domingo, 18 de março de 2018

Portugal | DESATAR NÓS GÓRDIOS


Manuel Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião

Portugal vive uma situação económica positiva, os resultados alcançados no emprego e no desemprego são quantitativamente bons, o Governo dispõe de apoios políticos e dos cidadãos que fornecem estabilidade à governação do país, mas numa reflexão acrescida revelam-se muitos nós górdios por desatar.

As crises económicas não são como as febres que vêm e vão deixando, em regra, o paciente são e salvo, ou até imunizado. As crises económicas, sobretudo quando curadas com medicamentos tóxicos, deixam sempre o paciente mais vulnerável a novas infeções do mesmo tipo ou de tipo diferente. Há efeitos cumulativos, de médio e longo prazo, que dificultam a recuperação. A crise que vivemos e as políticas económicas e sociais impostas, debilitaram-nos, pelo menos de quatro maneiras.

A primeira. A crise causou recessão ao mesmo tempo que agravou o défice das contas públicas durante vários anos. Em consequência, a dívida pública e o seu peso no produto aumentaram muito. Apesar do crescimento económico entretanto registado, o peso dos juros e a pressão para a amortização da dívida não permitem que se faça a despesa pública necessária para garantir a provisão de serviços públicos e para o investimento. Ficou limitado o potencial de crescimento futuro e de desenvolvimento da sociedade. Os efeitos do endividamento público causado pelo "ajustamento" da troika e do PSD/CDS são assim cumulativos.

A segunda. A recessão e o desemprego expulsaram de Portugal alguns dos segmentos mais jovens e qualificados da população ativa. A falta de trabalhadores em geral e de trabalhadores qualificados em particular sente-se em diversos setores. A emigração continua porque o diferencial de salários e de condições de trabalho entre Portugal e outros países europeus se alargou. A emigração reduz o potencial de crescimento e tolhe o nosso futuro coletivo. Tudo isto com efeitos cumulativos.

A terceira. A recessão comprimiu o investimento, não permitindo repor o stock de capital fixo, manter as infraestruturas e atualizar a tecnologia. O fosso que separa Portugal, em capacidade instalada e sofisticação tecnológica, da maioria dos países do seu espaço de integração económica parece estar a aumentar. Na medida em que o novo investimento depende também da qualidade das infraestruturas, da existência de fornecedores capazes e de clientes específicos, o potencial de atração ou de fixação de investimento pode estar a degradar-se. A queda do investimento tem múltiplos efeitos cumulativos.

A quarta. As desigualdades aumentaram. Os desníveis nos salários e nas condições contratuais da geração que entrou no mercado de trabalho nos últimos 15 anos e da que agora se aproxima da idade ativa agravaram-se. Isso significa que as suas oportunidades e condições de vida futura regrediram. As condições que poderão oferecer aos seus filhos, nomeadamente no plano da educação ou de acesso a direitos fundamentais podem bem ser menores do que aquelas de que eles próprios beneficiaram. O potencial de crescimento futuro degradou-se. As desigualdades têm efeitos cumulativos.

O mal está feito. O que é preciso agora é descobrir como reverter os efeitos cumulativos da dívida, da emigração, do desinvestimento, do emprego mal remunerado e muito precário, das desigualdades, da persistência da pobreza. Há nós górdios que urge desatar: renegociar a dívida pública e as condições da sua amortização com o maior credor - o Banco Central Europeu; contribuir para uma reforma da União Económica e Monetária que afaste a atual camisa de forças; condicionar as políticas de distribuição gananciosa de dividendos e de investimento especulativo, procurando que os excedentes de exploração revertam para o investimento produtivo.

Reativar as instituições e as práticas que enquadram as relações laborais para uma valorização do trabalho, com melhores salários e menos precariedade, é objetivo premente que exige mudanças na legislação laboral, reequilibrando poderes que facilitem a negociação. Esta semana espera-se do Governo um sinal de que vai por este caminho, através da sua proposta de revisão da legislação laboral. Há nós górdios em que o desatar é impossível e se impõe, com todos os cuidados, o corte.

* Investigador e professor universitário

PORTUGAL | Feliciano Barreiras Duarte demite-se do PSD


Em entrevista à TSF, Feliciano Barreiras Duarte, diz que já não é secretário-geral do PSD. O pedido de demissão foi apresentado a Rui Rio. O presidente do partido aceitou de imediato.

Toda a polémica à volta de Barreiras Duarte foi "um ataque, acima de tudo, não só à minha pessoa, mas ao dr. Rui Rio" disse em entrevista à TSF o agora ex-secretário-geral do PSD. Feliciano Barreiras Duarte admite que são golpes com origem interna, de fações rivais do Partido Social Democrata que foram alimentando toda a polémica e diz mesmo que os ataques à direção de Rui Rio devem continuar: "existem já outras situações de que se fala sobre membros da atual direção social-democrata".

De onde vêm esses ataques? Barreiras Duarte responde que "há pessoas que tinham influência" no PSD "e que percebem que agora [com Rui Rio] há um estilo diferente". Quanto ao objetivo dessa ofensiva, o político afirma que "o que pretendem é que o Dr. Rui Rio não tenha sucesso".

Certo é que com a decisão de se demitir, a direção do PSD respira de alívio. Há já vários dias que a liderança do Partido Social Democrata olhava para Feliciano Barreiras Duarte mais como um problema do que uma solução.

O anúncio da demissão foi feito por comunicado emitido poucos minutos antes da entrevista à TSF. No texto, o agora ex-secretário-geral do PSD diz "apresentei ao presidente do meu Partido o pedido irrevogável de demissão". Uma demissão "que já está concretizada".

Barreiras Duarte diz ter atingido o limite "face à violência inusitada dos ataques e aos efeitos para mim e a minha família", mas diz também que não é ele o principal alvo desta campanha. É também por isso que sai. No comunicado, o político diz ter "perfeita consciência, como qualquer observador minimamente atento" de que o alvo principal é Rui Rio, "o líder do meu Partido e a sua direção". E por isso, a melhor solução é sair. Feliciano Barreiras Duarte escreve que "ficar seria avolumar o problema e não contribuir nada para a solução".

"Não tenho qualquer tipo de queixa sobre o Dr. Rui Rio", disse na entrevista à TSF.
Ouça na íntegra a entrevista de Feliciano Barreiras Duarte a Anselmo Crespo, subdiretor da TSF.

"Saio de consciência tranquila" diz o secretário-geral do Partido Social Democrata na hora da despedida. "Não há lugar a arrependimentos: dediquei os melhores anos da minha vida ao PSD e à atividade política e voltaria a fazer o mesmo, pois considero que servir o País é o mais nobre dos deveres".

Ainda em declarações à TSF, Feliciano Barreiras Duarte diz que apesar de se demitir da direção do Partido Social Democrata, não vai deixar de ser deputado na Assembleia da República.

Rui Tukayana | TSF ! Foto: Ana António / TSF

Angolanos protestam contra lei de repatriamento de capitais


Manifestantes exigem mudanças no texto do projeto de lei aprovado pelo Parlamento angolano. "O dinheiro vai continuar nas mãos de quem o subtraiu dos cofres do Estado", critica ativista.

Dezenas de cidadãos angolanos manifestaram-se este sábado (17.03) em Luanda contra o atual texto do projeto de lei sobre o repatriamento justo de capitais. Os manifestantes exigiram investigações da Procuradoria Geral da República (PGR) e a responsabilização dos alegados infratores.

As dezenas de manifestantes concentraram-se no centro da cidade de Luanda carregando cartazes com dizeres como "repatriamento sim, lavagem não", "tem tanta coisa errada que não cabe no cartaz" e "ladrão não pode ser patrão".

O docente universitário e ativista Nuno Álvaro Dala, um dos subscritores, explicou à DW África as razões do protesto. "O objetivo da nossa iniciativa é impedir a aprovação do projeto de lei, que prevê manter o dinheiro nas mãos de quem o subtraiu dos cofres de Estado de forma ilícita. Eles não podem ser amnistiados", afirmou.

Fernando Macedo, conhecido ativista e professor universitário, diz que não é necessário fazer-se caça às bruxas. "O que queremos é que a amnistia só seja feita depois de o dinheiro ter sido devolvido aos cofres do Estado", explica. "A ideia central da nossa luta é o Parlamento não aprovar essa lei sem auscultar os cidadãos e as cidadãs e as organizações da sociedade civil. É importante que eles saibam o que o povo quer, o que o povo pensa."

Antes da manifestação deste sábado, os organizadores foram recebidos por alguns partidos com assento no Parlamento angolano. Os manifestantes mantiveram encontros com deputados da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição, e a Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE). Os organizadores lamentaram, entretanto, não terem sido recebidos pelo Movimento Para Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder.

"Tratou-se de uma postura de arrogância por parte do MPLA e do seu grupo parlamentar que não quis nos receber para dialogar. Houve alguns sinais positivos por parte do Presidente João Lourenço, mas ainda não são significativos", sublinhou Fernando Macedo. Segundo o ativista, isso deve ao fato de "muitos parlamentares que fazem parte da maioria no Parlamento provavelmente também serem ladrões do dinheiro público".

Restrições

Durante a manifestação, ouviram-se cânticos como "roubaram o nosso dinheiro, devolvam o nosso dinheiro". Muitos transeuntes e automobilistas filmavam e tiravam fotografias. O protesto foi feito na parte adjacente do Largo da Independência, porque não foram autorizados a realizar a manifestação pacífica no local onde se encontra a estátua do primeiro Presidente de Angola António Agostinho Neto. Segundo a organização, o Governo da Província de Luanda informou que a praça era um "órgão de soberania", por esta razão, não devia ser usada para protestos.

Salomão Francisco, um dos organizadores, não entendeu a atitude do governo. "Mesmo estando na quarta república, o governo continua a dar sinais de que não quer governar pessoas que pensam diferente. Nós que estamos aqui, não somos inimigos do Estado. Somos cidadãos e queremos chamar atenção do governo de que as suas decisões ao longo destes tempos têm provocado morte", afirmou.

Minutos mais tarde do início da manifestação, surgiu na Praça da Independência um de cinco cidadãos liderados pelo ativista cívico Nito Alves com um cartaz mostrando a fotografia do Presidente de Angola, João Lourenço, carregada com a letra "X" em cor vermelha.

Os organizadores entenderam que estavam diante de uma desatualização do tema do protesto, pelo que os acusaram de fazer uma contramanifestação. A presença dos jovens do outro lado da estrada, na margem no largo, fez com que a polícia aparecesse em massa para evitar possível violência entre os dois grupos.

Pressão sobre o Governo

Os organizadores da manifestação já tinham realizado um debate sobre o repatriamento justo de capitais na semana passada. O encontro contou com a preleção do jurista e professor universitário da Universidade Católica de Angola, Benja Satula, o padre Pio Wakussanga, responsável da ONG Construindo, com sede na província angolana da Huíla, e José Patrocínio, da Omunga, sediada em Benguela.

Salomão Francisco explica o próximo passo da luta contra a lei de repatriamento de capitais, que pode ser aprovada nos próximos dias no Parlamento angolano. "Nós vamos insistentemente pressionar o nosso governo. Há uma enorme injustiça de 38 anos e o regime tem encoberto o roubo durante todos esses anos para uma pequena elite", disse.

O referido projeto de lei dispõe que os recursos patrimoniais, transferidos ou mantidos por pessoas físicas ou jurídicas no exterior ou no interior de Angola, não declarados, cuja origem é o território nacional, deverão ser devidamente declarados ao órgão do Estado angolano criado para a execução do programa, para efeitos de repatriamento e pagamento da contribuição extraordinária.​​​​​​​

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Imãs da Guiné-Bissau pedem solução para crise política


Presidente da União Nacional dos Imãs da Guiné-Bissau diz que a classe política guineense precisa chegar a um entendimento para "tirar o país do marasmo". Guiné-Bissau está sem governo há mais de 60 dias.

O presidente da União Nacional dos Imãs da Guiné-Bissau, Bubaca Djalo, pediu este domingo (18.03) à classe política guineense que chegue a um entendimento para "tirar o país do marasmo".

Num discurso proferido no âmbito do 12.ª Ziara, o encontro anual da comunidade islâmica na vila de Mansoa, Bubacar Djalo pediu "aos responsáveis do país para que tenham pena do povo" guineense.

"Que este recado chegue à todos os políticos", disse Djalo a milhares de fiéis, salientando não estar a fazer política, mas sim a expressar o "sentimento do povo". 

Bubaca Djalo recordou que o país está há dois meses sem um Governo e os sinais mostram que os políticos do país continuam sem chegar a um entendimento.

O presidente da associação salientou que a proximidade da campanha de comercialização da castanha de caju, principal produto agrícola e de exportação da Guiné-Bissau, exige que se alcance um entendimento. O líder dos imames guineenses afirmou que "não pode ter medo de falar o que preocupa o povo".

Impasse

A Guiné-Bissau está sem Governo há mais de sessenta dias e há quase quatro anos mergulhada numa autêntica disputa pelo poder. No início do ano, o antigo primeiro-ministro guineense Umaro Sissoco Embalo apresentou a demissão. O Presidente do país, José Mário Vaz, nomeou um novo primeiro-ministro, que ainda não apresentou o seu Governo.

Em fevereiro, o Conselho de Segurança das Nações Unidas lançou um apelo às autoridades da Guiné-Bissau para que sejam realizadas eleições legislativas e presidenciais, respetivamente em 2018 e 2019. Em resposta, José Mário Vaz anunciou que está a fazer auscultações a todos os partidos políticos com objetivo de fixar a data para a realização de eleições legislativas ainda este ano.

A ausência de soluções para a crise político-institucional na Guiné-Bissau está a deixar a população mais falida, sem luz e água. Nos últimos meses, algumas ruas e avenidas de Bissau só têm iluminação pública graças aos postes de luz que funcionam por energia solar. A maioria das casas e instituições públicas fica o dia inteiro sem eletricidade.

Agência Lusa, kg | Deutsche Welle

Nas garras dos USA/NATO


Manlio Dinucci*

Estão em curso, simultaneamente, durante a primeira metade de Março, dois grandes exercícios de guerra - um no Mediterrâneo em frente à costa da Sicília, o outro em Israel – ambos orientados e apoiados pelos comandos e pelas bases dos USA/NATO, em Itália.

No Dynamic Manta 2018 - exercício de guerra submarina, apoiado pelas bases de Sigonella e Augusta e pelo porto de Catania - participam as Forças Navais dos Estados Unidos, Canadá, Itália, França, Bélgica, Alemanha, Grã-Bretanha, Espanha, Grécia e Turquia, com 5000 homens, navios de superfície, submarinos, aviões e helicópteros. O exercício é dirigido pelo Comando da NATO, de Lago Patria (JFC Nápoles), sob as ordens do Almirante dos EUA, James Foggo.

Nomeado pelo Pentágono, como os seus antecessores, comanda ao mesmo tempo as Forças Navais dos EUA na Europa e as Forças Navais dos EUA em África, cujo quartel general está em Nápoles Capodichino.

Para que serve o Dynamic Manta 2018 é explicado pelo próprio Almirante Foggo: começou a “Quarta Batalha do Atlântico, depois das duas guerras mundiais e da Guerra Fria. Está a ser conduzida contra “submarinos russos cada vez mais sofisticados, que ameaçam as linhas de comunicação marítima entre os Estados Unidos e a Europa, no Atlântico Norte”.

O Almirante acusa a Rússia de levar a cabo “uma actividade militar cada vez mais agressiva”, referindo como exemplo, os caças russos que sobrevoam, a baixa altitude, os navios dos EUA. No entanto, não diz que esses navios de guerra atravessam o Mar Báltico e o Mar Negro, perto do território russo. O mesmo fazem os drones de espionagem USA Global Hawk, que, partindo de Sigonella, voam duas a três vezes por semana, ao longo da linha de costa russa, no Mar Negro.

O Almirante Foggo, na qualidade de Comandante NATO, prepara em Itália, as forças navais aliadas contra a Rússia e como Comandante das Forças Navais dos EUA, na Europa, envia da Itália a Sexta Frota para Juniper Cobra 2018, um exercício conjunto entre os EUA e Israel, dirigido, principalmente, contra o Irão.

Da base de Gaeta, juntou-se ao Haifa, o Mount Whitney, o navio-almirante da Sexta Frota, acompanhado do navio de assalto anfíbio, Iwo Jima. O Mount Whitney é um quartel general flutuante, ligado à rede de comando e controlo global do Pentágono e também, através da estação MUOS, de Niscemi.

O Juniper Cobra 2018 – no qual participam 2.500 soldados dos EUA e outros tantos israelitas - começou em 4 de Março, quando o Primeiro Ministro Netanyahu, reunido com o Presidente Trump, afirmou que o Irão “não renunciou às suas ambições nucleares” (não dizendo que Israel é a única potência nuclear, no Médio Oriente) e concluiu que “o Irão deve ser bloqueado, esta é a nossa missão comum”.

O exercício simula a resposta israelita ao lançamento simultâneo de mísseis do Líbano, do Irão, da Síria e de Gaza. No entanto, o cenário real deve ser o de um lançamento de mísseis falsamente atribuído ao Hezbollah libanês, aliado ao Irão, como pretexto para atacar o Líbano, visando o Irão.

Após 72 horas no máximo - declaram as autoridades americanas e israelitas - forças dos EUA chegariam da Europa (em particular das bases americanas em Itália) para apoiarem as forças israelitas na guerra.

A presença no Juniper Cobra do General Scaparrotti, chefe do Comando Europeu dos Estados Unidos, confirma esse plano, que ele definiu numa reunião com o Estado Maior israelita, em 11 de Março. Como Scaparrotti é, também, o Comandante Supremo Aliado na Europa (cargo que pertence sempre a um general dos EUA), o plano prevê uma participação da NATO, sobretudo italiana, de apoio a Israel, numa guerra em larga escala no Médio Oriente.


* Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016.

Estados Unidos estão se preparando para guerra nuclear com China?


Enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, apresenta armas inovadoras, a China continua fortalecendo silenciosamente suas forças estratégicas nucleares, afirma um artigo da revista Asia Times, sublinhando que o crescimento militar chinês é um enigma para o resto do mundo.

O caráter secreto das forças nucleares chinesas e seu possível uso foram os temas principais da nova estratégia nuclear recentemente adotada pelo Pentágono, que traçou uma nova política de "dissuasão adaptada" para a China. O novo plano tem por objetivo persuadir os líderes chineses a evitarem passos militares errados que possam resultar rapidamente em um conflito nuclear, segundo opina o autor do artigo, Bill Gertz. Entre tais passos estão possíveis ações provocadoras no mar do Sul da China ou atividades hostis relacionadas a Taiwan ou o Japão, detalha o autor, citado pelo RT

O documento leva em consideração o principal risco que poderia desencadear uma guerra nuclear entre os EUA e a China: um confronto militar que escale até um conflito regional resultando na utilização de mísseis chineses com cargas nucleares.

"Nossa estratégia adotada em relação à China é elaborada para evitar que Pequim chegue à conclusão que poderia tirar vantagem através de uso limitado de suas capacidades nucleares, ou achar que qualquer uso de armas nucleares, mesmo limitado, seja aceitável", diz o documento.

Posição de Pequim

Bill Gertz recorda que um dos problemas para Washington é o fato de Pequim recusar participar de conversações oficiais que poderiam esclarecer os objetivos desta "dissuasão adaptada" por parte dos EUA. A China, por sua vez, argumenta que qualquer discussão sobre suas capacidades estratégicas nucleares e não nucleares mina a dissuasão nuclear.

Segundo o jornalista, em 2008, durante negociações bilaterais em Pequim, funcionários estadunidenses insistiram que a China fosse mais aberta quanto às suas capacidades nucleares. Em resposta, o então vice-ministro das Relações Exteriores chinês, He Yafei, declarou que as forças nucleares de seu país são um "tema delicado" e que nem sequer os altos funcionários chineses conheciam o tamanho de seu arsenal nuclear.

Mantendo seu poderio militar nuclear e não nuclear em segredo, a China supõe que os EUA não correrão o risco de um conflito armado sem saber ao certo que tipo de armas Pequim poderia usar. No entanto, a chamada Revisão da Postura Nuclear do Pentágono parece tomar em conta o segredo estratégico chinês, opina Bill Gertz.
Pentágono amplia condições para usar armas nucleares

Enquanto a China continua desenvolvendo novas capacidades, ameaçando os interesses dos Estados Unidos e de seus aliados, o Pentágono está ampliando os limites das condições para utilizar suas próprias forças nucleares em resposta a ataques não nucleares, tais como a destruição de satélites ou ciberataques a redes de energia.

"Os Estados Unidos estão preparados para responder decididamente a uma agressão chinesa nuclear ou não nuclear", aponta o documento.

De acordo com a estratégia do Pentágono, os EUA continuarão buscando o diálogo com a China, utilizando ao mesmo tempo exercícios militares que demonstram suas capacidades nucleares, e aumentando o leque de "opções graduais de resposta nuclear disponíveis ao presidente", conclui Bill Gertz.

Sputnik | opinião | Foto: Reuters/China Daily

RÚSSIA: 15 países detetados em ataques cibernéticos contra Comissão Eleitoral Central


Ministério do Interior russo comenta ataques cibernéticos contra Comissão Eleitoral Central

Hoje, a presidente da Comissão Eleitoral Central, Ella Pamfilova, informou que foram detectados ataques DDoS contra página da comissão. As fontes dos ataques são 15 países.

"Posso apenas confirmar o fato destes ataques. Mas a reação antecedente dos serviços de segurança permitiu evitar a falha do sistema importante da Comissão Eleitoral Central", disse vice-ministro do Interior russo, Aleksandr Gorovoi.

Sputnik

RÚSSIA | Eleições presidenciais 2018 | VER RESULTADOS AO MINUTO


Eleições presidenciais 2018

De acordo com as autoridades russas as eleições presidenciais estão a decorrer com toda a normalidade. Neste momento ainda estão abertas aos eleitores 55.805 secções de voto. As secções eleitorais já fechadas são 41.222. 

A Rússia abrange vários fusos horários, sendo essa a causa das diferenças horárias nos diferentes territórios, assim como abertura e fecho das secções de voto. Veja ao minuto.

Publicação de resultados preliminares começa depois das 21h00 no horário de Moscovo (18 horas em Lisboa)


em Sputnik

Polícia ucraniana impede cidadãos russos de votar nas eleições presidenciais 2018


A polícia das cidades ucranianas de Kiev, Odessa e Lvov não deixa entrar os cidadãos russos nas representações diplomáticas para votarem nas eleições presidenciais de 2018, informa o correspondente da Sputnik.

Em Lvov, os policiais junto com a Guarda Nacional ucraniana cercaram o prédio do consulado russo, onde está uma das seções eleitorais, com uma cerca metálica.

"Deixamos entrar apenas aqueles que trabalham no consulado de acordo com a lista que temos. Não deixamos entrar mais ninguém", disse ao correspondente da Sputnik um dos policiais que vigilam o prédio.

Algumas dezenas de representantes de um movimento nacionalista instalaram uma tenda perto do consulado russo, eles pretendem organizar o assim chamado "corredor da vergonha" para aqueles que vão votar.

Dezenas de efetivos dos serviços de segurança patrulham a área perto do consulado, a situação permanece tranquila.

Em Odessa e Kiev a polícia também barrou a entrada nas representações diplomáticas russas. Há informações de que em Kiev os nacionalistas do Setor de Direita (Pravy Sektor, organização proibida na Rússia) protestam perto do consulado russo.

Na véspera, o Ministério do Interior ucraniano declarou que não deixará os russos entrarem nos consulados e na embaixada russa para votar.

A chancelaria russa considera que a decisão das autoridades ucranianas não tem precedentes e sublinha que esta contradiz as normas do direito internacional e não cabe no quadro da compreensão que se tem do que são os países civilizados.

Sputnik

Brasil | O “CHICOTE HEREDITÁRIO” NAS COSTAS DO POVO


José Reinaldo Carvalho*

As arbitrariedades que no cenário do golpe de Estado vêm sendo cometidas pelos torquemadas do Ministério Público, juízes de primeiro grau, tribunais de segunda instância e membros da corte suprema mostram que vivemos no Brasil tempos de opróbrio, crueldade, injustiça e infâmia.

Em meio a tamanho transe, vale recordar o que disse Marx em sua obra “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” sobre a “escola histórica do direito”: “uma escola que legitima a infâmia de hoje com a infâmia de ontem, uma escola que declara como rebelde cada grito do servo contra o chicote, desde que o chicote seja um chicote idoso, um [chicote] hereditário, um [chicote] histórico…”

Está em curso a instauração de um novo tipo de regime ditatorial no Brasil. Os primeiros sinais surgiram com o golpe de Estado de 2016 quando uma camarilha reacionária formada por setores majoritários do Congresso Nacional, em conluio com a mídia monopolizada, a polícia política em que se converteu a Polícia Federal, setores do Ministério Público e do Poder Judiciário, decidiu interromper o ciclo político democrático inaugurado com a Constituinte de 1987-1988 e a fase dos governos progressistas iniciada desde a primeira eleição do presidente Lula.

Os manipuladores do “chicote hereditário”, representantes das classes dominantes, mostraram-se ciosos na defesa dos seus interesses classistas. Monopolizam o poder político há séculos não para distribuir renda nem universalizar a fruição de direitos, mas para viver às custas do saque das riquezas nacionais e da espoliação do povo trabalhador.

Empenhadas na edificação de um novo regime, as classes dominantes mutilam a democracia, investem na criminalização das forças políticas de esquerda e do movimento social, do que é exemplo mais significativo a condenação judicial de Lula. Mais uma vez na história tortuosa da República no Brasil, é com o látego vetusto que essas classes pretendem organizar o sistema político, brandindo o lema “ordem e progresso”, para antagonizar a liberdade, a independência, os direitos sociais e o desenvolvimento.

Na empreitada, decidiram abater a liderança das forças progressistas, impedir que volte a governar o país porque é imperioso interditar o enfrentamento dos problemas sociais e interromper a busca por um lugar autônomo e protagonista do Brasil no mundo.

A criminalização dos movimentos sociais e das forças políticas transformadoras ocorre a par com o uso atrabiliário das armas do “direito”, em que liberais de fancaria não coram ao usar os mais torpes argumentos. Em nome da suposta defesa de direitos “coletivos e difusos”, atacam-se os direitos individuais, mantêm-se cidadãos presos sem culpa formada ou qualquer mínima prova, numa sucessão interminável de atos arbitrários baseados em “convicções; criminaliza-se a atividade política democrática e progressista exercida pelas classes oprimidas. Cúmulo da hipocrisia é a invocação que se faz aos direitos coletivos, porquanto estes são também vilipendiados – o direito ao trabalho, os direitos humanos em lato e estrito sentido, o direito à saúde, educação, moradia, salário digno, ao consumo garantidor do bem-estar para todos, e uma infinidade de direitos usurpados pelos opressores do povo entrincheirados no regime golpista.

O plano dos golpistas é completar a mutilação da vida democrática com a transformação da eleição em farsa. Porque é disto que se trata quando eleições presidenciais, que decidem sobre a força política que ocupará o vértice do poder nacional, são realizadas consoante normas impostas para assegurar previamente a vitória de um lado, com a exclusão da parte adversária, pretextando argumentos juridicos fraudulentos.

Isto é ainda mais evidente quando, segundo todas as sondagens de opinião pública, apesar da repugnante campanha difamatória e da condenação judicial, Lula lidera a disputa presidencial. É um dado óbvio que Lula candidato, à frente de uma coalizão democrática, patriótica e progressista que tenha a esquerda por núcleo e conformação ampla está habilitado a vencer de novo a eleição presidencial.

Impedir a concretização deste desenlace, pela via da prisão do candidato e do cancelamento de sua candidatura, para além de ser uma violência, vai, sim, transformar o pleito de 2018 numa rematada fraude.

Ainda está ainda por ser feito o debate sobre como as forças de esquerda devem agir em tal circunstância, sobre as saídas táticas para acumular na batalha eleitoral que, de resto, será um entre uma miríade de episódiios da velha e boa luta de classes cujo desfecho histórico não há de ser outro senão a “volta do cipó de aroeira” no lombo de quem hoje, em nome de um injusto e infame direito, desce o látego contra o dorso dos oprimidos.

Mesmo num momento de refluxo e desorganização das lutas, fragmentação das forças de esquerda e tendência de alguns à acomodação, a reação popular – que nunca deve ser subestimada – é imprevisível e pode ser surpreendente.


*Jornalista, editor do Resistência, membro da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil

Brasil | NÃO ESTAMOS DERROTADOS!


Protestos oceânicos contra execução de Marielle Franco e Anderson Gomes revelam: é possível frear a espiral conservadora; mas é urgente um programa comum. Veja nossa análise e uma seleção de textos relevantes

Antonio Martins | Outras Palavras

Mais uma vez, o cenário mudou. A emoção gerada pelo assassinato brutal de Marielle Franco e Anderson Gomes mobilizou centenas de milhares de pessoas, em todo o país. As ruas voltaram a se encher de uma multidão aguerrida, insistente, multicor, que há muito não por convocação partidária, mas por convicção de que ou agimos já, ou o país se tornará insuportável. E como as multidões foram inumeráveis, os hipócritas tiveram de ceder. Todo o noticiário dos jornais e das TVs, que há alguns dias enxergava a intervenção no Rio como caminho para o resgate do Rio, abriu espaço a uma mulher negra que denunciou desde o início a militarização das favelas. As tímidas ações de fachada, adotadas pelo ministro Raul Jungmann e pela procuradora geral Raquel Dodge tiveram repercussão pífia.

As ruas coalhadas de gente frearão a grande maré de retrocessos? Há quem aposte, desde já, que sim. O jornalista Fernando Rodrigues, editor do Poder360º e insuspeito de defender o poder popular, enxerga hoje uma “disrupção”, capaz de “mudar o cenário eleitoral de 2018”, aplicar um “duro golpe” na intervenção sobre o Rio e favorecer o naufrágio da estratégia do Palácio do Planalto. Também vê o possível início de uma onda de mobilizações semelhante à de 2013.

Provavelmente, é otimismo demais. A intervenção não é apenas um plano de Temer para manter alguma relevância, tumultuar o ambiente político e evitar a prisão após o final do mandato. Ela socorreu os três grupos essenciais que se uniram em torno do golpe de 2016 – grande poder econômico, mídia e máfias parlamentares –, ao converter a segurança pública no grande tema nacional e evitar que crescesse uma forte corrente em favor da revogação da agenda de retrocessos. Por isso, a tendência natural é que, passadas a emoção de uns e a hipocrisia de outros, Marielle seja sepultada também pela avalanche de sensacionalismo e irrelevâncias com a qual os jornais e TVs usualmente escondem os fatos importantes.

Este choque – por um lado, multidões ansiosas por agir; por outro, a pressão do quotidiano, tendente a anular qualquer chance de ação transformadora – indica a necessidade de mais formulação política. Se, como tudo indica, a presença nas ruas é o único fator capaz de interromper a espiral rumo ao abismo, é preciso garantir que ela se sustente. Significa definir agendas que sejam capazes de convocar e, tanto quanto possível, unitárias.

O fim da intervenção é um primeiro passo óbvio. A presença dos militares no Rio, maciçamente respaldada pela mídia, teve de início apoio popular. Mas pode desgastar-se rapidamente, atingida por sua própria ineficácia – e o repúdio ao assassinato de Marielle pode ser um desencadeador. Ele deveria, por exemplo, convidar os partidos e movimentos presentes ontem nas ruas a manter o ímpeto. A denunciar movimentos como o do 41º Batalhão da Polícia Militar do Rio, que instaurou o terror na comunidade de Acari, numa sucessão de mortes e ameaças. Esta denúncia, que Marielle fez quase solitariamente, poderia desdobrar-se em uma sucessão de fatos políticos. O deslocamento sustentado de parlamentares,e de referências dos movimentos sociais, para as favelas onde a brutalidade é aguda. O convite aos correspondentes imprensa estrangeiros – muito menos alinhados com a agenda conservadora – para que acompanhem as visitas. A convocação de observadores internacionais, aproveitando a capacidade de apelo da sociedade civil brasileira.

A agenda de horrores não se manifesta apenas na intervenção. No Congresso Nacional tramitam propostas de gravidade extrema, sem que os parlamentares e seus partidos – mesmo os de esquerda – façam todos os esforços necessários para alertar sobre os riscos implicados. Em breve, as manifestações políticas podem tornar-se alvo da Lei Antiterror. As ocupações do MST e MTST estão ameaçadas de criminalização. A necessidade de licenciamento ambiental das grandes obras está em questão. As bancadas ruralistas tramam retirar da própria Anvisa o direito de vetar a venda de agrotóxicos cancerĩgenos. Etc etc etc.

Extremamente impopular, o Congresso que ameaça impor estas medidas não está sendo suficientemente deslegitimado. Muito se falou, desde as primeiras manifestações contra o golpe, em 2015, sobre a formação de Comitês Populares em defesa dos direitos e da democracia. A difusão sistemática de informações sobre a agenda de retrocessos ofereceria um poderoso combustível para tais comitês. Eles seriam, além disso, um primeiro passo para retomar o trabalho de base, um objetivo muitas vezes proposto (às vezes de forma mística) e tantas outras adiado.

E há, também, a agenda da contraofensiva. Até o final do ano passado, a proposta de questionar, por meio de Referendos Revogatórios, os retrocessos já consumados, avançava e espraiava-se. Fazia parte do discurso dos candidatos de esquerda. Começava a despertar polêmicas na mídia. Foi afastada, momentaneamente, por dois fatos. Primeiro, a antecipação do julgamento de Lula pelo TRF4 – polarizou as atenções do chamado “campo progressista”. Depois, a intervenção no Rio impôs uma volta a mais no torniquete do golpe e pareceu tornar a resistência inútil.

As mobilizações gigantescas de ontem expõem, mais uma vez, uma realidade contraditória. Não estamos diante de um jogo liquidado. O golpe e sua agenda são fortes pelo controle que exercem sobre o instituído; mas são vulneráveis pela incapacidade de criar consensos, de agir por outro caminho além da truculência. Há espaço para uma dissidência crescente. Mas ela não está dada, nem surgirá automaticamente.

Construí-la com generosidade – evitando, em especial, que a disputa eleitoral torne-se um fator de desagregação das multidões que voltaram às ruas – é a maior homenagem que se pode prestar a Marielle Franco e Anderson Gomes.

Por Fernando Rodrigues, no Poder360

Para o articulista, volta das multidões às ruas coloca governo Temer em situação delicada e pode mudar o cenário eleitoral de 2018. “O Brasil viu nesta 5ª feira (15) imagens de grandes manifestações em capitais como Rio, São Paulo e Recife. O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco pode mudar o cenário político”.


Por José Roberto de Toledo, na Revista Piauí

No texto, uma descrição da trajetória de Marielle Franco. “Após dez anos de trabalho como assessora parlamentar, Marielle elegeu-se em 2016 para seu primeiro e último cargo eletivo. O sucesso logo de cara predizia uma carreira política longeva. Quatro balas anularam a previsão. Mas não seu legado: foram quatorze meses como vereadora, dezenove anos como mãe, e quase quatro décadas como voz inconformada contra a violência à sua volta”.


Por Maria Teresa Cruz e Pavio, na Ponte Jornalismo

Na entrevista (o vídeo está logo abaixo abaixo), feita semanas atrás, Marielle denunciava a intervenção federal/militar no Rio. “Para Marielle, a intervenção iria trazer ‘o acirramento da violência nos corpos nossos de favelados’ e fazia parte de um processo que colocava a própria democracia em risco. ‘O processo de democratização está ameaçado por causa do que está colocado: servidor, saúde, caos em varias áreas e intervenção na segurança, o que ajuda a controlar ainda mais o que vinha sendo controlado antes’, afirmou. ‘Esses dias a gente conversava ali na Maré, sobre o quanto os 14 meses de incursão militar… e não só da PM, mas da força nacional, do Exército, o barulho dos tanques, de tanque blindado, o barulho do tanque ainda é muito latente que ficava na porta de um dos prédios que eu morei até pouco tempo. Esse medo, esse desespero é onde a gente chora porque corta na nossa carne’, disse na entrevista”.



Por Alexandra Lucas Coelho, no Sapo24, de Portugal

Um perfil de Marielle e do país depois do golpe, da intervenção e da execução. “Foi esta cidade que há um mês se viu ocupada por militares, a mando de um presidente da república não-eleito, alegadamente para fazer face ao crime. Depois do golpe na presidência, o golpe na cidade que é a cara do Brasil. O crime de Estado tem esta tradição de se justificar pelo crime. O presidente não-eleito, Michel Temer, assinou essa ocupação. O Rio de Janeiro é desde então uma cidade ocupada, num país ocupado. Todos os dias algo se soma ao horror. Chegam amigos de lá, ou mensagens de amigos, vejo as notícias, horror atrás de horror.”


Por Felipe Betim, no El Pais Brasil

As multidões que ocuparam as ruas depois da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes causaram um curto-circuito nos planos do Palácio do Planalto. “A força das ruas tornou-se um inesperado desafio para o Governo de Michel Temer (MDB) e sua aposta em uma inédita intervenção federal como bandeira eleitoral e resposta para caos na segurança pública do Rio. O presidente colocou suas fichas em nomear como interventor federal o general Walter Souza Braga Netto, chefe do Comando Militar do Leste e, desde o último dia 16 de fevereiro, também chefe máximo da segurança pública fluminense, ainda que nem sequer haja um plano oficial para a ação. Agora, essa cadeia de comando — da Polícia Civil ao presidente — tem que responder por um dos mais emblemáticos crimes políticos da história recente brasileira”.

Foto: Manifestação no Rio, na noite desta quinta, 15/3

*Antonio Martins é editor do Outras Palavras

Venezuela | MANANCIAL HUMANO PARA UM LONGO RESGATE


Martinho Júnior | Luanda  

Na ampla bacia do vale do pequeno rio Guaire (com apenas 72 km), onde se inscreve Caracas, a capital da Venezuela Bolivariana, a pobreza que em abruptos socalcos se expande pelas colinas próximas mais elevadas, (população de outras regiões atraída à capital) perscruta a riqueza a partir de cima, irremediavelmente na vertical, altaneira e desafiadora, mas agora com toda a coerência que a visão socialista lhe propicia.

Do alto dessas colinas decerto que não se vê o vale eriçado de modernos edifícios com arrogância, nem com desprezo, nem com cobiça, nem sequer com rancor… mas com um sentimento de legítima esperança e de sadia espectativa, eivado da consistência dum inalienável direito conquistado com o Comandante Hugo Chavez: o da premente necessidade civilizacional de justiça social, que começa desde logo pelo direito a uma condigna habitação.

Poucas serão as grandes cidades capitais em que tanta pobreza herdada do passado é capaz de olhar de cima, de modo tão fortalecido, os sinais de riqueza inculcados na profundidade dum vale como o do Guaire em Caracas.

Imaginem quais as mensagens que daí se expandem por todo o país e as potenciais energias dessas mensagens!

Esse manancial sensorial e psicológico é por si um incentivo para um poderoso resgate face ao subdesenvolvimento que subsiste de forma crónica desde o passado de trevas coloniais na Pátria Grande.

É também motivo para o início dum novo conceito geoestratégico para todo o território venezuelano, ainda por realizar, que abandone em nome da independência e da soberania, o arcaico conceito geoestratégico colonial de penetração continental a partir do Mar das Caraíbas.

É ainda um enorme potencial de mobilização disponível, de incalculáveis energias, em reforços da vanguarda progressista que é o Partido Socialista Unido da Venezuela, se atendermos a uma das bem sucedidas missões em curso, a “Grande Missão Vivenda Venezuela”, que se abeira dos dois milhões de habitações já edificadas!

Este é um dos eixos de paz e civilização em prol da construção duma Venezuela Bolivariana capaz de Pátria Grande, por que se está a tornar num incontornável exemplo para todos os estados, nações e povos do mundo do espaço da “Tricontinental”!

Quando a mancha de pobreza que paulatinamente irá desaparecer das colinas altaneiras de Caracas, olha de cima-abaixo a expressão estrutural da riqueza instalada no vale do Guaire, fá-lo com o sentido e o sentimento adequado de equilíbrio e responsabilidade, nos termos duma democracia que se abre cada vez mais à participação.

Em menos de vinte anos, a Venezuela Bolivariana já desencadeou vinte e cinco actos eleitorais e ninguém de bom senso poderá alguma vez deixar de levar isso em consideração, por que é por via democrática que se está a fazer a incessante (e morosa) busca de resgate do subdesenvolvimento, pela justiça social.

Do alto dessas colinas espreitam a riqueza olhos ávidos das mais legítimas aspirações, por via de amplas práticas democráticas, cada vez mais participativas!

É assim que os (ainda) enormes resíduos de pobreza de Caracas, encaram o vale a seus pés e projectam sua ânsia de futuro em direcção ao sul despovoado e assimétrico, enquanto manancial para uma Pátria Grande de justa e humana coragem.

Martinho Júnior - Luanda, 15 de Março de 2018

Imagens:
1 e 2 - os bairros pobres expandem-se pelas colinas mais elevadas de Caracas;
3 - o pequeno rio Guaire percorre os pontos menos elevados do amplo vale;
4 - Caracas vista do nó dos Andes que compõe o cerro do Parque Nacional de Ávila (a norte da capital);
 5 - o centro de Caracas com toda sua imponência e símbolos de riqueza.

Serão reais os venenos "Novichok"?

Caem por terra as alegações de Theresa May

Moon Of Alabama

O governo britânico afirma que os venenos "Novichok", desenvolvidos há 30 anos atrás na União Soviética, afetaram um agente duplo britânico. Mas essas substâncias podem nem sequer existir. O governo britânico diz ainda que o governo russo é responsável pelo incidente e anunciou sanções contra o país.

Um incidente semelhante ocorreu em 2001 nos Estados Unidos . Envelopes com esporos de Antraz foram enviados para vários políticos. Algumas pessoas morreram. A Casa Branca disse ao FBI para culpabilizar a al-Qaeda , mas o Antraz acabou por se revelar ser de um laboratório de armas químicas-biológicas dos Estados Unidos. O caso está ainda por resolver.

Vil Mirzanyanov é o "denunciante" que "revelou" o programa "Novichok" e seus venenos e publicou as fórmulas químicas que deveriam permitir a qualquer laboratório decente produzi-los. Mas nem a existência do alegado programa, nem a existência das supostas substâncias foram alguma vez aceites pela comunidade científica. O governo russo afirma não saber do programa nem dos alegados venenos.

O drama elaboradamente construído em torno do alegado envenenamento do agente duplo britânico Skripal e da sua filha transformou-se assim numa representação surreal. O governo britânico não apresentou até agora nenhuma evidência de que os Skripal foram envenenados ou que tivessem sido envenenados por alguém. Nenhum boletim médico detalhado foi publicado. As acusações britânicas contra a Rússia permitem considerar que uma tentativa de suicídio esteja excluída. Por quê?

Não há nenhuma avaliação independente do alegado veneno. O governo britânico afirma que o seu próprio laboratório de armas químicas em Porton Dow, a poucas milhas de onde aconteceu o incidente, identificou o veneno como um dos produtos químicos "Novichok".

Porém, em 2016, um dos principais químicos de Porton Down tinha dúvidas que tais produtos químicos existissem. (Paul McKeigue, Professor de genética estatística e epidemiologia genética na Universidade de Edimburgo, Piers Robinson, Professor de política, sociedade e política jornalismo na Universidade de Sheffield e o antigo embaixador britânico Craig Murray põem isto em destaque ).

Recentemente, em 2016, a Dra. Robin Black, chefe do Detection Laboratory a única instalação laboratorial de detecção de armas químicas do Reino Unido, em Porton Down, antiga colega do Dr. David Kelly, publicou numa revista científica extremamente prestigiada que a evidência da existência de Novichoks era escassa e a sua composição desconhecida. 

Nos últimos anos, tem havido muita especulação sobre uma quarta geração de agentes nervosos (inovações "Novichok") tivesse sido desenvolvida na Rússia, tendo sido iniciada nos anos 70 do século passado como parte do programa "Foliant", com o objectivo de encontrar agentes que pudessem comprometer as contramedidas defensivas. Informações sobre estes compostos têm estado dispersas no domínio público, provenientes principalmente de um químico militar russo dissidente, Vil Mirzayanov. Não há confirmação independente das estruturas ou que as propriedades desses compostos tenham sido publicadas. (Black, 2016)

Robin Black (2016)  Development, Historical Use and Properties of Chemical Warfare Agents . Royal Society of Chemistry

O Conselho Consultivo Científico (Scientific Advisory Board, SAB) da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW) não reconheceu os Novichoks como armas químicas, porque encontrou poucas evidências de que existam. Os EUA e o Reino Unido fazem parte da organização e ambos concordaram com esta avaliação:

[o SAB] sublinhou que a definição de produtos químicos tóxicos na Convenção abrange todos os potenciais candidatos a produtos químicos que possam ser utilizados como armas químicas. Sobre novos produtos químicos tóxicos não constantes do anexo sobre produtos químicos, mas que, no entanto possam, para a Convenção, representar um risco, o SAB faz referência a "Novichoks". O nome "Novichok" foi usado numa publicação de um antigo cientista soviético que relatou a investigação de uma nova classe de agentes nervosos apropriados para o uso como armas químicas binárias. " O SAB afirma dispor de insuficientes informações para comentar sobre a existência ou propriedades de "Novichoks ". (OPCW, 2013)

O antigo cientista soviético, Vil Mirzanyanov, que denunciou e escreveu sobre os "Novichoks", vive agora numa casa de 1 milhão de dólares nos Estados Unidos. A agência de notícias AFP acaba de entrevistá-losobre o recente incidente:

Mirzayanov, falando na sua casa em Princeton, Nova Jersey, disse estar convencido de que Rússia levou a cabo uma forma de intimidar os opositores do Presidente Vladimir Putin. "Só os russos" desenvolveram esta classe de agentes nervosos" disse o químico. "Eles conservaram-nos e ainda os mantêm em segredo".

A única outra possibilidade, disse, seria que alguém usasse as fórmulas do seu livro para fazer uma tal arma.

"A Rússia fê-lo", diz Mirzanyanov, "OU ALGUÉM QUE LEU O MEU LIVRO"

O livro foi publicado em 2008 e está disponível encadernado, brochado ou em formato electrónico por 8,16 dólares. Inclui uma série de fórmulas que, diz Mirzanyanov, poderiam ser utilizadas para produzir esses agentes químicos. Mas nem o laboratório de Porton Down nem a OPCW parecem convencidos que isso seja possível. Eles podem acreditar que Mirzanyanov tem plena consciência disto. 

Um leitor, do livro de Mirzanyanov observou:

[É necessário] haver um editor para controlar o seu brado "sou um espantoso mártir épico" e trazer as coisas de volta à ciência.

Outro leitor escreveu:

State secrets é de longe a mais prolixa e dolorosamente estúpida novela sobre armas químicas que já li, escrita por um cientista irritado que desertou da Rússia! Se quer ouvir um empregado com ilusões de grandeza a queixar-se de cada pessoa com quem já trabalhou então este livro é para si, caso contrário não perca seu tempo. A sério! Não acontece nada exceto que Vil algumacoisov ajuda a fazer coisas que matavam pessoas durante 30 anos e que obtém uma (espécie de) consciência, deserta e queixa-se constantemente acerca... de tudo.

Vil Mirzanyanov promoveu o seu livro num vídeo de 2009 . Pouco depois no seu blog explicou porque havia incluído fórmulas:

"Enquanto estava a escrever o meu livro "Segredos de Estado: crônica de um participante no programa russo de armas químicas", algumas pessoas de Washington insistentemente me aconselharam a não incluir as fórmulas dos agentes químicos da série Novichok no meu livro.

(...)
Perguntei por que seria má ideia publicar essa informação, uma vez que seria para a segurança de todas as pessoas, pois os governos iriam trabalhar para ter esses agentes químicos e seus precursores incluídos na Control List. Eles responderam que "terroristas poderiam usá-los em suas ações criminosas." Este tipo de raciocínio tem sido usado sempre para assustar as pessoas e evitar qualquer discussão. Graças a isto já estamos acostumados a ignorar uma quantidade de problemas reais."

Mirzanyanov além disto salienta que apenas pessoal experiente em laboratórios bem equipados seria capaz de utilizar as suas fórmulas. Agentes estatais dispõem desses laboratórios, como o britânico Porton Down, mas os terroristas não têm tais capacidades.

Mirzanyanov insistiu para que fossem incluídas as substâncias que ele descreveu na lista de material controlado pela OPCW. Mas a OPCW, como visto acima, rejeitou. Nem o seu conselho científico, nem o chefe do laboratório de detecção de Porton Down estavam convencidos de que estas substâncias ou o programa soviético descrito por Mirzanyanov existissem.

O laboratório de armas químicas soviético em que Mirzanyanov havia trabalhado era no Uzbequistão, não na Rússia como Theresa May falsamente alegou. O laboratório foi desmantelado com a ajuda ativa dos Estados Unidos .

A afirmação de Theresa May de que os Skripals foram envenenados com agentes "Novichok" é altamente questionável. A sua alegação de que apenas a Rússia poderia ser responsável pelo incidente Skripal é obviamente um disparate.

A existência das substâncias descritas por Vil Mirzanyanov está em sérias dúvidas. Mas se ele está certo então qualquer Estado ou empresa com um laboratório decente e pessoal competente pode produzir essas substâncias a partir das fórmulas e descrições fornecidas no seu livro. Pelo menos é o que o próprio Mirzanyanov diz.

Mas o mais perturbador sobre o caso não são as falsas alegações de Theresa May. Ela está com problemas políticos de fundo sobre as negociações do Brexit e outras questões e precisa conseguir alguma manobra política de diversão. Culpar a Rússia por "qualquer coisa" está em voga e pode ajudá-la por algum tempo.

Não, a questão mais preocupante é o comportamento dos media que falharam em assinalar que as reivindicações do May são alaridos sem nenhuma evidência que suporte as suas afirmações. O único jornal um pouco cético é o Irish Times, que considera altamente improvável que o governo russo esteja por trás do envenenamento.

Theresa May exigiu e teve uma reunião da NATO sobre o caso. Mas a declaração emitida pela NATO foi extremamente fraca. Apenas apoiava a condução do inquérito britânico e pedia à Rússia para responder às questões de britânicas. Não apoiou as alegações de May, nem tomou qualquer medida contra a Rússia. Um porta-voz francês disse "nós não fazemos política de fantasia" e exigiu "conclusões definidas" sobre o caso antes de decidir qualquer coisa. Também não foi dado apoio a May pela administração Trump (Atualização: a embaixadora dos EUA na ONU Nick Haley agora saltou em auxílio do Theresa May)

A história de que May quer propalar tem demasiados buracos para ser sustentável. O envolvimento do agente duplo britânico Skripal no falso relatório Steele sobre Trump é provavelmente a verdadeira história por trás do incidente.

Não está a chegar apoio internacional a May. O líder da oposição britânica, Corbyn, tinha razão quando exigiu provas das suas afirmações. Mais alguns abanões e o seu castelo de cartas certamente virá para baixo.

Caso não tenha reparado: Os EUA tinham acesso à fórmula "Novichok" desde 1999 : Alguém pode acreditar que fossem incapazes de reproduzi-lo?
Russian State Secrets | VER VÍDEO - Vil Mirzanyanov (em inglês)

Ver também:
  Lies Can Lead To War , Paul Craig Roberts

O original encontra-se em Moon of Alabama e em www.informationclearinghouse.info/48966.htm 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

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