segunda-feira, 6 de maio de 2013

Portugal: O EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO DAS FINANÇAS




Tomás Vasques* – Jornal i, opinião

Vítor Gaspar, o principal artífice da penúria em que o país vai ficar, irremediavelmente, durante décadas, engendrou durante meia-dúzia de meses um novo saque aos portugueses, cuja dimensão ainda está por apurar. Passos Coelho, o líder do PSD e, formalmente, do governo, ficou incumbido de apresentar esta nova vaga de destruição, o que fez com ar solene, na sexta-feira, às 20 horas. Para aqui chegar, contou com a cumplicidade activa do Presidente da República, que adoptou este governo como seu, e de Paulo Portas, o subalternizado parceiro da coligação governamental. O ministro das Finanças sabe melhor do que ninguém que a aplicação das medidas por si congeminadas, as anteriores e as actuais, vai fazer de Portugal um país miserável e sem esperança, com um desemprego nunca atingido, com mão-de-obra barata, sem protecção social, a emigrar para sobreviver, sem dinheiro para comer, para educar os filhos ou ir ao médico. É esse o seu objectivo e a sua missão, apadrinhada pelo PSD: reduzir à pobreza a maioria dos portugueses e à insignificância as competências do Estado na Saúde, na Educação e na Segurança Social de modo a que estes sectores de actividade se transfiram para a “competência” de grandes grupos económicos privados. Nessa altura, Vítor Gaspar voltará à Alemanha, ao BCE ou a qualquer outro poiso e, provavelmente, receberá uma medalha de mérito pelos serviços prestados, atribuída por Schauble, o ministro das Finanças alemão e seu patrono, no Bundestag, dirigindo-lhe na ocasião palavras de apreço e enaltecendo a sua “clarividência, determinação e coragem”, enquanto, por cá, o povo português o eternizará como um colaboracionista, estou certo disso, como o fez a Miguel de Vasconcelos, não o atirando pela janela por falta de oportunidade.

Vítor Gaspar sabe que todo o país sabe que é ele quem manda, quem decide, quem define o rumo do governo e do país, como só houve um caso semelhante em Portugal, o de António de Oliveira Salazar entre 1928 e 1932, com as consequências que todos conhecemos. Nem sequer o incomoda que o tomem por incompetente por falhar todas as previsões e todas as contas ou por não atingir o mínimo que lhe era exigido: cumprir as metas do défice orçamental. E muito menos o incomoda o destino da maioria dos portugueses. Ele sabe que os objectivos que pretende atingir têm um percurso a fazer: o completo falhanço do Orçamento do Estado de 2012 permitiu-lhe duplicar a dose, no mesmo sentido, em 2013; a previsível (e parece que desejada) declaração de inconstitucionalidade do Orçamento de 2013 abriu o caminho ao saque agora anunciado; e a trama consolida-se com outras manobras de diversão: agora, mais uma inconsequente conferência de imprensa do líder do CDS-PP; depois, a convocação de um conselho de Estado. É neste cenário de distorção democrática, em que quem decide se recolhe atrás da cortina, que Passos Coelho se esforça, em vão, e sem a noção do descrédito, por tapar o céu com uma peneira. Na mesma linha de há dois anos, quando disse que não retirava os subsídios de férias e de Natal ou que não despedia funcionários públicos, agora quer fazer acreditar que está empenhado em que o saque engendrado por Vítor Gaspar seja embrulhado num amplo “consenso com os partidos políticos e os parceiros sociais”, quando nem sequer com o parceiro de coligação se entende. Ou, pior ainda, querer que alguém acredite em supostas “medidas de crescimento e de fomento industrial”, entremeadas no saque de mais de seis mil milhões de euros, é o mesmo que acreditar nos milagres de curandeiros.

Já poucos tomam a sério o primeiro--ministro e, estou convicto, que este governo só cai antes do prazo se Vítor Gaspar se demitir ou se o resultado das eleições autárquicas convencer Paulo Portas que tem condições para ganhar uma fatia importante do eleitorado do PSD. Até lá, Paulo Portas continuará a marcar diferenças, como na conferência de imprensa de ontem, mas o excelentíssimo ministro das Finanças seguirá, impávido e sereno, o seu rumo. 

*Jurista, escreve à segunda-feira

ZEN, SURDO E PARVO




Somos verdadeiros admiradores das foto-montagens do autor do We Have Kaos in the Garden (clique para ampliar a imagem). Consideramos a maioria obras de arte na respetiva vertente. Por isso as utilizamos na tag Imagem Escolhida. Mas não só por isso, também pelo contexto da interpretação e da mensagem em que o artista insere a sua obra.

Neste exemplo ali está o Zen. Zen, Cavaco Silva, um trambolho político que ocupa o Palácio de Belém na qualidade de Presidente da República – um mentecapto PR cúmplice do arrasto dos portugueses e de Portugal para o descalabro, para a desgraça. O prejuízo desta desastrada fase do cavaquimo contempla quase todos os portugueses. Todos… excepto os da seita cavaquista. 

Nem surdo, nem parvo. Opinamos: Político energumeno que está a agir intencionalmente no desaire causado por tais anormaloides. Assim sempre acontece, desde que foi primeiro-ministro até agora como tenebroso PR. (Redação PG)

Portugal: Manuel Alegre diz que "crise política já está dentro da própria coligação"




RRL – SMA - Lusa

O histórico dirigente socialista Manuel Alegre considerou hoje que as declarações de Paulo Portas sobre as novas medidas de austeridade do Governo mostram que “há uma crise política que já está dentro da própria coligação”.

“Dá impressão que a coligação não funciona, ou isto é combinado ou não é combinado. É muito estranho que tenham estado num Conselho de Ministros, que tenham aprovado aquelas medidas que são muito gravosas e que, depois, Paulo Portas venha dizer aquilo que disse”, argumentou Manuel Alegre.

Segundo o histórico socialista, esta situação “mostra que há, realmente, uma crise política e que a crise política já está dentro da própria coligação”.

Manuel Alegre falava à agência Lusa em Castro Verde, no distrito de Beja, à margem do 1.º Fórum "Construir a Mudança", promovido pela candidatura socialista de António José Brito à presidência da câmara municipal nas autárquicas deste ano.

Questionado pela Lusa, o antigo dirigente do PS reagia às declarações do presidente do CDS e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, no domingo, sobre as mais recentes medidas de austeridade apresentadas pelo primeiro-ministro, Passos Coelho.

Paulo Portas disse não concordar com a introdução de uma contribuição sobre pensões e adiantou que o Governo vai negociar com a 'troika' para encontrar medidas de redução da despesa do Estado equivalentes.

O novo pacote de medidas anunciado por Passos Coelho pretende poupar nas despesas do Estado 4,8 mil milhões de euros, até 2015, mas Manuel Alegre qualificou-o hoje como um “atentado ao Estado social”.

“Atingem o coração do Estado social, como foi dito por alguém”, acusou o também poeta e escritor, afirmando não ter dúvidas de que as medidas vão “atingir profundamente a democracia, tal como ela está consagrada na Constituição”.

“O ataque aos pensionistas é um roubo, porque os pensionistas descontaram toda a vida e aquilo é dinheiro que pertence a cada um deles. Isto é um esbulho”, disse.

Para Alegre, as medidas anunciadas pelo Governo, que constituem um “ataque às funções sociais do Estado”, são “uma maneira de tentar ultrapassar a decisão do Tribunal Constitucional, mas, no fundo, para fazer a mesma coisa”.

Na opinião do antigo dirigente do PS, só há uma “maneira” de sair desta situação: “É dar a palavra ao povo, destituir o Governo, convocar eleições” antecipadas.

“Porque este Governo não tem condições para continuar, sob pena de provocar uma explosão social de consequências incalculáveis”, alertou.

A atuação do executivo “está a pôr em causa o regular funcionamento das instituições” disse ainda Alegre, considerando que se fala “muito em consenso”, mas “o único consenso que há é a recusa destas políticas, a recusa deste Governo”.

Portugal: PAULO E PEDRO NOS CARRINHOS DE CHOQUE




Alfredo Leite – Jornal de Notícias, opinião

Um dia depois de Pedro Passos Coelho ter destacado o "talento" de Paulo Portas e o seu "empenho pessoal" no pacote de medidas anunciadas pelo primeiro-ministro na passada sexta-feira, o líder do CDS surgiu ontem aos "portugueses", com pose de estadista e até alguma "jactância" para fazer de conta que parte a louça toda quando, na realidade, não partiu um prato. O companheiro de Passos Coelho na peculiar coligação que nos (des)governa precisou de meia hora de discurso pausado para dizer aos "portugueses" que discorda em absoluto da proposta que visa impor uma contribuição extraordinária a pensionistas e reformados como medida para cortar na despesa. "O primeiro-ministro sabe e creio que é a fronteira que não posso deixar passar", acrescentou solenemente Portas. O também ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros foi ainda mais longe ao afirmar que a medida é "um cisma grisalho que afetaria mais de três milhões de pensionistas da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações".

Nós, os "portugueses" a quem o líder centrista tão solenemente se dirigiu, ouvimos mas não entendemos bem o que pretendeu dizer. Mas então Portas não aceitou o que diz agora ser a linha vermelha que não está disposto a ultrapassar? Aceitou, mesmo que diga ter aceitado no limite. E ao aceitar participou numa farsa que a TSF desmontou, e bem, horas antes da comunicação televisiva e em direto de Portas. A saber: os cortes estimados pelo Governo para este ano poderão atingir os 1400 milhões de euros, parte dos quais em despesas fixas dos ministérios. E, se assim for, o ministério de Vítor Gaspar pode consolidar uma almofada de 200 milhões de euros. É este valor que, somado a outros cortes menores, poderá ser suficiente para fazer cair a contribuição de sustentabilidade.

A declaração de Paulo Portas veio, portanto, reforçar o que já sabíamos. O Governo anda à deriva, fala a duas vozes e insiste em brincar, uma vez mais, com a nossa vida. E com especial crueldade com a vida dos mais frágeis: os reformados e pensionistas.

E nós, os "portugueses", olhamos ainda mais incrédulos para esta coligação que se assemelha a uma pista de carrinhos de choque de feiras e romarias (locais tão caros a Portas) onde rodopiam dois pilotos tresloucados a tentar chocar ora de frente, ora de lado. Num carrinho vai Portas, no outro vai Passos. E nós, os "portugueses", estamos já sem carrinho, no meio da pista, indefesos, a ver de que lado seremos atingidos pelas viaturas descontroladas. De fora, aos comandos da pista (e, já agora, da aparelhagem sonora) está Cavaco Silva. Apesar de ter o disjuntor por perto, o presidente parece observar tudo isto sem vontade de agir, tornando-se por isso, além de testemunha privilegiada, cúmplice do ziguezague de Portas e Passos.

Ou, se quisermos usar uma imagem mais cara ao primeiro-ministro, o presidente da República vê ambos a chafurdar no pântano onde nos estamos a enterrar. E apela à concórdia política e à coesão social. E apela e apela e apela. Com a ajuda do microfone roufenho.

Portugal: BE ACUSA PAULO PORTAS DE “MUITO CINISMO”




Jornal de Notícias

João Semedo, coordenador do Bloco de Esquerda, afirmou que Paulo Portas está "de acordo com a estratégia de austeridade" do Governo e acusou-o de "muito cinismo", advertindo que o sistema de pensões e Segurança Social é tutelado por um ministro centrista.

"Eu julgo que os portugueses estão pouco interessados em conhecer os estados de alma e as grelhas de leitura do ministro Paulo Portas, os portugueses estão interessados em conhecer as decisões do Governo e os resultados dessas decisões e o que ontem ficámos a saber é que o ministro Paulo Portas está de acordo com o programa anunciado pelo Governo", declarou João Semedo.

O coordenador bloquista falava numa conferência de imprensa na sede do partido, esta segunda-feira, sobre as novas medidas anunciadas pelo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

João Semedo frisou que o presidente do CDS está de acordo com a "estratégia orçamental e de austeridade apresentada pelo primeiro-ministro" e que "tudo o resto é fingimento, teatro e muito cinismo".

"Julgamos que tanto cinismo numa situação tão grave para tantos e tantos portugueses não é aceitável numa figura política como é Paulo Portas", afirmou.

"Estamos a falar de uma área de Governo que é da responsabilidade direta do ministro do CDS, Pedro Mota Soares, como todos sabemos, e Paulo Portas teve o cuidado de não lembrar isso, tudo o que diz respeito a pensões, reformas e segurança social é da responsabilidade do ministro Pedro Mota Soares", acrescentou.

O coordenador do BE considerou que as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros mostram "diferenças na coligação" e que o Governo "está a desagregar-se e em final de vida", mas também que "Paulo Portas está disposto a tudo para salvar o Governo e para se salvar a ele enquanto ministro".

"O que o ministro Paulo Portas ontem tentou fazer foi anestesiar o protesto e o descontentamento dos pensionistas, dando-lhes a ideia de que quanto mais longe for a destruição do Estado mais defendidas estão as suas reformas", criticou.

ENFERMEIROS ANGOLANOS ACUSAM GOVERNO DE NÃO ATENDER ÀS REIVINDICAÇÕES




NME – PJA - Lusa

Luanda, 06 mai (Lusa) - O secretário-geral adjunto do Sindicato de Técnicos de Enfermagem de Luanda, António Kileba, acusou hoje em Luanda o Governo angolano de ter cumprido "apenas um por cento" das reivindicações, apresentadas há mais de um ano.

Em declarações à Lusa, por ocasião do Dia Internacional do Enfermeiro, que se assinala no próximo domingo, o sindicalista disse que o sindicato vai avançar para um processo judiciário, para se encontrar uma saída para o impasse.

"Por orientação do Governo, fizemos um contrato de parceria com a (associação) Mãos Livres e a partir desta semana vamos entrar com um processo completo para repor a legalidade do que está em falta", informou António Kileba.

Segundo o sindicalista, entre as reivindicações, que continuam por ser atendidas, está o pagamento de retroativos, a reconversão de carreiras e o pagamento de subsídios.

"Quer dizer que muita coisa que foi reivindicada não está a ser respondida aos profissionais", disse António Kileba, avançando que está prevista para o próximo dia 28 a realização de uma assembleia de trabalhadores para análise da situação.

Na lista de reivindicações apresentadas em 2012, consta o pagamento de retroativos salariais, resultantes da aplicação do novo regime da carreira de Enfermagem, o pagamento de um adicional salarial para quem trabalha além das suas obrigações profissionais definidas por carreira, bem como o pagamento de subsídios de turno rotativos e noturno.

O pagamento de subsídios relativos à exposição direta e indireta de agentes físicos, químicos e biológicos e cartão de segurança social também constam do caderno reivindicativo.

Por ocasião do Dia Internacional dos Enfermeiros, o ministro angolano da Saúde, José Van-Dúnem, na abertura das jornadas alusivas à data, destacou a responsabilidade da classe dos enfermeiros - a mais numerosa do Sistema Nacional de Saúde em Angola - no sucesso que o país tem alcançado no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

José Van-Dúnem manifestou a sua satisfação pelo empenho dos profissionais de enfermagem na concretização desses objetivos, todavia, lembrou que a formação é necessária para a obtenção de melhores resultados.

"Não vai ser possível atingir esses objetivos se não se der uma especial atenção à formação", disse o ministro, realçando que em Angola existem escolas de enfermagem nas 18 capitais provinciais.

Para o secretário-geral adjunto do Sindicato de Técnicos de Enfermagem de Luanda, as declarações do governante angolano estão "fora do contexto prático".

"Sobre a qualificação de quadros, não existe mudança de categoria dos profissionais, de acordo com o perfil que apresenta. Não nos revemos nesse tipo de declarações para enganar a comunidade. Para os profissionais são discursos que julgamos fora do contexto prático", frisou António Kileba.

Em 2012, as reivindicações dos enfermeiros estiveram na base da convocatória de duas greves, em janeiro e maio, tendo a última durado três dias e contado com a adesão de 80 por cento dos enfermeiros de todos os hospitais, centros e postos de saúde da Direção Provincial de Luanda.

O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem conta com 44 mil filiados, dos quais 15 mil estão em Luanda, a capital do país.

Angola: AINDA HÁ MEDO DE LER JORNAIS NO HUAMBO




Deutsche Welle

No passado, quem fosse encontrado em locais públicos da província angolana a ler ou vender jornais privados, que não estavam sobre o controlo do regime, era preso e acusado de conspiração contra a segurança do Estado.

A província do Huambo, situada no centro-sul de Angola continua a ser considerada uma das piores infrac­toras da liberdade de expressão e de imprensa. Por exemplo, há cerca de três anos, não podiam ser lidos nem vendidos, nas ruas ou em qualquer local público da cidade do Huambo, jornais privados, por vei­cularem informações considera­das incómodas ao poder político.

Um indiví­duo que fosse encontrado a ler um jornal privado, era imediatamente recolhido à prisão por agentes da Polícia Nacional ou pelos operativos dos serviços secretos, sob alegação de tentarem conspi­rar contra a segurança do Esta­do. Devido ao clima de intimida­ção e desconfiança que se vivia naquela província, os dirigentes do MPLA e do seu governo - e não só - opta­vam por ler os referidos jornais na calada da noite.

Ainda há medo de comprar e vender jornais

Um habitante do bairro Bela Vista, Domingos Gomes, con­ta que, em 2006, foi inter­pelado por indivíduos à paisana que lhe rasgaram um jornal que lia na rua. "Um dia estava a ler o 'Folha 8' e alguns indivíduos, vestidos à civil, interpelaram-me, rasgaram-me o jornal e chamaram-me à atenção para que não o voltasse a ler. Da próxima vez iria preso", recorda.

Januário Castilho, um dos poucos jornaleiros da cidade do Huambo, conta que, apesar de nunca ter sofrido nenhuma agres­são física, facto é que, em algumas áreas, ainda é impossível vender jornais pri­vados. "Os nossos clientes, quando passamos nestes sítios, especialmente em locais do governo, ainda têm receio de comprar", afirma, explicando que, outros, "têm medo, dizem que não podemos colocar um jornal que não tenha a cara do Presidente da República".

"Pessoas temem represálias", diz jornalista

Actualmente, apesar da província do Huambo ser considerada uma zona perigo­sa para o exercício da actividade jornalística, as autoridades tendem a demostrar uma certa abertura. O correspondente da Rádio Despertar, Alberto Malaquias, afirma isso mesmo, mas adianta que o quadro "passou de restrições institucionais para restrições psicológicas".

"As próprias pessoas temem represálias. Não consta que alguém tivesse sido apanhado e levado para a prisão por ter lido um jornal privado mas, depois do tempo em que este direito foi restringido, as pessoas agora sentem-se psicologicamente manietadas quando exercem este direito de estarem informadas".

"Há alguns anos atrás, era impensável haver jornais na rua, porque a própria segurança do Estado não o permitia, confiscava-os. Houve pessoas que foram parar às cadeias por causa da venda de jornais", conta o jornalista da Rádio Despertar. Alberto Malaquias considera que a mudança de comportamento das autoridades tem muito a ver com as di­nâmicas e o amadurecimento das sociedades. "Toda essa dinâmica desemboca nessa necessidade de informação", conclui.

Angola é o pior colocado no Índice da Liberdade de Imprensa

De acordo com o Índice de Liberdade de Imprensa,divulgado esta sexta-feira (3.05)

pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Angola é o país lusófono com a pior classificação, surgindo na posição 130, apesar de ter subido duas posições em relação à tabela do ano passado. 

Brasil, Guiné-Bissau e Cabo Verde são países lusófonos que sofreram uma grande queda. O Brasil passou da 58ª posição em 2010 para o lugar 99 em 2011/2012, ocupando agora a 108ª posição. A Guiné-Bissau caiu drasticamente no Índice da Repórteres Sem Fronteiras, perdendo 17 posições, ocupando o 92º lugar. Mesmo tendo descido 16 posições no índice e ocupando a 25ª posição, Cabo Verde, juntamente com o Gana (30º), são os países africanos melhor colocados na tabela da RSF.

Moçambique ocupa a posição 73 e Timor-Leste também sofreu uma queda, perdendo quatro posições, ocupando o lugar 90. Já Portugal subiu cinco lugares na lista anual dos países com maior liberdade de imprensa, passando para a 28ª posição.

CEDEAO vai ajudar Guiné-Bissau na vigilância marítima contra tráfico droga - chefe das FA




MB - PJA – PJA - Lusa

O chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, afirmou hoje que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) vai apoiar o país "muito brevemente" na vigilância marítima contra tráfico de droga e outros crimes.

"Pedimos à CEDEAO para que nos apoie na vigilância dos nossos mares contra a pirataria, o narcotráfico, que é falado, porque não temos meios para vigiar o nosso mar. Pedimos apoios à Marinha da CEDEAO especialmente à Nigéria, que vai colocar aqui os seus barcos para o efeito", disse o general Indjai, à saída de uma audiência com o Presidente de transição, Serifo Nhamadjo.

Acompanhado por uma delegação de militares nigerianos que se encontra em Bissau, António Indjai garantiu que a ajuda da CEDEAO já se encontra no país.

"Já cá estão. Vão-nos apoiar. Como sabem está cá uma força da CEDEAO, a Ecomib", força de alerta rápida da comunidade da África Ocidental, sublinhou Indjai, que se recusou a comentar a situação política do país.

"Somos militares, não nos imiscuímos em assuntos políticos. Uma coisa é certa, falou-se que as eleições serão ainda este ano, em novembro. Que Deus nos ajude a fazer eleições em novembro", observou o chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, rejeitando responder a outras questões dos jornalistas.

O comodoro Oyedele, da Nigéria é o chefe da missão militar nigeriana composta por quatro graduados que estão a avaliar as necessidades imediatas das Forças Armadas da Guiné-Bissau.

Em meados de Abril, António Indjai foi acusado pelo procurador de Manhattan de participar numa operação internacional de tráfico de droga e armas, fazendo da Guiné-Bissau “um ponto de passagem para pessoas que se acredita serem terroristas e narcotraficantes”.

“Tal como tantos altos responsáveis alegadamente corruptos, [Indjai] vendeu-se a si e ao seu país por um preço”, referiu então um comunicado da procuradoria.

No entanto, o militar tem rejeitado sempre as acusações feitas pelas autoridades norte-americanas, que já prenderam o ex-chefe da Armada Bubo Na Tchuto durante uma operação contra o narcotráfico no Golfo da Guiné.

Guiné-Bissau: Divergências são normais, mas entendimento é necessário - ONU




FP – MLL - Lusa

Bissau, 06 mai (Lusa) - O representante do programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na Guiné-Bissau, Gana Fofang, considerou hoje normal divergências partidárias mas instou os políticos guineenses a entenderem-se, porque o povo e a comunidade internacional estão à espera.

"Penso que é normal que as diferentes posições sejam discutidas, mas esperamos que isso não dure muito tempo porque a população espera uma solução rápida", disse Gana Fofang aos jornalistas depois de se ter reunido com o Presidente de transição, Serifo Nhamadjo.

Na última terça-feira, partidos, sociedade civil e militares concordaram na realização de eleições este ano e num novo modelo para o período de transição que inclua um Governo mais abrangente.

No entanto, dois dias depois, PRS e PAIGC, partidos que compõem quase em exclusivo o parlamento, passaram um dia a discutir o que iriam discutir (agenda) e não se entenderam.

De acordo com o número dois do escritório da ONU na Guiné-Bissau (chefiado pelo timorense José Ramos-Horta), a comunidade internacional continua empenhada em apoiar "o processo em curso, na procura de uma solução rápida para este período de crise".

"A nossa posição é a mesma", disse Gana Fofang, explicando aos jornalistas que a reunião com Serifo Nhamadjo serviu para "ter uma ideia do trabalho que está a ser feito, a nível do parlamento e dos partidos" e da criação de um roteiro de transição e de um Governo de consenso.

O camaronês Gana Fofang é, desde 2011, o coordenador e representante residente do PNUD em Bissau. Já desempenhou idênticas funções em São Tomé e Príncipe.

Kuwait apoia pequenos projetos de agricultura e comércio da Guiné-Bissau com 2,2 ME




FP – VM - Lusa

Bissau, 06 mai (Lusa) - A Guiné-Bissau vai beneficiar de um fundo de 2,2 milhões de euros doado pelo Kuwait e que se destina a financiar projetos especialmente nas áreas da agricultura e pequenos negócios.

Uma missão técnica do Kuwait está desde domingo em Bissau e na manhã de hoje reuniu-se com o ministro da Economia do Governo de transição, Abubacar Demba Dahaba, para acertar os pormenores da transferência do fundo.

O apoio, disse o ministro aos jornalistas, faz parte de um fundo de 100 milhões de dólares (76 milhões de euros) que o reino do Kuwait doou a países em desenvolvimento, cabendo à Guiné-Bissau uma fatia de três milhões (2,2 milhões de euros).

"Vamos discutir com a missão técnica e com o banco como gerir esse fundo e assinar uma convenção", disse o ministro, explicando que o dinheiro será depositado num banco e que será essa instituição que o vai gerir.

A verba, adiantou, está disponível em breve e não será dada gratuitamente, "porque esse crédito terá um custo simbólico para os beneficiários, uma forma de maximizar o fundo".

Moçambique: Membros da Renamo deixam partido por discordarem do boicote às eleições




PMA – MLL - Lusa

Maputo, 06 mai (Lusa) - Pelo menos 67 membros da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), principal partido da oposição moçambicana, anunciaram a sua saída do movimento por discordarem da intenção desta força política de boicotar as eleições autárquicas e gerais.

A Renamo ameaça inviabilizar a realização das eleições autárquicas deste ano e gerais do próximo ano, caso não seja atendida a sua exigência de participar em igualdade numérica com a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, na Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Em conferência de imprensa para comunicar a decisão da renúncia à qualidade de membro da Renamo, Tomás José Félix, ex-chefe provincial de Mobilização do partido, considerou um erro a intenção de boicotar as próximas eleições.

"Embora concordemos com a ideia de paridade na representação partidária nos órgãos eleitorais, não vemos como é que a ausência dessa paridade possa impedir a vitória eleitoral de um partido como a Renamo, se estiver organizado para vencer", afirmou Tomás José Félix, ladeado de outros membros que se retiraram do partido.

Para o porta-voz do grupo dos membros que abdicaram da militância na Renamo, as derrotas do partido nas eleições são causadas pela falta de organização do partido.

"O problema está na organização daquele que concorre às eleições", enfatizou o ex-chefe provincial de Mobilização do principal partido da oposição.

Segundo Tomás José Félix, há deputados da Renamo que discordam da ideia de boicotar as eleições, pois querem renovar o mandato na função.

"Nós queremos nos recensear, votar e sermos votados. Há deputados da Renamo que nós sabemos muito bem que querem renovar os seus mandatos", afirmou Tomás José Félix.

As chamadas "deserções" de membros da oposição, muitos dos quais se filiam na Frelimo, são muito comuns em anos eleitorais, o que muitos analistas entendem tratar-se de uma estratégia do partido no poder para fragilizar o principal partido da oposição.

Moçambique: EX-GUERRILHEIROS DA RENAMO LIBERTADOS, ARMAS CONTINUAM RETIDAS




AYAC -  MLL - Lusa

Chimoio, Moçambique, 06 mai (Lusa) - Os 15 ex-guerrilheiros da Renamo detidos a semana passada após serem desarmados pela polícia em Chimoio, Manica, centro de Moçambique, foram libertados, mas as armas continuam sob guarda policial, disse hoje à Lusa fonte partidária.

"Os guardas presidenciais já foram libertados (na sexta-feira) e se encontram na nossa sede do partido. Quanto às armas, o assunto está a ser tratado a nível nacional", precisou Sofrimento Matequenha, delegado político provincial da Renamo em Manica.

A polícia moçambicana desarmou, na quarta-feira passada, os ex-guerrilheiros, afetos à guarda presidencial do líder da oposição Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), Afonso Dhlakama, por "tarefas desviadas", quando escoltavam o secretário-geral do partido Manuel Bissopo, de visita a Manica.

Na operação de desarmamento, a polícia "recuperou" seis armas AKM (com 168 munições) e uma pistola (quatro munições), que "ainda não foram devolvidas" ao quartel-general do partido.

A Renamo insiste em boicotar as eleições autárquicas de 20 de novembro e as gerais de 2014, enquanto "não haver consenso" sobre o processo de arbitragem e controle dos processos eleitorais.

Após serem conduzidos ao juiz, para legalização, na segunda secção do Tribunal Judicial provincial de Manica, os elementos da Renamo foram de seguida colocados em liberdade.

Sofrimento Matequenha disse que esta semana os ex-guerrilheiros deverão regressar à sua base militar, em Gorongosa (Sofala), onde se encontra aquartelado, desde outubro, o líder do maior partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama.

Brasil: ONDE ESTÁ O DINHEIRO? O GATO COMEU?




Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir

A maior disputa de centralidade da agenda hoje no Brasil é aquela que se dá entre a prioridade da retomada do crescimento ou o suposto “descontrole inflacionário”. Ela reflete as distintas visões que a esquerda e a direita têm do país.

Para a direita – como sempre – a preocupação central é a inflação, razão pela qual aponta para os gastos do governo, a diminuição da taxa de juros, as políticas sociais, os aumentos de salários. Diz preocupar-se com os salários – que nos seus governos foram dilapidados –, mas se preocupa com os ganhos do capital financeiro e com as contas públicas. Por um lado, ataca o suposto descontrole inflacionário, por outro busca capitalizar eventuais descontentamentos produzidos pelo aumento da taxa de juros.

As pressões conseguiram que o Banco Central voltasse a aumentar a taxa de juros – mesmo sendo um aumento mais simbólico do que real –, mas suficiente para demonstrar que o BC havia assumido a pressão sobre ele. A própria Dilma tem reiterado nos seus pronunciamentos que a preocupação com a inflação é central no governo, o que, enquadrado como ela tem feito no marco das políticas econômico-sociais do governo, é correto. Mas não deixa de colaborar com a campanha opositora para colocar a inflação como tema central da agenda política.

O problema central do país não é esse, hoje. É a dificuldade que o governo enfrenta para conseguir retomar o crescimento econômico. O governo tomou e segue tomando iniciativas nessa direção, sem que se constate efeitos concretos. Baixa taxa de juros à metade do que ela era há algum tempo, diminui sistematicamente impostos para grande quantidade de setores, controla o câmbio, faz investimentos – mas não consegue fazer com que os setores privados invistam.

Não dispõem de recursos? Ou os canalizam para a especulação e até para os paraísos fiscais – como revelações recentes evidenciaram? Onde está o dinheiro? 

O grande empresariado privado alega “incerteza”, que são produzidas por eles mesmos, ao privilegiar mais os investimentos especulativos do que os produtivos. Que aumentam os preços e alegam riscos inflacionários. 

Para que a economia volte a crescer, é o Estado que tem que assumir o papel determinante. Além dos investimentos públicos diretos – ao invés das desonerações, que não tem tido retorno do capital privado –, o governo tem que condicionar fortemente a circulação do capital financeiro – elevando substancialmente sua taxação –, e condicionar toda concessão feita aos setores privados. A desoneração da cesta básica não chegou plenamente aos consumidores. As desonerações não têm tido contrapartidas do setor privado – seja na contenção de preços, seja na elevação dos investimentos.

Nenhuma empresa estrangeira se dispõe a sair do Brasil, considerada uma economia segura e com grande potencial e expansão. É o grande empresariado privado, com a boca torta do cachimbo da especulação, quem sabota o desenvolvimento econômico do país.

Brasil: A TURMA DO TOMATE




Rodolpho Motta Lima – Direto da Redação

Nada mais perverso na política do que a colocação de particulares interesses partidários acima daqueles que convêm à nação como um todo. Isso acontece em quase todos os lugares do mundo e revela o grau de comprometimento social de cada segmento que atua politicamente. A direita, por ser elitista por natureza, tem essa postura no seu DNA, mas a esquerda também dá as suas escorregadelas. De qualquer forma, esse comportamento é, seguramente, um desserviço à cidadania.

Nos últimos tempos, temos assistido a uma parafernália de artigos, manchetes, colunas e pronunciamentos que dão conta de que o país estaria em vias de entrar em um perigoso e significativo processo inflacionário. Compara-se, desonestamente, a situação presente a uma realidade de muitos anos atrás, semeando a ideia de uma inflação descontrolada que estaria em vias de mergulhar o país no desastre.

Enxergando na volta da inflação um provável enfraquecimento do Governo, a chegada desse espectro é saudada com indisfarçável júbilo pelos opositores e, é claro, amplificada pela mídia que os representa acintosamente. Ou seja: importa muito menos a estabilidade da economia, a satisfação das pessoas, a tranquilidade social, e muito mais a derrubada do Governo.

Se alguém quiser argumentar que é assim mesmo e, que, às vezes, determinados fins justificam meios menos honestos de “persuasão”, a aceitação dessa premissa nos dará o direito de acreditar que se podem, então, fabricar fatos, provocar desconfianças, manipular dados... E , por que não?, comprar votos de parlamentares corruptos para permitir a votação de medidas de alcance social... Adicionalmente, nos conferirá a obrigação de tentar enxergar, nas entrelinhas, os propósitos escondidos de cada informação.

O caso do tomate é emblemático. Colocou-se em destaque a elevação de preços do produto como símbolo de um processo inflacionário em curso, deixando de lado as razões sazonais específicas que geraram essa situação. Sei que tucanos, corvos e urubus comem tomate. Deve ser por isso que o tomate virou um ícone da oposição. Pouquíssimos esclarecimentos sobre as causas da elevação do seu preço, muitíssimas reportagens e fotos nos mercados e feiras a mostrar valores estratosféricos a que chegou um quilo do vilão vermelho. Mas, como era uma falácia, não resistiu. E o tomate, depois dos 15 minutos de fama, vai sumindo do noticiário...

Essa turma – que acredita fielmente na lei da oferta e da procura, um dos fundamentos pérfidos do capitalismo – não usou o seu poder de comunicação para, por exemplo, conclamar as pessoas a não comprarem o tomate e a, pelo menos temporariamente, substituírem-no na mesa, o que, certamente, não constituiria nenhuma catástrofe.

Da mídia da oposição não se espera outra coisa. Dos partidos de oposição , essa atitude é vista como normal. Que se dane o país, que exploda a nação, o que importa é o poder: “Nós é que queremos administrar o preço do tomate”...

A surpresa, se é que existe isso na política, vem dos segmentos que se dizem aliados governamentais, que cresceram nos últimos anos muito mais porque foram apoiados pelo Governo Federal do que por terem apoiado Lula e Dilma, e que, agora, mordidos pela mosca azul do poder, vislumbram a oportunidade - ou será o oportunismo ? - de sair do barco, antes ajudando a provocar as ondas de instabilidade.

Sobre a estratégia do Governador de Pernambuco, por exemplo, e do grupo que alicerça sua candidatura ao Planalto, fala-se claramente na expectativa – ou será melhor dizer, na torcida – por uma deterioração econômica que, provocando insatisfação , leve à derrocada do poder e das atuais políticas. Ele pretende, pelo visto, repetir o caminho de Marina Silva – agora tentando pegar na Rede todos os peixes possíveis, os de direita e os de esquerda. Não ouso dizer que se trate de candidaturas direitistas, mas, políticos experientes que são, é óbvio que os dois devem estar percebendo – e gostando – do assanhamento com que a mídia demotucana nacional vem tratando as suas supostas candidaturas. Nenhum dos dois repudia esse “apoio”, nenhum dos dois denuncia os tucanos como opositores, os dois flertam com a direita em nome de um projeto de poder. Nesse quesito, não se diferenciam em nada de nenhuma das alianças que parecem criticar no âmbito do Governo Federal.

Não é a hora, ainda, de compararmos as candidaturas que já se apresentam, inclusive a da própria Presidenta. A rigor, não era a hora nem de se apresentarem candidaturas. Mas o que os brasileiros devem fazer é ficar bem atentos à distinção entre aqueles que estão empenhados em dar continuidade às ações sociais que mudaram a cara do país e aqueles que pretendem vender a ideia do caos e/ou vê-lo instaurado entre nós , obcecados que estão em destruir o que foi feito – e que eu ainda acho muito pouco - , em troca da conquista do poder, mesmo que à custa de escancaradas traições...

É esperar para ver como o processo todo se vai desenrolar. Há umas fumaças de golpe no ar, só não as enxerga quem não quer... Não um golpe militar, escancarado, mas subliminar , fruto do conluio de membros do Legislativo e do Judiciário, sempre com as trombetas da mídia hegemônica. Eu acho que já está mais do que na hora de rever-se essa postura política que coloca a governabilidade como dependente de alianças sem compromisso ideológico.

A verdadeira garantia de governabilidade é a do povo nas ruas, exigindo a manutenção de suas conquistas. E os tomates? Ora, esses podem continuar a ser administrados pelos “tomatófilos” de plantão...

*Advogado formado pela UFRJ-RJ (antiga Universidade de Brasil) e professor de Língua Portuguesa do Rio de Janeiro, formado pela UERJ , com atividade em diversas instituições do Rio de Janeiro. Com militância política nos anos da ditadura, particularmente no movimento estudantil. Funcionário aposentado do Banco do Brasil.

ARMADA COLONIAL A CAMINHO DAS MALVINAS




Martinho Júnior, Luanda

1 – Na sequência do “Referendo” realizado recentemente nas Malvinas, um “Referendo” que recolheu a “opção” dos colonos-habitantes do arquipélago sufragada a favor do Reino Unido numa escala acima dos 90%, está-se a proceder ao render da guarda naval britânica na área.

Com efeito, dois navios britânicos vão a caminho das Malvinas: um navio de reabastecimento da classe Rover e o destroyer da classe D-23, o HMS Argyll.

Os navios aparelharam de Davenporth no princípio do ano e estão a fazer a aproximação às Malvinas bordejando a costa ocidental atlântica africana, de Marrocos à África do Sul!

2 – As nações latino americanas não permitem por norma que a armada britânica faça rota de e para as Malvinas bordejando as costas orientais da América: nem a Venezuela, nem o Brasil e muito menos a Argentina, na sequência duma tomada de posição conjunta em relação à colonização das ilhas que, com a presença naval britânica que se arrasta desde a intervenção militar promovida por Margareth Thatcher, tem vindo a contribuir para que as esquadras dos países da NATO penetrem na profundidade do Atlântico Sul até à Antárctida.

Essa posição conjunta considera uma afronta a presença britânica e o “Referendo” uma farsa (limitou-se a recolher as opções dos colonos que lá foram colocados pelo império britânico ao longo de várias gerações de forma a legitimar a ocupação contrariando toda a América Latina).

3 – A armada colonial britânica que segue em direcção às Malvinas poderia discretamente fazer a rota utilizando as ilhas do império no eixo do Atlântico: Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha, que aliás foram utilizadas como centros logísticos “catapultas” na guerra das Malvinas…

As ilhas contudo, se possuem um inestimável valor geoestratégico para o império, não possuem relevância geopolítica para os interesses conjugados dos ocidentais e assim a armada, correspondendo a esses últimos interesses, tem vindo a optar pela rota da costa ocidental africana, a fim de multiplicar as “missões”, as influências e as conveniências junto dos desamparados governos africanos.

As “ementas” do percurso encaixam perfeitamente quer nos objectivos do AFRICOM, quer no esforço de neocolonização da França nos espaços CEDEAO e no imenso Sahel a que eu tenho vindo a referir: combate à migração ilegal na direcção da Europa, combate ao tráfico de drogas, combate à pirataria e por fim, visitas de cortesia que levam a bandeira naval britânica aos portos africanos, entre eles o de Luanda e o da cidade do Cabo!

4 – À medida que fez a sua progressão de norte para sul assim a armada colonial britânica que vai a caminho das Malvinas, foi-se entendendo com outras armadas ocidentais disponíveis do pródigo quadro da NATO e os “parceiros” africanos:

- Combate à migração ilegal em direcção à Europa conjuntamente com Marrocos e a Mauritânia;

- Combate ao tráfico de droga ao largo de Cabo Verde envolvendo forças de onze países;

- Combate à pirataria no Golfo da Guiné com apoios no Gana, na Costa do Marfim, na Nigéria e em Angola, tendo como referências os arquipélagos da Guiné Equatorial e de São Tomé e Príncipe;

- Representação naval nos países da corrente fria de Benguela – Angola, Namíbia e África do Sul!

5 – A armada colonial britânica escalou Luanda entre os dias 29 de Abril e 1 de Maio, tendo recebido visitas das entidades oficiais angolanas e “trocado experiências” (?) com a Marinha de Guerra de Angola…

Na altura alguns eventos no quadro dos relacionamentos bilaterais foram ocorrendo, aproveitando as políticas de capitalismo neo liberal em curso, ou seja de portas abertas nos países-alvo (Angola é um dos principais em África), de forma a criar mais incentivos ainda a uma globalização que dá azo a neo colonialismo, ao campo de manobra de mercenários e às mais variadas ingerências.

6 – O alvoroço da publicidade que mereceram essas missões, com as ementas forjadas ao bom estilo do AFRICOM, visa veladamente entre outras coisas “defender” os países africanos de eventuais pressões latino americanas e, com isso, contribuir para que as posições africanas, pelo menos em relação ao caso colonial das Malvinas, não sejam comuns às da América Latina!

Se os espaços CEDEAO e do Sahel correspondem à coutada “FrançAfrique”, na profundidade do Atlântico todos os pretextos são úteis para o exercício da colonização nos mares, uma fórmula “moderna” de branquear a verdadeira missão da esquadra colonial de Sua Majestade Britânica nas Malvinas… só os africanos não só parece não o quererem ver, como também, nas opções seguidas com esse tipo de “parcerias”, se colocam docilmente numa posição submissa, subalterna, mercenária e dependente.

O hemisfério sul fica assim dividido:

- Dum lado (América Latina) aqueles que apesar das contrariedades se abrem à luta contra o capitalismo neoliberal na América Latina, perseguindo objectivos de integração, independência e soberania (margem oeste do Atlântico);

- Do outro (África) aqueles que se abrem às políticas do capitalismo neoliberal e vão-se vergando ao domínio avassalador duma hegemonia que os conduz aos expedientes neo coloniais (margem leste do Atlântico).

7 – É evidente também que com estas manobras as frotas ocidentais, que nunca levaram por exemplo em conta a necessidade dos países africanos defenderem as suas costas da pirataria das frotas pesqueiras de longo curso, entre elas as próprias frotas pesqueiras ocidentais (com a espanhola à cabeça), pretendem “marcar” uma zona nevrálgica para a exploração petrolífera e de gás, que tem, tal como nas Malvinas, no Golfo da Guiné o seu fulcro geoestratégico.

As linhas de fundo da geoestratégia nos mares confluem, comprometem-se e complementam-se com as linhas de fundo da geoestratégia em terra, no interior profundo de África.

O verdadeiro motivo da algazarra de tantos “combates” e “representações” são as riquezas africanas, no mar e em terra, em especial as riquezas energéticas, os seus acessos e as rotas dos petroleiros que levam o bruto para os maiores centros de consumo!

Em 1982, quando se travou a guerra das Malvinas, Margaret Thatcher, é isso que os africanos “esqueceram”, era uma fervorosa aliada de Augusto Pinochet e do regime racista sul africano, isto é, uma feroz opositora ao movimento de libertação em África!

Se hoje a armada britânica se move em direcção às Malvinas, necessário se torna lembrá-lo àqueles que teimam em apagar a história e os reflexos dela nos tempos que correm!

Margareth Thatcher, promotora da guerra das Malvinas à sombra da qual se move ainda hoje a armada colonial britânica no Atlântico Sul, para os países do Sul não foi assim tanto uma “dama de ferro”, foi-o isso sim uma incontornável “dama do petróleo” e um dos primeiros grandes estímulos às políticas neoliberais de hoje!


A consultar:
- THATCHER MORREU COMO A MÃE DO 1% E A MADRASTA DOS 99% - http://paginaglobal.blogspot.com/2013/04/thatcher-morreu-como-mae-do-1-e.html
- Guerra das Malvinas, o desfecho da ditadura mais sangrenta da América Latina – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/guerra-das-malvinas-o-desfecho-da.html
- HMS Argyll begins her West Africa and South Atlantic tour – http://en.mercopress.com/2013/02/19/hms-argyll-begins-her-west-africa-and-south-atlantic-tour
- Saharan Express 2013 Concludes in Senegal – http://www.navy.mil/submit/display.asp?story_id=72743

Guatemala: SUSPENSO JULGAMENTO DE GENERAL GENOCIDA




Mário Augusto Jakobskind* - Direto da Redação

Na Guatemala aconteceu nestes dias um fato que depõe contra os governantes do país centro americano e envergonha a humanidade. Um ditador sanguinário, o general Efraín Ríos Montt,  estava sendo julgado por crimes de genocídio. Ele é acusado pela Promotoria de Justiça de 15 massacres que resultaram em 1771 mortes de homens, mulheres, crianças e anciãos.

Além de Ríos Montt estava no banco dos réus também o chefe da inteligência militar, General José Maurício Rodriguez. Tudo parecia indicar que finalmente seria feita justiça, com a condenação do ex-ditador e seu colaborador.

Testemunhas, inclusive de muitos sobreviventes de massacres, estavam confirmando em juízo o que tinha sido praticado em matéria de crimes de lesa humanidade de responsabilidade de Ríos Montt, um ditador que contou com total apoio de sucessivos governos estadunidenses.

Pois bem, na última hora, oficialmente, um tribunal de apelações decidiu suspender o julgamento sob a alegação de “motivos técnicos”.

Mas a verdade é completamente outra e provavelmente não será divulgada pelos meios de comunicação de mercado.

Segundo denúncias de entidades defensoras dos direitos humanos e de alguns corajosos jornalistas, a suspensão não se deveu a uma decisão jurídica de “caráter técnico”, como alegam as autoridades, mas sim pelas ameaças de morte feitas por militares contra testemunhas e mesmo ao corpo de jurados. Soma-se a isso, a pressão velada e secreta exercida pelo atual Presidente, o general da reserva Fernando Otto Pérez Molina , para contentar os militares protetores de Ríos Montt. O jornalista estadunidense Allan Naim, que seria testemunha no processo, acusou diretamente o presidente guatemalteco de pressionar a Justiça.

Com isso, o genocídio comprovado continurá impune. Tal decisão é comparável a se a justiça decidisse suspender, quando iniciado, o histórico julgamento de Nuremberg contra os assassinos do III Reich nazista.

Seja onde acontecem, ou aconteceram, crimes contra a humanidade não podem ficar impunes e ainda por cima com julgamento suspenso por pressões de quem quer que seja.

Vale então uma pergunta que não quer calar: o que fazem neste caso governos que a todo momento desfraldam a bandeira de defesa dos direitos humanos como o de países que nos últimos anos promoveram até invasões e ocupações de nações tendo como pretexto a defesa dos direitos humanos, as chamadas “intervenções humanitárias”?

Nesse sentido, vale lembrar que transcorreu em quase total silêncio o segundo aniversário do início da invasão da Líbia pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Na época, a mídia de mercado e os colunistas de sempre denunciavam violações de direitos humanos e tudo mais cometidos pelo regime derrocado.

Hoje, o país norte-africano, com um governo imposto pela OTAN, sofre as agruras de milícias que promovem limpeza étnica em algumas cidades, como em Tawergha, segundo denúncias.

Um quadro, portanto, totalmente diferente de dois anos atrás, quando a mídia de mercado diariamente fazia intensa carga contra Muammar Khadafi por violações dos direitos humanos, que serviram de pretexto para a “intervenção humanitária”. Agora, as violações dos direitos humanos são constantes e totalmente ignoradas.

No mesmo contexto das justificativas como o da Líbia, o governo conservador de Mariano Rajoy autorizou 500 marines estadunidenses a utilizarem o território espanhol para a agirem através de uma “força de intervenção rápida”, bem como o deslocamento de oito aviões militares de última safra da indústria armamentista.

Instalados na base de Moron, na fronteira espanhola , o objetivo dos marines seria uma eventual intervenção norte-americana na Argélia em caso de necessidade para assegurar a exploração de recursos naturais como gás e petróleo.

O que chamou atenção também foi a rapidez como Rajoy decidiu fazer a concessão, levando os analistas a prever uma iminente invasão da Argélia.

Em suma, assim caminha hoje a humanidade sob aplausos da indústria armamentista da morte, que lucra horrores em várias partes do mundo que se encontram sob estado de tensão.

Em tempo: A Justiça guatemalteca acatou o pedido de retomada do julgamento do ex-ditador Rios Montt, que deverá acontecer nesta quinta-feira(2). Espera-se que, finalmene, os jurados tomem uma decisão, embora se saiba que a pressão dos militares aliados de Montt vai continuar.

*É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

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