quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ACORDA CABO VERDE


JMN já não tem condições para chefiar o Governo

LIBERAL - Editorial

O que José Maria Neves diz não se escreve. Já imaginaram Obama vir a terreiro dizer “a economia americana não está em crise”?! Ou Angela Merkel afirmar “a economia alemã está blindada à crise internacional?!” Certamente que nenhum deles teria o arrojo de proferir tais disparates. Então, por qual razão o Primeiro-ministro cabo-verdiano o poderá fazer?

Sejamos claros: já custa escrever sobre este Primeiro-ministro. Não porque não haja sempre matéria suficiente. Nesse aspecto José Maria Neves é muito pródigo… Até por razão de, normalmente, dizer agora e renegar depois. Não, o constrangimento decorre da nossa natureza humana, de algum modo de certa caridade cristã: alguém que se comporta como JMN merece-nos, mais do que desprezo, compaixão. Confessamos: o Primeiro-ministro de Cabo Verde faz-nos sentir pena!

Desde logo, porque só uma pessoa em estado de grande perturbação poderá debitar as baboseiras que o estão a tornar tristemente célebre, só alguém que perdeu o sentido da realidade pode permitir-se fazer da contradição a sua forma de estar na vida pública. E, mais preocupante ainda, é não se vislumbrar ninguém do seu próprio partido que o chame à razão. Será que essa doença tomou conta do PAICV?

José Maria Neves mente e mente muito. Mas será que tem consciência das falácias? Não nos parece! O homem entrou todo inteiro no seu universo íntimo e apertado do faz-de-conta, perdendo mesmo a noção do ridículo.

A última do Primeiro-ministro é, convenhamos, reveladora do que já dissemos. Ao afirmar aos microfones da rádio nacional que a economia cabo-verdiana não está em crise, por razão de a crise ser global, JMN revelou-se como cultor do disparate, ou então assume a presunção de considerar sermos todos idiotas.

O que José Maria Neves diz não se escreve. Com esse argumento, as maiores potências mundiais poderiam sugerir o mesmo. Já imaginaram Obama vir a terreiro dizer “a economia americana não está em crise”?! Ou Angela Merkel afirmar “a economia alemã está blindada à crise internacional?!” Certamente que nenhum deles teria o arrojo de proferir tais disparates. Então, por qual razão o Primeiro-ministro cabo-verdiano o pode fazer?

Por outro lado, na mesma lógica do “disse e não disse”, JMN lá veio reconhecer, depois de tanta tinta vertida, que, afinal, sempre havia prometido o 13º mês. Mas não foi ele que, meses atrás, jurou a pés juntos nunca o ter feito?

Certamente concertado com o Primeiro-ministro, Armindo Maurício veio também a público reconhecer a promessa que – pasme-se! – não pode ser cumprida – quando antes nunca tinha sido feita.., - porque "não se pode exigir que Cabo Verde tome determinadas medidas só para cumprir certos compromissos assumidos num dado momento"… Pois, o momento da caça ao voto e das promessas a pataco próprias de vendedores de feira, indignas de políticos sérios e lúcidos. O que - neste último particular - não é o caso de Maurício, pelas razões que se deduzem; mas é de Neves, pelas circunstâncias que se conhecem…

O estado geral do país – e, já agora, o de José Maria Neves – é de molde a criar preocupações acrescidas aos cabo-verdianos. É que, apesar de a economia cabo-verdiana “não estar em crise”, o défice das contas públicas encontra-se na zona de risco e a dívida está a atingir os 80 por cento do PIB. E o País não pode continuar a ser dirigido num clima de mistificações e insanidades.

É este o nosso País: um Primeiro-ministro que pela manhã diz uma coisa, que ao final do dia diz outra e no dia seguinte repete a história. É este o nosso País: um Primeiro-ministro que diz que “Cabo Verde não está em crise”, não havendo entretanto nenhum empresário que não se queixe dela.

O torpor que assola a sociedade cabo-verdiana deve ser extirpado com urgência, sob pena de o sono colectivo arrastar o país a pique. Acorda Cabo Verde!

Cabo Verde: UE vai aumentar "significativamente" envelope financeiro para 2012/14...




... no quadro da Parceria Especial

JSD - LUSA

Cidade da Praia, 10 nov (Lusa) - A União Europeia (UE) vai aumentar "significativamente" o envelope financeiro destinado a Cabo Verde na segunda fase do acordo bilateral que termina em 2014, no quadro da Parceria Especial, disse hoje à Agência Lusa Josep Coll.

Segundo o delegado da Comissão Europeia (CE) em Cabo Verde, a avaliação recentemente feita sobre os três primeiros anos de vigência do programa foi "bastante positiva" e o respetivo relatório já foi enviado para Bruxelas, esperando-se que o novo envelope financeiro possa chegar ao arquipélago em princípios de 2012.

A questão foi analisada na quarta-feira na Cidade da Praia numa reunião do Comité de Seguimento Local (CSL) da Parceria Especial UE/Cabo Verde, destinada a avaliar a evolução do programa e a preparar o encontro do Comité Técnico de Seguimento, já com todos os Estados-membros da União, a realizar a 23 e 24 deste mês, em Bruxelas.

Josep Coll, salientando que a decisão ainda não foi aprovada, nada adiantou sobre o montante em causa, limitando-se a indicar que será um aumento "significativo", preparatório já para um novo programa entre as duas partes para entrar em vigor depois de 2014.

Nessa altura, Cabo Verde já terá terminado os apoios financeiros especiais inerentes à transição de País Menos Avançado (PMA) para País de Rendimento Médio (PRM) - termina em 2013 -, embora esteja em estudo a possibilidade, em princípio aceite pelos parceiros, de prolongar o período de transição até 2015.

Na reunião de Bruxelas, adiantou o diplomata espanhol, natural de Barcelona, será analisada a evolução da parceria especial, nomeadamente nas áreas do apoio financeiro em projetos ligados a setores como emigração (acordo de facilitação de vistos, no âmbito da Parceria para a Mobilidade), pescas, transportes e desenvolvimento regional, entre outros.

Na Cidade da Praia, a reunião do GLS analisou informações sobre a evolução política e económica em Cabo Verde e nos "27", bem como questões regionais, como o desenvolvimento no quadro da UE, da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da Macaronésia (Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde).

“A ECONOMIA CABO-VERDIANA NÃO ESTÁ EM CRISE”



LIBERAL

José Maria Neves sossega os cabo-verdianos

Isto é, há uma crise global mas não há crise em particular… Está confuso o leitor? Pois foi isto que o Primeiro-ministro disse em entrevista à RCV. E, finalmente, lá reconheceu ter prometido o 13º mês, mas não vai poder cumprir porque “desde as eleições, vivemos uma situação de grande volatilidade”…

Praia, 10 de Novembro 2012 – Os cabo-verdianos podem ficar descansados, o Primeiro-ministro foi bem claro na entrevista concedida ao jornalista Júlio Vera-cruz Martins: “a economia cabo-verdiana, em si, não está em crise”, disse José Maria Neves no programa Discurso Directo, da RCV, que foi segunda-feira, 8, para o ar.

E não está em crise, por ter esta uma natureza global e não ser uma particularidade cabo-verdiana. Ou seja, para o Primeiro-ministro há uma crise no geral e a sua negação no particular. Ou seja, ainda, partindo deste ponto de vista não haverá nenhum país do mundo que possa dizer com rigor estar, efectivamente, em crise…

Mas as surpresas não se ficaram por aqui, num extraordinário golpe de rins, José Maria Neves afirmou que “tendo em conta a crise não posso falar de 13º mês como prometi na campanha eleitoral”, esquecendo-se que poucos meses atrás havia declarado nunca ter feito tal promessa - o que suscitou grande controvérsia na sociedade cabo-verdiana, com vibrantes intervenções na Assembleia Nacional e havendo até um dirigente sindical que, pela primeira vez na história do país, lhe chamou “mentiroso”.

Quanto ao resto, JMN apresentou a receita que, aliás, em nada é diferente das mesinhas que se praticam na Europa. A classe média, os trabalhadores e o pequeno empresariado serão os alvos das medidas draconianas para debelar a crise que, curiosamente, só parece ter-se feito sentir após a vitória eleitoral de 6 de Fevereiro, porquanto “desde as eleições, vivemos uma situação de grande volatilidade”, segundo as palavras do próprio Primeiro-ministro.

Mas, claro está, “a economia cabo-verdiana, em si, não está em crise”… Ficamos mais descansados!

Recifes artificiais na Ilha do Sal estuda benefícios dessas estruturas para o meio ambiente




CSR - LUSA

Lisboa, 10 nov (Lusa) -- A criação de dois recifes artificiais na Baía de Santa Maria, em Cabo Verde, projeto levado a cabo por um grupo de portugueses, mostrou que esta ação é benéfica para o meio ambiente, disse hoje um responsável do projeto.

"O resultado, ao fim desses anos, é que, de facto, a comunidade animal e bentónica (organismos que vivem no substrato de fundo de ecossistemas aquático) é muito semelhante aos dos recifes naturais mais próximos", disse a Agência Lusa Miguel Tiago Oliveira, biólogo que também trabalha no Oceanário de Lisboa.

Dois navios foram afundados na Baía de Santa Maria, na Ilha do Sal, com o objetivo de se criarem recifes artificiais, no âmbito do projeto intitulado "Rebuilding Nature: Recifes Artificiais em Cabo Verde", numa iniciativa que teve seu começo entre 2006 e 2007.

"O objetivo do projeto era provar, ou dar algumas pistas, se o afundamento destes tipos de estruturas (navios) em determinada zona é benéfica ou não para o ambiente. É aqui que entra a ciência", referiu o biólogo.

"O que nós fizemos foi acompanhar um recife que tinha dois anos (em 2006) e um (navio) que tinha acabado de ser colocado na água (em 2008), fazendo a monitorização do que lá ia aparecendo", sublinhando que a fauna e a flora foram evoluindo e exemplares foram recolhidos para pesquisa.

Esses recifes artificiais, segundo o biólogo, aumentam a proteção dos recifes naturais, pois dividem a pressão dos turistas e mergulhadores entre essas estruturas.

Oliveira declarou também que "os operadores de mergulho que se instalam (na região) geram receita para a comunidade", desenvolvendo ainda mais a vertente turística da ilha.

"Se tiveram o cuidado de manter essa riqueza, de forma sustentável, a comunidade ganha e ganham todos", argumentou.

Miguel Tiago Oliveira disse ainda que dois artigos científicos sobre a monitorização desses recifes já foram publicados e outros três ainda estão por sair.

"Com esse estudo, a Direção-Geral do Ambiente de Cabo Verde poderá ou não, no seu entender, promover a criação de novos recifes em outros locais, de forma coordenada", disse, insistindo que é necessário controle e ordenamento.

O projeto desse grupo de portugueses terá continuidade se o governo cabo-verdiano decidir ampliar o projeto para outras zonas.

O "Rebuilding Nature: Recifes Artificiais em Cabo Verde", que foi orçado em 400 mil euros, tem ainda a participação do maior especialista em recifes artificiais da Europa, o português Miguel Neves dos Santos.

Várias empresas têm contribuído para o desenvolvimento deste projeto, como a Soltrópico e a Manta Diving Center.

*Foto em Lusa

Guiné-Bissau discute em Dakar possibilidade de voltar a integrar missões de paz



ANGOLA PRESS

Bissau - A Guiné-Bissau discute em Dakar, Senegal, a possibilidade de voltar a integrar missões de manutenção da paz no continente africano, nas quais não participa desde 2006, disse à Lusa fonte militar.

De acordo com a fonte, é o próprio Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, António Indjai, quem está a discutir com o seu homólogo senegalês, general Abdoulaye Fall, essa possibilidade, já que o Senegal é neste momento o coordenador das missões de manutenção de paz a nível da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental).

A Guiné-Bissau deixou de ser integrada nas missões da ECOMOG (força de manutenção de paz da CEDEAO) na sequência de motins de soldados guineenses regressados da Libéria, acção no âmbito da qual foi assassinado o então chefe do Estado-Maior General, Veríssimo Correia Seabra.

Os soldados alegaram que estavam a reclamar o pagamento do soldo a que tinham direito pela participação na missão de manutenção da paz na Libéria.

Segundo a mesma fonte, é intenção do actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses que soldados da Guiné-Bissau voltem a integrar missões de manutenção da paz no âmbito da ECOMOG "ainda no decurso deste ano ou já no início do próximo".

António Indjai tenta convencer a coordenação actual da ECOMOG sobre a importância da presença de soldados guineenses nessas missões, sobretudo tendo em conta a necessidade de os jovens militares da Guiné-Bissau ganharem experiência, referiu a fonte.

Militares guineenses destacaram-se em missões de manutenção de paz tanto em países da sub-região, no âmbito da ECOMOG, como noutros países africanos, nomeadamente Rwanda ou Angola.

*Foto em Lusa

ITÁLIA CORRE CONTRA O TEMPO PARA RECONQUISTAR CONFIANÇA DOS MERCADOS




DEUTSCHE WELLE

Enquanto políticos europeus lutam para salvar a Grécia, a Itália já é considerada a próxima candidata à inadimplência. Os juros de novos empréstimos à Itália são cada vez mais altos. Quão perigosa a situação é realmente?

O anúncio da renúncia do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, não conseguiu afastar temores nos mercados financeiros e na política europeia de uma escalada da crise da dívida italiana. Nesta quarta-feira (9/11), a taxa de juro sobre os títulos da Itália (10 anos) atingiu pela primeira vez a marca dos 7% – caso continue nesse nível, a terceira maior economia da zona do euro não poderá refinanciar sua dívida.

A oposição italiana exige que a reforma orçamentária anunciada por Berlusconi seja votada o quanto antes. Segundo a imprensa italiana, ela deverá ser votada até segunda-feira (14/11) no Parlamento em Roma. A aprovação da reforma foi a condição que Berlusconi impôs para deixar o poder. O premiê italiano convocou novas eleições para fevereiro de 2012, das quais ele não pretende participar.

Na mídia italiana, todavia, especula-se que o adiamento da saída de Berlusconi poderia ser uma manobra política. Diversos jornais de esquerda comentaram que, possivelmente, o chefe de governo procura apenas ganhar tempo e não pretende renunciar. Por outro lado, Berlusconi reitera que fala sério. "Precisamos dar um sinal urgente e forte à Europa e ao mundo de que levamos as coisas a sério", disse o premiê a uma emissora italiana de televisão na manhã desta quarta-feira.

O presidente Giorgio Napolitano anunciou que irá iniciar consultas políticas com todos os partidos após a aprovação da reforma orçamentária. Agora é necessário agir rapidamente para reconquistar a confiança dos mercados financeiros na credibilidade do país. "Isso requer um compromisso imediato e sustentável na solidez das finanças públicas", declarou o chefe de Estado em Roma.

Pressão dos mercados financeiros

A Itália, país altamente endividado da zona do euro, sofre cada vez mais pressão dos mercados financeiros. Altos juros e prêmios de risco são um sinal de desconfiança dos investidores. A Itália não cresce. Com um desempenho econômico anual de cerca de 1,5 trilhão de euros, o país é a oitava maior economia do mundo, mas entre 2000 e 2010, no entanto, o crescimento econômico real gerado pela Itália foi praticamente zero. Assim, na comparação europeia, o país ocupa a última posição.

Apesar disso, durante muito tempo, a Itália foi considerada um país estável. Com um volume de dívidas de 1,9 trilhão de euros, ou seja, 120% de seu Produto Interno Bruto (PIB), a Itália é depois da Grécia o país mais endividado na zona do euro. No entanto, seu patrimônio líquido privado corresponde a 180% do PIB – na Alemanha e na França, ele equivale apenas a cerca de 140%.

Quase 60% dos títulos do governo estão em mãos de investidores italianos. Esses argumentos apontam para uma Itália estável. Por que, então, a pressão dos mercados financeiros?

Despesa excessiva do governo

A lenitiva imagem pública da economia italiana, que durante muito tempo foi interpretada como sinal de estabilidade, escondeu o verdadeiro estado de um confuso sistema político . Em seu relatório de outubro sobre a Europa, o Fundo Monetário Internacional (FMI) atribuiu à Itália enormes problemas estruturais.

Entre eles, desenfreados gastos governamentais, que além disso seriam usados de forma bastante ineficiente, e um sistema fiscal cuja alíquota de cerca de 43% implicaria uma carga enorme para a economia.Tradicionalmente, a parcela da economia paralela é bastante elevada – as estimativas variam entre 18% e 30% do desempenho econômico anual.

Desde o estabelecimento da taxa de câmbio do euro em 1996, a Itália vem perdendo terreno em nível internacional. Se há dez anos a fatia das exportações no PIB correspondia a cerca de 30%, em 2005, essa proporção caiu para 20%.

Enquanto países como a Alemanha, Áustria e Holanda foram capazes de manter sua participação no mercado mundial nos últimos anos, a Itália, juntamente com a França e o Reino Unido, estão entre os Estados cuja cota de participação no mercado global continuou a cair também em 2010. Dez anos atrás, a Itália exportou mais bens do que é importou. Hoje a situação é inversa, a balança comercial é negativa.

Perda de confiança

Isso aconteceu devido principalmente à redução da competitividade das empresas italianas. Embora a Itália ainda continue a exportar sobretudo máquinas, automóveis, produtos químicos, têxteis e mobiliário de alta qualidade, a baixa produtividade devido ao aumento dos custos de mão de obra e as altas taxas fiscais tornaram os produtos italianos cada vez menos atraentes. Antes, a Itália estava entre os países que desvalorizaram regularmente a sua moeda . Com a introdução da moeda única europeia, Roma perdeu essa possibilidade.

Outro problema é o desemprego. Embora a atual taxa de desemprego de cerca de 8,7% na Itália esteja abaixo da média da União Europeia, de 10%, apenas 59% da população economicamente ativa tem um emprego regular – a taxa de emprego é significativamente menor da de outros Estados da UE. Especialmente grave é o desemprego entre os jovens. Aproximadamente um terço dos jovens com menos de 25 anos está desempregado.

A Itália sofre uma perda de confiança nos mercados. O país teria força econômica suficiente para trabalhar nos déficits apresentados pelo FMI. No entanto, as reformas estruturais precisam de tempo. Mas resultados imediatos são necessários, porque nem o Banco Central Europeu nem o fundo de resgate europeu FEEF poderão ajudar a Itália a pagar os crescentes custos de refinanciamento da dívida.

Autor: Rolf Wenkel / Carlos Albuquerque - Revisão: Roselaine Wandscheer

EX-VICE DO BCE LUCAS PAPADEMOS ASSUMIRÁ GOVERNO DE TRANSIÇÃO GREGO




DEUTSCHE WELLE

O nome de Lucas Papademos, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, foi confirmado oficialmente após intensas negociações entre os maiores partidos gregos. Ele assume já nesta sexta-feira.

Os líderes dos dois maiores partidos gregos chegaram nesta quinta-feira (10/11) a um consenso sobre o nome do primeiro-ministro que comandará o governo interino do país: Lucas Papademos, de 64 anos, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE).

O nome de Papademos foi oficialmente confirmado pelo palácio presidencial nesta quinta-feira. "O presidente ortougou ao senhor Papademos um mandato para formar o novo governo", afirma nota, divulgada após quatro dias de intensas negociações. O novo governo deverá ser empossado já nesta sexta-feira.

Papademos havia chegado na manhã desta quinta à mansão presidencial, onde ocorriam as negociações entre os líderes do partido socialista Pasok, do primeiro-ministro demissionário Giorgos Papandreou, e do partido conservador Nova Democracia. Também participou das consultações o presidente do partido nacionalista Laos.

Até tarde da noite de quarta-feira, representantes dos dois maiores partidos haviam negociado em Atenas. Participantes da conversa relataram em seguida que Papandreou e Samaras não haviam chegado a um consenso em torno do atual presidente do Parlamento grego, o socialista Filippos Petsalnikos, nome que encontrava resistências em ambas as frentes.

"Esta candidatura é próxima demais da política de Papandreou. Não sinaliza a mudança que o povo grego quer ver", disse um representante dos socialistas.

Na madrugada de quarta para quinta-feira, Papandreou – que anunciara oficialmente sua renúncia na quarta-feira – telefonou para Antonis Samaras, o líder dos conservadores. No telefonema, ele afirmou, de acordo com um porta-voz do governo, que aceitava as condições de Papademos para que este assumisse o posto de primeiro-ministro.

Condições para assumir o governo

Conforme o exigido pelos ministros europeus das Finanças, Papademos teria pedido como condição que socialistas e conservadores concordassem, por escrito, em apoiar as duras e impopulares medidas econômicas de austeridade exigidas para a liberação do novo pacote de resgate europeu, no valor de 130 bilhões de euros.

Além disso, o especialista em finanças teria pedido mais tempo para que o futuro gabinete coloque a Grécia no rumo certo. Até agora, o 19 de fevereiro de 2012 vinha sendo considerado como a data mais provável de realização das novas eleições.

O novo governo deve assegurar o novo pacote de ajuda da União Europeia, BCE e Fundo Monetário Internacional (FMI) e levar ao Parlamento as respectivas leis de austeridade financeira. Esses passos são um pré-requisito para a liberação da próxima injeção de dinheiro, de 8 bilhões de euros, sem a qual a Grécia, como se diz em Atenas, já estará falida antes do Natal.

A prolongada disputa em torno do nome a se tornar futuro primeiro-ministro causou grande irritação entre a população grega e os credores do país. "Os europeus já estão fartos de nós. Papandreou e Samaras não entendem que eles não nos darão mais dinheiro e que vamos ter de voltar ao dracma", reclamou o ex-ministro das Finanças Manos Stefanos nesta quarta. "Eles vão nos destruir. Tais problemas exigem decisões. Mas eles não conseguem decidir nada e ficam brigando como cães e gatos."

MD/afp/rtr/dpa/dapd - Revisão: Alexandre Schossler

AJUDA À EUROPA EM CRISE PODE TRAZER VANTAGENS PARA O BRASIL






Ainda que o Brasil disponha de poucos recursos se comparado à China, especialistas afirmam que a ajuda à UE pode ser vantajosa e lembram que uma recessão nesse importante parceiro comercial não interessa ao Brasil.

Sem enxergar uma solução definitiva para a crise da dívida que atinge em cheio países como Grécia, Itália e Espanha, a União Europeia (UE) tem considerado a possibilidade de pedir ajuda aos países emergentes, entre eles a China e o Brasil, a fim de obter recursos e tentar recuperar a saúde financeira do bloco.

Para especialistas, uma eventual ajuda do Brasil dificilmente daria um grande empurrão às economias europeias abaladas pelas dívidas. A crise é grave e o Brasil não dispõe de um aporte tão grande de recursos para estancá-la, avaliam.

Alguns observadores afirmam, porém, que a crise poderia ser uma boa oportunidade para o país aprofundar as relações com os europeus e ganhar mais espaço no cenário internacional.

Nesta terça-feira (08/11), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou o interesse brasileiro em disponibilizar recursos para ajudar a Europa a superar a crise. Mantega negou, porém, que o Brasil já tenha apresentado uma proposta de ajuda no valor de 10 bilhões de dólares ao Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo especulado pela mídia brasileira.

"Ainda não foi feita proposta concreta, com números. Mas isso não quer dizer que no futuro isso não possa acontecer", afirmou Mantega em sua primeira declaração após a reunião de cúpula do G20 na semana passada, em Cannes.

Durante o encontro dos líderes das 20 maiores economias do mundo, a presidente Dilma Rousseff ressaltou que o Brasil deve ajudar, não diretamente, por meio compra de títulos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, mas sim através do FMI.

"O Brasil estava disposto a fortalecer o FMI, juntamente com outros países, inclusive os Brics. Mas isso dependia de os europeus cumprirem as tarefas que se dispuseram a fazer, como organizar o fundo europeu, utilizar mais o Banco Central Europeu, que não está sendo usado até onde poderia, e resolver o problema da Grécia", afirmou o ministro.

Importante parceiro econômico

A ajuda aos europeus é vista com uma grande dose de ceticismo pelo economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale. Ele ressalta que o Brasil, cujas reservas são de 352 bilhões de dólares – um décimo das reservas da China, em torno dos 3,2 trilhões de dólares – não conta com recursos suficientes para ajudar "minimamente" a Europa.

"Isso não tem o menor sentido", afirma Vale. "Além disso, a contrapartida que poderíamos pedir aos europeus seria uma maior diminuição dos subsídios agrícolas no continente, algo difícil de imaginar agora, no meio dessa crise."

Já Claudio Frischtak, presidente da InterB Consultoria Internacional de Negócios ex-economista sênior do Banco Mundial, afirma que é fundamental o Brasil mostrar solidariedade com os europeus, ainda que o alcance da ajuda brasileira seja limitado.

"Tudo o que for feito para reverter o pânico que existe hoje – particularmente a sinalização dos grandes países emergentes que têm recursos e forem agora de forma cooperativa apoiar a Europa – são movimentos simbólicos importantes", afirma o economista.

Ele destaca ainda que a União Europeia é um importante parceiro comercial do Brasil. Mesmo com uma significativa queda, nas últimas duas décadas, da participação do bloco no total das exportações brasileiras, a UE ainda é destino de cerca de 21% dos produtos nacionais – segundo dados do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exterior relativos a 2010 e 2011.

"A última coisa que o Brasil quer é ver a UE mergulhada numa recessão. E já estamos muito perto disso", diz Frischtak.

Ao falar sobre a ajuda brasileira ao Velho Continente, Mantega ressaltou que a crise já está ocasionando uma saída de capitais dos países emergentes, especialmente os que não têm elevadas reservas. Ele destacou, porém, que o Brasil ainda não foi afetado. "Se os emergentes forem atingidos [pela crise], a situação internacional vai ficar pior", ressaltou o ministro.

Ganhos variados

Há ainda outras maneiras de aproveitar oportunidades surgidas com a crise. O cientista político brasileiro Tim Wegenast, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo, também afirma que uma maior intensificação das relações entre Brasil e Europa poderá trazer dividendos políticos e econômicos. Ele ressalta que, além de comprar títulos da dívida, o Brasil pode realizar investimentos estrangeiros diretos, como pretende fazer comprando empresas em Portugal.

"Uma aproximação em momento de crise pode ainda gerar iniciativas interessantes. As possibilidades de benefícios para o Brasil são evidentes. Um exemplo disso seria maior acesso ao know how europeu, sobretudo alemão, em energias alternativas e tecnologias de ponta", afirma Wegenast.

Um eventual aumento da contribuição brasileira junto ao FMI poderia ainda influenciar na atual renegociação para ampliar a participação do país no fundo, inclusive nas decisões, com maior número de cotas. "Existe uma questão de poder político dentro do fundo monetário", ressalta Frischtak.

A atual crise da dívida europeia, que se segue a uma forte crise financeira que abalou a confiança na economia dos Estados Unidos, continua a fazer com que investidores dos países desenvolvidos enxerguem o Brasil com bons olhos. Sérgio Vale lembra que neste momento há poucos países no mundo que podem ser considerados interessantes para os investidores. "Um deles é o Brasil", afirma o economista.

Além de ter um mercados doméstico grande e crescente, o Brasil oferece vantagens diante dos parceiros emergentes dos Brics (também reúne Rússia, Índia, China, África do Sul) por sua estabilidade institucional. Isso também faz com que seja importante para o país marcar posição no cenário internacional.

Autora: Mariana Santos - Revisão: Alexandre Schossler

Brasil: Brasão da PM paulista celebra golpe militar e repressão a revolta sociais




Gilberto Maringoni – Carta Maior

A mobilização dos estudantes da USP coloca em discussão o papel da Polícia Militar no trato das questões sociais. Valeria a pena estender a discussão até ao brasão da PM. Não é mero detalhe. Trata-se de uma exaltação da truculência contra a mobilização social. Na lista de feitos, entre outras coisas, há a exaltação a um golpe de Estado (1964) e louva-se a repressão a três mobilizações populares (Canudos, Revolta da Chibata, Greve de 1917). O artigo é de Gilberto Maringoni.

Nesses dias em que se discute a presença ou não da Polícia Militar no campus da Universidade de São Paulo, por solicitação de seu reitor, João Grandino Rodas, vale a pena levantar uma lebre que poucos conhecem.

Independente da correção ou não da ocupação da reitoria da USP pelos estudantes, o certo é que eles foram vítimas de uma truculência policial desmedida. É mais um entulho da ditadura que volta e meia mostra que está aí acordado.

Os alunos da USP poderiam ampliar suas demandas internas e se somarem a inúmeras entidades de defesa dos direitos humanos, familiares e jovens pobres que desde sempre têm sido vítimas da brutalidade das forças de segurança.

Poderiam começar sua ação examinando o brasão da Polícia Militar do Estado de São Paulo.

O brasão em questão não é coisa pouca. É um tapa na cara do povo brasileiro.

O brasão, como obra de design, é primário. (Atenção, não é o logotipo estampado em uniformes e viaturas). Como símbolo, é uma ode à truculência e à brutalidade das classes dominantes. Trata-se da seguinte peça, conforme descrito no site da PM:

“O Brasão-de-armas da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um Escudo Português, perfilado em ouro, tendo uma bordadura vermelha carregada de 18 (dezoito) estrelas de 5 (cinco) pontas em prata, representando marcos históricos da Corporação”.

Aqui vai ele:

Eis a descrição da peça, sempre segundo o site:

ESTRELAS REPRESENTATIVAS DOS MARCOS HISTÓRICOS DA CORPORAÇÃO

1ª ESTRELA -15 de Dezembro de 1831,criação da Milícia Bandeirante;

2ª ESTRELA - 1838, Guerra dos Farrapos;

3ª ESTRELA - 1839, Campos dos Palmas;

4ª ESTRELA - 1842, Revolução Liberal de Sorocaba;

5ª ESTRELA - 1865 a 1870, Guerra do Paraguai;

6ª ESTRELA - 1893, Revolta da Armada (Revolução Federalista);

7ª ESTRELA - 1896, Questão dos Protocolos;

8ª ESTRELA - 1897, Campanha de Canudos;

9ª ESTRELA - 1910, Revolta do Marinheiro João Cândido;

10ª ESTRELA - 1917, Greve Operária;

11ª ESTRELA - 1922, "Os 18 do Forte de Copacabana" e Sedição do Mato Grosso;

12ª ESTRELA - 1924, Revolução de São Paulo e Campanhas do Sul;

13ª ESTRELA - 1926, Campanhas do Nordeste e Goiás;

14ª ESTRELA - 1930, Revolução Outubrista-Getúlio Vargas;

15ª ESTRELA - 1932, Revolução Constitucionalista;

16ª ESTRELA - 1935/1937, Movimentos Extremistas;

17ª ESTRELA - 1942/1945, 2ª Guerra Mundial; e

18ª ESTRELA - 1964, Revolução de Março.

Na lista, há a exaltação a um golpe de Estado (1964) e a uma rebelião oligárquica (1932). Louva-se também a repressão a três mobilizações populares (Canudos, Revolta da Chibata, Greve de 1917), ao levante comunista de 1935, a Coluna Prestes (1926) e homenageia-se outras missões cumpridas.

Há soldados e oficiais valorosos na história da Polícia Militar paulista. Há também vários elementos que compõem e compuseram sua banda podre. É da conta, acontece em qualquer agrupamento humano.

Mas manter um símbolo exaltando a repressão sangrenta e covarde a manifestações democráticas é um acinte à democracia.

Brasil: O DIA EM QUE A UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO REVIVEU A DITADURA




Texto e fotos: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá, do Media QuatroBlog Coletivo Outras Palavras, em 8 novembro 2011

PM detém 73 estudantes e os confina em ônibus por horas. Repressão teria sido articulada diretamente por reitor e governador e radicaliza estratégia de criminalizar protestos

Na manhã dessa terça-feira, 8 de novembro, 24 alunas (incluindo uma grávida) e 49 estudantes da Universidade de São Paulo foram detidos e levados em dois ônibus para a 91ª Delegacia de Polícia (DP) no bairro do Jaguaré. Depois de mais de oito horas confinados nos veículos estacionados no pátio da DP sob um sol de mais de 30 graus, os manifestantes ainda não sabiam quando seriam liberados e nem a quantia a ser paga para as fianças.

Até as 12h30, a informação era de que as fianças seriam fixadas em R$ 1.050,00 por estudante. Também circulavam boatos de que o Judiciário estaria requisitando acesso às declarações de imposto das famílias dos estudantes para arbitrar fianças diferenciadas que poderiam chegar a R$ 50 mil. Às 15:00, entretanto, corria a informação de que o valor final seria de cerca de R$ 545,00. Enquanto aguardam uma decisão, os uspianos detidos seguem presos nos ônibus, saindo apenas para as necessidades fisiológicas.

A detenção dos estudantes que fazem parte um movimento contra a repressão política e pela saída da Polícia Militar do campus representa uma escalada na criminalização das manifestações populares dentro da, talvez, mais importante universidade o Brasil. Dezenas de alunos e funcionários já respondem a processos administrativos baseados em um regulamento interno de 1972, criado em plena ditadura militar, por terem participado de outras manifestações no campus da USP nos últimos anos, algumas, inclusive, reprimidas fortemente pela polícia com o uso de cassetetes, balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta.

A ameaça de processos administrativos é, aliás, o motivo pelo qual muitos escondem o rosto e não se identificam nem à imprensa. Com a nova detenção, os 73 estudantes confinados nos ônibus passam a responder também a processos na justiça comum. Do lado de fora da delegacia, dezenas de outros estudantes protestam pedindo a libertação dos que consideram presos políticos.

A partir das 5:00 de hoje, de mais de 400 policiais do Choque, Rotam e Cavalaria destruíram portas de aço da Reitoria da e jogarem bombas no Conjunto Residencial da USP para cumprir a reintegração de posse do prédio e impedir a chegada de outros universitários que dariam apoio ao movimento.

O edifício, que antigamente fazia parte do CRUSP, foi ocupado pelos estudantes no dia 1º de novembro na esteira das manifestações após soldados de 14 viaturas investirem contra mais de 300 estudantes que protestavam contra a detenção de três alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, no último dia 27 de outubro, deixando dezenas de feridos.

Apesar do prazo estipulado pela Justiça para a desocupação do prédio até as 23h de segunda (7 de novembro), mais de 600 estudantes em assembléia na noite de ontem decidiram continuar com a ocupação pelo menos até a rodada de negociações marcada para a próxima quarta-feira, 9. Antes disso, no entanto, o reitor da USP João Grandino Rodas (ex-diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e considerado persona non grata pelos alunos das “Arcadas”) pediu e conseguiu o apoio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), para usar toda a força policial na reintegração de posse.

A repressão ao movimento faz eco a outras arbitrariedades recentes nas Américas, como a prisão de 44 estudantes chilenos que ocuparam a prefeitura de Santiago essa semana e a detenção de 86 jovens acampados no centro de Oakland, na Califórnia, no mês passado.

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Timor-Leste: Massacre foi "mal necessário" para a luta de Timor - organizador protestos




MSE - LUSA

Díli, 10 nov (Lusa) - O massacre no cemitério de Santa Cruz em Díli, Timor-Leste, ocorrido há 20 anos, foi um "mal necessário" para a luta pela independência, afirma Gregório Saldanha, um dos organizadores da manifestação que antecedeu o ataque de 12 de novembro de 1991.

"Tenho a convicção de que o acontecimento de Santa Cruz foi um mal necessário para esta luta, sem isso não éramos livres como país", considera em entrevista à agência Lusa Gregório Saldanha.

Segundo o antigo deputado da Fretilin, o massacre divulgou o "silêncio" em que vivia o povo de Timor-Leste. "Quando aconteceu o massacre houve um passo muito importante para a luta toda. A ocupação não terminou mas deu um empurrão para apressar e resolver o problema de Timor-Leste", explica.

Salientando que o massacre "aconteceu dentro de outras tragédias", Gregório Saldanha defende que os acontecimentos de 12 de novembro de 1991 levaram o "mundo a reconhecer que o povo de Timor-Leste continuava a lutar pela sua independência, pela sua fé e que os indonésios continuavam a violar os direitos deles".

Na altura, Gregório Saldanha tinha 28 anos e após o massacre foi condenado a prisão perpétua.

"Como os indonésios descobriram que eu era um dos organizadores, e autoproclamei-me como o único organizador da manifestação, fui condenado à pena perpétua", conta.

Gregório Saldanha saiu da prisão a 10 de dezembro de 1999 e pôde, finalmente, cumprir duas das três promessas que fez a Nossa Senhora de Fátima se Timor-Leste se tornasse independente.

A primeira foi casar-se e a segunda foi chamar Fátima à primeira filha que tivesse.

A terceira está ainda a cumprir e passa por contribuir com o seu trabalho para o desenvolvimento do país.

Duas décadas depois do massacre, Gregório Saldanha defende que é preciso fazer mais por Timor-Leste e pelo povo.

"Eu posso comer três vezes por dia. Mas se formos para as aldeias, nas áreas remotas o povo come uma vez, não consegue eletricidade, água potável, não consegue cadeiras para os filhos sentarem e estudarem", diz.

Para Gregório Saldanha, "todos os governos têm a responsabilidade de mudar a vida deste povo que sofreu bastante e hoje continua a ficar atrás e a não usufruir desta independência".

Gregório Saldanha deixou a carreira política para coordenar o Comité de 12 de novembro, criado para encontrar as pessoas desaparecidas depois do massacre de Santa Cruz e apoiar as famílias das vítimas e sobreviventes.

"Nós temos a nossa prioridade que é encontrar os restos mortais. Para mim isso é justiça. A justiça significa que a população tem o direito de saber onde estão os seus filhos, onde estão os seus pais, onde estão os seus maridos", afirma.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro desse ano por elementos ligados às forças indonésias.

No cemitério, militares indonésias abriram fogo sobre a multidão. Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

A maior parte dos corpos continua em parte incerta.

Timor-Leste: OBRA PARA ELETRIFICAÇÃO DO PAÍS É ARRANQUE PARA DESENVOLVIMENTO - PR




MSE - LUSA

Díli, 10 nov (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, disse hoje que a obra para a eletrificação do país foi um ato de coragem do primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e significa o arranque para o desenvolvimento.

O chefe de Estado timorense falava a agência Lusa no final de uma visita à nova subestação de fornecimento elétrico de Díli, depois de ter visitado a estação central de Hera.

"Foi um ato de coragem do senhor primeiro-ministro Xanana Gusmão que viu e viu bem que a prioridade das prioridades para este país poder dar o arranque para o desenvolvimento é resolver o problema perene, eterno, do setor energético", afirmou oRamos-Horta.

Segundo o Presidente timorense, "não há nada que possa arrancar a sério" sem Timor-Leste ter resolvido a questão do fornecimento de eletricidade.

"O primeiro-ministro apostou, houve críticas, controvérsia, eu sinto-me feliz, desde o início concordei sempre e apoiei o primeiro-ministro e o Governo face a críticas injustas, algumas até disparatadas, que alguns setores faziam", disse.

Para José Ramos-Horta, o "custo é enorme, mas é um custo que vai inevitavelmente trazer benefícios e compensar este investimento de capital inicial, porque vai trazer investimentos maiores nos setores do turismo, cimento, fábricas de fertilizantes".

O Presidente timorense disse também que grandes investimentos ainda não estão a ser realizados em Timor-Leste por causa da questão do fornecimento de energia.

"Isto vai dar um grande salto qualitativo para a nossa economia", disse.

A Rede Elétrica Nacional de Timor-Leste, que vai custar ao Estado timorense entre 850 milhões e 900 milhões de dólares (626 milhões e 663 milhões de euros), estará concluída até final de 2012.

Ainda este mês, a estação central de Hera pode já abastecer as subestações dos distritos de Díli, Aileu, Manatuto, Liquiçá e Gleno.

Até ao Natal, o Governo espera terminar a subestação de Baucau, Lospalos e Viqueque para que possam receber energia a partir da estação central de Hera, enquanto o complexo de produção de Betano não estiver concluído.

Depois de as obras estarem concluídas, Betano vai alimentar, além de Lospalos e Viqueque, as subestações de Bobonaro, Suai e Cassa, que também devem ficar prontas até final do próximo ano.

Jornalista que filmou massacre continua em Díli para que sacrifícios tenham resultados




MSE - LUSA

Díli, 10 nov (Lusa) - Max Stahl, o jornalista que filmou e divulgou ao mundo o massacre de Santa Cruz, continua em Timor-Leste a contribuir com o que pode para que o sacrifício feito pelos timorenses durante anos tenha um "resultado positivo".

Habituado aos complicados palcos - começou a vida como ator - de crises na América Latina, Médio Oriente e da antiga União Soviética, Max Stahl diz à agência Lusa que "Timor-Leste foi mais que os outros".

"Para mim, Timor-Leste foi mais do que outros, porque tive um momento aqui muito importante na minha vida e na vida da nação", afirma, lembrando o massacre de Santa Cruz, há 20 anos em Díli.

A 12 de novembro de 1991 mais de duas mil pessoas reuniram-se numa marcha até ao cemitério de Santa Cruz, em Díli, para prestarem homenagem ao jovem Sebastião Gomes, morto em outubro do mesmo ano por elementos ligados aos invasores indonésios.

Quando os protestantes se reuniram no cemitério, militares indonésios abrigaram fogo sobre a multidão, provocando centenas de feridos e de mortos.

"A maioria dos jornalistas não tem muita oportunidade na vida para influir, para ter algum impacto e o impacto não é necessariamente positivo, mas isso é um privilégio e uma responsabilidade", diz o também realizador.

Segundo números do Comité 12 de Novembro, 2261 pessoas participaram na manifestação, 74 foram identificadas como tendo morrido no local e 127 morreram nos dias seguintes no hospital militar ou em resultado da perseguição das forças ocupantes.

Vinte anos depois do massacre que testemunhou, Max Stahl dirige em Díli um centro de audiovisual, onde procura arquivar as imagens da independência e do crescimento da nação que referendou o seu estatuto político em 1999 e restaurou a independência em 20 de maio de 2002.

"Sinto que tenho a responsabilidade de dar aos timorenses o que posso dar e contribuir com o que posso contribuir para que o sacrifício que eu testemunhei e o sacrifício que tantos timorenses fizeram possa ter algum resultado positivo para o futuro, por isso estou aqui", justifica à Lusa. Vinte anos depois "ninguém fora de Timor tinha imaginado que isso era possível".

"Os desafios de fazer as instituições que são precisas para fazer um Estado no contexto moderno são múltiplas e não começam com um curso qualquer de uma semana ou de um mês", lembra Max Stahl.

"Historicamente isto ainda é uma gota de água. É muito fácil para os das Nações Unidas que chegam aqui com bons salários dos seus próprios países e que não têm responsabilidades sobre as consequências das suas próprias atuações e projetos", declara.

Segundo Max Stahl, os profissionais internacionais "tratam de fazer qualquer coisa, uma contribuição positiva, mas é mínima no contexto da história de Timor-Leste".

No final, o jornalista lembra que a "história de Timor-Leste vai continuar depois da saída das Nações Unidas (prevista para o final de 2012) e mesmo depois do final das nossas vidas".

"Aí se conhecerá o sacrifício feito pela independência".

TIMOR-LESTE NÃO ENTRA ESTE ANO NA ASEAN, diz Ramos Horta




MSE - LUSA

Díli, 10 nov (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, disse hoje à Agência Lusa que o país não entra este ano na Associação das Nações do Sudeste Asiático, mas que o assunto está a ocupar a atenção dos líderes daquela organização.

"Não entra este ano. A questão de Timor-Leste está a ocupar o interesse e a atenção dos líderes da ASEAN em particular a Indonésia como país presidente", afirmou Ramos-Horta.
Segundo o chefe de Estado timorense, que se desloca a Bali, Indonésia, na próxima semana, durante a realização da 19ª cimeira da organização, a "Indonésia está determinada a que a ASEAN acolha Timor-Leste como membro".

Em Bali, José Ramos-Horta terá um encontro com o seu homólogo indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono.

"Exatamente quando e em que condições, nós estamos flexíveis para conversar com eles uma espécie de road map, um período de transição, mas que não seja demasiado longo, mas que seja antes de 2015", disse.

O pedido formal de adesão de Timor-Leste à ASEAN foi entregue à Indonésia, país que detém a presidência daquela organização, em março.

Singapura é o país que tem assumido mais reservas à entrada de Timor-Leste na ASEAN, defendendo que, devido a alguns problemas internos que a organização tem para resolver, o país só deveria entrar em 2015.

A “ABORDAGEM POSITIVA” DA REVISTA ANGOLA IN




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA*

A revista "Angola In", lançada em 2007 por uma empresa portuguesa e dirigida ao mercado angolano, foi reformulada e a primeira edição da nova série sai em Dezembro, pela primeira vez também nas bancas portuguesas.

Segundo a Lusa, a revista, lançada há quatro anos pela empresa de comunicação Comunicare, pretendia colmatar uma necessidade que a empresa identificou no mercado angolano: "uma abordagem positiva de Angola", resumiu o director-geral, Daniel Mota, à margem da apresentação da segunda edição da revista, em Lisboa.

E se há coisa de que Angola precisa como de pão para a boca é de quem dela faça uma “abordagem positiva”. Para falar dos perto de 70% de angolanos que passam fome já bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.

Tendo sido, na altura, a primeira revista de informação generalista angolana, segundo a própria empresa, a "Angola In" surge agora com uma periodicidade mensal (era bimestral), e passa a ser vendida também em Portugal, com um preço de capa de 3,50 euros. Em Angola custará 400 kwanzas ou cinco dólares.

Os portugueses vão, assim, ver e ler o que de bom se passa em Angola, na tal “abordagem positiva”, podendo dessa forma passar ao lado do facto de que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças. Para falar disso bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.

Um maior alargamento da distribuição às províncias angolanas é outra novidade, sendo Benguela, Huambo, Lubango e Malange as primeiras a receber a nova revista, tal como a colónia de Cabinda. Segundo Daniel Mota disse à Lusa, a empresa duplicou a tiragem, passando para 15 mil exemplares.

Uma aposta na plataforma digital, uma maior difusão de conteúdos online e a tradução para inglês, numa primeira fase, e depois para espanhol são outras apostas.

Nem que lê em inglês ou castelhano tem necessidade de saber que só 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico, ou que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade. Para falar disso bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.

A nível editorial, a revista tem uma média de 132 páginas e, apesar de inicialmente ter um foco nas áreas da economia e negócios, passará agora a incluir informação, análise, entrevistas, 'estórias', relato de casos de angolanos de sucesso e até desporto, contou a editora da revista, Manuela Bártolo. O foco será Angola, mas também os restantes países lusófonos.

A revista conta com a colaboração de dez jornalistas fixos e com "cinco ou seis freelancers, tanto na fotografia como na área da produção de conteúdos", acrescentou Manuela Bártolo, que prevê um aumento do número de colaboradores com o alargamento às províncias angolanas.

Muito bem. É a dirá “abordagem positiva”. Abordagem essa que, é claro, não terá espaço para dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Para falar disso bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.

A revista é editada em Portugal, mas a produção de conteúdos é luso-angolana e entre os jornalistas fixos, metade estão em Portugal e a outra metade em Angola. Haverá ainda um conjunto de cronistas, personalidades luso-angolanas que já estão definidas, mas cujos nomes ainda não foram revelados.

A revelação dessas personalidades só será feita, creio, depois de os nomes serem aprovados pelo dono de Angola, que a revista obviamente “não sabe” quem é, mas que se chama José Eduardo dos Santos e que devido à sua “abordagem positiva” do regime está no poder há 32 anos… sem nunca ter sido eleito.

Questionado sobre a origem do financiamento do projecto "Angola In", Daniel Mota disse tratar-se de capitais da Comunicare, mas "há um conjunto de parcerias" nomeadamente com as empresas Idea Can, Interpublishing e Sapo Angola.

Com tão bons parceiros, e outros que certamente não vão faltar, a revista não terá nunca oportunidade de dizer que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% da população, ou que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.

Para falar disso bastam os poucos jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: HÁ SEMPRE SIPAIOS DISPONÍVEIS…

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