sexta-feira, 15 de março de 2013

Portugal: O BLÁ-BLÁ DE VITOR GASPAR

 


Nicolau Santos – Expresso, opinião
 
Vítor Gaspar colocou hoje o seu melhor ar de hipnotizador para nos tentar passar três ideias: que o ajustamento está a correr como o previsto; que o défice orçamental foi cumprido; e que em 2014 tudo começa a melhorar.
 
São tudo inverdades. O ajustamento não está a correr como o previsto. O défice orçamental não é cumprido desde 2011. E em 2014 não há sinais de melhoria no horizonte.
 
O certo é que com o seu experimentalismo económico e o seu fuindamentalismo ideológico, o ministro colocou o país de pantanas. A dívida pública vai chegar aos 124% em 2014, um valor obviamente impagável. O desemprego está descontrolado, porque atingir 2016 sempre com taxas de desemprego acima dos 18% é uma barbaridade - e vamos ver se este valor não trepará ainda mais. Estamos no terceiro ano de recessão, com um valor acumulado de 7%. E o défice orçamental foi de 6,6% no ano passado contra o objetivo inicial de 4,5% e final de 5% - apesar do ministro agora ter descoberto que há três valores para o défice: o que conta para a troika (4,9%), o que conta para o Eurostat (6,6%) e o saldo orçamental sem efeitos pontuais (6%). Uma conversa para obviamente enganar e coinfundir os incautos.
 
Na verdade, foi Gaspar que optou, depois de falhar o ajustamento orçamental em 2011 e 2012, por carregar a sério num brutal aumento de impostos para 2013, contra o que estava escrito no programa de ajustamento e contra a vontade da troika. O resultado é uma economia devastada pelo napalm dos impostos.
 
Que Gaspar piedosamente fale agora em algumas medidas de apoio ao crescimento só dá para chorar, porque não há nenhuma vontade de rir. Quem é que investe neste ambiente? Quem é que aposta num país sem energia? E quem acredita que é mesmo isso que o ministro quer?
 
Gaspar fala fala mas nós não o vemos a fazer nada para apoiar o crescimento. Talvez não seja ele que tenha de fazer isso. Mas então é melhor não mencionar a corda na casa do enforcado. Até porque os seus truques de hipnotismo deixaram obviamente de ter qualquer credibilidade.
 

Portugal: PASSOS COELHO VAIADO EM AVEIRO

 


Mariana Cabral - Expresso
 
Chegada do primeiro-ministro ao Parque de Exposições de Aveiro, para o encerramento do Congresso da Região, foi brindada com insultos e gritos de demissão.

Algumas dezenas de pessoas vaiaram Pedro Passos Coelho quando o primeiro-ministro chegou ao Parque de Exposições de Aveiro para o encerramento do Congresso da Região.
 
"Gatuno" foi dos gritos mais repetidos pelos protestantes, que se mantiveram no local após a passagem de Passos Coelho.
 
O Congresso da Região de Aveiro 2013 decorre sob o tema "Projetos de Futuro" e incide sobre os potenciais geradores de crescimento, investimento e emprego na zona.
 
Passos elogia Aveiro
 
No discurso de encerramento do Congresso, o primeiro-ministro deixou fortes elogios à região. "O distrito de Aveiro tornou-se um símbolo de um Portugal lutador e empreendedor, sem queixumes e lamentos", disse.
 
"Com base nas novas tecnologias", as empresas da região têm prosperado, de acordo com Passos Coelho, mesmo "sem esquecerem a sua identidade".
 

Portugal: Milhares de manifestantes exigem a demissão do Governo nas ruas de Lisboa

 


DN(RR) – MSF – Lusa, foto Mário Cruz
 
Milhares de funcionários públicos de todo o país e de vários setores estão a descer a avenida da Liberdade gritando palavras de ordem a exigir o fim da política de austeridade e a demissão do Governo.
 
Os manifestantes saíram da Praça Marquês de Pombal, pouco depois das 15:00, em direção ao Ministério das Finanças, onde vai terminar a manifestação nacional promovida pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública.
 
O desfile é encabeçado pelos principais dirigentes sindicais da função pública, acompanhados pelo secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.
 
A coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, disse à agência Lusa, no início do percurso, que a ação de hoje visa mostrar ao Governo que os trabalhadores da função pública estão contra a política de austeridade em curso e querem a sua demissão.
 
A sindicalista criticou os números hoje divulgados pelo Governo sobre o aumento do desemprego e sobre o fracasso das metas do défice considerando que são a prova de que o Governo não está a defender os interesses dos trabalhadores portugueses.
 
Arménio Carlos também manifestou à Lusa a sua preocupação com o aumento do desemprego e disse que Portugal foi posto numa situação semelhante à que se vive na Grécia.
 
O líder da intersindical pediu a demissão do Governo e apelou aos trabalhadores da função pública e do setor privado, e à generalidade da população portuguesa, para saírem à rua e forçarem a demissão do executivo.
 
Ana Avoila não quis adiantar o número de participantes no protesto porque o percurso ainda estava no início.
 
Por volta das 16:00 os manifestante enchiam completamente a avenida da Liberdade entre os Restauradores e o Marquês de Pombal, que estava ainda cheio de gente.
 
Os manifestantes fizeram grande parte do percurso ao som da "Grândola Vila Morena", que intercalavam com palavras de ordem contra o Governo.
 
Entre as palavras de ordem entoadas, não faltaram também algumas contra a falta de atuação do Presidente da República para inverter o desemprego e o empobrecimento do país.
 

Presidente da República diz que negociação sobre despedimentos coletivos foi difícil

 


PLI - HFI – PGF - Lusa
 
O Presidente da República, Cavaco Silva, referiu hoje, em Vila Flor, que a negociação sobre os despedimentos por indemnização foi “difícil” e que o resultado foi o “possível”.
 
“Foi uma negociação difícil e esse deve ter sido o resultado possível e que penso teve o próprio acordo dos parceiros sociais”, afirmou o Chefe de Estado durante uma visita a uma fábrica de cogumelos, em Vila Flor.
 
O Governo anunciou hoje que foram acordados com a 'troika' novos limites de compensação por despedimento a receber pelos trabalhadores, que foram reduzidos para os 12 dias no caso dos novos contratos.
 
"Apenas os novos contratos permanentes, ou seja sem termo, passarão a 12 dias, e todos os outros terão 18 dias de indemnização para os primeiros três anos, e passarão a 12 nos seguintes, sem prejuízo dos direitos adquiridos", disse Carlos Moedas, o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro durante a apresentação das conclusões da sétima avaliação do Programa de Assistência Económica.
 
Os novos contratos permanentes vão passar a ter um limite de 12 dias por cada ano de trabalho e, para todos os outros contratos, o limite passa a ser de 18 dias por cada ano de trabalho nos três primeiros anos e 12 dias por cada ano de antiguidade nos seguintes.
 
“A informação que tive é de que tinha sido encontrado um compromisso envolvendo também os parceiros sociais”, salientou.
 
Em relação à taxa de desemprego, que o Governo espera que cresça para mais de 18% já este ano, passando dos 15,7% em 2012 para 18,2% este ano e continuará a subir em 2014 atingindo um novo máximo histórico de 18,5%.
 
“Os números do desemprego em Portugal já são neste momento dramáticos”, afirmou Cavaco Silva.
 
Para o Presidente da República, a única forma de inverter esta situação é através do “crescimento económico”, que exige “mais investimento e mais exportações” .
 
“Por isso, aquilo que pode ser feito para restaurar a confiança para trazer mais financiamento para as nossas empresas, para que elas possam investir, é a resposta que nós devemos dar a este drama que é o desemprego”, sublinhou.
 

Governo apresentou ao país situação de "catástrofe nacional" e deve demitir-se - CGTP

 


ICO (NM/ND) – MBA – Lusa, foto Tiago Petinga
 
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, disse que o Governo confrontou hoje o país com uma “situação real de catástrofe nacional”, pedindo demissão imediata do Executivo de Passos Coelho e a convocação de eleições antecipadas.
 
“Estamos perante um fracasso, que é acima de tudo político. Uma política que colocou o país numa situação de calamidade, que está a destruir a economia, a esmagar os direitos sociais e laborais e a aprofundar as desigualdades”, disse Arménio Carlos em conferência de imprensa, após as declarações do ministro Vitor Gaspar sobre os resultados da sétima avaliação da ‘troika’ ao programa de ajustamento português.
 
Para a CGTP, este é um Governo que está “descredibilizado” e deve demitir-se e por isso mesmo, os trabalhadores e as suas famílias devem manifestar o seu descontentamento e exigir a convocação de eleições antecipadas.
 
A central sindical anunciou ainda a convocação de um conselho nacional extraordinário na segunda-feira para “analisar a situação económica, social e política” do país.
 
As metas do défice orçamental deste ano tiveram que ser novamente revistas sete meses depois, com a nova meta do défice para 2013 a ser de 5,5%, superior à meta de 2012.
 
O Governo reviu também hoje em baixa a sua projeção para a economia portuguesa, prevendo agora que a recessão seja de 2,3% do PIB este ano e não de 1% do PIB.
 
Em conferência de imprensa de apresentação dos resultados da sétima avaliação do Programa de Assistência Económica, Vitor Gaspar reviu ainda em alta a taxa de desemprego para este ano de 16,4% para 18,2%.
 

Portugal: Protesto da função pública concentrado em frente ao Ministério das Finanças

 


DN - TDI – MSF – Lusa, foto Mário Cruz
 
A manifestação da Frente Comum de sindicatos da administração pública chegou ao Ministério das Finanças no Terreiro do Paço, em Lisboa, onde milhares de manifestantes fazem ouvir-se sob vigilância policial, duas horas depois de partir do Marquês de Pombal
 
A manifestação decorreu até aqui de forma ordeira, não se registando quaisquer incidentes durante o percurso, estando agora concentrada em frente ao edifício onde, esta manhã, o ministro Vitor Gaspar anunciou os resultados da sétima avaliação da 'troika' (Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional).
 
Os manifestantes erguem cartazes nos quais pedem a demissão do Governo e o fim da política de austeridade, tendo sido todo o percurso acompanhado por palavras de ordem como "O povo unido jamais será vencido" e "O FMI não manda aqui".
 
Quando todos os manifestantes que participam nesta ação estiverem reunidos no largo em frente ao Ministério das Finanças seguir-se-ão os discursos dos dirigentes sindicais como a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila, e o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.
 
Um cordão policial impede os manifestantes de se aproximarem da entrada do Ministério das Finanças e na rua lateral é possível observar cerca de 15 carrinhas do corpo de intervenção, bem como agentes acompanhados por cães.
 

UM MOVIMENTO QUE VEM DE LONGE

 


Martinho Júnior, Luanda
 
Desde que as veias de África e da América foram abertas nos alvores do capitalismo, que um movimento telúrico emerge, geração post-geração, até aos nossos dias.
 
A luz e a sombra são integrantes desse movimento, que por vezes se eclipsa, para depois ressurgir com toda a plenitude e esperança.
 
Os escravos, os oprimidos da colonização e do “apartheid”, os oprimidos das tão vulneráveis nações do sul, tiveram toda a legitimidade nas revoltas, nas revoluções e no movimento de libertação que desencadearam na sua ânsia de liberdade, de justiça, de solidariedade e de dignidade.
 
No princípio foi a escravatura e o tráfico negreiro, as feitorias nas costas dos dois continentes e as torrentes de riqueza que a Europa foi acumulando em função do seu poderio redundante das conquistas, da exploração desenfreada, da colonização, da morte…
 
O colonialismo, como o “apartheid”, como todas as suas sequelas, tiveram nesse húmus o seu berço e, mesmo depois do içar das bandeiras da independência há mais de 200 anos na América e há mais de 50 anos em África, a soberania das nações do sul tem sido deliberadamente esvaziada pelos processos neo coloniais, que deram sequência à brutalidade da opressão que advinha do passado!
 
Quantas guerras de rapina não ocorreram e têm hoje seu curso em África?
 
Quantas elites e oligarquias não foram arregimentadas em África e na América, para que o sinal do poder ilimitado das potências do norte perdure dominante sobre os povos, uma vez mais oprimidos e votados a um subdesenvolvimento crónico que como um anátema pende sobre a esmagadora maioria dos seres humanos das nações do sul?
 
Quanto a natureza tem sido afectada pela exploração desenfreada das riquezas e pela rapina sem escrúpulos?
 
As torrentes de capitalismo neo liberal, exacerbadas hoje na globalização que são o resultado da hegemonia do império, refinaram seus métodos de domínio arregimentando os mais atraentes e subtis argumentos, processos e métodos.
 
A democracia “representativa” (que no fundo só “representa” as elites, excluindo a esmagadora maioria), os “direitos humanos” (que valorizam, num duplo sentido o que é sempre a favor dos interesses dos poderosos da Terra), o “direito a proteger” (que é uma alucinação que abre espaço à ingerência, à manipulação, aos conflitos, às guerras e a regimes retrógrados com ideologias conservadoras) e tantas outras farsas, estão hoje aí, a coberto desse capitalismo neo liberal, que de tanto garantir o exercício dos poderosos, chegou ao extremo da especulação financeira e aos mercados envenenados pelos mais profundos desequilíbrios e injustiças!
 
A impunidade tem sido tanta que até algumas velhas nações Europeias estão a sentir na carne e no sangue de seus povos as crises artificiosas desencadeadas pela ganância do capital acumulado nas grandes potências, que está à mercê de um punhado de poderosos que correspondem a 1% da humanidade!
 
Por isso é legítimo que em função das heranças do passado e das hecatombes do presente, em nome do futuro os povos se levantem e continuem a saga alimentada por sua ânsia de liberdade, de justiça, de solidariedade e de dignidade.
 
Hugo Chavez foi um dos homens que compreendeu esse movimento telúrico que advém do passado de 500 anos, um dos homens que se identificou por inteiro com os povos e as maiorias marginalizadas e oprimidas da Terra, perscrutando um futuro garante de mais equilíbrio, justiça, democracia e paz, com o maior respeito para com a Mãe Terra!
 
Identificou-se por inteiro com a América constituída em Pátria Grande e com África, passando meteoricamente pela vida nestes últimos 14 anos em que com ele enquanto timoneiro se fizeram sentir todas as energias acumuladas pelos oprimidos da Terra!
 
Foi exuberante, por que percebeu como ninguém que o poder só tem ética e moral quando efectivamente adopta a lógica com sentido de vida, que é um fluxo que vindo do passado, constitui-se no resgate das capacidades da esmagadora maioria!
 
Foi carismático por que soube objectiva e subjectivamente assumir-se na trilha da identidade para com a vida!
 
Foi um exemplo que galvaniza milhões e milhões para um caminho em que todas as sombras se esvaem inexoravelmente!
 
Aqueles que viveram o 25 de Abril e o movimento de libertação em África contra o colonialismo e o “apartheid”, perfilam-se hoje perante um dos seus maiores, que soube dar continuidade à luta comprometendo-se, em nome da vida, com o aprofundamento da democracia e identificando-se com a frente das organizações sociais mais representativas do seu povo e da América!
 
Neste momento tão decisivo, saudamos com esperança a revolução na Venezuela, a construção da Pátria Grande e os continuadores de Simon Boliver e de Hugo Chavez!
 
Sabemos de onde viemos, por onde passámos, o valor do que fizemos e, mais do que nunca, o futuro que se pode erigir com determinação e coragem, em função da ânsia de liberdade, de solidariedade, de justiça e de dignidade no resgate dos oprimidos constituídos em esmagadora maioria!
 
É esse o caminho que nos ensina o Comandante Hugo Chavez!!!
 

BOICOTE ATIVO AO “OUTRAS PALAVRAS”. O QUE É DEMAIS CHEIRA MAL

 


Tem acontecido sistematicamente perante a passividade da justiça e seus operadores no Brasil. Os sites de Outras Palavras vêm sendo vítimas de invasão e boicote ativo por energúmenos que se dão ao desplante de o silenciar quando bem lhes apetece. Melhor que nós tudo é devidamente explicado nas palavras da sua Redação.
 
Por aqui pelo PG o que temos para oferecer ao Outras Palavras e a todos os seus sites é solidariedade e boca no trombone na indignação e reprovação total pelo seu silenciamento. Passamos às outras palavras de António Martins. Não sem antes usar o ditado “o que é demais cheira mal”. Basta de boicotes e de ações que visam atingir a liberdade de ideias e de expressão, a democracia de facto. Basta de impunidade. Apurem-se responsabilidades!
 
Pelo visto, nazi-fascistas é o que também não falta. Que não haja ilusões. "Eles" andam e agem por este mundo. Apesar de não passarem de uma minoria demonstram ter poderes bastantes na justiça e nos seus operadores de mão (polícias). 
 
A nossa solidariedade igual para Carta Capital. (Redação PG)
 
Outras Palavras de novo no ar
 
Ataques ao site foram interrompidos logo depois de denunciados. Rede de agressores permanece ativa: ministério da Justiça não pode permanecer omisso
 
Por volta das 20h30 de ontem (13/7), começou a ser desmobilizado o ataque que derrubou e manteve fora do ar, por quase 24 horas, os sites de Outras Palavras. O recuo ocorreu logo depois de difundirmos, pelo Facebook e por boletim de atualização disparado para 20 mil assinantes, a denúncia da agressão. Mais ou menos no mesmo horário, também o site da revista Carta Capital, que fora atingido de modo semelhante, voltou a ser acessível. A ameça, porém persiste. A rede que atacou os dois sites permanece ativa, e pode ser acionada a qualquer momento. Por sua natureza, só é possível neutralizá-la de modo eficaz se houver ação do ministério da Justiça e da Polícia Federal – algo que inexplicavelmente tarda, como revela Luís Nassif neste post em seu blog.
 
O gráfico acima revela o que ocorreu com os servidores que hospedam Outras Palavras, e confirma nossas hipóteses de ontem. Sofremos um Ataque de Negação de Serviço, ou DDoS [veja Wikipedia, em português ou inglês (mais detalhado)]. A curva indica o consumo de memória do servidor, ao longo do dia. O horário é o de San Francisco (EUA), quatro horas a menos que em Brasília.
 
O volume de memória contratado pelo site é 3,5 Mb, compatível com cerca de 10 mil textos lidos ao dia. Durante a quarta-feira, porém, o consumo ultrapassou frequentemente os 20 Mb, chegando a um pico de mais de 50 Mb e provocando uma sucessão interminável de quedas. Programado para religar automaticamente, o servidor era de novo derrubado, sempre que o fazia. Relatamos o ataque às 19h (15h em San Francisco). Logo em seguida, a agressão refluiu.
 
DDoS é um ataque de enorme poder que, no entanto, deixa rastros. Tornou-se mundialmente conhecido quando empregado, em dezembro de 2010, pelo coletivo Annonymous, em favor da liberdade de expressão e de Julian Assange (leia nossa matéria a respeito). Em resposta a uma ação do governo norte-americano, que ordenou o congelamento das doações feitas ao Wikileaks, cerca de 1500 ativistas do Annonymous derrubaram, por DDoS, sites de mega-organizações financeiras como Visa e Mastercard (que ajudaram no bloqueio financeiro). Nosso texto de então revela: para participar de um ataque deste tipo, basta baixar um programa e colocar o próprio computador na artilharia. No caso do Annonymous, os alvos são escolhidos em reuniões via internet, em linguagem cifrada e, segundo o grupo, sempre em favor das liberdades e direitos.
 
Mas e se uma organização criminosa usar a mesma arma com objetivos opostos? Surge, neste caso, uma ameaça extremamente grave à liberdade de expressão. A partir de 7/3, foram sistematicamente derrubados os sites que se referiam a um golpe financeiro, de tipo “pirâmide”, possivelmente praticado pela empresa TelexFree, cuja propriedade é nebulosa. Caíram o blog Acerto de Contas (o primeiro a tratar do tema), o blog de Nassif, Outras Palavras, Carta Capital, jornais regionais que reproduziram as matérias. No caso de Nassif, a agressão estendeu-se por quase uma semana, durante a qual o blog alternava momentos de atividade com outros em que era derrubado. Tudo indica, portanto, que o esquema permanece ativo, mobilizando-se ou refluindo segundo escolhas táticas.
 
Nesse ponto, torna-se decisiva a ação das autoridades responsáveis por defender a liberdade de expressão na internet – ou seja, ministério da Justiça, Polícia Federal e polícias estaduais. Seu trabalho não é fácil, mas é perfeitamente possível. Há profusão de indícios segundo os quais uma empresa procura silenciar quem aponta suas ilegalidades – em particular, as “pirâmides”, tipificadas há décadas como estelionato. O modus operandi da empresa baseia-se em mobilização de pessoas que atuam fundamentalmente na rede. Estas pessoas podem perfeitamente ter recebido, como parte de um pacote de aplicativos “de trabalho” um programa que alista suas máquinas no ataque contra os sites visados pelo esquema.
 
Há, portanto, rastros, possíveis provas, um claro caminho de investigação. Mas, conforme frisa Nassif, o aspecto mais desconcertante do caso é a paralisia do ministério da Justiça, num episódio em que lhe caberia articular a defesa de direitos e liberdades.
 
Haverá viés político no ataque aos sites? Nada autoriza a afirmar que sim, mas certos fatores permitem suspeitar. Por que os grandes grupos que dominam a velha mídia não tratam do caso?
 
Quem são os reais controladores da TelexFree? Haverá ligações entre eles e, por exemplo, os poderosos esquemas de difamação, via internet, que tentaram bombardear a então candidata Dilma Roussef, durante a campanha presidencial de 2010, em favor de outro postulante?
 
Só a investigação poderá responder. Por isso, e em nome da democracia, o ministério da Justiça não pode permanecer de braços cruzados.
 
A Redação de Outras Palavras
 

ALGUMAS NOTAS SOBRE REFLEXÕES DO CHE

 


Rui Peralta, Luanda
 
I - A criação de outra realidade, partindo da existente - a transformação do mundo - tem como mecanismo inerente á sua orgânica, o espirito critico, fomento da independência de critérios, da capacidade de pensar com a própria cabeça, essência da aprendizagem da escolha e distinção de caminhos, das implicações dessa escolha e dos seus resultados. A transformação implica reflexionar sobre a circunstância em curso, a actuação imediata, os métodos imediatos a aplicar, as etapas a definir e que fins permitem alcançar e a teorização do processo.
 
Consideremos, por exemplo, a ex-URSS. Todos os analistas de todas as correntes têm uma manifesta opinião (não fossem opinion makers) sobre o que aconteceu: saturação, implosão, fragmentação – entre as mais sofisticadas – retorno á realidade, fim do pesadelo e a verticalidade dos mercados – entre as mais imbecis, criadas para mentecaptos, criancinhas da escola secundária e naïfs (e também para alguma, imensa, ”intelectualidade” africana, saudosa do paternalismo colonial e das histórias de embalar dos colonos, ou talvez um mecanismo de compensação, que as leva a substituir o colono pelo mercado, no qual mergulham, qual crente fervoroso mergulha nas águas baptismais).
 
Mas (ao contrário da opinião da maioria) e se a URSS comprometeu o seu futuro, quando converteu a Nova Politica Económica (NEP), como factor permanente? E porque isso aconteceu? Será que a intelligentsia bolchevique esqueceu que a NEP foi uma medida imposta pelas condições de profunda crise interna, dominante após o final da Guerra Civil? Esquecimento não foi, com certeza, mas ausência de sentido critico, de independência de critérios, de pensar com a própria cabeça e falar de sua voz, de certeza.
 
É que no periodo de 1921 / 1922, conforme escreveu o Che, o país passou "a las relaciones de producción que configuran lo que Lenin llamaba capitalismo de estado, pero que en realidad también puede llamarse capitalismo pre monopolista en cuanto al ordenamiento de las relaciones económicas." E continua: “Con la muerte de Lenin se pierde el riquísimo acervo de su pensamiento revolucionario y queda el reflejo de su postrer impulso por el camino de la retirada." (Apuntes críticos a la economía política; Editorial de Ciencias Sociales del Instituto Cubano del Libro)
 
II - Dizem, de imediato, os teólogos da escolástica marxista: mas isso é por em causa todo o edifício soviético! Não, caríssimos filisteus, é por em causa a demagogia e a ausência de espirito crítico, quando se analisa ou lidera um período de transformação, determinado por causas e circunstâncias específicas e particulares, não mecanizadas, geradores de invariáveis infinitas e impensáveis, que colocam em mutação as constantes e os factores evidentes e objectivos.
 
Do Che poderia citar outros exemplos, mas para não ser cansativos vou apenas relembrar dois, de profunda actualidade: A tese escolástica, professada pela cartilha evangélica soviética, das lutas pela independência terem por objectivo a criação de democracias nacionais e a questão da união entre os proletários do mundo, ponto final de todas as declarações proferidas pela nomenklatura.
 
Sobre a primeira respondia o Che: (…) el imperialismo no agoniza, ni siquiera ha aprovechado al máximo sus posibilidades en el momento actual y tiene una gran vitalidad (...) La tendencia es a invertir capitales propios en el aprovechamiento de las materias primas o en la industria ligera de los países dependientes. La aguda competencia en su seno provoca una incesante marea de innovaciones técnicas..." (Apuntes críticos a la economía política; Editorial de Ciencias Sociales del Instituto Cubano del Libro) e quanto á segunda: "Falso de toda falsedad. No hay punto de contacto entre las masas proletarias de los países imperialistas y los dependientes; todo contribuye a separarlos y crear antagonismos entre ellos (...) el oportunismo ha ganado una inmensa capa de la clase obrera de los países imperialistas." Prosseguindo: "La lucha contra la burguesía es condición indispensable de la lucha de liberación, si se quiere arribar a un final irreversiblemente exitoso" (Apuntes críticos a la economía política; Editorial de Ciencias Sociales del Instituto Cubano del Libro)
 
Eis o que é o sentido crítico, a independência de critérios, a capacidade de pensar, a distinção de caminhos, a análise das implicações dessa escolha e o diagnóstico dos seus resultados.
 
III - Ao dogmatismo do período estalinista, sucedeu um pragmatismo vazio e irrealista. A tragédia é que esse fenómeno sucedeu em todos os aspectos da vida, nos países do socialismo real. A superestrutura capitalista influenciou de forma marcante as relações de produção e os conflitos provocados pela cristalização e eternização da NEP resolveram-se a favor da superestrutura. Resultado: Regressou o capitalismo.
 
E se há uma coisa que o capitalismo não admite é o sentido crítico e a independência de critérios. Está fora de questão, a uma sociedade em que predomina o económico, o livre pensamento ou a capacidade de pensar. A alienação consiste na ausência do pensamento e da reflexão crítica. Na democracia, estrutura política do capitalismo, não existem alternativas, mas sim alternâncias, o pensamento é único (liberal, democrático e constitucional, sendo o mercado a única realidade) o estado é sempre de Direito e sempre nação (mesmo quando estamos na presença de estados-mercado, como Singapura) e uma vez deixando de ser necessária a função, o Estado social (mecanismo tao fundamental para a acumulação, como a nação) transforma-se em responsabilidade social e o contracto social, consignado nas Cartas Constitucionais e Magnas Cartas, tornam-se direitos formais.
 
Foi exactamente este mecanismo unidimensional que esteve na base do socialismo real e no erro crasso sobre o prolongamento da NEP, para além do contexto e conjuntura para a qual foi resposta.
 
IV - Ao encerrar-se numa errónea concepção da lei do valor, o socialismo real perdeu o contacto com o mundo exterior. A produtividade global derrotou os projectos socialistas que dependiam do comércio exterior (o que não era o caso da URSS). Instaurou-se uma profunda contradição interna entre os aparelhos centrais e as empresas, que procuravam atingir metas menores, beneficiando de prémios cada vez maiores. Os dirigentes das empresas socialistas converteram-se em charlatães, conhecedores de toda as formas de enganar o aparelho central e esta foi a cultura que prevaleceu. A cultura do engano.
 
Foram criados estímulos materiais, geradores de preconceitos como o mérito, o bom comportamento, o camarada que mais trabalha (que é como quem diz: o tipo que passa mais horas sentado no local de trabalho), enfim, retornou ao aparelho produtivo toda a mitologia da superestrutura capitalista, sendo a praxis socialista minada pelas motivações da produção capitalista. Como o espirito crítico e a capacidade de pensar estavam ausentes, sendo considerados contra procedentes pela nomenklatura, ninguém foi à raiz dos problemas, limitando-se tudo a um sinal afirmativo com a cabeça e a um imenso auditório composto por bate-palmas compassadas e bem orquestradas.
 
Eis o socialismo real em toda a sua pujança!
 
V - Vejamos um outro exemplo: Cuba. A revolução socialista de libertação nacional, triunfante em 1959, revelou-se um evento heróico e transcendente, pelo seu alcance global, por ter estabelecido um poder popular e ter enfrentado as agressões dos USA, mas, também, porque a Revolução Cubana constituiu uma heresia na escolástica socialista e nos dogmas da metafisica soviética. A transformação iniciada em 1959 implica uma História de contradições, conflitos, coexistência e colaboração entre as escolásticas e a praxis revolucionária cubana.
 
Neste longo e complexo processo, Fidel assumiu a liderança, durante a fase inicial da Revolução, executando um papel de responsável máximo e de educador popular. O Che, para além da acumulação de responsabilidades prácticas em diversas áreas, elaborou uma obra teórica de importância fundamental, um monumento intelectual da Revolução Cubana, que pelo seu vasto alcance, revelou-se essencial para a estratégia e para o projecto cubano, até ao presente e com alcance incomensurável para o futuro.
 
A praxis cubana foi gerada no espírito crítico e na capacidade de pensar os problemas próprios e repensar nas soluções e consequências das mesmas. É um espaço de acção e reflexão, onde a crítica e a criatividade são as vigas mestras.
 
VI - No seguimento do espaço socialista gerado pelo sentido crítico e pela capacidade de pensar, originado e prosseguido em Cuba (com todas as contradições inerentes a estes processos, inclusive padecendo de alguns dos males do socialismo real, ficando o homem novo algo aquém do desejado, por exemplo), os processos bolivarianos da Venezuela, Bolívia e Equador, representam a linha de continuidade da praxis cubana. Não no sentido mimético do termo, mas na forma como os problemas são discutidos, pensados e solucionados e na forma como o poder popular faz sentir o peso da sua participação e decisão. Processos transformadores onde a crítica, o pensamento e a capacidade criativa, são permanentes factores de ruptura com a velha realidade e construção de uma nova realidade.
 
Também aqui tenta-se superar as deficiências dos modelos de raiz. Exactamente porque são olhados de forma crítica. Talvez os processos bolivarianos (se forem completados) consigam dar uma melhor resposta nos factores pedagógicos e o homem novo, como ser não alienado se torne uma realidade palpável, um ser mais pensante e crítico, menos papagaio e inculto (coisa que apesar de todos os esforços a revolução cubana não conseguiu superar e que revela-se uma condicionante no actual processo de revitalização do sistema socialista em Cuba, provavelmente pela importação do conceito erróneo da lei do valor e do estimulo material praticado na Ilha durante as décadas de setenta e oitenta).
 
Neste momento em que os olhos dos povos do mundo estão postos na Venezuela, devido à morte do Comandante Hugo Chávez (eternamente vivendo na memória e no coração de todos nós), na esperança de assistir à continuidade do processo revolucionário venezuelano e à superação desta nova fase, as palavras de Che assumem um particular relevo: “A nova sociedade em formação tem de competir muito duramente com o passado. Isto faz-se sentir não só na consciência individual, onde pesam os resíduos de uma educação sistematicamente orientada para o indivíduo, mas também pelo próprio carácter deste período de transição, com persistência das relações mercantis. A mercadoria é a célula económica da sociedade capitalista; enquanto existir, os seus efeitos far-se-ão sentir na organização da produção e na consciência.” (O Socialismo e o Homem em Cuba, Março de 1965, semanário Marcha, Montevideu).
 

INSTITUIÇÕES EUROPEIAS: GRANDES IDEIAS E LUGARES-COMUNS

 


Revue Politika, Brno – Presseurop – imagem Mayk
 
A União Europeia produz todos os anos milhares de páginas de relatórios, discursos e legislação. Todos esses textos, que devem traduzir o projeto europeu, têm uma coisa em comum: uma linguagem pomposa e deslocada, digna de um regime dogmático, lamenta um analista político checo.
 
 
Todas as semanas, as instituições europeias e os seus representantes produzem dezenas de documentos oficiais e declarações de todos os tipos. Acumula-se legislação, projetos de lei, livros brancos e verdes, relatórios, resoluções, pareceres, discursos, etc. A singularidade da linguagem em que são escritos ou formulados constitui uma das suas propriedades intrínsecas.
 
O que impressiona logo na língua da União Europeia é a intensa utilização de frases feitas, recicladas sucessivamente com poucas variações. Parte está codificada no direito primário da União, outra emana de documentos-chave programáticos, adotados, por exemplo, no contexto da Estratégia de Lisboa e da Agenda Europa 2020. É como se a língua tivesse sido petrificada em blocos compactos, que, graças a um corta-e-cola, permite definir rapidamente a estrutura de qualquer forma escrita ou oral.
 
“O desenvolvimento sustentável é baseado numa economia social de mercado altamente competitiva, que tende para o pleno emprego e o progresso social”, “o combate à exclusão social e às discriminações”, “crescimento inteligente, sustentável e inclusivo”, “o modelo social europeu”, para além de outros, contam-se entre os “blocos” mais apreciados.
 
E mesmo quando não estão presentes as expressões mais estereotipadas, a língua da União Europeia caracteriza-se por um peso extremo e uma abundância de chavões vazios de sentido.
 
“Adotar políticas estruturais fortes”
 
Por exemplo, o Ato para o Mercado Único (2011), um documento da Comissão Europeia, abre com esta frase notável: “No cerne do projeto europeu, desde a sua fundação, o mercado comum, tornado mercado interno, constrói, há mais de 50 anos, a solidariedade entre os cidadãos europeus, homens e mulheres, ao mesmo tempo que abre novos caminhos de crescimento a mais de 21 milhões de empresas europeias.” O Parlamento Europeu aprovou-o, pondo especial ênfase na importância de, ao fazê-lo, permitir “aos cidadãos reaverem o seu espaço de vida comum e dando às iniciativas dos intervenientes públicos e privados maiores perspetivas de sucesso”, e afirmando que “o mercado único tem um papel fundamental a desempenhar na criação de crescimento e de emprego e na promoção da competitividade”, convindo “adotar políticas estruturais fortes, para explorar plenamente esse potencial”.
 
No Livro Branco sobre o Desporto, publicado em 2007, a Comissão escreveu: “O desporto atrai os cidadãos europeus: a maioria deles participa regularmente em atividades desportivas. Gera valores importantes, como o espírito de equipa, a solidariedade, a tolerância e a competição leal (fair play), contribuindo assim para o desenvolvimento e a realização pessoais. Promove a contribuição ativa dos cidadãos comunitários para a sociedade e, consequentemente, a cidadania ativa.”
 
Textos impregnados de dogmas
 
Instituições europeias e os seus representantes adoram sobretudo aquelas expressões empoladas, carregadas de triunfalismo. A União é descrita e pensada como “um ator-chave na cena mundial”, esboça-se “uma visão europeia dos maciços montanhosos” ou “uma visão europeia dos oceanos e dos mares”, exortam-se as pessoas a “reavivar o espírito empreendedor da Europa”, apela-se a “uma ampla mobilização política baseada numa ambiciosa visão e opções comuns”.
 
Numa intervenção de 2010 Europa 2020: Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, a Comissão afirma: “A crise constituiu o sinal de alarme. [...] Se agirmos em conjunto, poderemos reagir e sair fortalecidos da crise. Temos ao nosso dispor os novos instrumentos ao serviço de uma nova ambição. Chegou o momento de passarmos à ação.”
 
Vários textos e declarações contêm um verdadeiro fervor triunfalista. No Livro Branco sobre a juventude, com o subtítulo ligeiramente orgulhoso “Os jovens na linha da frente”, é possível ler: “A União deve ser construída com os europeus. As consultas organizadas de forma a preparar a sua evolução, as reflexões sobre a sua “governação” também devem incluir os que continuarão a tarefa (...)””
 
Os textos e discursos da União Europeia estão frequentemente impregnados de dogmas, preceitos e assumem um tom moralista e paternalista. Como se os seus autores se arrogassem o papel de professores perante alunos, de elite esclarecida, que sabe tudo melhor do que toda a gente e espalha o bem e o conhecimento entre o vulgo.
 
Dormência intelectual
 
Mas ao ler e ouvir algumas das declarações da União, os nossos cidadãos de meia-idade ou mais velhos terão sobretudo a sensação de voltar à infância ou à juventude [ao tempo do regime comunista]. Não surpreende. As características marcantes desta linguagem estão geralmente associadas a uma cosmovisão conotada à esquerda. Para marcar a rutura com o regime do passado, os nossos partidos de esquerda abandonaram um pouco esse tom.
 
Mas, na Europa Ocidental, a situação é diferente. A linguagem é apenas uma prova mais de que a esquerda, que desfruta das estruturas da União para promover o seu programa político, é a força motriz por trás da atual direção da União Europeia. O repisar continuado dos mesmos dogmas e fórmulas batidas é uma expressão de preguiça, de dormência intelectual, de falta de pensamento crítico, de permanente caminhada pelos mesmos trilhos. E ilustra a falta que faz às elites da União uma capacidade de autorreflexão que lhes permita perceber que foram ambições desmesuradas que mergulharam a UE na crise atual e lhes dê capacidade para quebrar o impasse do programa de centralização.
 

O PROBLEMA ALEMÃO

 


New Statesman, The Daily Mail - Presseurop
 
“Um espetro está a assombrar uma vez mais a Europa – o espetro do poder alemão”, escreve o historiador Brendan Simms na capa da revista The New Statesman, dedicada ao “problema alemão”. O semanário realça que a influência da Alemanha tem vindo a aumentar consideravelmente nos últimos cinco anos, período durante o qual Berlim soube superar a crise económica e impedir o Banco Central Europeu (BCE)
 
"de comprar as obrigações que os países europeus em bancarrota tanto desejavam vender, receitando-lhes em vez disso uma dieta de “regras” fiscais rigorosas. [...] Portanto, não ficamos surpreendidos por ver cada vez mais políticos e povos germanofóbicos por todo o continente.
 
Simms considera que nos últimos 500 anos, a Alemanha já teve muito poder diplomático, mas também já teve pouco.
 
Nos dias de hoje, a Alemanha é demasiado forte e demasiado fraca. Encontra-se no centro de uma UE concebida para limitar o poder alemão, mas que serviu apenas para o aumentar, e cujos defeitos de conceção prejudicaram involuntariamente a soberania de outros países europeus que ficaram sem poder democrático nesta nova ordem.
 
A questão que se coloca agora é: como é que a Alemanha, que nunca pareceu tão segura e próspera, pode ser convencida a tomar a iniciativa política e efetuar os sacrifícios económicos necessários para completar o trabalho da unidade europeia? De qualquer forma, a questão nunca deixará de persistir porque sempre que a Europa e o resto do mundo pensam ter encontrado a resposta, as conjunturas assim como os próprios alemães mudam a questão.
 
Entretanto, o historiador e colunista Dominic Sandbrook, escreve no Daily Mail que há cada vez mais europeus a declarar que a Alemanha está a tentar dominar a Europa pela terceira vez em menos de cem anos. Também se refere aos comentários do ex-presidente do Eurogrupo Jean-Claude Juncker, que estabeleceu vários paralelos históricos entre 2013 e o ano em que a Segunda Guerra Mundial começou e alertou para a possibilidade de haver uma guerra europeia. Relativamente à Alemanha, Sandbrook acrescenta:
 
Se continuarem a impor medidas económicas tão drásticas ao povo europeu, surgirão graves consequências como a alienação social, conflitos internacionais e a criação de políticas extremistas. Já presenciámos protestos sangrentos contra as propostas económicas alemãs em Atenas, Roma e Madrid. [...] O facto das crises políticas parecerem não ter fim fez com que a Alemanha passasse a ser cada vez mais vista como o salvador da economia europeia e o seu opressor. [...] A verdade é que o facto de se ter juntado países com situações económicas tão diferentes, como é o caso de Portugal, Grécia, França, Itália e Alemanha, serviu apenas para inflamar antigas inimizades.
 

OS DEMÓNIOS

 


José Manuel Pureza – Diário de Notícias, opinião
 
Na mesma semana em que o Parlamento Europeu rejeitou o projeto de orçamento plurianual da União Europeia para o período 2014-2020, o ex-presidente do Eurogrupo Jean-Claude Juncker exprimiu ao Der Spiegel a sua preocupação pelas semelhanças entre as circunstâncias da Europa de há cem anos e o contexto europeu atual. Diz Juncker que os velhos demónios que no passado trouxeram a guerra à Europa "não desapareceram [...] estão apenas adormecidos".
 
Pois é. Juncker nem sabe a razão que tem! Perante a vertigem da transformação da violência social em guerra, a Europa unida de hoje é demasiadamente parecida com a Europa segmentada de há um século. Ora, se isto é trágico, o que é mais trágico ainda é que Juncker - e, com ele, toda a elite económica e política que tem governado a Europa - pareça(m) ignorar que foi também pela sua mão que os demónios da guerra acordaram do torpor. Num exercício de candura tocante, ele diz que a razão de ser da "união económica e monetária sempre foi consolidar a paz", algo que só fica por cumprir porque "demasiados europeus estão a voltar a um espírito regional ou nacional". Alguém explique a Juncker que o nacionalismo não é uma questão de mau feitio nem nasce do vazio. Alguém lhe explique - e às elites de que ele é porta-voz - que, há cem anos como agora, o nacionalismo foi o refúgio de massas imensas acossadas por políticas de empobrecimento e humilhação. E que são essas políticas - de que Juncker, Barroso, Merkel e o centrão europeu têm sido intérpretes primeiros - que nos estão a atirar de novo para as mãos dos demónios da guerra.
 
Pôr em alternativa nacionalismo e federalismo é um truque. Porque tanto alimenta os demónios da guerra um nacionalismo de portas fechadas como um federalismo que, sob a capa da "supervisão económica e orçamental", amarra os povos a uma austeridade sem fim. Um e outro alimentam-se da mesma espiral de empobrecimento e criam um monstro social pronto a explodir em violência bruta.
 
Jean-Claude Juncker tem razão numa coisa: "Uma Europa unida é a única hipótese de o nosso continente não ser excluído do radar do mundo." Esqueceu-se de acrescentar que a Europa não se unirá do topo para a base, sem participação nem democracia. Houve quem o tentasse pela força e foi derrotado. Há agora quem o tente pela engenharia institucional. Será derrotado também. Não há despotismo iluminado que valha aos arautos de um sonho de paz perpétua que morre às mãos das vidas concretas que têm no castigo do dia a dia o seu único horizonte.
 
É por isso também que um projeto de orçamento que prevê cortes de 8% nas políticas de coesão só pode ser visto como parte do despertar dos demónios a que alude Juncker. É em nome da paz contra os demónios da guerra - da paz que não é só silêncio das armas mas também resposta à violência estrutural da austeridade, do desemprego, da precariedade e da "inevitabilidade" de tudo isto - que este orçamento da UE, que o pacto orçamental de que ele é instrumento e que a "governação económica" que institui a austeridade como mandamento máximo têm de ser combatidos.
 
"Em 1913, muitas pessoas acreditavam que nunca mais haveria uma guerra na Europa. As grandes potências do continente tinham fortes ligações económicas e a convicção geral era a de que simplesmente não podiam permitir-se entrar em conflitos militares." Um homem que pensa assim só podia ter imposto à sua presidência do Eurogrupo um rumo antagónico daquele que impôs. Tal como a ele, "arrepia-me ver como são semelhantes as circunstâncias da Europa em 2013 e as de há 100 anos." É por isso que combato quer o nacionalismo serôdio quer o federalismo aniquilador. É por isso que sou europeísta de esquerda.
 

OS MISERÁVEIS DA EUROPA

 


Imagem escolhida retirada do We Have Kaos in the Garden. Duas figuras proeminentes na condução do descalabro da Europa e dos países a que pertencem, se é que pertencem e afinal não são dos tais apátridas que pululam no fanatismo da miserabilização dos povos europeus em que ambos militam - juntamente com uma enorme alcateia neoliberal-nazista - bem como nas operações sanguinárias ocorridas e a ocorrerem no Iraque e no Afeganistão. Durão Barroso, ao se aliar aos sanguinários W. Bush e Tony Blair garantiu o seu lugar em cargo da UE, de Merkel logo se verá futuramente. Talvez com um bigodinho, a suástica e a saudação nazi, venha a demonstrar que é a reencarnação de Adolfo Hitler da modernidade que estratégicamente conduz a Europa para o colapso e para uma nova guerra em que fará regressar das tumbas hitleranianas os criminosos a seu soldo e dos nazi-fascistas que cada vez mais se revelam.
 
Não é só em Portugal que existem Cavacos, Passos e Portas disfarçados de democratas, por toda a Europa existem. Esses nefastos personagens, ao apossarem-se como podem da União Europeia, estão a conduzir os países e os povoas europeus para o descalabro, para uma das maiores carnificinas que se possa imaginar. Da revolta social a uma guerra na Europa a distância é curta. É o destino para que os lideres europeus de agora nos conduzem. E os povos, e os eleitores, é isso que querem?
 
Do que atualmente pode parecer um exagero para alguns no deflagrar de revoltas e de uma guerra não o será. Sempre assim aconteceu. Os europeus ainda estão a tempo de evitar mais um holocausto. Ainda estão...
 
Redação PG
 

CONFERE

 


Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião
 
Lembra-se da conferência sobre a reforma do Estado encomendada e paga pelo Governo e apresentada como "da sociedade civil"? E das conclusões, ouviu falar? Não admira; encontrá-las não é fácil. Ignoradas pelos media, não se encontram no site do Governo, apesar das fotos do PM a recebê-las, a 24 de janeiro, das mãos da organizadora, a militante social-democrata Sofia Galvão.
 
"O PM fez o convite à sociedade civil na pessoa da d.ra Sofia Galvão, o Governo pagou mas não quer dizer que as conclusões que saíram da conferência sejam do Governo" - é assim que o gabinete do secretário de Estado adjunto do PM justifica a ausência no site. Portanto, haver um link no Portal do Governo para as conclusões de uma conferência paga por todos nós significaria que as conclusões eram do Governo. Será então que o facto de estas estarem disponíveis no site do PSD significa que são do partido?
 
Adiante. As conclusões, não assinadas, que podem também ser lidas no site da conferência - umestadoparaasociedade.pt -, apresentam-se como "síntese possível para um futuro que é de todos" com "propostas deliberadamente concretas". Deliberada, desde logo, é a premissa de que "o Estado atual é insustentável", mesmo se à frente se considera necessário criar "um consenso nacional estratégico" baseado em questões "essenciais" como "que Estado temos?" Portanto, não sabendo que Estado temos, não o queremos. Aliás, reclama-se, são precisos "dados reais", e responder a perguntas como: "O que paga o Rendimento Social de Inserção e o Subsídio de Desemprego: o IRS ou outros impostos?"
 
Dois dias a debater o Estado e confundem-se seguros contributivos, como o subsídio de desemprego, com prestações sociais de base não contributiva - como o RSI -, taxas com impostos. Não admira que se clame por "informação completa, clara e atualizada"; pelos vistos, o Governo deu dinheiro, mas baralhou-se a dar os números (surpresa). Na parte da educação, ainda assim, admite-se que o País tem melhorado, em termos europeus, a sua performance na competência dos estudantes; mas logo se acrescenta que "os países da bacia do Pacífico" estão muito melhor (será a "proposta concreta" mudarmos para lá Portugal?). Já na Saúde, propõe-se que "o Estado deve deixar de ser o único produtor de cuidados de saúde, permitindo a entrada no SNS das iniciativas privada e social" (sim, não sabia que não há cá saúde privada e que esta nem vive à custa do SNS?); na Segurança Social, que devem ser aplicados "factores de sustentabilidade e longevidade, por geração, para aplicar à pensão no momento da passagem à reforma" (coisa que, iríamos jurar, está em vigor desde 2006).
 
Na semana em que é suposto ter-se concertado com a troika o corte dos quatro mil milhões, vale a pena visitar esta caricatura de um "pensamento" já em si caricatural. Falsificações e contradições, certezas absolutas sem migalha de sustentação, propostas de "mudanças" já feitas, ignorância desbragada. E nós a pagar.
 

PCP pede demissão do governo e repudia cinismo de Gaspar sobre o desemprego

 


Jornal i - Lusa
 
O PCP considerou hoje que perante o cenário traçado pelo ministro das Finanças não pode haver outra hipótese senão pedir a demissão do Governo, repudiando o profundo cinismo com que Vítor Gaspar se refere ao desemprego.
 
"Perante este cenário não pode haver nenhuma hesitação em relação a pedir a demissão, a convocação de eleições e o rompimento com este memorando, este compromisso de agressão que foi assinado com a ‘troika'", afirmou o líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, em declarações aos jornalistas no Parlamento, após a conferência de imprensa do ministro das Finanças sobre a sétima revisão do programa de ajustamento pela 'troika' (composta pelo Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu).
 
Repudiando o "profundo cinismo e hipocrisia" com que o ministro das Finanças se referiu ao desemprego e aos desempregados, Bernardino Soares considerou "chocante" que Vítor Gaspar tenha feito aquelas declarações.
 
"O desemprego com os números que hoje foram anunciados atingirá em sentido lato certamente mais do um milhão e meio de desempregados em 2014, o objetivo do Governo é manter um elevado desemprego estrutural porque isso permite pressionar o abaixamento dos salários e a degradação dos direitos e a verdade é que o Governo que se diz preocupado com o desemprego está a cortar nos apoios aos desempregados e está a diminuir o apoio a quem está no desemprego", frisou.
 
Bernardino Soares notou ainda que a intervenção ministro das Finanças mostra que "tudo falhou e tudo piorou", com uma recessão "sempre pior" e com as dificuldades do país a agravarem-se.
 
Apesar disso, continuou, "não se vê nenhuma perspetiva, nenhuma medida, nenhuma linha para contrariar a recessão económica e o aumento do desemprego".
 
O ministro das Finanças anunciou hoje uma revisão da recessão de um por cento para 2,3 por cento este ano, além de admitir uma taxa de desemprego de mais de 18 por cento, com tendência a aumentar até 2014.
 
"O Governo o que quer é tornar permanente o programa de cortes, o programa de agressão ao país e ao povo, uma forma de cortar ainda mais nos serviços, de despedir pessoas da administração pública, porque é disso que se trata, e de criar condições para que o país fique cada vez pior", enfatizou o líder da bancada comunista.
 
Recusando a política seguida pelo Governo, que está "a matar a economia", Bernardino Soares sublinhou ainda que aqueles que não têm como primeiro objetivo pedir a demissão do atual Governo de maioria PSD/CDS-PP "está a ser cúmplice do caminho de destruição".
 
Questionado se se referia ao PS, o líder parlamentar do PCP respondeu apenas que "cada um assumirá as suas responsabilidades".
 

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