sábado, 20 de outubro de 2012

Brasil: O MENSALÃO NÃO DÁ IBOPE

 


Urariano Mota*, Recife – Direto da Redação
 
Recife (PE) - O ex-presidente Lula, que é sábio em política, já havia advertido: “O povo não está preocupado com mensalão, com julgamento lá em Brasília. O povo está preocupado é se o Palmeiras vai cair para a segunda divisão”. Mas não quiseram ouvi-lo. Melhor, os fazedores de opinião – aqueles submergidos na realidade dos jornais e tevês – acharam que tudo não passava de desconversa de Lula, pois desta vez, ó, os petistas e esquerda iam para o buraco, conforme publicavam. Lido engano. É preciso, por um lado, ter paciência com a miopia dos brilhantes da mídia, e por outro, sorrir feliz que tanto errem e insistam no erro, para melhor benefício da gente brasileira.
 
No que se refere ao julgamento de petistas no STF e seu reflexo nas eleições, de novo, o velho jornal confunde opinião pública com opinião publicada. Se os editores olhassem mais críticos para suas “cartas à redação”, veriam a partir delas que as letras saídas nos jornais não são bem a voz da sociedade, porque mais de uma vez as cartas se inventam. As opiniões ali são falsas ou por claro exercício da mentira, ou por seleção rigorosa do que interessa publicar, que é outra forma de invento. Disso os editores até sabem. Digamos, numa concessão à sua inocência, que eles parecem não ver é outra coisa. A saber: a força antiga da imprensa em moldar consciências não se faz mais como antigamente. Como naquele tempo em que a Globo e Folha de São Paulo mudaram o voto popular, ao divulgarem na véspera das urnas montagem do debate Lula e Collor, e dinheiro roubado em fotos de Ali Babá.
 
Há limites que antes não havia. Eles vão da realidade livre da internet, que não obedece às leis do mercado como ocorre na massiva imprensa, mas influencia ainda assim, à realidade mais concreta, de identificação do povo com os políticos que lhe possibilitaram um mínimo de conforto e oportunidades na vida. Sim, o reconhecimento popular àqueles políticos, “bandidos”, estampados nas imagens das primeiras páginas e na tela da televisão. Mas fazer uma análise mais funda desse fenômeno, compor uma explicação científica que decomponha o real das ruas, vai além deste espaço e do talento do colunista. Então falo do que vi esta semana.
 
Nestes dias pude sentir o engano do massacre midiático sobre o julgamento da “quadrilha de petistas”. Na sala de um hospital, enquanto aguardava a hora do atendimento que demorava a chegar, pedi à recepcionista que mudasse o canal da tevê onde passava a telenovela. Então ela sintonizou a Globo News, que exibia momentos do confronto entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski no Supremo Tribunal. Para quê? Algumas senhoras se retiraram da sala, e só um ancião de classe média resmungava contra Lewandowski e aprovava o senso esperto, jornalístico de Joaquim Barbosa. O velho falava e a sua senhora tentava reprimi-lo, em atenção à minha cara de espanto. Mas eis que de repente, no instante em que o apresentador começou as suas doutas explicações sobre os mensaleiros, me ausentei para um telefonema. E para quê? Quando voltei, estava de volta a telenovela. Então foi minha vez de resmungar:
 
- É tudo falso, dos diálogos da novela às caras e bocas do julgamento. É tudo fake.
 
Então foi a minha vez de não interromper a atenção do distinto público, para melhor me guardar para esta tribuna livre, onde comparecemos por dever de consciência. Em resumo, amigos: apesar da parcialidade do STF e de todo o massacre dos jornais, dos líderes de opinião e da tevê, o julgamento político contra o governo Lula teve e tem sobre as eleições efeito zero. “Ô povinho atrasado”, dizem os luminares da classe média. “Ô conversa mole”, responde a gentinha de norte a sul do Brasil.
 
E aqui ligamos por fim as duas pontas, do sábio comentário de Lula às pesquisas que apontam a vitória para os candidatos da base de apoio da presidenta Dilma. O Palmeiras vai mal, mas o povo vai bem, excelências.
 
* É pernambucano, jornalista e autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barret, mulher do cabo Anselmo, executada pela equipe do Delegado Fleury com o auxílio de Anselmo.
 

Timor-Leste: DO DIFERENDO COM A CONOCOPHILLIPS AO LIVRO DE JORGE SAMPAIO

 


PM precisa de incluir advogado timorense no caso ConocoPhillips
 
20 de Outubro de 2012, 05:12
 
Secretário-Geral da Associação dos Advogados de Timor-Leste (AATL), Manuel Tilman disse que, para defender os interesses nacionais, como no caso ConocoPhillips que está contra o Governo timorense, o primeiro-ministro precisa de incluir um advogado timorense nesta equipa jurídica mesmo que o Governo tivesse contratado os advogados internacionais.

"Não podemos subestimar os nossos advogados timorenses através do contrato de advogados internacionais para defender o Governo timorense.

Os advogados internacionais falharam na apresentação dos requisitos para o Tribunal ", disse Tilman.

CJITL

Lasama: Olhe para as consequências do serviço militar obrigatório
 
20 de Outubro de 2012, 05:15
 
Vice-Primeiro Ministro para os Assuntos Sociais, Fernando Lasama de Araújo disse que é importante olhar para as consequências da criação de serviço militar obrigatório.

"Eu acho que além de criar a lei que precisa de olhar para as suas consequências, porque se não se preparar bem ele vai causar muitos problemas", disse Lasama.

Lasama fez os comentários em resposta ao pedido do Comandante Major General Lere Anan Timor, força de defesa dos timorenses (F-FDTL), ao Governo para criar uma lei do serviço militar obrigatório.

CJITL

Discussão sobre o Programa multiuso
 
19 de Outubro de 2012, 16:16
 
O secretário de Estado de Juventude e Desporto (SEJTD), Miguel Manetelo reuniu-se com o vice-Primeiro Ministro, Fernando La Sama de Araújo, no Palácio de Governo, Dili, para discutirem sobre a criação e cordenação do plano multiuso em Timor-Leste.

Até 2017, o secretário já deve ter um plano. O ano de 2013, será para preparar o referido programa, uma vez que só à pouco é que se constitui o V Governo Constitucional.

O Estado irá estabelecer e coordenar em segundo plano a cidade universitária em Akanunu, Hera, do qual já tem um local com uma extensão de 16 hectares, para a construção de um outro edifício.

SAPO TL com Suara Timro Lorosa’e

Estudantes solicitam ajuda ao governo
 
19 de Outubro de 2012, 16:32
 
O grupo Klibur Estudante Moris Terus Queilecai encontrou-se com o Presidente da República, Taur Matan Ruak para pedir apoio às vítimas do desastre natural que aconteceu no sub-distrito Quelecai (Baucau), no Palácio Presidencial em Aitarak-Lan, Dili.

Três pessoas morreram, informa o Suara Timor Lorosa'e.

Este pedido é feito por Armando dos Santos, numa altura em que as chuvas estão a chegar e o apoio é no sentido de reconstruir as casas das vítimas, informa o STL.

O Presidente da República Taur Matan Ruak explicou que tentará falar com o administrador do referido suco a fim de organizar uma ajuda mútua entre as comunidade para que ajude a reconstruir as casas das vítimas.

SAPO TL com Suara Timor Lorosa’e

Discussão sobre o Programa multiuso
 
19 de Outubro de 2012, 16:16
O secretário de Estado de Juventude e Desporto (SEJTD), Miguel Manetelo reuniu-se com o vice-Primeiro Ministro, Fernando La Sama de Araújo, no Palácio de Governo, Dili, para discutirem sobre a criação e cordenação do plano multiuso em Timor-Leste.

Até 2017, o secretário já deve ter um plano. O ano de 2013, será para preparar o referido programa, uma vez que só à pouco é que se constitui o V Governo Constitucional.

O Estado irá estabelecer e coordenar em segundo plano a cidade universitária em Akanunu, Hera, do qual já tem um local com uma extensão de 16 hectares, para a construção de um outro edifício.

SAPO TL com Suara Timro Lorosa’e

SEFOPE vai defender o direito dos trabalhadores
 
19 de Outubro de 2012, 09:28
 
O secretário de Estado de Formação Profissional e Emprego (SEFOPE), Elídio Ximenes disse que a sua instituição irá impor sanções e encerrar as companhias que não sigam as regras no país, segundo o Suara Timor Lorosa’e.

“Já implementámos regras e leis que o salário mínimo para os trabalhadores é de $115. Neste momento há varias companhia que já seguiram as regras”, disse o secretário durante o segundo Congresso Nacional dos Sindicatos Gerais dos Trabalhadores de Timor-Leste (SJT-TL).

A SEFOPE irá continuar dar a sua atenção aos trabalhadores timorenses que trabalham em todas as empresas existentes em Timor-Leste, para que o pessoal destas empresas não manipulem os direitos dos trabalhadores.

SAPO TL com Suara Timor Lorosa’e

Portugal Entrega o Livro da Coleção de Jorge Sampaio ao Presidente da República Taur Matan Ruak
 
19 de Outubro de 2012, 14:45
 
O representante do ex-Presidente Jorge Sampaio, Tiago Bastos, reuniu-se com presidente da república, Taur Matan Ruak, para entregar o livro da Coleção especial do ex-Presidente Jorge Sampaio, no Palácio Presidencial Ai-tarak Laran.

No encontro o representante aproveitou para cumprimentar o presidente e realçar a importância de se manter um laço entre os dois países (Portugal e Timor-leste), assim comofortificar a relação no futuro, a fim de desenvolver Timor-Leste em conjunto.

SAPO TL com Suara Timor Lorosa’e

*O título nos Compactos de Notícias são de autoria PG

Leia mais sobre Timor-Leste (símbolo na barra lateral)
 

POR QUE A EUROPA DO EURO AFUNDA A CRISE QUE ELA PRÓPRIA ALIMENTA

 


A Europa do euro, pela ideologia de seus dirigentes e por sua institucionalidade, mergulhou nas tramas de um oximoro: com a decisão do BCE, ela pode ter uma maior capacidade de gasto público, sim, mas desde que não use essa capacidade do lado fiscal, já que tem que reduzir o déficit e a dívida pública. Enquanto isso, a demanda continua estagnada, o desemprego se eleva às nuvens – 13% em média, 25% na Espanha e na Grécia, 50% entre jovens, contração na maioria dos países e queda da taxa de crescimento até na Alemanha. O artigo é de J. Carlos de Assis.
 
J. Carlos de Assis (*) – Carta Maior
 
Qualquer pessoa com nível razoável de reflexão é capaz de entender a essência da crise financeira mundial que se concentra, sobretudo, nos países mais ricos do mundo, e principalmente na área do euro. Entretanto, essa percepção fica comprometida por um bombardeio ideológico de mídia que se manifesta ora pela distorção dos fatos ora pela manipulação de conceitos econômicos tendo em vista a defesa de interesses específicos de grupos. Vejamos como isso tem funcionado.

A crise originou-se de uma bacanal especulativa nos Estados Unidos e na Europa pela qual trilhões de dólares emprestados e rolados no mercado virtual de tomadores essencialmente insolventes revelaram-se impagáveis. Diante da quebra iminente, o Governo norte-americano, isto é, o Tesouro e o Fed intervieram no mercado para salvar os bancos ilíquidos. A crise financeira privada migrou para a Europa, forçando os governos locais a também intervirem para salvar os bancos.

A contrapartida do socorro aos bancos foi a absorção das suas dívidas pelos governos. No caso norte-americano, o Fed e o Tesouro atuaram conjuntamente, no primeiro caso através de trilhões de dólares de empréstimos de liquidez, e no segundo através de um programa especial (TARF) adotado ainda no Governo Bush, da ordem de 700 bilhões. Além disso, no caso americano, já no Governo Obama aprovou-se um programa adicional de 767 bilhões de dólares de estímulos fiscais, que em parte funcionou.

Disso tudo resultou um aumento vertiginoso do déficit e da dívida pública norte-americana, esta alcançando cerca de 90% do PIB. Não é uma dívida nada extraordinária, considerando-se o tamanho da recessão e do desemprego. Contudo, é uma dívida muito grande para o Partido Republicano. Tendo este último ganhado as eleições para a Câmara em 2009, tratou imediatamente de bloquear no Congresso um novo programa de estímulo proposto por Obama em 2010 de 400 bilhões de dólares.

Portanto, os Estados Unidos poderiam ter perfeitamente insistido no programa de recuperação não fosse a postura fundamentalmente ideológica republicana. Isso teria custado alguns pontos percentuais adicionais da dívida pública, os quais seriam provavelmente recuperados com uma aceleração do crescimento e da receita pública, como acontece em todos os ciclos de crises. Afinal, a despeito do valor absoluto da dívida, o país continua financiando-a a taxas extremamente baixas (3,5%). De qualquer modo, é preciso esperar o resultado das eleições para especular sobre qual destino os Estados Unidos escolherão levando boa parte do mundo consigo.

Na área do euro a situação tornou-se bem mais complexa. Os governos, para salvar os bancos, tiveram de levar a níveis recordes o déficit e a dívida pública. O que surgiu como crise financeira devida à pornográfica especulação foi transformada em crise fiscal pelos governos neoliberais. Assim mesmo, teria sido possível enfrentar a crise mediante um programa de estímulo fiscal caso esses governos, justamente por serem neoliberais, não estivessem obcecados pela idéia de cortar o déficit e a dívida.

E aqui não se trata apenas de ideologia, mas da institucionalidade européia estabelecida a partir da ideologia neoliberal. A Europa do euro criou um Banco Central independente (BCE) que se subordina aos mercados privados, não aos governos. Quando um governo, digamos, a Espanha, decide captar empréstimos, aumentando a dívida pública, fica exclusivamente em mãos do mercado financeiro, que exige a taxa de juros que quiser. Diferentemente do Fed americano, que irriga o mercado de moeda para facilitar a colocação desses títulos a taxas mais baixas, o BCE mantém rígida a oferta monetária, não prestando qualquer ajuda aos governos.

Mais recentemente, Mario Draghi, o presidente do BCE, anunciou a disposição do banco de adquirir títulos dos governos em dificuldade de forma ilimitada desde que subordinem sua política fiscal a programas de austeridade. Isso ajuda muito pouco. É que a compra será no mercado secundário, criando grande conforto para os investidores, mas não liberando dinheiro diretamente para os governos A hipótese é que os donos privados dos títulos no mercado secundário vendam esses títulos ao BCE criando espaço para a compra de títulos novos emitidos pelos governos. Contudo, atenção: os governos não poderão fazer gastos novos financiados por esses títulos porque estarão limitados pelo programa de austeridade.

Assim, a Europa do euro, pela ideologia de seus dirigentes e por sua institucionalidade, mergulhou nas tramas de um oximoro: com a decisão do BCE, ela pode ter uma maior capacidade de gasto público, sim, mas desde que não use essa capacidade do lado fiscal, já que tem que reduzir o déficit e a dívida pública. Enquanto isso, a demanda continua estagnada, o desemprego se eleva às nuvens – 13% em média, 25% na Espanha e na Grécia, 50% entre jovens, contração na maioria dos paises e queda da taxa de crescimento até na orgulhosa Alemanha, que tem feito tudo para matar o seu mercado impondo-lhe políticas restritivas do gasto público!

(*) Economista, professor de Economia Internacional da UEPB, autor, entre outros livros, do recém-lançado “A Razão de Deus”, pela editora Civilização Brasileira. Esta coluna sai também nos sites Brasilianas e Rumos do Brasil, e, às terças, no jornal carioca “Monitor Mercantil”.
 

A QUEM SERVE O CAOS NA EUROPA?

 


Fernando Santos – Jornal de Notícias, opinião
 
A Europa tem-se agitado em sucessivas cimeiras marcadas por promessas e mãos-cheias de nada. Agonizante, não obstante viver entre um círculo mais amplo (o da desUnião) e outro ainda pior e claustrofóbico (o da Zona Euro), o Velho Continente está em vias de deitar borda fora algumas das principais conquistas civilizacionais de que é farol - o Estado Social, por exemplo. À mercê de diretórios políticos montados sem a legitimação do voto popular, os pratos da balança do exercício estratégico parecem simples de se reconhecerem: de um lado pesa um certo romantismo dos povos economicamente mais débeis e do outro a avidez imperialista de rosto germânico para o esmagamento.
 
O dedo na ferida sobre as razões e o fito para o estado comatoso da atual Europa assinou-o há pouquíssimos dias Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia em 2001. Assessor económico de Bill Clinton entre 1995 e 1997 e distinguido pela Academia "por criar os fundamentos da teoria dos mercados por informações assimétricas", Joseph Stiglitz considerou, em entrevista ao jornal financeiro "Haldesblatt", que "o euro e as políticas destinadas a salvar o euro dividem os europeus. Trata-se de divisões entre estados, mas também no interior destes, onde os movimentos extremistas e nacionalistas se tornam cada vez mais fortes. E isto não é bom para a paz".
 
Ora aí está um foco de clarividência avisada. A depauperada condição económico-financeira de uma parte dos países integrantes da Zona Euro, sobretudo os do Sul, tende a gerar convulsões sociais cujas consequências será avisado travar quanto antes. De critério pouco ou nada explicado, o recente Prémio Nobel atribuído à União Europeia fundamenta-se, sobretudo, nas décadas de pacificação entretanto registadas.
 
Ao ter trocado o processo de união política pelos ditames abastados das exigências da Alemanha para satisfazer padrões mínimos do estado de necessidade financeira de uma parte da Zona Euro - Grécia, Irlanda, Portugal, amanhã Espanha, Itália, França... - a Europa está num processo de degradação que não adivinha, de facto, nada de bom.
 
A cimeira de líderes (pomposa definição...) europeus deu nota nas últimas horas de como se continua a cavar um caminho cada vez mais estreito para não apunhalar de vez os fundamentos da criação da União Europeia. Ao preconizar outra vez o poder de veto da Comissão Europeia sobre os orçamentos nacionais que excedam os 3% de défice e os 60% de dívida pública, a chanceler alemã mostra como está obcecada na opressão de vários povos europeus. Angela Merkel quer a Europa de cócoras perante os seus desígnios e faz de conta que não percebe estar a agitar um barril de pólvora. Assim como assim, está por provar que o poderio económico-financeiro se substitua à força das armas na subjugação dos povos.
 

MARCHA DE PROTESTO EM LONDRES CONTRA OS CORTES

 


Liliana Coelho – Expresso – foto Reuters/Suzanne Plunkett
 
Mais de meia centena de sindicatos desfilam hoje na capital britânica contra as medidas de austeridade.
 
Milhares de pessoas estão a marchar esta manhã nas cidades de Londres, Glasgow e Belfast contra os cortes anunciados pelo Governo britânico.
 
Segundo o jornal "The Guardian", só na capital inglesa estarão nas ruas mais de um milhão de pessoas, num protesto que foi convocado por cerca de 50 sindicatos, que contestam as medidas de austeridade.
 
A marcha, que começou às 11h, está a registar forte adesão, ajudada pelo bom tempo que se faz sentir em Londres, num clima saudável e de "bom espírito", como é descrito pelo jornal.
 
Os manifestantes exibem bandeiras, cartazes e balões a reivindicar o fim da austeridade e um futuro melhor para o país.
 
"Os ministros dizem-nos que só se aceitarmos as dolorosas medidas é que será possível a recuperação económica, mas em vez disso, o que verificamos é uma dupla recessão", afirmou o secretário-geral do TUC, Brendan Barber.
 
Sindicatos queixam-se de políticas económicas "erradas"
 
"As pessoas precisam de empréstimos todos os meses. Nós sabemos e o governo também que milhares de trabalhadores em situação precária estão apenas a tentar manter-se à tona da àgua. A pobreza que estamos a seguir vai comprometer o nosso povo por várias gerações", disse, por sua vez, Len McCluskey, secretário-geral da Unite.
 
Já Paul Kenny, secretário-geral da GMB, mostrou-se convicto de que este protesto vai reunir milhares de britânicos que sonham com um futuro melhor. "Estão a participar nesta marcha milhares de desempregados, no sexto ano de recessão, o que serve para mostrar que quer Trabalhistas, quer Liberais estão a seguir políticas económicas erradas", defendeu o responsável.
 
A manifestação culminará num comício no Hyde Park, que terá a intervenção dos responsáveis pelos principais sindicatos. A organização espera que o balanço final reflita uma adesão superior aos 250 mil manifestantes que participaram no protesto sobre as pensões de reforma, em 2011.
 
Recorde-se que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, alertou este mês para a eventual necessidade de tomar "decisões mais dolorosas" para a recuperação da economia.
 

DEPOIS DO ALLGARVE, TEMOS O POORTUGAL SEGUNDO A ECONOMIST

 
Público
 
O humor britânico está no texto que a revista Economist dedica a Portugal e à tensão política e social que o país vive devido às novas medidas de austeridade anunciadas no Orçamento do Estado para 2013.
 
Muitos portugueses, certamente, vão rever-se na piada bem reveladora do estado do país. “Nos dias felizes anteriores à crise do euro, um governo em Lisboa renomeou o Algarve como Allgarve, esperando com isso atrair touristas britânicos. Agora há quem queira renomear o país como Poortugal [Pobretugal]”

Diz a revista que entre protestos e duros editoriais, este humor mordaz é uma resposta ao Orçamento que o ministro das Finanças apresentou ao país a 15 de Outubro.

Poucos na sociedade portuguesa, segundo a Economist, concordaram com aquilo que Vítor Gaspar considerou ser “o único orçamento possível” para serem atingidas as metas acordadas com a troika. A oposição ao OE, refere a revista, uniu o povo, os economistas e os políticos. E acrescenta ainda, a propósito das recentes manifestações, que muitos acreditam que “o aperto a que estão a ser sujeitas as famílias não é só desnecessariamente doloroso mas sufoca também o crescimento do país”.

A revista aborda também o estado da coligação governativa face à intransigência de Vítor Gaspar quanto a alterações no OE. E termina a lembrar que o facto de Bruxelas considerar que Portugal é um aluno exemplar pode ajudar o país se o Governo espanhol pedir um resgate e começar a discutir com a troika sobre “a sensatez de aplicar mais austeridade fiscal “.
 

Portugal: GASPAR, AMIGO, O POVO NÃO ESTÁ CONTIGO!

 

Nuno Saraiva – Diário de Notícias, opinião
 
Definitivamente, Portugal é um país de ingratos. O altruísta ministro das Finanças, cujo único propósito na tarefa de destruir a economia portuguesa é retribuir "a dádiva" que o País lhe deu ao investir na sua educação ao longo de décadas, é um mal-amado e um incompreendido.
 
E vai daí, Vítor Gaspar decidiu que a maneira de corresponder ao esforço nacional na sua sabedoria é com um saque fiscal.
 
O País, manifestamente, não entende a sua generosidade. Mal- -agradecido pela malfadada reforma da TSU que poria os trabalhadores a financiar os patrões, e, não satisfeito com a vingança brutal da sobretaxa e dos escalões do IRS que reduzem de forma sanguinária os rendimentos das famílias, ainda tem a lata de desatar a criticar e a insultar um ministro que quer apenas salvar a Pátria. Mesmo que o FMI - que já assumiu que também se enganou nas previsões -, a Comissão Europeia, o Presidente da República, a Universidade Católica ou um povo inteiro, o tal que é "o melhor povo do mundo", desatem a gritar que caminhamos para o abismo. Mesmo que o País se queixe que tem fome; que fique a saber-se que não há dinheiro para uma escola do Algarve dar de comer a uma criança de cinco anos, apenas porque os pais têm uma dívida de pouco mais de 30 euros; que há empresas a fechar todos os dias atirando milhares para o desemprego; que um bando de comunistas perigosos - tipo Marques Mendes, Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix ou outros que tais - sejam cúmplices ou instiguem à violência contra o roubo perpetrado através do aumento dos impostos; e que, imagine-se, estamos perante um ministro, contavam os jornais, que é "detestado pelo CDS e por setores do PSD", vá lá saber-se porquê. Tudo gente desagradecida.
 
Vítor Gaspar pode até ter sido um aluno brilhante. Pode, inclusive, ser um académico rico de competência. Mas isso não faz dele, nem de ninguém, um governante de excelência. A verdade, verdadinha, é que, até agora, o todo-poderoso ministro das Finanças não acertou uma. Falharam todas as previsões macroeconómicas dos últimos 15 meses. Da redução da dívida pública ao acerto do défice externo, da taxa de desemprego às receitas fiscais arrecadadas pelo Estado, das promessas de que 2013 seria o ano da recuperação - em que parte do Orçamento do Estado é que ela está prevista? - à devastadora execução orçamental em curso, ou do compromisso de que o ajustamento português se faria "dois terços do lado da despesa e um terço do lado da receita". Isto para já não falar da perda de legitimidade democrática e de representação de uma maioria parlamentar que desonrou todas as promessas que a levaram ao poder. Tudo fracassou.
 
Na iniciativa privada, tamanhos maus resultados seriam garantia de uma carta de despedimento. Porém, no Governo da República, a pretexto da "credibilidade externa de Portugal", é sinónimo de continuidade garantida no posto de trabalho. Pudera! Continuamos a fazer a vontade à Alemanha da senhora Merkel - como a Europa quase inteira - em vez de cuidarmos do interesse nacional. Ninguém advoga, digo eu, que os compromissos com os nossos credores não devem ser honrados. Ninguém defende, digo eu, que o memorando a que estamos sujeitos seja, pura e simplesmente, rasgado. Não! Do que já ninguém parece ter dúvidas, à exceção do primeiro-ministro "colonizado" pelo dogma de Vítor Gaspar, é que não há salvação possível sem crescimento económico. E que este só será possível quando a dívida monstruosa, que nos custa anualmente quase oito mil milhões de euros, for renegociada.
 
A todas estas evidências, Passos e Gaspar viram a cara. Em Bruxelas dizem até que se sentem confortáveis com o que negociaram com a troika, mesmo que gregos e espanhóis berrem que a austeridade do "custe o que custar" tem efeitos devastadores.
 
De facto, o País tolerante, pacífico, e que ao longo de ano e meio demonstrou estar disposto a partilhar os sacrifícios e a ser compreensivo com a necessária austeridade, não merece um ministro das Finanças tão competente assim.
 

Moçambique: FOME QUE NÃO NOS LARGA

 

Rui LamarquesVerdade (mz)
 
Poucos citadinos de Maputo e Matola sabem que o carvão vegetal, que a ele recorrem para preparar as suas refeições, é explorado numa zona onde não há alimentos por cozer nem água para consumo. Indiferentes à sorte dos nativos, animados pelo lucro e insensíveis a questões ambientais, os exploradores de carvão não param de desmatar Chigubo, um distrito a norte de Gaza assolado pela seca. Em muitas localidades não se conhece água potável, ainda que seja possível encontrar nos pequenos charcos que se formam depois de uma chuva rarefeita. Milhares de cabeças de gabo bovino servem como marcador de prestígio: os donos preferem cavar raízes de árvores para se alimentar a vender um animal.
 
Em pleno campo, na localidade de Zinhane, distrito de Chigubo, numa manhã de Verão que acompanhou a equipa do @Verdade, um charco de água barrenta, inesperado, destoa na paisagem árida que os nossos olhos alcançam. À beira da poça, um grupo de mulheres e crianças aprovisiona água em recipientes de 25 litros. Ao lado, duas dezenas de animais domésticos, entre bois e cabritos, também matam a sede.
 
Visto de fora, o quadro poderia fazer lembrar as imagens que o Moçambique urbano conhece de países como a Somália. Mas, aqui, a presença de uma equipa que não cruzou nenhuma fronteira não permite pensar que se trata de uma outra nação. Estamos no Moçambique profundo. Apesar de o charco se encontrar em Zinhane, aqui também estão residentes de outras localidades. Há pessoas de Machaila, uma localidade que dista 24 quilómetros.
 
Há três semanas, nem este charco existia e as pessoas tinham de comprar água de especuladores que a transportavam de outros pontos da província. “Alguns camionistas trazem regularmente água de Mapai e vendem 25 litros por 50 meticais”, conta Celeste, funcionária do único estabelecimento comercial de Machaila. Mapai é um posto administrativo do distrito de Chicualacuala e dista 107 quilómetros de Machaila.
 
O preço da água é muito cara para os bolsos dos residentes de Machaila, mas quando os especuladores trazem as pessoas lutam para adquirir.
 
Em Machaila existe um fontenário, mas o líquido que jorra é salgado. Tão salgado como a água do mar. Quando as pessoas daquela localidade não conseguem encontrar aquele bem de consumo dos charcos recorrem àquela fonte.
 
Ainda assim, adquirir por tal preço é um luxo que nem todos bolsos suportam. Mesmo a água barrenta dos charcos que se formam sempre que o céu liberta algumas gotas é comercializada por um preço menor, mas igualmente oneroso para os bolsos da maior parte dos residentes de Chigubo. “10 meticais o bidão”.
 
Efectivamente, devido aos padrões de precipitações escassas e erráticas nas áreas áridas e semiáridas do sul de Moçambique, nos últimos dois anos, Chigubo virou uma zona de risco de segurança alimentar, segundo os dados da avaliação multissectorial sobre “Água, Saneamento, Higiene e Segurança Alimentar” da Oxfam. Embora os números indiquem que 10 mil pessoas (metade da população) foram afectadas, o cenário no terreno mostra um quadro bem mais negro e preocupante.
 
67 porcento da produção esperada ficou afectada. Por outro lado, o Relatório da Monitoria da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional, do Ministério da Agricultura (MINAG), refere que as reservas alimentares duraram até Agosto. Um dado que é veementemente desmentido pela realidade no terreno e as vozes dos residentes que afirmam que o problema da fome começou em 2006 e se agravou nos últimos dois anos.
 
O que o documento do MINAG ignora é que a maior parte da população vive distante das principais localidades e postos administrativos. Em locais literalmente intransitáveis. Situação que limita as suas estratégias de sobrevivência e acesso aos alimentos, como também faz com que tais comunidades sejam deixadas de lado pelas estatísticas do MINAG.
 
A título de exemplo, a área plantada no Posto Administrativo de Chigubo, em 2011, foi de 5442 hectares, dos quais 4352 foram perdidos. Em 2012, 3.865 hectares foram trabalhados pelos agricultores e a perda foi de 1.284 hectares. A produção esperada registou 20 porcento no primeiro ano e sofreu uma redução de cerca de 92 porcento no segundo.
 
A pequena Marta
 
Com um bidão cheio equilibrado na cabeça, Marta, de 14 anos de idade, prepara-se para andar 24 dos 48 quilómetros que percorre diariamente para obter água depois que o charco se formou.
 
Muitas raparigas são forçadas a abandonar os estudos por causa das distâncias que têm de percorrer à procura do precioso líquido.
 
Em Chigubo, o acesso a água, segundo a avaliação multissectorial, “é crítico e as mulheres e as crianças investem muito tempo na sua recolha e no abeberamento dos animais. No que diz respeito às fontes, a avaliação bem mais simpática diz que se “situam a uma distância de 14 a 17 quilómetros das comunidades”. A média de água por família é de 25 litros por dia e 10 nas famílias afectadas.
 
Embora as crianças, flores que nunca murcham no discurso oficioso, mereçam a oportunidade de ser felizes e de frequentar o ensino escolar, no coração de Chigubo as fontes de água é que determinam o futuro das crianças no que ao ensino diz respeito. A seca e a impotência da administração local transformaram o distrito no pior dos pesadelos para quem quer estudar.
 
Na Escola Primária Completa de Chamaila, por exemplo, estudam actualmente 215 alunos, mas no início do ano lectivo o número chegava de quase o dobro de crianças. Na sede distrital, Dindiza, o cenário repete-se. Nesta altura do ano as turmas têm metade dos alunos que iniciaram este exercício lectivo.
 
Custo de vida
 
O mercado de Chamaila é disso um exemplo elucidativo. As três bancas que o compõem estão despidas de produtos de primeira necessidade. A única coisa que pode ser encontrada é petróleo de iluminação. Em Zinhane e Dindiza, embora haja mais produtos expostos, a situação não é muito diferente.
 
No mercado de Dindiza não é possível comprar uma galinha porque ninguém vende. As festas de final de ano também desconhecem carne de vaca, embora existam cerca de 20 cabeças de gado em todo o distrito.
 
Os residentes têm de trazer quase tudo de Chókwè. Uma recarga de telefone, cujo preço em Maputo é de 100 meticais, aqui custa 120. Um varão de seis milímetros custa 48 meticais em Chókwè, mas quando chega ao posto Administrativo de Dindiza o custo total, incluindo transporte, fica 25 meticais mais caro.
 
Que Moçambique pertence a um grupo de países em vias de desenvolvimento – o chamado terceiro mundo – torna-se mais palpável quando se pisam os 13952 quilómetros quadrados da superfície de Chigubo onde há muita fome, mas quase nada para comprar. (continua)
 
 

A PASSAGEM TRIUNFANTE DE ISABEL DOS SANTOS POR CABO VERDE

 

A Semana (cv)
 
Chegou, viu e assinou. Em poucas horas no final da tarde desta sexta-feira, 19, a empresária angolana Isabel dos Santos confirmou a sua passagem triunfante por Cabo Verde, numa operação relâmpago onde o acto mais relevante foi a compra da operadora de telecomunicações cabo-verdiana, a T+.
 
Num frenesim na cidade da Praia e longe dos holofotes mediáticos, a filha do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, ainda teve tempo de visitar o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, num encontro que durou cerca de 10 minutos. No final não houve declarações aos jornalistas, porque o encontro, que estava programado para as 16 horas, foi antecipado em 30 minutos.
 
Durante a tarde, a empresária de 38 anos, considerada a quinta mulher mais rica de África, terá mantido contactos com algum membro do Governo de José Maria Neves, mas no maior segredo. Seguiu-se o acto mais importante que trouxe esta dona dos "petrodólares" angolanos ao nosso país: foi ao bairro de Achada de Santo António pôr tudo preto no branco: estava concretizada a compra da T+ por parte da Unitel Internacional, consórcio de que é dona absoluta.
 
Depois disso, e numa correria só, dos Santos voltou ao Hotel Trópico por volta das 18h30 e saiu cerca de uma hora depois tal como entrou: sem prestar quaisquer declarações sobre o negócio. “Estou muito atrasada, tenho um avião à minha espera”, foram as únicas palavras proferidas à saída do Hotel, antes de ir directamente para o aeroporto internacional da Praia Nelson Mandela, onde a espera o seu avião privado para a viagem de volta.
 
Confirma-se, assim, como noticiou o jornal A Semana na sua edição impressa desta sexta-feira, a compra da operadora cabo-verdiana de comunicações móveis, T+ por Isabel dos Santos. O negócio foi concretizado, informa a Unitel Internacional, após vários meses de negociações.
 

Televisão Cabo Verde: GOVERNO NOMEIA “BOYS” PARA CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

 

Liberal (cv)
 
“Apagar o fogo com gasolina” é uma expressão que se aplica por inteiro à nomeação do novo CA da empresa pública, “por isso, o coletivo dos trabalhadores insurge-se contra a nomeação tanto do deputado Emanuel Moreira, como de Eugénio Martins”, ex-Director-geral da Comunicação Social
 
Praia, 20 de Outubro 2012 – No rescaldo da greve de dois dias que paralisou a Radiotelevisão Caboverdiana, nova polémica parece emergir. Nas vésperas da audição parlamentar do ministro Rui Semedo, a nomeação de um novo Conselho de Administração (CA) pelo Governo caiu como uma bomba, gerando mal-estar entre o “Colectivo dos Trabalhadores” da empresa pública.
 
Os nomes de Emanuel Moreira e Eugénio Martins, entretanto avançados, provocaram reacção imediata do “Colectivo dos Trabalhadores” que, em comunicado ontem emitido, considera “que já é altura do Governo nomear para a RTC um Conselho de Administração com elevada competência técnica e não privilegiar a confiança política".
 
O “Colectivo dos Trabalhadores "estranha, num momento de crise que a empresa atravessa, a nomeação de sujeitos que exercem cargos políticos para gerir uma empresa com responsabilidades de informar com isenção e imparcialidade", referindo especificamente o caso de Eugénio Martins, considerando que, enquanto Director-geral da Comunicação Social, "não esteve à altura dos desafios do sector.“ Os trabalhadores sentem-se defraudados com a escolha da pessoa em causa, uma vez que o Presidente da Mesa da Assembleia-geral da RTC, afirmou sexta-feira à noite, publicamente, que um dos administradores seria um técnico da comunicação social, conhecedor da área e da casa”.
 
“Por isso, o coletivo dos trabalhadores insurge-se contra a nomeação tanto do deputado Emanuel Moreira, como de Eugénio Martins”, referem ainda no citado comunicado.
 

BISSAU PEDE SUBSTITUIÇÃO DO REPRESENTANTE DA ONU NA GUINÉ-BISSAU

 

Deutsche Welle
 
O governo de Bissau anunciou esta sexta-feira (19.10.) que solicitou ao secretário geral das Nações Unidas a substituição do seu representante especial na Guiné-Bissau, o ruandês Joseph Mutaboba, no cargo desde 2009.
 
Segundo o porta-voz do governo guineense e Ministro da Presidência, Fernando Vaz, “as autoridades de transição da Guiné Bissau não querem mais a presença no país do Sr. Mutaboba, pois ele não tem desempenhado um papel de imparcialidade” desde o golpe de Estado militar de 12 de abril.
 
Desconhece-se, por enquanto, qualquer comentário por parte da ONU em Bissau.
 
Em declarações à imprensa em Bissau, Fernando Vaz disse ainda que o representante especial do secretário geral da ONU na Guiné-Bissau “não presta um serviço ao nosso país e não é capaz de ajudar na construção da paz”. Segundo as autoridades guineenses, desde o golpe de Estado, Joseph Mutaboba não “dialogou com as autoridades de transição, mas deslocou-se várias vezes a Lisboa, capital portuguesa, para discutir com o regime destituído”. Daí que Fernando Vaz tenha questionado: “será que é isso a construção da paz?”.
 
General Indjai também solicitou substituição de Mutaboba
 
Também na semana passada, o chefe de estado-maior do exército guineense, o general António Indjai, solicitou, junto de jornalistas, a substituição do responsável da ONU em Bissau, tendo afirmado na altura: “se me coubesse a decisão de o expulsar, já o tinha declarado persona non grata”. A informação foi veiculada pela agência France Presse (AFP) num despacho enviado desde a capital guineense.
 
Joseph Mutaboba foi nomeado em fevereiro de 2009 por Ban Ki-moon como seu representante na Guiné Bissau e, a este título, dirige o gabinete das Nações Unidas para a consolidação da paz naquele país lusófono da África Ocidental, confrontado com uma grande instabilidade política e militar, na qual o exército tem um papel preponderante, alegadamente reforçado pelo tráfico de drogas.

Autor: Braima Darame (Bissau) /António Rocha (com AFP) - Edição: António Cascais
 

Um ano após morte de Kadafi, Líbia ainda luta para se reerguer dos escombros

 

 
Mesmo após o fim do regime do ex-ditador, democracia e Estado de Direito ainda são sonhos distantes. País enfrenta problemas de segurança interna e não conseguiu punir os responsáveis por crimes durante a revolução.
 
Ele se dizia amigo do povo francês, recebeu um ou outro chefe de Estado e nos últimos anos de seu governo parecia ter ficado um pouco moderado. Entretanto, fazia tempo que o líder líbio Muammar Kadafi não tinha mais amigos ou aliados. Afinal, ele se mostrava errático em suas alianças. Apoiou vários grupos terroristas, às vezes colaborava para a unidade árabe, outras vezes lutava pela unidade africana e agia de forma brutal contra seu próprio povo.
 
Por isso, sequer uma voz no Conselho de Segurança discordou quando no começo de 2011 foi decidida uma operação da Otan contra o ditador líbio. Era o fim da era Kadafi. Entretanto, as consequências negativas da sua tirania ainda são visíveis.
 
Partidos proibidos, oposição reprimida
 
Não é de se admirar que Kadafi, filho de uma família de beduínos, tenha ditado a política líbia durante quatro décadas – inicialmente como chefe de Estado e, a partir de 1979, como autoproclamado líder revolucionário. Independentemente de quem era o chefe de Estado ou o primeiro-ministro, todo o poder ficava de fato nas mãos do líder.
 
Partidos não eram permitidos, a oposição era reprimida. Temendo adversários fortes, Kadafi negligenciava sistematicamente a infraestrutura de seu país. Centros concorrentes de poder não deveriam sequer surgir, até mesmo o Exército era praticamente incapacitado.
 
Agora, os líbios precisam criar novas estruturas e instituições políticas a partir do zero. "É um desafio muito grande reconstruir toda a administração pública, as forças de segurança e o Exército", constata Günter Meyer, professor de Geografia Econômica e diretor do Centro de Pesquisa sobre o Mundo Árabe na cidade alemã de Mainz.
 
Controvérsia sobre a reorganização do país
 
A reorganização do país levou a forte controvérsias e debates nos últimos meses, por causa dos diversos interesses do povo líbio. Isso tem raízes históricas: antes de Kadafi tomar o poder por meio de um golpe em 1969, as três regiões Cirenaica, Fezzan e Trípoli tinham identidades distintas.
 
Na gestão do primeiro governante da Líbia, o rei Idris, o país teve até 1963 uma Constituição federativa. Antes disso, as três regiões eram colônias italianas − e nunca haviam sido uma unidade. Ainda hoje, muitos líbios dão mais valor à sua cidade e à sua tribo do que ao Estado.
 
Uma razão é que muitos líbios tiveram experiências ruins com um poder central. Kadafi controlava a indústria do petróleo e, com isso, toda a economia do país. Sob seu governo, sobretudo a capital, Trípoli, e sua região de origem, Sirte, lucravam com a produção de petróleo.
 
A região de Cirenaica, no leste, onde fica a metrópole Benghazi, foi fortemente negligenciada. Não por acaso a revolução eclodiu ali em fevereiro de 2011 e Benghazi serviu como capital do governo revolucionário até a queda de Trípoli.
 
Milícias poderosas
 
Atualmente existe um forte movimento de independência exatamente em Cirenaica, região rica em petróleo. O governo central ainda carece de uma liderança militar. As forças de segurança dependem de um grande número de milícias regionais, baseadas em grupos tribais ou regionais. Estas milícias também lutam entre si, causando um problema de segurança grave para o país.
 
Ao mesmo tempo, antigos bastiões de Kadafi, como Sirte e Bani Walid, ainda mantêm distância da nova Líbia. "O Conselho Nacional, que é encarregado de formar um governo, ainda não pôde garantir que a paz prevaleça no país", avalia Wenzel Michalski, diretor organização Human Rights Watch na Alemanha. "Milícias armadas e gangues criminosas aproveitam o vácuo de poder para impor suas demandas ou demarcar seus territórios."
 
Os radicais islâmicos tentam tirar proveito da situação incerta no país. O Islã fundamentalista, entretanto, é impopular entre os líbios religiosos. A destruição de santuários islâmicos causadas por salafistas prejudicou bastante a popularidade dos islamistas radicais.
 
Eles também não conseguem mobilizar muitos adeptos no país com seu ódio ao Ocidente. Isso ficou evidente depois de 11 de setembro de 2012, quando um grupo terrorista em Benghazi assassinou quatro norte-americanos, incluindo o embaixador dos EUA. Dezenas de milhares de líbios foram às ruas e expulsaram da cidade duas milícias radicais islâmicas, e até então influentes, da cidade.
 
Passado atrapalha
 
A Líbia ainda está longe de conseguir colocar as milícias sob controle e punir os crimes cometidos antes e durante a revolução. "É exatamente isso que emperra o desenvolvimento do país", opina Wenzel Michalski.
 
Segundo um relatório da Human Rights Watch, não somente os combatentes de Kadafi cometeram crimes de guerra. As milícias que contribuíram definitivamente para a vitória contra o ex-líder agiram brutalmente contra seus opositores e massacraram soldados de forma maciça.
 
Um ano após a morte de Kadafi, as autoridades líbias ainda sequer começaram a investigar e processar os responsáveis ​​por crimes de guerra e outras violações do direito internacional em ambos os lados. "Os responsáveis ​​têm que ser responsabilizados, de modo que aquilo que os revolucionários exigem possa virar realidade, isto é, democracia e Estado de direito", conclui Michalski.
 
Autora: Anne Allmeling (md) - Revisão: Mariana Santos
 

Maior grupo de escoteiros dos EUA encobriu milhares de estupros por décadas

 

Fillipe Mauro – Opera Mundi
 
Dossiê liberado a pedido da Justiça revela que policiais, promotores e pastores estão envolvidos no escândalo de pedofilia
 
Uma série de autoridades do Oregon, nos Estados Unidos, encobriram por quase três décadas casos de pedofilia praticados por chefes do Boy Scouts of America, um dos maiores grupos de escotismo do país. Por ordem da Corte Suprema do estado, foi aberto um dossiê que comprova que chefes locais de polícia, bem como promotores e lideranças religiosas, participaram discretamente do esquema entre os anos de 1959 e 1985.
 
Os documentos registram alegações de abuso sexual em todo o país, da pequena cidade de Adirondacks, em Nova York, à capital do estado da Califórnia, Los Angeles. Desde 1959, cerca de cinco mil chefes-escoteiros foram expulsos do Boy Scouts of America sob suspeita de molestarem crianças.
 
À época, as expulsões eram justificadas como necessárias pra preservar a reputação e os projetos sociais da organização. No entanto, detalhes presentes nas mais de 14 mil páginas do dossiê provam que a instituição recorreu a manobras políticas e jurídicas para manter os supostos crimes em silêncio.
 
Essas provas estão arquivadas na sede do Boy Scouts of America e incluem memorandos da cúpula da organização, cartas redigidas por supostas vítimas e recortes de matérias publicadas pela imprensa norte-americana sobre o tema. Embora haja detalhes sobre pedófilos confessos, também estão presentes alegações infundadas.
 
Por 26 anos, os escoteiros conseguiram manter vários dos suspeitos fora dos postos de liderança. No entanto, a própria organização admite que omitiu da polícia pelo menos um terço dos casos de abuso. Em diversos casos, há evidência de que o Boy Scouts of America teve “compaixão” dos suspeitos, preferindo confiá-los a pastores e psiquiatras do que às autoridades.
 
Um dos casos mais sintomáticos do escândalo de pedofilia entre os escoteiros ocorreu em Louisiana, em agosto de 1965, quando um dos membros da organização confessou ter estuprado três jovens, mas, ainda assim, não foi indiciado. Em carta à sede do Boy Scouts of America, seis dias após a denúncia da mãe de uma das vítimas, o diretor estadual revelava que o responsável pelo crime não seria processado para "preservar o nome do escotismo”.
 
O porta-voz da Boy Scouts of America, Deron Smith, emitiu um comunicado nesta terça-feira (18/10) e alegou que "não há nada mais importante do que a segurança de nossos escoteiros”. Ele admite que houve momentos em que as respostas da organização a casos de abuso sexual foram "claramente insuficientes, inapropriadas ou equivocadas". Smith estendeu às supostas vítimas e seus familiares "seus mais profundos e sinceros sentimentos".
 
No início do mês, a Boy Scouts of America publicou as conclusões de uma auditoria interna sobre o tema. Jennifer Warren, psiquiatra que coordenou o levantamento, concluiu que, das 1622 supostas vítimas dos chefes de escotismo, 1302 estavam envolvidas em atividades da organização. Os casos restantes teriam ocorrido em contextos desvinculados dos exercícios de escotismo.
 
No entanto, Warren alega que “a taxa de abuso sexual entre os escoteiros é muito baixa”, já que se revela inferior ao registrado pelo Departamento de Saúde dos Estados Unidos por todo o país. Ela julga a taxa de 1,4 a 2,1 casos de estupro para cada 100 mil membros algo aceitável diante da média nacional.
 
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Conselho Europeu: O JOGO DE POKER DO RESGATE ESPANHOL

 


 
A união bancária sobre a qual os líderes europeus chegaram a acordo, a 18 de outubro, é apenas uma peça de um jogo mais amplo que também inclui o controlo dos orçamentos nacionais e o papel do BCE. E o fim das manobras é saber se, e como, Espanha pedirá um resgate.
 
 
Será que o primeiro-ministro Mariano Rajoy se vai decidir a solicitar o segundo resgate da economia espanhola durante a cimeira que ontem começou em Bruxelas? Esta é a pergunta que vale um milhão. Correndo o risco de ter de me emendar amanhã, a minha opinião é que não o fará. Porquê?
 
O motivo não é, a meu ver, como muitas vezes se diz, que Mariano Rajoy seja um indeciso que está permanentemente a desfolhar o malmequer. A razão mais plausível é que tenha sabido compreender que o resgate tem muito de jogo de poker, um jogo em que é preciso saber esconder e jogar bem a nossa carta e obrigar os outros jogadores a mostrarem as suas. E garanto-lhes que ninguém vai mostrar cartas nesta cimeira.
 
Os negócios de uns, os interesses de outros
 
Em Espanha há muita gente, especialmente as elites financeiras, que acredita que não há nenhuma carta para jogar e que o mais adequado é que, de uma vez por todas, se peça o resgate. Deixando de lado o facto de muitos deles defenderem o resgate porque isso convém aos seus negócios e sabem que não pagarão as condições, a verdade é que Espanha tem, sim, uma carta para jogar.
 
Apesar de haver motivos para criticar o governo pela maneira como está a gerir a crise, neste caso deixem-me levantar a lança para o defender. Mariano Rajoy compreendeu que a carta do resgate lhe dá jogo, mas antes de a mostrar vai forçar os outros jogadores a destaparem as suas: a união bancária europeia, o novo fundo de resgate, a intervenção do BCE, ou o controlo dos orçamentos nacionais.
 
A Alemanha não quer jogar a carta da união bancária (possivelmente porque os seus bancos são como um queijo gruyère) e prefere jogar a carta do controlo dos orçamentos nacionais por um super ministro europeu. França opõe-se porque não quer a hegemonia alemã e exige, primeiro, a união bancária. Nesta nova guerra franco-prussiana os pontapés entre eles vêm parar no nosso traseiro.
 
De facto, os elevados juros da dívida espanhola, ou seja, os custos adicionais que o Tesouro espanhol tem de pagar para se financiar, não se devem apenas à enfermidade espanhola, mas também a essa guerra franco-prussiana que ameaça o euro. Uma parte desses custos adicionais responde ao temor dos investidores de que o euro acabe por colapsar.
 
Partida de poker
 
Como já vimos, depois de Mario Draghi ter dito que o BCE fará tudo o que for necessário para salvar o euro, os juros da dívida espanhola foi baixando. Um indício claro do efeito contagioso do euro.
 
Mas, apesar de o BCE se dizer disposto a intervir, exigem que sejam os interessados a pedir-lhe que o faça. É como se um hospital público cuja função é atuar por sua iniciativa em casos de infeção contagiosa, exigisse que os próprios doentes infetados lhe pedissem para agir. Não faz sentido. Por outro lado, ainda não se sabe como vai atuar o novo fundo europeu de resgate e que capacidade de fogo terá.
 
Como disse, estamos perante um verdadeiro jogo de poker. Espanha não deve mostrar a sua carta até que os outros tenham mostrado as suas. Mas ainda não é nesta cimeira que isso acontecerá.
 
Traduzido do castelhano por Maria João Vieira
 
Comentário
 
Plano de ajuda, refém de Paris e Berlim
 
"O resgate de Espanha agrava o braço de ferro entre a Alemanha e a França", titula o El País, no dia seguinte ao do início do Conselho Europeu:
 
O resgate está aí, ao virar da esquina, quase efetivado e dependente apenas do calendário eleitoral de alguns países [...] Mas Espanha resiste a dar esse passo porque Berlim continua a ser o grande temor de Rajoy. O executivo alemão quer ter a última palavra no que diz respeito às condições, para apertar mais ou menos o parafuso, e ser um pouco mais flexível tal como reclama Madrid.
 
A ajuda a Espanha é, na opinião do diário madrileno, um novo motivo de confronto entre a França e a Alemanha, acrescentando que o presidente François Hollande acusou a chanceler Angela Merkel de adiar a concretização da união bancária para 2014 "por interesses eleitorais", por causa das eleições alemãs que terão lugar no outono de 2013.
 
Há divergências entre Berlim e Paris sobre a maior parte dos grandes temas. A França quer um resgate imediato da Espanha; a Alemanha prefere esperar. A França que que o acordo de junho passado sobre a união bancária seja absoluta e integralmente respeitado; a Alemanha conseguiu fazer prevalecer a sua interpretação. E assim, ad infinitum. Apesar da chegada de Hollande representar um certo reequilibro das relações de forças europeias, o euro é uma espécie de competição económica de que a Alemanha saiu claramente vencedora.
 

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