preciso ter um espírito coriáceo incomum para aguentar o que aguentou. Um cerco infernal de insultos, execrações, vitupérios rodeou uma actuação cuja doutrina em que se escorava era tão absurda como apavorante: tínhamos de rastejar na miséria, no empobrecimento e na dor, para renascer, como a Fénix, na felicidade e na fortuna. Não digam que o não disseram: Passos Coelho alertou-nos, com a convicção de um fanático e a obstinação de um anacoreta.

A história destes dois anos é um fadário. A intrusão de modelos estrangeiros suscita, inicialmente, rejeição e repulsa, mas, progressivamente, acabam por ser admitidos com resignação. Pensavam eles. O tiro saiu pela culatra. Nunca Portugal se tinha levantado em massa como o fez. No armorial das nossas indignações aprendemos a conhecer o poder de que dispúnhamos.

Mas há o inevitável cansaço, insidioso, viscoso e denso. Passámos demasiado tempo num tempo semelhante. Foi ontem, foi muito longe. A memória faz emergir coisas excessivamente dolorosas. É preciso não esquecer que morreu muita gente, punida pela razão singela de querer ser livre. Um dos mais belos livros que fala dos dias claros, Alvorada em Abril, do Otelo, ilumina, ainda hoje, muitos de nós, para essa construção justa, de coragens insólitas e exaltações grandiosas. O festim foi curto. "Qual é a tua, ó meu/ Andares a dizer/ Quem manda aqui sou eu..." Rematou a marcha de José Mário Branco, melancólica por já não podermos pertencer e defender a cultura do interdito. A sociedade fora chamada pelas classes dominantes, acordadas do susto e recompostas para julgar e castigar o nosso modesto grito de subversão. Desde aí, sobrenadamos nesta impossibilidade trágica de ser felizes. Pedro Passos Coelho resulta de um desenraizar dos ensinamentos e dos padrões com os quais vivemos. Não sabe, nunca soube, por impreparação e alarmante incultura, que abria a caixa de Pandora. Vítor Gaspar representou-se-lhe como uma espécie de guru, ainda não totalmente riscado da nossa tragédia. Extirpar o desígnio maléfico do programa imposto vai levar décadas. A pouca atenção dada aos excluídos e a indiferença moral que nos foi inculcada não é um plano recente: nasceu há muitos anos e foi cuidadosamente apensa a uma ideologia.

Gaspar, tão elogiosamente referido pelo fatal Catroga e pelo inexcedível Beleza, deixou sementes do ódio. A senhora que o substituiu não poderá proceder à reforma deste pensamento e muito menos à inversão da sua acção, pela impossibilidade que a dinâmica dos factos impõe. Trocar alguém ou um governo por outro alguém não é factor tributário de "mudança". Talvez melhore, mas não resolve. Está por fazer a narrativa do que nos tem sido ocultado, e a releitura crítica destes dois últimos anos de vassalagem de um Governo a outro. Gaspar foi embora ou não?

(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)

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