segunda-feira, 3 de março de 2014

Ucrânia: O PLANO MAIS IDIOTA DE OBAMA




Aliar-se com os neonazistas na Ucrânia: de todos os planos idiotas que Washington elaborou nos últimos dois anos, este é o mais idiota de todos.

Mike Whitney – CounterPunch, em Carta Maior

“Washington e Bruxelas apoiaram um golpe nazista, realizado por insurgentes, terroristas e políticos da ultradireita europeia para atender aos interesses geopolíticos do Ocidente" Natalia Vitrenko , do Partido Socialista Progressista da Ucrânia

Como você provavelmente já sabe, Obama e companhia ajudaram a depor o presidente democraticamente eleito da Ucrânia , Viktor Yanukovych , com a ajuda de ultra- direita , paramilitares, gangues neonazistas que invadiram e queimaram escritórios do governo , mataram soldados da tropa de choque, e espalharam o caos e terror em todo o país . Estes são os novos aliados dos Estados Unidos no grande jogo para estabelecer uma cabeça de ponte na Ásia, empurrando os russos mais para o leste, derrubando governos eleitos, garantindo corredores de oleodutos e gasodutos vitais, acessando escassas reservas de petróleo e gás natural e trabalhando pela desmontagem da Federação Russa, segundo a estratégia geopolítica proposta por Zbigniew Brzezinski .

A grande obra de Brzezinski, “The Grand Chessboard: American Primacy and it’s Geostrategic Imperatives”(O Grande Tabuleiro de Xadrez: a Primazia Americana e seus Imperativos Geoestratégicos), tornou-se o Mein Kampf de aspirantes imperialistas ocidentais. O livro fornece a estrutura básica para o estabelecimento da hegemonia militar, política e econômica dos EUA na região mais promissora e próspera do século, na Ásia . Em um artigo publicado na Foreign Affairs, Brzezinski apresentou suas idéias sobre como neutralizar a Rússia, dividindo o país em partes menores e permitindo, assim, que os EUA mantenham seu papel dominante na região, sem ameaças, desafios ou interferências. Aqui está um trecho do artigo:

"Dado o tamanho (da Rússia) e sua diversidade, um sistema político descentralizado e uma economia de livre mercado seriam a mais provável via para desencadear o potencial criativo do povo russo e (explorar) os vastos recursos naturais da Rússia. Uma Rússia vagamente confederada - composta por uma Rússia européia, uma república da Sibéria, e uma república do Extremo Oriente - também tornaria mais fácil cultivar relações econômicas mais estreitas com seus vizinhos. Cada um dessas regiões confederadas seria capaz de explorar o seu potencial criativo local, sufocado por séculos de controle da mão burocrática pesada de Moscou. Além disso, a Rússia descentralizada seria menos suscetível a uma mobilização de tipo imperial”. (Zbigniew Brzezinski , "A Geoestratégia para a Eurasia ")

Moscou, é claro, está ciente dessa estratégia de dividir e conquistar de Washington, mas minimizou a questão, a fim de evitar um confronto. O golpe de Estado apoiado pelos EUA na Ucrânia significa que essa opção não é mais viável. A Rússia terá de responder a uma provocação que ameaça tanto a sua segurança como seus interesses vitais na região. Os primeiros informes indicam que Putin já mobilizou tropas para a região e, segundo a Reuters, colocou caças ao longo de suas fronteiras ocidentais em alerta de combate:

"Os Estados Unidos dizem que qualquer ação militar russa seria um erro grave. Mas o Ministério de Relações Exteriores da Rússia disse em um comunicado que Moscou  defenderá os direitos de seus compatriotas e reagirá a qualquer violação desses direitos."(Reuters)

Não vai ser um confronto, é só uma questão de saber se a luta terá uma escalada ou não.

A fim de derrubar Yanukovych, os EUA apoiaram tacitamente grupos fanáticos de bandidos neonazistas e antissemitas. E, apesar do presidente interino ucraniano, Oleksander Tuchynov, ter se comprometido a “fazer tudo ao seu alcance” para proteger a comunidade judaica do país, os informes não são animadores. Aqui está um trecho de uma declaração de Natalia Vitrenko, do Partido Socialista Progressista da Ucrânia que sugere que a situação é muito pior do que a que está sendo relatada na mídia:

"Por todo o país, pessoas estão sendo espancadas e apedrejadas, enquanto os membros “indesejáveis” do Parlamento da Ucrânia estão sofrendo intimidação em massa. As autoridades locais vêem suas famílias e crianças sendo alvo de ameaças de morte caso não apoiem a instalação deste novo poder político. As novas autoridades ucranianas estão maciçamente queimando os escritórios de partidos políticos adversários, e anunciaram publicamente a ameaça de processo criminal e proibição de partidos políticos e organizações públicas que não compartilham a ideologia e os objetivos do novo regime." (“EUA e UE estão erguendo um regime nazista em território ucraniano" , Natalia Vitrenko )

Na semana passada, o jornal israelense Haaretz relatou que uma sinagoga ucraniana havia sido atacada com coquetéis molotov que “atingiram paredes de pedra exteriores da sinagoga e causaram poucos danos".

Outro artigo no Haaretz referiu-se ao que chamou de  “novo dilema para os judeus na Ucrânia" . Aqui está um trecho do artigo :

"A maior preocupação agora não é o aumento nos incidentes antissemitas, mas a grande presença de movimentos ultra-nacionalistas, especialmente a proeminência de membros do partido Svoboda e do Pravy Sektor entre os manifestantes . Muitos deles estão chamando seus adversários políticos de "zhids" (termo racista para designar os judeus) e portam bandeiras com símbolos neonazistas. Há também relatos, a partir de fontes confiáveis, de que esses movimentos estão distribuindo edições recém- traduzidas de “Mein Kampf” e dos “Protocolos dos Sábios de Sião”, na Praça da Independência. " ("Antissemitismo, embora uma ameaça real, está sendo usado pelo Kremlin como um jogo político", Haaretz)

Outro relato, feito pelo Dr. Inna Rogatchi em Arutz Sheva:

"Não há nenhum segredo sobre a agenda política real e os programas dos partidos ultra- nacionalistas na Ucrânia. Não há nada perto de valores e objetivos europeus lá. Basta ler os documentos existentes e ouvir o que os representantes desses partidos proclamam diariamente. Eles são fortemente anti-europeu e altamente racistas. Eles não têm nada a ver com os valores e práticas do mundo civilizado”.

“O judaísmo ucraniano está enfrentando uma ameaça real e séria. Fortalecer os movimentos abertamente neonazistas na Europa e ignorar a ameaça que eles representam é um negócio totalmente arriscado. As pessoas poderão ter que pagar um preço terrível - mais uma vez – por causa da fraqueza e da indiferença de seus líderes. A Ucrânia, hoje, tornou-se um case trágico para toda a Europa no que diz respeito à reprodução e autorização para o discurso do ódio tornar-se uma força violenta e incontrolável. É imperativo lidar com a situação no país, de acordo com a lei e as normas da civilização internacional existente." ("Chá com neonazistas: O nacionalismo violento na Ucrânia" , Arutz Sheva)

Aqui está um pouco mais sobre o tema, um texto do analista Stephen Lendmen, publicado dia 25 de fevereiro ("New York Times: apoiando a ilegalidade imperial dos EUA") :

"Washington apoia abertamente o líder fascista do partido Svoboda, Oleh Tyahnybok. Em 2004, Tyahnybok foi expulso da facção parlamentar do ex-presidente Viktor Yushchenko. Ele foi condenado por conclamar os ucranianos a lutar contra o que chamou de máfia moscovita-judaica."

“Em 2005, ele denunciou "atividades criminosas " do "judaísmo organizado”. Ele alegou escandalosamente que os judeus eles planejavam um "genocídio" contra os ucranianos" (...)

“O extremismo de Tyahnybok não impediu a secretária de Estado adjunta para Assuntos Europeus e da Eurásia, Victoria Nuland, a se reunir abertamente com ele e com outros líderes anti-governamentais no dia 6 de fevereiro”.(...)

“No início de janeiro, cerca de 15 mil ultranacionalistas realizaram uma marcha com tochas em Kiev. Eles fizeram isso para homenagear Stepan Bandera, assassino e colaborador da era nazista. Alguns usavam uniformes de uma divisão da Wehrmacht ucraniana usados na Segunda Guerra Mundial. Outros gritavam " Ucrânia acima de tudo" e " Bandera, venha e traga a ordem. " (blog de Steve Lendman)

A mídia dos EUA minimizou os elementos fascistas, neonazistas e de "pureza étnica" do golpe de Estado ucraniano , a fim de se concentrar no que eles pensam - são "temas mais positivos", como a derrubada das estátuas de Lenin ou a proibição de membros do Partido Comunista de participar no Parlamento . Na avaliação da mídia, estes são todos sinais de progresso.

A Ucrânia está sucumbindo gradualmente para o abraço amoroso da Nova Ordem Mundial, onde vai servir como mais uma fonte de lucro na roda de Wall Street. Essa é a tese, pelo menos. Não ocorreu aos editorialistas do New York Times ou do Washington Post que a Ucrânia está despencando rapidamente para uma situação do tipo “Mad Max” (o filme), uma anarquia que poderia transbordar suas fronteiras para os países vizinhos, provocando incêndios violentos, agitação social, instabilidade regional ou - deus nos livre- uma terceira guerra mundial. Eles só parecem ver movimentos dourados, como se tudo estivesse indo conforme o planejado. Todos, da Eurásia ao Oriente Médio, estão sendo pacificados e integrados em um governo mundial supervisionado pelo Executivo unitário, onde as empresas e instituições financeiras controlam as alavancas do poder por trás das telas divisórias imperiais. O que poderia dar errado?

Naturalmente, a Rússia está preocupada com a evolução da situação na Ucrânia, mas não tem certeza de como reagir. Veja o que disse o primeiro ministro Dmitry Medvedev dias atrás:

"Nós não entendemos o que está acontecendo lá. A ameaça real para os nossos interesses (existe) e tambén para a vida e a saúde dos nossos cidadãos. Estritamente falando, hoje não há ninguém lá para se conversar. Se você acha que as pessoas usando máscaras pretas e agitando Kalashnikovs representam um governo, então será difícil para nós trabalhar com esse governo."

Claramente, o governo de Moscou está preocupado. Ninguém espera que a única superpotência do mundo se comporte dessa forma irracional em todo o planeta, alimentando a criação de um Estado falido após o outro, fomentando revoltas, criando ódio e espalhando miséria por onde passa. No momento, a equipe de Obama está trabalhando a todo vapor tentando derrubar regimes na Síria, Venezuela, Ucrânia e deus sabe onde mais. Ao mesmo tempo, as operações no Afeganistão falharam, Iraque e Líbia estão sendo governados por senhores da guerra regionais e milícias armadas. Medvedev tem todo o direito de estar preocupado.

Quem não estaria? Os EUA têm saído dos trilhos, de um modo completamente louco. A arquitetura para a segurança mundial entrou em colapso, enquanto os princípios básicos do direito internacional foram alijados. O rolo compressor furioso dos EUA dá guinadas de um confronto violento para o outro, de um modo irracional, destruindo tudo em seu caminho, forçando milhões de pessoas a fugir de seus próprios países, e empurrando o mundo para mais perto do abismo. Isso não é motivo suficiente para se preocupar?

Agora Obama está se aliando com os nazistas. É apenas a cereja no topo do bolo.

Confira esta sinopse do mais recente texto de Max Blumenthal, intitulado "Os EUA estão trazendo os neonazistas na Ucrânia?":

"O Setor Direito (Right Sector) é um sindicato sombrio de auto-denominados nacionalistas autônomos, identificados pelo seu estilo skinhead de vestir, com um estilo de vida ascético, e fascínio pela violência nas ruas. Armados com escudos, os membros desse grupo têm ocupado as linhas de frente das batalhas, enchendo o ar com seu slogan favorito: "Ucrânia acima de tudo!" Em um recente vídeo de propaganda, o grupo prometeu lutar "contra a degeneração e o liberalismo totalitário , pela moralidade e pelos valores familiares tradicionais nacionais “.

Com o partido Svoboda ligado a uma constelação de partidos neofascistas internacionais através da Aliança dos Movimentos Nacionais Europeus, o Setor Direito promete levar seu exército de jovens desiludidos sem rumo para "uma grande Reconquista Europeia. ("Is the U.S. Backing Neo-Nazis in Ukraine? Exposing troubling ties in the U.S. to overt Nazi and fascist protesters in Ukraine”, Max Blumenthal, AlterNet). 

"Valores familiares" ? Onde já ouvimos isso antes?

É claro que Obama e seus assessores acham que têm controle sobre tudo isso e podem domar este covil de víboras para seguir as diretrizes de Washington, mas na minha opinião isso soa como uma má aposta. Estamos falando de neonazistas hard-core aqui. Eles não serão comprados, cooptados ou intimidados . Eles têm uma agenda e pretendem executá-la até o seu último suspiro.

De todos os planos idiotas que Washington elaborou nos últimos dois anos, este é o mais idiota de todos.

Tradução: Louise Antonia León

A REVOLUÇÃO UCRANIANA E O REGRESSO DOS FANTASMAS



Tomás Vasques – jornal i, opinião

Os governos europeus perderam, com a Ucrânia, qualquer credibilidade para condenar "manifestações violentas contra o poder legitimado pelo voto"

Os acontecimentos recentes na Ucrânia, em tempos de profunda crise na Europa, remetem para disputas fronteiriças passadas, histórias de interesses com mais de um século, entre a Alemanha e a Rússia, que conduziram o velho continente à barbárie e a sofrimentos inenarráveis por mais de uma vez. Nunca é de mais lembrar que uma fagulha pode incendiar uma pradaria, sobretudo quando o vento sopra de feição. Nem esquecer que, na Europa, a barbárie não é uma coisa de um passado remoto, como se viu nos Balcãs durante o desmembramento da Jugoslávia, há 20 anos.

Em pouco mais de uma semana assistimos ao eterno retorno às ameaças de guerra na Europa, com as mesmas raízes que muitos, por distracção, julgavam secas. Tudo se repete com a mesma hipocrisia política e os mesmos tiques de sempre. Curiosamente, vimos governos da União Europeia apoiarem sem reservas as manifestações e a revolta dos ucranianos contra um presidente formalmente legítimo, eleito democraticamente, como comprovaram observadores e organizações internacionais como a OSCE. A revolta dos ucranianos é legítima, mas ver os mesmos governos da União Europeia que, nos seus países, reprimem violentamente qualquer manifestação que saia dos parâmetros decorativos aceites, como foi o caso, entre nós, da carga policial desmedida nas escadarias de São Bento quando uma centena de manifestantes apedrejou a polícia, brada aos céus. Estes governos perderam qualquer credibilidade para condenar "manifestações violentas contra o poder legitimado pelo voto".

Mas também vimos os velhos amigos da Mãe Rússia, quando ostentava a designação de União Soviética, apoiarem a repressão sangrenta de milhares de manifestantes por um presidente e um governo corruptos, que mandaram disparar sem dó nem piedade sobre a população, com o argumento de que a revolta era chefiada por "fascistas e nazis". Nem o primeiro- secretário do Comité Central do Partido Comunista da Ucrânia, Piotr Simonenko, chegou a tanto, quando escreveu, após a fuga de Yanukovitch: "A participação de grandes massas de pessoas reflecte o profundo descontentamento na sociedade com o regime político de Yanukovitch e do seu círculo, que governou o país de forma inepta, enganando as pessoas." Esta esquerda, órfão da "pátria do socialismo", reage por "reflexo condicionado" pró-russo, como se Vladimir Putin oferecesse ao povo ucraniano o paraíso na Terra. Por esta via, perdem qualquer autoridade para condenar a repressão policial em qualquer país da União Europeia.

Nesta linha, os mesmos que dão apoio ao novo governo de Kiev, saído das manifestações de rua, rejeitam a legitimidade do novo primeiro-ministro da Crimeia, nomeado, nestes dias turbulentos, em circunstâncias similares, o qual é reconhecido e apoiado por quem não reconhece legitimidade ao novo governo de Kiev.

O que se está a passar na Ucrânia, com consequências ainda imprevisíveis mas que é já um foco de guerra na Europa entre o "Ocidente" e a Rússia, tanto é a revolta legítima de um povo maltratado e espancado como uma disputa imperialista pela hegemonia de um país apetecível pelas suas riquezas. E essa justa revolta do povo ucraniano não deve ser vista como "boa" ou "má", conforme se tome partido por um lado ou outro na disputa imperialista.

PS - Não se deve esquecer que continua actual a conclusão de Clausewitz, há quase duzentos anos: "A guerra é a continuação da política por outros meios." Não foi por acaso que Karl Marx se agarrou a esta frase, e numa carta dirigida a Engels o aconselha a ler o livro "Da Guerra" do general prussiano, leitura que Lenine também não dispensou no seu exílio em Genebra, onde elaborou um conjunto de notas sobre o livro. E se é verdade que revolução e guerra entre nações estão intimamente ligadas, como se provou em cada uma das duas guerras mundiais, não é menos verdade que não faz sentido desejar os horrores de uma nova guerra e uma intervenção militar russa para, no final, ver um qualquer outro Gorbachov a vender malas Vuitton.

Jurista, escreve à segunda-feira

POBREZA E FALTA DE COMIDA LIDERAM PREOCUPAÇÕES DOS PORTUGUESES




Ainda de acordo com o inquérito, 80% dos inquiridos na UE reconhecem que a luta contra as alterações climáticas e a utilização mais eficaz da energia podem impulsionar a economia e o emprego

A maioria dos portugueses (49%) considera que a pobreza e a falta de alimentos e água potável é o principal problema mundial e 6% elegem as alterações climáticas como preocupação, segundo um Eurobarómetro hoje divulgado.

Uma sondagem especial Eurobarómetro sobre as alterações climáticas, hoje divulgada, mostra que a maioria dos inquiridos em 19 Estados-membros destacou a pobreza e a escassez de alimentos e de água potável como a principal preocupação mundial, com Portugal no topo da tabela, com 49%, sendo a média europeia de 35%.

Apenas 6% dos inquiridos em Portugal escolheram as alterações climáticas, entre as varias opções possíveis, como preocupação global – o valor mais baixo da tabela – sendo a média da União Europeia (UE) de 16%.

Ainda de acordo com o inquérito, 80% dos inquiridos na UE reconhecem que a luta contra as alterações climáticas e a utilização mais eficaz da energia podem impulsionar a economia e o emprego.

Portugal está acima da média europeia (88%), a par da Grécia e da Espanha, numa tabela liderada pela Suécia (95%), e acima da Dinamarca (86%) e do Luxemburgo (85%).

"Não há que escolher entre boa governação económica e proteção do clima: a luta contra as alterações climáticas numa perspetiva de rentabilidade é uma boa política económica", disse o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

"Esta sondagem envia um sinal forte aos dirigentes da UE para que se empenhem em ações a favor do clima, com vista a uma recuperação económica sustentável", adiantou.

Em Portugal, as 1.055 entrevistas foram feitas entre 23 de novembro de 02 de dezembro de 2013.

Lusa, em Jornal i

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Justiça portuguesa em silêncio sobre investigações a altas figuras de Angola




Depois da crise diplomática entre os dois países, a Justiça portuguesa guarda agora a sete chaves informações sobre as investigações a influentes figuras angolanas, suspeitas de envolvimento em crimes económicos.

Leopoldino Fragoso do Nascimento, general ligado à Casa Militar do Presidente de Angola, continua na lista dos cidadãos angolanos influentes que estão a ser investigados pela Procuradoria-Geral da República Portuguesa. O general "Dino", como é conhecido, pertence ao círculo mais restrito do Presidente José Eduardo dos Santos e faz parte de um pequeno grupo de personalidades ligadas ao poder, suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais.

O nome de Leopoldino do Nascimento surge desde que foram feitas as primeiras revelações, em novembro de 2012, sobre a investigação, a propósito de um alerta bancário, mas também na sequência de denúncias feitas pelo ativista Rafael Marques e pelo académico Adriano Parreira, ambos angolanos.

Vários analistas ouvidos pela DW África, defensores da separação dos poderes judicial e político num Estado democrático, entre os quais o jurista Rui Rangel, são favoráveis a que se prossiga com os inquéritos para apurar a verdade.

"Dentro de uma função soberana do Estado, a Justiça tem que investigar quem tiver que investigar", refere. "Em Portugal, é assim que deve funcionar".

"Justiça é soberana"

O professor universitário Francisco Louçã, um dos autores do livro "Os Donos Angolanos de Portugal", lançado recentemente em Lisboa, sempre criticou a Justiça portuguesa pela fuga de informação sobre os referidos processos judiciais, mas sublinha que a Justiça é para todos.

"Portanto, a mim não me incomoda nada que cidadãos angolanos, na base da lei portuguesa, sejam investigados em Portugal por eventuais delitos que tenham sido feitos no país, da mesma forma que cidadãos portugueses sejam investigados em Angola por eventuais delitos que tenham sido cometidos em território angolano", afirma Louçã. "A Justiça é soberana, a lei de cada país é soberana, e deve fazer uma investigação sobre isso."

O general Leopoldino do Nascimento aparece agora referenciado na imprensa internacional como o "homem dos 750 milhões de dólares" no negócio de uma multinacional suíça com interesses em Angola na área do petróleo.

A ministra da Justiça portuguesa não comenta processos em investigação. Confrontada pela DW África, Paula Teixeira da Cruz incidiu a resposta sobre a sua determinação em ver avançar no Parlamento português uma lei mais consistente para combater a alta criminalidade, entre os quais os crimes económicos.

"Porque o dinheiro vai para offshores que não revelam o beneficiário final e, portanto, é evidente que aqui temos que apostar muito no combate ao cibercrime, à criminalidade económica, corrupção, tráfico de influências… Mas, para mim, é absolutamente determinante a criminalização do enriquecimento ilícito."

Crise diplomática

Na fase inicial, o Ministério Público português também estava a investigar outros dois altos dirigentes angolanos, respetivamente Manuel Vicente, vice-Presidente de Angola e ex-administrador da petrolífera Sonangol, e o general Hélder Vieira Dias, conhecido por "Kopelipa", ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente angolano.

Os respetivos processos foram arquivados e provocaram uma crise político-diplomática entre Lisboa e Luanda, com a suspensão da parceria estratégica, em outubro do ano passado, por decisão do Presidente Eduardo dos Santos.

Preocupado com este mal-estar nas relações oficiais, o jurista Rui Rangel apela à prudência e à preservação do princípio da presunção de inocência, caso haja outros processos de investigação em curso.

"Se há, e se houver, então que o tipo de tratamento seja completamente diferente, para bem de Portugal, de Angola e da Justiça portuguesa", diz Rangel. "Temos de ter muita cautela com isto, quer a Justiça, quer a comunicação social e, neste caso, também o poder político em Portugal."

De referir que, na abertura do ano judicial, a Procuradora-Geral Joana Vidal reafirmou a determinação da Justiça portuguesa no combate à criminalidade económico-financeira, incluindo a corrupção e crimes afins.

Deutsche Welle - Autoria João Carlos (Lisboa) - Edição Guilherme Correia da Silva / Madalena Sampaio

DIREITOS HUMANOS NÃO REGISTAM MELHORIAS NO MUNDO LUSÓFONO




Relatório sobre os Direitos Humanos 2014 do Departamento de Estado dos EUA indica Guiné-Bissau, Angola e Brasil como os casos mais preocupantes na lusofonia.

Alvaro Ludgero Andrade - Voz da América

O Relatório sobre a Situação dos Direitos Humanos no Mundo divulgado esta quinta-feira, 27, pelo secretário de Estado Americano John Kenry acusa a Guiné-Bissau de desrespeitar os Direitos Humanos.
 
Corrupção, uso abusivo de força, exploração e discriminação de mulheres são algumas das acusações feitas pelo relatório que diz ainda que são  praticados impunemente.
 
As mais graves violações de direitos humanos incluíram detenções arbitrárias, corrupção agravada pela impunidade dos funcionários do governo e pelas suspeitas de envolvimento no tráfico de drogas e uma falta de respeito para com o direito dos cidadãos de eleger o seu governo".

Segundo o Governo americano as autoridades de Bissau "não conseguiram ter controlo efectivo sobre as forças de segurança que cometeram abusos”.

Em contrapartida, o relatório diz que o Governo de Bissau "não tomou medidas para processar ou punir os oficiais ou outros indivíduos que cometeram abusos, seja nas forças de segurança ou em outras estruturas governamentais".
 
Em Angola, o Departamento de Estado no seu relatório anual cita vários casos de violação de direitos humanos.

Entre outras violações, o documento cita espancamentos, tortura, assassinatos por parte dos agentes de segurança e polícia, limites às liberdades de reunião, de associação, de expressão e de imprensa, corrupção e impunidade.

Na extensa lista dos abusos de direitos humanos o relatório cita ainda a privação arbitrária ou ilegal, condições adversas nas cadeias, prisões e detenções arbitrárias, prisão preventiva excessiva, infracções sobre a privacidade dos cidadãos, despejos forçados sem a devida indemnização, restrições às organizações não-governamentais, discriminação e violência contra as mulheres, abuso de crianças , tráfico de pessoas, limites aos direitos dos trabalhadores  e trabalho forçado.

O Relatório do Departamento de Estado sobre a Situaçao dos Direitos Humanos reconhece que o governo tomou medidas limitadas para processar ou punir funcionários que cometeram abusos, mas falta capacidade  para enfrentar  uma generalizada cultura de impunidade e corrupção no Governo.

Em relação ao Brasil, a superlotação das prisões brasileiras e os casos de abuso por parte de polícias estaduais são ameaças aos direitos humanos, segundo o relatóro do governo americano.

Assim como em edições anteriores, o Relatório sobre os Direitos Humanos do Departamento de Estado dos EUA, com dados relativos a 2013, critica as péssimas condições sanitárias das prisões brasileiras que, muitas vezes, “colocam em risco” a vida dos detentos.
 
O documento cita os protestos que ocorreram no Brasil desde o ano passado e afirma que as forças de segurança “ocasionalmente usaram força excessiva contra manifestantes pacíficos, particularmente durante os protestos de junho em São Paulo”.
 
“Durante os protestos em junho, forças de segurança usaram balas de borracha, spray de pimenta e gás lacrimogêneo contra manifestantes violentos, mas em geral as forças de segurança respeitaram os direitos de manifestantes pacíficos”, diz o texto.
 
Outros problemas citados pelo documento são o tráfico sexual de crianças e adolescentes, trabalho forçado e corrupção.
 
Segundo o relatório, o governo continua a processar os que cometem abusos, mas o processo judicial ineficaz atrasa a justiça para vítimas e autores de violações de direitos humanos.
 
O relatório do Departamento de Estado norte-americano denuncia actos que violam os direitos humanos perpetrados pelas forças de segurança em Portugal em 2011, os dados mais recentes disponibilizados pelas  autoridades portuguesas. 

O documento sublinha que "os mais importantes problemas relacionados  com os direitos humanos incluem uso excessivo da força por parte da polícia  e de guardas prisionais". 

O Departamento de Estado norte-americano reporta-se a dados da Comissão  de Prevenção da Tortura (CPT) do Conselho de Europa, após visita a Portugal  em abril de 2012, tendo concluído que "o sistema de notificação de denúncias  de abuso foi quebrado e, portanto, é ineficaz". 

Cabo Verde continua a ser descrito como um país que respeita os direitos humanos nas suas mais diversas formas.

No entanto, violência policial, atrasos em julgamentos e abusos contra crianças foram alguns dos problemas indicados no relatório.

Em relação à violência policial, o Departamento de Estado diz que “o governo (cabo-verdiano) tomou medidas para julgar e punir os funcionários que cometeram abusos”, lamentando que o processo tenha sido “longo”.

Adianta que também a polícia “tomou medidas disciplinares contra funcionários” que desrespeitaram a lei.

Em relação às mulheres, o Departamento de Estado indica que, apesar de a legislação prever direitos iguais para os dois géneros, o feminino é discriminado em áreas como a política e a economia.

O relatório refere que observadores nacionais e estrangeiros e organizações locais da sociedade civil em Moçambique indicam que  o Governo falhou , por vezes, ao não manter o controle efectivo sobre as forças de segurança que, por sua vez, violaram direitos humanos.
 
Segundo o documento, o Governo fracassou em proteger os direitos políticos e liberdade de reunião, e permitiu assassinatos e abusos por parte das forças de segurança.
 
A corrupção também é um problema sério e, entre os problemas sociais, o relatório indicou a discriminação contra as mulheres , abuso , exploração e trabalho forçado de crianças , tráfico de mulheres e crianças;
 
O governo tomou algumas medidas para punir e processar os funcionários que cometeram abusos, mas a impunidade permaneceu um problema.
 
Quanto a São Tomé e Príncipe, a policia é referida como protagonista de casos de violação dos direitos humanos.
 
Recorde-se que o Relatório sobre os Direitos Humanos do Departamento de Estado Americano é considerado um dos mais importantes documentos sobre o tema.

Angola arranca censo populacional e habitação sem participação de partidos da oposição



Arão Ndipa – Voz da América

Angola prepara-se para realizar pela primeira vez depois de 1970 o recenseamento da população e da habitação cujo objectivo é recolher os indicadores básicos e as características da população.

Por outro lado, o governo angolano pretende também fazer o levantamento de dados estatísticos e as condições socio-económicas dos angolanos com vista a produzir informações úteis que vão permitir conhecer a estrutura da população, em todas as unidades administrativas do país.

Alguns partidos políticos na oposição em Angola consideram que a exclusão dos seus quadros no processo de recenseamento geral da população pode reflectir-se de forma negativa, nos dados que as autoridades angolanas pretendem recolher em relação às características demográficas do país e as condições socio-económicas da população.

Para nos falar sobre o assunto, ouvimos José Atino Lucas, coordenador da subcomissão de logística do gabinete do censo, e Ndonda Nzinga, secretário para a informação da FNLA.

PRIMEIRO-MINISTRO DO LUXEMBURGO INICIA HOJE VISITA A CABO VERDE




Na sua primeira deslocação ao exterior, o primeiro-ministro do Luxemburgo chega hoje, 3, a Cabo Verde para uma visita oficial de dois dias, destinada a reavaliar a cooperação bilateral e preparar o próximo Programa Indicativo de Cooperação (PIC). A visita de Xavier Bettel visa, segundo o seu homólogo cabo-verdiano, José Maria Neves, realçar a "excelência" das relações entre os dois países, iniciada no princípio da década de 1980.

O culminar das relações entre o arquipélago e o país que acolhe uma das mais importantes comunidades da diáspora cabo-verdiana chegou em 2002, quando as duas partes assinaram o primeiro PIC, no valor de 33,5 milhões de euros, numa visita a Cabo Verde do então primeiro-ministro luxemburguês, Jean-Claude Juncker. Desde então que o montante das ajudas do Grão-Ducado a Cabo Verde não parou de aumentar, tendo o segundo protocolo envolvido 45 milhões de euros, enquanto o actual PIC, que termina em 2015, ronda os 60 milhões de euros.

Voz da América

Juíz de São Tomé e Príncipe envolvido em caso de violação de adolescente




Caso foi enviado ao Supremo Tribunal, mas terá sido rejeitado por não cumprir as formalidades legais.

Em São Tomé e Príncipe um alegado caso de violação sexual de uma adolescente por um juiz do tribunal está em vias de pôr à prova o sistema judicial.

Trata-se de um caso de família mas que está a levantar uma onda de indignação, por agora silenciosa, pelo arquipélago.

A denúncia da ocorrência foi feita na sexta-feira passada, 21, à Polícia de Investigação Criminal.  

Os familiares da vítima, uma criança de 12 anos, acusam o padrasto, Alberto Monteiro, um juiz do Tribunal de Primeira Instância da Comarca de São Tomé, de violação pelo menos em duas ocasiões.

Em entrevista à VOA Laura Mota, a avó materna da vítima, diz que tudo começou um dia quando a mãe esteve ausente.
Esta semana, depois dos exames médicos, a família apresentou queixa no Ministério Público, de onde o caso seguiu imediatamente para o Supremo Tribunal.

Contudo, uma fonte dessa instância de justiça disse ontem, 27, à VOA que o caso foi devolvido ao Ministério Público por não ter cumprido as formalidades legais.

A falta de assinatura da denunciante, neste caso da mãe da criança, obrigou o juiz instrutor a ordenar a devolução do processo à procedência.

Enquanto são seguidas as tramitações judiciais, os familiares dizem que foram contactados no dia 25 pelo advogado Adelino Isidro, alegadamente a mando do suspeito, para negociar uma compensação financeira e material em troco do abandono do caso.

Contactado hoje, 28, o advogado Adelino Isidro negou todo e qualquer encontro com os familiares da vítima.

Entretanto, o avô da menor Joaquim Francisco, que é bispo da Igreja Nova Apostólica, confirmou e relatou o encontro com o advogado.

Para já, não há reacções oficiais quer do governo quer de outras instituições implicadas.

A tentativa hoje dos familiares em trazer o caso ao conhecimento público, por exemplo através da televisão pública, foi em vão.

Segundo os interessados, a TVS exigiu que fosse apresentada a prova médica e só depois daria tratamento à notícia.

Voz da América

Falta de donativos ameaça aumentar mortalidade no principal hospital da Guiné-Bissau




As más condições do principal hospital público da Guiné-Bissau podem tornar-se ainda piores e a taxa de mortalidade corre o risco de aumentar com a saída da AIDA, a única associação que apoia doentes carenciados, alertam médicos e colaboradores.

Em seis anos de presença em Bissau, a organização não-governamental (ONG) espanhola (www.ong-aida.org) já tratou das feridas e aviou receitas a 45 mil doentes, uma média de 625 pessoas por mês.

No Hospital Simão Mendes não há nada: cada paciente tem que comprar os seus próprios curativos e medicamentos e pagar também os meios de diagnóstico, água e comida.

O problema é que a Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, em que a maioria da população vive na miséria e chega ao hospital sem recursos - pacientes desamparados aos quais a AIDA acode todos os dias.

Uma ajuda que tem os dias contados: com a crise financeira, a cooperação espanhola (principal financiador da AIDA) cortou parte dos apoios internacionais, nomeadamente, para a Guiné-Bissau.

Para manter o trabalho vital que assegura no Hospital Simão Mendes, a associação precisa de 150 mil euros por ano, estima Anna Cortés, coordenadora de projetos sociais da AIDA em Bissau.

Apesar dos apelos feitos desde o final de 2013, ainda não surgiram doadores suficientes e o que existe permite manter o apoio social apenas até final de março.

Depois, "a taxa de mortalidade vai aumentar", refere M'Boma Sanca, médico diretor da Unidade de Cuidados Intensivos, tendo em conta as carências da população e do hospital.

"Desde novembro que não temos ?kits' (equipamento e material hospitalar) para cesarianas", acrescenta Mama Mané, diretora da maternidade.

"A única ajuda é da AIDA", destaca, numa sala cheia de utentes.

No caso da pediatria, "mais de metade das crianças atendidas" recorre ao apoio da ONG espanhola, refere o diretor do serviço Augusto Bidonga.

É o caso de Melke, um bebé de 12 meses que sofre com diarreias e vómitos.

Está sob observação numa das camas, mas a mãe não tem recursos nem ajudas para lhe comprar medicamentos: "é a AIDA que nos apoia", refere.

Sem doadores, Anna Cortés acredita que aumenta o risco de morte para quem chega ao hospital.

"Numa urgência, um paciente pode morrer enquanto a família procura dinheiro ou medicamentos mais económicos, de farmácia em farmácia", refere a coordenadora da AIDA.

"É uma catástrofe humanitária. Há uma crise porque estamos a falar do mais básico que é o acesso à saúde", acrescenta.

A AIDA está a fazer ajustes aos critérios de apoio para que os medicamentos e material médico-cirúrgico disponível possam durar por mais algumas semanas, mas o projeto solidário precisa de donativos, "nem que sejam pequenas colaborações, em dinheiro ou material".

LFO // PJA – foto Luís Fonseca

Ter saúde na Guiné-Bissau é quase um luxo, mostram indicadores da OMS




A esperança média de vida à nascença na Guiné-Bissau é de 47 anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cujos indicadores mostram que ter saúde na Guiné-Bissau é quase um luxo.

O relatório estratégico 2009-2013 da OMS regista o que se constata no terreno: os hospitais e centros de saúde são precários e mal governados, como é o caso do Hospital Simão Mendes, em Bissau, a principal unidade pública do país que a partir de março pode ficar ainda pior.

Pode estar para terminar o apoio da organização não-governamental espanhola AIDA (www.ong-aida.org) que vigia os casos de maior pobreza que ali caem nas urgências e internamento e lhes fornece curativos e medicamentos que o hospital não tem.

A crise financeira ditou que o financiamento da cooperação espanhola para a Guiné-Bissau terminasse, pelo que, se até final de março não conseguir outros doadores, a AIDA deixa o hospital e a mortalidade pode aumentar, alertam os profissionais de saúde da unidade.

Mais de dois terços da população da Guiné-Bissau vive com menos de um dólar por dia e 65 por cento dos 1,7 milhões de habitantes não sabe ler, nem escrever, de acordo com os dados da OMS e de outras agências internacionais.

Abundam os casos de paludismo, doenças diarreicas, SIDA e há um ciclo quase estabelecido de epidemias de cólera, "o que constitui uma situação de emergência no país", continua a organização.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em cada mil crianças 63 morrem com menos de um ano - uma taxa de mortalidade infantil quase 20 vezes superior à que se regista em Portugal, por exemplo.

Não espanta por isso que a Pediatria seja uma das especialidades em que há maior receio com a saída da AIDA do Hospital Simão Mendes.

Augusto Bidonga, diretor do serviço no Hospital Simão Mendes, teme assistir à "morte de mais crianças".

"Mais de metade das que entram no serviço de pediatria solicitam subvenção para medicamentos. Até as consultas às vezes são pagas pela AIDA", refere.

Isto para além da assistência social para alimentação e nutrição - 32% das crianças guineenses sofre atrasos de crescimento moderados ou severos devido à falta de uma alimentação equilibrada, segundo dados do UNICEF.

De acordo com a estratégia de cooperação 2009-2013 traçada pela OMS, os grandes desafios para a saúde pública na Guiné-Bissau passam por "melhorar a governação do sistema, formar e recrutar recursos humanos qualificados, equipar e manter as infraestruturas de saúde e garantir o abastecimento e o acesso aos produtos farmacêuticos".

O país tem em funções um governo e um presidente de transição, nomeados depois do golpe de Estado de 12 abril de 2012, mas que não são reconhecidos pela generalidade da comunidade internacional.

Eleições gerais estão marcadas para 16 de março, mas o prolongamento do recenseamento eleitoral deve obrigar o presidente de transição a adiar a data da votação para abril ou maio.

LFO // PJA - Lusa

Egito: DOIS POLÍCIAS CONDENADOS A PRISÃO PELA MORTE DE BLOGUISTA




Dois polícias egípcios foram hoje condenados a dez anos de prisão pela morte de um bloguista, cuja morte desencadeou as manifestações em 2011 que levaram à queda do regime do ex-presidente Hosni Mubarak.

Os dois polícias, Mahmud Salah Mahmud e Awad Ismail Suleiman, foram condenados após um novo julgamento por homicídio e tortura de Khaled Said em junho de 2010, quando o detiveram ilegalmente num cibercafé em Alexandria.

nicialmente, Mahmud e Suleiman foram condenados a sete anos, em outubro de 2011, por brutalidade excessiva.

A morte de Said incendiou manifestações contra o então presidente Hosni Mubarak, depois da publicação 'online' de fotografias do rosto esmagado e deformado do bloguista, de 28 anos.

A tentativa dos responsáveis egípcios de ocultar o homicídio, afirmando que Said morreu depois de engolir um saco com drogas no momento em que foi detido, aumentou a fúria dos opositores de Mubarak.

Um relatório forense indicou, posteriormente, que Khaled Said morreu por asfixia depois de ter sido espancado e que o pacote das drogas foi enfiado na boca quando já estava inconsciente.

Um grupo criado na rede social 'Facebook' denominado "Todos somos Khaled Said" ajudou a organizar 18 dias de manifestações que levaram à queda de Mubarak, em fevereiro de 2011.

O advogado dos acusados disse que ia recorrer do veredito e familiares gritaram para a polícia, que se encontrava no exterior do tribunal: "Venderam os vossos homens".

Mahmud Abdel Rahman, um advogado da família de Said, disse à agência noticiosa francesa AFP que a "justiça tinha sido feita para todos" e que o veredito enviava uma mensagem muito clara "a uma instituição poderosa".

Desde que o presidente islamita eleito Mohammed Morsi foi afastado, em julho passado, o governo apoiado pelos militares tem aumentado a repressão contra os manifestantes, especialmente os apoiantes do movimento islamita Irmandade Muçulmana, ao qual pertence Morsi.

Pelo menos 1.400 pessoas, na maioria islamitas, morreram em confrontos desde que Morsi foi afastado do poder.

Três anos depois do derrube de Mubarak, a polícia egípcia é novamente acusada de brutalidade e maus tratos nos centros de detenção, acusações que o ministério do Interior já negou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

OS VELHOS E NOVOS AMIGOS EUROPEUS DA EXTREMA-DIREITA UCRANIANA




No seu país de origem, o partido de extrema-direita Svoboda usou suas ligações na Europa para fins de relações públicas, imagem e propaganda.

Anton Shekhovtsov – Carta Maior

Há muito tempo é tomado como certo que o partido ucraniano radical de direita Svoboda, que formou a primeira fação parlamentar de extrema-direita na Ucrânia após as eleições de 2012, é membro da Aliança dos Movimentos Nacionais Europeus (AMNE). Afinal de contas, os líderes do Svoboda sempre disseram que o seu partido era membro da AENM, enquanto que o Partido Nacional Britânico (BNP), que é um dos mais antigos membros da Aliança, explicitamente mencionou o Svoboda, em 2010, como membro da AENM, juntamente com a Frente Nacional Francesa (que recentemente abandonou o grupo), o húngaro Jobbik, o italiano Fiamma Tricolor, o próprio BNP, o Movimento Social Republicano espanhol, belga Frente Nacional, o português Partido Nacional Renovador e os Democratas Nacionais Suecos.

Desenvolvimentos no início deste ano revelaram uma imagem diferente. As primeiras dúvidas sobre o estatuto de membro do Svoboda foram levantadas após o político polaco Mateusz Piskorski ter alegado, no início de 2013, que o Svoboda tinha sido excluído da AENM devido às suas posições abertamente racistas - como diz o ditado sarcástico russo, eles foram "expulsos da Gestapo por excesso de brutalidade ". A AENM é, de fato, muito mais extremo do que um outro grupo de extrema-direita paneuropeu, a Aliança Europeia para a Liberdade, que reúne representantes do Partido da Liberdade austríaco, da Frente Nacional francesa, do belga Interesse Flamengo, dos Democratas Suecos e alguns outros.

No entanto Piskorski é ele próprio um ex-membro do agora extinto partido de extrema-direita polaco Auto-Defesa, e nós sabemos como essas pessoas não são de confiança. Além disso, Piskorski tem sido associado com ao partido fascista russo Movimento Internacional da Eurásia, liderado por Aleksandr Dugin,conhecido pelas suas posições imperialistas e, em particular, anti-ucranianas. Provocar os ultranacionalistas ucranianos, seus antagonistas, alegando que eles tinham sido rejeitados pelos seus "irmãos de armas" europeus, poderia ter sido uma forma comum de assédio fascista.

O Svoboda prontamente negou estas alegações, com uma referência a Bruno Gollnisch, presidente da AENM, que supostamente confirmou a presença do Svoboda na Aliança. Mas a referência a Gollnisch, eurodeputado francês pela Frente Nacional, era questionável. Já em outubro de 2012, tinha postado uma mensagem no seu blog dizendo que o AENM consistia apenas em quatro partidos: Jobbik, PNB, Chama Tricolor e o minúsculo Partido Nacional Democrático búlgaro. Isto não só confirmou que os líderes do Svoboda tinham feito falsas alegações sobre a adesão do seu partido à AENM, mas a mensagem de Gollnisch revelou também a incompetência do PNB, que emitira uma declaração falsa.

A informação fornecidas por Gollnisch e novas investigações sobre a AENM levou a que se compusesse a seguinte lista dos principais oficiais da Aliança: Gollnisch (Presidente), Nick Griffin (Vice Presidente), Béla Kovács (Tesoureiro) e Valerio Cignetti (Secretário Geral). Os membros associados incluem Jean-Marie Le Pen (Frente Nacional francesa), Andrew Brons (independente, ex-PNB), Maurizio Lupi (Povo Italiano pela Liberdade), Christian Verougstraete (Interesse Flamengo), Bartosz Józef Kownacki (Lei e Justiça Polacas), e Dailis Alfonsas Barakauskas (Ordem e Justiça Lituanas).

O estatuto do Svoboda na AENM foi esclarecido nesta primavera: o partido nunca foi um membro de pleno direito da Aliança, gozando apenas do estatuto de observador, uma vez que a AENM é um grupo baseado na UE e na Ucrânia não é um estado-membro da UE.

A imagem de Svoboda foi ainda mais danificada no dia 22 de março, quando Kovács escreveu uma carta oficial a Oleh Tyahnybok, líder do Svoboda. Nela, ele expressa nos termos mais fortes a sua indignação com o fato de os membros da Svoboda terem organizado comícios contra os húngaros étnicos nos Cárpatos ucranianos da Ruthenia, parte da qual já pertenceu à Hungria. Kovács, um eurodeputado húngaro pelo Jobbik, concluiu informando Tyahnybok de que o estatuto de observador da Svoboda no AENM havia sido terminado Esta informação foi-me confirmada num e-mail a partir de Attila Bécsi (Jobbik): "Svoboda já não é membro da AENM devido às suas declarações anti-húngaras".

Um pouco de escândalo picante é que o Jobbik entrou ao mesmo tempo em cooperação com o Movimento Internacional da Eurásia de Dugin. A 16 de Maio, Kovács e o líder do Jobbik, Gábor Vona, visitaram Moscovo e Vona deu uma palestra intitulada "A Rússia e a Europa" no Centro de Dugin de Estudos Conservadores sediado na Universidade Estadual de Moscovo, onde Dugin é agora professor. No seu discurso, Vona chamou à União Europeia "uma organização traiçoeira", que "[nos tirou] os nossos mercados,as nossas fábricas, e encheu as prateleiras das nossas lojas com lixo ocidental". Ao mesmo tempo, a Rússia conseguiu "preservar suas tradições" e, ao contrário da UE ou os EUA, "não venerava dinheiro e cultura de massas". De acordo com Vona, "o papel da Rússia, hoje, é o de compensar a americanização da Europa".

O líder do Jobbik chegou mesmo a declarar que seria melhor para a Hungria juntar-se à União da Eurásia, dominada pela Rússia, se necessário fosse. Dadas as atuais tendências do Jobbik para encarar a Rússia como um potencial centro de poder na Europa, pode muito bem ser o caso de que a discussão entre o Jobbik e o Svoboda tenha sido tanto sobre as declarações anti-Hungria dos ultra-nacionalistas ucranianos quanto sobre os seus pronunciados sentimentos anti-Rússia.

Para o Svoboda, as ligações com a Europa têm sido uma questão importante desde o final da década de 1990, quando ainda era chamado de Partido Social-Nacional da Ucrânia. Em seguida, foi membro do Euronat, uma organização de extrema-direita, fundada pela Frente Nacional francesa. O SNPU, mais tarde Svoboda, parecia manter boas relações com Le Pen e a Frente Nacional francesa em geral, e, presumivelmente, foramos ultranacionalistas franceses que defenderam a concessão do estatuto de observador ao Svoboda no seio da AENM.
 
No entanto, uma vez que a Aliança foi em grande parte criação do Jobbik (foi fundada em Budapeste durante o 6 º Congresso do Partido do Jobbik, em 2009), os ultranacionalistas franceses tinham poucas possibilidades de anular a decisão de Kovács.

No seu país de origem, Svoboda usou suas ligações na Europa para fins de relações públicas, imagem e propaganda. Foi a Frente Nacional francesa quem consultou os líderes do Svoboda sobre como tornar o partido "mais respeitável" no início da década de 2000, e, naturalmente, relações com os principais ultranacionalistas europeus também impulsionaram a posição do partido entre outras organizações de extrema-direita na Ucrânia. Deste modo, depois de ter sido privado de estatuto de observador na AENM, Svoboda começou a procurar novas ligações na Europa. Seus novos "amigos" acabaram por se revelar ainda mais extremos do que a AENM.

Em 23-24 de Março de 2013, Taras Osaulenko, diretor de relações internacionais do Svoboda, participou na conferência "Visão Europa", organizada pelo Partido dos Suecos em Estocolmo. O Partido dos Suecos é amplamente conhecido como um grupo neo-nazi; foi criado em 2008 por membros da agora dissolvida Frente Nacional Socialista e é liderado por Stefan Jacobsson. O principal orador na conferência parecia ser Udo Pastörs, vice-líder do mais importante partido neo-nazi e mais significativo a surgir desde 1945, o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), do qual dois membros estão sendo julgados na Alemanha por seu apoio do grupo terrorista Underground Nacional-Socialista.

Outro orador na conferência foi Roberto Fiore, líder do partido fascista italiano Nova Força. Entre os convidados europeus presentes contavam-se também: Jonathan Le Clercq da Associação da Terra e do Povo (França); Daniel Carlsen, líder do Partido Dinamarquês (Dinamarca) e Gonzalo Martín Garcia, diretor de relações internacionais do Partido da Democracia Nacional (Espanha).

As ligações entre Svoboda e Fiore foram estabelecidas a partir de 2009, quando Tyahnybok visitou Estrasburgo para conhecer eurodeputados de partidos de extrema-direita como o Partido da Liberdade da Áustria, "Attack" União Nacional da Bulgária, Interesse Flamengo, entre outros. Essas ligações continuaram a ser cimentadas em maio e junho deste ano. Em 23 e 24 de maio, Osaulenko e Andriy Illenko visitaram Roma a convite de Fiore. Aí a liderança da Nova Força e representantes do Svoboda discutiram a colaboração entre os dois partidos.
 
Representantes do Svoboda também visitaram o acampamento de jovens da Nova Força, e Illenko deu uma palestra sobre a história e a ideologia do Svoboda, partilhou os seus pensamentos sobre a forma como ambos os partidos poderiam unir forças na sua "luta contra as forças liberais do multiculturalismo e da destruição das tradições nacionais da civilização europeia ".

De 19 a 21 de junho, representantes da Nova Força, incluindo Fiore, retribuiram a visita. Na Ucrânia, os ultranacionalistas italianos e ucranianos discutiram a criação de um novo grupo de movimentos nacionalistas europeus, a fim de "desenvolver uma nova cooperação dinâmica e estratégica destinada a criar uma nova classe política europeia". Supostamente, o novo grupo poderá vir a ser formado a partir das organizações que participaram da conferência Visão Europa, em Estocolmo.

Entre as duas visitas ucraniano-italianas, a 29 de Maio de 2013, Mykhaylo Holovko, membro do Parlamento ucraniano e do Svoboda, visitou o Parlamento Regional da Saxónia para falar com o NPD. Em particular, Holovko transmitiu os cumprimentos de Tyahnybok e Serhiy Nadal, presidente da câmara da cidade ucraniana de Ternopil do Svoboda. De uma maneira ritual, Svoboda e NPD concordaram em fortalecer as relações bilaterais entre os partidos e os grupos parlamentares.

Está ainda para se ver se as visitas do Svoboda aos seus homólogos europeus fazem parte do processo de criação de um novo movimento ultranacionalista paneuropeu. Nenhum dos partidos representados na conferência Visão Europa é um membro da AENM, enquanto que é improvável que a Nova Força de Fiore é venha a cooperar com o membro da Aliança Chama Tricolor, do qual se separou em 1997. O último projeto fascista "ecumênico" de Fiore, a Frente Nacional Europeia, que reunia representantes da Nova Força, do NPD, do romeno Nova Direita, do grego Aurora Dourada e da Falange espanhola, parece ter falhado.
 
Assim, os novos amigos europeus do Svoboda podem, de fato, precisar de uma nova organização que uniria os partidos políticos e movimentos que são - dado os perfis de Fiore, Pastörs, Jacobsson e outros - realmente mais extremos do que a AENM.

(*) Artigo publicado em Search Light.

(**) Tradução de Adriana Rosa Delgado para Esquerda.net

 
Créditos da foto: Arquivo

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