segunda-feira, 8 de julho de 2013

Portugal: O POTE




António Marinho Pinto – Jornal de Notícias, opinião

O que ocorreu em Portugal, durante a semana passada, com o chamado Governo da República, é bem ilustrativo da degradação a que chegaram as nossas instituições e da degenerescência moral que atingiu as lideranças políticas da Direita portuguesa. A sensação imediata que nos invade é a de que estamos a viver o enredo de uma Zarzuela medíocre interpretada por atores de muito baixo nível.

Aquele que era o principal pilar do Governo, o ministro das Finanças, conseguiu, finalmente, abandonar o barco, depois de constatar que ele mete água por todos os lados. Fê-lo, através de uma carta de demissão dirigida ao primeiro-ministro, que imediatamente tornou pública, numa atitude de falta de respeito (mesmo de desprezo) pelo seu destinatário. Soube-se, então, que o ministro Vítor Gaspar, o protagonista das políticas económicas e financeiras do Governo, o grande impulsionador e teorizador das medidas de austeridade que lançaram na pobreza e na miséria milhares de portugueses, já há mais de um ano que tentava sair, por verificar que essas medidas conduziriam Portugal e os portugueses ao desastre económico e social.

Que o ex-ministro Vítor Gaspar seja cobarde e irresponsável e fuja, não sendo normal, ainda se pode compreender, justamente porque fugiu. Mas que quem o escolheu e apoiou durante dois anos continue ao leme do barco como se não tivesse responsabilidade nenhuma na situação, isso é que já só demonstra a anomia cívica da sociedade e a incapacidade política de quem tem a obrigação de garantir o normal funcionamento das instituições democráticas.

Numa medida de aparente vingança contra Paulo Portas (já que a este se imputam as principais responsabilidades da partida de Vítor Gaspar), o primeiro-ministro nomeou para ministra de Estado e das Finanças a principal colaboradora do ministro fugitivo, apesar de ela própria estar atolada num gigantesco escândalo financeiro. Haveria muitas mais pessoas que poderiam ser nomeadas para o cargo, mas Passos Coelho sabia que nenhuma chatearia tanto o ministro Paulo Portas como a Senhora Maria Luís Albuquerque. Por isso a escolheu. A resposta não se fez esperar. Na manhã do dia da tomada de posse da nova ministra, o ministro Paulo Portas demitiu-se através de uma carta enviada ao primeiro-ministro e que imediatamente tornou pública. (As comadres das aldeias de Portugal, quando se zangam, fazem-no com mais recato e reserva do que os ministros deste Governo). Nessa carta Portas acusa Passos Coelho de optar por uma política de mera continuidade no Ministério das Finanças e que a escolha de ministra dos swaps não fora "cuidadosa" nem "consensual" mesmo depois de alertado para essa necessidade pelo próprio remetente. Sustentou que o seu contributo ao Governo tornou-se dispensável pela forma como o próprio Governo, "reiteradamente", tomava as suas decisões, frisou que continuar no Executivo seria um ato de dissimulação que não era politicamente sustentável e garantiu que a sua demissão era irrevogável.

No sábado à tarde, o país inteiro, atónito, ficou a saber que, afinal, a demissão de Portas já era revogável, que a sua continuação no Governo já se tornara sustentável e que já não constituía um ato de dissimulação. Bastou Pedro Passos Coelho dar-lhe uma parte maior do pote para imediatamente tudo se compor entre ambos.

Ficamos, pois, a saber que Portas tem a espinha dorsal de uma crisálida e que Passos Coelho é um incompetente sem qualquer capacidade de liderança política. Ficamos a saber que, para ambos, o que verdadeiramente importa são os interesses próprios e das respetivas clientelas que, cinicamente, escondem atrás do biombo do interesse nacional. Ficamos a saber que se odeiam reciprocamente e que só o pote os mantém coligados. Ficamos a saber que durante os últimos dois anos gastaram o tempo e parte significativa dos recursos públicos a intrigar e a conspirar um contra o outro, em vez de governarem. Ficamos a saber que tudo o que aconteceu foi apenas o primeiro ato de uma zarzuela de terror e que agora vai iniciar-se o seu segundo ato. Passos Coelho e Portas mostraram que não ter vergonha traz vantagens, mas não ter vergonha absolutamente nenhuma traz incomparavelmente mais vantagens.

Portugal: CAVACO TEM “POUCA CULTURA” E É “VINGATIVO”, garante Mário Soares



TSF

Numa referência aos tempos em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro, Soares recordou que o atual Presidente «não dizia nada de jeito» nos encontros semanais no Palácio de Belém.

Mário Soares descreveu, esta segunda-feira, o atual Presidente da República como uma pessoa com «pouca cultura» e com caraterísticas vingativas, qualidades que diz que Cavaco Silva demonstrou quando foi primeiro-ministro.

Com a crise política em pano de fundo, Soares recordou os tempos em que era Presidente da República, quando o então chefe do Governo «não dizia nada de jeito» nos encontros semanais no Palácio de Belém.

«Aquilo aborrecia-me um pouco», acrescentou Mário Soares, que considerou que as características de Cavaco Silva tinham consequências na ação política, algo que ficou patente num episódio que envolveu José Saramago.

Referindo-se à presença de Cavaco Silva na Feira do Livro de Bogotá, Soares lembrou que «este nosso Presidente da República esqueceu-se de quem é José Saramago».

«Ele não tem pouca cultura, portanto não foi capaz de dizer uma única palavra. Isso causou-me evidentemente uma tristeza imensa», acrescentou Soares, que classificou Cavaco como uma «pessoa vingativa».

Soares recordou ainda uma referência que Cavaco Silva fez a um «personagem dos Maias», o que lhe deixou a impressão que o atual Presidente da República «nunca tinha loido um livro de Eça de Queiroz».

«Não admira que ele não tenha lido nunca nenhum de Saramago», concluiu Mário Soares.


SUBMARINO EM MANOBRAS




Martinho Júnior, Luanda

1 – … E lá vai o submarino-Portas: depois dum afundanço de emergência, num ensaio em regime experimental, vem à tona com outras armas e bagagens, entre financeiras birras, ou brigas e agora, como inveterado timoneiro (ele não nasceu para outras coisas senão para aproveitar as marés vivas), com mão firme no leme duma nave que, como a nau Catrineta, “só pode ser governável em austeridade”!

Vejam como vem transfigurado este submarino, após a proverbial aventura (dizem que é a tal de “pátria” que assim o obriga e ele, cinco séculos depois, ainda tem contenciosos contra os infiéis, os cafres e os índios)!

Este submarino, pela sua prontidão, pela sua capacidade de manobra, pela sua versatilidade e “bem querer”, faz inveja às fragatas e aos destroyers!

Qual é agora a expectativa para um submarino deslumbrado pelas bentas águas do Bielderberg e aproveitando os bons ofícios do almirante e da esquadra?

Para já conta com a benevolência dum velho rebocador feito ama-seca ao sabor de quem precisa de submarinos, um velho rebocador chamado Cavaco, uma ama-seca daquelas que apesar de cansadas e à beira do “delirium tremens” estão sempre prontas a rebocar… apesar de carrancudas e a deitar fumo por tudo quanto é lado… mas que estão prontas a desculpar as mais inverosímeis manobras, desculpar até as travessuras das criancinhas a brincar de submarinos… faz parte das sagradas escrituras e dos mandamentos da lei dos mares… dos poderosos e dos ricos:

“Agora, submarino-Portas, porta-te bem, não vás para longe das fragatas e dos destroiers, agarra o leme a contento com toda a austeridade que te é possível, de forma a esquecer as tormentas das finanças e a navegares em mares nunca antes navegados, calmamente, por mais dois anos, que afora as tuas inesperadas quão encriptadas manobras… estás a sair-te muito bem!...

…Não te esqueças acima de tudo que navegar é preciso!...

Faz lá mais um esforçozinho para o almirante, o das grandes orelhas e de nariz sempre a crescer, ficar ainda mais receptivo à tua tão versátil capacidade de te esconderes quando menos se espera e apareceres quando menos és esperado!...

Conseguiste uma manobra com um excelente tempo, direi mesmo – conseguiste o melhor tempo neste tipo de contra-relógios e o almirante das grandes orelhas e cada vez maior nariz, está deveras impressionado contigo!...

Mereces uma medalha!...

Talvez como prémio se propicie outra cimeira lá pelos abrigos paradisíacos das ilhas do meio do Atlântico, as ilhas que têm um pé cada vez mais pequeno em Portugal e o outro cada vez maior nos “States”, para depois fazeres um dia escola das tuas tão oportunas manobras lá pelas Europas, que eles precisam de aprender… olá se precisam!...

Se calhar não se vai esperar assim tanto tempo: bastará aguardar pelas próximas evasivas, típicas duma das próximas guerras… talvez a do Irão, daqui a dois anos!”…

2 – O programa das manobras foi para a criancinha irrequieta, para o submarino-Portas, ainda que em regime experimental, deveras bonançoso:

Aproveitou-se duma arremetida brusca, nada previsível, “in extremis”, contra um “perigoso inimigo-comum”, para ao se fazer valer perante a esquadra, sob o atento e tão próximo olhar do almirante, ganhar outro crédito em termos de nariz grande: não é que deu provas de aprender depressa, a quente,… deu provas da sua firme e inequívoca lealdade?!

Os submarinos deste tipo são mesmo como os “drones”: bem telecomandados, mas falta-lhes por vezes o sentido da oportunidade e o jogo rápido, em tempo record, entre o afundar, desaparecendo abruptamente nas profundezas e o emergir acima das ondas, para lá das ondas!

Este é deveras original e teve esse sentido de oportunidade: disparou as armas, submergiu e, de relógio na mão para cronometrar o tempo, voltou à superfície na crista das ondas e em primeiro lugar, pelo que merece todo o tipo de elogios, ascensões e prémios!

À falta de medalha que seja o primeiro a emergir aos céus: que se torne num submarino voador!

Uma manobra dessas tinha que ser reconhecida, premiada e “estudada”, quiçá ir para o livro do Guiness: nunca um submarino desapareceu assim de forma tão decisiva, mesmo que a brincar, decisiva?... digo mesmo irrevogável, (!)… para depois emergir assim envolto na auréola dos deuses, defendendo a esquadra de forma tão criativa para fazer baralhar até as marés das afrontas!

“O submarino-Portas passa a nave de referência para toda a esquadra!”… diz o almirante das orelhas grandes e do nariz cada vez mais comprido!

Ele agora, bendito seja que é centrista, cristão e é um daqueles dos “brandos costumes”, com uma cruz em vez de âncora, merece uma pausa para a sua prontidão sacrificada, ou um estágio aproveitando os ganhos: talvez no mar dos Sargaços… ou no Mar da Palha!... merece toda a enormidade do mar calmo, este submarino!

Nos próximos dois anos, fica determinado que ele não vai ao fundo, a bem da pátria dos poderosos das grandes orelhas e nariz ainda maior… que se afundem os povos… e ele que fique fundeado em porto seguro, sob os olhares embevecidos, tele-guiados e em cripto do grande almirante e da esquadra e, queiram ou não, das fragatas, dos destroiers e… do rebocador!... vem aí o próximo resgate!

Não esqueçam: silêncio absoluto, orelhas ainda mais atentas e quanto ao nariz que cresça à vontade, por que até agora as manobras foram em ensaio, a partir deste momento é que se entrou mesmo em marés de austeridade!

Gravura: O submarino-Portas

NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS UE-EUA: O NEGÓCIO DO SÉCULO




THE DAILY TELEGRAPH, LONDRES – Presseurop – imagem Oliver

As negociações comerciais UE-EUA, que começaram em Washington em 8 de julho, poderiam conduzir a economias no valor de dezenas de milhares de milhões de euros e eliminar alguma burocracia desnecessária. Mas a desconfiança gerada pelo recente escândalo das escutas por parte dos EUA é apenas o primeiro de muitos obstáculos a vencer.


Washington DC não é uma cidade com falta de burocratas. Esta semana, estarão ali ainda mais do que habitualmente. A capital norte-americana vai acolher a primeira ronda de negociações comerciais bilaterais entre os Estados Unidos e a União Europeia, um conjunto abrangente de conversações com o objetivo final de reduzir os entraves a que os dois blocos económicos façam negócios um com o outro.

Em termos gerais, as duas partes tentarão eliminar os direitos de importação cobrados sobre mercadorias transacionadas entre os dois gigantes económicos. Esforçar-se-ão também por reduzir a burocracia, para que as empresas internacionais possam expandir-se mais facilmente.

Por si só, a dimensão da relação comercial dos Estados Unidos com a Europa significa que até as melhorias insignificantes terão um grande impacto sobre as economias dos dois lados do Atlântico.

Num momento em que a Europa enfrenta mais um ano de estagnação e a preocupação obsessiva dos economistas com a influência crescente das economias emergentes, como as da China, Índia e Brasil, a relação comercial entre os EUA e a UE continua a ser a maior do mundo.

Reino terá de se manter em jogo

Nos primeiros nove meses de 2012, foram transacionadas entre as duas superpotências económicas mercadorias no valor de mais de 485 mil milhões de dólares (€338 mil milhões). As discussões que se iniciam em Washington [em 8 de julho] – formalmente designadas como Parceria Transatlântica em matéria de Comércio e Investimento (TTIP) – deverão criar um bloco comercial que abrangerá quase metade da produção económica mundial. Este poderá representar um valor adicional anual de cerca de €116 mil milhões, para a economia de UE, perto de €93 mil milhões, para os EUA, e perto de 99 mil milhões, para o resto do mundo.

As conversações são igualmente uma das principais razões agora apresentadas para o Reino Unido continuar a ser membro da União Europeia.

Claro que o Reino Unido ainda não saiu da UE, mas, com referendo ou sem ele, o país terá que se manter em jogo por mais algum tempo, se quiser ajudar a influenciar as negociações da TTIP. Os Estados Unidos declararam que pretendem utilizar a atual dinâmica do G8 para alcançar um acordo comercial bilateral “gastando apenas um depósito de combustível”. No entanto, até os otimistas apostam em que as conversações durarão uns bons 18 meses. Outros especulam que será muito mais realista falar em mais de três anos.

Algumas nuvens políticas pairam já sobre a discussão da TTIP. Existe uma desconfiança crescente entre os Estados-membros da UE e os EUA, na sequência de alegações de que os Estados Unidos e o Reino Unidoespiaram os seus aliados no decorrer de negociações anteriores.

As conversações prosseguem, como estava planeado, mas as tensões aumentam. Perto de 120 representantes das equipas comerciais dos EUA e da UE vão reunir-se, dividindo-se depois em cerca de dez grupos. Os delegados, todos eles especialistas em áreas diferentes, vão discutir tudo – desde os ingredientes que será obrigatório indicar nas embalagens dos cremes antienvelhecimento, a se um advogado que fez o curso em Londres poderá trabalhar em Nova Iorque com essas mesmas qualificações.

A questão dos direitos de importação

Deveriam os negociadores partir da premissa de que todos os direitos pautais foram abolidos e decidir depois quais seriam “reintroduzidos”? Ou deveriam avaliar os impostos sobre a importação, setor a setor? Estes vão ainda estudar quais os aspetos burocráticos que podem ser resolvidos rapidamente e quais serão objeto de discussões prolongadas e potencialmente difíceis.

Um dos pontos mais simples da agenda é a questão dos direitos de importação. Os direitos pautais entre os EUA e a UE são relativamente baixos, segundo os padrões mundiais – uma média de 5,2% para as mercadorias para a UE e 3,5% para as mercadorias que entram nos EUA –, mas, por si só, o volume do comércio entre os dois blocos económicos significa que qualquer redução gerará economias significativas.

“Muitas empresas britânicas já têm negócios com os EUA, o nosso maior mercado de exportação, mas liberalizar os direitos pautais poderá poupar às empresas do Reino Unido cerca de mil milhões de libras por ano”, declara o cônsul geral britânico em Nova Iorque, Danny Lopez, cuja principal tarefa é ajudar as companhias britânicas a expandirem-se nos Estados Unidos e vice-versa.

Os Estados Unidos penalizam especialmente os têxteis, vestuário e calçado importados da UE, por exemplo, impondo-lhes direitos pautais de 40%, 32% e 56%, respetivamente. Existem também impostos surpreendentes sobre mercadorias destinadas a mercados específicos, por exemplo a louça de mesa cerâmica para hotéis e restaurantes. Os importadores têm que pagar cerca de 28% do preço de custo em impostos, apenas para introduzir essas mercadorias nos Estados Unidos.

A UE também cobra 350% de direitos sobre o tabaco, para ajudar a cobrir os custos de tratamento dos danos que este causa à saúde daqueles que o utilizam e para assegurar que o preço seja suficientemente elevado para dissuadir muitos potenciais fumadores de adquirir o vício. Prevê-se que os Estados Unidos peçam a redução desses impostos, o que dificilmente virá a obter aprovação popular na Europa.

Regras burocráticas entre UE e EUA

Em muitos aspetos, a tarefa mais delicada da TTIP dirá respeito aos complicados meandros da burocracia. As discrepâncias em matéria de regras burocráticas entre a UE e os EUA custam anualmente às empresas milhares e milhares de milhões de libras em perdas de receitas e estima-se que privem o Reino Unido de cerca de oito mil milhões de libras [mais de nove mil milhões de euros] em comércio.

Na indústria automóvel, por exemplo, os fabricantes são obrigados a fazer os seus veículos embater duas vezes contra paredes, a grande velocidade, para serem aprovados em testes de segurança quase idênticos.

Por outro lado, o setor dos cosméticos tem que criar dois conjuntos diferentes de rótulos para as mercadorias que serão vendidas na Europa e nos EUA, porque os reguladores norte-americanos não aceitam o termo “aqua”.

Também passará a ser mais fácil advogados, contabilistas e alguns outros profissionais viajar entre os dois blocos, em vez de ficarem amarrados àquele em relação ao qual receberam formação. Esta alteração não traria apenas benefícios económicos: abriria ainda percursos profissionais e estilos de vida completamente diferentes para milhões de indivíduos.

Estas regras podem parecer anacrónicas, mas, em muitos aspetos, elas simbolizam as dificuldades que as discussões sobre a TTIP deverão encontrar. Por influência de poderosos grupos de pressão de alguns setores, que frequentemente se opõem a qualquer mudança suscetível de trazer consigo uma concorrência mais aguerrida de atores internacionais, tem sido permitido que algumas leis antiquadas permaneçam intocadas.

VISTO DA POLÓNIA

Nascimento de um gigante

A criação de uma zona de comércio livre entre a UE e os Estados Unidos poderá, nos próximos anos, mudar a geografia política e económica, escreve Marek Magierowski em Do Rzeczy. Marcará não apenas o “fim das barreiras pautais como também a introdução de regulamentos e normas comuns em todos os setores”, adianta, acrescentando que a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP) é, sem dúvida alguma, a iniciativa mais ambiciosa desde a criação da Organização Mundial do Comércio em 1995.

O instituto londrino Centre for Economic Policy Research publicou um estudo que sugere que a TTIP será extremamente benéfica para ambos os lados: 119 mil milhões de dólares (€92,7 mil milhões) de receitas adicionais para a União Europeia e 95 mil milhões de dólares para os Estados Unidos. As exportações europeias para os Estados Unidos aumentarão 28%. O projeto também terá “um enorme impacto político” e poderá reforçar a posição global em declínio da Europa e da América.

AS REDES DE ESPIONAGEM SECRETA DAS DEMOCRACIAS OCIDENTAIS



O episódio infame que fez com que o avião do presidente Evo Morales fosse bloqueado em Viena com base em um rumor infundado lançado pela Espanha, segundo o qual o ex-agente da NSA norteamericana, Edward Snowden, se encontrava a bordo é a consequência de uma caçada humana lançada pelo Ocidente em nome de um novo delito: a informação. Os “aliados” se espionam entre si e espionam o mundo. Quando alguém resolve denunciar a ditadura tecnológica universal torna-se um delinquente. Por Eduardo Febbro, de Paris.

Eduardo Febbro – Carta Maior

Paris - Um momento tão marcante de hipocrisia, cinismo, submissão, violação do direito internacional, abuso do poder tecnológico e paternalismo ocidental merece um lugar destacado na história humana. O episódio infame que fez com que o avião do presidente Evo Morales fosse bloqueado em Viena com base em um rumor infundado lançado pela Espanha, segundo o qual o ex-agente da NSA norteamericana, Edward Snowden, se encontrava a bordo é a consequência de uma caçada humana lançada pelo Ocidente em nome de um novo delito: a informação.

Contra todas as regras internacionais, França, Itália, Espanha e Portugal negaram o acesso a seus espaços aéreos ao avião presidencial boliviano. Queriam capturar o homem que revelou como Washington, por meio de seu dispositivo Prism, espiona as comunicações telefônicas, os correios eletrônicos, as páginas do Facebook, os fax e o Twitter de todo o planeta, incluídos os de seus próprios aliados europeus. 

Segundo assegura o presidente austríaco Heinz Fischer em uma entrevista publicada neste domingo pelo jornal Kurier, o avião do presidente boliviano “não foi controlado”. Fischer afirma que “não houve controle científico”. “Não havia nenhuma razão para fazê-lo com base no direito internacional. Um avião presidencial é um território estrangeiro e não pode ser controlado”.

Os dirigentes europeus só levantaram a voz quando se revelou o alcance massivo do programa de espionagem norteamericano Prism. E se entende por que: poucos dias depois, o jornal francês Le Monde contava como a França fez o mesmo com seu “Big Brother” nacional. “A totalidade de nossas comunicações é espionada. O conjunto dos email’s, SMS, as chamadas telefônicas, os acessos ao Facebook e ao Twitter são conservados durante anos”, escreve o Le Monde. 

Em uma entrevista publicada neste fim de semana pelo semanário alemão Der Spiegel, Edward Snowden contou que a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) “trabalha lado a lado com os alemães e os outros países ocidentais”. O agora ex-agente da NSA detalha que essa espionagem conjunta é realizada de maneira que se “possa proteger os dirigentes políticos da indignação pública”.

Em suma, os “aliados” se espionam entre si e, além disso, separadamente, espionam o mundo e quando alguém resolve denunciar a ditadura tecnológica universal torna-se um delinquente. Muitos assassinos, genocidas e ladrões de seus povos vivem comodamente exilados nos países ocidentais. Os Estados Unidos não negaram abrigo ao ex-presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada, A França tampouco fechou as portas ao ex-presidente do Haiti, o traficante de drogas e assassino notório Jean Claude Duvalier, Baby Doc. Mas no caso de Edward Snowden, negou. 

O ministro francês do Interior, Manuel Vals, disse que, no caso do ex-agente norteamericano solicitar asilo, não era favorável a aceitar o pedido. Snowden teria recebido uma resposta semelhante de mais de 20 países. Com isso, se converteu no terceiro homem da história moderna a ganhar a medalha de perseguido por ter alertado o mundo.

Além do próprio Snowden, integra essa galeria Bradley Manning, o soldados estadunidense acusado de ter vazado o maior número de documentos da história militar dos EUA. Em 2010, Manning trabalhava como analista de dados no Iraque. Entrou em contato com o hacker norteamericano Adrián Lamo, a quem disse que estava com uma base de dados que demonstravam “como o primeiro mundo explora o terceiro mundo”. Bradley Manning entregou essa base de dados inteira a Julian Assange, que a difundiu através do Wikileaks. Alguns dias depois, Lamo denunciou Bradley para o FBI. 

Quem também pagou por fazer circular informação foi o próprio Assange. Protagonista de uma nebulosa história de sexo, Assange vive há mais de um ano refugiado na embaixada equatoriana de Londres. Dizer a verdade sobre como somos controlados, enganados, sobre como os impérios assassinam (vídeo divulgado por Wikileaks sobre o assassinato de civis no Iraque), mutilam e torturam é um crime que não autoriza nenhuma tolerância.

O pecado de informar é tão grande que até a Europa se põe de joelhos diante dos Estados Unidos e chega ao cúmulo da vergonha que foi bloquear um avião presidencial. E quem participa do complô são as mesmas potências que depois, nas Nações Unidas, pretendem dar lições de moral ao mundo. O ministro francês de Relações Exteriores, Laurent Fabius, e o presidente François Hollande pediram desculpas pelo incidente. Mas o mal estava feito. 

Segundo informações divulgadas pelo Le Monde, a “ordem” de bloquear o avião não veio da presidência francesa, mas sim do governo. Fontes do palácio presidencial francês e do governo, citadas pela imprensa, asseguram que a decisão foi tomada pela diretora adjunta do gabinete do primeiro ministro Jean-Marc Ayrault, Camille Putois. Christophe Chantepy, diretor do gabinete, disse porém que “se trata de uma decisão governamental”. Houve um erro, como disse Laurent Fabius, e a França disse que lamentava por ele.

Nenhuma declaração pode apagar tremendo papelão. O incidente não fez mais do que por em evidência a inexistência da Europa como entidade autônoma e livre e também a recolonização do Velho Mundo pelos Estados Unidos. E isso não é tudo: assim como ocorre com a norteamericana, as grandes democracias espionam o mundo. Isso foi o que revelou o Le Monde no que diz respeito ao sistema francês. Trata-se de um procedimento “clandestino”, escreve o diário, cuja particularidade reside não em explorar o “conteúdo”, mas qual a identidade de quem intercambia conversações telefônicas, mensagens de fax, correios eletrônicos, mensagens do Facebook ou Twitter. 

Segundo o Le Monde, “a DGSE (serviços de inteligência) coleta os dados telefônicos de milhões de assinantes, identifica quem chama e quem recebe a chamada, o lugar, a data, o tamanho da mensagem. O mesmo ocorre com os correios eletrônicos (com a possibilidade de ler o conteúdo das mensagens), os SMS, os fax. E toda a atividade na internet que transita pelo Google, Facebook, Microsoft, Apple, Yahoo”.

Com esse sistema se consegue desenhar uma espécie de mapa entre pessoas “a partir de sua atividade numérica”. Sobre isso, o diário francês destaca que “este dispositivo é evidentemente precioso para lutar contra o terrorismo, mas permite espionar qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer momento”. A França conta com o quinto dispositivo de maior penetração informática do mundo. Seu sistema de espionagem eletrônica é o mais potente da Europa depois do britânico. A DGSE se move com um orçamento anual de 600 milhões de euros. 

Estamos todos conectados. Sem sabe-lo, participamos da irmandade universal dos suspeitos, das pessoas que vivem sob a vigilância dos Estados, cujas mensagens amorosas ou não são conservadas durante anos. Inocentes enamorados se misturam nas bases de dados com criminosos e ladrões, ditadores e financistas corruptos. Pode-se apostar com os olhos fechados que essas últimas categorias mencionadas viverão impunes eternamente.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Moçambique: DAQUI NÃO SAÍMOS, DAQUI NINGUÉM NOS TIRA!



O País (mz)

O major Madebe foi eleito, no último sábado, presidente da Comissão dos Moradores do bairro militar. Tem a responsabilidade de escrever uma carta a ser enviada a todos os órgãos de soberania, na qual os combatentes da luta de libertação nacional não aceitam deixar o bairro militar por considerar que “nenhum povo pode dar-se ao luxo de matar a sua história”

Os moradores da zona mi­litar recusam-se a aban­donar o bairro para dar lugar ao projecto de requalifica­ção anunciado pelo Ministério da Defesa. Os mesmos dizem que as casas são suas por direito e enten­dem que, nos bairros onde serão reassentados, estarão longe de tudo. Por outro lado, alegam ra­zões históricas para não abando­nar o emblemático bairro militar. Dizem que o bairro é o testemu­nho vivo da independência na­cional. Viver naquelas casas, que eram reservadas aos colonos, tem para estes combatentes um signifi­cado e sabor especial. Em suma: o bairro militar é um espólio da luta pela independência nacional!

Os moradores da zona militar dizem que esta é a segunda vez que o Governo anuncia a transfe­rência das famílias. No primeiro caso, enfrentaram o Ministério da Defesa até este desistir da ideia. Hoje, prometem fazer o mesmo e não baixar os braços até ao fim.

No último sábado, a Comissão dos Moradores convocou uma reu­nião no bairro com o objectivo de dar a conhecer aos residentes os resultados da reunião com o mi­nistro da Defesa Nacional, Filipe Nyusi. Na ocasião, o representan­te da Comissão dos Moradores foi vaiado, acusado de ser traidor e, por fim,...destituído!

Foi eleito o major...Madebe! Sim, aquele que apareceu no pro­grama “50 anos da Frelimo” da Stv a afirmar que a “sua” Frelimo tinha mudado e que o futuro da mesma “passava por 10 a 15 anos na oposição”!

Os moradores acusam a Comis­são destituída de se ter deixado enganar pelo Governo ao com­prometer-se mobilizar todos os combatentes para abandonarem o bairro militar e passar a viver em novas casas que serão erguidas no bairro Zimpeto.

“MATAR A HISTÓRIA”

O major Henrique Madebe diz que os moradores farão tudo quanto for possível para garantir que não saiam da zona militar. “Nenhum país do mundo é ca­paz de matar a sua própria histó­ria. Essas casas são um monumen­to histórico. São um direito para todos os combatentes. Não vamos sair daqui... e nem pensar”, vincou Madebe, secundado por Alberto Pontes, também antigo combaten­te que vive na zona militar há mais de 25 anos.

Pontes diz que não tem dúvidas de que o Governo não tem capaci­dade de fazer casas idênticas às da zona militar, sob ponto de vista de qualidade.

Leia mais na edição impressa do «Jornal O País»

Militares FADM e FIR assaltaram "base" Renamo em Mangomonhe, no centro de Moçambique



Verdade (mz)

Na manhã de sábado (06) soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e agentes das Força de Intervenção Rápida (FIR) tomaram de assalto um local de concentração de homens armados da Renamo na região de Mangomonhe, no distrito de Chibabava, na província central de Sofala.

Continuam a ser escassos os detalhes sobre o ataque contudo o nosso correspondente apurou que os soldados das FADM e FIR tentaram atacar de surpresa mas encontraram resposta pronta dos homens da Renamo e o confronto foi inevitável.

Temos indicação de ter havido forte tiroteio, incluindo de armas pesadas. Em minoria os homens da Renamo abandonaram o local e refugiaram-se na mata. Os militares governamentais tomaram controle da área e destruiram as habitações de contrução precária que ali estavam edificadas.

Fontes não oficiais relatam a existência de vítimas, mortais e feridos, que não pudemos ainda verificar.

Entretanto em declarações a Radio Moçambique o comandante provincial para PRM, Joaquim Nido, disse não ter havido vítimas mortais e nem feridos na operação, tendo pelo contrário os homens da Renamo fugido em debandada para parte incerta. “Desalojamos alguns bandidos acampados algures na zona de Mangomonhe, no posto administrativo de Muxúnguè. Foi o grupo que no passado no dia 21 do mês passado atacou viaturas dos nossos compatriotas, matou e feriu outros”, disse Nido. “Não há nenhum ferido e também não houve nenhum morto “, acrescentou.

Recorde-se que esta quarta-feira o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, tranquilizou os moçambicanos em conferência de imprensa em Sathunjira (há mais de duas centenas de quilómetros do local onde aconteceu o confronto deste sábado) afirmando que não quer a guerra mas que se sentia cercado pelos milhares de soldados das FADM e centenas de agentes da FIR que estão na região centro de Moçambique.

O trânsito rodoviário na Estrada Nacional nº1, entre o rio Save e o posto administrativo de Muxúnguè, continua condicionado a quatro escoltas diárias protegidas por militares das FADM e agentes das FIR.

A PROCURADORIA DEIXOU DE SER FUNDAMENTAL NA ORGÂNICA PROCESSUAL ANGOLANA




Manuel José – Voz da América

LUANDA — Jurista defende extinção da Procuradoria-Geral da República por inacção.

O especialista em direito criminal Pedro Kaparacata falando em exclusivo a VOA, a propósito do aumento da criminalidade em Angola pensa que a PGR devia deixar de existir.

"A Procuradoria, com maior honestidade, não devia existir, a actuação da procuradoria no geral é péssima, e eles dizem na televisão e nos jornais publicamente quando alguém se aperceber de um facto criminoso que comuniquem a polícia quando de facto devia ser o contrário".

A discussão sobre esta matéria, segundo Caparacata já não é nova.

"Em 1945, ainda no tempo de Salazar punha-se a questão da extinção da procuradoria ou do ministério publico na orgânica dos processos dos tribunais, naquela altura já se notava que o Ministério Publico não tinha nenhum papel activo no âmbito dos processos".

O causídico acredita que com o tempo chegou a conclusão que o papel da Procuradoria deixou de ser fundamental na orgânica processual angolana.

"De lá pra cá, na Angola independente foram produzidos diplomas conferindo mais poderes a procuradoria mas a actuação concreta deste órgão leva-me a questionar se vale a pena manter a Procuradoria porque o seu papel e de facto negativo".

O especialista dá exemplos que o levam a defender esta tese. Primeiro do assalto a mão armada numa loja na Vila Alice.

"Dois assaltantes de um milhão e seiscentos mil cuanzas, depois de capturados pela polícia, o procurador dois dias depois promoveu um julgamento sumário dos dois assaltantes, eu questiono se este indivíduo deve continuar como procurador ou deve ser enviado para a embaixada ou para o parlamento, onde se sentem melhor? Este não é procurador".

No segundo exemplo o advogado teve de interferir junto ao Procurador-Geral para repor a legalidade.

"Um procurador que promove um julgamento de um menor de 14 anos, eu pergunto se este procurador vale a pena continuar junto das sessões criminais?"

O jurista Pedro Kaparacata defende a extinção da Procuradoria-Geral da República.

ANGOLA E MOÇAMBIQUE ENTRE AS ECONOMIAS MAIS PROMISSORAS DE 2013





Quatro países lusófonos estão entre as primeiras 10 economias que terão um maior crescimento económico em 2013, segundo estimativas da Economist Intelligence Unit (EIU).

A organização especializada em economia global, baseada em Londres, prevê que a economia de Macau vai crescer mais rapidamente este ano. Mas Angola, será a quinta, Timor-Leste a oitava e Moçambique a décima economia mais florescente em 2013.

Tanto Angola como Moçambique são países ricos em recursos naturais e os investimentos neste setor têm vindo a crescer bastante nos últimos anos.

Segundo a  Economist Intelligence Unit (EIU), Moçambique será uma das economias com um crescimento mais acelerado, principalmente por causa do setor da exploração do carvão.

Sebastien Marlier, econosmista e espacialista em assuntos de África, explica: "A exploração de recursos naturais, e especialmente do carvão, são os principais motores do crescimento económico a curto prazo e, a médio prazo, diria que o gás natural vai ter um papel muito importante nesse crescimento."

Ainda de acordo com previsões do economista da EIU, o investimento no setor do gás vai começar provavelmente em 2013 e ajudará a apoiar o crescimento económico.

Entretanto, outros setores são também fortes atores nesse crescimento, segundo Marlier que exemplifica: "O setor financeiro, turismo, transportes, especialmente para apoiar a exportação de recursos naturais. E também vemos um investimento mais forte no setor da agricultura comercial.”

De lembrar que em 2010 começou a exploração de carvão no país, as exportações foram iniciadas em 2011 e devem crescer muito rápido em 2013.

Sebastien Marlier lembra que os mega-projetos (investimentos a partir de 500 milhões de dólares) em Moçambique, como por exemplo, em alumínio, eletricidade e agora carvão, vão ajudar a expandir a economia moçambicana apoiando também o forte crescimento económico, o que terá um impacto positivo no rendimento do país e também no fornecimento de energia e gás mais barato.

O emprego ainda é uma questão relegada

Mas por outro lado, o economista cita um ponto crítico: “Sabemos que os mega-projetos são essencialmente, centrados no capital e não tem um impacto significativo em postos de trabalho."

Então uma consequência mais negativa deste forte crescimento, na opinião de Marlier, é que não incluiu setores tradicionalmente fortes em força de trabalho, como a agricultura tradicional ou pequenas fábricas.

Por isso ele apresenta os dois lados da moeda: "Então, temos um forte crescimento económico e aumento dos rendimentos, mas um impacto limitado em empregos.”

Ainda sobre o investimento estrangeiro Sebastien Marlier cita o importante papel da China no desenvolvimento económico de Moçambique: “Por um lado a China está a tornar-se um elemento importante naquele país, as trocas comercias aumentaram de cerca de 50 milhões de dólares em 2002 para mais de mil milhões de dólares em 2011."

A China também financia, através de empréstimos, alguns dos mais importantes investimentos em infra-estruturas em Moçambique, incluindo a estrada circular de Maputo e grandes projetos de eletricidade.

Mas o economista enfatiza que aquele país asiático tem fortes concorrentes: "Mas há também outros parceiros interessantes como o Brasil, a Índia e a África do Sul. E para o desenvolvimento do carvão e do gás, dois dos mais promissores setores em Moçambique, eu diria que a China não é o ator dominante.”

China continuará parceiro, apesar da insatisfação popular

No caso de Angola, que segundo a Economist Intelligence Unit será a quarta economia com um maior crescimento em 2013, a China também é bastante importante.

Segundo Joseph Lake, também especialista da EIU, em 2013, Angola vai continuar a aprofundar a sua relação com a China através de grandes transações e acordos de investimento, principalmente, na área do petróleo, construção e agricultura.

Mas Joseph Lake acrescenta: “No entanto existe uma oposição civil crescente em relação à presença chinesa no país, e o descontentamento está a aumentar por causa do aumento de imigrantes chineses, em particular, na economia local.”   

A Economist Intelligence Unit prevê que em 2013 o crescimento de Angola será dominado pelo petróleo e o gás natural. Atualmente os hidrocarbonetos são responsáveis por mais de 60% do produto interno bruto e por mais de 90% das exportações.

Gás, a novidade de 2013

A organização prevê que a produção no setor do petróleo vá aumentar de uma média de 1.6 milhões em 2012 para um pouco mais de 2 milhões de barris diários em 2013. No entanto, por causa de um historial de atrasos técnicos há o risco de que ocorra um desenvolvimento mais lento.

Segundo Joseph Lake, espera-se que nos próximos meses um projeto gigante de 10 mil milhões de dólares para gás liquidificado comece as exportações, apesar de também se preverem alguns atrasos. 

Mas o crescimento em Angola, tal como em Moçambique “vai permanecer centrado no capital e dependente das exportações", diz Lake.

Ele prevê poucas ligações a outras áreas da economia, a não ser setores dominados pelo Governo, como a construção e as finanças.

Entretanto ele cita fraquezas: "O desenvolvimento de um setor privado vai ser dificultado por um capital humano fraco, um sistema judicial com falhas, fraca legislação, corrupção e domínio do setor privado pelo setor público.“

No caso, de Timor-Leste as reservas petrolíferas também são o ponto central no crescimento para 2013. O caso de Macau difere de todos na Lusofionia já que vai ficar a dever o seu crescimento em 2013 aos seus casinos e receitas dos jogos e aos visitantes chineses.

Autora: Carla Fernandes - Edição: Nádia Issufo / António Rocha

Leia mais sobre Macau e Timor-Leste – e outros países daquela região do mundo - em TIMOR LOROSAE NAÇÃO

Portugal: A SOLUÇÃO EXPLICADA ÀS CRIANCINHAS



Nicolau Santos – Expresso, opinião

O dr. Portas não gostava de ser o número três do Governo e não gostou que o dr. Passos nomeasse a dra. Maria Luís para ministra das Finanças. Bateu com a porta e disse que a sua demissão era irrevogável. Mas o Presidente da República disse que o Governo só continuava se o dr. Portas ficasse. O dr. Portas disse que então o que era irrevogável deixava de ser mas só desde que fosse ele a negociar com a troika, que passasse a mandar em toda a área económica do Governo e que passasse a vice-primeiro-ministro. O dr. Passos fez-lhe a vontade: nomeou-o vice-primeiro-ministro, deu-lhe as pastas económicas e disse-lhe para negociar com a troika. É claro que não se percebe o que, a partir de agora, fará a dra. Maria Luís, que esteve seis meses a ser preparada pelo dr. Gaspar para negociar com a troika e manter a política financeira do dr. Gaspar. Vai ela obedecer ao dr. Passos, ao dr. Portas ou à troika? Vai ela mudar a política financeira? Qualquer pessoa entende que isso não interessa nada. O que importa é que o dr. Pires de Lima, que é muito amigo do dr. Portas, vai para a Economia, desalojando o dr. Álvaro Santos Pereira, que regressa ao Canadá. Mas o dr. Álvaro também defendia maior protagonismo da Economia face às Finanças, no que está de acordo com o dr. Portas e o dr. Pires de Lima. Mas o dr. Portas quer fazer outra política económica e prefere o dr. Pires de Lima ao dr. Álvaro. Entretanto, o dr. Passos, que fez o governo mais pequeno da história de Portugal, vai partir os megaministérios, que no arranque governativo ele achou que era uma excelente ideia mas que, agora, dois anos depois e uma grave crise política em cima, já não parece tão interessante. E assim a dra. Cristas fica com menos ministério e o dr. Moreira da Silva, amigo do dr. Passos, ganha o ministério do Ambiente e também rouba a Energia à Economia. O Trabalho volta para a Segurança Social e quem ganha é o dr. Mota Soares, que é do partido do Dr. Portas. O dr. Brito vem recambiado da embaixada de Portugal em Washington para os Negócios Estrangeiros, ao que se supõe por ordem direta do dr. Barroso.

Resumindo e concluindo, o dr. Passos manda na dra. Maria Luís, mas a dra. Maria Luís vai mandar pouco. O dr. Portas manda na Economia, mas não manda na dra. Maria Luís. Também não manda no Ambiente e Energia. O dr. Barroso manda no dr. Brito. E a troika não sabe em quem vai mandar. Desconfio, aliás, que estas mudanças todas foram mesmo para baralhar a troika. Talvez assim seja possível fazer a mesma política sem parecer que estamos a fazer a mesma política e tudo isto acabe bem, apesar de até agora estar a correr muito mal. 

Portugal: SOARES ACUSA PORTAS DE SER UM “SALTA-POCINHAS”



TSF

O ex-PR diz que chegou a ficar feliz com o anúncio da demissão de Paulo Portas, mas, 48 horas depois, concluiu que «o mínimo que se pode dizer dele é que é um «salta-pocinhas».

O antigo chefe de Estado diz que tem assistido com surpresa aos últimos acontecimentos da vida política nacional e confessa que chegou a ficar feliz com o anúncio da demissão «irrevogável» de Paulo Portas.

No entanto, 48 horas depois, Mário Soares concluiu aquilo que diz saber sobre Paulo Portas, ou seja, que é um «salta-pocinhas».

Apesar do entendimento agora alcançado, o ex-Presidente da República prevê que este Governo vai ser uma «desgraça total».


Portugal: Governo já negociava segundo resgate acusando oposição de o provocar/BE



MSO – PGF - Lusa

O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, disse hoje que o governo "negociou nas costas dos portugueses" aquilo de que acusava a oposição, provocar um segundo resgate, pelo que não tem condições para continuar.

Pedro Filipe Soares comentou a notícia avançada pelo diário espanhol "El País", de que está a ser preparado um programa cautelar com as instâncias europeias, para concluir que já estava a ser negociado "um segundo resgate, independentemente de eleições e da crise" política.

"Este governo, por mais esta notícia não tem condições para continuar. Negociava nas costas dos portugueses aquilo de que acusava a oposição de querer levar para o País. É por isso um governo que não fala a verdade e irresponsável porque esconde as escolhas determinantes para a vida dos portugueses. É um governo que está a mais e é o que diremos de tarde ao Presidente da República", disse.

O líder do BE falava numa conferência de imprensa em que anunciou que o partido requereu a audição, com caráter de urgência, do Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, na Comissão de Orçamento e Finanças, para "explicar o que se está a passar", face às declarações que o mesmo proferiu sexta feira.

"Carlos Costa veio dizer taxativamente que o memorando falhou. Se o Governador do Banco de Portugal, membro do eurosistema e por isso representante do Banco Central Europeu em Portugal, e um dos pilares da troika, nos diz que o memorando falhou, temos de perceber o que se passou", justifica.

Pedro Filipe Soares critica o Governador do Banco de Portugal por, embora admitindo erros nos cálculos e previsões, "insistir no caminho" da austeridade, quando são as políticas de austeridade que levam "o navio a afundar" e antevê que o programa cautelar com a "doika", em vez da "troika", ou seja, sem o FMI, vai ser "mais do mesmo".

O programa cautelar é "um segundo memorando ou resgate, novamente com medidas de ajuste orçamental, as tais reformas estruturais, com metas para o défice e para a dívida, e debaixo da alçada do Banco central Europeu e da Comissão Europeia", afirma Pedro Filipe Soares, concluindo que visa "salvar a austeridade, mantendo as mesmas políticas, para tentar legitimar a causa do falhanço do ajustamento" nacional.

Espero que Governo não esteja a negociar novo programa nas costas dos portugueses - Seguro



PMF – PGF - Lusa

O secretário-geral do PS considerou hoje que "parece inevitável" um segundo resgate ou um segundo programa de assistência a Portugal e afirmou esperar que o Governo não esteja já a negociar "nas costas dos portugueses".

António José Seguro falava em conferência de imprensa conjunta com o presidente do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, Hannes Swoboda, após um encontro entre ambos na sede nacional do PS.

Interrogado sobre a possibilidade de estar já a ser negociado um novo programa cautelar de assistência externa a Portugal, o líder socialista aproveitou para deixar uma advertência ao executivo: "Não quero acreditar que seja verdade que esse programa já esteja a ser negociado".

"Se isso é verdade, então está a ser negociado nas costas dos portugueses. O PS não tem conhecimento de nenhuma proposta por parte de Portugal", acentuou António José Seguro.

Para o líder do PS, o atual Governo "falhou e o país vive uma situação extremamente difícil".

"O segundo resgate, ou um segundo programa, parece inevitável fruto do falhanço deste Governo. Qualquer negociação não pode ser feita nas costas dos portugueses. Essa negociação tem de ser clara e deve ser feita por um novo Governo, com legitimidade democrática", advogou o secretário-geral do PS.

Confrontado com o facto de a hipótese de crise política em Portugal, na semana passada, ter dado origem a uma trajetória de afundamento da Bolsa de Lisboa, a par de uma subida drástica dos juros da dívida a dez anos nos mercados internacionais, António José Seguro sustentou que "os mercados reagiram a factos".

"O único facto que houve foi resultado da irresponsabilidade dos líderes do Governo: Duas demissões, uma delas [a de Paulo Portas] com as consequências que o país está a viver e com os prejuízos que foram evidentes para Portugal", respondeu o líder socialista.

Em relação à audiência com o Presidente da República, Cavaco Silva, na terça-feira, António José Seguro recusou-se a dizer o que dirá ao chefe de Estado.

Portugal: A AMARGA VITÓRIA DO REVOGÁVEL PORTAS



Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Não sei, nem me parece especialmente relevante, se todo o circo montado por Paulo Portas tinha como objetivo este final. Se tinha, o seu cinismo e maquiavelismo ultrapassa ainda mais o que já se supunha. Se não tinha, a sua inconsequência e imponderação eram um segredo bem guardado. A verdade é esta: toda a encenação resultou num extraordinário reforço do CDS no governo.

Paulo Portas fica com a coordenação da economia, o que terá de incluir o dinheiro do QREN - única fonte de financiamento público que sobra para o investimento -, com as negociações com a troika - o verdadeiro ministério das Finanças - e ainda a suposta reforma de Estado - que corresponde, basicamente, aos cortes de despesa pública. Fica com o deve e com haver. Será, basicamente, na companhia do novo ministro da Economia do CDS, o novo primeiro-ministro.

Esta sua nova posição levanta dois problemas ao governo. Nenhuma coligação pode ser realmente dirigida pelo seu partido mais fraco. Um país não pode ser dirigido por alguém que nem 12% dos votos conseguiu. Trata-se de um subversão democrática que duvido que o PSD suporte por muito tempo. E, apesar de ter reforçado a sua posição interna na coligação e, por isso, no próprio CDS, Paulo Portas saiu muito fragilizado, junto da opinião pública, em todo este processo. A imagem de irresponsabilidade e oportunismo passou a estar colada à sua figura de forma, essa si, irrevogável.

Tudo isto seria resolvido se Portas conseguisse cedências extraordinárias da troika, uma reforma do Estado aceitável pelos parceiros sociais e uma política económica que contrariasse a espiral recessiva em que vivemos. Ou seja, se Paulo Portas conseguisse não um, não dois, mais três milagres em simultâneo. Eu, homem de pouca fé, duvido. Caso contrário, Portas será o novo Gaspar: o bode expiatório de todas as desgraças. Com a diferença de ter, ao contrário do "finado" ministro, de segurar o reduzido eleitorado do CDS.

Não tenho dúvidas que Portas tentará fazer uso do seu talento para transformar pequenas conquistas simbólicas em enormes sinais de mudança. Isso funcionava quando era ministro da Defesa ou dos Negócios Estrangeiros. Agora são coisas palpáveis e um pouco mais relevantes que estão em causa. E ele deixará de poder estar com um pé dentro e outro fora do governo. Deixará de poder culpar Gaspar ou Passos por cada desastre. E isto em vésperas da 8ª avaliação, que vem com propostas lunáticas da troika (como a redução do salário mínimo para jovens) e uma realidade cada vez mais distante da prometida recuperação. E isto num governo que é uma ruína e em que nenhum português, depois da semana que passou, alguma vez voltará a acreditar. E isto com ministros do PSD, a começar pelo primeiro-ministro formal, a querer minar um pouco mais a sua credibilidade.

Esta é a única vitória de Passos Coelho: Portas terá, finalmente, de dividir com ele os espinhosa coroa de todas as derrotas e desgraças. Sim, Passos afunda-se. Mas sabe que levará Portas com ele. O País ganha alguma coisa com isto? Nada. Tem um governo mais desacreditado no interior e mais fraco para o exterior.

Esta vitória de Portas é uma derrota de todos. É a imagem acabada da degradação de um governo, de um programa de "ajustamento" (em que já nem o FMI se revê mas que, como de costume, os seus funcionários continuarão a aplicar com notável zelo) e, temo, da própria democracia. Tudo porque o País não pode aguentar a instabilidade que provocariam eleições. Como se pudesse haver situação mais instável do que esta.

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