sábado, 11 de abril de 2015

OBAMA E CASTRO PROMOVEM ENCONTRO HISTÓRICO NO PANAMÁ




No primeiro encontro em mais de 50 anos, presidentes do EUA e de Cuba mostram estar abertos à reconciliação. Conversa simboliza mudança nas relações políticas entre as duas nações.

Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, se reuniram neste sábado (11/04) paralelamente à agenda oficial da 7ª Cúpula das Américas, no Panamá, e mostraram vontade em melhorar as relações diplomáticas entre os países, após décadas de hostilidade.

No primeiro encontro entre um líder dos EUA e um de Cuba desde 1956, Obama agradeceu Castro por seu "espírito de abertura". O presidente cubano, por sua vez, salientou que as negociações entre Washington e Havana irão exigir paciência.

"Esse é obviamente um encontro histórico", declarou Obama. O presidente americano disse que os dois países podem acabar com o antagonismo da Guerra Fria e acrescentou que após 50 anos de políticas que não funcionaram era "hora para tentarmos algo novo".
"Nós estamos agora em condições de seguir em caminho para o futuro", reforçou Obama, acrescentando que a maioria dos americanos e cubanos considera positiva a normalização das relações diplomáticas entre os países.

Castro, por sua vez, afirmou que concorda plenamente com líder americano e ressaltou que mesmo que os dois governos ainda tenham diferenças, há respeito às "ideias dos outros". O líder cubano lembrou também que é preciso ter paciência nesse momento. "Estamos dispostos a debater sobre tudo, mas nos precisamos ser pacientes, muito pacientes", disse.

Divergências continuam

Ambos os presidentes, no entanto, reconheceram que continuarão havendo divergências entre seus governos. Obama citou, por exemplo, a situação dos direitos humanos em Cuba. Em contrapartida, Castro pediu novamente o fim do embargo americano à ilha.

"Eu acho que não é segredo e tenho certeza que o presidente Castro concordará que diferenças significativas continuarão existindo entre os dois países", afirmou Obama.

A esperada reunião aconteceu em uma pequena sala no centro de convenções, que sedia a Cúpula das Américas. Momentos antes do encontro histórico, ambos os líderes trocaram gentilezas durante seus discursos na sessão plenária da Cúpula.

Essa foi a primeira vez que líderes dos dois países se encontraram em mais de 50 anos e simboliza a mudança nas relações políticas entre as duas nações. Cuba e EUA estão com as relações rompidas desde 1961. A reunião de Obama e Castro é mais um importante passo para avançar a reaproximação entre Washington e Havana, iniciada em dezembro de 2014.

CN/rtr/afp/efe – Deutsche Welle

"Obama é um homem honesto", diz Castro

Presidentes dos EUA e de Cuba trocam gentilezas durante seus discursos na 7ª Cúpula das Américas, no Panamá. Líder americano afirma que reaproximação dos países abre "nova era" no continente.

Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, discursaram neste sábado (11/04) durante a sessão plenária da 7ª Cúpula das Américas, no Panamá. Os líderes trocaram palavras gentis antes do encontro histórico entre os dois países.

O primeiro a falar foi Obama que declarou que as mudanças na política entre Washington e Havana abrem uma "nova era no Hemisfério". O presidente reforçou que seu país "não será prisioneiro do passado" e garantiu ainda que, apesar das diferenças, o diálogo entre Cuba e EUA irá continuar.

"A guerra fria terminou. Eu não estou interessado em disputas que, francamente, começaram antes de eu nascer", afirmou Obama, acrescentando que procura "resolver os problemas" trabalhando e cooperando com toda região.

Ainda, segundo Obama, a mudança política em relação a Cuba aprofunda o compromisso americano com toda a região. O presidente declarou também que, desde que chegou a Casa Branca em 2009, vem mantendo relações de parceria e igualdade com o continente.
Sem interesse em intervenções.

Obama aproveitou ainda seu discurso para responder as críticas do presidente equatoriano, Rafael Correa, que minutos antes havia dito em plenária que os EUA continuavam a intervir "ilegalmente" na América Latina e pediu a "segunda independência da região".

Correa citou como exemplos para o intervencionismo americano a ordem executiva de Obama que declarou a Venezuela com uma "ameaça" e o pedido de funcionários americanos de recursos para "defender a liberdade de expressão" em Cuba, Venezuela, Equador e Nicarágua.

O líder americano admitiu que no passado nem sempre as políticas americanas de direitos humanos foram acertadas, mas hoje seu país não tem interesse em "intervenção". Obama disse a denúncia em determinadas situações consideradas injustas ocorre porque é considerada "correta".

"Admiro sua origem humilde"

Após a fala de Obama, a palavra foi passada a Raúl Castro. O anúncio do discurso do líder cubano arrancou aplausos dos presentes. "Já era hora de eu falar aqui em nome de Cuba", iniciou o presidente do país que participa pela primeira vez da cúpula.

Castro ultrapassou bastante os oito minutos estipulados para cada presidente. Durante pouco mais de 40 minutos, o líder cubano isentou Obama da culpa de ações políticas em relação a Cuba tomadas pelos seus dez antecessores e parabenizou o homônimo americano pela iniciativa de reaproximação entre os dois países.

"O presidente Obama é um homem honesto. Eu admiro sua origem humilde e acho que sua natureza se deve a essa origem humilde", disse Castro que também pediu o fim do embargo à ilha e afirmou que consideraria um "passo positivo" uma decisão rápida sobre a retirada de Cuba da lista americana de países que apoiam o terrorismo.

CN/dpa/afp/efe – Deutsche Welle

5 sinais de que os EUA não estão conseguindo superar a crise estrutural capitalista




As especulações com o petróleo, as pressões econômicas sobre a Rússia e a influência geopolítica sobre o Oriente Médio: nada disso tem surtido mais efeito.

Antonio Gelis-Filho –Carta Maior

As últimas semanas trouxeram notícias surpreendentes, mesmo para aqueles acostumados a analisar os eventos geopolíticos. É muito difícil fugir da conclusão de que atingimos uma etapa crítica na transição entre o sistema-mundo capitalista que conhecemos e algo que ainda está por vir. Parece ter expirado o prazo de validade do modelo adotado pelos países ricos para lidar com a crise estrutural que se tornou mais visível a partir de 2008, modelo esse que inclui a criação de dinheiro sem qualquer lastro em riquezas reais, a negação maciça da existência de qualquer problema maior pela mainstream media e a repressão policial crescente como única “política social” para lidar com a crescente pobreza nessas sociedades outrora tão afluentes. Vários são os sinais de que atingimos o “fim do começo” da transição.

1. Desespero norte-americano em Lausanne?

Um “acordo para firmar um acordo” foi assinado em Lausanne, Suíça, entre o governo do Irã e o grupo de potências conhecido por P5 1: China, EUA, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha. Na realidade, as dificuldades nas discussões sempre foram entre EUA e Irã. Este último deseja prosseguir com seu programa nuclear que alega ter finalidades pacíficas. Os EUA há tempos consideram o Irã um dos integrantes do dito “eixo do mal” e exige o fim das atividades nucleares que considera suspeitas. A surpresa vem da análise minuciosa do texto assinado: compreende-se porque o governo de Teerã o celebra como uma vitória. Após anos exigindo e comandando sanções contra o Irã, negando-lhe o benefício de qualquer dúvida, Washington assinou um texto que essencialmente baseia-se em apenas postergar o momento no qual Teerã poderá desenvolver sua bomba se assim o desejar. Não surpreendentemente, o governo de Israel, os republicanos norte-americanos e mesmo alguns democratas já anunciaram sua oposição ao texto e sua recusa em aceitar a assinatura do texto definitivo em três meses. Por que Washington cedeu tanto em Lausanne? Os críticos de Obama argumentam que o presidente teria colocado seu desejo de alcançar um importante resultado diplomático, um “legado” qualquer, acima dos interesses nacionais. Pouco provável. Mais razoável é supor que o governo norte-americano já não tem condições de impor seus interesses no Oriente Médio e busca desesperadamente a aparência de uma vitória diplomática. Chega a ser impressionante que o governo norte-americano tenha assinado um documento, ainda que não definitivo, no qual aparentemente o Irã não terá a obrigação de franquear suas instalações militares aos inspetores internacionais e que cala sobre o reconhecimento de Israel. Tudo isso enquanto EUA apoiam o ataque saudita a grupos iemenitas que por sua vez são apoiados por Teerã. É difícil não perceber nesse acordo uma espécie de fadiga dos Estados Unidos em relação à disputa geopolítica no Oriente Médio.

2. A queda da demanda mundial e o estouro da “bolha do xisto”

Vendido como uma solução “mágica” para o problema de oferta mundial de petróleo, ainda que altamente poluente, o petróleo extraído de depósitos de xisto (“tight oil”) revela-se como mais uma bolha insuflada pela indústria financeira. As denúncias já vinham sendo feitas há tempos, mesmo em publicações de negócios como Forbes (vide o texto “Why shale oil boosters are charlatans in disguise”, publicado em janeiro de 2014). Com a queda mundial da demanda econômica, que pode ser vista, por exemplo, em um preço muito baixo para o frete marítimo, o preço do petróleo também caiu. Arábia Saudita e Rússia podem ainda lucrar com seu petróleo convencional cujos custos de produção são baixos, mas os altos custos da produção de xisto já cobram seu preço: o número de sondas de perfuração em operação é o mais baixo desde 2011. A inviabilidade do petróleo do xisto como alternativa ao petróleo convencional ficou clara nesse evento. E muito da esperança norte-americana de uma recuperação real de sua economia e de seu poder geopolítico baseava-se nisso.

3. Mais uma “recuperação espetacular” da economia norte-americana vira pó em semanas

Em
dezembro de 2014 jornais do mundo inteiro publicaram a notícia de que a economia norte-americana vinha crescendo a taxas anualizadas de 4% (alguns diziam 5%). Comentaristas eufóricos explicavam que finalmente a economia dos EUA tinha saído da crise, que seu crescimento seria saudável e sustentado. Previa-se um 2015 róseo para a economia norte-americana. Para quem segue os eventos internacionais, entretanto, parecia apenas a manifestação de um ritual semestral que se repete desde a crise de 2008: alguns indicadores econômicos positivos isolados são analisados fora de seu contexto maior, análises estridentemente eufóricas são publicadas na mídia e meses depois, quando a “recuperação” mostra-se inexistente, todos se esquecem do assunto. Esta vez, porém, parece ter sido a gota d’água: escrevendo no excitável Financial Times, o comentarista Gavyn Davies recentemente (29/03/2015) afirmou que as expectativas otimistas do Banco Central dos EUA (Federal Reserve) para 2015  já estavam sendo desmentidas pelos dados reais.  Quem ainda acreditará quando The Economist e Wall Street Journal anunciarem novamente o fim da “recessão”? A verdade, dura e incontornável, é que não há recuperação econômica real à vista, seja nos EUA, na Europa ou no Japão.

4. A criação do AIIB e o vexame público de Washington

O AIIB - abreviatura em inglês de Banco da Ásia para Investimento em Infraestrutura - era uma proposta do governo da China lançada no final de 2013 para contornar as limitações encontradas pelo país asiático em instituições lideradas pelo ocidente, tais como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Banco para o Desenvolvimento da Ásia. Com sede em Beijing, a proposta sempre foi resistida pelos Estados Unidos. Finalmente lançado em outubro de 2014, o banco atraiu países asiáticos com grandes economias, tais como Índia e Indonésia. Mas a grande surpresa viria em março de 2015: a despeito das ressalvas públicas feitas por Washington à instituição, países tradicionalmente aliados aos EUA, como Reino Unido, Austrália, Coreia do Sul, Alemanha, França e até Taiwan submeteram ou decidiram submeter suas candidaturas a membros do banco. Até mesmo o ex-Secretário do Tesouro dos EUA, Larry Summers, publicou um texto em seu blog afirmando que “o mês passado [março de 2015] pode ser lembrado como o momento no qual os Estados Unidos perderam sua posição de garantidores do sistema econômico mundial”, em grande parte baseando sua análise nos eventos que cercaram a criação do banco.

5. E a economia da Rússia não entrou em colapso

Esquecida
pela mídia ocidental, a guerra econômica contra a Rússia parece ter fracassado. O rublo continua existindo e o governo de Moscou não mostra qualquer sinal do enfraquecimento tão sonhado pelo ocidente. A situação na Ucrânia, cuja integração à União Europeia parece ter desaparecido da pauta de discussões em Bruxelas, evolui para uma verdadeira guerra interna pelo poder, onde “oligarca devora oligarca”. O leste do país tornou-se de fato independente. A histeria ocidental anti-Rússia parece ter consumido seu combustível, ao menos por enquanto.  Com isso, mais uma trapalhada geopolítica ocidental perde fôlego, embora a proximidade de eleições em países europeus importantes sugira que políticos desesperados possam pensar em ações desesperadas.

O fim do começo é também o fim do período pós-crise de 2008 durante o qual os governos ocidentais acreditavam em sua capacidade de recuperação. A próxima etapa será, salvo surpresas, a de uma difícil negociação com suas populações, que finalmente começam a entender que o passado não retornará, que os níveis de vida pré-2008 foram embora para sempre e que o futuro não será mais o que costumava ser. Desnecessário dizer, esses serão momentos de extraordinário risco, de grandes oportunidades e de permanente surpresa para todos que vivem nestes tempos tão intensos.


Créditos da foto: The White House / Flickr

MANIFESTAÇÕES EM CABINDA? SÓ SE FOREM A FAVOR DO REGIME




Três activistas dos direitos humanos foram hoje detidos em Cabinda, antes da anunciada manifestação que visava precisamente exigir a libertação de outros dois elementos, detidos há quase um mês e que se encontram muito doentes.

Mais uma vez verificou-se a presença de um forte dispositivo policial, com apoio militar, nas ruas de Cabinda relacionado com o anúncio desta manifestação por um grupo de membros da sociedade civil local.

“Muita polícia, como era de esperar, na cidade. Como alguém dizia há pouco, o céu de Cabinda está todo nebuloso”, revelou o também activista dos direitos humanos Raul Tati que, como outros, também já sentiu no corpo a prisão por tentar alertar o regime de Eduardo dos Santos para os problemas de Cabinda.

Os promotores do protesto pretendiam exigir a libertação do activista dos direitos humanos José Marcos Mavungo e do advogado Arão Bula Tempo, presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados de Angola, ambos detidos em Cabinda e indiciados, mas ainda sem acusação formal, por alegados crimes contra a segurança do Estado.

Para o dia em que foram detidos, 14 de Março, estava convocada uma outra marcha de protesto contra a má governação de Cabinda e a violação dos direitos humanos na província.

À semelhança dessa tentativa, a manifestação de hoje acabou por não se realizar. Não tinha sido autorizada pelo Governo de Cabinda o que levou a organização a suspender a mesma para “evitar novas detenções”. Refira-se que manifestações autorizadas só são as que se destinam a apoiar o regime, sempre patrocinadas pelo MPLA.

“Isso não foi suficiente porque à noite [sexta-feira] a polícia foi à casa destes três activistas e levou-os, ainda não sabemos porquê. Um deles foi solto entretanto, os outros dois só deverão ser ouvidos pelo procurador na segunda-feira”, conta Raul Tati.

Também a partir de Cabinda, Adolfina Mavungo, mulher do activista José Marcos Mavungo, conta o que se passou: “Muita polícia na rua, com barreiras na estrada, e muito medo. Prenderam três pessoas e a manifestação não saiu, também não havia muita gente”, disse, reafirmando a “preocupação” com o estado de saúde do marido.

José Marcos Mavungo está indiciado do crime de rebelião e o advogado Arão Tempo é suspeito de colaboração com um estrangeiro (também detido) contra o Estado angolano.

Ambos já apresentam vários problemas de saúde, com José Marcos Mavungo, de 56 anos, internado desde esta semana mas ainda sob detenção, na unidade de cuidados intensivos do hospital de Cabinda, com problemas cardíacos, de acordo com informação confirmada pela mulher.

Arão Tempo, de 52 anos e que, além de advogado, é activista dos direitos humanos, foi assistido na quinta-feira no hospital local, devido a problemas de hipertensão, e regressou ao estabelecimento prisional, aguardando igualmente julgamento.

A situação em Cabinda, território anexado em 1975 por Angola, continua grave. Hoje, repetindo a estratégia usada sempre que alguém se quer manifestar, as Forças Armadas, a Policia Nacional e os Serviços de Inteligência, foram mobilizados para mostrar que, afinal, todos são culpados até prova em contrário. Num Estado de Direito, que Angola não é, seria exactamente o contrário.

Mais uma vez o Governo de Angola entendeu que uma manifestação para denunciar o que se passa em Cabinda se enquadra nos crimes contra a segurança do Estado.

Os polícias não exibem nenhum mandato judicial e alegam que os activistas não estão detidos. O que é certo é que estão privados de liberdade.

Privados da liberdade não significa presos. Significa, na terminologia ditatorial do regime, estarem em retiro de educação patriótica.

Note-se que outros cidadãos de Cabinda estão a ser pressionados pelas autoridades: o jornalista José Manuel, é um deles. O correspondente da Voz da América em Cabinda foi intimado e intimidado ao telefone pelas autoridades a comparecer na sede da investigação criminal, mas o jornalista recusou-se, alegando ”inexistência de notificação por escrito”.

A situação é de extrema gravidade pois, cada vez mais, Cabinda vive num estado de neocolonialismo. Os cabindas não têm direito de expressão. Para sobreviver têm de estar caladinhos e nem pecar em pensamento.

Folha 8 (ao)

Leia mais em Folha 8
Higino Carneiro mente
Cabinda, Timor, Kosovo

Angola. UM DEBATE DEMOCRÁTICO



Jornal de Angola, editorial

A nossa democracia tem força e vitalidade, a julgar pelos debates dos últimos dias sobre o documento final que vai reger o registo eleitoral em Angola, numa altura em que estamos a dois anos da realização das quartas eleições gerais da História do nosso país. Desde o ano de 1992, quando foram realizadas as primeiras eleições livres, democráticas, o processo de democratização não parou, independentemente de tentativas para a subversão.

Nem os anos de conflito conseguiram apagar a chama da democracia, atendendo que a cada ano os actores políticos aperfeiçoam o convívio democrático e ganham consciência de que a convivência na diferença é uma condição vantajosa. Na diferença acabamos por enriquecer a democracia e, mais importante, contribuímos todos para construir os anti-corpos que ameaçam os ganhos e valores do Estado Democrático de Direito.

A diferença de pensamento está consagrada constitucionalmente e deve ser encarada como um trunfo, um bem e não um fardo. Não são as diferenças que destroem o convívio entre angolanos, mas a ausência de concertação, da busca de consensos, de cedências e de concessões que, felizmente, os nossos actores políticos têm sabido exercitar com mestria.

Como tinha alertado o Presidente da Assembleia Nacional, quando intervinha na cerimónia de cumprimentos de fim de ano, na Casa das Leis, “às vezes temos tido algumas discussões acaloradas e alguns deputados assustam-se. Dificilmente, nós vamos ter sempre as mesmas ideias. O importante é haver uma discussão aberta, franca, transparente”. Num discurso pedagógico, Fernando Dias dos Santos incentivava assim o debate, mas sobretudo lembrava que o futuro passava a ser de debate, concertação e conciliação de posições políticas entre os adversários. Democracia tem como fundamento este importante dado que em Angola ganha peso todos os dias, particularmente na Casa das Leis.

Como qualquer processo democrático, em que os actores políticos assumem as responsabilidades, o debate político dos últimos dias desmente todos quantos vendem a imagem de falta de democracia em Angola. E contrariamente à ideia de que a maioria parlamentar, detida pelo partido no poder, contribui supostamente para o esvaziamento do debate, os acesos debates nas comissões de especialidade contrariam tudo isso.

Depois das dificuldades que resultaram da interpretação do artigo 107º da Constituição, cujos dois números abordam o registo eleitoral, quinta-feira as propostas ganharam relevo com o contributo vindo de todas as formações políticas. A busca de soluções técnicas para a elaboração, discussão e aprovação do documento do Registo Eleitoral tem a mão de todos, não sendo verdade a ideia criada em torno de uma alegada “investida” por parte da maioria parlamentar. Um dos factos notáveis e que marcam os debates, independentemente da maioria parlamentar, tem sido as concessões e cedências de parte a parte, uma realidade que enobrece o nosso processo de democratização. Perdem todos aqueles que se furtam ao debate, optam por palcos estrangeiros, redes sociais e círculos onde o vale tudo se impõe como regra de jogo. O jogo democrático em Angola já ganhou espaço e relevância que não se compatibilizam, hoje, com manobras de diversão para colocá-lo em causa e o rejeitarem.

Acreditamos que os representantes das formações políticas vão ser bem sucedidos na discussão sobre o diploma que vai regular o registo eleitoral. É preciso que os deputados, dignos representantes do povo que os elegeu, estejam à altura dos desafios colocados na hora da aprovação da futura lei eleitoral e ultrapassem as diferenças políticas. Angola e os interesses dos angolanos devem estar acima das estratégias partidárias para que as atribuições da Administração Pública e da Comissão Nacional Eleitoral fiquem consensualmente alinhavadas. Depois de aprovada, como todas as indicações assim o demonstram, não há dúvidas de que a proposta de lei vai acolher contributos de todos e tornar-se uma lei acolhida por todos.

Afinal, é para isso que o voto popular confiou aos deputados o mandato na Assembleia Nacional, na certeza de que as escolhas foram muito bem feitas e que decisões certas sejam tomadas.

As instituições democráticas sobreviveram ao caos imposto e constituem, hoje, os trunfos que colocam Angola entre as democracias estáveis do continente africano. Hoje, as discussões acaloradas sobre o diploma da lei eleitoral comprovam o que muitos sectores há muito defendem, que a nossa democracia se fortalece quanto maior for o nível de amadurecimento da nossa classe política. 

Angola. VIAGENS À CHINA ESTÃO FACILITADAS




Os angolanos e chineses ficam, a partir de hoje, isentos de vistos nos passaportes diplomáticos e de serviço.

De acordo com um comunicado de imprensa da Embaixada de Angola naquele país asiático, a decisão tem como base o acordo assinado entre o Executivo e o Governo da República Popular da China sobre a isenção recíproca de vistos para titulares de passaportes diplomáticos e de serviço, assinado em Luanda, em Maio de 2014.

O acordo é um instrumento que visa facilitar a circulação dos portadores dos passaportes oficiais. Segundo o documento, o entendimento visa consolidar e fortalecer as relações de amizade entre os dois países, facilitando a circulação de determinadas personalidades, no sentido de contribuir para o relançamento da cooperação aos mais diversos níveis.

O acordo aplica-se aos cidadãos de ambas as partes, portadores de passaportes diplomáticos ou de serviço válidos que desejam entrar, sair ou em trânsito, através do território da outra parte, por um período de permanência não superior a 30 dias, a contar da data de sua entrada.

Angola e a China estabeleceram relações diplomáticas em 1983, mas a cooperação bilateral aumentou particularmente após o fim da guerra, em 2002. As trocas comerciais atingiram mais de 37 mil milhões de dólares em 2014. Os dois países estão mobilizados na consolidação da parceria estratégica.


A PROPÓSITO DO KUITO KUANAVALE – IV



Martinho Júnior, Luanda (ver textos anteriores)

9 – Ao se comemorar este ano a vitória do Kuito Kuanavale, especial atenção têm prestado os angolanos ao triângulo do Tumpo, o dispositivo defensivo onde se atolaram as unidades das SADF/FALA, que foram travadas na tentativa de tomar aquela localidade estratégica.

É evidente que, sendo legítimo realçar o imenso esforço realizado no triângulo de Tumpo, não se pode nem se deve alhear os vasos comunicantes estabelecidos numa longa frente que se espraiava para oeste, fortalecida sobretudo até ao rio Cunene, que integrava dispositivos sincronizados de angolanos, cubanos e namibianos.

A batalha do Kuito Kuanavale só pode e só se deve estudar no seu âmbito mais alargado e, ao se estruturar por parcelas os argumentos, conforme fizeram este ano o Jornal de Angola, a ANGOP e outros, só favorece os pontos de vista dos que afinal foram derrotados, assim como de todos os projectos que eles tinham para a África Austral e para Angola: a construção duma constelação de“bantustões” que seriam à imagem e semelhança do “grande bantustão” que já existia no Zaíre sob os governos de Mobutu, onde a “autenticité” já o assumia explicitamente, ou do “bantustão” a “céu aberto” da Jamba, amparado pelas bases das SADF/SWATF instaladas na faixa do Caprivi.

Servia também ao “apartheid” tanto o arreigado “maoismo”, como a cultura ultra conservadora“cristã” de Savimbi, que na prática acabava por se traduzir efectivamente por um etno-nacionalismo (conforme considera René Pélissier), tão estreito, tão estreito, que teve uma implicação directa entre o seu poder (cada vez mais despótico) e a massa camponesa, meio analfabeta, meio alienada, meio motivada por razões étnicas, que lhe alimentava a guerrilha da UNITA (pode-se constatar na radiografia que Dora Fonte fez no seu depoimento esclarecedor sobre os militares, sobre a JURA e as crianças-soldado que compunham a mobilização das FALA, em “O rapto”).

De facto o poder despótico de Savimbi, que se foi acentuando ao longo de sua vida e sua trajectória, inibia-o a ele de atrair outros grupos sociais fora do campesinato nas condições que ele se dispunha e em estrito compromisso com a sua causa e isso revelar-se-ia duramente, quando ele mais tarde se decidiu pela “guerra dos diamantes de sangue”, conforme à ideologia que criou (constate-se a“encomenda” elaborada com Atsutsé Kokouvi Agbobli,  em “Jonas Savimbi, Combats pour l’Afrique et la democratie”).

As personalidades de Savimbi, de Alexandre Tati e de Daniel Chipenda, como a de Afonso Dlakama em Moçambique, encaixam no perfil pouco conhecido de elementos que poderiam ter sido aliciados pela “Aginter Press”, uma plataforma formada pela CIA e a PIDE/DGS em Portugal, que teve poderosos braços actuantes em África, em reforço primeiro do colonialismo do Estado Novo, posteriormente do “apartheid”, algo que ainda é menos conhecido, mas não se pode perder de vista tendo em conta as experiências da Rodésia de Ian Smith, de Moçambique e de Angola.

Entre as acções que se são apontadas à “Aginter Press” estão o assassinato de Eduardo Mondlane (3 de fevereiro de 1969) líder da FRELIMO e de Amílcar Cabral (20 de janeiro de 1973) líder do PAIGC, para além do assassinato do General Humberto Delgado (13 de fevereiro de 1965).

O Chefe de Brigada da PIDE/DGS, Casimiro Monteiro, um dos assassinos do General Humberto Delgado, é indicado pelo seu antigo colega, Inspector Óscar Piçarra Cardoso, como pertencente à“Aginter Press”…

O ELP, o MDLP, o Movimento Maria da Fonte, o FRA e o ESINA, poderão ter sido organizações portuguesas formadas em parte por operacionais que também haviam integrado os vínculos que estavam na origem da “Aginter Press” (redes Gládio, “stay behind” da NATO), após o 25 de abril de 1974, pelo que, personalidades operacionais como o Sub Director da PIDE/DGS Barbieri Cardoso (chefe do ELP), o Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa Alpoim Galvão (que foi chefe dos bombistas do MDLP), o Coronel Santos e Castro (que participou do lado da CIA na batalha de Kifangondo), o Major Comando Alves Cardoso, o Sargento da PIDE/DGS perito em explosivos, Mourão da Costa, ou o Inspector da PIDE/DGS Óscar Piçarra Cardoso (um dos criadores dos Flechas e assessor de Savimbi do lado das SADF), indiciam ter sido ou foram “homens de mão” dos mesmos vínculos que fomentaram essa organização, tal como teriam sido, cada um a seu modo, os Generais Spínola e Kaulza de Arriaga.

O autor de “Jogos Africanos”, Jaime Nogueira Pinto, é outra das personagens que encaixam esse“modelo” de perfis, tendo criado o FRA e depois funcionado em estreita ligação e apoio a Savimbi e a Afonso Dlakama, derivando agora, depois de 2002, na ligação a alguns Generais angolanos, com interesses recíprocos pelo menos em negócios, como por exemplo o General N’Dalu…

No seu livro “Jogos Africanos”, Jaime Nogueira Pinto fornece algumas pistas em relação à sua assiduidade em relação ao “Le Cercle”, nomeadamente em relação a uma entidade ao nível de Franz Joseph Strauss…

Outro dos “homens de mão” dessa organização, poderia ter sido Daniel Roxo, que participou na Operação Savanah contra Angola, integrado nas SADF, tal como o Sargento Mourão da Costa…

A superestrutura doutrinária, ideológica e sócio-política da Gládio, da Loja P-2, das redes “stay behind” da NATO e por tabela da “Aginter Press”, correspondia a um grupo que dava pelo nome de “Le Cercle”, uma iniciativa privada ao nível dos escalões das aristocracias e dos poderes mais proeminentes na Europa e Estados Unidos, que faziam a ponte privada entre um Vaticano pan europeu, ultra conservador e a inteligência anglo americana, onde não só coube o Estado Novo fascista da Concordata com a Santa Sé, mas também os elementos mais conservadores das alas da Igreja Católica e Apostólica Romana, com alguns similares das igrejas protestantes anglo-saxónicas.

Do “Le Cercle” chegaram a fazer parte entidades africanas ao nível de Mobutu, de Savimbi, de Ian Smith, dos Botha, dos Oppenheimer, ou dos Tiny Rowlands, todos eles absorvidos pelas casas aristocráticas dos Rothschields e dos Rockefeller “lobby dos minerais”), pelo menos durante um determinado período de suas vidas e trajectórias…

A outra actividade gerada a partir do “Le Cercle” foi a instauração da mega Operação Condor, na América Latina, com a emergência das ditaduras e o agenciamento das oligarquias nacionais latino americanas que se arreigaram às alas ultra conveniência da Opus Dei e dos Cavaleiros de Malta!...

Savimbi contava também nos Estados Unidos com o apoio da “Cuban American National Foundation”, que tinha a ver com a linha conservadora “cristã” dos tempos de Ronald Regan…

Se na altura a Revolução Cubana não teve capacidade suficiente para, por via da solidariedade e internacionalismo, poder avançar com aliados na América Latina na libertação dos povos (seriam precisas mais duas décadas para que isso começasse a acontecer), em África pôde e soube-o fazer nas décadas de 60, 70 e 80 do século XX, com a aliança com os componentes do Movimento de Libertação representados na CONCP e particularmente em Angola, de que a Operação Carlota e a vitória de Kuito Kuanavale são exemplos!

Foto simbólica da amizade Angola-Cuba, forjada nos momentos mais decisivos do Movimento de Libertação em África.

Artigos anteriores (os dois primeiros publicados em janeiro e o terceiro publicado em março de 2008, no Página Um, a retirados da blogosfera)
- Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – I;
- Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – II;
- Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – III.

Alguns livros
. René Pélissier – “História das campanhas de Angola”; “As campanhas coloniais de Portugal”; “História de Angola”;“O Minotauro”.
. Atsutsé Kokouvi Agbobli – “Jonas Savimbi, Combats pour l’Afrique et la democratie”.
. Dora Fonte – « O rapto ».
. Jaime Nogueira Pinto – « Jogos Africanos ».
  
Da Internet
. René Pélissier : "Falar de cinco séculos de colonização portuguesa é uma burla!" – http://expresso.sapo.pt/rene-pelissier--falar-de-cinco-seculos-de-colonizacao-portuguesa-e-uma-burla=f597300
. Jonas Savimbi – America´s abandoned alied – http://jonas-savimbi.com/4.htm
. Jonas Savimbi: Washington's Freedom Fighter," Africa's "Terrorist"" – http://www.fpif.org/articles/jonas_savimbi_washingtons_freedom_fighter_africas_terrorist
. Conservative Hails Savimbi as 'Great Angolan Patriot' – http://cnsnews.com/news/article/conservative-hails-savimbi-great-angolan-patriot
. Minhas conversas com um antigo oficial do exército da UNITA – http://jaimeazulay.blogspot.com/2012/03/minhas-conversas-com-o-sr-kate-hama.html
. Portugal deixou a PIDE colaborar com o « apartheid » - Óscar Cardoso – http://www.angonoticias.com/Artigos/item/42856/portugal-deixou-a-pide-colaborar-com-apartheid-oscar-cardoso
. A aliança com os colonos – http://kuribeka.com.sapo.pt/aliancacolonos.htm
. Confirmado acordo de tréguas em 1972 entre o exército português e a Unita na guerra de Angola – http://www.publico.pt/politica/noticia/confirmado-acordo-de-treguas-em-1972-entre-o-exercito-portugues-e-a-unita-na-guerra-de-angola-1378779
. A verdade, nada mais que a verdade – Carta de Bela Malaquias, esposa de Eugénio Manuvakola, para Lukamba Gato.
. UNITA pagou abastecimentos com três mil toneladas de marfim – http://jornaldeangola.sapo.ao/reportagem/unita_pagou_abastecimentos_com_tres_mil_toneladas_de_marfim
. O MPLA liderou não só a libertação de África, mas também (nunca se esqueçam) da Europa –http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/o-mpla-liderou-nao-so-libertacao-de.html
. La guerre secrète au Portugal – http://www.voltairenet.org/article169872.html
. A cruzada branca contra comunistas e seus lacaios – http://www.dn.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=619761&page=-1

Portugal - PSP – IGAI. COMO OS BANDIDOS



Fernanda Câncio – Diário de Notícias, opinião

A manifestação/concentração de 14 de novembro de 2012 à frente do parlamento, lembram-se? Foi aquela em que a polícia, de capacete e fato antimotim, esteve a levar com pedras do passeio, arremessadas por meia dúzia de pessoas, durante uma - inexplicável - hora. Ao fim da qual avançou e varreu à bastonada a praça e todas as ruas, circundantes e não circundantes, até ao Cais do Sodré, agrediu dezenas e prendeu outras dezenas de pessoas.

Pois bem: mais de dois anos depois, aliás, dois anos, quatro meses e duas semanas depois, a 1 de abril (adequado, como se verá), soube-se do resultado da averiguação efetuada pela Inspeção-Geral da Administração Interna. E sabemo-lo por um jornal, o Sol, que "teve acesso ao relatório", porque acesso público - por exemplo no site da instituição, onde seria de esperar ver o dito - não existe. Aliás, mesmo para jornalistas, fui informada, só por requerimento e "tem de ir a despacho".

Criada há 20 anos, na sequência da horripilante decapitação de um cidadão no posto da GNR de Sacavém, a IGAI surgiu como a grande esperança de que as forças policiais fossem na sua atuação alvo de fiscalização e formação no sentido de respeitarem a lei - incluindo, naturalmente, os deveres de respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos, razão de ser primeira das polícias. Mas o tempo incompreensível ocorrido desde os acontecimentos até, segundo o Sol, o relatório ficar "disponível" (para quem?) e os excertos reproduzidos esmorecem a expectativa. Diz então a IGAI que houve "abuso de poderes funcionais" por parte dos agentes. Enumera: "empunhar o bastão com o cotovelo acima do ombro" (dando balanço); bater na cabeça (e até na cara, num dos casos reportados pelo relatório); conduções ilegais a esquadra "para identificação"; colocação de pessoas, nem sequer detidas formalmente, em celas; etc. Menciona por exemplo um bombeiro que, indo para o trabalho, foi apanhado na confusão e acabou cinco dias no hospital e uma jovem de 17 anos que diz terem-na obrigado a despir-se integralmente e a pôr-se, nua, de cócoras (fez queixa ao DIAP, que arquivou), entre outros. Conclusão da IGAI: se a conduta dos agentes em causa "mereceria certamente censura e ação disciplinar", como "as caras estavam escondidas pelos capacetes e viseiras" nada se pode fazer. O mesmo quanto às nove pessoas que alegam ter sido agredidas na casa de banho da esquadra do Calvário por "agentes embuçados": "Uma agressão poderia produzir gritos e estes seriam ouvidos pelas muitas pessoas que estavam na esquadra", cita o Sol. Mas "mesmo que houvesse prova, os seus autores não poderiam ser reconhecidos" - estavam embuçados, então. O jornal resume: "Tudo arquivado." Pode acrescentar-se: batam, prendam ilegalmente, torturem, desvirtuem por completo a vossa missão, envergonhem o vosso uniforme, senhores polícias. Desde que ninguém filme e tapem a cara, da IGAI (que também pode pintá-la de preto, já agora) não esperem castigo.

Portugal - PCP. Jerónimo de Sousa acusa Passos de querer uma "Singapura da Europa"




O secretário-geral do PCP acusou hoje o primeiro-ministro de querer transformar Portugal numa "Singapura da Europa", com baixos salários e benefícios fiscais aos grandes grupos empresariais, durante um jantar-comício em Lisboa.

Jerónimo de Sousa, perante uma plateia de sindicalistas, lembrou afirmações de Passos Coelho no Japão, sobre a possibilidade de Portugal se poder tornar o país mais competitivo do Mundo, classificando-as de "farronca ('garganta')".

"'Venham para Portugal, que podemos transformá-lo na Singapura da Europa, através dos baixos salários'", imitou ironicamente o secretário-geral do PCP, elogiando o líder da maioria PSD/CDS-PP pelo "mérito de dizê-lo num sítio apropriado, a Fundação Champalimaud".

Na véspera, o chefe do Governo apontara a redução do custo do trabalho para as empresas como uma reforma por fazer e afirmou que a quer concretizar nos próximos anos, com o apoio da União Europeia (UE), numa conferência sobre investimento em nas instalações daquela fundação lisboeta.

"[Passos Coelho] Dizia que nós temos de reduzir os custos do trabalho nas empresas, a par do alívio fiscal dos grandes grupos económicos e financeiros pela via do abaixamento do IRC", lamentou Jerónimo de Sousa, contrariando com a proposta comunista: "alívio da carga fiscal aos trabalhadores" com o dinheiro que se encontrar, "carregando naqueles que têm sido beneficiados, nos dividendos e lucros que Passos Coelho quer aliviar".

O líder do PCP criticou também "um PS desaparecido em combate, comprometido que estava com as políticas da 'troika'" nos últimos três anos e o anunciado "Plano Nacional de Reformas (PNR)" do executivo.

"PNR, que raio de nome haviam de arranjar (...) para cortar 900 milhões na saúde, mais uns milhões na educação, mais 150 milhões na proteção social", ironizou.

Jerónimo de Sousa congratulou-se ainda com o esforço dos militantes comunistas da Madeira, sublinhando as "condições muito difíceis" em que obtiveram "o maior resultado da sempre da CDU (Coligação Democrática Unitária)" nas recentes eleições e acrescentando que podiam ter conseguido até um terceiro deputado na Assembleia Regional da Madeira, impedindo a maioria absoluta do PSD.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal - Presidenciais. António Costa disse 'sim' a Nóvoa sem dar cavaco ao PS




Alguns membros da direção do Partido Socialista (PS) dizem que António Costa “gere processos de uma forma muito isolada”.

O semanário Expresso dá conta, este sábado, de que António Costa viabilizou a candidatura de Sampaio da Nóvoa às eleições presidenciais sem ter informado o corpo diretivo do partido.

Fontes próximas da direção do PS acusam o agora secretário-geral de ter dado ‘luz verde’ à campanha sem ter avisado. “Formalmente, não fomos avisados”, disse à publicação um membro do Secretariado Nacional do PS.

Um outro dirigente ‘rosa’ acusa António Costa de gerir “estes processos de forma muito isolada”. “Se tiver alguma coisa na cabeça, trabalha para ela, mas não comunica a dizer”, disse, revelando que “se Costa escolheu Nóvoa, não o disse a ninguém”.

Sampaio da Nóvoa parece ter ficado indiferente ao mal-estar criado dentro do partido e mostra-se “totalmente determinado” em avançar com a sua candidatura na corrida a Belém, anúncio que deverá ser feito ainda este mês.

As conversas entre o ex-reitor da Universidade de Lisboa e o ex-autarca da capital têm já acontecido.

Notícias ao Minuto

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Portugal - Presidenciais. António Guterres diz que "não é candidato a ser candidato"




Em entrevista à EuroNews, o antigo primeiro-ministro que tem sido apontado com o 'desejado' para se apresentar a Belém, confirma que ficará de fora.

O candidato desejado pelo PS para entrar na corrida a Belém, acaba de anunciar que ficará de fora. Em entrevista à EuroNews, António Guterres afirma que "não é candidato a ser candidato" às eleições presidenciais do próximo ano, justificando que gosta "mais de fazer é o tipo de função" que tem "atualmente".

"Já me fizeram essa pergunta muitas vezes e eu respondo sempre que não sou candidato a ser candidato. Sempre me interessei pelo serviço público e pretendo continuar a fazê-lo, mas o que gosto mais de fazer é o tipo de função que tenho atualmente, que permite ter uma ação permanente e direta sobre o que se passa no terreno", afirmou o  Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados.

O antigo primeiro-ministro garante que tal "não corresponde a outras funções, que são muito importantes do ponto de vista do equilíbrio de um país, de garantir a sua estabilidade, mas que não permitem a mesma ação diária para ajudar pessoas que precisam dramaticamente de ajuda, do nosso apoio".

Recorde-se que, António Guterres foi primeiro-ministro entre 1995 e 2001, quando deixou o cargo depois de o Partido Socialista ter sido derrotado nas eleições regionais. 

Notícias ao Minuto

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Macau. OS “CHICO-ESPERTOS” E OS MICE



José Rocha Dinis – Tribuna de Macau, opinião

A “Imex Asia Limited”, empresa organizadora de uma exposição de relógios de luxo e jóias que se deveria realizar no início de Maio no Grand Emperor, anunciou o cancelamento do evento.

A expo “Europe Asian Watch, Jewelry & Antique Coins Show”, que também foi apresentada como “Macau watch trade show/Second hand watch” fundada pela negociante de jóias da RAEHK Vincci Tung e o negociante de relógios italiano Stefano Lopez, anunciava-se como uma pechincha para os potenciais exibidores (que eram obrigados a inscreverem-se como membros do grupo Europe Asian) e só pagariam 12.660 dólares de Hong Kong pelos dois dias de negócio (sem direito a acomodação).

As razões para o cancelamento vão da “crise política na China, relacionada com o combate à corrupção” ou o facto dos “governantes chineses” estarem proibidos de entrar nos casinos”, razões que fizeram “torcer a orelha” ao presidente de uma associação local.

Para mim, este é o retrato do total descontrolo existente na denominada indústria dos MICE, que pouco ou nada tem ajudado à diversificação económica de Macau porque está dominada pelos “chico-espertos” de Hong Kong e Zhuhai, com umas figuras europeias para dar um ar internacional.

Desta vez saúde-se que o Governo de Macau não deu dinheiro para tal “exposição”. E parece que o Grand Emperor se arrependeu a tempo…

Macau. “PROBLEMA SÉRIO” DE ILEGAIS NO CAMPUS DA UM




Em apenas 17 segundos, imigrantes ilegais do Interior da China têm conseguido saltar o muro do campus da Universidade de Macau, dificultando o trabalho de fiscalização das autoridades, referiu o Secretário para a Segurança. Wong Sio Chak prometeu aos deputados reforçar as medidas de combate à imigração ilegal na fronteira na Ilha da Montanha

André Jegundo – Tribuna de Macau

O Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, reconheceu ontem a existência de um “problema sério” de imigração ilegal na campus da Universidade de Macau (UM), referindo que o Governo da RAEM tem vindo a reforçar as medidas de combate ao fenómeno. Segundo o responsável governamental, as forças policiais têm dialogado com a reitoria da UM no sentido de “optimizar” as medidas de combate à imigração ilegal apesar das “inúmeras dificuldades que se têm registado”.

Wong Sio Chak referiu existirem problemas estruturais na concepção do campus, nomeadamente na altura insuficiente dos muros que rodeiam a instituição de ensino e que facilitam muito a entrada de ilegais do Interior da China para o recinto da Universidade. “Quis-se evitar a impressão de que se tratava de uma cadeia”, apontou.

Face às fragilidades existentes, e que segundo Wong Sio Chak já começaram a ser corrigidas, os imigrantes ilegais conseguiam passar os muros da fronteira em poucos segundos. “O volume de trabalho para a polícia é muito grande e difícil de gerir porque o que observámos é que os ilegais em 17 segundos conseguiam transpor os muros da fronteira. Os comandantes têm negociado com o reitor da UM a optimização das medidas”, apontou.

O Secretário para a Segurança prometeu que as autoridades vão-se “esforçar para resolver o problema”, referindo que têm existido contactos com as forças policiais do Interior da China onde também tem havido um “reforço do policiamento”. “Vamos reforçar as medidas para o combate da imigração ilegal”, referiu.

O deputado Si Ka Lon manifestou-se preocupado com a existência de “pontos negros” na entrada de clandestinos em Macau desafiando o Secretário para apresentar soluções para o problema, incluindo a introdução de “drones” de vigilância. O deputado lembrou ainda que com a definição das áreas marítimas que ficarão sob jurisdição da RAEM o Governo local terá que reforçar os meios de patrulhamento das zonas costeiras.

Extraditados migrantes africanos

As autoridades da RAEM têm detectado que imigrantes africanos em Macau destroem “os seus documentos de identificação” originais numa tentativa de permanecer no território. O fenómeno foi denunciado pelo Secretário para a Segurança, acrescentando que a situação se tem revelado “difícil de resolver para as autoridades”. “Não podemos deixá-los a vaguear por Macau sem meios de subsistência. Demos instruções para que sejam extraditados o mais rapidamente possível, senão vão constituir um fardo muito pesado”, referiu.

Ampliação complexo presidencial timorense será "integrada mas faseada"




Díli, 10 abr (Lusa) - A ampliação do complexo presidencial de Timor-Leste, cujo custo rondará os 15 milhões de dólares, será implementada de forma "integrada mas faseada", em vários anos, respeitando as limitações orçamentais, disse hoje o responsável da Casa Civil da Presidência.

Fidélis Magalhães falava na apresentação do projeto de ampliação do complexo desenhado por uma empresa de arquitetura portuguesa, a Gonçalo Lencastre Arquitectos, que venceu um concurso internacional.

"Fizemos um planeamento integrado, mas a execução será faseada, com um plano plurianual de 10 ou 20 anos, dependendo da capacidade orçamental", precisou.

Gonçalo Lencastre explicou que a ampliação, num espaço total de oito hectares, visa "dotar a Presidência da República de Timor-Leste de um espaço físico com a dignidade e funcionalidade" necessárias.

Da ampliação fazem parte, entre outros, a nova Residência Presidencial e o Museu da Presidência, bem como a Caserna Militar, a Casa Militar e outros edifícios.

O objetivo, disse, é criar um complexo com "dignidade, estabilidade e sobriedade" que seja "representativo e reconhecível como exemplo da cultura de Timor-Leste, com enfoque na eficiência energética e em espaços com custos de manutenção relativamente baixos.

Francisco Varela, da equipa de arquitetos, destacou a importância da aposta "em espaços verdes, valorizando a importância dos espaços públicos".

Entre os novos espaços destacou o memorial, o museu da Presidência - que terá um acesso independente -, um heliporto, com um caminho de ronda para a vigilância de todo o percurso.

Outra das arquitetas envolvidas no projeto, Cristina Picoto, explicou que todos os edifícios estão 1 metro levantados do chão para evitar inundações, com edifícios só de um piso, sem pretenderem ser "à escala monumental".

Finalmente Carlos Cruz detalhou a "homenagem á paisagem de Timor-Leste e à sua biodiversidade" com vegetação autóctone, o uso de madeira - "pela sua ligação ao tradicional" e a preferência por materiais locais.

Esta ampliação ficará no mesmo complexo onde está o atual Palácio Presidencial Nicolau Lobato, uma oferta do Governo chinês que começou a ser construído em 2005 e foi inaugurado a 27 de agosto de 2009, dias antes do 10.º aniversário do referendo de autodeterminação.

Este edifício substituiu o mítico "Palácio das Cinzas", o edifício que durante a ocupação indonésia tinha acolhido os serviços de polícia e de registo de automóveis (o SAM/SAT), que ficou praticamente destruído na onda de violência de 1999 e que foi inaugurado a 28 de outubro de 2002.

Na altura da inauguração, o então Presidente da República, Xanana Gusmão, disse que a escolha do nome de Palácio das Cinzas era "uma homenagem ao próprio processo" de luta pela independência de Timor-Leste.

"É um apelo à contenção de despesas públicas em rubricas pouco relevantes ou menos urgentes. Se não há uma boa gestão do país, as receitas do petróleo serão uma desgraça", disse na altura.

ASP // JPS

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