Rodney
Benson - Le Monde Diplomatique, Nova York - Opera Mundi
Um
jornalismo digno desse nome deveria analisar de que maneira a organização
econômica mundial torna inevitável a emigração dos países do Sul para os do
Norte
"Temos
a tendência a falar dos imigrantes apenas pelo ângulo das ‘variedades’ ou da
miséria, a vê-los somente como agressores ou vítimas”, observou em 1988
Robert Solé (1), jornalista do Le Monde. Vinte e sete anos depois, a
observação continua totalmente pertinente e sua validade ultrapassa largamente
as fronteiras francesas.
A
imigração ocupa um lugar cada vez mais central no debate político; ela é uma
questão social importante. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Refugiados, 3,4 mil imigrantes pereceram tentando atravessar o Mar
Mediterrâneo para chegar à Europa em 2014. Na França, onde a porção dos
estrangeiros não ultrapassa 6% da população total, o Front National (FN) joga
com o medo da invasão para ganhar terreno nas eleições locais ou nacionais. Nos
Estados Unidos, mais de 60 mil crianças não acompanhadas foram detidas na
fronteira com o México em 2014 quando fugiam da violência das gangues da
América Central ou pensavam em tentar a sorte no Norte. A principal resposta do
presidente Barack Obama foi reforçar os controles de fronteira, prova adicional
de que seu desacordo com os republicanos em relação a esse tema não é tão
profundo.
Comentando
sua decisão, os meios de comunicação se concentraram nos sofrimentos humanos e
na repressão policial, sem verdadeiramente questionar as causas da imigração.
Ora, esse fenômeno necessita mais do que nunca de um amplo debate público, a
única maneira de levar a uma política adequada. É preciso, portanto, saber
quais são os pontos cegos na maneira como ela é tratada. Para isso, realizamos
uma análise sistemática de 22 dos principais veículos de comunicação franceses
e norte-americanos, tentando distinguir os diversos ângulos de abordagem.
Os
debates sobre o tema evoluíram bastante ao longo dos últimos quarenta anos. No
início da década de 1970, nos Estados Unidos, os sindicatos e o poder
republicano se irmanaram contra a imigração ilegal. O ex-marine Leonard
Chapman, indicado pelo presidente Richard Nixon para a direção do Serviço da
Imigração e da Naturalização (hoje integrado à Secretaria da Segurança
Interna), preocupava-se com os riscos de “invasão”.
A
American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations
(AFL-CIO), a principal confederação sindical, julgou então que a mão de obra
mexicana ameaçava os salários e as condições de trabalho dos norte-americanos.
César Chávez, o lendário sindicalista californiano, ergueu barreiras para impedir
que os trabalhadores agrícolas vindos do outro lado da fronteira furassem as
greves. O Los Angeles Times de 3 de julho de 1975 proclamava numa
chamada de capa: “Segundo os líderes norte-americanos, os patrões preferem uma
mão de obra que possam explorar e pela qual possam pagar uma miséria”.
Ao
longo das décadas seguintes, a pressão econômica sobre os trabalhadores
norte-americanos aumentou fortemente. No entanto, a ideia de que os imigrados
monopolizam os empregos dos nativos e puxam os salários para baixo não cessou
de perder terreno. Em 1974-1975, ela aparecia em 47% das informações sobre a
imigração, aí incluídos todos os suportes; no período de 2002-2006, o nível
caiu a exatos 8%.(2) O economista e cronista do New York
Times Paul Krugman é hoje um dos raros analistas a levar em conta esse
aspecto.(3)
Essa
evolução traduz a reconfiguração que o tabuleiro de xadrez político
norte-americano experimentou entre os anos 1970 e a metade dos anos 1980.
Desejosos de inflar suas fileiras, vários sindicatos foram então levados a
repensar sua oposição à imigração clandestina. Eles foram encorajados a seguir
nesse caminho por organizações surgidas no final dos anos 1960 que se firmaram
durante essas duas décadas: o Conselho Nacional da Raça (National Council of La Raza) e o Fundo para a
Educação e a Defesa Jurídica dos México-Norte-Americanos (Mexican American
Legal Defense and Education Fund, Maldef), por exemplo. Esses grupos denunciam
as múltiplas discriminações sofridas pelos latinos e asiáticos instalados nos Estados
Unidos. Se essa ação era necessária, ela teve como consequência minorar, nos
meios de comunicação, o discurso sobre as causas econômicas da imigração e
sobre as consequências dos baixos salários dos estrangeiros, em benefício de
temas sobre a xenofobia.
Na
França, esses temas emergiram na década de 1970, antes de ganhar terreno no
início dos anos 1980: o racismo contra os trabalhadores estrangeiros figurava
em 1973 em 46% das reportagens – contra 25% no período 2002-2006. Essa forte
presença veio acompanhada de um amplo espaço concedido à questão da diversidade
cultural. Esta aparece em metade dos artigos publicados
no Libération em 1983. “Na França, será preciso aprender a viver numa
sociedade pluricultural”, afirmava um editorial. (4) Depois, em seguida ao
avanço do FN nas eleições municipais de Dreux, em 1983, e em resposta à
ofensiva anti-imigrantes lançada pela imprensa de direita, os jornais próximos
do Partido Socialista relegaram a questão da diversidade cultural a um lugar
atrás daquele da “integração” dos recém-chegados à “comunidade nacional”.
“Precisávamos criar uma base sólida para bloquear o FN e mostrar que a defesa
dos imigrantes fazia parte da tradição republicana francesa”, justificava
Laurent Joffrin, então redator-chefe do Libération. “Concluímos disso que
a problemática da ‘igualdade dos direitos’ era mais promissora que o discurso
sobre o ‘direito à diferença’”. (5)
Os
efeitos dessa virada foram imediatos e ainda se fazem sentir 25 anos depois:
entre 2002 e 2006, em todos os meios de comunicação franceses, a temática da
“integração” suplantou a da “diversidade cultural” (20% contra 8%); nos
jornais, a “coesão nacional” aparece em 42% dos artigos, ou seja, três vezes
mais frequente que nos Estados Unidos. Nesse país moldado por uma economia de
mercado cada vez mais fragmentada, a questão da “coesão nacional” fala pouco
aos líderes políticos e a seus eleitores: a esquerda democrata se mostra mais
sensível às reivindicações comunitárias, enquanto a direita republicana está
dividida entre seus apoios financeiros (numerosas empresas são favoráveis a uma
imigração livre) e seus eleitores, com frequência hostis aos estrangeiros. Os
líderes políticos preferem, portanto, formular o problema em outros termos.
Na
França, em contrapartida, a existência de um Estado-providência relativamente
forte permite à noção de comunidade nacional conservar o sentido. À medida que
a proteção social enfraquece, os meios de comunicação parecem em seguida querer
brandir a coesão cultural para preencher o vazio. No início dos anos 1980, esse
tema era defendido sobretudo pelo FN e por jornais como Le
Figaro e Le Figaro Magazine. Na massa dos assuntos sobre imigração,
ele era majoritário. Depois, os principais partidos do governo se converteram a
esse discurso, relegando a segundo plano o do racismo e o das discriminações. A
ascensão do FN não foi interrompida e, ainda que os jornalistas falem menos a
respeito do que há trinta anos, os imigrantes e seus descendentes, em
particular negros e árabes, continuam a sofrer discriminações.
Abandonando
as questões da economia e do racismo, os meios de comunicação norte-americanos
e franceses focalizam cada vez mais o tema da “ordem pública” e da segurança
por um lado (durante a década de 2000, 62% das reportagens nos Estados Unidos e
45% na França) e o aspecto “humanitário” por outro (no mesmo período, 64% nos
Estados Unidos e 73% na França). Espetaculares, simples e muito visuais, esses
dois enquadramentos apresentam igualmente a vantagem de corresponder ao
discurso das associações e dos organismos de Estado hostis e favoráveis aos
imigrados. Em suma, eles satisfazem uma dupla exigência comercial e política.
Vilipendiar
a imigração clandestina constitui, para um jornal ou uma rede de televisão, uma
fórmula comercial vencedora, porque, como escreve o sociólogo Todd Gitlin, “o
arquétipo da história midiática é uma história de crime”. (6) O tema da
ordem pública dispensa explicações e pode ser tratado com imagens chocantes:
motins, polícias, postos de fronteira, armas, perseguições e prisões. Mas
existe também outra explicação para a recorrência desse ângulo. Os jornalistas
franceses e, mais ainda, norte-americanos produzem com frequência suas
informações com base em fontes oficiais: ministérios, prefeituras, governos
etc. Suas preocupações tendem, portanto, a se alinhar com as dos representantes
do Estado e seus líderes políticos. E, como os governos enxergam com frequência
a imigração em termos de ameaça à ordem pública, eles se veem incitados a fazer
o mesmo. Podemos assim notar importantes variações em função da atualidade
política: em 2002, na esteira dos atentados do 11 de Setembro, enquanto
democratas e republicanos só tinham a palavra “segurança” na boca, o ângulo da
ordem pública aparecia em 64% dos assuntos; em 2004, essa proporção tinha caído
para 53% (ou seja, quase a mesma cifra que em 1994), antes de subir para 62% em
2005, no momento do voto da Lei HR 4.437, que criminalizava os clandestinos.
Na
França, a temática da ordem pública emergiu no início dos anos 1980,
relacionada ao discurso sobre a “crise dos subúrbios”, depois culminou no
início da década de 1990, quando ele foi retomado pelos dois principais
partidos políticos. Em 1991, a primeira-ministra socialista, Edith Cresson,
prometia, por exemplo, fretar aviões para deportar os clandestinos. Depois, a
partir dos anos 2000, à medida que os governos sucessivos se concentravam
novamente na integração e na coesão nacional, as ocorrências do tema segurança
começaram a rarear.
Apetite
por histórias angustiantes
Já
a abordagem humanitária progressivamente se generalizou nos dois lados do
Atlântico, ou foi defendida por inúmeras associações: a France Terre d’Asile
[França Terra de Asilo], a Cimade, a Ligue des droits de l’homme [Liga dos
Direitos Humanos] ou ainda a Amnesty International en France [Anistia
Internacional na França], na França; a Raza, o Maldef, a American Civil
Liberties Union [União pelas Liberdades Civis Americanas] (Aclu), o Immigrants’
Rights Project [Projeto pelos Direitos dos Imigrantes] ou o National
Immigration Forum [Fórum Nacional de Imigração], nos Estados Unidos. Enquanto
as associações francesas vivem principalmente de subvenções públicas e das
contribuições de seus sócios, seus homólogos norte-americanos são financiados
por uma aliança heteróclita que reúne pequenos doadores ligados aos direitos
humanos, pela Igreja Católica e por poderosas fundações (Ford, Carnegie,
McArthur), assim como bancos, empresas de construção e diversas multinacionais
que têm todo o interesse em preservar uma fonte de mão de obra de baixo custo.
Exatamente
como a temática da ordem pública, a abordagem humanitária permite conquistar a
audiência. Nos Estados Unidos, ela corresponde particularmente bem à escritura
narrativa e personalizada que floresce nos meios de comunicação. Bem utilizado,
esse estilo pode constituir uma técnica eficaz para restituir a experiência dos
migrantes e sensibilizar os leitores-espectadores em relação a meios sociais
que lhes são desconhecidos. O exemplo mais célebre dessa abordagem é sem dúvida
“Enrique’s Journey” (“A viagem de Enrique”), reportagem em seis episódios
publicada em 2002 no Los Angeles Times, que valeu a Sonia Nazario o prêmio
Pulitzer.
A
jornalista traçava ali a história de um jovem originário da América Central que
parte à procura da mãe. Esta tivera de deixar os filhos famintos a fim de
buscar um trabalho que lhe permitisse enviar dinheiro para eles e lhes
proporcionar uma vida melhor. Com o objetivo de recriar essa experiência para
os leitores, Sonia seguiu os rastros de Enrique de Honduras até a Carolina do
Norte, chegando a viajar no teto dos trens como ele mesmo tinha feito no
México. A reportagem termina de maneira trágica. Após ter sofrido muito com a
partida da mãe, Enrique se vê forçado a impor a mesma experiência à própria
filha: “Algum tempo depois de sua chegada aos Estados Unidos, Enrique telefona
para sua namorada em
Honduras. Como ele havia suspeitado antes de partir, Maria
Isabel está grávida. Em 2 de novembro de 2000, ela dá à luz uma garotinha,
Katherine Jasmin. O bebê se parece com Enrique. Tem sua boca, seu nariz, seus
olhos. Uma tia encoraja Maria Isabel a ir até os Estados Unidos, prometendo-lhe
que irá tomar conta do bebê. ‘Se eu tiver uma chance, eu vou’, diz Maria
Isabel. ‘Vou sem o bebê.’ Enrique aprova: ‘Será preciso deixar o bebê’”.
O
livro baseado nessa reportagem recebeu uma chuva de críticas elogiosas.
(7) A revista Entertainment Weekly, por exemplo, julgou que a
“impressionante reportagem de Nazario [construía] com base na atual polêmica
sobre a imigração uma história mais pessoal que política” (22 fev. 2006). No
entanto, por mais sedutora que seja, essa abordagem não permite captar as
principais motivações do fenômeno migratório. É verdade que o leitor sente nos
mínimos detalhes as provas enfrentadas por Enrique, mas ignora como ele chegou
lá e como poderia ter evitado esse destino.
Além
de se interessar pelas dificuldades dos imigrados, um jornalismo digno desse
nome deveria analisar de que maneira a organização econômica mundial, assim
como a política estrangeira, comercial e social de países ocidentais como os
Estados Unidos e a França, torna inevitável a emigração dos países do Sul para
os do Norte. Por que, como o sociólogo franco-argelino Abdelmalek Sayad gostava
de lembrar, a imigração é antes de tudo uma emigração.
No
que se refere aos Estados Unidos, mais 250 mil pessoas pereceram nos conflitos
na Guatemala, em El
Salvador e na Nicarágua, mortas essencialmente por esquadrões
da morte e forças militares treinadas, mantidas e armadas pelos Estados Unidos.
Em 1980, esse país contava menos de 100 mil imigrados originários de El
Salvador; dez anos de guerras e de perturbações mais tarde, esse número atingia
500 mil. Hoje ultrapassa 1 milhão.
A
política comercial de Washington também contribuiu para essa emigração em massa. Longe de
melhorar as condições de vida e de emprego dos trabalhadores mexicanos, o
Acordo de Livre Comércio Norte-Americano (Nafta), assinado em 1993, contribuiu
para agravar a pobreza e a insegurança, levando vários moradores, em particular
aqueles das zonas rurais, a atravessar a fronteira. As empresas
norte-americanas prepararam o terreno para acolhê-los. Os setores da indústria
e os serviços adaptaram suas condições de trabalho a fim de lhes propor
empregos “flexíveis”, com baixa remuneração e poucas vantagens. Nos setores da
carne, têxtil, da construção, de restaurantes e de hotelaria, os empregados
norte-americanos foram com frequência despedidos para serem substituídos por
clandestinos muito mais baratos.
O
mesmo raciocínio poderia ser defendido em relação à França, ainda que a atração
do trabalho seja menos importante ali em razão da legislação mais rigorosa.
Muitos imigrantes vindos do Magreb ou da África subsaariana também tiveram de
deixar seu país em razão de dificuldades econômicas ou políticas ligadas às
relações desiguais que a França mantém com suas ex-colônias. “O mal-estar
profundo na África acentua o êxodo maciço, que nenhum muro vai deter, mesmo que
ele alcance o céu”, explica Arsène Bolouvi, pesquisador originário do Togo para
a Anistia Internacional. “As tramas das multinacionais, as vendas de armas, o
controle dos recursos, os governos autoritários apoiados pela França: tudo leva
as pessoas a fugir do perigo da vida, perseguidas pela fome e pela guerra.” (8)
A
complexidade das causas internacionais das migrações compromete, no entanto,
seu tratamento sob a forma de melodrama pessoal. Por outro lado, fazer
referência a isso implica abrir um debate ideológico delicado, porque elas
sugerem a existência no sistema econômico e social de injustiças ou de falhas
que a maioria da classe política e midiática aceita como fato. Do início da
década de 1970 ao meio da de 2000, enquanto a globalização neoliberal se
intensificava e diversos conflitos manipulados pelos Estados Unidos tratavam a
América Central a ferro e fogo, a parcela das reportagens de imprensa que
mencionava fatores internacionais passou de 30% para 12%. Os jornais franceses
se distinguiram evocando a economia mundial em um terço de seus artigos – um
número estável entre os anos 1970 e 2000. Essa diferença se explica, sobretudo,
pela maior presença no seio da cultura intelectual e política francesa de
correntes hostis à globalização.
Com
frequência, no entanto, a mídia desses dois países só oferece um quadro incompleto.
A redução do tema da imigração a sua dimensão emocional, jogando com o medo ou
a piedade, tende a enfraquecer o poder democrático dos cidadãos, preparando o
terreno para uma instalação durável da extrema direita.
Rodney
Benson é professor de Sociologia da New York University. Autor de "Shaping
immigration news: a French-American comparison" [Moldando notícias sobre
imigração: uma comparação entre França e Estados Unidos], Cambridge University
Press, 2013.
Notas
1.
Robert Solé (entrevista com Jacqueline Costa-Lascoux), “Le journaliste et
l’immigration” [O jornalista e a imigração], Revue européenne des
migrations internationales, v.4, n.1-2, Paris, 1º semestre de 1988.
2.
Salvo menção em contrário, essas porcentagens resultam da análise dos artigos e
dos temas consagrados à imigração nos seguintes veículos de
comunicação: Le Monde, Le Figaro, Libération, TF1 e France 2 na
França; The New York Times, The Washington Post,The Los Angeles
Times, ABC, CBS e NBC nos Estados Unidos.
3.
Cf., por exemplo, Paul Krugman, “North of the Border” [Norte da
fronteira], The New York Times, 27 mar. 2006.
4.
“Une implosion statistique, une bombe dans l’imaginaire” [Uma implosão
estatística, uma bomba no imaginário], Libération, Paris, 9 set. 1983.
5.
Conversa com o autor.
6.
Todd Gitlin, The Whole World Is Watching: Mass Media in the Making and
Unmaking of the New Left [O mundo inteiro está observando: os meios de comunicação
de massa na construção e desconstrução da nova esquerda], University of
California Press, Berkeley, 1980.
7.
Sonia Nazario, Enrique’s Journey. The Story of a Boy’s Dangerous Odyssey
to Reunite with His Mother [A viagem de Enrique. A história da perigosa
odisseia de um rapaz para se juntar a sua mãe], Random House, Nova York, 2006.
8.
Citado em Nicolas de la
Casinière, “À Nantes, les carences de la France décriées” [Em
Nantes, as carências da França difamadas], Libération, 12 jul. 2006.
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