quarta-feira, 16 de maio de 2012

Brasil: Conclusões da Comissão da Verdade podem levar a punições, afirmam especialistas


Exposição em Brasília, em 2006, mostra cartazes com rostos de pessoas procuradas pela ditadura


Mesmo com a decisão do STF que confirma a Lei da Anistia, especialistas afirmam que a pressão popular e internacional ao fim dos trabalhos do grupo pode abrir caminho para punir violadores dos direitos humanos.

Tomaram posse nesta quarta-feira (16/05) os sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, que investigará casos de violação de direitos humanos no Brasil entre os anos de 1946 a 1988. A expectativa, porém, é de que os integrantes da comissão, escolhidos pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff, concentrem os trabalhos no período após o golpe militar de 1964.

Ao final de dois anos, o grupo montado por Dilma deverá apresentar um relatório conclusivo feito a partir da análise de documentos, muitos deles sigilosos, e depoimentos. No entanto, ainda que identifique envolvidos em torturas, assassinatos ou desaparecimento de militantes, uma possível punição dos responsáveis poderá esbarrar nos limites estabelecidos pela Lei da Anistia, de 1979.

Em 2010, a lei foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que rejeitou um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pedindo a revisão do texto. Os ministros da suprema corte argumentaram que a anistia a guerrilheiros e agentes do Estado fora fundamental para garantir uma transição mais rápida e pacífica da ditadura para o regime democrático. A decisão, no entanto, é polêmica.

Questão de interpretação

"Essa interpretação do STF é política e absolutamente errada. E pior, afronta compromissos internacionais que o Brasil assumiu, como o Pacto de São José da Costa Rica [Convenção Interamericana de Direitos Humanos]", afirma o advogado criminalista Técio Lins e Silva, que defendeu dezenas de guerrilheiros em tribunais militares durante a ditadura. Hoje ele integra a comissão de reforma do Código Penal.

Para Silva, o equívoco estaria na interpretação do parágrafo 2º do artigo 1º da Lei da Anistia, o qual exclui dos benefícios da anistia "os que foram condenados pela prática de crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal".

"Se os 'subversivos' foram excluídos da anistia, como incluir os que praticaram esses crimes em nome do Estado?", questiona. "Essa inclusão dos agentes de Estado como beneficiados é uma mera interpretação da Lei de Anistia em nome da pacificação. É uma postura meramente política e não jurídica, de quem não quer confusão, não quer revelar a verdade", afirma Silva.

Pressão popular ao fim dos trabalhos

No entanto, para a juíza Renata Gil, vice-presidente de direitos humanos da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), uma efetiva punição dos torturadores necessitaria uma alteração na legislação brasileira, já que a decisão do STF dificilmente será revista – ao menos por agora. Ela concorda que há uma grande expectativa com relação ao resultado dos trabalhos da Comissão da Verdade.

"Embora se diga que o que se quer é levantar a história do país, a pressão popular e política será mais forte quando esses trabalhos indicarem possíveis executores e responsáveis por mortes e torturas", argumenta a juíza. Ela aposta em dois caminhos: a revogação da Lei da Anistia ou uma mudança de posicionamento do Judiciário.

Gil ressalta que já existe uma movimentação no meio jurídico para tentar contornar as barreiras impostas pela interpretação do STF. O Ministério Público Federal de São Paulo tem entrado com ações em varas federais pedindo a abertura da investigação de crimes de desaparecimentos nos tempos da ditadura.

Segundo Gil, a interpretação dos promotores é a de que não poderia haver um marco temporal nesses casos, pois não tendo sido encontrado o corpo, este seria um crime permanente, ou seja, ainda em vigor e, assim, fora do período estabelecido na Lei da Anistia.

Há ainda um pedido de embargo de declaração da OAB junto ao STF pedindo que os votos vencidos no julgamento de 2010 que manteve a validade da Lei da Anistia sejam rediscutidos.

Uma das questões que poderiam sensibilizar os ministros seria o fato de que, poucos meses após a sentença do STF, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Estado brasileiro por não ter investigado crimes cometidos nas ações ordenadas pelo governo militar para reprimir a Guerrilha do Araguaia.
Técio Lins da Silva afirma que, caso o Brasil não aja de acordo com os tratados internacionais dos quais é signatário, e nos quais se compromete a investigar e punir autores de crimes contra os direitos humanos, será desmoralizado diante da comunidade internacional. "Deixa de ser um país respeitável para se incluir entre as republiqueta que praticam desrespeitos à cidadania e aos direitos humanos", diz Silva.

Críticas de todos os lados

A criação da Comissão da Verdade, no final do ano passado, ocorreu após intensos debates no Congresso Nacional e foi criticada por setores militares, os quais acreditam que os trabalhos do grupo podem "reabrir feridas". Por outro lado, vários integrantes de organismos que defendem a apuração dos fatos e a revelação do paradeiro dos cerca de 180 militantes ainda desaparecidos têm se mostrado céticos diante do caráter "não punitivo" da comissão.

Para Elizabeth Silveira, diretora do grupo Tortura Nunca Mais, do Rio de Janeiro, a nova comissão é apenas uma resposta do governo à sentença da OEA e à comunidade internacional, que têm cobrado do Brasil avanços no esclarecimento de crimes contra os direitos humanos ocorridos durante a ditadura.

"O Brasil ainda nem sabe quem são esses violadores de direitos humanos. Esperávamos que um governo dito de esquerda enfrentasse essa situação", reclama, numa crítica aos oito anos da gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Já para Ivan Seixas, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos e do Núcleo de Preservação da Memória Política de São Paulo, a comissão brasileira veio tarde, mas as expectativas são grandes. Segundo ele, o perfil "predominantemente jurídico" do grupo indicado por Dilma dá a esperança de que eles deem um bom embasamento legal aos trabalhos.

Seixas tinha apenas 16 anos quando foi preso e torturado com o pai, Joaquim Seixas, em 1971. Líder de um movimento revolucionário, Joaquim Seixas não resistiu à tortura e morreu. Ivan ficou nas mãos dos militares de São Paulo por oito meses e chegou a ser considerado desaparecido.

O ativista afirma que até hoje existe um "pacto de silêncio" envolvendo empresários de várias áreas – da construção civil às comunicações – que financiaram ações de repressão durante a ditadura. Segundo ele, essa seria uma das maiores dificuldades para investigar o regime militar. "A Comissão da Verdade abre espaço para quebrar esse pacto de silêncio."

Autora: Mariana Santos - Revisão: Alexandre Schossler

GRÉCIA - NOVAS ELEIÇÕES, NOVOS PERIGOS



Presseurop

To Vima, To Ethnos, Ta Nea

Após nove dias de conversações, os partidos gregos não conseguiram chegar a acordo para formarem governo. Por isso, haverá novamente eleições a 17 a junho, que serão organizadas por um gabinete de transição liderado pelo presidente do Conselho de Estado, Panayiotis Pikramenos.

“Com este escrutínio, o país está em perigo”, inquieta-se o jornal I Kathimerini. O diário escreve, no entanto, que apesar de se reforçar a hipótese de abandono da moeda única, “Merkel e Hollande querem que a Grécia se mantenha na zona euro”.

“Ficam provadas as previsões das cassandras internacionais”, lamenta To Ethnos, num artigo com o título “Eleições em campo minado”. “O país está num impasse. Agora, é preciso que os partidos deem respostas claras aos problemas do país” que são, especialmente, uma recessão de 6,2% no primeiro trimestre do ano e uma taxa de desemprego de 21%.

Para To Vima, estas novas eleições serão um referendo de Antonis [Samaras, o líder da Nova Democracia, de direita] contra Alexis [Tsipras, o líder do Syriza, a coligação de esquerda radical], da direita contra a Coligação de esquerda radical, dos pró-europeístas contra os outros.

No entanto, espera Ta Nea, esta crise política é uma oportunidade para fazer renascer e refundar a social-democracia. Os dois partidos tradicionais [a Nova Democracia e os socialistas do Pasok] têm de saber tirar lições do seu falhanço.

A GRANDE COLIGAÇÃO EUROPEIA





Até agora, não havia quaisquer discussões ideológicas na Europa, por falta de uma verdadeira cultura do debate. Com um Presidente francês e uma chanceler alemã politicamente opostos, a UE bem poderia aprender a discutir e a ressuscitar o interesse dos cidadãos.


A entrada no círculo dos chefes de Estado e de governo europeus permite respirar um pouco melhor. Quando se está ali, no meio de presidentes, chanceleres e primeiros-ministros, estamos no nosso lugar, tivemos sucesso, podemos olhar de alto a oposição no próprio país, o seu espírito medíocre e as críticas. Aqui, partilha-se o abundante bolo do poder. Na ausência de uma verdadeira concorrência no xadrez europeu, os chefes de governo passam por cima dos parlamentos e dos partidos. Puseram de lado a Comissão. É isto que torna o Conselho Europeu tão único – e também tão previsível.

Porque nada privaria mais rapidamente o Conselho do seu poder do que o conflito e um passo atrás. Um homem ou uma mulher de Estado está acima dos ideólogos. Foi por isso que o Conselho reagiu com tamanha perplexidade, quando, por alturas das campanhas eleitorais na Grécia e em França, foi feita de forma banal menção às alternativas desagradáveis perante as quais se encontrava a política europeia, uma vez que o nacionalismo e o populismo foram elevados à categoria de remédios universais: expulsar a Grécia para fora do euro ou permitir a sua permanência na zona da moeda única; distribuir ajudas ou apertar o cinto: aumentar os impostos dos ricos ou revê-los em baixa.

A imaturidade de um continente

Mas então, quem decide pela Europa? Um aparelho institucional incompleto? Se funcionasse melhor, este beneficiaria de uma maior confiança. As questões verdadeiramente centrais – a legitimidade democrática, a supervisão e o controlo – continuam por resolver. Outras tantas provas da imaturidade do continente.

As instituições nacionais também são demasiado frágeis para aguentarem por si próprias o peso de toda a Europa. O Estado-nação tornou-se demasiado estreito para essa Europa que, no plano comercial, se encontra sujeita, desde há demasiado tempo, às forças da globalização, e que só pode puxar dos seus galões no concerto das potências mundiais se estiver unida.

Há pelo menos dez anos que a Europa luta contra os problemas suscitados pela globalização. A sua primeira reação imatura foi criar o euro e dotar-se, sem convicção, de um protocolo adicional – o Tratado de Lisboa. O continente não se preparou realmente para as curvas ascendentes e descendentes da globalização, do mercado livre, dos capitais "nómadas" e do livre acesso à informação. É por isso que se torna cada vez maior a tentação de vestir a camisola de patriota e satisfazer a nostalgia do cómodo conforto da nação.

Contudo, o que é feito da estabilidade e da previsibilidade democrática? A situação também não é brilhante – conforme o demonstra o estabelecimento de um pacto orçamental periclitante. É certo que este pretende respeitar todas as soberanias (para que os irlandeses não votem "não" no referendo), mas, em simultâneo, prevê que seja conferido mais poder à Europa.

O despertar dos desejos de ideologia

Quais são os limites da capacidade de consenso da União? A Europa precisará de alternativas, de confrontos, de ideologia? Quando François Hollande se lançou na campanha eleitoral com os seus cavalos de batalha socialistas, a chanceler não foi a única a mostrar o seu desagrado. Seria preciso a crise resultar num confronto em torno do credo político da direita? Estariam mais uma vez de regresso os "camaradas" e as suas ideologias cobertas de pó: os socialistas, os neoliberais, os defensores do controlo estatal e os partidários da redistribuição da riqueza?

Ao despertar os desejos de ideologia, o novo Presidente apontou involuntariamente o dedo àquilo que fazia falta na Europa: a liberdade de escolha, a polarização, o debate democrático – e, portanto, a paixão que leva as pessoas a envolver-se na política. O instinto de François Hollande provou que a paixão permitia vencer eleições.

Mas sejamos prudentes: a Europa não está suficientemente forte para acolher esse debate. Ainda não. François Hollande dar-se-á em breve conta, no seio do clube dos poderosos, de que os grandes problemas que o continente europeu enfrenta requerem grandes coligações. Realista como é, não tardará a tornar-se um mestre do consenso, ao lado da chanceler alemã. Mas, sendo como é também um idealista francês, não deveria abandonar a sua fibra ideológica. Se fossem suficientemente fortes, a Europa e as suas instituições seriam capazes de suportar a virulência política.
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Visto de Paris
Uma cimeira de urgência

Dupla franco-alemã chega a acordo sobre a Grécia”, titula Le Monde, um dia depois do primeiro encontro entre François Hollande e Angela Merkel. O novo Presidente foi a Berlim no próprio dia da sua tomada de posse “não só para sublinhar a importância da dupla franco-alemã na Europa, mas também porque era urgente”, escreve o diário:

A Grécia patina. O doente grave dos dezassete membros da zona euro está com um novo acesso de febre. Não tem governo, vai ter de voltar às urnas. Não consegue escolher: deverá continuar na união monetária? (…) Não admira que o avião de Hollande tenha sido atingido por um raio, Zeus quis marcar, à sua maneira, a gravidade do momento.

“CULTURA DE RISCO” ATINGIU OS 14,9%




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

A taxa de novas oportunidades em Portugal, eufemismo utilizado pelo primeiro-ministro para designar o desemprego, atingiu os 14,9% da população activa no primeiro trimestre de 2012.

Passos Coelho e a sua comandita devem estar satisfeitos e, certamente, devem ter comentado: Porreiro, pá!. Estão, de facto, cada vez mais perto do seu mais sublime objectivo de vida: instalar no reino um regime esclavagista.

Esta taxa equivale a 819,3 mil trabalhadores no desemprego - mais 48,3 mil pessoas do que no trimestre anterior, e mais 130,4 mil pessoas do que no primeiro trimestre de 2011.

Ora aí está. Como disse o primeiro-ministro, é preciso valorizar a "cultura de risco", tanto mais que o desemprego não tem de ser encarado como negativo e pode ser "uma oportunidade para mudar de vida".

A previsão do Governo para a taxa de desemprego média em 2012 é 14,5%, mas o ministro das Finanças anunciou uma revisão do método de previsão cujos resultados serão anunciados no início do próximo mês. Aliás, do ponto de vista estatístico, se Portugal excluir todos aqueles que não têm emprego… deixa de haver desempregados…

A taxa de desemprego aumentou apesar de a população activa ter caído. A população activa reduziu-se 0,5% em relação ao último trimestre de 2011, e 1,3% por comparação com o primeiro trimestre de 2011.

Ainda segundo o INE, havia no início do ano 4,7 milhões de pessoas empregadas em Portugal - uma redução de 4,2%, ou 203 mil trabalhadores, em relação ao início de 2011.

Esta redução no emprego explica-se sobretudo pela diminuição no número de homens a trabalhar (menos 131 mil); pela diminuição no número de jovens entre os 15 e os 34 anos empregados (menos 136 mil); e por uma redução muito forte no número de pessoas com escolaridade até ao nono ano (menos 276 mil).

A região do país onde o desemprego mais aumentou foi o Algarve - onde a taxa atingiu os 20%, nível inédito em Portugal. Também o desemprego jovem (pessoas entre os 15 e os 24 anos) voltou a crescer, para 36,2 %.

Do fim de 2011 para o início de 2012, tanto a população activa como a inactiva diminuíram, o que pode ser explicável por fluxos migratórios.

Apesar de os dados das contas nacionais do INE para o primeiro trimestre de 2012 apontarem para uma recessão menos grave que o previsto, o desemprego voltou mesmo assim a aumentar.

Então pessoal? O milhão e duzentos mil desempregados apenas têm que seguir os conselhos do sumo pontífice do governo, apostando na“cultura do risco” e percebendo que têm uma soberana "oportunidade para mudar de vida".

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

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PM deposto da Guiné-Bissau diz que situação é "passageira e "não pactua com atos ilícitos"



SBR - Lusa

Lisboa, 16 maio (Lusa) - O primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau considerou hoje em Lisboa que a situação no país é "passageira", realçando que "não pactua com atos ilícitos".

Questionado pelos jornalistas, à saída de uma reunião na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), sobre a indicação de Rui Barros para chefiar um governo de transição da Guiné-Bissau, hoje anunciada, Carlos Gomes Júnior disse que "o PAIGC já se posicionou sobre isso e não pactua com atos ilícitos".

Lembrando que foi "legitimamente eleito" para o cargo de primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior assumiu "a responsabilidade de voltar" ao país "logo que sejam tomadas as diligências necessárias".

Quando questionado sobre se ficará em Portugal até que "aquelas diligências sejam tomadas", Carlos Gomes Júnior disse que sim, mas referiu acreditar que será por pouco tempo.

Sobre a atuação das organizações internacionais face à situação gerada pelo golpe de Estado militar na Guiné-Bissau a 12 de abril, Carlos Gomes Júnior defendeu que a discussão se produza "no seio das Nações Unidas", escusando-se a criticar diretamente a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que propôs novas autoridades de transição guineenses em detrimento dos dirigentes eleitos.

Frisando que a Guiné-Bissau é membro da CEDEAO, o primeiro-ministro reconheceu que existem "soluções que podem ser tomadas" com as quais nem sempre se está de acordo e "das quais se pode reclamar".

Junto à CPLP, cerca de duas centenas de cidadãos guineenses, receberam com saudações e palmas Carlos Gomes Júnior bem como Presidente interino, Raimundo Pereira, também deposto pelo golpe militar.

CARLOS GOMES JÚNIOR DIZ ESTAR PRONTO PARA REGRESSAR AO PAÍS



RTP - Lusa, com foto

O primeiro-ministro deposto da Guiné-Bissau disse hoje em Lisboa que "está pronto" para voltar ao país e "continuar a trabalhar para o bem da Guiné", que é o "dever de qualquer guineense".

Carlos Gomes Júnior falava aos jornalistas à entrada da sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, onde chegou acompanhado do Presidente interino deposto, Raimundo Pereira.

No local, cerca de uma centena de guineenses gritava «viva à Guiné-Bissau».

O chefe de Governo até ao golpe de Estado de 12 de abril disse ainda acreditar no regresso à normalidade constitucional no país. "Naturalmente", declarou aos jornalistas.

Antes dos encontros previstos na sede da CPLP, os dois dirigentes políticos guineenses, chegados hoje de manhã a Lisboa provenientes de Abidjan, estiveram reunidos com o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho.

Guiné-Bissau: Estados Unidos recuam no reconhecimento de presidente interino



Lusa - ontem

Nova Iorque, 14 mai (Lusa) - O Departamento de Estado norte-americano recuou hoje no reconhecimento de Serifo Nhamadjo como presidente interino da Guiné-Bissau, afirmando que "há muito trabalho a fazer" no plano de transição da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Menos de 24 horas depois de ter afirmado, em nota à Lusa, que os Estados Unidos "saudavam" a nomeação de Serifo Nhamadjo, "negociada pela CEDEAO, como líder de um governo de transição" e de "apelar a todos os atores para o aceitarem e trabalharem" com o presidente interino, o gabinete de assuntos africanos do Departamento de Estado veio "corrigir e actualizar" a sua posição.

Numa nova nota hoje enviada "reconhece", sem expressar apoio, a declaração da CEDEAO sobre um roteiro para "restabelecer o estado de direito constitucional e os princípios democráticos" na Guiné-Bissau.

"Contudo, há muito trabalho a fazer na transição, para criar um plano de acção oportuno que respeite a lei constitucional e inclua todos os atores nacionais", afirma o Departamento de Estado.

"Devem ser esgotados os esforços para chegar a uma solução negociada antes de serem empregues outras opções", adianta o documento.

A declaração não faz qualquer menção ao presidente interino, Serifo Nhamadjo.

Na quinta-feira, Serifo Nhamadjo, presidente interino do Parlamento, foi designado Presidente de transição da Guiné-Bissau depois de uma reunião de militares e políticos guineenses com responsáveis da CEDEAO.

O Departamento de Estado afirma hoje que o gabinete da ONU em Bissau (UNIOGBIS) e CPLP, em coordenação com a CEDEAO "podem desempenhar um papel importante em ajudar os guineenses a restabelecer o Estado de Direito e reconciliação nacional, combater a impunidade e narcotráfico e prosseguir reformas no sector de segurança e económicas".

"Instamos todas as instituições multilaterais a trabalharem em conjunto para alcançar estes objectivos", adianta o Departamento de Estado na nota enviada à Lusa.

Portugal e Togo enviaram nas últimas horas aos restantes membros do Conselho de Segurança um projecto de resolução sobre a Guiné-Bissau, impondo sanções aos autores do golpe de Estado de 12 de Abril e exigindo o restabelecimento das autoridades legítimas e conclusão do processo eleitoral interrompido.

Opinião Página Global

O recuo é admissível. O não admissível foi a provável precipitação da primeira posição em que saudavam os golpistas e seus mandatários nomeados à revelia da legitimidade de um estado de direito. Os legítimos PR e o PM da Guiné-Bissau estão hoje em Portugal, é importante não esquecerem, nem sequer a imprensa devia esquecer quando se refere a Serifo Nhamadjo e o refere como presidente interino. Ele é coisa nenhuma em termos constitucionais, para além do cargo legítimo que tem na Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau. Referirem-se assim a Serifo é estarem a reconhecê-lo como tal, quando afinal esse cargo que lhe querem dar por adorno não passa de mais uma mascarada dos militares golpistas guineenses e de meia dúzia de cúmplices da CEDEAO. O poder legítimo eleito da Guiné-Bissau foi vítima de um golpe de estado, a democracia deficiente que então existia foi interrompida, assim como os direitos dos cidadãos. A comunidade internacional não pode nem deve ter contemplações com golpistas. É que numa mascarada como esta (diferente nas nuances) já vimos os países ditos democráticos e legalistas apoiar o golpista Xanana Gusmão em Timor-Leste, incluindo a ONU. O triste resultado, em Timor-Leste, está à vista. Há paz (podre) mas o preço pela miséria, pela corrupção e pelos roubos tem sido elevado. Apesar de tudo, muito melhor que a Guiné-Bissau. Até um dia, que pode ser brevemente. (Redação PG – LV)

DIRIGENTES FANTOCHES DA GUINÉ-BISSAU DIVULGAM DECISÕES




Pacto de Transição Política assinado hoje prevê eleições no máximo de um ano

Lusa

Bissau, 16 mai (Lusa) - Partidos políticos e Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau assinaram hoje na capital do país um Pacto de Transição Política, que institui a realização de eleições presidenciais e legislativas no máximo de um ano a partir de hoje.

O Pacto foi assinado num hotel de Bissau pelo presidente em exercício da Assembleia, Sori Djaló, e por partidos políticos legalmente constituídos mas sem a presença do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), maior partido e no poder até ao golpe de Estado de 12 de abril.

O Pacto é constituído por seis artigos e o último diz que produz efeitos imediatamente após a assinatura, e constitui "o quadro legal para a condução do país à normalidade constitucional".

Presidente de transição nomeia Rui Duarte de Barros para primeiro-ministro

Bissau, 16 mai (Lusa) - O Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, nomeou hoje Rui Duarte de Barros para primeiro-ministro de transição do país.

A nomeação surge através de um decreto presidencial (decreto número 7/2012) assinado hoje por Serifo Nhamadjo e indica que Rui Duarte Barros, engenheiro, foi "indigitado consensualmente pelos partidos políticos signatários do Pacto de Transição Política".

O decreto entra em vigor na data da investidura, diz também o documento da Presidência da República, a que a Lusa teve acesso.

O Pacto de Transição Política foi também hoje assinado em Bissau.

Rui Barros foi ministro da Econimia e das Finanças da Guiné-Bissau em 2002 e mais recentemente trabalhou na União Económica e Monetária da África Ocidental.

FP/MB.

Proibição de viajar apenas para membros do governo deposto - Comando Militar

Bissau, 16 mai (Lusa) - O porta-voz do Comando Militar que tomou o poder na Guiné-Bissau disse hoje que a interdição de viagens decretada recentemente visa apenas acautelar que os membros do governo deposto estejam no país até à transferência de poderes.

"Eu sei que há da parte do Comando Militar a preocupação de não deixar sair nenhum elemento do Governo deposto antes da transferência de poderes e então é nesse sentido que foi feita essa lista", explicou o tenente-coronel Na Walna.

Daba Na Walna comentou desta forma uma lista posta a circular no país nos últimos dias na qual constam nomes de 58 pessoas interditas de sair do país, na sua maioria membros do Governo deposto, empresários, deputados e pessoas próximas do primeiro-ministro deposto, Carlos Gomes Júnior.

"Na verdade alguns nomes foram acrescentados nessa lista, o que é um equívoco. O Estado-Maior General das Forças Armadas já tratou de passar um documento particular a essas pessoas para que possam viajar sem problema", acrescentou o porta-voz do Comando Militar protagonista do golpe de Estado de 12 de abril.

"Neste momento só deve ser interditada a saída dos membros do anterior Governo até a 'passação' de poderes para os novos responsáveis. Mas se houver alguma urgência de caráter humanitária, se a pessoa estiver doente, passa-se por cima da interdição", declarou Daba Na Walna.

O porta-voz do Comando Militar comentou igualmente a possível chegada do primeiro contingente da força da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para a Guiné-Bissau, constituída por militares da Nigéria, dizendo tratar-se de "um facto normal".

"É um facto normal dentro deste processo. É uma força da CEDEAO e não da Nigéria. A Nigéria faz parte da CEDEAO e a vinda dessa força faz parte de um acordo e vem cá supervisionar o processo da retirada da Missang", disse Na Walna, referindo-se à Missão Angolana presente no país.

Questionado sobre a data da chegada do contingente, que segundo as autoridades da Nigéria deverá acontecer na sexta-feira, o porta-voz do Comando Militar disse que isso será comunicado oficialmente pelo Estado-Maior General das Forças Armadas guineenses.

Daba Na Walna comentou também as informações que indicam que a União Africana acaba de adotar sanções contra os autores do golpe de Estado na Guiné-Bissau.

"Segundo as informações que ouvi, tal não corresponde a verdade. Mas se houver sanção não constituiria surpresa para mim, porque como disse ninguém apoia um golpe de Estado", observou o militar.

O porta-voz do Comando Militar falava aos jornalistas à margem da assinatura de um Pacto de Transição rubricado hoje entre os partidos políticos, Parlamento e o Presidente da República de transição guineense, mas na ausência do maior partido do país, o PAIGC.

"É o término de todo um processo negocial no sentido do retorno à legalidade constitucional como tínhamos dito", disse Daba Na Walna.

MB.

Líderes depostos discutem com Cavaco Silva regresso à legalidade constitucional



RTP – Lusa

O Presidente interino e o primeiro-ministro guineenses, depostos no golpe de estado de 12 de abril, discutiram hoje em Lisboa com o Presidente da República Portuguesa o regresso rápido à normalidade constitucional na Guiné-Bissau.

À saída de um encontro de 45 minutos com Cavaco Silva, o Presidente interino guineense, Raimundo Pereira, disse que o encontro com Cavaco Silva "foi um momento particular para analisar os contornos da situação política atual na Guiné-Bissau, os meios e a forma de trabalhar para que se possa chegar mais rapidamente à legalidade constitucional".

Acompanhado do primeiro-ministro deposto, Carlos Gomes Júnior, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Djaló Pires, e o embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, Fali Embaló, Raimundo Pereira disse ter-se deslocado ao Palácio de Belém para agradecer "o apoio que a CPLP e em particular Portugal têm dado" desde que começou a crise na Guiné-Bissau.

Os dirigentes guineenses seguiram depois para o Palácio de S. Bento, onde irão reunir-se com o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

O Presidente da República interino e o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, depostos no golpe de Estado de 12 de abril, chegaram hoje de manhã a Lisboa, provenientes da capital da Costa do Marfim, Abidjan, onde se encontravam desde o dia 28 de abril.

Os dois governantes depostos vão ser também recebidos ainda hoje, às 17:00, por representantes dos países-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), na sede da organização, em Lisboa.

PASSEATA CUSTOU 5,7 MILHÕES DE EUROS




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Aquela passeata a que Portugal chamou operação militar, e que deu o nome "Manatim", destinada oficialmente a um eventual resgate de cidadãos portugueses da Guiné-Bissau teve um custo de 5,7 milhões de euros.

Se calhar ficaria mais barato pagar exclusivamente umas férias aos cérebros portugueses que julgaram, como é habitual, que a montanha iria parir um gigante. No final, nem um rato foi parido e nem havia montanha.

No total, o envio da Força de Reação Imediata (FRI) portuguesa para amedrontar os supostos facínoras guineenses (se calhar Lisboa ainda julgava que era o Nino Vieira quem mandava) envolveu 1028 militares (684 no exterior e 344 em Portugal), quatro meios navais (duas fragatas, uma corveta e um reabastecedor) e dois meios aéreos.

Portugal é assim. De vez em quando tenta parecer o que não é. Ainda pensei que entre os meios navais também fosse um daqueles submarinos de última geração “portista”(de Portas). Mas não. Como era para a Guiné-Bissau, não havia necessidade de levar os pesos-pesados do arsenal lusitano.

O relatório apresentado aos deputados pelo ministro da Defesa, ouvido à porta fechada na Comissão Parlamentar, aponta a Marinha como o ramo com mais gastos nesta operação (4,3 milhões de euros), seguida da Força Aérea (957 mil euros). O Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) teve uma despesa de quase 400 mil euros e o Exército de 67 mil euros.

Para algum lado haveria de ir o dinheiro roubado aos portugueses de segunda. Foi, desta vez, para desenferrujar os meios bélicos com que os militares gostam de brincar em tempo de paz. E enquanto regressavam a África, cantando e rindo, não se lembravam do papel que eventualmente poderiam desempenhar dentro do próprio país.

Os mais de 5 milhões de euros gastos na "Operação Manatim", saídos dos bolsos dos portugueses, serão essencialmente acomodados pelos ramos com o cancelamento de exercícios de treino previstos para 2012.

"O montante que não for possível acomodar pelos ramos será acomodado pelo Ministério da Defesa com reforço das verbas para as Forças Nacionais Destacadas (FND)", refere o documento. Que descanso. O produto do roubo passa a ser acomodado. Não está mal, não senhor.

A FRI partiu a 15 de Abril para África e esteve em operação cerca de três semanas, tendo iniciado o regresso a Portugal (fase de retracção) a 4 de Maio, sem que tivesse havido – como todos saberiam que seria - resgate de cidadãos portugueses na Guiné-Bissau.

Na altura, o Ministério da Defesa disse ter tido em conta "as condições de segurança da comunidade portuguesa na Guiné-Bissau" e a situação de "abertura das fronteiras terrestres, marítimas e aéreas que tem permitido um fluxo normal de entradas e saídas do território".

Os guineenses, sejam os golpistas de ontem, os de hoje ou os de amanhã, são boas pessoas e não fariam mal aos portugueses. Só os que pretendem ser parcialmente imparciais podem duvidar disso. Mas fica sempre bem se forte com os fracos. A bem da nação… deles.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: Portugal poderia viver sem o MPLA? - Podia. Mas não era a mesma coisa!

ANGOLANA SONANGOL VAI PROSPETAR PETRÓLEO NO MAR DA GUINÉ-BISSAU



Guiné-Bissau.com

A Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) está a preparar-se para explorar petróleo num bloco localizado nas águas territoriais da Guiné-Bissau, noticiou o semanário angolano Expansão.

O jornal baseia a sua afirmação na observação de um mapa sobre a produção petrolífera no Golfo da Guiné, publicado em Abril passado pela Quest Offshore Resources, empresa norte-americana de consultoria em matéria de informações, comercialização e estratégia no sector do petróleo e gás natural.

De acordo com o mapa da Quest Offshore Resources, a Sonangol está no bloco 7A não tendo, até à data, avançado para a fase de prospecção.

O mapa sobre a exploração petrolífera no Golfo da Guiné revela que estão em fase de exploração três dos nove blocos petrolíferos existentes, sendo a petrolífera sueca Svenska a maior investidora na região, operando os blocos 2 e 6A.

A Guiné-Bissau e o Senegal possuem uma zona de exploração conjunta, tendo num bloco sido encontradas reservas estimadas em 1,1 mil milhões de barris, de acordo com notícias publicadas há algum tempo citando o guineense Júlio Mamadu Baldé, secretário-geral da Agência de Gestão e de Cooperação entre a Guiné-Bissau e o Senegal.

Fonte: Macauhub

Guiné-Bissau: Liga dos Direitos Humanos pede intervenção de Ban Ki-Moon...



... para acabar com restrições de direitos

FP - Lusa

Bissau, 16 mai (Lusa) - A Liga dos Direitos Humanos (LDH) da Guiné-Bissau pediu a intervenção do secretário-geral das Nações Unidas junto das Forças Armadas guineenses no sentido de pararem "atos ilegais e restritivos dos direitos e liberdades fundamentais".

O pedido surge numa carta aberta a Ban Ki-Moon, assinada pelo presidente da LDH, Luís Vaz Martins, hoje tornada pública.

Como "atos ilegais e restritivos" a LDH fala nomeadamente da proibição de viagens (os militares publicaram uma lista de 58 pessoas proibidas de viajar) e de manifestações pacíficas, e da falta de "liberdade de imprensa plena".

O golpe de Estado de 12 de abril, começa por dizer o presidente da LDH, "mergulhou o país numa crise política inédita e com consequências imprevisíveis para a vida pública nacional, em particular para a situação dos direitos humanos".

Além do não funcionamento da função pública e de restrição de manifestações e restrições à liberdade de imprensa e de expressão, diz a LDH que se assiste também "à confiscação ilegal dos materiais dos profissionais da comunicação social" e "vandalismos e pilhagens sistemáticas nas residências dos membros do governo e de outras figuras públicas".

A Liga fala ainda de "agressões e espancamentos de cidadãos e jornalistas", e "intimidação e perseguição de alguns responsáveis políticos", tudo ações que "além de consubstanciarem violações grosseiras dos direitos civis e políticos dos cidadãos" revelam também "uma autêntica perseguição dos cidadãos".

Luís Vaz Martins diz também ao secretário-geral da ONU que só haverá paz e tranquilidade na Guiné-Bissau "com a realização de uma verdadeira justiça, capaz de condenar os criminosos e ilibar os inocentes", mas alerta para a necessidade da não "transformação das instituições judiciais como ferramentas dóceis para eliminar os adversários políticos e silenciar as vozes discordantes".

Guiné-Bissau: RUI DUARTE DE BARROS SERÁ O PRÓXIMO PRIMEIRO-MINISTRO



Guiné-Bissau.com, com foto

EXCLUSIVO GBissau

Bissau – GBissau.com apurou há minutos junto a uma fonte oficial guineense que Rui Duarte de Barros será o primeiro-ministro do governo de transição na Guiné-Bissau.

O anúncio será feito ainda esta tarde em Bissau, depois de assinatura de um “memorando político” entre mais de duas dezenas de partidos políticos na oposição.

O mesmo “memorando” irá ditar as regras de funcionamento do governo a ser liderado por Rui Duarte de Barros, um militante do partido PRS de Kumba Ialá.

Rui Duarte de Barros era até aqui o Comissário da UEMOA responsável pelo Departamento dos Assuntos Administrativos e Financeiros desta organização oeste africana, funções assumidas desde o ano de 2006. Antes, Rui de Barros era o comissário encarregue pelo Departamento de Desenvolvimento Social e Cultural, em substituição de Pedro Godinho Gomes, cargo que ele deixou em 2008.

Durante as suas funções no seio da UEMOA, Rui de Barros recebeu em Ouagadougou, o grau de oficial da Ordem Internacional das Palmas Académicas (OIPA), atribuída pelo Conselho Africano e Malgaxe para o Ensino Superior (CAMES). Esta organização agrupa 18 países, entre os quais a Guiné-Bissau, com sede na capital do Burquina Faso. Foi a 25 de Março de 2011.

No governo de Alamara Nhassé (Dezembro de 2001), Rui de Barros era o Ministro do Emprego e da Função Pública. E durante o ano de 2002, Rui de Barros exerceu as funções do Ministro da Economia e das Finanças.

O PAIGC não fez parte na escolha de Rui de Barros, apesar de ter sido o partido mais votado nas últimas eleições legislativas, um mandato que, no entanto, termina no mês de Novembro.

Tinha-se falado de quatro propostas para ocupar o cargo do primeiro-ministro, incluindo os nomes de Paulo Gomes, Faustino Imbali e de Malam Sambú. Tudo indicava que Paulo Gomes era a escolha inicial, mas acredita-se que tenha havido uma forte rejeição por parte do PRS.

Guiné-Bissau: RAIMUNDO PEREIRA E CARLOS GOMES JÚNIOR JÁ ESTÃO EM LISBOA




…E já têm encontros agendados para esta tarde


Lisboa – O Presidente da República interino e o primeiro-ministro da Guiné-Bissau, depostos no golpe de Estado de 12 de Abril, chegaram hoje, quarta-feira a Lisboa, provenientes da Costa Marfim.

A informação foi confirmada à GBissau.com pelo embaixador guineense em Portugal, Fali Embaló.

De acordo com Fali Embaló, Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior estão em Portugal para “contactos de agradecimento” e esta tarde serão recebidos pelo Presidente da República portuguesa, Aníbal Cavaco Silva. Ainda esta tarde têm mais dois encontros, nomeadamente com o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho e com os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) na sua sede em Lisboa.

E durante amanhã, quinta-feira, Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior deslocar-se-ão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal para um encontro com Paulo Portas. Recorde-se de que Paulo Portas foi instrumental em representar o governo deposto nos organismos como as Nações Unidas e a União Europeia, durante múltiplos encontros diplomáticos.

Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior – de acordo com Fali Embaló – poderão também deslocar-se a outros países da Europa para mais contactos. Mas, para já, “vieram para ficar por algum tempo”, avançou o embaixador guineense na capital portuguesa. Fali Embaló disse ainda que os familiares das duas figuras “já lá estavam [em Portugal] faz algum tempo”.

Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior estavam na capital da Costa do Marfim, Abidjan, desde o dia 28 de Abril, quando foram libertados pelo Comando Militar, em Bissau.

“Cada colher de arroz que os jovens comem, logo a seguir levam uma bofetada dos pais”




Edgar Xavier* – i online, com foto

O novo presidente de Timor-Leste sucede a José Ramos-Horta no domingo, dia em que se assinala também o décimo aniversário da independência do país. Ao i garante que quer usar o serviço militar obrigatório para combater o desemprego

A expressão que está no título é usada por Taur Matan Ruak para descrever o estado actual da maioria dos jovens timorenses. O desemprego preocupa-o, mas defende e deseja que o serviço militar obrigatório seja visto como uma forma de “integração dos jovens no desenvolvimento do país”. A falta de acompanhamento dos jovens timorenses que estudam no estrangeiro é outra das suas preocupações e não se coíbe até de falar no “paternalismo” português que leva a que os estudantes que vêm estudar para Portugal não enfrentem o grau de exigência que deviam. “União” é a palavra de ordem e garante que “os timorenses estão determinados a avançar e não querem perder tempo.”

O bispo de Baucau diz que lhe falta “um bocado de ginástica diplomática”. Como reage a um comentário destes?

Ninguém nasce ensinado, estamos sempre em processo de aprendizagem, e se formos a ver a nossa vida é uma gestão de interesses na sociedade.

Mas não acha que este comentário foi um pouco desadequado?

Não, mas ainda bem que o bispo levantou esta questão. “Então de repente um militar torna-se presidente da República? O que é isto?”, terá ele pensado. Pessoalmente, não é o que me preocupa, mas sim o combate à pobreza e o desemprego. Todos os anos a taxa de desemprego entre os mais jovens sobe a um ritmo vertiginoso e a determinada altura não sabemos como resolver este problema. O serviço militar obrigatório é uma forma, mas não a única, de combater o desemprego e espero que seja compreendido unicamente como forma de integrar os jovens.

Mas esta medida também tem como objectivo pôr os jovens timorenses “na linha” e acabar de uma vez por todas com os grupos de artes marciais?

Durante a campanha presidencial estive em contacto com grupos de artes marciais e a grande preocupação deles era o desemprego. Muitos são casados, vivem com os pais e é uma pressão constante. “Cada colher de arroz que comemos, logo a seguir levamos uma bofetada dos pais”, dizem. Às vezes fico muito emocionado quando ouço histórias deste género.

E em alturas de maior aperto vai saber separar o coração da razão?

Cada decisão tomada é um teste ao nosso espírito de justiça. Punir os culpados e louvar os mais competentes é um dos traços de qualquer governante. Daí que cada caso seja um caso e não haja confusão entre o coração e a razão. As duas complementam-se e foi isso que guiou toda a minha vida. Depois de 36 anos dedicados ao nosso país, o facto de até hoje ser aceite na sociedade, ser respeitado, mostra uma total confiança do povo. Por exemplo, na crise de 2006, não há nenhum outro país no mundo que tenha conseguido resolver um problema como o nosso, com os rebeldes no mato, e sem disparar um único tiro.

Recentemente, a unidade hoteleira detida pela Fundação Oriente, o Hotel Timor, foi apedrejada por um grupo de pessoas no âmbito de uma manifestação não autorizada para assinalar o Dia do Trabalhador. O diferendo laboral com quatro funcionários do estabelecimento esteve na origem desta confusão. Que ilações se podem retirar deste tipo de comportamentos?

Eu não tenho informações pormenorizadas da situação, só pela imprensa. Já viu como é a reacção das pessoas quando perdem o emprego? São respeitados em casa e de repente são despedidos. No final acabam por se descontrolar, porque o pensamento vai logo para o passado. O acto em si é condenável. Apesar do direito ao protesto, partir vidros não é solução. O gerente do hotel até se disponibilizou para dialogar e é de louvar este acto.

É o que tem faltado, o diálogo.

Na minha opinião, perderam a paciência e aproveitaram o facto de ser o Dia do Trabalhador. Muitos dos que participaram na manifestação telefonaram para mim e para a minha mulher. Pusemos à disposição advogados para os ajudar, mas desta vez ultrapassaram os limites, é muito triste.

E relativamente à confusão gerada durante o congresso extraordinário da Associação Social- Democrata Timorense (ASDT), com a presença do ainda presidente José Ramos-Horta? [A meio do congresso, os militantes do partido envolveram-se numa zaragata, com cadeiras e mesas a voar na sala.]

É caricato. Isto mostra que é preciso, em primeiro lugar, haver um entendimento e só depois agir. Ramos-Horta juntou-se a uma facção ilegal, e que não é reconhecida pela lei. Mas tudo isto é um exercício de aprendizagem. [A ASDT foi fundada e presidida por Xavier do Amaral. A relação entre este último e o vice-presidente Gil Alves, ministro do Turismo, Comércio e Indústria, não era pacífica e as divergências políticas levaram à criação de um outro grupo dentro do próprio partido, o Bloco Proclamador. Antes de falecer, Xavier do Amaral pediu a Ramos-Horta que servisse de mediador entre a ASDT de Gil Alves e o Bloco Proclamador, de João Correia. No passado dia 28 de Abril, as divergências chegaram a vias de facto.]

Por falar em Ramos-Horta, o mesmo aconselha-o a enterrar o machado de guerra eleitoral e dialogar com a Fretilin de forma humilde e honesta. Conseguirá ser o árbitro e não apitar e jogar ao mesmo tempo?

Tem de haver um esforço de parte a parte e também de todos os timorenses. O nosso Estado almeja dois grandes objectivos, a paz e o bem-estar. Como presidente, naturalmente, tenho mais responsabilidade e tentarei imunizar interesses e pontos de vista para o bem do nosso país. Irei, obviamente, continuar a dialogar, não só com a Fretilin, mas também com os restantes 26 partidos, muitos deles recém-criados e que não têm a experiência e a forte liderança que a Fretilin detém. Com certeza será mais fácil lidar com a Fretilin, mas espero que não seja o contrário.

E receia que isto venha a acontecer?

A acontecer, será mais pela vaidade e o orgulho, mas espero que isso não suceda. Acredito na liderança da Fretilin e espero que continuem a contribuir para o bem do país. A função do presidente da República é unir os timorenses. Os líderes têm uma responsabilidade maior que todos os cidadãos e sabem como agir.

Numa entrevista recente, disse que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) não tem feito o suficiente para apoiar Timor-Leste no que à divulgação da língua portuguesa diz respeito. Na sua opinião, qual tem sido o maior entrave?

Primeiro há um desnível de desenvolvimento entre os membros da própria CPLP, daí as prioridades serem diferentes. Segundo, não há um esforço comum entre os membros da CPLP. É uma organização com um forte cariz político, os cidadãos pouco sentem essa união. No caso da língua, há dois países que se têm esforçado, Portugal e Brasil, os restantes têm os seus problemas.

O bahasa indonésio e o inglês não representam uma ameaça?

Sim, mas ainda não fizemos o suficiente. Fico contente por saber que recentemente 80 estudantes arrancaram para Portugal para prosseguirem os seus estudos. No entanto, em 2002 entristeceu- -me quando mandámos 300 estudantes e a maior parte deles foi parar a Inglaterra e à Irlanda, para trabalhar. Na altura faltou-lhes um acompanhamento intensivo.

E não receia que venha a acontecer o mesmo com estes 80 estudantes?

Tudo vai depender da forma como os formos acompanhando, porque trata-se de um problema de integração. Sei que hoje a nossa embaixada tem adidos da educação, que acompanham permanentemente a situação dos jovens. É importante verificar se está tudo a correr bem, desde o alojamento, passando pela alimentação, entre outras coisas.

No entanto, os alunos que vão estudar para a Austrália ou mesmo os Estados Unidos também enfrentam as mesmas dificuldades mas acabam por alcançar os objectivos propostos. A integração dos estudantes também tem a ver com a maneira como o país anfitrião os recebe?

O maior problema é o acompanhamento e os alunos enfrentam problemas de variadíssima ordem, desde assistência médica até outros mais simples. Tudo isto influencia o seu pensamento e por vezes ficam de rastos e desistem facilmente. Cuba e Filipinas são bons exemplos, os alunos adaptaram-se bem e é importante a preparação que levam daqui de Timor-Leste. Eu receio que em Portugal possa haver um pouco de paternalismo. Enquanto os estudantes que vão para Cuba ou as Filipinas estão sujeitos àquelas regras e cumprem-nas, em Portugal há muita permissividade, tudo porque é o “timorense coitadinho”.

Mas este estigma do “timorense coitadinho” devia ser afastado.

Mas não afastam e muitas vezes este tipo de atitude faz com que não haja um sentido de disciplina e de entrega. Por exemplo, há uma estudante timorense em Coimbra a estudar Medicina já faz dez anos. Qualquer estudante português que chumbe é corrido da universidade. E isto não é nada benéfico. Em contraste, existem estudantes que são enviados para a Austrália para estudar na Academia Militar. Numa primeira fase têm três anos de Inglês e só depois é que se mudam para a Austrália. Só com nível 6,5 é que estão habilitados a entrar na Academia Militar. No Japão o problema é bem mais complexo. Nos testes é-lhes pedido que respondam a dez perguntas em dois minutos, uma coisa básica para estudantes da primária. Os nossos estudantes timorenses, mesmo com grau universitário, não conseguem resolver e da embaixada japonesa questionam: “General, isto é básico, como é que eles podem aguentar o ritmo se lhes faltam as bases?” Mas nem tudo é negativo, porque em Cuba a melhor estudante entre os estrangeiros era timorense e foi ela a representante para discursar ao lado de Fidel Castro.

Em jeito de conclusão, quais as suas expectativas para as eleições legislativas do dia 7 de Julho?

Para as presidenciais tivemos 12 candidatos e isto representou um teste à paciência do nosso povo. Agora, com 26 partidos, é necessária muito mais. Estou muito optimista e os timorenses estão determinados a avançar, não querem perder tempo. Timor-Leste tem condições financeiras, tem vontade política e acho que este é o momento para avançarmos. Até lá vamos continuar a trabalhar em prol da paz.

*Em Dili, Timor-Leste

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