sábado, 2 de fevereiro de 2013

OS ISLANDESES NÃO “AGUENTAM”




Daniel Oliveira – Expresso, opinião

O banco islandês Landsbanki, na sua bebedeira de oferta de crédito, criou o Icesave. Uma espécie de banco virtual onde os clientes estrangeiros, sobretudo holandeses e ingleses, puseram muito dinheiro em troca de juros impossíveis. Depois sabe-se o que aconteceu. A banca islandesa, sempre aparada pelo governo neoliberal que tratou da sua privatização, colapsou. O islandeses revoltaram-se e o governo caiu. Os governos britânico e holandês decidiram pagar, sem perguntar nada a ninguém, os estragos aos clientes do Icesave dos seus países. E apresentaram a factura aos contribuintes islandeses. Ou seja, os islandeses tinham de pagar com os seus impostos as dívidas de um negócio entre privados: bancos e investidores.

Quando o governo se preparava para começar a pagar os astronómicos estragos da banca, o presidente Ólafur Grímsson decidiu referendar a decisão. Todos os governos europeus, todas as instituições financeiras e quase todas as forças com poder na Islândia, incluindo o governo e a maioria do Parlamento, foram contra a sua decisão. Tal referendo seria uma loucura. De fora e de dentro vieram todas as pressões. Se a Islândia tivesse a ousadia de não pagar seria uma "Cuba do norte". Ficaria isolada. Nem mais um investidor ali deixaria o seu dinheiro. Os islandeses votaram. 92% disseram que não pagavam. E, mesmo depois de um segundo referendo, não pagaram. A reação não se fez esperar. O governo do Reino Unido até se socorreu de uma lei para organizações terroristas, pondo a Islândia ao nível da Al-Qaeda.

A decisão repousava há algum tempo no Tribunal da EFTA. Quando estive na Islândia ouvi, de alguns especialistas, a mesma lengalenga: a Islândia ia acabar por pagar esta dívida. E até lhe ia sair mais caro. Que tinha sido tudo uma enorme irresponsabilidade fruto de populismo político.

Contrariando a posição de uma equipa de investigação da própria intuição e as temerosas autoridades judiciais da Islândia, que defendiam "um mínimo de compensação aos Governos britânico e holandês", o tribunal da EFTA isentou, esta semana, a Islândia de qualquer pagamento ao Reino Unido e Holanda.

O que estava em causa não era pouco. Era se deve ou não o Estado ser responsabilizado pelos erros dos bancos. E se devem ser os contribuintes a pagar por eles. Claro que a Europa já prepara novo enquadramento legal para atribuir uma maior responsabilização aos Governos pelas quebras no sistema financeiro. Duvido que resulte em maior vigilância ao sistema bancário. O mais provável é dar à banca a segurança que o dinheiro dos impostos cá estará para cobrir os prejuízos das suas irresponsabilidades.

Há coisas imorais que se naturalizam. Usar os dinheiros dos contribuintes para salvar os bancos das suas próprias asneiras foi uma delas. Como me disse o presidente Grímsson, "Temos um sistema onde os bancos podem funcionar como querem. Se tiverem sucesso, os banqueiros recebem enormes bónus e os seus acionistas recebem o lucro, mas, se falharem, a conta será entregue aos contribuintes. Porque serão os bancos tão sagrados para lhes darmos mais garantias do Estado do que a qualquer outra empresa?" Perante isto, os islandeses apenas fizeram o que tinham de fazer. Mas o Mundo está de tal forma de pernas para o ar que o comportamento mais evidente por parte de quem tem de defender os cidadãos e o seu dinheiro parece absurdo.

Afinal, a Islândia saiu-se bem. Saiu-se bem na economia, já abandonou a austeridade, está a mudar a Constituição no sentido exatamente inverso ao que se quereria fazer por cá e manteve a sua determinação em não pagar as dívidas contraídas por empresas financeiras privadas, tendo sido, no fim, judicialmente apoiada nesta decisão. Porque o governo islandês assim o quis? Não. Pelo contrário. Porque as pessoas exigiram e mobilizaram-se. E as pessoas, até na pacata Islândia, podem ser muito assustadoras.

Por cá, o mesmo banqueiro que se estava a afundar (parece que tinha comprado demasiada dívida grega) e que disse que os portugueses "aguentam" mais austeridade, recebeu dinheiro de um empréstimo que somos nós todos que vamos pagar, apresentou lucros excelentes e até vai comprar, imagino que com o nosso próprio empréstimo, dívida nacional. Ou seja, empresta ao Estado o que é do Estado e cobra juros. Porque nós aguentamos.

Destaque PG

Manuel Alegre considera "uma vergonha" que Franquelim Alves seja secretário de Estado




Lusa

O socialista e ex-candidato presidencial Manuel Alegre considerou hoje eticamente "uma vergonha" que Franquelim Alves tenha sido indicado e empossado secretário de Estado, devido à passagem deste pelo grupo SLN/BPN.

"Eu acho que, do ponto de vista da ética política e da ética da responsabilidade, é uma vergonha", declarou Manuel Alegre à agência Lusa, à entrada para uma conferência promovida pelo movimento cívico "Não Apaguem a Memória", no café Vá-Vá, em Lisboa.

"Não é uma ilegalidade, uma vez que ele não é arguido, nem está condenado, mas é uma questão de ética pública. Acho que não devia ter sido indicado e não devia ter sido empossado", acrescentou o antigo deputado e vice-presidente da Assembleia da República.
Segundo Manuel Alegre, "pelo menos, o Presidente da República devia ter aconselhado o primeiro-ministro a não o indicar".

O histórico militante socialista escusou-se a falar sobre a atual situação interna do PS.

Na sexta-feira, o Presidente da República, Cavaco Silva, deu posse a Franquelim Alves como secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação, cargo que anteriormente ocupado por Carlos Nuno Oliveira, numa cerimónia no Palácio de Belém, em que foram empossados outros seis secretários de Estado indicados pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

O novo secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação mostrou-se na sexta-feira "perfeitamente tranquilo" com a entrada no Executivo, definindo como uma "falsa questão" as dúvidas sobre a sua passagem pelo grupo SLN/BPN.

"Houve sempre dois fatores determinantes que pautaram a minha conduta e nunca foram postos de lado: o rigor e a exigência", disse Franquelim Alves à agência Lusa, em declarações feitas depois de ter tomado posse numa cerimónia no Palácio de Belém.

O novo secretário de Estado lembra que foi administrador da SLN/BPN (Sociedade Lusa de Negócios/Banco Português de Negócios) "com o objetivo de tentar recuperar a área não financeira do grupo" e que nessa passagem seguiu "a mesma atitude e comportamento" com que tem pautado os seus "43 anos de vida profissional": "Estou perfeitamente tranquilo", declarou.

O deputado do PCP Honório Novo tinha apelado, na Assembleia da República, para que o Presidente da República não desse posse a Franquelim Alves.

Honório Novo alegou que, "durante a primeira comissão parlamentar de inquérito sobre o BPN, ficou patente que Franquelim Alves conhecia no princípio de 2008 tudo o que dizia respeito ao Banco Insular", incluindo "um volume significativo de imparidades e de atos irregulares de gestão no grupo SLN/BPN", não os tendo comunicado ao Banco de Portugal," como ele próprio reconheceu publicamente".

"Por isso, o PCP considera que uma pessoa desta natureza e com este currículo - um currículo, aliás, que Franquelim Alves omite na sua folha oficial de apresentação do seu passado - dificilmente poderá ser indigitado como secretário de Estado de um Governo do nosso país", afirmou o deputado comunista.

IEL (PMF/PPF) // ZO

Autoridades angolanas suspendem atividades da IURD por 60 dias e interditam cultos...




... de mais seis igrejas

RTP - Lusa, com foto

As autoridades angolanas suspenderam as atividades da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e interditaram os cultos e demais atividades de outras seis igrejas evangélicas, não legalizadas, segundo um comunicado enviado hoje à agência Lusa.

A suspensão das atividades da IURD é uma das conclusões da Comissão de Inquérito nomeada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, na sequência da morte de 16 pessoas, por asfixia e esmagamento, no passado dia 31 de dezembro, na capital angolana.

O culto, denominado "Vigília do Dia do Fim", concentrou dezenas de milhares de pessoas que ultrapassaram, em muito, a lotação autorizada do Estádio da Cidadela.

No comunicado enviado à Lusa, anuncia-se ainda que a Procuradoria Geral da República vai "aprofundar as investigações e a consequente responsabilização civil e criminal".

Autoridades de transição da Guiné-Bissau fazem balanço de oito meses de governo




FP – MAG – Lusa, com foto

As autoridades de transição da Guiné-Bissau e as chefias militares reuniram-se hoje, em Bissau, para fazer um balanço do período de transição e debater o que pode ser corrigido nos próximos quatro meses.

Depois de seis horas de reunião, com todo o Governo de transição, o Presidente de transição Serifo Nhamadjo, o presidente da Assembleia Nacional, Sori Djaló, e o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, António Indjai, não foram divulgadas conclusões nem decisões.

De acordo com declarações do ministro da Defesa, Celestino de Carvalho, tratou-se apenas de uma reunião "para fazer um balanço, desde que o governo foi empossado", porque faltam quatro meses para se completar um ano e, nesses quatro meses, é possível ainda "fazer correções, no que depender da Guiné-Bissau".

"A parte do recenseamento e as eleições, a Guiné-Bissau não pode suportar o cargo sozinha; o resto, do que depender de nós, o Ministério que tem algo para fazer e não faz, é possível tomar medidas corretas e resolver o problema, antes do fim da meta dos 12 meses", disse.

As autoridades de transição, Presidente e Governo tomaram posse em maio do ano passado, no mês seguinte ao golpe de Estado que derrubou os governantes eleitos.

De acordo com o mandato, tinham um ano para preparar o país para eleições gerais (legislativas e presidenciais), que deviam ocorrer em abril deste ano, o que já não vai acontecer.

Não se sabe ainda em que data poderão ser marcadas as eleições, nem se as autoridades de transição terão o mandato prorrogado e, se sim, por quanto tempo.

De acordo com Celestino de Carvalho, essa questões, como a data das eleições, não foram debatidas, como não foi debatida qualquer remodelação do governo, um tema sobre o qual a imprensa guineense tem falado.

"Não fomos nós que determinamos um período de 12 meses [para a transição], não seremos nós a determinar outro período. Se todos entenderem que esse período deve de ser dilatado... se entenderem que deve ser de estritos 12 meses..., pelo menos eu estou à vontade, e acho que os colegas também estão à vontade", disse o ministro.

Crónica da guerra das opções políticas dos jogos da CPLP em São Tomé e Príncipe




Hanek – O Parvo

O ministro da Juventude e Desporto, Albertino Boa Morte não disse mas disse que o Governo de Patrice Trovoada idealizou e começou a plantar árvores para os jogos da CPLP em São Tomé e Príncipe. Começou a criar as bases e condições para a realização destes jogos no País.

Albertino Boa Morte prontificou-se em dizer de que o Governo de que faz parte não tem como criar condições hospitalares, de segurança e infraestruturais para acolher os jogos da lusofonia 2014. O recado que deixou teve como sinónimo de que o Governo de Gabriel Costa veio substituir o de Patrice Trovoada somente para sentar e ver as condições criadas vindas do céu.

Boa Morte prontificou-se em disseminar as declarações do Primeiro Ministro aos deputados segundo as quais ele não vai sair de SãoTomé e Príncipe com mãos estendidas à busca de financiamento e oportunidades ao País. Foi também um recado deixado ao Palácio do Povo que só ele tem, se calhar, a responsabilidade de sair do País para encontrar apoios e investimentos ao País. Desafios estarão virados para Angola, Guiné Equatorial e Congo Brazzaville onde Pinto da Costa tem amizades e mais nenhum.

O XV Governo tem preguiça de continuar o trabalho já iniciado pelo governo cessante. O trabalho já iniciado dá mais sacrifício, mais trabalho e mais suor de sabedoria e inteligência. Nem se preocupou em saber como é que esses jogos podiam ser realizados, conforme já estava assente pelo XIV Governo. Os considerados assaltantes do poder não tentaram saber quais foram os contatos, engajamentos e meios já acertados.

Em menos de um mês da sua tomada de posse os “assaltantes” já tinham feito todos os diagnósticos e cálculos, assim como os contatos com os restantes parceiros de que era impossível STP acolher a comunidade desportiva lusófona em 2014. O XIV Governo estava mergulhado numa autêntica brincadeira, com Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Portugal quando dizia que tudo estava em marcha e que em meados de 2014 STP estava em condições para receber os jogos no solo pátrio são-tomense, pela primeira vez!

O ministro da Juventude e Desporto de Gabriel Costa quis também dizer aos são-tomenses que não haverá continuidade da ação governativa e muito menos aquela deixada pelo Governo de Patrice Trovoada. Terá também ficado claro que o governo de Gabriel Costa não veio para dar continuidade à normalidade governativa. O País está forçado à descoberta de outros sinónimos de transição dos poderes políticos, administrativos e governativos.

Destruição continua a ser uma ação muito fácil de ver nos sinónimos. Construção é que será muito difícil encontrar-se nos dicionários dos sinónimos da política dos bombeiros governativos. O questionário da primeira aparição do ovo ou da galinha encaixa bem num dos objetivos dos jogos da CPLP/2014 em STP em SãoTomé e Príncipe.

Primeiro, seria para criar as bases infra-estruturais desportivas para depois o País começar a lançar ações desportivas internacionais. Atletas são-tomenses a triunfar com medalhas nos jogos de 2014 em SãoTomé e Príncipe estava concebido para segundo plano.

O XV Governo concebeu para o primeiro plano que atletas são-tomenses devessem ganhar medalhas nos jogos 2014 na sua terra natal. As condições hospitalares, de segurança, infraestruturais e outras devem ficar para o segundo plano. “Vamos preparar os nossos atletas para competirem lá fora para nos trazerem medalhas”, disse Albertino Boa Morte.

Ficou assim lançada a guerra de opções políticas e desportivas para os jogos da lusofonia 2014 em SãoTomé e Príncipe entre Patrice Trovoada e Gabriel Costa. Está de igual modo lançada a guerra de quem tem muitas amizades internas e internacionais e a guerra de quem tem poucas amizades internas e quase nenhuma no exterior do País.

O Governo de Gabriel Costa apoiado por Pinto da Costa e a “tróica” partidária, MLSTP/PSD, PCD e MDFM/PL vai assim levar STP a melhores dias do seu desenvolvimento?

O ADEUS AOS BANCOS CENTRAIS INDEPENDENTES




A mudança de paradigma dos bancos centrais na América Latina foi chamada de populista e demagógica por políticos, funcionários e colunistas do chamado primeiro mundo. Curiosamente, hoje, quando no mundo desenvolvido se sugere ou se pratica abertamente uma mudança de modelo, ninguém se lembra do epíteto. A análise é de Marcelo Justo, de Londres.

Marcelo Justo - Carta Maior

Londres – Os países desenvolvidos são velhos defensores do “faça o que digo, não faça o que eu faço”. Um artigo de fé da ortodoxia neoliberal, eixo do Consenso de Washington, era o lugar que ocupava o Banco Central em meio a um sistema financeiro e econômico desregulado. Neste marco, a independência ou autonomia do banco central era sagrada.

A política monetária de um país devia estar em mãos de técnicos especializados e livres da influência dos governos de turno, sempre sujeitos à demagogia e à lógica do curto prazo. E o eixo central – muitas vezes exclusivo – da Carta Orgânica do Banco Central era o combate à inflação.

A crise econômica que estourou em 2007-2008 está mudando as coisas. Com uma dívida descomunal nos Estados Unidos, Japão e em muitos países da União Europeia, com injeções de dinheiro eletrônico para sanear o sistema financeiro, os Bancos Centrais do mundo desenvolvido estão adotando um intervencionismo adaptado às necessidades dos governos. Esta mudança se reflete nos meios onde se discute cada vez mais abertamente a necessidade de esquecer o velho parâmetro e substituí-lo por um diferente adaptado à nova realidade.

Em um artigo publicado recentemente no Financial Times, sugestivamente intitulado “A era dos bancos centrais independentes está chegando ao fim”, o economista chefe do HSBC, Stephen King, aponta nesta direção ao dizer que “não se pode seguir falando de independência dos bancos porque eles criam ganhadores e perdedores”.

King não é uma exceção. O ex-assessor da Reserva Federal de Nova York, Zoltan Pozsar, e o economista que cunhou o termo “banca nas sombras”, Paul Mc Culley, sugeriram em um artigo sobre a emissão de dinheiro eletrônico ou aceleração quantitativa, que os bancos centrais devem trabalhar seguindo as ordens dos ministérios de finanças para coordenar medidas fiscais e monetárias que ajudem a lidar com a crise atual.

O Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, arrematou este debate dizendo que, na verdade, tratava-se de um equívoco, uma ilusão ou um engano deliberado. “Não há realmente instituições independentes. Todas têm que prestar contas. A questão é para quem”, disse Stiglitz em uma conferência na Índia neste mês de janeiro.

Gritos de batalha

Desde a contração de crédito de 2007, a Reserva Federal nos Estados Unidos e o Banco da Inglaterra estimularam a economia e alavancaram os bancos com diversas medidas, entre elas a aceleração quantitativa, uma emissão eletrônica de dinheiro que procura expandir o crédito para estimular o setor produtivo e o consumo doméstico. O catedrático de sistemas financeiros da Universidade de Negócios de Manchester, Ismail Erturk, considera que estas medidas deixam claras as limitações do modelo autonômico bancário.

É certo que havia uma relativa autonomia no manejo institucional dos bancos. Mas não nas nomeações em nível ideológico. Para ser presidente de um banco era preciso ser monetarista. Se o candidato fosse keynesiano estava fora. Não surpreende então que se definisse a inflação como controle de preços ao consumidor e se ignorasse o impacto que tinham outras apreciações dos preços como as bolhas especulativas imobiliárias ou financeiras. O resultado foi desastroso”, disse Erturk à Carta Maior.

A hecatombe veio com a queda do Lehman Brothers em setembro de 2008 que forçou os governos a intervir para impedir uma corrida bancária e uma depressão mundial. O superendividamento atual do mundo desenvolvido vem desse momento. Mas nem com aquela intervenção fiscal massiva se conseguiu curar a enfermidade.

O Banco Central Europeu (BCE) emprestou mais de um trilhão de euros aos bancos ameaçados por dívidas impagáveis contraídas na época do dinheiro fácil com o soterrado objetivo de salvar seus credores, as instituições financeiras dos países do norte, desde a Alemanha até o Reino Unido.

A emissão de dinheiro eletrônico – a máquina impressora de cédulas deste século, tão criticada no século passado quando usada na América Latina – está na ordem do dia. Nos Estados Unidos, a emissão supera os dois trilhões de dólares. No Reino Unido, os 600 bilhões.

O último caso deste novo intervencionismo é o Japão. Com um forte respaldo democrático das eleições de dezembro, o novo primeiro ministro japonês, Shinzo Abe, modificou a tradicional independência do Banco do Japão para comprometê-lo com seu gigantesco programa de estímulo fiscal e aumentar as metas inflacionárias que passaram de um estreito 1% para um ligeiramente mais folgado 2%.

Para um dos mais duros defensores da ortodoxia, o presidente do Banco Central da Alemanha, Jens Weidmann, a conduta do governo japonês foi a gota que fez o copo d’água transbordar. “Nos casos do Japão e da Hungria estamos vendo uma clara ingerência na política do banco central que ameaçava a autonomia que deve reger seu funcionamento. Isso está levando a uma crescente politização de sua conduta”, disse Weidmann.

E a América Latina?

Os países em desenvolvimento têm historicamente uma conduta mais sinuosa, flutuando entre a ortodoxia neoliberal e as próprias urgências de sua economia. Sinal de uma ruptura no consenso que predominava antes do estouro financeiro de 2008, os bancos centrais e reguladores financeiros dos chamados “países emergentes” assinaram em 2011 no México a declaração de Maya para a inclusão financeira dos setores excluídos da sociedade. O Brasil se encontrava entre os países que anunciaram iniciativas concretas para expandir o acesso ao crédito a amplas parcelas da população.

No ano passado, Argentina e Bolívia modificaram a carta orgânica que regulamenta o funcionamento de seus bancos centrais mantendo o princípio de preservação do valor da moeda – evitando episódios inflacionários que erodissem seu valor -, mas acrescentando a seu mandato a necessidade de desenvolver políticas que contribuam ao desenvolvimento econômico e social do país. Em 2008, a nova Constituição equatoriana eliminou a autonomia do Banco Central do Equador.

“A redefinição dos objetivos que está se ensaiando vai pelo bom caminho, mas é preciso lembrar que há limites sobre o que o um Banco Central pode realmente fazer. Além disso, na América Latina, um objetivo essencial dos bancos centrais é a questão cambial frente às flutuações que sofrem suas moedas”, assinalou Erturk.

A mudança de paradigma dos Bancos Centrais na América Latina foi chamada de populista e demagógica por políticos, funcionários e colunistas do primeiro mundo. Curiosamente, hoje. Quando no mundo desenvolvido se sugere ou se pratica abertamente uma mudança de modelo, ninguém se lembra do epíteto.

Tradução: Katarina Peixoto

Polónia: “O PECADO SECRETO DA IGREJA”

 


Polska The Times - Presseurop
 
Pode haver centenas de pessoas, na Polónia, que foram sexualmente abusadas por padres pedófilos”, escreve Ekke Overbeek, um jornalista holandês que vive na Polónia, no seu livro Lękajcie się (Tenham Medo) edit. Czarna Owca 2013.
 
“Isto é uma bomba-relógio dentro da Igreja?”, pergunta o diário, lembrando que o autor não descreve apenas as vidas destruídas de 12 pessoas que foram sexualmente abusadas como também condena vivamente a ainda muito influente Igreja polaca por não atuar “de forma suficientemente eficaz” para erradicar a pedofilia das suas fileiras.
 

Portugal: DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS


Agiotas, vigaristas, banqueiros... (foto Manuel Azevedo)
Luís Rosa – Jornal i, editorial

Se o Banco de Portugal agiu em tempo útil nos casos de Jardim Gonçalves e Armando Vara, tem de ter a mesma atitude no caso do BES

Foi necessário passarem quase dois meses desde o início da investigação do i para o autêntico Muro de Berlim mediático sobre as rectificações fiscais de Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires, administradores do Banco Espírito Santo (BES), ser quebrado. Foi Ana Drago, deputada do Bloco de Esquerda, a romper com o ensurdecedor silêncio que pairava sobre um tema que em qualquer sociedade democrática corresponde a um exercício básico de escrutínio: podem os depositantes e accionistas confiar em banqueiros que recorreram a uma amnistia fiscal para regularizar mais de 26 milhões de euros de rendimentos obtidos no estrangeiro?

Perante Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, Drago afirmou peremptoriamente que a “idoneidade dos administradores-executivos do BES está claramente posta em causa devido à sua atitude perante o fisco português” e perguntou ao regulador dos gestores do BES se já abriu uma investigação para apurar o cumprimento dos critérios legais que permitem a Salgado e Pires ser administradores de instituições de crédito.

Carlos Costa, homem prudente, não quis responder, invocando a reserva legal a que está obrigado, mas acrescentou uma frase importante: “O que tenho a fazer faço e com a brevidade que alguns, julgo, já conhecem.”

É importante, de facto, o BdP esclarecer o tema e dar nota pública da sua actuação. Tal como já aconteceu com Armando Vara, quando este era vice-presidente do BCP e foi constituído arguido no Processo Face Oculta pelo crime de tráfico de influências, ou com Jardim Gonçalves e restante cúpula também do BCP, quando foram constituídos arguidos num caso de manipulação de mercado e burla, é fundamental que o regulador actue e dê nota pública da sua actuação.

Carlos Costa não pode deixar que se crie na opinião pública a ideia de que o BdP tem dois pesos e duas medidas. Se no caso dos gestores do BCP o seu antecessor, Vítor Constâncio, fez pressão no sentido de Armando Vara suspender as suas funções de vice-presidente do BCP e de Jardim Gonçalves e Filipe Pinhal não se recandidatarem a um novo mandato, o governador actual não pode deixar de actuar. A credibilidade das instituições bancárias deve ser salvaguardada, acima de tudo.

Uns são mais iguais do que outros

Ricardo Salgado decidiu esta semana explicar pormenorizadamente os 8,5 milhões de euros de rendimentos que declarou nas três rectificações fiscais. Fê-lo acompanhado de um despacho do procurador que investiga o Caso Monte Branco, o qual, segundo o “Jornal de Negócios”, atesta a inocência de Salgado. Não se critica, como é óbvio, a divulgação que o presidente-executivo do BES fez do referido documento – devidamente autorizado pelo procurador Rosário Teixeira, refira-se.

Mas vale a pena reflectir sobre tais despachos intercalares de inocência quando ninguém pôs em causa o estatuto processual de testemunha de Ricardo Salgado. Tais documentos só são passados pelo DCIAP e, que se saiba, apenas são emitidos a pedido de personalidade como José Sócrates (caso Freeport), Paulo Portas (caso submarinos) e Passos Coelho (por causa da escuta telefónica fortuita) no caso Monte Branco. Se somos todos iguais perante a lei, não devia ser só o DCIAP a emitir tais atestados de inocência. Ou será que o Zé das Iscas não tem o mesmo direito?

EDP. Os critérios nunca revelados de uma operação que está a ser investigada pelo DCIAP




Carlos Diogo Santos e Luís Rosa – Jornal i

O governo continua a manter em segredo muitosdos pormenores da operação de venda da EDP

O resultado das privatizações da energia foi bom. Deu um encaixe de 3,3 mil milhões de euros, muito acima do preço de mercado da EDP e da REN (Redes Energéticas Nacionais) mas o processo foi pouco transparente desde o início.

O programa da era da troika é o mais ambicioso desde os anos 90, mas arranca com a extinção dos órgãos de fiscalização das privatizações: a Comissão Permanente de Acompanhamento das Privatizações e a sessão especializada de apoio ao Ministério das Finanças.

O governo cria comissões adhoc para cada processo e escolhe figuras independentes para fiscalizar o rigor das operações e produzir relatórios públicos. Mas as comissões são nomeadas em cima da decisão final e os relatórios – o da EDP foi entregue em Agosto de 2012 – continuam sem ver a luz do dia. O processo prossegue com a contratação por ajuste directo da desconhecida, em Portugal, Perella Weinberg, alegadamente por ordem de Vítor Gaspar. A decisão é contestada na banca, em particular pelo BESI (BES Investimento) cujo presidente, José Maria Ricciardi, telefona ao primeiro-ministro a queixar-se da escolha.

A venda de 21,35% da EDP era um teste decisivo sobre a capacidade de Portugal atrair investidores internacionais para uma grande operação, meses após o pedido de resgate. Estava muito em jogo, o que explica o envolvimento pessoal do primeiro-ministro e de Vítor Gaspar. O papel do gabinete de Passos Coelho passa ainda pelo secretário de Estado Adjunto Carlos Moedas e a sua equipa técnica.

Mais dois ministros acompanharam de perto as operações da energia: Paulo Portas e Miguel Relvas. Este chega a fazer contactos com investidores, sendo associado aos interesses brasileiros, muitos fortes na EDP. Apesar de vistos por alguns como favorita e de ter o apoio financeiro do banco público BNDES, a Electrobrás coloca-se fora da corrida. A sua oferta é considerada inaceitável ao nível das regras de governo e não passou no Conselho Geral da EDP – este órgão da eléctrica só valida as propostas da E.ON e da China Three Gorges. O desinteresse de Dilma Roussef em Portugal é apontado como factor de arrefecimento do investimento brasileiro. A Petrobrás já tinha desistido da Galp no início do mandato da nova presidente do Brasil.

No terreno, a Perella, que muitos ligam a António Borges pela amizade com o partner Paulo Pereira, tem um papel mais decisivo do que a Caixa BI, o adviser financeiro que contratou a empresa americana como consultora. No Ministério da Economia, o secretário de Estado da Obras Pública, Sérgio Monteiro, fica com a missão das privatizações, apesar da delegação de competências atribuir a função accionista na EDP e REN ao secretário de Estado da Energia. Henrique Gomes fica com as matéria de mercado, que vão entrar em rota de colisão com a privatização.

PRIVATIZAÇÃO VERSUS RENDAS 

Gomes quer impor uma taxa sobre as produtoras de energia que tiraria 250 milhões de euros ao valor da EDP. A proposta é trabalhada no Verão para ser aprovada em Outubro, antes de começar o processo formal de privatização. Mas o processo informal já estava em marcha. Desde Agosto que os consultores do governo procuravam investidores para a EDP e a redução das rendas “excessivas” não fazia parte do dote da noiva. A gestão de António Mexia lança uma ofensiva junto do governo: tudo o que retirar valor à EDP é ameaça à privatização. O gabinete de Carlos Moedas terá sido a principal porta de entrada destes argumentos.

Henrique Gomes invoca o risco do défice tarifário para os investidores na EDP, e numa reunião em Setembro, com Gaspar, Moedas e Santos Pereira, o secretário de Estado joga a carta mais forte. Baixar as rendas é a única medida ao alcance do governo com efeito positivo nas empresas e famílias, argumenta. Seria uma decisão política apoiada por todos. Mas se o argumento é político, o sucesso da privatização da EDP está em primeiro lugar, terá respondido o ministro das Finanças. O negócio contaminou a política de energia e os compromissos assumidos com os compradores da EDP tornaram-se óbvios quando Henrique Gomes bate com a porta em Janeiro.

O DUELO ENTRE CHINESES E ALEMÃES 

De início, Passos Coelho, talvez por influência de Gaspar, estaria convencido das vantagens de um comprador alemão para fortalecer a posição de Portugal no quadro da crise do euro. O envolvimento político dá-se ao mais alto nível e foi intenso na véspera da entrega das ofertas vinculativas. O “Financial Times” noticia a intervenção directa de Angela Merkel junto de Passos Coelho. O primeiro-ministro recebe o presidente da E.ON, numa viagem a Alemanha.

António Mexia também vai à sede da empresa alemã, gerando rumores sobre alegadas preferências do gestor por um grupo que lhe poderia abrir a porta a uma carreira num dos maiores player mundiais. O lado chinês, que poucos contactos fez com o governo português, não gostou e fez constar que se ganhasse não manteria Mexia. Mas o presidente da EDP sobreviveu. Até Vítor Gaspar terá transmitido pessoalmente a boa vontade de Lisboa para o investimento alemão, desde que o preço fosse competitivo. A conversa terá ocorrido quando se sabia que os chineses ofereciam mais.

Não seria sustentável escolher uma oferta muito inferior ao melhor preço, apesar do relatório de avaliação da Parpública ter deixado o caminho aberto a qualquer decisão, ao não fazer recomendação. Mais do que a diferença de preços, o acesso ao financiamento chinês a custos baixos foi decisivo. Ainda assim, Gaspar defendeu a proposta alemã na reunião do Conselho de Ministros que escolheu o vencedor. O ministro das Finanças começou por passar a palavra aos consultores que fizeram a sua apresentação, mas Passos Coelho rapidamente os terá mandado sair, deixando Gaspar sozinho a explicar os seus argumentos.

Apesar de algum desconforto no governo perante a ofensiva chinesa, que transpareceu numa entrevista de Pedro Passos Coelho, preterir a oferta financeira mais alta teria consequências negativas em outras privatizações, designadamente na REN.

Leia também:

Portugal: BLOCO PÕE EM CAUSA IDONEIDADE DE RICARDO SALGADO




Sandra Almeida Simões – Jornal i

Deputada Ana Drago defende investigação do Banco de Portugal a administradores do BES

“Faço o que tenho a fazer.” Foi desta forma lacónica que o governador do Banco de Portugal garantiu estar a cumprir as suas obrigações enquanto supervisor bancário quanto às suspeitas de idoneidade que recaem sobre administradores do BES. Carlos Costa mostra assim que não deixará de actuar em conformidade com o Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, se tal vier a justificar-se. No entanto, invoca o mesmo regime para justificar o seu silêncio sobre o tema.

Carlos Costa foi ontem, pela primeira vez, confrontado publicamente quanto à idoneidade de Ricardo Salgado, presidente-executivo do BES, e de Amílcar Morais Pires, administrador-executivo do BES e não executivo do BES Investimento. O tema surgiu pela voz da deputada Ana Drago, na comissão de Orçamento e Finanças, que, citando as recentes notícias avançadas pelo i, questionou as três rectificações realizadas por Ricardo Salgado à sua declaração de IRS, relativa ao ano de 2011, no montante de 8,5 milhões de euros. A deputada do Bloco de Esquerda (BE) afirmou também que o presidente do BES “utilizou ainda os regimes extraordinários de regularização tributária de 2005, de 2010 e de 2011 para regularizar um total de 26 milhões de euros que tinha fora do país e não declarara ao fisco” – noticia que foi avançada ontem pelo semanário Sol. A deputada do BE insiste que, em momento algum, qualquer membro oficial do BES ou do BESI desmentiu estes valores. “No entendimento do Bloco de Esquerda, a idoneidade dos administradores-executivos do BES, Ricardo Salgado e Amílcar Morais, está claramente posta em causa devido à sua atitude perante o fisco português, principalmente numa altura em que os portugueses são chamados a fazer sacrifícios, muito dos quais em nome do salvamento dos bancos portugueses”, afirmou Ana Drago.

A deputada do Bloco de Esquerda recordou que, de acordo com o número 1 do artigo 30 do RGICSF, apenas “podem fazer parte dos órgãos de administração e fiscalização de uma instituição de crédito pessoas cuja idoneidade e disponibilidade dêem garantias de gestão sã e prudente, tendo em vista, de modo particular, a segurança dos fundos confiados à instituição”.

“O artigo 80.o do Regime impede-me de falar sobre o assunto”, afirmou Carlos Costa. Apesar de não se pronunciar sobre o assunto, garantiu que não se demite das suas funções: “O que tenho a fazer faço, e com a brevidade que alguns de vocês, julgo, já conhecem.”

Não satisfeito com a resposta de Carlos Costa, o BE quer ver o assunto totalmente esclarecido. Para tal, os deputados Ana Drago, João Semedo e Pedro Filipe Soares enviaram ontem perguntas por escrito ao Banco de Portugal e ao governo, através do Ministério da Economia e do Emprego.

São três as questões enviadas: “Considera o Banco de Portugal que a idoneidade do presidente-executivo do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, foi quebrada? Considera o Banco de Portugal que a idoneidade do administrador-executivo do BES e administrador não executivo do Banco Espírito Santo Investimentos, Amílcar Morais Pires, foi quebrada? Considera o Banco de Portugal que Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires devem ser suspensos ou substituídos dos cargos que actualmente ocupam no BES e no BESI?”

Portugal: ALTERNATIVA, PROCURA-SE!




Pedro Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião

A construção de uma alternativa política aos desvarios do atual Governo é uma preocupação cada vez mais premente e um dever incontornável dos partidos, sobretudo os da Oposição e, em especial, do Partido Socialista. A alternativa que se procura não se resume a um mero programa, à elaboração de um elenco de medidas logicamente articuladas e sistematizadas com vista à resolução dos problemas diagnosticados: a dívida, o desemprego, o almejado crescimento da economia. Tão-pouco se constrói, apenas, pela mudança de caras, protagonistas ou figurantes, ou pela celebração festiva de congressos.

A construção de uma alternativa política precisa de coragem, consistência e credibilidade. Coragem para que o principal partido da Oposição leve até ao fim um debate sério sobre as suas responsabilidades próprias, enquanto força governante, nas políticas erradas que conduziram o país à situação presente. Consistência nas soluções que há de propor e que terão de conciliar os recursos de que dispomos com os padrões de decência próprios do Estado de Direito e da democracia constitucional em cuja defesa estamos comprometidos. Credibilidade que apenas se obtém pelo amplo envolvimento da sociedade civil, pela prática de uma cultura de transparência, pela capacidade de persuadir os eleitores de que existe, realmente, uma alternativa séria, ponderada, merecedora da sua confiança.

Há que compreender que as eleições que mais tarde ou mais cedo irão ter lugar poderão representar a derradeira oportunidade para impedir que esta crise comprometa também o modelo de convivência democrática que fomos capazes de construir desde a revolução democrática de Abril de 1974. Os erros cometidos vêm de muito longe, pelo menos, desde o primeiro governo de Cavaco Silva, mas a crise política do regime foi inaugurada pelo ciclo das "fugas".

Primeiro, com a renúncia de Guterres que esculpiu na história da democracia, como epitáfio paradoxal, a conhecida frase - "é a vida!". Seguiu-se a retirada oportuna de Barroso, pouco depois de anunciar que o país estava "de tanga", prenunciando a queda do mal-amado Santana Lopes. Depois, apesar da conquista da primeira maioria absoluta do partido, José Sócrates achou prudente declarar um período de luto - alegadamente para avaliar a real situação das finanças do país - antes de lançar as medidas de austeridade que permitiriam a Portugal cumprir as metas do equilíbrio financeiro impostas pela Europa, já no limiar da crise internacional de 2008. Mas logo em 2009 regressava a instabilidade governativa e o salve-se quem puder.

Uma revisão constitucional era uma ideia bem interessante para acabar de vez com o messianismo envergonhado que sustenta o nosso sistema semipresidencial, mas já basta de pretextos para adiar decisões simples e prementes que poderiam dar um poderoso sinal da vontade de reabilitar o Estado e de reanimar esta democracia claudicante. Por exemplo, se a própria Constituição prevê que a Assembleia da República possa funcionar apenas com 180 deputados, por que razão temos de continuar a eleger 220? Se os eleitores desconfiam dos seus representantes parlamentares - porque não os conhecem nem sabem como ou por que razão foram escolhidos - por que é que se mantém o sistema de eleição em listas fechadas e não são criados os círculos uninominais que aliás estão previstos, até agora inutilmente, na lei fundamental?

A obsolescência do sistema político, a perversão da representação democrática e o desprestígio dos partidos políticos são realidades indesmentíveis. As próprias instituições soberanas, de um ou de outro modo, estão implicadas nos escândalos económicos e financeiros que impunemente arruinaram a nossa economia - do Governo ao Parlamento, do Presidente da República aos tribunais. Em vez de deplorar a chamada "onda populista", é urgente contrapor respostas práticas e convincentes ao ceticismo que crescentemente se apodera dos cidadãos.

Portugal: IDOSAS VÃO PARA A RUA POR NÃO TEREM RESPONDIDO A INQUÉRITO




Carla Sofia Luz – Jornal de Notícias, com foto

Ilda Cabral fez 70 anos e Maria Teixeira tem 80. Vivem em casas sociais há mais de 20 anos e têm a renda em dia. Ambas receberam ordens de despejo por não terem respondido ao inquérito da Câmara.

O pesadelo inimaginável para Ilda tornou-se real na terça-feira: ficou sem casa aos 70 anos. A Polícia entrou na habitação no Bairro do Cerco (Porto) e disse-lhe que ela e a neta de 17 anos, Mariana, tinham de sair. Assim fez. "Nunca pensei que me acontecesse uma coisa destas aos 70 anos", desabafa a antiga auxiliar de Educação na Escola do Cerco, reformada, lembrando os "meninos" que ainda a reconhecem.

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Cabo Verde: JOSÉ MARIA NEVES FOI AOS SALDOS A LISBOA




Liberal (cv) – com foto

«Neves vai, pois, chover no molhado. O que tiver que ser feito, vai ser feito e o que tiver que ser evitado Barbosa evitou», escreve o leitor/a Antonia em comentário ao artigo “José Maria Neves coloca Santa Filomena na agenda”

Menos de três meses depois da visita do Passos Coelho a Cabo Verde, JMN visita Lisboa, para fazer não se sabe muito o quê, o pretexto, esse, é sem dúvidas algumas, nobilíssimo: tratar da questão dos nossos irmãos que foram destratados publicamente por uma autarquia municipal da região da Grande Lisboa, e nada tem a ver com a reforma do roupeiro do PM de Cabo Verde, vaidoso como é, e numa altura em que os saldos e os lançamentos das lojas de grifes da Baixa Lisboeta atraem angolanos endinheirados, cabo-verdianos com manias de grandeza (ligados ao Poder) e guineenses não afetados pela crise social no país. Para tratar do “assunto”, Neves e seus assessores vão passar nada mais, nada menos que seis (6) dias em Lisboa fazer aquilo que a nossa embaixada em Lisboa não consegue fazer em meses, mas que, sozinho o deputado Emanuel Barbosa consegue. Neves vai, pois, chover no molhado. O que tiver que ser feito, vai ser feito e o que tiver que ser evitado Barbosa evitou. Bem que JMN poderia poupar os nossos parcos recursos públicos de mais essa afronta. De todo, com bolsos cheios (25 contos dia), eu mesmo, se a sra. ministra das finanças tivesse cumprido com a palavra de restituir o IUR, quem sabe, eu também não dê um salto até ao Colombo, um dia desses. E por falar na palavra do PM e da sua ministra das finanças, a piada mais ouvida na Praia é que: para o Governo, “este Janeiro tem 60 dias”, pelo que ainda pode devolver o nosso IUR em “janeiro”, com (j).

ANTÓNIA (comentário do dia)

CAN2013 – NULO NA PRIMEIRA PARTE DO CABO VERDE - GANA




A Semana (cv)

Ao intervalo, Cabo Verde e Gana estão empatados a zero. Numa bela partida de futebol, Cabo Verde entrou bem organizado e a encarar de frente o seu adversário. A Selecção de Todos Nós joga muito mais ao ataque, enquanto que o Gana ainda não incomodou o guarda-redes Vozinha.

Apesar de ter mais posse de bola (68%), o Gana, que aposta no jogo aéreo, ainda não teve nenhuma oportunidade de realce. Já Cabo Verde (32% da posse de bola) esteve algumas vezes de cara para o golo. Destaque para Nando que com a sua experiência tem sabido manter a tranquilidade da defesa nacional.

Numa primeira parte, sem grandes oportunidades de golos, as melhores pertencem à nossa selecção, com dois remates de Heldon à baliza de Dauda.

O jogo segue dentro de minutos em Port Elisabeth.

Conheça os iniciais:

Cabo Verde: Vozinha, NAndo, Fernando Varela, Carlitos, Marcos Soares, Héldon, Júlio Tavares, Ryan Mendes, Babanco, Toni Varela.

Treinador: Lúcio Antunes

Gana: Gana: J. Pantsil, Vorsah, Boye; Afful, Agymang-Badu, Adomah Rabiu, Asamoah, Atsu, Gyan

Treinador: James Appiah

HOJE SÓ QUEREMOS QUE CABO VERDE SOME E SIGA NO CAN2013




Lúcio Antunes: “Depois do CAN volto à minha torre de controle”

Cabo Verde tentará, a partir das 15 horas de hoje, fazer história no desafio dos quartos de final do CAN'2013, com o Gana.

Lúcio Antunes não pensa em fazer carreira de treinador. O selecionador de Cabo Verde assume que voltará ao seu emprego, o de controlador aéreo, depois da Taça das Nações Africanas, independentemente de até onde levar a sua seleção.

Antunes garante que «neste momento» está a dedicar-se a cem por cento ao futebol, e a Cabo Verde.

Conheça melhor a vida profissional do selecionador de Cabo Verde AQUI

Sapo Desporto com foto

Angola: GOVERNADOR DO MPLA VIOLA LEI GERAL DO TRABALHO




LÁZARO PINDUCA - Maka Angola - FEVEREIRO 2, 2013 

O governador da Huíla, Marcelino Tyipinge, é acusado, em surdina, por alguns dos seus mais directos colaboradores de estar a violar a Lei Geral do Trabalho. Ordena-lhes para que se mantenham nos seus postos de serviço depois das horas normais de expediente, sem, no entanto, expedir instruções ou tarefas.

Além disso, desde Outubro passado, Marcelino Tyipinge continua a dar primazia à sua função de representante máximo do MPLA na província da Huíla, na qualidade de seu primeiro-secretário. De forma ostensiva e regular, nas horas normais de expediente, o governador exerce funções na sede provincial do MPLA. Tyipinge dirige o MPLA, na Huíla, há 30 anos.

“Sinceramente, não sabemos como reclamar. Às vezes temos de sair do serviço às 19h00 devido à hora tardia em que o governador se apresenta no serviço. Só nessa altura ele começa a despachar documentos e a baixar orientações”, revelou um alto funcionário do seu gabinete, sob anonimato. A Lei Geral do Trabalho estabelece um horário de trabalho das 8h00 às 15h30.

O comportamento de Marcelino Tyipinge tornou-se ainda mais problemático devido ao pronunciamento recente do Presidente da República e do MPLA, José Eduardo dos Santos, na sexta reunião do Comité Central do MPLA.

Segundo o líder do MPLA: “A política de nomeação de quadros para cargos políticos e de direcção e chefia na Administração Pública é, muitas vezes, vinculada a cargos electivos partidários, mas, nem sempre, o perfil destes, que estão mais familiarizados com o trabalho político de massas e de organização e funcionamento interno, é adequado para as tarefas técnico-administrativas e para exercer a autoridade do Estado ao seu nível”.

Apesar dessa constatação, Marcelino Tyipinge deverá manter-se imperturbado no cargo de governador da Huíla.

Do mesmo modo, Marcelino Tyipinge não se sentiu afectado quando foi exposto publicamente como falso tenente-general, com direito a pensão na Caixa Social das Forças Armadas Angolanas (FAA), sem ter cumprido serviço militar.

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Angola: Perspectivas de cooperação com a China tendem a crescer - jurista da ANIP




Angola Press

Luanda - O jurista da ANIP Flávio Inocêncio considerou, em Beijing, que as relações Angola-China têm potencial para crescer, tendo em conta as sinergias entre os dois países associadas à necessidade ao know how (conhecimento), ao petróleo e o acesso ao capital.

O especialista da Agência Nacional Para o Investimento (ANIP) fez esta antevisão quando apresentava a comunicação Investimento Privado em Angola durante a conferência realizada em Pequim para a celebração dos 30 anos do estabelecimento das relações entre os dois países.

As relações sino-angolanas têm potencial para crescer, considerando as sinergias entre os dois países e ao facto de Angola precisar do know how chinês e o acesso ao capital, enquanto a China necessita de petróleo angolano - disse o jurista, recordando que o seu país está a exportar mais petróleo para o Oriente do que aos Estados Unidos.

Na sua apresentação, o jurista lembrou que a maior parte do investimento chinês em Angola, de 2002 a 2012, foi negociado directamente pelo Governo angolano, o Internacionl Fundo Limited (CIF) e o Banco de Exportação e Importação da China (Eximbank).

Para si, estes acordos abriram linhas de crédito enormes para o país, após o fim da guerra em 2002, colocando a China como uma das razões para a rápida recuperação de Angola da destruição da guerra.

Em sua opinião, pode-se dizer que a reconstrução do país, que começou após o fim da guerra, tem sido possível graças aos investimentos chineses em Angola.

"A cidade do Kilamba Kiaxi, em Luanda, construída e financiada pelos chineses é um exemplo de um projecto de sucesso, que o Governo angolano espera replicar em diferentes províncias do país" - adiantou.

As relações económicas e comerciais entre a China e Angola aumentaram na última década e neste período a ANIP registou investimentos no valor de uns 43 mil milhões 346 milhões 100 mil kwanzas.

A maior parte do investimento chinês em Angola foi focado na construção em um total de 147 projectos, o que representa 75,10 porcento do montante total do investimento em Angola no valor de 32 mil milhões 555 milhões 400 mil kwanzas (conversão em cotação não oficial).

Embora, o investimento chinês na última década, em Angola, tenha sido na construção, actualmente os investimentos de empresas chinesas estão a se diversificar em diferentes sectores de actividade como a indústria, comércio e serviços - aponta a comunicação de Flávio Inocêncio, um dos quatro oradores angolanos na conferência.

Silêncio da Guiné-Bissau sobre abate de árvores por chineses preocupa subsecretário ONU




Lisboa, 02 Fev (Inforpress) – O silêncio das autoridades guineenses sobre as denúncias de "abate indiscriminado" de árvores de grande porte por madeireiros chineses preocupa Carlos Lopes, subsecretário geral das Nações Unidas de origem guineense, que teme haver “cumplicidades obscuras”.

“A nossa posição é de que os países africanos em geral aproveitam pouco os seus recursos. A transformação estrutural desta situação requer uma pressão cívica e uma nova mentalidade dos atores económicos e políticos”, disse hoje à Lusa Carlos Lopes, secretário executivo da Comissão Económica da ONU para África (CEA).

“As notícias que vêm a lume são preocupantes mais pela ausência de esclarecimento das autoridades. Muitas vezes existem cumplicidades obscuras entre reguladores e operadores”, adiantou.

Lamine Mané, presidente da Associação de Jovens de Fulacunda, no sul da Guiné-Bissau, denunciou recentemente o caso e diz que o representante do governo no setor até está do lado dos jovens que estão contra os madeireiros chineses, mas diz que não pode fazer nada para parar o abate das árvores "porque a ordem vem de Bissau".

"A floresta, que queríamos que fosse considerada floresta comunitária e protegida, da zona de Mbasso já está completamente destruída. Há dois anos que os chineses estão a cortar árvores naquela floresta, hoje aqui está com uma clareira enorme", disse Lamine Mané à Lusa.

No passado mês de dezembro os jovens de Fulacunda passaram das ameaças aos atos, parando, à força, os madeireiros, mas estes, dias depois voltaram a cortar árvores mediante uma nova autorização passada pelo governo central, contou o jovem Mané.

Carlos Lopes realça que falta informação de qualidade sobre florestas e o seu corte mesmo em países como Portugal e Brasil.

“Imagine-se pois uma Guiné-Bissau ou Moçambique”, disse à Lusa.

Apesar de casos destes, afirma, a entrada dos países emergentes como a China em África é bem-vinda.

“Permitiu alargar as escolhas, aumentar o espaço de negociação, diminuir o paternalismo do debate sobre o desenvolvimento. Na esfera económica, trouxe um aumento do comércio, investimentos e diversificação”, disse.

“Mas os emergentes chegam a África com interesses. Cabe aos africanos defender os seus”, adiantou.

Em particular o aluguer de terrenos agrícolas em países como Angola ou Moçambique exige que estes países “assumam a responsabilidade de responder aos interesses das suas populações”, tendo em conta que é necessário apoio externo, através de “capital humano e financeiro”, para mecanizar a agricultura no continente e assim aumentar a produtividade.

Lopes foi escolhido em março de 2012 por Ban Ki-moon para subsecretário geral, depois de 24 anos ligado à ONU, e pretende elevar a CEA a “grande think tank” africano.

Inforpress/Lusa, com foto

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