domingo, 27 de julho de 2014

AS CRIANÇAS NÃO FOGEM, ELAS SÃO LEVADAS PARA OS EUA



Oscar Martinez e Jimmy Alvarado - Agência Pública de Jornalismo – Outras Palavras

Quase 60 mil crianças da América Central cruzaram desacompanhadas a fronteira dos EUA em 8 meses, causando comoção mundial

O Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos deteve 56.557 crianças desacompanhadas, a maioria da América Central, cruzando a fronteira entre os Estados Unidos e o México entre outubro de 2013 e junho deste ano, quando o presidente Obama reconheceu a crise e pediu ao Congresso a aprovação de um fundo de emergência de 3,7 bilhões de dólares para amenizá-la.

Na quarta-feira passada (16/7) o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, lançou uma mensagem de alerta à Conferência Internacional sobre Migração, Infância e Família, em Tegucigalpa, Honduras, que reuniu representantes de El Salvador, Guatemala, México, Estados Unidos e integrantes da OEA (Organização de Estados Americanos), pedindo aos governos dos países de trânsito ou destino que protejam os direitos humanos das crianças, algumas com menos de sete anos.

Entre as explicações que vem sendo cogitadas para a migração crescente de menores estão um alegado acirramento da violência na América Central e a existência de leis americanas que facilitariam o asilo para menores de idade.

No momento, o Congresso americano estuda mudar a legislação para que os agentes da Guarda da Fronteira (U.S Border Patrol) possam interrogar as crianças e decidir se o medo que sentem de voltar a situações de violência merece “crédito”, suspendendo o direito de serem ouvidas por uma assistente social e por um juiz antes da decisão final.

Nada disso é verdade para os jornalistas do El Faro, site salvadorenho premiado por investigações jornalísticas principalmente na área da segurança pública. De coiotes a diplomatas o que se conta é mais um capítulo de uma velha história de exploração, crime e imigração na América Central. Texto de Oscar Martinez com colaboração na reportagem de Jimmy Alvarado.

“Eu tenho vontade de rir quando a mídia fala em ‘crianças sozinhas’. Nenhuma vai sozinha, todas são levadas pelos polleros, todas foram levadas. Se eu tivesse nos Estados Unidos sem documentos como poderia dizer para o meu filho: ‘Venha!’. Nããoo, não é assim não. É assim: as pessoas querem os filhos perto delas. E então? – diz o Senhor Coiote em sua casa no departamento de Chalatenango, ao norte de El Salvador.

O Senhor Coiote é coiote desde 1979. Gaba-se de ser um dos primeiros coiotes de El Salvador. Na verdade, quando começou a “coiotar” isso nem era ilegal. Inclusive ele chegou a publicar anúncios de “viagem segura para os Estados Unidos” nos jornais, deixando o número de seu escritório em Cuscatancingo. É um coiote, um pollero, que viveu as diferentes fases da migração, do exôdo dos que fugiam da guerra civil (1980-1992) passando de Tijuana a Los Angeles em poucas horas; até a construção do muro, na década de 1990; incluindo os últimos 14 anos em que os Zetas (um dos maiores cartéis de drogas no México) entraram no negócio e a polícia da Fronteira ultrapassou a marca dos 18 mil agentes em serviço. O Senhor Coiote já assistiu a milhões de salvadorenhos sem papéis partindo na marra, e continua vendo a mesma cena. Agora, principalmente crianças sem papéis.

Essa é quinta vez que converso com ele sob a única condição de não citar seu nome. Há alguns dias eu lhe disse por telefone que não entendia o fenômeno que vem ocupando as manchetes dos jornais e os noticiários de rádio e TV: o dos meninos migrantes de Honduras, Guatemala e El Salvador – 52 mil centroamericanos que entraram nos Estados Unidos sem visto nem companhia de adultos até junho de 2014. Uma média de 300 por dia.
O Senhor Coiote, com seu jeito direto, deu uma risada pelo telefone e respondeu: “Venha aqui e eu explico rapidinho”.

“Mas o que aconteceu nos últimos meses? As leis não mudaram, por que agora?”, pergunto, já em sua casa.

“Isso é simples, em qualquer cidade dizem para as crianças: fulano conseguiu ir para lá, assim e assado, sem pagar fiança. Joga-se essa isca, e disso se aproveitam muitos polleros que estavam ganhando 7 mil dólares por cabeça. É um grande negócio porque para levá-los até a fronteira do México com os Estados Unidos, a Reynosa, por exemplo, gastam no total, incluindo a cota dos Zetas – porque os Zetas cobram sua cota por pessoa, não importa se grande ou pequena, uns 2.000 dólares. Mais 500 dólares para quem os atravessa na fronteira, vão uns 2.500 dólares. Passam a criança para o outro lado, dão as instruções para que diga que está sozinha, procurando sua mãe, seu pai. Eles têm que esquecer que vieram com coiotes. Sempre tem alguém olhando para que a criança fale com a polícia, nem nesse momento ela está realmente sozinha, sempre tem alguém vendo se vão pegá-la. Aí está em mãos seguras. Assim que a polícia detém a criança, o coiote informa à família dela: ‘Já está segura, nos braços da lei, aguarde’. Imediatamente as autoridades se comunicam com a mãe, a criança leva nomes e números de telefone”, explica o Coiote.

“E baixaram os preços?”, pergunto. Ele responde: “Sim, tem gente que está cobrando menos, porque agora já se generalizou, a família já sabe que é mais fácil, não quer pagar 7 mil dólares. Ouvi dizer que alguns estão cobrando de 4 a 5 mil dólares. Quando chegam ao México já resolveram a parada; uma vez nos Estados Unidos, basta qualquer polícia deter as crianças e resolvido. Tenho alguns amigos que dizem que os menores de idade são dinheiro seguro. E é assim mesmo. A melhor benção é que eles sejam detidos por um policial, qualquer um.”

“ Os coiotes estão oferecendo o serviço ou são as pessoas que os procuram?”, pergunto. O Senhor Coiote responde: “As duas coisas acontecem. Os coiotes se aproveitam. E também, quando alguém vê os filhos da vizinha, pergunta: ‘Como você fez?’ Assim, assado. A outra manda buscar seu filho. Antes havia as fianças de 4 a 5 mil dólares e pagá-las era um problema. É como se dissessem: vamos deixar liberada a fronteira, quem sabe assim as pessoas vão embora a pé”.

A “coiotagem” é um negócio imortal, em grande medida porque se alimenta de uma necessidade humana essencial: a necessidade dos pais de estarem com seus filhos. Foram escritas muitas manchetes sobre as milhares de crianças que abandonaram seus países nesses meses. “A violência e as maras (gangues centroamericanas) detonam o êxodo massivo de menores de idade”, manchetou em 7 de julho o jornal espanhol El País. O mesmo título foi repetido em diferentes versões por dezenas de veículos. Alguns foram além, como a Fox News, que no último dia 11 de julho disse que a Mara Salvatrucha está aproveitando a imigração massiva para infiltrar membros nos Estados Unidos e recrutar crianças em alguns centros de detenção da Guarda da Fronteira.

“O que mudou para que nos últimos meses milhares de crianças da América Central fujam da violência? Que reviravolta houve para que até os garotos das maras façam planos de expansão aproveitando essa conjuntura? A resposta é: nada. Não aconteceu nada novo ao menos aparentemente. O que tem acontecido, segundo o senhor Coiote e também segundo Rubens Zamora, que até algumas semanas atrás embaixador de El Salvador nos Estados Unidos, é que muitas coisas permaneceram iguais.

Algumas publicações têm especulado sobre “novas leis” que dariam liberdade às crianças sem visto. Alguns veículos chegaram a mentir, dizendo que agora a legislação permite que os menores de 18 anos que entram a Estados Unidos sem papéis, têm direito de receber documentos para ficar. Mas isso é mentira.

A legislação é a mesma. Há uma lei que obriga ao Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos – ao que pertence a Guarda da Fronteira – a entregar qualquer criança sem papéis ao Departamento de Saúde en menos de 72 horas. A lei é conhecida por sua sigla TVPRA (em português Lei de Reautorização de Proteção das Vítimas de Tráfico de Pessoas). Um menor que tenha chegado aos Estados Unidos sozinho ou com um coiote é, segundo a lei, uma vítima provável de tráfico de pessoas e por isso um juiz deve decidir pelo asilo ou deportação. No caso dos adultos, ele comparece diante do juiz para dizer se quer deportação voluntária ou uma segunda audiência com o juiz para pedir asilo – algo que é concedido em raríssimos casos.

Uma criança centroamericana sem documentos que entrou no país sozinha ou com um coiote tem sempre direito a essa segunda audiêcia porque automaticamente é considerada uma possível candidata ao asilo – mas também raramente o consegue. Diferentemente dos adultos, porém, uma criança não pode ser mantida durante dias ou semanas nos quartos da Guarda da Fronteira, apelidados de “geladeiras” por sua cor e temperatura, por isso é encaminhada aos albergues especiais do Departamento de Saúde.

E também não pode ficar semanas nesses albergues esperando que o juiz a chame para a segunda audiência, onde será dada a sentença. Um adulto normalmente passa esse tempo esperando em um centro de detenção para migrantes. Mais importante: se a criança tiver um dos pais nos Estados Unidos, tem que ser entregue a eles, tenham ou não permissão de permanência no país; e o Departamento de Saúde não verifica o status migratório para entregar a criança, basta comprovar que são seus pais.

É comum que entreguem as crianças a irmãos maiores de idade. A lei que obriga tudo isso no caso das crianças não é nova, existe desde 2008, e foi criada na administração de George W. Bush, e não na gestão de Obama que no entanto é quem enfrenta a chamada “crise da fuga das crianças”.

Bem, então se não há leis novas que atraiam as crianças, talvez seja porque El Salvador, Honduras e Guatemala se tornaram países violentos nesses últimos anos. Mas isso também é um argumento falso. Somos países violentos há anos, e somos países muito violentos desde 2008, quando aquela lei foi criada. Na verdade, se por exemplo as crianças de El Salvador estivessem indo embora só por causa da violência, em 2009, milhares teriam partido.

En 2008, ano da criação da lei americana, foram assassinados em El Salvador 51,7 habitantes por 100 mil habitantes; em 2009, os números dispararam: 70,9 de cada 100 mil salvadorenhos. A taxa de homicídios rondou os 65 por 100 mil nos anos seguintes, e caiu para 41,2 en 2012 e a 39,6 en 2013, em parte graças à trégua do governo com as gangues. A exceção de 2012 e 2013, El Salvador, incluindo este 2014, sempre assistiu à morte de mais de 8 pessoas por dia. No ano passado, a ONU considerou Honduras o país mais violento do mundo e a Guatemala ficou em quinto lugar, um degrau abaixo de El Salvador. Outra variável que se manteve estável é a idade das vítimas. Segundo o Instituto de Medicina Legal de El Salvador, entre 2010 e 2014, o maior número de vítimas de homícidio estava na faixa dos 15 aos 24 anos. Parte deles, crianças, portanto.

Aqui somos violentos há muito mais tempo do que seis ou oito meses. Aqui somos violentos muito antes de 52 mil crianças irem embora.

Várias dessas 52 mil crianças certamente foram embora porque as gangues queriam recrutá-las ou matá-las e isso não acontece só agora. Elas iam embora em 2004, em 2006. Eu viajei com um menino desses, um guatemalteco, em 2008. E viajei no México com dois deles, salvadorenhos, em 2009. Os condenados à morte vão embora desde sempre. Mais de mil crianças salvadorenhas são detidas por ano pela Guarda da Fronteira desde 2009. Mais de 3 mil em 2012. Quase 6 mil em 2013. Mais de 11 mil nesses meses de 2014. Os dados nos dizem que, apesar dessa onda recente, é uma ilusão otimista acreditar que a infância e a adolescência centroamericana está sob ameaça há meses. Faz muito mais tempo que isso acontece.

Os argumentos dos detratores mais radicais, os que acham que é mentira que no norte da América Central se assassinam crianças pequenas, são absurdos. Basta abrir um jornal salvadorenho com certa frequência para que apareçam notícias como essa, de domingo 13 de julho: um menino de 11 anos foi sequestrado na sexta-feira 11 de julho quando saía da classe de 4o ano do Centro Escolar Felipe Soto, em Santa Cruz Michapa, departamento de Cuscatlán. Dois dias depois, a polícia encontrou seu corpo esquartejado e enterrado em uma região conhecida como El Arenal (o Areial).

Esses mesmos políticos céticos poderiam ter aberto o jornal do dia anterior,12 de julho, e encontrado a notícia de que dois garotos de 15 e 16 anos, foram degolados e jogados en um prédio abandonado de Tonacatepeque, São Salvador, na noite anterior. A infância desse ponto da América Central é ameaçada e assassinada há anos.

Mas sem dúvida, nos últimos seis meses o número de crianças que vão embora é maior do normalmente. Para tentar chegar a uma explicação, vale a pena escutar o funcionário que tem que lidar de perto com este problema.

* * *
Rubén Zamora foi o embaixador salvadorenho nos Estados Unidos desde meados do governo anterior, de Mauricio Funes. O novo governo o encarregou da representação nas Nações Unidas. No entanto, seu substituto, Francisco Altschul, ainda não recebeu as credenciais de embaixador, e por isso Zamora continua lidando com a crise declarada por Obama no mês passado.

Com uma frase, Zamora acaba com as expectativas dos que buscam uma razão definitiva para a partida dessas milhares de crianças em um espaço de tempo tão curto: “Não há uma explicação única”, diz, embora tenha sua própria explicação: “A comunidade salvadorenha nos Estados Unidos tem crescido economicamente. Em vez de viver espremidos em quartinhos, alguns já podem pagar 1000 dólares e alugar uma casa de dois quartos no subúrbio. A mãe começa a ter condições de mandar buscar seus filhos e agora mais gente pode pagar a viagem para trazê-los. Claro que as maras e a situação de violência na região apressam o processo. A situação econômica de alguns, somada ao medo de que suas filhas de 14 anos sejam violentadas pelas gangues ou recrutadas, faz com que eles busquem trazer os filhos. Não vêem maneiras legais de trazê-los aos Estados Unidos e vêem que seus filhos estão correndo perigo em El Salvador, para onde também não podem regressar. Que opções eles têm?”

Tanto o embaixador como o Senhor Coiote terminaram suas frases com uma pergunta. “As pessoas querem os filhos na mesma situação que elas. E então?”, perguntara antes o Senhor Coiote.

Se os pais não têm uma opção real de trazer os filhos de uma forma legal; se os pais não vêem a violência dar sinal de diminuir em Honduras, Guatemala ou El Salvador; se muitos desses pais já não lavam pratos, e conseguiram montar seu negócio depois de anos de esforço e então? Então, se nem os Estados Unidos nem Guatemala nem El Salvador nem Honduras lhes dão uma opção, um coiote dará. E, como disse o Senhor Coiote, os pais sempre vão querer ter os filhos a seu lado. Essa é uma das poucas generalizações que são totalmente verdadeiras.

A maioria dessas 52 mil crianças migrantes centroamericanas não decidiu simplesmente pegar a mochila e partir. Pelo menos não sozinha. A foto que o mundo todo viu de Alejandro, um menino hondurenho de 8 anos, à frente de um guarda de fronteira no Texas, do outro lado do rio Bravo, é uma imagem poderosa que exige explicações reais e sinceras. A migração é complexa. Os títulos de jornais que acusam as gangues e a violência, os textos que falavam de meninos que aos 8 anos decidiram ir sozinhos para os Estados Unidos porque seus pais malvados nunca mandaram buscá-los, não levam em conta o fato de que a América Central há muitos anos dá motivos para que uma criança deva sair daqui e, sobretudo, não compreendem que os pais sempre vão querer estar com seus filhos e que os levarão sempre que possível. Mesmo que para isso tenham um coiote como única opção.

“Está se repetindo o que aconteceu com a migração mexicana”, diz Zamora. “Ali aconteceu a mesma coisa que agora, em proporções distintas e com menos publicidade e dramaticidade dos meios de comunicação. Um dia os pais começaram a trazer os filhos”.

A ideia, difundida por alguns meios de comunicação que jamais falaram com um deles, é de que os coiotes enganam as pessoas. Um engano que se repete ao infinito. Ou, em outras palavras, que os migrantes são tão idiotas que acreditam que se seus filhos chegarem aos Estados Unidos sem visto, magicamente se tornarão residentes ou cidadãos americanos, de um dia para outro. O Senhor Coiote sabe que a gente deste país migra há muitos anos para os Estados Unidos. Sabe que, a estas alturas, ninguém mais acredita em mágica.

“Todas essas crianças que entraram nesses dias vão receber a citação do juiz para julgar se seu caso é de asilo ou deportação, mas quase ninguém comparece nas audiências. O que muitos fazem é se mudar para outro Estado. O que importa para as mães desses meninos é que eles estejam com elas. Depois vão ver o que fazer. Primeiro o mais importante”, diz o Senhor Coiote em sua casa em Chalatenango.

Zamora disse o mesmo de outra maneira: “O que os pais pensam é: ‘Bem, ao menos fico com ele por um ou dois anos’”.

A conversa com o Senhor Coiote continua. “É verdade que os meninos vão embora por medo das gangues?”

“Sim, uma parte deles não digo que não, mas também se faz disso um cavalo de batalha. Alguns, uma porcentagem considerável, acredito que tiveram problemas sim, que viram sua vida em risco. Mas são os pais que decidem quando buscá-los”.

“Tem aparecido novos coiotes?”

“Sim, tem novos. Tenho ouvido de algumas pessoas… Aqui, até no setor de Guarjila, em que nunca se ouvia falar de coiotes, agora em quase todos os cantos tem alguém que se dedica a levar gente. Enquanto uns jogam a toalha, outros novos chegam. Com um adulto podem fazer até três tentativas de passar a fronteira, assim é o trato. Com uma criança é só entregar nos Estados Unidos, porque no México está feito. Atualmente, o mais difícil é tirar a criança de El Salvador, porque a polícia está atenta. Se o pegam levando uma criança para fora é terrível. A Guatemala também. Já no México o que fazem é aumentar a tarifa; ali o gargalo é no Sul, do Distrito Federal para cima é tranquilo. As vezes a passagem está livre, só se trata de ir dando as cédulas. Antes ali era o problema; muitas crianças passavam pela fronteira com papéis de porto-riquenhos ou dominicanos. Ninguém vai fazer uma criança atravessar um deserto, vai por atalhos. Lugares onde não passam grupos, mas apenas duas pessoas. Dá para ver a rua, do outro lado é Estados Unidos, há centros comerciais, oficinas. Assim que cruza, alguém pega de carro e leva para esconder no outro lado. É só uma ou duas crianças, não é um grupo. Se cobrava mais, era mais difícil. Agora tem gente que cobra 4 ou 5 mil dólares por uma criança.

* * *
“Pra mim, o coiote de El Salvador disse que eram 7000 dólares para trazê-lo até a minha casa em Maryland, e 4.500 dólares para trazê-lo até a fronteira e fazer com que se entregasse a um policial dos Estados Unidos”, recorda Sandra por telefone.

Sandra é salvadorenha, de La Unión, e tem pouco mais de 40 anos. Há 11 anos vive nos Estados Unidos sem visto de permanência. Perdeu o Tratado de Proteção Temporária, por isso não tem os documentos. Trabalha, sem registro, em uma lavanderia. Há dois anos conseguiu trazer a filha mais velha, de 15 anos, e no mês passado, em meio a onda de imigração de crianças, tentou trazer seu filho menor, de 12 anos, que não reviu nos 11 anos que mora nos Estados Unidos. Conta que fala com ele três vezes por semana, que poupa para lhe mandar dinheiro, e que não tem condições de viajar para El Salvador a “turistear”. Sandra, recordemos, é clandestina. Sua filha também, e seu filho também seria se não tivesse sido detido e deportado há um mês no sul do México, quando tentava chegar a Maryland. Sandra decidiu tirar seu filho de El Salvador por vários motivos que conta por telefone na noite do domingo 13 de julho:

“Aí onde vivíamos em La Unión é bem perigoso. Os vizinhos, dois garotos e a mãe, foram ameaçados. Escravidão, morte. Os que têm família nos Estados Unidos são os mais visados e o perigo está chegando cada vez mais perto do meu menino. Eu gostaria de voltar se visse que a vida estava melhor, mas assim como está a coisa não dá nem para passear…Por isso tentei trazer meu filho”.

No horizonte de Sandra não existe a volta, apenas a conclusão da ida. Ir de uma vez. Arrancar todas as raízes deste lugar e levá-los para fora, crescendo como clandestinos. Porque ela sabe que é essa a oferta para seus filhos: crescer sem papéis.

“Alguns dizem que vocês são enganados pelos coiotes, prometendo que seu filhos se tornarão legais se entrarem por esses meses”, digo a Sandra.

“Não, eu já sabia que ele não teria visto. O coiote foi bem claro. Eu sei que depois são chamados por uma corte. Estou aqui há 11 anos, não vou acreditar em ganhar visto de presente”, diz a imigrante.

Encurralada, ela escolheu a opção mais barata, pagou 4.500 dólares a um coiote. E nada parece ter mudado nesse último mês. “Sandra, você vai tentar trazer seu filho de novo?”, pergunto. Ela responde: “Sim”.

* * *
Agora inclusive há uma promoção, um desconto dos coiotes, como aquele que Sandra escolheu. É difícil acreditar que a propaganda boca a boca funcione para divulgar uma notícia com desdobramentos a ponto de obrigar o presidente dos Estados Unidos a dar coletivas de imprensa e a pedir bilhões de dólares para amenizar a crise. Mas é nisso que acreditam o Senhor Coiote, o ex-embaixador Zamora, e Óscar Chacón, diretor da Alianza Nacional de Comunidades Latinoamericanas y Caribeñas nos Estados Unidos. Lá, o boca a boca entre as comunidades centroamericanas é poderoso, acreditam. É verossímil que tudo tenha começado com uma mãe que queria ter o filho a seu lado e outra mãe que viu que ela conseguiu, e outra que ficou sabendo, e depois outra, depois um pai, outra mãe, até chegar a 52 mil crianças centroamericanas cruzando a fronteira.

Isso acontece em parte porque os mensageiros, os coiotes, há décadas desempenham um papel importantísimo para a comunidade de imigrantes. Um coiote de Ahuachapán me disse que há dois meses ouviu o primeiro rumor e desde então seus colegas levaram 16 crianças só do município. Também me disse que os coiotes de outras regiões estão recrutando “juntadores” salvadorenhos para levar crianças. Um juntador é quem convence o cliente e o encaminha ao coiote. Normalmente recebe uns 200 dólares por imigrante. Este coiote disse que só de Candelaria de la Frontera, em Santa Ana, já foram 3 crianças, incluindo um garoto de 11 anos que “fugiu da gangue a que pertencia porque queriam matá-lo”.

Há um mês, na Guatemala, o taxista que me pegou na rodoviária da capital me disse que essa semana não poderia trabalhar comigo porque tinha que fazer duas viagens até a fronteira de El Salvador para trazer dois grupos de quatro crianças que vinham com uma parente adulta e iam para os Estados Unidos. O coiote guatemalteco passava por um ponto cego em El Salvador, pegava os migrantes, atravessava as pessoas pelo mesmo ponto cego e os subia pelo outro lado. Na semana anterior a minha chegada, o taxista havia feito mais duas viagens para o coiote, mais seis crianças. Um taxista, um coiote e 14 crianças transportadas em duas semanas. O negócio rende para todos. É sabido que, se os governos não sabem resolver, o crime sempre terá uma opção para oferecer. Mas o Senhor Coiote acha que essa bonança para os coiotes vai acabar mal.

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“Até agora tem sido um movimento bom para os coiotes, mas virá o golpe, tenho certeza. Claramente foi dito a Maribel Ponte no noticiário pela… Como ela se chama mesmo?”, pergunta o Senhor Coiote. “Mari Carmen Aponte, a embaixadora dos Estados Unidos em El Salvador?”, sugiro. “Ela mesma. Ela disse que o crime teria que ser perseguido. Que vão trazer a fotografia dos meninos, e a declaração do pai da família e da criança. E, se possível, recibos do pagamento que alguns coiotes cometem o erro de mandar com eles. Pode ser que os Estados Unidos decidam levar os polleros para lá. Se levarem dois ou três coiotes, acho que muitos vão desistir. Não acredito que os Estados Unidos vão dizer que vão dar condições para que eles fiquem legalmente, para que estudem até que as coisas melhorem em seus países. Não vão fazer isso. É mais rápido pegar uns coiotes. Alguns advogados já estão recomendando às famílias que guardem as provas. Há vistos especiais para permanecer lá. Não é permanente, é temporário, para quem colabora com a Justiça. Vão dar vistos a muitos desses garotos mas vão ser testemunhas certificadas. Toda a informação vai vir de lá: fulano foi trazido por este, sicrano por aquele. Porque o pai, contanto que deixem que seu filho fique, vai falar”.

É incrível ouvir um coiote recitando as declarações de uma embaixadora americana em um quintal de Chalatenango. Ainda mais incrível que sua análise seja certeira. O ex-embaixador salvadorenho Zamora acredita que “essa perseguição aos coiotes vai começar” sobretudo porque os juízes dos casos de deportação são juízes administrativos, vinculados ao Poder Executivo. Ou seja, que respondem de acordo com a estratégia política do presidente, e este presidente já deixou claro que o que pretende é deportar mais rápido as crianças centroamericanas e atacar os coiotes. Zamora, ademais, confirma que “o governo salvadorenho pediu aos organismos do Estado (Fiscalía e Polícia) que incrementem a perseguição aos coiotes”.

Os Estados Unidos apostam em soluções imediatas e para Zamora, “as opções imediatas não existem”, pois a curto prazo se pode “reduzir, não eliminar”. Para deixar claro, por imediato se entende, por exemplo, extraditar alguns tantos coiotes ou colocar mais guardas na fronteira. Quando Zamora diz “duradouro” se refere, por exemplo, à “criação de empregos dignos”.

Sob esse ponto de vista, aliás, os Estados Unidos já se pronunciaram. A Casa Branca publicou na semana passada um comunicado explicando como gastaram os 3,7 bilhões de dólares que o presidente Obama tinha pedido para solucionar a crise. Em resumo: o grosso desses milhões foi para os departamentos de Segurança Nacional e Saúde, focados na detenção e deportação de imigrantes. De todos esses bilhões, 295 milhões foram para que os governos de El Salvador, Honduras e Guatemala controlem melhor suas fronteiras e criem condições para combater as causas da imigração. Se seguimos essa lógica, o governo dos Estados Unidos acredita que sua responsabilidade na migração de crianças centroamericanas é de algo em torno de 8 %. Ou, dito de outra maneira, os Estados Unidos acham que melhorar a América Central representa 8 % da solução.

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O fato é que na terceira semana de junho, quase 52 mil crianças deixar os três países mais violentos da América Central. E, como diz o Senhor Coiote, “aí um monte de gente vai dizer que os meninos são fugitivos porque não se apresentaram ao juiz”. Mas o caso, e não apenas dessa crise mas da imigração como um todo, já foi explicado pelo Senhor Coiote: “É assim, as pessoas querem os filhos perto delas. E então?”


O QUE ANDA A FAZER A DIPLOMACIA PORTUGUESA?



TERESA DE SOUSA – Público

É verdade que os países desenvolvidos não estão a investir em Portugal e que temos de ir buscar capital à China, a Angola e agora, pelos vistos, à Guiné Equatorial. Cabe-nos alterar estas circunstâncias em vez de nos rendermos a elas.

1. Não é para “bater no ceguinho” outra vez e talvez nem seja para acrescentar muito ao debate. Mas o nosso “carinho” pelos timorenses, invocado pelo Presidente da República, não chega para ocultar um grande fracasso da diplomacia portuguesa, que levou à humilhação nacional. Com Luanda já tinha sido mais ou menos a mesma coisa, com a diplomacia a vergar-se aos editoriais “ameaçadores” do Jornal de Angola. Vale, no entanto, a pena dar um passo atrás para olhar devidamente para este triste episódio.

Comecemos pelo mundo. Hoje, uma das questões centrais da caótica “ordem” internacional em que vivemos é a emergência de novos poderes mundiais que, ao contrário do Ocidente (e da ordem que foi construindo), não colocam na sua agenda externa a questão dos direitos humanos. E isso acontece não apenas com as novas potências que são regimes autoritários, mas com as que são grandes democracias. A Europa e os EUA têm de contar com isso. O Brasil é o exemplo paradigmático. Com o PT de Lula e de Dilma (ajudados pelas mudanças radicais a que assistimos hoje na economia global), a questão geopolítica é aproveitar o declínio ocidental para garantir às novas potências emergentes o lugar na cena mundial a que se acham com direito. Como dizia um sociólogo brasileiro, “o Brasil não quer democratizar o mundo, quer democratizar o poder mundial”. A linha que hoje prevalece no Itamaraty traduz-se no fortalecimento das relações Sul-Sul e já não, como no tempo de Fernando Henrique Cardoso, uma relação Sul-Norte com os grandes pólos de poder ocidental (EUA e União Europeia). Nessa altura, a questão da democracia ainda era forte (o Mercosul foi criado tendo por base o compromisso com os valores democráticos por parte dos países-membros). Agora, com a interpretação que o Brasil fez das consequências da crise financeira para o domínio ocidental, esse vector conta pouco. Brasília olha para a África Ocidental como um parceiro privilegiado. Qualquer diplomata nos pode explicar que, depois do Brasil verde (Amazónia), a nova prioridade é o Brasil azul, ou seja, a valorização estratégica do Atlântico Sul. Os direitos humanos e o bom governo não têm nada a ver com isto. O petróleo é um dos seus grandes trunfos internacionais. A última coisa que passaria pela cabeça de Dilma era ver este objectivo estratégico prejudicado por uma qualquer teimosia de Portugal sobre a questão dos direitos humanos. Com uma agravante, como uma vez disse em Lisboa o principal assessor diplomático de Lula (e de Dilma): “a Europa saiu do nosso radar”.

2. Podemos também olhar para o que se está a passar na Ucrânia, na nossa velha e boa Europa para compreender o mundo em que vivemos. A União Europeia, que é ainda um colosso económico, verga-se às ameaças de Putin com um à-vontade inexplicável. É verdade que, até agora, tem disfarçado essa tentação, procurando seguir os Estados Unidos na sua estratégia de sanções cada vez mais duras e no crescente isolamento internacional da Rússia. Como é óbvio para qualquer observador, a tragédia do voo da companhia aérea da Malásia deixou Putin ainda mais isolado. E, no entanto, como referem as análises da imprensa europeia, nem esta tragédia conseguiu unir a Europa de forma inequívoca. Aliás, viu-se na última cimeira europeia até que ponto a Rússia divide os europeus e até que ponto alguns governos não conseguem ver para além dos negócios. É verdade que os chefes da diplomacia europeia já decidiram elevar as sanções para o “nível três”. Se passarem à prática, o efeito na economia russa começa mesmo a doer. Terá custos também para a economia europeia que será preciso suportar para que Putin consiga perceber que há coisas que não lhe são permitidas.

E isto conduz-nos de novo à triste cimeira da CPLP. A diplomacia portuguesa pode justificar a sua rendição aos seus parceiros como um imperativo de realpolitik. O que não consegue explicar é o que o país beneficia com ele. Preservar a língua? Essa parte é de gargalhada. Ter acesso a energia mais barata? Isso depende muito mais de uma estratégia europeia que não seja a da pura fragmentação dos mercados energéticos. Finalmente, aquela que o Governo nunca invoca e que é a razão mais forte: Brasília e Luanda queriam assim. Portugal não tinha alternativa? Claro que tinha. Mas a insistência na chamada “diplomacia económica” que Paulo Portas instituiu e que o Governo interiorizou matou a diplomacia política que deve fazer a leitura dos nossos interesses no longo prazo.

A forma como decorreu a cimeira foi, em primeiro lugar, um tremendo fracasso da diplomacia portuguesa. Sabemos como estas visitas de Estado são preparadas ao milímetro com uma antecedência razoável. Lisboa já sabia que não conseguiria travar a entrada de Obiang. Deveria ter uma forma de manifestar a sua reserva, distanciando-se da cerimónia que, entretanto, os seus “amigos” timorenses resolveram alterar. Cavaco opôs-se à entrada de Obiang durante anos. Agora parece que não conseguiu impedir o facto consumado. O facto de Dilma e José Eduardo dos Santos terem faltado podia ter dado ao Presidente a desculpa necessária para não ir. Terá sido a intransigência do Palácio das Necessidades que o deixou sem saída. Como é que a diplomacia portuguesa expôs o chefe de Estado e o primeiro-ministro ao teatro lamentável que se viveu em Díli? Alguém vai ter ainda de explicar tudo isto.

Portugal - Justiça: EM MAUS LENÇÓIS



Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

A justiça está deitada na cama que fez para si própria nas últimas décadas. O povo já não se contenta com o facto de o dono disto tudo ter sido detido e interrogado por um juiz. Pelo contrário, desconfia de tanto aparato e já nem pede justiça, exige vingança.

Todos perguntam onde estava este poder (juízes, procuradores, jornalistas, políticos...) quando ele era de facto dono disto tudo? Por certo se sabe muito mais hoje do que há apenas dois meses, mas não estranhem que o povo estranhe tanta vontade de fazer justiça depois de tanto silêncio e cumplicidade.

Para ficar bem na fotografia, a justiça está "obrigada" a dar ordem de prisão a este banqueiro e o povo, de seguida, pedir-lhe-á mais prisões, de mais banqueiros, de mais gente importante e poderosa. Pressionada, a nossa justiça deixará que a violação do segredo de justiça, essa arma poderosa para condenar pessoas na praça pública, volte a funcionar. E já começaram as fugas selectivas de informação, querendo provar a culpa do arguido mesmo que para isso quem investiga tenha de fazer figura de parvo.

O Expresso Diário contou-nos a história de umas caixas, com papéis para destruir, encontradas pela investigação no escritório improvisado de Ricardo Salgado, e dava nota do que essa mesma investigação terá feito perante tão grande descoberta. Passo a citar: "A PJ fotografou, foi-se embora e cinco dias depois [...] entrou no hotel com um mandado de busca." Se não fosse trágico, dava para rir. O Ministério Público acreditou que Salgado queria destruir provas e achou por bem dar-lhe cinco dias para pensar no assunto. Não lhes passou pela cabeça que é na produção de prova e na sua justa avaliação, de acordo com a lei, que se faz boa justiça. Por aqui se vê que, infelizmente, não há uma única razão para acreditar que a justiça vai mudar em Portugal.

Para avaliar o estado da justiça pouco importa que isto termine com uma condenação ou uma declaração de inocência do mediático arguido. A democracia assenta na separação de poderes mas a maior parte do tempo parece que a justiça é um Estado à parte, com as suas próprias regras, sem ter de dar cavaco a ninguém.

As instituições da justiça estão entre as mais desconsideradas pelos portugueses e vivem hoje, como viviam ontem, sob suspeita de tratar de modo diferente cidadãos que, à luz da lei, deveriam receber tratamento igual. Ainda não foi desta que provaram não temer os poderosos. Os titulares da justiça, a quem se exige maior responsabilidade, agem do mesmo modo que a generalidade dos cidadãos, com reverência face a quem tem poder e com desdém em relação a quem cai em desgraça. Para haver Justiça é preciso muito mais do que o circo que já começaram a montar.

Portugal – UGT: QUANDO O SINDICATO SE CONFUNDE COM O BANCO



Tiago Mota Saraiva – jornal i

Na maior parte dos casos é mais recorrente que justo conotar-se as centrais sindicais de cada país com este ou aquele partido, ideologia, governo ou associação patronal em função dos seus posicionamentos políticos no tempo. Contudo, em Portugal parece existir hoje um caso absolutamente extraordinário: uma central sindical cujo secretário-geral toma a palavra para defender uma família suspeita de ter feito inúmeras falcatruas num banco privado – por sinal, seus ex-patrões.

Quando o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, foi eleito para liderar a central sindical, desdobrou-se em entrevistas sobre a sua vida passando a ideia, em vários momentos, de que teria pedido (e obtido) uma espécie de bênção ao chefe da família Espírito Santo, à época, Ricardo Salgado – e que se encontra detido à hora a que escrevo. Não sendo este facto original, estou em crer que não haverá muitos dirigentes sindicais que achem relevante revelar este tipo de conversas publicamente. Sendo do foro privado, não fica muito claro qual a mensagem que se pretendia passar ao trazê-las a público.

Passados dois anos após a sua eleição e de um significativo desaparecimento da central sindical que dirige, eis que Carlos Silva, há poucas semanas e na pele de secretário-geral da UGT, veio declarar para espanto geral que o problema do BES está na actuação dos “poderes públicos”. E não se ficou por aqui! Criticando a alegada decisão do Banco de Portugal de, passo a citar, “correr com a família”, concluiu, numa frase esclarecedora: “Com o devido respeito, acho que é uma estratégia errada porque, acima de tudo, retira confiança a quem é depositante, aos investidores, põe em causa um nome consagrado da vida portuguesa e até em termos internacionais e, acima de tudo, estão em causa oito mil postos de trabalho.”

“Com o devido respeito”, não me parece muito simpático que os milhares de sindicalistas e sindicalizados filiados na UGT passeiem no bolso da família Espírito Santo.

Escreve ao sábado

Portugal - Legislativas: MANIFESTO E LIVRE VÃO JUNTOS ÀS PRÓXIMAS ELEIÇÕES




O Fórum Manifesto e o partido Livre vão concorrer juntos às próximas eleições legislativas, de acordo com o semanário Sol.

O partido Livre vai disputar as próximas eleições legislativas coligado com o Fórum Manifesto, que se desvinculou recentemente do Bloco de Esquerda.

A notícia é avançada pelo semanário Sol, na sua edição online, que dá conta de que o calendário e as bases programáticas não estão fechados.

Numa sessão de esclarecimento, Ana Drago, do Fórum Manifesto, salientou a necessidade de criar uma “plataforma eleitoral”.

 “Não basta fazer o diagnóstico acertado e ficar sentado. Precisamos de estar empenhados na tentativa de fazer uma plataforma que possa assumir compromissos com impacto na vida das pessoas”, afirmou. 

Notícias ao Minuto

QUANTO MAIS CAOS NA PALESTINA, MELHOR PARA EUA E ISRAEL




Por que os EUA e Israel estão tão interessados que o caos na Palestina perdure? Entenda como os interesses do complexo industrial-militar americano e dos sionistas israelenses convergem no que diz respeito ao caos no Oriente Médio

Ismael Hossein Zadeh*, em CounterPunch – Pragmatismo Político

Observadores da geopolítica do Oriente Médio tendem a colocar a culpa do caos na região em um suposto fracasso das políticas “incoerentes”, “ilógicas” ou “contraditórias” dos EUA. No entanto, evidências irrefutáveis apresentadas neste estudo sugerem que, na verdade, o caos representa o sucesso, e não o fracasso, destas políticas — que foram formuladas pelos beneficiários da guerra e das aventuras militares na região e em outros locais. Enquanto as políticas norte-americanas na região são certamente irracionais e conflituosas do ponto de vista da paz internacional e mesmo do ponto de vista dos interesses nacionais como um todo, elas são bastante lógicas do ponto de vista dos beneficiários econômicos e geopolíticos da guerra e de hostilidades internacionais; isto é, do (a) do complexo militar-industrial, e (b) dos militantes sionistas que propõem uma “Grande Israel.”

As sementes do caos foram plantadas há cerca de 25 anos, quando o muro de Berlim caiu. Uma vez que a razão para um aparato militar gigantesco durante a Guerra Fria era a “ameaça do comunismo,” os cidadãos americanos celebraram a queda do Muro como o fim do militarismo e a aurora dos “dividendos da paz” — uma referência aos benefícios que muitos gozariam nos EUA em decorrência da reorientação de parte do orçamento do Pentágono na direção de necessidades sociais.

Mas enquanto os cidadão norte-americanos celebravam, os poderosos interesses que investiam na expansão dos gastos militares se sentiram ameaçados. Sem surpresas, estas forças mudaram seus alvos para salvaguardar seus interesses contra as “ameaças de paz.”

Para sufocar as vozes que demandavam os dividendos da paz, os beneficiários da guerra e do militarismo começaram a redefinir metodicamente as “fontes de ameaça” pós-Guerra Fria dentro do espectro do novo mundo multi-polar, que ia além da tradicional “ameaça Soviética” da era anterior. Ao invés de “ameaça comunista”, os “estados párias,” o islamismo radical e o “terrorismo global” seriam os novos inimigos.

Publicamente, a maior parte da reavaliação do mundo pós-Guerra Fria foi apresentada pelos militares de alta patente. Por exemplo, o General Carl Vuno, chefe do estado-maior do exército dos EUA, declarou ao Comitê da Câmara em maio de 1989: “muito mais complexo [do que qualquer perigo imposto pela União Soviética] é a situação ameaçadora em desenvolvimento no resto do mundo… neste mundo multi-polar, nós enfrentamos ameaças de países que estão se tornando cada vez mais sofisticados militarmente e mais agressivos politicamente”[2].

O General Colin Powell, presidente da junta de chefes do estado-maior na época, argumentou no Comitê do Senado que apesar da queda da União Soviética, os EUA precisavam continuar com seu acúmulo de forças militares por outras obrigações: “Com todos estes desafios e oportunidades confrontando nossa nação, é impossível acreditar que a desmobilização ou esvaziamento das forças militares americanas são um caminho para o futuro. O verdadeiro ‘dividendo da paz’ é a paz mesmo… A paz surge através da manutenção da força” [3].

Enquanto os militares de alta patente, vestidos de uniformes belos e chamativos, tomavam o papel principal na luta contra a diminuição do complexo militar-industrial; militaristas civis, trabalhando dentro e fora do Pentágono e associados aos think-tanks militaristas, tramavam por trás das cortinas. Entre eles se incluem o então secretário de defesa Dick Cheney; seu subsecretário de defesa Paul D. Wolfowitz; Zalmay Khalizad, então assessor de Wolfowitz; e I. Lewis “Scooter” Libby, então subsecretário adjunto de defesa. Este grupo de homens e seus pensadores e colaboradores (tal qual Richard Perle, Douglas Feith, e outros) trabalharam diligentemente juntos prevenindo cortes pós-Guerra Fria. “O que tinhamos medo era que as pessoas dissessem ‘vamos trazer todas as tropas de volta pra casa, vamos abandonar nossa posição na Europa’,” relembrou Wolfowitz em uma entrevista [4]

Estes planejadores militares eram oficilamente afiliados ao Pentágono e/ou com a administração de Bush pai,mas também eram colaboradores próximos de think-tanks lobistas ultranacionalistas como o American Enterprise Institute, Project for the New American Century e o Jewish Institute fo National Security Affairs que foi montado para servir tanto ao lobby das armas quanto ao lobby de Israel. Mesmo um olhar superficial sob os registros destes think tanks — sob seus membros, seus recursos financeiros, suas estruturas institucionais, etc — mostram que eles foram criados para servir como frontes institucionais de camuflagem de negócios incestuosos e/ou relacionamentos políticos entre o Pentágono, seus principais empreiteiros, os militares de alta patente, o lobby de Israel e outras corporações beligerantes [5].

Em um esforço cuidadoso e calculado para redefinir o mundo pós-Guerra Fria como um mundo “mais perigoso” e desenhar uma nova “estratégia de segurança nacional” para os EUA, este time de planejadores militares e think-tanks produziram um documento geopolítico-militar logo após a queda da União Soviética que foi conhecido como “Guia de Planejamento de Defesa,” ou “Estratégia de Defesa para os anos 1990.” O documento, revelado pela Casa Branca ao Congresso no início dos anos 1990, focava em “pontos imprevisíveis de turbulência no terceiro mundo” como novas fontes de atenção para o poder militar dos EUA na era pós-Guerra Fria: “na nova era, nós prevemos que nosso poder militar continuará a ser um alicerce essencial do equilíbrio global… que as demandas para o uso de nossas forças militares estarão no Terceiro Mundo, onde novas abordagens podem ser necessárias” [6]

Para responder às “turbulências nas regiões mais vitais,” a nova situação requisitava uma estratégia para “identificar ameaças” — uma estratégia militar que “conteria e reprimiria conflitos locais ou regionais no Terceiro Mundo com rapidez e eficiência antes que eles saíssem de controle.” No mundo pós-Guerra Fria de “múltiplas fontes de ameaças,” os EUA também necessitariam estar preparados para lutar guerras de “baixa e média intensidade.” Baixa e média intensidade não se referem ao nível de poder de fogo e violência empregados, mas à escala geográfica se comparada com uma guerra mundial ou regional que paralisaria os mercados globais.

A “Estratégia de Defesa para os anos 1990” também falava de manter e expandir a “profundidade estratégica” norte-americana — um termo cunhado pelo então secretário de defesa Dick Cheney. O termo tinha uma conotação geopolítica, significando que, após a queda do Muro de Berlim, os EUA deveriam estender sua presença global — em termos de bases militares, estações de escuta e inteligência e tecnologia militar — a areas anteriormente neutras ou sob influência da União Soviética.

As prescrições políticas destas profecias eram inequívocas: tendo projetado (e depois criado) o mundo pós-Guerra Fria como um lugar fracionado em “múltiplas ameaças aos interesse nacionais norte-americanos,” beneficiários poderosos do orçamento do Pentágono tiveram sucesso na manutenção dos gastos nos mesmos níveis da Guerra Fria. Proponentes do militarismo contínuo “se moveram com rapidez notável para assegurar que a queda da União Soviética não afetaria o orçamento do Pentágono ou nossa ‘posição estratégica’ que garantimos em nome do anti-comunismo.”[7]

Para levar a cabo a “Estratégia de Segurança Nacional” do mundo pós-Guerra Fria, os organizadores do plano necessitavam de pretextos, que frequentemente significavam inventar ou fabricar inimigos. Beneficiários dos dividendos de guerra às vezes encontravam “inimigos externos e ameaças apenas decidindo unilateralmente que ações ao redor do mundo eram terrorismo,” ou por classificar arbitrariamente alguns países como “apoiadores do terrorismo”, como Bill Christison, assessor aposentado da CIA, demonstrou [8].

Eles também criaram atritos internacionais através de políticas traiçoeiras que tinham o intuito de provocar ira e violência, o que seria o estopim para futuros atos de terrorismo e um ciclo vicioso de guerra. E é claro, a abominável força por trás desta estratégia servia para manter os lucros do negócio da guerra. Gore Vidal caracterizou satiricamente esta maldita necessidade dos beneficiários da guerra de constantemente aparecerem com novas ameaças e inimigos como “clube do inimigo do mês: cada mês somos confrontados com um horroroso inimigo que devemos atacar antes que nos destrua” [9].

Uma pequena guerra aqui, outra ali, uma guerra de “baixa intensidade” no país x, outra de “média intensidade” no país y — cinicamente chamadas de “guerras sob controle” — são estratégias que manteriam o orçamento militar na direção dos cofres do complexo industrial-militar sem causar um conflito de larga escala que acabaria com os mercados mundiais.

Ainda dentro deste cenário, a abordagem do governo dos EUA aos ataques hediondos de 11 de setembro foi uma oportunidade para que a guerra e agressão não chegassem de surpresa a qualquer um familiar às necessidades viciosas do militarismo. Os ataques monstruosos foram tratados não como crimes, mas como uma “guerra contra a America.” Uma vez que foi estabelecido que os EUA estavam “em guerra,” as agressões imperialistas começaram. Como colocou Chalmers Johnson, a tragédia de 11 de setembro “serviu como um maná do paraíso à uma administração determinada a aumentar o orçamento militar” [10]

Nesta época, já haviam sido rotulados como “hostis” governos como os do Irã, Iraque, Líbia e Coréia do Norte por serem desonestos ou apoiarem o terrorismo, o que requeria uma “mudança de regime.” Antes dos ataques de 11 de setembro, no entanto, tais rótulos demonizantes não eram aparentemente suficientes para convencer o povo americano a apoiar os EUA em sua tendência à guerra. A tragédia de 11 de setembro serviu de pretexto para tais conflitos — que se seguiram a mudança de regime no Iraque e em outros países hostis ao redor do mundo.

Como beneficiários dos dividendos de guerra, o complexo industrial-militar considerava a paz internacional e a estabilidade como inimigos para seus interesses, e assim também acontecia com militantes sionistas proponentes da “Grande Israel”que perceberam que a paz entre Israel e seus vizinhos palestinos/árabes era prejudicial a seus objetivos de tomarem o controle da “Terra Prometida.” A razão para este medo da paz é que, de acordo com algumas resoluções das Nações Unidas, a paz significaria o retorno de Israel a suas fronteiras pré-1967, isto é, fora da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Logo, seu medo da paz faz com que continuem suas tentativas de sabotagem das negociações.

Pela mesma razão, estes proponentes enxergam a guerra e a convulsão (ou, como David Ben-Gurion, um dos fundadores do Estado de Israel colocava, “atmosfera revolucionária”) como oportunidades para a expulsão dos palestinos e para a reconfiguração geográfica de região e expansão do território israelense. “O que é inconcebível em tempos normais,” Ben-Gurion apontava, “é possível em tempos revolucionários; e se neste tempo a oportunidade for perdida — um mundo todo é perdido” [11]

Ecoando um sentimento similar de que a dissolução e fragmentação dos estados árabes em mosaicos de grupos étnicos é possível apenas sob condições de guerra e convulsão sociopolítica, o notório linha-dura Ariel Sharon apontou em março de 1988 que “se as revoltas palestinas continuarem, Israel teria de guerrear contra seus vizinhos árabes. A guerra, ele declarou, proveria ‘as circunstâncias’ para que se removesse a população palestina por inteiro da Cisjordânia e de Gaza e até mesmo de dentro de Israel” [12].

Esta visão de que a guerra “proveria as circunstâncias” para a remoção dos palestinos dos territórios ocupados tem como premissa a espectativa de que os EUA também compartilham desta noção e iriam apoiar o expansionismo de Israel no caso de uma guerra. A espectativa não é de forma alguma estranha ou incomum, pois os beneficiários dos gastos militares nos EUA teriam prazer de ajudar Israel, não tanto pelo bem do país, mas por seus propósitos nefastos — a aliança entre o complexo militar-industrial e o lobby de Israel.

Por causa dos interesses destes dois poderosos grupos convergindo na direção da fomentação da guerra e das convulsões políticas no Oriente Médio, uma aliança potente e ameaçadora foi forjada entre os dois — ameaçadora porque a poderosa máquina de guerra norte-americana é agora suplementada pela incomparável capacidade de relações públicas do lobby pro-Israel nos EUA. A convergência e/ou interdependência dos interesses do complexo militar-industrial e aquele dos militantes sionistas é o coração do ciclo perpétuo de violência na região.

Tal aliança não é oficial; ela é sutilmente forjada através de uma elaborada rede de poderosos think tanks como os seguintes: The American Enterprise Institute, Project for the New American Century, America Israel Public Affairs Committee, Middle East Media Research Institute, Washington Institute for Near East Policy, Middle East Forum, National Institute for Public Policy, Jewish Institute for National Security Affairs, and Center for Security Policy.

Imediatamente após a Guerra Fria, estes think tanks e seus operadores dentro e fora do governo publicaram vários documentos que defendiam claramente mudanças de fronteiras, mudanças demográficas e mudanças de regime no Oriente Médio. Por exemplo, em 1996, um influente think tank israelense, o Institute for Advanced Strategic e Political Studies, patrocinou e publicou um documento intitulado “Uma quebra limpa: uma nova estratégia de segurança para região,” que argumentava que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu “deveria fazer uma ‘quebra limpa’ do processo de paz de Oslo e reassumir a reivindicação da Cisjordânia e de Gaza. O documento apresentou um plano onde Israel deveria ‘formular seu ambiente estratégico,’ começando com a derrubada de Saddam Hussein e a instalação da monarquia hashimita em Bagdá para servir de primeiro passo em direção a eliminação dos governos anti-Israel da Síria, do Líbano, da Arábia Saudita e do Irã”[13].

Em uma “Carta Aberta ao Presidente” (Clinton), de 19 de fevereiro de 1998, vários think tanks e indivíduos representando o complexo militar-industrial e o lobby de Israel, recomendaram “uma estratégia política e militar para tirar Saddam do regime.” Entre os signatários da carta estavam: Elliott Abrams, Richard Armitage, John Bolton, Douglas Feith, Paul Wolfowitz, David Wurmser, Dov Zakheim, Richard Perle, Donald Rumsfeld, William Kristol, Joshua Muravchik, Leon Wieseltier, e Stephen Solarz [14].

Em setembro de 2000, outro think tank militarista chamado Project for the New American Century (PNAC), lançou um relatório entitulado “reconstruindo as defesas da América: estratégia, forças e recursos para um novo século,” que projetava explicitamente o desempenho de um papel imperialista pelos EUA no mundo todo. Ele estabelecia, por exemplo, “que os EUA durante décadas tentaram ter um papel permanente na segurança da região do Golfo Pérsico. Enquanto o conflito sem resolução com o Iraque provê uma justificativa imediata, a necessidade de uma substancial presença americana no Golfo transcende a questão do regime de Saddam Hussein.” Os patrocinadores do relatório incluiam Richard Cheney, Donald Rumsfeld, Paul Wolowitz, Lewis Libby e Willian Kristol, que também foi co-autor do relatório[15].

O influente Jewish Institute for the National Security Affairs (JINSA) também emitiu declarações e documentos que defendiam “mudanças de regime” no Oriente Médio. Seu assessor, Michael Ladeen, que também assessorou extra-oficialmente a administração Bush em questões do Oriente Médio, falava abertamente da era da “guerra total” que estava por vir, indicando que os EUA deveriam expandir suas políticas de “mudanças de regime” no Iraque a outros países na região como o Irã e a Síria. “Neste fervente apoio a estas políticas pró-assentamentos e anti-palestina, o JINSA recomendou que a ‘mudança de regime’ no Iraque deveria ser apenas o início para que os dominós caissem no Oriente Médio”[16].

Em suma, a evidência é arrebatadora (e irrefutável) de que o caos no Oriente Médio, Norte da África e Leste Europeu/Ucrânia não é por causa de políticas “equivocadas” dos EUA e seus aliados, como muitos críticos tendem a sustentar. O caos é causado por políticas premeditadas e muito bem desenhadas que foram cunhadas por uma aliança entre o complexo militar-industrial e o lobby israelense no mundo pós-guerra fria.

*Ismael Hossein Zadeh é professor emérito de Economia da Drake University. Tradução: Roberto Brilhante, Carta Maior

Referências:
[1] Excertos do meu livro, The Political Economy of U.S. Militarism, especialmente capítulos 4 and 6, foram usados neste ensaio.
[2] Citado em Sheila Ryan, “Power Projection in the Middle East,” inMobilizing Democracy, edited by Greg Bates (Monroe, Maine: Common Courage Press, 1991), p. 47.
[3] Ibid., p. 46.
[4] James Mann, “The True Rationale? It’s a Decade Old,” Washington Post, Sunday (7 March 2004), page B02.
[5] For a detailed exposition of this dubious relationship see Ismael Hossein-zadeh, The Political Economy of U.S. Militarism (Palgrave-Macmillan 2007), chapter 6.
[6] Chalmers Johnson, The Sorrows of Empire (New York, NY: Metropolitan Books, 2004), pp. 20-21.
[7] Ibid., p. 20.
[8] Bill Christison, “The Disastrous Foreign Policies of the United States,”Counterpunch.org (9 May 2002), .
[9] Gore Vidal, Perpetual War for Perpetual Peace: How We Got To Be So Hated (New York: Thunder’s Mouth Press/Nation Books, 2002), pp. 20-1.
[10] Chalmers Johnson, The Sorrows of Empire (New York, NY: Metropolitan Books, 2004), p. 64.
[11] Quoted in Stephen J. Sniegoski, “The War on Iraq: Conceived in Israel,” <http://vho.org/tr/2003/3/Sniegoski285-298.html>.
[12] Ibid.
[13] Ibid.
[14] Ibid.
[15] Ibid.
[16] William D. Hartung, How Much Are You Making on the War, Daddy? (New York: Nation Books, 2003), p.109.


Brasil: Banco Santander alerta 'clientes ricos' sobre perigo de vitória de Dilma




Santander assusta clientes sobre perdas com a reeleição de Dilma. Banco pediu desculpas em seguida, mas atitude não esconde repetição do mantra de cada quatro anos: o fim do mundo vem aí

Pragmatismo Político

relatório destinado a clientes ricos, produzido pelos analistas do banco Santander, no qual projetam perdas financeiras diante de uma escalada da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais é típico. O pedido de desculpas feito logo a seguir à divulgação da peça não esconde o fato de que sempre, entra e sai eleição para presidente, tanto o mercado financeiro quanto os empresários de maior visibilidade procuram, acima de todas as coisas, temer, rejeitar e demonizar os candidatos de esquerda à Presidência da República.

Como quem tem chances reais de vencer no campo da esquerda, desde 1989, são os candidatos do PT – com Lula cinco vezes candidato, e Dilma Rousseff desenvolvendo agora sua segunda campanha -, o nome do partido e a própria legenda acabam sofrendo a pressão.

Hoje é folclore, virou piada. Mas quando o então presidente da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mario Amato, declarou que 800 mil empresários iriam embora do País se Lula vencesse as eleições de 1989, a frase foi levada muito a sério. Foi estampada na primeira página de jornais como a Folha e o Estado, repercutiu em programas de televisão e veio acompanhada de teses sobre a incapacidade de governança do PT e intenções de intervir em empresas e no mercado financeiro que, por fim, foram praticadas pelo vitorioso Fernando Collor.

A demonização a Lula, no entanto, prosseguiu em todas as campanhas nacionais disputadas pelo ex-presidente, inclusive as que ele ganhou. Em 2002, a missão de superar o tucano José Serra incluía, também, superar uma impressionante série de rumores, boatos e fofocas que apontavam para um estouro nas contas públicas no caso da vitória do ex-metalúrgico. Com a chancela do banco americano Goldman Sachs, o economista Daniel Tenengauzer ganhou seus quinze minutos de fama ao criar o que chamou de “lulômetro”. Consistia em medir o nível da disparada da cotação do dólar sobre o real de acordo com o crescimento que Lula apresentava nas pesquisas. Assim, quanto mais o futuro presidente avançava, mais o “lulômetro” apurava que se chegava mais perto do fim do mundo cambial. O real seria pulverizado.

O que se viu, no entanto, desde o primeiro dia do mandato de Lula foi a normalização de todos os grandes indicadores da economia e, em seguida, o “espetáculo do crescimento” que deu ao presidente uma reeleição tranquila.

Agora, ao completar 12 anos sem representantes de seu campo político-ideológico no poder central, setores do sistema financeiro e da classe empresarial voltam a dar as mãos para rezar o mantra do medo da esquerda acima de todas as coisas.

Nesta sexta-feira 25, a divulgação do relatório do Santander a seus clientes de alta renda trouxe à luz do dia o que está correndo solto nos bastidores das mesas de investimentos e dos encontros entre grandes barões da indústria. Apesar de os três governos sucessivos dos presidentes de esquerda terem preservado todos os princípios da economia de mercado, acrescentando o dado do aumento do mercado consumidor como um ponto que deveria ser atribuído a seu favor, seus representantes continuam sendo atacados das mais diferentes maneiras. Desta vez, foi um relatório sem base técnica seguido de pedido de desculpas. Aguarda-se para ver o nível da próxima provocação.

Na foto: Banco Santander divulga relatório destinado a clientes ricos sobre perigos da reeleição de Dilma (Edição: Pragmatismo Político)


Brasil: Cacique tupinambá é preso na Bahia às vésperas de audiência com o papa



Correio do Brasil,  com ABr - de Salvador

No dia 24 de abril, Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como cacique Babau Tupinambá, se entregou à Polícia Federal logo após participar, em Brasília, de uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Um dos vários caciques atuantes no sul da Bahia, na região da Serra do Padeiro, Babau é suspeito de participar do assassinato de um pequeno agricultor, em fevereiro de 2013. No início do ano, o governo federal enviou o Exército a fim de controlar os violentos confrontos entre índios e produtores rurais.

O mandado de prisão havia sido expedido mais de dois meses antes, no dia 20 de fevereiro, por um juiz da Vara Criminal da comarca de Una (BA). Às vésperas da audiência, em Brasília, organizações indigenistas foram informadas que Babau podia ser preso a qualquer momento. Na ocasião, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) disse que o objetivo era impedir que o líder tupinambá viajasse a Roma. Convidado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a qual o Cimi é vinculado, Babau participaria de uma audiência com o papa Francisco, a quem planejava denunciar a violência contra os povos indígenas brasileiros.

Babau nega envolvimento com o homicídio e também acusou a tentativa de criminalizar o movimento indígena. Ainda assim, passou nove dias preso no Departamento Especializado da Polícia Federal, na capital federal, até ser solto por força de um habeas corpus concedido pelo ministro Sebastião Reis, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que conclui ser desnecessária a prisão de Babau na fase em que o processo se encontrava.

Para o Cimi, a prisão foi uma estratégia governamental para que o líder tupinambá não denunciasse internacionalmente as violações que os povos indígenas vêm sofrendo, como a decisão política de suspender os procedimentos demarcatórios de novas terras indígenas que estão em curso.

Babau já havia sido preso em 2010 por comandar a invasão de fazendas de Ilhéus, Buerarema e Una, entre outras acusações. “O conflito no Sul da Bahia é seríssimo. E foi causado pela inércia do Estado brasileiro em demarcar a terra indígena, mesmo já havendo um parecer da Funai [Fundação Nacional do Índio] indicando que as terras pertencem aos povos indígenas”, declarou o presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia, André Augusto Salvador Bezerra.

Desde que índios do sul da Bahia decidiram ocupar fazendas a fim de obrigar o governo federal a concluir o processo de demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, a tensão entre indígenas e não índios vem aumentando. Em 2013, um índio tupinambá foi morto e um trabalhador rural, baleado. O foco maior do conflito está na cidade de Buerarema, mas também há fazendas ocupadas em Una, São José da Vitória e em Ilhéus.

A área reivindicada pelos índios foi delimitada pela Funai em 2009 e mede 47.376 hectares (um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, o equivalente a um campo de futebol oficial), estendendo-se da Serra do Padeiro ao litoral sul baiano, na região de Olivença. Ainda é necessário que o Ministério da Justiça reconheça a terra como território tradicional indígena, e que a Presidência da República homologue a área. 

Na foto: Mais um episódio de extrema violência envolvendo a disputa de terras ocupadas pelo povo Tupinambá ocorreu na Bahia.

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