Há muitas formas de pegar neste tema. Vamos começar pela afirmação de André Ventura, «Somos o único partido - de relevo, com natureza parlamentar - que entende que a imigração em Portugal deve ser controlada».
Manuel Gouveia | AbrilAbril | opinião
O Polígrafo decidiu considerar esta opinião como falsa. E bem. Ela é falsa. Mas mais falsa ainda é a análise do Polígrafo. O Polígrafo diz que a afirmação é falsa pois quer a IL quer o PSD também defendem que a imigração deve ser controlada.
Mas os outros Partidos defendem que a imigração deve ser incontrolada? Onde? Por exemplo, o PCP defende o «aumento da capacidade de resposta por parte da AIMA (Agência para a Integração Migrações e Asilo) e medidas mais eficazes no combate aos traficantes de mão de obra imigrante e às redes de tráfico de pessoas» e o BE fala em «Combater as formas de exploração de imigrantes, desde agiotas a redes de angariação de mão-de-obra, passando pela responsabilização de toda a cadeia de angariação, utilização e subcontratação, que se escondem através de "empresas na hora"».
Então, porque é que o Polígrafo considera que só os Partidos de direita defendem «uma imigração controlada?». Qual é a grande diferença entre a visão de CH/IL/AD e PCP/BE sobre a imigração? Os primeiros consideram que a imigração é necessária (sim, porque CH/IL/AD têm sempre o cuidado de sublinhar que a imigração faz falta, pois os seus financiadores necessitam de mão-de-obra barata), os segundos reconhecem que a imigração existe e contribui para a riqueza nacional. Mas a grande diferença está em que os primeiros olham para os imigrantes como um problema necessário enquanto os segundos olham para os problemas que os imigrantes têm. Os primeiros querem em Portugal os imigrantes ricos, e todos os imigrantes que o patronato português necessitar para lhes extrair a mais-valia (o que implica importar também o exército de reserva para pressionar o preço da força de trabalho).
É o que diz a AD, «uma política de imigração regulada e orientada para as necessidades do mercado de trabalho, flexível na sua execução e que permita a entrada legal de imigrantes em território nacional». E uma das coisas que os patrões querem é essa mão-de-obra disponível para trabalhar o máximo com a menor remuneração possível. E a pressão sobre a imigração ajuda a aumentar a exploração. Os segundos preocupam-se em evitar a discriminação, a sobre-exploração, o tráfico de pessoas, as condições indignas de habitação. Todos querem uma imigração controlada. Para poder explorar melhor esta mão-de-obra ou para evitar a sua sobre-exploração.