quinta-feira, 21 de junho de 2012

Timor/Eleições: Políticos preocupados com corrupção, sistema judicial mais descansado



MSE - Lusa

A corrupção é tema na campanha eleitoral para as legislativas de Timor-Leste, com oposição e membros do Governo a considerarem que é preocupante e entidades responsáveis pelo seu combate a defenderem que não é sistemática.

Timor-Leste realiza legislativas a 07 de julho e os futuros Governo e parlamento não vão poder pôr de lado o tema, até porque o país foi classificado no Índice de Perceção da Corrupção de 2011 como de elevado risco.

Em declarações à agência Lusa, o atual ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do Partido Social-Democrata (PSD), Zacarias da Costa, considerou a corrupção como endémica no país.

O Conselho Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), partido do atual primeiro-ministro Xanana Gusmão, reconheceu recentemente suspeitas de envolvimento de membros do Governo em atos de corrupção, admitindo que o seu partido não será visado nas urnas.

A oposição tem chamado a atenção para o tema, acusando o atual primeiro-ministro de nada fazer para combater e fazer punir as pessoas.

Apesar de nos últimos meses vários membros do Governo terem sido chamados à Comissão Anticorrupção (CAC), entidade que combate o fenómeno no país, apenas a ministra da Justiça, Lúcia Lobato, foi condenada a cinco anos de prisão por participação económica em negócio.

Em declarações à agência Lusa, o comissário-geral da CAC, Adérito Soares, insistiu que a corrupção "não é sistemática".

"Estamos numa altura muito oportuna para apresentar novos desafios aos futuros governo e parlamento", afirmou, defendendo a necessidade de envolver todos os atores timorenses para criar uma cultura de rejeição.

Para Adérito Soares, é "muito importante mudar as mentalidades das pessoas".

"Os seres humanos não são anjos e a questão é como conseguimos construir um bom sistema que previna e minimize. Queremos um Timor-Leste democrático com uma forte cultura de rejeição da corrupção", disse.

Para a juíza do Supremo Tribunal de Recurso, Natércia Pereira Gusmão, o fenómeno engloba tudo, incluindo pessoas que não percebem que estão a cometer um ato ilícito.

"Tem de haver prevenção, formação e informação. Caso contrário, as pessoas não percebem o que fazem", disse, salientando que há também as regras da moralidade, que não devem ser esquecidas.

O presidente da Comissão "C", Economia, Finanças e Anticorrupção, Manuel Tilman, disse que ainda há uma mentalidade e um modelo de fazer negócios indonésios.

"Na mentalidade indonésia e asiática o dar uma gorjeta depois de um bom negócio não é corrupção. O problema é que não se distingue um negócio público", afirmou.

Para Manuel Tilman, é a pobreza dos timorenses que leva à corrupção.


GUINÉ-BISSAU CADA VEZ PIOR, TIMOR-LESTE PROGRIDE



FP - Lusa

Lisboa, 19 jun (Lusa) - A Guiné-Bissau vem tendo a cada ano piores classificações no índice de Estados falhados, chegando este ano à 15.ª posição, de acordo com a lista hoje apresentada.

A lista dos piores Estados do mundo é publicada anualmente pela revista Foreign Policy, que a elabora em conjunto com a organização Fund for Peace, tendo em conta dados como pressões demográficas, direitos humanos, economia, segurança ou intervenção externa.

Em 2009, a Guiné-Bissau aparecia como o 27.º pior Estado, com a Somália a liderar a lista dos Estados falhados (liderança que sempre tem mantido). Pior classificação tinha obtido Timor-Leste, outro Estado de Língua Portuguesa (20.º lugar). Angola surgia em 55.º lugar.

Em 2010, a Guiné-Bissau desceu cinco lugares, para 22.º, e Timor-Leste desceu também mas apenas dois lugares (18.º). Na lista dos 60 piores, Angola recuou e ficou em 59.º lugar.

No ano passado, enquanto Timor-Leste se afastava da lista negra dos 20 piores lugares (23.º), a Guiné-Bissau voltava a obter um pior resultado e chegava ao 18.º pior país. Na lista dos 60 piores, Angola regredia também (52.º lugar) e Moçambique aparecia em 57.º lugar.

No ranking deste ano, a Guiné-Bissau desce para o 15.º lugar, Timor-Leste melhora e está agora em 28.º lugar, Angola voltou a regredir (49.º) e Moçambique melhora duas posições (59.º).

A lista é feita tendo em conta 12 indicadores sociais, políticos e económicos de 177 países. A Guiné-Bissau obteve 99.2 pontos, numa escala que pode ir até 120 e que quanto mais alta pior é o país.

A Somália, o Estado falhado por excelência, obteve 114.9 pontos. Timor-Leste chegou aos 92.7. Portugal teve este ano 34.2 pontos e o Brasil 64,1.

CORRUPÇÃO É “UM PROBLEMA ENDÉMICO” EM TIMOR-LESTE – Zacarias da Costa




“Nenhum partido irá ter maioria absoluta nas próximas eleições” - líder do PSD de Timor

SIC Notícias, com Lusa

O presidente do Partido Social-Democrata (PSD) de Timor-Leste, Zacarias da Costa, considerou em entrevista à agência Lusa que nenhum partido vai ganhar com maioria absoluta as legislativas de 7 de julho e manifestou-se disponível para coligações.

O PSD faz parte da coligação governamental, liderada pelo Conselho Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), que governou o país nos últimos cinco anos.

"Eu acredito que nenhum partido irá ter maioria absoluta nas próximas eleições. As eleições irão ser muito disputadas e o PSD também irá fazer parte deste lote de partidos com possibilidade de ganhar as eleições", afirmou Zacarias da Costa, também chefe da diplomacia timorense.

Às eleições de 7 de julho concorrem 21 partidos e coligações, que vão disputar os 65 lugares no parlamento timorense.

"Partindo do princípio que nenhum partido irá conseguir a maioria absoluta, o PSD também está aberto a possíveis coligações para conseguirmos uma maioria no parlamento e assim conseguirmos governar o país", disse.

Na campanha eleitoral, que termina a 04 de julho, o PSD tem defendido três pontos essenciais, que passam pelo desenvolvimento integrado e equitativo, o desenvolvimento das infraestruturas e o combate à corrupção.

"Isto porque olhamos para Timor e vemos que foram gastos muitos biliões de dólares nos últimos 10 anos, mas se sairmos de Díli vemos que praticamente as coisas estão na mesma", explicou Zacarias da Costa.

Segundo o presidente do PSD, em Díli, nos últimos anos, "criou-se um grupo pequeno que está a beneficiar das riquezas do país enquanto o povo continua numa situação muito difícil".

Zacarias da Costa disse ainda que o seu partido está também preocupado com o setor das infraestruturas, que considera essenciais para o desenvolvimento do setor rural.

"Outra questão que iremos focar é o reforço das nossas instituições. Eu creio que porque as nossas instituições ainda não estão consolidadas também existem muitos outros problemas como, por exemplo, a corrupção".

Para o atual chefe da diplomacia, a corrupção é um "problema endémico" no país, mas só existe porque as instituições estão ainda fracas e não estão consolidadas.

"É preciso reforçar as instituições para que todos possam desempenhar o seu papel", defendeu.

*Título PG

FILIAL DO PSD ILIBA MIGUEL RELVAS




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O PSD anunciou hoje que vai votar contra o requerimento do PS para ouvir o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, no Parlamento.

Diz o PSD que a deliberação da sua filial, que dá pelo nome de Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), sobre o caso Público foi “absolutamente esclarecedora”. E foi mesmo.

Segundo a vice-presidente da bancada social-democrata, Francisca Almeida, o relatório da ERC, foi “feito por técnicos e sufragado pelo Conselho Regulador”, é “absolutamente esclarecedor”.

Sufragado, esclareça-se, por três dos cinco membros daquela filial do PSD, por sinal escolhidos pelo impoluto ministro Miguel Relvas.

Francisca Almeida, ao bom estilo não de Francisco Sá Carneiro mas de Pedro Passos Coelho e acólitos, acusa o PS de estar “porventura refém de alguns fantasmas do passado” e de querer “continuar a fazer um aproveitamento político desta questão”.

“Cremos que nem os portugueses compreenderiam que o Parlamento continuasse a debruçar-se sobre esta questão quando ela está já esclarecida. O PSD votará contra o requerimento do PS”, concluiu.

Também não percebo a razão pela qual o PS quer continuar o folhetim, e logo ele que tem (muitos) telhados de vidro e é conivente ao aceitar escolher dois sipaios para decorar a ERC.

A deliberação da filial do PSD diz que o ministro Miguel Relvas não fez “pressões ilícitas”ao jornal ou à jornalista Maria José Oliveira, e que “não se verificou a existência de um condicionamento da liberdade de imprensa”.

Tivesse sido Miguel Relvas a redigir a deliberação e não teria feito melhor texto. Aliás, não terá sido mesmo ele a escrevê-la?

A ERC/Filial do PSD não deu como provado que Miguel Relvas tenha ameaçado promover um blackout informativo de todo o Governo ao Público. Tal como não deu como provado que o ministro tenha ameaçado divulgar na Internet um dado da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, responsável pela cobertura jornalística do chamado “caso das secretas”.

Ou seja, concluiu aquilo que todos já sabiam que iria concluir. Apesar disso, compreende-se. Aquela malta precisa de justificar o que ganha e, para isso, não basta (embora ajude) Carlos Magno elogiar a gravata do patrão.

A filial do PSD, numa tentativa caricata e histriónica de querer parecer séria, salienta o“tom exaltado” de Miguel Relvas e a ameaça de deixar de falar com o Público e admite que este comportamento “poderá ser objecto de um juízo negativo no plano ético e institucional”.

E assim se faz a história da actual política portuguesa em que, sem nenhuma originalidade, se põe os sipaios escolhidos pelo chefe do posto a analisar o comportamento desse mesmo chefe do posto. Tudo, é claro, a bem da nação…

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: CONTRA OS MANIFESTANTES MARCHAR, MARCHAR!

Cavaco recusa receber postais em defesa da MAC, ativistas acusam-no de arrogância



Lusa

Lisboa, 21 jun (Lusa) - Ativistas da Plataforma Em Defesa da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) acusaram hoje o Presidente da República de "prepotência e arrogância" depois da presidência se recusar a receber os cerca de 14 mil postais contra o encerramento da MAC.

Cerca de duas dezenas de pessoas deslocaram-se hoje à tarde ao Palácio de Belém para entregar na Presidência da República cerca de 14 mil postais contra o encerramento da maior maternidade do pais, situada em Lisboa.

Segundo Ana Amaral, elemento da plataforma, "o objetivo era que o Presidente intercedesse no sentido de evitar o encerramento da MAC".
 
Após a recusa, os ativistas decidiram que vão entregar os referidos postais na residência oficial do primeiro-ministro, em S. Bento, em dia e hora ainda a determinar.

Opinião Página Global

Uma notícia não notícia, como a que se segue sobre o PS no Parlamento e a Moção de Censura ao Governo. Só agora descobriram que Cavaco é arrogante? É arrogante e cínico. É hipócrita. Também é um político mesquinho que vem demonstrando que se relaciona deficitariamente com a democracia.

Recordemos que 40 mil cidadãos portugueses lhe solicitaram que se demitisse e que a esses ele disse NADA. Atualmente esse número deverá ser muito superior. Estamos fartos dele. A petição passou ao lado da couraça da sua indiferença repleta de oportunismo, desde que se guindou aos ramos da árvore que lhe tem proporcionado manter poderes de estado e de governação num total de quase 20 anos. Isso e mais umas quantas “histórias” mirabolantes por explicar. Afinal os cidadãos acima de qualquer suspeita não existem. Se é que vivemos em democracia. Vivemos? (Redação PG – AV)

Portugal - Parlamento: PS vai abster-se na moção de censura ao Governo



Público - Lusa

O PS vai abster-se, na segunda-feira, no Parlamento, na votação da moção de censura do PCP ao Governo. Os socialistas discordam da fundamentação da iniciativa dos comunistas, contudo alegam, por outro lado, que o PS também é oposição ao Executivo.

A posição dos socialistas foi transmitida pelo líder parlamentar, Carlos Zorrinho, no final de uma reunião da Comissão Política do PS, que durou cerca de três horas.

Carlos Zorrinho referiu que, durante a reunião, não houve votação sobre o sentido de voto dos deputados socialistas face à moção de censura do PCP, mas adiantou que a opção pela abstenção “foi consensual”.

“O PS é oposição a este Governo, mas não deseja uma crise política e não acompanha as propostas de criar esse contexto de crise política feita por um partido [o PCP] que não tem qualquer alternativa construtiva para o país. Por isso, o PS vai abster-se na votação da moção de censura que foi apresentada pelo PCP”, declarou o líder parlamentar socialista.

Interrogado sobre o motivo por que não votam contra a moção de censura do PCP, tendo em conta que estão contra a fundamentação desta iniciativa, Carlos Zorrinho referiu que “o PS se assume como oposição ao Governo”.

“Há muitas razões para censurar o Governo e a política que está a ser posta em prática não é uma boa política. O PS não está ao lado do Governo, mas é construtivo e a moção de censura do PCP não contribuiria em nada para resolver os problemas dos portugueses”, sustentou.

Confrontado com a acusação do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, de que o PS está “em cima do muro”, Carlos Zorrinho rejeitou e contrapôs: “O PS está no centro das preocupações das pessoas”.

“Há em Portugal três espaços políticos marcados: o da direita seguidista, sem capacidade de desenvolvimento do país; o de uma esquerda retórica sem propostas construtivas; e o do PS, partido que nos planos europeu e nacional luta para criar melhores condições para o futuro do país”, acrescentou.

Opinião Página Global

O comportamento do (PS) Partido pseudo-Socialista era perfeita previsível. É uma notícia não notícia ou, se quisermos, a confirmação de que o tal PS não passa de mais uma extensão rosada do PSD formando um e outro os ilusoriamente auto-denominados Governos de Alternância. Que os seus comportamentos se assemelham às prostitutas dos bares de Alterno poderemos concordar. É sempre a ver quem lhes dá mais valores, influências, poderes e vidas fáceis, só que as quecas recaem sempre sobre o povo, quer no engano ou na corrupção, quer nos conluios ou no regabofe que faz de Portugal país propriedade só de alguns com a maioria a ser completamente relegada no respeito devido à sua cidadania, aos seus direitos.

Caminhamos a passos largos para o 24 de Abril Salazar-Marcelista com a diferença de que desta vez os protagonistas devem ser etiquetados com os nefastos nomes de um Cavaco Silva de ampla negritude e dúbia representação democrática, com os seus “muchachos” Passos-Portas e Seguro, entre outros. Eis que o PS tem metade das responsabilidades pelo mal de que o povo e o país têm sido vítima. Até quando é o que falta saber. No dia em que se acabar a vaselina ao povo tudo passará a ser muito mais doloroso. Diz quem sabe. Principalmente os que se fartaram de levar quecas Salazaristas. Depois não se queixem… E escusam de iniciar uma corrida à vaselina nas farmácias. Há uma fase em que nem a vaselina alivia. Quem cala consente. (Redação PG – AV)

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Israel

No ano de 1938, em Berlim, os nazis marcharam nas ruas aterrorizando os judeus, partindo os vidros das lojas, queimando livros e incendiando sinagogas. 74 anos depois, em Hatikva (Esperança), um bairro pobre de Telavive, bando sionistas de extrema-direita aterrorizaram os trabalhadores estrangeiros, com a violência características das multidões inebriadas, como nos tempos dos pogrom contra as aldeias judias. Centenas de manifestantes concentraram-se no bairro de Hatikva exigindo a expulsão dos trabalhadores africanos, agredindo os transeuntes, atacando lojas, detendo transportes públicos e carros particulares, procurando por trabalhadores migrantes.

Os protestos contra os sudaneses foram organizados pela União Nacional, um partido sionista de extrema-direita com representação parlamentar e a eles aderiram outros grupos da extrema-direita israelita. Estas movimentações já vêm de longe. Uma deputada da União Nacional já tinha afirmado, no início deste ano, que os sudaneses eram um cancro para a sociedade israelita e o secretário-geral da União Nacional já por várias vezes referiu o tema em comícios, apelando á criação de um frente anti-imigração. Por sua vez o Ministro do Interior, Eli Yshai, pronunciou-se no início do mês pela expulsão dos estrangeiros que tenham solicitado asilo.

Mas quem são estes refugiados? É uma ampla comunidade proveniente do Sul do Sudão, nação que está em guerra com o Sudão. Outros são refugiados fugidos da região do Darfur. Vítimas do ódio e da violência nas suas terras, procuraram refazer as suas vidas em Israel, onde arranjam com relativa facilidade trabalho nas pequenas indústrias, no comércio e mesmo na agricultura. Mas também aqui o ódio bateu-lhes á porta. A violência racista não escolhe fronteiras nem culturas e é um veneno que está á solta, em paralelo com a crise mundial. A extrema-direita israelita não é diferente da extrema-direita europeia, norte-americana, africana da Ásia ou da Oceânia. Claro que os bem pensantes ficam chocados por estes factos terem ocorrido em Israel, o estado criado pelas vítimas dos pogrom, das Cruzadas, da Inquisição, do Holocausto… Mas não é isto que passa-se diariamente com os palestinianos? Não é toda a estrutura sionista um estado de apartheid, portador dos mitos do povo eleito (que se sobrepuseram á figura rebelde do judeu errante), cujos cidadãos vivem manipulados pelo mito do terror árabe, num ambiente de xenofobia que prevalece através das gerações?

Ausência

Manhã de sol ausente, de céu cinzento, encoberto. Desperto com uma ideia assente: O teu corpo no pensamento, o teu ser no meu afeto.

São melancólicas as cinzentas manhãs, reconfortantes, limpam a pele, a carne e a alma...

Palestina

Existe, em toda a Palestina, um enorme cepticismo quanto á possibilidade de um entendimento entre a Autoridade Palestiniana (AP), na Cisjordânia, e o Hamas, na Faixa de Gaza. A criação de um governo de consenso nacional, no seguimento da Declaração de Doha, continua em negociação.

As divergências são de diversa ordem. Desde os desacordos na composição do gabinete, até a questões de procedimentos e de regime. O Hamas defende a figura de um vice-primeiro-ministro e a Fatah recusa. A cláusula que gera mais conflitos é sobre o tempo de permanência do governo de consenso no poder. O ultimo acordo afirmava qua o governo nascido destas negociações teria um limite de 6 meses, após os quais teriam lugar eleições legislativas e presidenciais. No entanto uma das cláusulas do acordo prevê que, por razões de segurança, as eleições possam ser adiadas.

Ora as detenções de dirigentes e activistas do Hamas efectuadas pela AP na Cisjordânia e pelo exército israelita são utilizados pelo Hamas como pretexto para adiar as eleições. Isto significaria que o próximo governo ficaria no poder por tempo ilimitado. Outro pretexto para adiar as eleições prende-se com a diáspora palestiniana. Os estados árabes onde existem palestinianos não permitem que estes possam exercer o seu direito de voto nas representações exteriores da Palestina.

Outro ponto de discórdia diz respeito á disputa interna pela liderança da OLP entre a Fatah e o Hamas. Para a Fatah esta liderança não deveria julgar qualquer papel nas decisões palestinianas e que apenas deveria reunir-se quando fosse solicitado pelo presidente. Mas para o Hamas a liderança da OLP deveria ser fundamental na tomada de decisões. Por outro lado o Hamas adverte que não vê com bons olhos a influencia norte-americana na Fatah e é pessimista quanto á próxima visita do enviado dos USA, David Hale. Para o Hamas o objectivo desta visita é arruinar a reconciliação alcançada no Acordo do Cairo. O Hamas denuncia que o presidente Obama pretende manter a divisão entre os palestinianos e que os norte-americanos tudo farão para destruir qualquer acordo alcançado.

Um facto é que existe uma profunda crise de confiança entre ambas as partes. Por outro lado um acordo que sirva apenas para satisfazer as duas faccões e que afaste a democracia é algo que não faz qualquer sentido para o povo palestiniano, que há medida que o tempo passa, sente-se enganado e manipulado.

Ausência

Manhã alegre...Vou voar, pelo amanhecer, do Cabo ao Magrebe para no teu corpo buscar

o meu ser. Pairarei sobre as águas núbias do Nilo Azul, sobre as mascaras dúbias, em busca do Sul da tua pele, do teu ser…Quero iludir a morte e no teu corpo entender o meu Norte.

União Indiana

Em 2009 o primeiro-ministro indiano advertia o parlamento sobre o crescimento da rebelião maoista nas regiões ricas em recursos naturais. Os rebeldes referidos pelo PM indiano são os do CPI (M), o Partido Comunista da India (Maoista), descendentes do CPI (ML), o Partido Comunista da India (Marxista-Leninista), que liderou a insurreição Naxalita em 1969, reprimida e liquidada, rapidamente, pelo governo indiano da época.

Os maoistas acreditam na luta armada e na tomada violenta do poder. As suas organizações em Jharkland e Bihar, o Centro Comunista Maoista (MCC) e no Andhra Pradesh, o Grupo de Guerra Popular (PWG), tiveram grande suporte popular. Pouco antes de serem banidos, em 2004, meio milhão de pessoas foram a um comício em Warangal. Mas as coisas em Andhra Pradesh acabaram mal. Na espiral de violência entre a policia e o PWG este acabou por sofrer rudes golpes e foi dizimado. Os sobreviventes conseguiram passar para o estado vizinho do Chhattisgarh, onde as densas florestas permitiram reunir forças.

A propaganda governamental resumiu a luta antiterrorista a um simplório “quem não está por nós, está com os maoistas”. E o movimento reorganizou-se, por uma razão muito simples: são a única força politica organizada que combate efectivamente o sistema de castas que predomina na sociedade indiana. É claro que a sua visão totalitária não é esquecida, tal como não é esquecida a sua ligação ao Liberation Tigers of Tamil Eelam (LTTE) do Sri Lanka, conhecido pelos meios brutais com que conduzia a sua guerra, mas essencialmente pela forma trágica como tudo terminou para a comunidade Tamil neste país. Nada disso é esquecido de facto, mas também é reconhecido que na India central a guerrilha maoista fez mais do que qualquer governo indiano, ou ONG, pelas tribos locais, miseráveis, vivendo em condições deploráveis, numa situação de fome crónica. Existem populações inteiras, de milhões de pessoas, às quais o sistema de castas nunca permitiu o acesso á educação, ao sistema de saúde ou ao apoio legal. São milhões de pessoas exploradas através de gerações por pequenos empresários e comerciantes, de mulheres raptadas pela policia e pelo departamento florestal, que são colocadas a trabalhar em fabriquetas ou em casa de grandes proprietários, muitas vezes para as grandes marcas internacionais, escravizadas pelo milagre indiano, pela economia emergente, pelo capitalismo Brics que aproveita a mão-de-obra barata, fazendo passar uma mensagem de progresso e libertação (para as burguesias nacionais claro, que progridem nos seus lucros e libertam-se do peso da burguesia estrangeira).

Estas largas camadas da população indiana conquistam pela primeira vez a dignidade, graças aos guerrilheiros maoistas que vivem ao seu lado, no seu seio e que com elas trabalham desde há décadas. Se as tribos e as castas miseráveis, os espoliados, os que não têm direito ao mais elementar da humanidade, pegaram em armas, não foi pela sua simpatia para com o ideal maoista. Foi porque os governos indianos nunca lhes deram nada que não fosse violência, humilhação e exploração e querem agora ficar-lhe com o ultimo que lhes resta – a sua terra.

É claro que acreditam nas promessas de desenvolvimento das regiões feitas pelo governo, quando as suas terras são usadas para construir autoestradas, tomadas pelas empresas mineiras ou pelas multinacionais indianas do agro-negócio. Nada de escolas, nada de hospitais ou centros clínicos, nada de empregos, nada de nada. Apenas espoliação e exploração. Só lhes resta lutar pelas suas terras, pelas suas florestas, para não serem aniquilados. Por isso pegaram em armas. Mesmo que os ideólogos do movimento maoista lutem pela tomada do poder, a sua base de suporte, os seus guerrilheiros, malnutridos, que nunca viram um comboio, um autocarro, uma pequena cidade, lutam pelos seus direitos a uma vida melhor, pela sua dignidade e por aquilo que lhes resta: a sua sobrevivência.

Fontes

Richard Silverstein; Tel Aviv 2012-Berlin 1938; http://www.richardsilverstein.com
Saleh Al-Naami; Crisis de confianza; http://www.rebelion.org
Arundhati Roy; The heart of India is under attack; http://www.zcommunications.org

A VÍTIMA GREGA




Crise deve-se principalmente à arrogância das autoridades europeias. Incapazes e moralistas, creem que tudo funcionará, se sociedades aceitarem sofrer mais

Paul Krugman - Tradução: Antonio Martins – em Outras Palavras

Desde que a Grécia caiu em pecado, ouve-se falar muito dos problemas relacionados a tudo que é grego. Algumas das acusações são corretas e outras falsas – mas todas são irrelevantes. Sim: existem problemas importantes na economia grega, em sua política e, sem dúvida nenhuma, em sua sociedade. Mas estas falhas não são a causa do abismo para o qual o país está escorregando, e da crise que ameaça estender-se pela Europa.

Não, as origens do desastre encontram-se mais ao norte, em Bruxelas, Frankfurt e Berlim, onde as autoridades criaram um sistema monetário profundamente defeituoso – e talvez condenado a morrer – e depois agravaram os problemas destes sistema substituindo a análise por lições de moral. E a solução da crise, se é que existe alguma, terá de chegar dos mesmos lugares.

Vejamos os defeitos gregos. Sem dúvida nenhuma, o país tem muita corrupção e muita evasão fiscal, e o governo grego tem o costume de viver acima de suas possibilidades. Além disso, a produtividade do trabalho grega é baixa, para os níveis europeus: é inferior em uns 25% à média da União Europeia. No entanto, vale a pena assinalar que a produtividade laboral, digamos, no Mississipi, é baixa, segundo os padrões norte-americanas, e mais ou menos pela mesma margem.

Por outro lado, muitas “informações” que circulam sobre a Grécia são erradas. Os gregos não são indolentes: ao contrário, trabalham mais horas que quase todo mundo na Europa, e muitas horas mais que os alemães. A Grécia também não tem um Estado de bem-estar desenfreado, como gostam de afirmar os conservadores; o gasto social como porcentagem do PIB (a medida habitual para aferir o “tamanho do Estado de bem-estar social”) é consideravelmente mais baixo na Grécia que, digamos, na Suécia ou Alemanha – países que até agora enfrentaram a crise europeia bastante bem.

Mas então, como a Grécia meteu-se em tantos problemas? Culpem o euro.

Há 15 anos, a Grécia não era um paraíso, mas tampouco estava em crise. O desemprego era elevado, mas não catastrófico. O país garantia-se razoavelmente nos mercados mundiais, já que ganhava o bastante (com as exportações, o turismo, os navios e outras fontes) para pagar suas importações.

Depois, a Grécia incorporou-se ao euro, e sucedeu algo terrível: as pessoas passaram a crer que era um lugar seguro para investir. Entrou dinheiro estrangeiro na Grécia – uma parte, mas não tudo, para financiar os déficits do governo. A economia acelerou-se; a inflação cresceu; o país perdeu cada vez mais competitividade. Sem dúvidas, os gregos desperdiçaram muito (se não a maior parte) do dinheiro que entrava a rodo; mas também é verdade que todos os que se enroscaram na bolha do euro fizeram o mesmo. No momento em que estourou esta bolha, as falhas essenciais de todo o sistema da moeda única tornaram-se demasiado evidentes.

Pergunte-se por que a zona do dólar – também conhecida como Estados Unidos – funciona mais ou menos, sem as graves crises regionais que afligem agora a Europa. A resposta é que temos um governo central forte, e as atividades destes governo proporcionam, para todos os efeitos, resgates automáticos aos Estados que metem em problemas.

Pense, por exemplo, no que poderia estar ocorrendo na Flórida agora mesmo, após o estouro de sua enorme bolha imobiliária, se o Estado tivesse de sacar o dinheiro da Previdência Social e assistência à Saúde de suas próprias receitas, que se reduziram bruscamente. Por sorte para a Flórida, é Washington, e não Tallahassee [a capital da Flórida] quem se encarrega da fatura, o que significa que a Flórida esta recebendo, para todos os efeitos, um resgate em escala a que nenhum país europeu poderia sonhar.

Ou pense num exemplo mais antigo, a crise das caixas de poupança, na década de 1980, que foi em grande medida um problema do Texas. Os contribuintes acabaram pagando uma enorme soma para resolver a confusão, e a imensa maioria deles fora do Texas. Também neste caso, o Estado recebeu um resgate automático, numa escala inconcebível na Europa moderna.

Por isso, a Grécia, mesmo que não isenta de culpa, encontra-se em apuros principalmente devido à arrogância das autoridades europeias (em sua maioria, procedentes de país mais ricos), que acreditaram ser possível fazer uma moeda única funcionar sem governo único. E estas mesmas autoridades pioraram a situação ao insistir, apesar das provas, que todos os problemas da moeda única eram causados pelo comportamento irresponsável destes europeus do Sul, e que tudo funcionaria se as pessoas estivessem dispostas a sofrer um pouco mais.

O que nos leva às eleições de domingo na Grécia, que acabaram não solucionando nada. Pode ser que a coalizão de governo tenha conseguido manter-se no poder mas, de qualquer maneira, os gregos não podem resolver esta crise.

As únicas fórmulas que poderiam – poderiam – salvar o euro exigiriam que os alemães e o Banco Central Europeu dessem-se conta de que são eles que precisam mudar seu comportamento, gastar mais e, sim, aceitar uma inflação mais alta. Do contrário, bem, a Grécia passará à história como a vítima do orgulho desmedido de outros países.

O FIM DA EUROPA ALEMÃ




Gazeta Wyborcza, Varsóvia – Presseurop – imagem de Rainer Hachfeld

A coisa parece decidida: Berlim vai impor a sua visão política e a sua ordem económica à UE. Não é fácil, escreve o Gazeta Wyborcza, porque o seu modelo social está em declínio e o país não está mais bem preparado do que os outros para a união política.


Muitos mitos foram crescendo em torno da política europeia da Alemanha, mitos que não permitem abarcar totalmente a gravidade da situação atual. Pelo menos dois exigem uma explicação.

O primeiro mito diz que a Alemanha – o maior beneficiário da moeda única e a maior economia da Europa – renunciou à solidariedade com o resto do continente e virou-lhe as costas. Na realidade, sem o apoio da Alemanha, a zona euro teria caído há muito tempo. Nos últimos três anos, Berlim concedeu mais de 200 mil milhões de euros em empréstimos e garantias de crédito a Estados-membros da conturbada zona euro.

O segundo mito diz que – apesar da crise – a Alemanha está hoje tão bem que perdeu o interesse na Europa e procura parceiros em países como a China ou o Brasil. É certo que foi o comércio com aqueles países que levou ao crescimento da Alemanha no primeiro trimestre de 2012, apesar da deterioração das condições de mercado. Mas as exportações alemãs continuam dependentes da zona euro, que representa 40% das transações (contra apenas 6% com a China). O colapso do euro e a agitação social e política que previsivelmente se seguiria em pelo menos algumas das economias da moeda única afetaria muito mais a Alemanha do que diversos outros países.

Fim da simbiose

As fontes do problema alemão da Europa – ou do problema europeu da Alemanha – residem noutro lado e são mais determinantes. Em primeiro lugar, a atual crise atingiu duramente a Alemanha. Não em termos económicos, mas em termos políticos e morais. Longe de anunciar o início de uma "Europa alemã", significa realmente o seu fim.

O sistema de moeda comum foi baseado no modelo alemão e o Banco Central Europeu é uma cópia do Bundesbank. A falência desta "Europa de Maastricht" destrói efetivamente dois pressupostos cruciais para a política da Alemanha – que as soluções alemãs são as melhores para a Europa e que o modelo económico alemão progride em simbiose com a integração europeia.

Antes de a crise começar, ambos faziam sentido. A Alemanha apoiou uma integração cada vez mais estreita, servindo de motor à formação do mercado comum e da moeda única – e isso beneficiou a Europa. Mas foi também um pré-requisito para a prosperidade do pós-guerra da Alemanha, que se baseou na reconstrução da reputação internacional do país e no desenvolvimento de uma economia orientada para a exportação. Nas últimas duas décadas, a Alemanha habituou-se a pensar que o que era bom para a Alemanha também o era para a Europa. Hoje, essa simbiose acabou.

Remédio para a crise

Para salvar a Europa, os alemães não precisam apenas de abrir os cordões à bolsa, mas também de abandonar os seus conceitos a respeito da Europa e da economia, considerados garantia de sucesso da Alemanha nas décadas do pós-guerra. Isso significa um grande desafio político e intelectual.

O princípio inabalável de que cada país é responsável pelas suas próprias dívidas está hoje posto de lado. O BCE tem desempenhado um papel fundamental na recuperação da economia de vários países da falência, contrariando o dogma alemão de que a manutenção da estabilidade monetária é a única função da instituição.

É um paradoxo que a Alemanha precise de se reinventar num momento em que o seu modelo tem mais êxito que nunca, com a economia em crescimento e o desemprego mais baixo de sempre. Mudar de rumo nestas circunstâncias requer uma grande dose de coragem e determinação, que Merkel não tem.

A fraqueza do gigante

O segundo motivo, pouco conhecido, para o presente dilema europeu da Alemanha tem a ver com a sua própria situação socioeconómica. Os benefícios do sucesso económico da Alemanha da última década têm tido uma distribuição muito desigual. A desigualdade económica tem crescido mais rapidamente do que no resto do mundo industrializado.

Durante a fase de crescimento, a competitividade das exportações da Alemanha deveu-se precisamente, em grande parte, a valores de mão de obra, ou seja, baixos salários. Quem antes estava desempregado beneficiou realmente com a criação de novos empregos. Mas a qualidade da maioria desses empregos está muito longe do confortável epíteto de "capitalismo do Reno". A Alemanha detém a maior quantidade de contratos de trabalho “descartáveis” da Europa.

A isso somam-se elevadas dívidas de muitos municípios, que, forçados a introduzir medidas de austeridade drásticas, fecham serviços públicos, piscinas, centros culturais e de saúde. Paradoxalmente, a erosão do modelo social alemão acelerou-se a partir do lançamento do euro e do resultante “boom” económico.

Enquanto a Europa vê a Alemanha como uma potência económica que domina todo o continente, os alemães – apesar da prosperidade – assistem a uma crise do modelo de Estado social e de crescimento do bem-estar a que se tinham habituado a seguir à guerra.

Défice democrático

O terceiro problema da Alemanha em relação à Europa tem a ver com democracia. A recusa dos alemães em aceitar a criação de “eurobonds” (títulos europeus de dívida) ou outras soluções mais radicais prende-se com o facto de considerarem que tal transferência de prerrogativas para a UE iria obrigar a alterações na sua constituição. O Tribunal Constitucional de Karlsruhe assim o defendeu em tempos, definindo os limites possíveis para a integração.

A UE tem hoje um problema real de democracia. Um dos aspetos é a tecnocracia, que, como aponta Ivan Krastev na edição mais recente de Polityczny Przegląd ("Comentário político"), significa que, na Itália ou Grécia, "os eleitores podem mudar governos, mas não a política económica".

A outra face deste problema é a falta de vontade política por parte das sociedades (não apenas da alemã) em delegar mais poderes à UE. Talvez a Europa só possa ser salva com um grande passo na direção de uma união política, mas é precisamente a isso que a opinião pública dos Estados-membros se opõe.

O economista norte-americano Raghuran Rajan escreveu há algum tempo que os políticos são incapazes de responder a perigos de escala desconhecida. É uma boa explicação para a posição de Angela Merkel. Até agora, a política alemã concentrou-se em minorar danos e tentar preservar ao máximo a "Europa alemã".

Nos últimos tempos, a chanceler Merkel vem mencionando a necessidade de criar uma união política, perspetiva que os dirigentes da UE irão discutir na cimeira do final deste mês. Não é Berlim, mas Paris, que se pode revelar o maior obstáculo a esse processo. O dilema "colapso da UE ou união política" tornou-se muito real. Talvez a maior falha de Merkel tenha sido a sua incapacidade para preparar o público para ambos os cenários.
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Merkel-Hollande

Entre o narcisismo e a histeria

Ao oferecer 100 mil milhões de euros em garantias à Espanha para resgatar o sistema bancário do país, a chanceler Angela Merkel "esqueceu os seus princípios por momentos". Deixou também no ar a ideia de que os gregos iriam ser igualmente beneficiados. Mas, como realça a Newsweek Polska, isso ainda não significa uma reversão da política de austeridade e de cortes no orçamento:

A Alemanha tornou-se um gigante narcisista – muito orgulhoso do seu êxito... A chanceler parece estar a dizer a todos na UE: ‘Sejam como nós’. Este narcisismo não seria tão trágico se não se tivesse dado o render da guarda em França. Ao invés de procurar novas soluções, o novo Presidente francês está apenas interessado em dizer mal de Berlim. Vem exigindo histericamente que Merkel – sem quaisquer condições à partida – assine um enorme programa de ‘eurobonds’, que os alemães não terão capacidade de cobrir. Esta é a fotografia da liderança da UE cinco minutos antes do desastre. O narcisismo alemão está no comando. E a histeria francesa continua a fazer exigências irrealistas, porque é a única coisa de que é capaz.

OS DESAFIOS DAS “TERRAS MONTANHOSAS” – I



Martinho Júnior, Luanda

“Para os que concebem a História como uma disputa, o atraso e a miséria da América Latina são o resultado de seu fracasso.

Perdemos, outros ganharam.

Mas acontece que aqueles que ganharam, ganharam graças ao que nós perdemos: a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial.

Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos.

Na alquimia colonial e neo-colonial, o ouro se transformou em sucata e os alimentos se convertem em veneno.

Potosí, Zacatecas e Ouro Preto caíram de ponta do cimo dos esplendores dos metais preciosos no fundo buraco dos filões vazios, e a ruína foi o destino do pampa chileno do salitre e da selva amazônica da borracha; o nordeste açucareiro do Brasil, as matas argentinas de quebrachos ou alguns povoados petrolíferos de Maracaibo têm dolorosas razões para crer na mortalidade das fortunas que a natureza outorga e o imperialismo usurpa.

A chuva que irriga os centros do poder imperialista afoga os vastos subúrbios do sistema.

Do mesmo modo, e simetricamente, o bem-estar de nossas classes dominantes – dominantes para dentro, dominados para fora – é a maldição de nossas multidões, condenadas a uma vida de bestas de carga”. – Eduardo Galeano em “As veias abertas da América Latina” – versão completa em português – http://copyfight.noblogs.org/gallery/5220/Veias_Abertas_da_Am%C3%83%C2%A9rica_Latina(EduardoGaleano).pdf.

1 – Desde que Cristóvão Colombo chegou à América, pondo pé na segunda maior ilha das Caraíbas, que a vida não foi fácil para muitos povos, a começar para os povos ameríndios nativos que rapidamente foram desaparecendo, por um lado por que as mulheres foram sendo forçosamente tomadas para suas pelos espanhóis, por outro por que muitos morreram vítimas de doenças para as quais não estavam imunes, doenças ocorridas a partir do simples contacto com os europeus (“Taínos” – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Ta%C3%ADno_people).

Os Taínos, habitantes autóctones da ilha, que segundo as estimativas seriam 250.000 à chegada da primeira frota espanhola em 1492, estavam reduzidos a 14.000, apenas 15 anos depois!...

A mestiçagem foi fluindo entre colonizadores, autóctones e negros escravos africanos das plantações.

Se hoje ainda existirem algumas comunidades originais, serão resíduos inexpressivos para uma população que atingiu praticamente, em toda a ilha, cerca de 20 milhões de habitantes, 10 na República Dominicana (cuja superfície equivale a dois terços) e outros 10 no Haiti, o terço ocidental.

Esse sinal de desaparecimento e morte que marcou os primeiros dias da América à mercê do deslumbramento das classes dominantes da Europa, ficou lavrado na história da primeira ilha a ser “descoberta”, bem como em cada uma das Caraíbas, tal como dos imensos espaços africanos e americanos, como um anátema cujas repercussões se manifestam até aos nossos dias: é um homem forjado nas mais difíceis condições, enfrentando as mudanças climatéricas e ambientais e a opressão dos poderosos, que se move ainda sobrevivendo no meio do subdesenvolvimento crónico a que tem sido votado.

O terço ocidental da ilha Haiti (“Terras Montanhosas” de acordo com a língua do povo autóctone Taíno) é um desses exemplos, apesar do seu enorme contributo em prol da dignidade e da libertação do homem: os seus habitantes, salvo as elites corruptas que foram agenciadas pelos poderosos, têm sido tratados como alienígenas hostis nesta “casa comum” que é a Terra e são ainda hoje assim considerados pelos mesmos que os colonizaram, herdeiros das usurpadas fortunas, do trabalho escravo e por fim da mão-de-obra barata ao dispor dos expedientes neo coloniais!

Condenados a serem reserva barata de mão-de-obra, os descendentes dos escravos auto-libertados do Haiti, os escravos que venceram Napoleão, não desapareceram porém como as nações autóctones de Jaragua e Marién!

2 – O domínio dos colonizadores europeus levou à exploração das riquezas naturais e, com isso, à escravatura intensificada nas plantações que se foram disseminando desde a primeira hora da “descoberta” (“História do Haiti” – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Haiti).

A “descoberta” de África, da América e da Ásia mereceu sempre duma visão antropocêntrica do europeu, depois transposta para o norte americano, sobretudo das culturas anglo-saxónicas, gaulesas e hispânicas, em função do pendor da Revolução Industrial, que derivou para o exercício do seu poder à custa de terceiros, pelo que o mundo, durante séculos e até aos nossos dias, jamais foi “nossa casa comum”.

É essa visão antropocêntrica que perdura na aristocracia financeira mundial, nas oligarquias e elites agenciadas, no império e no que a partir dele tem sido gerado com a globalização, cujas fórmulas neo coloniais são resíduos consolidados do passado de rapina, suor, sangue e lágrimas por todo o “Terceiro Mundo”!

Tem sido assim no Haiti, apesar das conquistas feitas em nome da liberdade por parte dos escravos rebeldes que derrotaram Napoleão e é aí que se afirma a resistência mais acirrada, a resistência que se abre para a dignidade, a solidariedade, o respeito para com a humanidade e para com a Mãe Terra. (“Os jacobins negros” – http://www.controversia.com.br/felipelandim/estante).

Cuba, que fica a menos de 100 km da costa haitiana, tem absorvido uma pequena parte da migração haitiana, sobretudo na região oriental da maior das ilhas do Caribe e esses descendentes deram a sua contribuição à Revolução Cubana, a quem transmitiram também sua rebeldia e seus anseios por liberdade.

No Congo, a coluna do Che que procurou dar a sua contribuição à luta de libertação, reforçando os que apoiavam os ideais de Patrice Lumumba depois da sua morte, integrou mesmo um médico haitiano, o único elemento além do próprio Che que não possuía nacionalidade cubana, o Dr. Adrián Zanzalli, que veio a falecer no seu país em 1966 (“El sueno africano de Che”).

Para além das razões históricas, há razões culturais e sócio-políticas que se converteram em fórmulas de resistência e de identidade, entre pelo menos três povos: o cubano, o haitiano e o porto-riquenho, este último um dos povos sujeitos ao colonialismo, neste caso imposto pela hegemonia norte americana (“Cuba pide en la ONU la independência de Puerto Rico” – http://www.larepublica.es/2012/06/cuba-pide-en-la-onu-la-independencia-de-puerto-rico/).

3 – Se a história tem sido tão adversa para com os escravos auto-libertos do Haiti, também os fenómenos naturais mais adversos têm assolado o lado ocidental da ilha: furacões, terramotos…

Desse modo, o Haiti, transformado em depósito de mão-de-obra barata, um universo subdesenvolvido preso às limitações de recursos próprios do terço ocidental da ilha, resulta dramaticamente causticado, agravando as implicações da sua situação histórica e sócio-política e influindo na resistência cultural.

O ambiente reflecte a passagem dos furacões, o terramoto de Janeiro de 2010, assim como a desflorestação sistemática por acção humana, em função de necessidades que não acautelaram a natureza por manifesta má gestão do espaço disponível (“La dénudation d’Haïti : une catastrophe presque irréversible” – http://www.lematinhaiti.com/contenu.php?idtexte=30864).

Ao Haiti tudo lhe caiu em sorte nos primeiros anos deste milénio, até a transmissão do vírus da cólera por contaminação de um dos seus pequenos cursos de água!... (“Cólera amenaza seguridad alimentaria en Haití” – http://www.outroladodanoticia.com.br/component/content/article/2-noticias/4118-fao-colera-amenaza-seguridad-alimentaria-en-haiti.html).

Gravura: “Jeu de la reconstruction”, uma obra do jovem pintor haitiano Walguens Pierre Jea, que faz parte do grupo “Folie ouverte” (que se inspira na reconstrução nacional), exposta no Museu do Panteão Nacional em Porto Príncipe.

CONTRA OS MANIFESTANTES MARCHAR, MARCHAR!




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*, ontem

Antigos combatentes manifestaram-se hoje nas ruas de Luanda, como revelam as fotos. Foi no largo da Mainga, a escassos metros do Palácio do dono de Angola.

A polícia, armada até aos dentes, impediu dentro do que lhe foi possível que os ex-militares fizessem uso de um, embora teórico, direito constitucional. As armas dispararam. Há gente ferida.

Os ex-militares militares exigem a sua integração na Segurança Social, alegando que foram desmobilizados há vários anos e que até agora continuam sem receber qualquer subsídio.

Pois é. Se a reinserção social dos ex-militares do regime é a que se vê, o que dizer em relação aos da UNITA, apesar de ter ficado acordado com o governo do MPLA nas negociações que tiveram lugar para por cobro à guerra?

Em Maio de 2010, Alcides Sakala dizia que a reinserção “continuava lenta”, acrescentando que “são situações que podem transformar-se em problemas de conflito social graves”,.

Tal como agora os ex-militares das FAPLA, a UNITA continua a chorar sobre o leite derramado. Não basta, aliás, ir muito longe para ver que quem faz acordos com a onça acaba por ser comido.

Ainda tenho bem presente, por exemplo, a noticia em que se ficou a saber que 15 196 ex-militares iriam beneficiar (o que é obra!) em 2010, de charruas, carroças, sementes agrícolas diversas e fertilizantes, para o reforço da capacidade de produção agro-pecuária nas comunidades rurais dos 11 municípios da província do Huambo.

A entrega destes instrumentos de trabalho enquadrava-se, segundo a versão do regime, na implementação do programa do governo de reforço da reintegração dos ex-militares, lançado no dia 21 de Dezembro de 2009 na comuna da Tchipipa (Huambo).

Presumindo que tamanha generosidade do MPLA (partido no poder em Angola desde 1975) também abarcaria ex-militares da UNITA, atrevi-me na altura a perguntar: Terá valido a pena ser militar da UNITA? Terá sido para isto que o mais Velho tanto lutou?

As perguntas são minhas embora julgue serem comuns a muitos desses soldados.

Terá sido para isto que tantas vezes, em Umbundu (mas não só) Jonas Savimbi dizia «ise okufa, etombo livala»? (em português, prefiro antes a morte, do que a escravatura).

Num cenário em que os poucos que têm milhões (quase todos do MPLA mas onde aparecem também alguns da UNITA) continuam a ter cada vez mais milhões e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer, não me custa a crer que a linguagem das armas volte a ser equacionada.

Mal por mal, antes a morte do que a escravatura. E se antes foi o tempo dos contratados e de os escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, agora é o enxovalho para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”

«Sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!»: Morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados, ou ser escravos na terra que ajudaram a, supostamente, libertar.

E não vale a pena pensar que os alertas, ou as manifestações (de ex-militares, de jovens etc.) vão ter algum resultado prático. Isto porque é muito mais fácil ao Mundo em geral, e a Portugal em particular, negociar com um regime ditatorial do que com um que seja democrático. É muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na cadeira do poder durante toda a vida, do que com alguém que pode ao fim de um par de anos ser substituído pela livre escolha popular.

É, como acontece com José Eduardo dos Santos, muito mais fácil negociar com o líder de um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracias, representante temporário do povo soberano.

Bem visível na caso angolano é o facto de, como em qualquer outra ditadura, quanto mais se tem mais se quer ter, seja no país ou noutro qualquer sítio. Por muito pequeno que seja o ditador, o que não é o caso de José Eduardo dos Santo, a História mostra-nos que tem sempre apreciável fortuna espalhada pelo mundo, seja em bens imobiliários (como era tradição) ou mais modernamente nos paraísos fiscais.

Reconheça-se, entretanto, a estatura política de José Eduardo dos Santos, visível sobretudo a partir do momento em que deixou de poder contar com Jonas Savimbi como o bode expiatório para tudo o que de mal se passava em Angola.

Desde 2002, o presidente vitalício (ao que parece) de Angola tem conseguido fingir que democratiza o país e, mais do que isso, conseguiu (embora não por mérito seu mas, isso sim, por demérito da UNITA) domesticar completamente todos aqueles que lhe poderiam fazer frente.

Não creio que, até pelo facto de o país ter estado em guerra dezenas de anos, José Eduardo dos Santos tenha as mãos limpas de sangue. Aliás, nenhuma ditador com 33 anos de permanência seguida no poder, tem as mãos limpas.

Mas essa também não é uma preocupação. Quando se tem milhões, pouco importa como estão as mãos. Aliás, esses milhões servem também para branquear, para limpar, para transplantar, para comprar (quase) tudo e (quase) todos.

Tudo isto é possível com alguma facilidade quando se é dono de um país rico e, dessa forma, se consegue tudo o que se quer. E quando aparecem pessoas que não estão à venda mas incomodam e ameaçam o trono, há sempre forma de as fazer chocar com uma bala ou de ter um acidente.

Acresce, e nisso os angolanos não são diferentes dos portugueses ou de qualquer outro povo, que continua válida a tese de que “se não consegues vencê-los junta-te a eles”. Não admira por isso que José Eduardo dos Santos tenha mais alguns fiéis seguidores, sejam militares, políticos, empresários e até supostos jornalistas.

É claro que, enquanto isso, o Povo continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a morrer pouco depois... com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as assimetrias sociais são chagas imputáveis ao Poder. E quem está no poder há 33 anos é sempre o mesmo, José Eduardo dos Santos. Até um dia, como é óbvio.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: ESCRAVOS ILIBAM O SEU DONO

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