sábado, 16 de agosto de 2014

Angola: Chevron apoia a corrupção e promove o racismo, num miserável caso petrolífero



Folha 8, 16 agosto 2014

Caíram em cima da mesa de redacção do Folha 8 documen­tos a chei­rar a esturro a propósito de um diferendo que subsiste entre a empresa petrolífe­ra Chevron-Cabgoc e um cidadão angolano que dá pelo nome de Raimundo Zeferino da Silva, trabalha­dor nocturno dessa multi­nacional norte-americana no campo de produção Takula (Malongo), em offshore Cabinda, desde o dia 12 de Abril de1999 até 12 de Maio de 2004, data em que foi despedido por causa de incapacidade permanente, resultante de um traumatismo laboral de que resultou o agravamen­to irreversível duma frac­tura do tornozelo ocorrida fora do tempo de trabalho.

A esse respeito o referido trabalhador, depois de ter sido vítima de todo um conjunto de manobras, ca­muflagens e falsificações, enviou uma carta ao vice­-presidente da República a fim de lhe expor o seu ponto vista: «(…) Esclareça-se, Excelência, que antes do referido acidente (que ocasionou a fractura no tornozelo), ao signatário foi-lhe diagnosticado, às 08h e 56 minutos do dia 12 de Setembro de 2000, pelo médico da empresa (…), uma hérnia inguinal com testículo cheio, tendo sido submetido a exame médi­co pré-cirúrgico na mesma hora e recomendado a em­presa o seguinte: « Vai hoje ou amanhã para Takula para o seu turno de 14 dias, e na volta será reobserva­do e marcado consulta de cirurgia (…)!» (sic).

As coisas não se passaram como o departamento de Saúde da Chevron tinha prognosticado, e sua re­comendação médica foi ignorada, tendo Raimundo permanecido em serviço nocturno em Takula até Dezembro do ano 2000, isto é, durante 4 penosos turnos consecutivamente, numa plataforma offshore, sem avaliação de risco de saúde e segurança e sem assistência médica condu­cente a uma prometida fu­tura intervenção cirúrgica.

Raimundo foi operado, só, em 20 de Abril de 2001, ou seja, sete meses após a data do diagnóstico da hérnia.

Em seguida, numa mani­festa e completa deprecia­ção do estado de saúde do seu trabalhador nocturno, a Chevron não atendeu à urgente necessidade de conceder algum repouso a um homem que acabou de fazer cirurgia a uma hérnia inguinal e “contemplou­-o” com o estatuto “traba­lhador com incapacidade parcial”, incluindo-o num período de trabalho com o mesmo nome, que se es­tendeu de 20 de Maio de 2001 a 22 de Fevereiro de 2003.

Teoricamente esta situa­ção podia ser aceite, mas na prática a empresa agiu violando reiterada e propo­sitadamente as normas de segurança, saúde e higiene, emanadas pelos médicos assistentes e Raimundo foi intimado a trabalhar cerca de dois anos sem de­claração de concordância e sem conhecimento da Inspecção Geral do Traba­lho, vendo-se muitas vezes obrigado a manear, levan­tar e transportar pesos muito acima dos 20 qui­los, limite máximo que as instâncias médicas tinham estabelecido em virtude da sua lesão.

Nisto, no dia 15 de Janeiro de 2003, foram detecta­das alterações patológicas na fractura d e aumento substancial no tornozelo afectado “traduzidas em produção de lesões artró­sicas por grave negligên­cia da petrolífera durante o período de incapacidade temporária” (ver relatório dos Drs. Jaime Fragata de Abreu e Pedro Miguel, médicos assistentes da Chevron).

Raimundo foi visto e exa­minado na clínica Sagrada Esperança pelo Doutor Joaquim Simão, e a esse respeito é de salientar que o relatório final do perito em radiologia nunca foi tomado em consideração pela direcção da Chevron. Ficou por ali e ali morreu sem nunca ter sido apre­sentado em tribunal. A em­presa petrolífera escondeu o relatório, de facto uma ”DESCRIÇÃO TÉCNICA” baseada num “estudo das articulações tíbio-tárcicas e, sobretudo, astrágalo-cal­caneana, tendo-se também realizado estudo compara­tivo para melhor analise”. Nota-se, diz ainda esse im­portante documento, uma “ (…)acentuada diminuição de densidade óssea radio­lógica dos diferentes ele­mentos ósseos da região do tarso do pé direito, em particular do calcâneo do mesmo lado”, o que signi­fica que o agravamento da lesão de Raimundo não se deve à queda que a origi­nou, mas à ausência de tra­tamentos que deviam ser assumidos pela Chevron e não foram, pois estamos em face de uma lesão ar­trósica pós-traumática de­corrente dos trabalhos que Raimundo foi obrigado assumir, mesmo estando num estado que requeria tratamento adequado. Re­petimos, tudo isto foi esca­moteado pela Chevron.

No dia 23 de Fevereiro de 2003, quer dizer, um pouco antes do termo do período de incapacidade parcial, Raimundo foi finalmen­te operado ao tornozelo, sendo-lhe aplicada uma prótese intra-óssea – isso, sem que ele seja informado sobre o facto de a prótese ser um pedaço de ferro que lhe metiam no corpo um tanto ou quanto à soca­pa -, com vista à reparação das referidas alterações e lesões artrósicas traumáti­cas da articulação astrága­lo calcaneana, prótese que ele mantém até à presente data.

Seguiu-se um período de 6 meses de convalescença, até 23 de Agosto do mes­mo ano, marcado por rigi­dez e falta de mobilidade da articulação. Entretanto, foi realizada uma consulta de fisioterapia na clínica Fikcit Lda. no dia 17 de Ju­nho, mas os tratamentos médicos que se seguiram a essa consulta, prescritos pelo departamento médi­co da Chevron, não foram correctamente lavrados, com diagnóstico impró­prio numa elaboração de relatórios médicos manus­critos, com rasuras e sem serem antecedidos de exa­mes médicos complemen­tares (ver relatórios do 25 de Julho e 16 de Setembro, que serviram de base para a Chevron para os despiste do sinistro, da doença pro­fissional e da ilegalidade do despedimento).

Foi precisamente nesse dia, 16 de Setembro, que Raimundo foi colocado no programa de recolocação, decisão que nada mais era do que uma simples simu­lação, pois o trabalhador passou a actuar no pro­grama de melhoria de de­sempenho, PIP, que nada tem a ver com o caso em questão, mas servia perfei­tamente para amenizar a execução do já programa­do despedimento, que aca­bou por ser efectivo a 12 de Maio de 2004.

Eram na realidade duas rupturas, uma, do empre­go, a outra, dos tratamen­tos médicos de modo total e definitivo, gerando-se as­sim para o sinistrado Rai­mundo, sua esposa e seus 8 filhos, numa situação pou­co viável, pelo que, sentin­do-se injustiçado, intentou duas acções judiciais na Sala de Trabalho do Tribu­nal Provincial de Luanda, com vista a fazer valer os seus direitos, nomeada­mente sua integração nos programas de reforma e pensão correspondente (50% do seu salário), que lhe era devida por causa da sua incapacidade perma­nente de trabalho.

Raimundo também re­correu aos serviços da Provedoria de Justiça, que aceitou tratar o caso e deu seguimento à sua denún­cia numa carta enviada ao tribunal em 15 de Feverei­ro 2007, dando conta das injustiças de que ele tinha sido vítima, “(...) suces­sivamente ostracisado e despedido por aquela Em­presa (Chevron) em con­sequência da deficiência permanente, resultante do traumatismo laboral”).

Neste passo, a Petrolífera respondeu argumentando que o queixoso não reunia requisitos para a reforma, o que estava em total con­tradição com o que viria ser a decisão da Junta Mé­dica Provincial de Luanda no dia 17 de Dezembro de 2009, decisão essa lavrada num documento exarado no final de uma consulta médica atestando o seguin­te sobre o estado de saúde do trabalhador Raimundo: «(…) apresenta incapaci­dade permanente, absoluta para o trabalho habitual, com 25% de incapacida­de)”. Isto sem esquecer o Regulamento da própria empresa, o qual estipula que qualquer trabalhador que se encontra em estado de incapacidade perma­nente tem direito a 50% do seu salário.

No seguimento desta nega da Chevron, o recurso pos­sível era a Assembleia Nacional (NA), o que foi feito. Mas, apesar de o Pre­sidente “Nandó” ter solici­tado a intervenção das 8ª e 10ª Comissão (doc 0212 da Assembleia, do 31.01.13), e após ter enviado um ofí­cio (em 25.02.13) ao PCA da Chevron nos E.U.A., a resposta à solicitações foi dada SETE MESES mais tarde, não pelo PCA dos EUA, mas pelos angolanos da Chevron – Angola, refu­tando estes as queixas, devi­do, em primeiro lugar, por o Tribunal Provincial de Luanda, no dia 9 de Agos­to de 2008 ter absolvido da Chevron e arquivado o processo por caducidade, e também por a petrolífera ter cumprido com todos os pressupostos legais e inte­gralmente pago todos os salários e emolumentos ad hoc ao seu trabalhador.

Ora, a verdade é que o Pro­cesso nª 29/10 – C, conti­nua bem vivo na primeira secção do TPL, e o paga­mento total ao trabalhador ainda não foi feito.

O problema é que o Tribu­nal encontra-se em estado de carência de informa­ções, porque a Chevron tenta fugir com o rabo à seringa e recorre a toda a espécie de manobras di­latórias para não dar mar­gem para o seu prossegui­mento, isto sem esquecer que os relatórios médicos inclusos no dito processo foram aplicados com ví­cios, ignorando a interven­ção da Junta Médica.

A INTERVENÇÃO DOLOSA DAS AAA

A questão pendente conti­nua a ser o direito às pen­sões. A esse respeito, a Chevron descartou a sua responsabilidade e enviou Raimundo para a segura­dora AAA, que assumiu o pagamento de 32 mil 798,68 dólares, como in­demnização, isto em 8 de Junho de 2009, quer dizer, seis meses antes da inter­venção legal de Junta Mé­dica (17.12.09), o que é mais que bizarro! Vejamos por quê. A própria AAA en­viou de seu próprio grado o trabalhador à Junta Mé­dica e depois lavrou uma decisão de pagamento da indemnização muito antes de ter conhecimento da decisão da Junta. Resumin­do, a AAA resolveu o as­sunto no exercício do que só pode ter o nome abuso de poder, quiçá de burla, na medida em que depois de ter enviado o Raimundo à Junta Médica, não podia decidir nada antes de rece­ber o seu parecer!!

Ora a decisão da Junta é a 100% favorável a Raimun­do e nunca foi apresentada a tribunal!!

O mais tenebroso nesta triste comédia do capita­lismo selvagem, é que os protagonistas que tentam enterrar os direito do Rai­mundo, angolano de gema ao serviço duma Multina­cional petrolífera, não são americanos, mandantes da empresa mãe estaduniden­se, não, são também ango­lanos e não se coíbem de atraiçoar pelas costas um irmão.

Nota final: todos os docu­mentos favoráveis a Rai­mundo foram escamotea­dos pela Chevron.

Angola: Libertados os jovens detidos em Luanda durante julgamento de Nito Alves




O activista angolano Luati Beirão relata a detenção no dia (14/08) de vários jovens, pouco antes da absolvição do activista "Nito Alves", e considera que será reprimida a manifestação convocada para amanhã em Luanda pelo Movimento das Manifestações nos Musseques.

Os jovens detidos esta quinta-feira frente ao tribunal de Viana, nos arredores de Luanda, foram espancados pela polícia e pouco depois libertados. Estes jovens manifestavam o seu regozijo pela absolvição por falta de provas do activista Manuel Baptista Chivonde "Nito Alves", preso durante 57 dias desde 12 de Setembro de 2013, e acusado de crime contra a segurança do Estado e injúria ao Presidente José Eduardo dos Santos.

Luati Beirão considera, ainda, que será reprimida a manifestação de jovens, convocada para amanhã às 9 horas, no Município do Belas, em Luanda pelo Movimento das Manifestações nos Musseques, que pretende denunciar as condições de vida nos bairros pobres da capital e noutras cidades angolanas.

Esta é a segunda manifestação convocada pelo MMM, tendo a primeira sido "ilicitamente proíbida pela polícia" que deteve vários manifestanrtes, libertando-os depois a vários quilómetros da capital, sublinha ainda Luati Beirão.


NITO ALVES 1 – REGIME 0: JULGAMENTOS POLITICAMENTE ENCOMENDADOS DÃO ZEBRA


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Folha 8, 16 agosto 2014

O jovem acti­vista Manuel “Nito” Alves foi absolvido pelo Tribunal de Viana, da acusação de injúrias ao Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, por falta de provas, informou a defesa. Como o Presidente da Repúbli­ca prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica, lá vai indo de vitória em vitória até à… derrota final.

O jovem, à data com 17 anos, foi detido em Luanda a 12 de Setembro de 2013 e libertado ao fim de dois meses. As autoridades ale­garam “ultraje ao Presiden­te”, por ter encomendado a impressão de camisolas em que apelidava José Eduardo dos Santos de “di­tador nojento”, para serem utilizadas numa manifesta­ção anti-regime.

O advogado de defesa, Da­vid Mendes, disse que “a acusação não ficou com­provada - a publicitação das camisolas que foram produzidas - que era ele­mento fundamental para que houvesse o crime”.

Segundo o causídico, o crime exigia publicitação e não apenas actos prepa­ratórios, porque “a própria lei dos crimes militares diz que os actos preparatórios desse tipo de crimes não são puníveis”.

David Mendes referiu que a sua absolvição foi justa e que, “desde o primeiro dia” insistiu nas suas alegações que “não estavam comple­tos os elementos do tipo de crime”.

“Todas as pessoas quando são absolvidas sentem-se bem e acho que é o esta­do em que ele se encon­tra, mas fizemos observar também, que embora haja liberdade de expressão, garantida na Constituição, há que se acautelar como se dirige às pessoas”, frisou David Mendes.

“Porque as pessoas tam­bém têm o direito ao bom nome e à honra. Então, sempre que estivermos a fazer uso do nosso direito de liberdade de expressão temos que ter em conta que não podemos ofender a honra nem a dignidade das pessoas”, exortou o ad­vogado que integra a asso­ciação Mãos Livres.

Desde a sua libertação, em Novembro passado, Ma­nuel “Nito” Alves estava com termo de identidade e residência, tendo participa­do a 27 de Maio, em Luan­da, numa manifestação anti-regime agendada por jovens revolucionários, a qual foi travada pela inter­venção policial.

O jovem activista incorria, neste processo, numa pena que vai dos seis meses aos três anos de prisão, pelo crime de injúria.

Esta vitória dos que tei­mam em dizer o que pen­sam, não significa que o regime esteja a mudar ou, inclusive, esteja a respeitar a Constituição da Repúbli­ca. Pelo contrário. Quando meia dúzia de jovens que­rem manifestar-se de for­ma pacífica e são tratados de forma selvagem, caniba­lesca e hitleriana, que indi­cação está o Governo a dar ao Povo?

Quando, recorde-se sem­pre que for necessário, Manuel de Victória Perei­ra, dirigente do Bloco De­mocrático e sindicalista, é barbaramente agredido, física e psicologicamente (“branco de merda”, por exemplo), só porque ten­tou ajudar um seu jovem compatriota que estava a ser agredido pela Polícia numa bomba de combus­tível na zona de concentra­ção dos manifestantes, na qual nem sequer iria parti­cipar, o que quer o regime?

O regime acredita que com a barriga vazia, famintos e acorrentados, os escravos nunca se rebelarão. Está enganado. Mesmo que estejam a dar o último es­tertor, haverá sempre for­ça para puxar o gatilho e depois morrerem… livres. É isto que muitos pensam, mas que poucos dizem.

Por muito bem blindado que esteja, e está, na sua cápsula de “escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos sabe que a casa está a arder e que, de um momento para o outro, a implosão reduzirá a cinzas um país, o nosso país, que teve tudo – que ainda tem tudo - para ser um exem­plo em África. O Presiden­te pode pensar que os rios nascem na foz e desaguam na nascente. E, pelos vistos, os únicos que lhe dizem que corre o sério risco de ser “comido” pela enxurra­da são os jovens activistas.

Eduardo dos Santos fa­zia bem em ouvir o que têm para dizer entre ou­tros, Raul Mandela, An­tónio Camilo, Pedrowski Teca, Manuel Chivongue Nito Alves, Adolfo Cam­pos, Emiliano Catombela, McLife Bunga, Agostinho Pensador e Abrão Cativa.
Mas como o Presidente prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica, lá vai indo de vitória em vitória até à… derrota final.

ZÉ DO TELHADO, O ROBIN DOS BOSQUES PORTUGUÊS – cinema à Séria



Cinema à Séria - O FILME

José do Telhado rodado em 1945*, perigoso bandoleiro para alguns, bom homem para outros, conhecido por repartidor publico, roubava aos ricos e distribuía uma parte do roubo pelos pobres, foi preso e julgado no Marco de Canaveses, condenado a degredo perpetuo em África, esteve preso na cadeia da relação do Porto na mesma cela com Camilo Castelo Branco, morreu em Angola em 1875 com 57 anos, está sepultado em Xissa perto de Malange.

Realização de Armando Miranda (VER FILME)

QUEM FOI ZÉ DO TELHADO (Wikipédia)

Chefe da quadrilha mais famosa do Marão, Zé do Telhado é conhecido por "roubar aos ricos para dar aos pobres" e, por isso, muitos o consideram o Robin dos Bosques português.

De origens rurais humildes, aos 14 anos foi viver com um seu tio, no lugar de Sobreira, freguesia de Caíde de Rei, para aprender com ele o ofício de castrador e tratador de animais.2 No dia 3 de Fevereiro de 1845 casou-se com a sua prima Ana Lentina de Campos e da qual teve cinco filhos.

Tinha vasta experiência militar começada no quartel de Cavalaria 2, os Lanceiros da Rainha, e toma parte contra o partido dos setembristas e pela restauração da Carta Constitucional, no mês de julho de 1837. Derrotado, refugia-se em Espanha.

Ao regressar, grassava no país uma revolta larvar contra o governo anticlerical de Costa Cabral e quando estala a Revolução da Maria da Fonte, a 23 de março de 1846, vê-se envolvido como um dos líder da insurreição. Coloca-se às ordens do General Sá da Bandeira, que também tinha aderido. Assume o posto de sargento e distingue-se de tal forma na bravura e qualidades militares que, na expedição a Valpaços, recebe a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração que ainda hoje vigora em Portugal. No entanto, o seu «partido» entra em desgraça, amontoa dívidas de impostos que não consegue pagar e é expulso das forças armadas.

Já como "Zé do Telhado", chefe bandoleiro, realiza um grande número de assaltos por todo o Norte de Portugal, durante um período muito conturbado que coincidiu com o pedido de maior resistência de D. Miguel, no exílio com seu governo, aos seus partidários miguelistas que tentaram formar grupos de guerrilha em todo o país.

O bandoleiro mais conhecido do país acaba por ser apanhado pelas autoridades em 31 de março de 1859 quando tentava fugir para o Brasil. Esteve preso na Cadeia da Relação, onde conheceu Camilo Castelo Branco que se lhe refere nas Memórias do Cárcere.3

Em 9 de dezembro de 1859 foi julgado e condenado ao degredo perpétuo na África Ocidental Portuguesa. Foi-lhe comutada a pena aplicada na de 15 anos de degredo, em 28 de setembro de 1863. Viveu em Malanje, negociando em borrachacera e marfim. Casou-se com uma angolana, Conceição, de quem teve três filhos. Conhecido entre os locais como o kimuezo – homem de barbas grandes –, viveu desafogadamente. Faleceu aos 57 anos, vítima de varíola, sendo sepultado na aldeia de Xissa, município de Mucari, a meia centena de quilómetros de Malanje, sendo-lhe erguido um mausoléu, objeto de romagens.2

*Existe outra versão de José do Telhado de 1929, realizado por Rino Lupo.

Wikileaks: EUA armaram Estado Islâmico e se recusaram a ajudar Síria no combate ao grupo



Charles Nisz, São Paulo – Opera Mundi

Presidente Bashar al-Assad tentou se aproximar de Washington em 2010, mas governo Obama continuou armando seus opositores e grupos islâmicos

Os Estados Unidos se recusaram a ajudar o governo da Síria a combater grupos radicais islâmicos como a Al-Qaeda e o ISIS (Exército Islâmico do Iraque e da Síria, que recentemente mudou de nome para Estado Islâmico). Além disso, segundo revelações feitas pelo site Wikileaks, o governo norte-americano armou grupos como o ISIS. Os quase 3 mil documentos sobre essa questão foram vazados pelo site dirigido por Julian Assange na última sexta-feira (08/08).

Em 18 de fevereiro de 2010, o chefe da inteligência síria, general Ali Mamlouk, apareceu de surpresa em uma reunião entre diplomatas norte-americanos e Faisal a-Miqad, vice-ministro das relações exteriores da Síria. A visita de Mamlouk foi uma decisão pessoal de Bashar al-Assad, presidente sírio, em mostrar empenho no combate ao terrorismo e aos grupos radicais islâmicos no Oriente Médio, assinala o documento.

Neste encontro com Daniel Benjamin, coordenador das ações de contra-terrorismo dos EUA, “o general Mamlouk enfatizou a ligação entre a melhoria das relações EUA-Síria e a cooperação nas áreas de inteligência e segurança”, afirmam os diplomatas norte-americanos em telegrama destinado à CIA, ao Departamento de Estado e às embaixadas dos EUA em Líbano, Jordânia, Arábia Saudita e Inglaterra.

Para Miqad e Mamlouk, essa estratégia passava por três pontos: com o apoio dos EUA, a Síria deveria ter maior papel na região, a política seria um aspecto fundamental para ações de cooperação contra o terrorismo e a população síria deveria ser convencida dessa estratégia com a suspensão dos embargos econômicos contra o país. Para Imad Mustapha, embaixador sírio em Washington, “os EUA deveriam retirar a Síria da lista negra”. Nas palavras de George W. Bush, o país fazia parte do “eixo do mal”, junto com Coreia do Norte e Afeganistão.

Apesar da discordância entre EUA e Síria quanto ao apoio de Assad a grupos como Hezbollah e Hamas, os dois países concordavam quanto à necessidade de interromper o fluxo de guerrilheiros estrangeiros para o Iraque e impedir a proliferação de grupos radicais, como a Al-Qaeda, o ISIS e o Junjalat, uma facção palestina com a mesma orientação política. Para Benjamin, as armas chegavam ao Iraque e ao Líbano contrabandeadas pelo território sírio.

Mamlouk reforçou a “experiência síria em combater grupos terorristas”. “Nós não ficamos na teoria, tomamos atitudes práticas”, foram as palavras do chefe de inteligência de Assad. Segundo o general, o governo sírio não mata ou ataca imediatamente esses grupos. “Primeiro, nós nos infiltramos nessas organizações e entendemos o funcionamento delas”. De acordo com Damasco, “essa complexa estratégia impediu centenas de terroristas de entrarem no Iraque”.

Guerra do Iraque e surgimento do Estado Islâmico

No entanto, apesar de afirmarem cooperar com a Síria para combater o terrorismo, os EUA também trabalharam para armar os opositores sírios e isso causaria um problema maior na região: a criação do atual Estado Islâmico. Segundo documentos obtidos pelo jornal britânicoGuardian, grande parte do armamento utilizado pelo ISIS (antigo nome do Estado Islâmico) veio de grupos armados pelos EUA e cooptados por Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Califado Islâmico, que hoje controla territórios na Síria e no Iraque.

Saddam al-Jammal, líder do Exército de Libertação da Síria, outro grupo anti-Assad, também jurou lealdade ao Estado Islâmico desde novembro de 2013. Para garantir tal apoio, o ISIS mudou a sua estratégia de controle: dava autonomia a essas autoridades locais em vez de controlar diretamente a governança das cidades. Como resultado, o ISIS se expandiu e conseguiu lutar em cinco frentes: contra o governo e os opositores sírios, contra o governo iraquiano, contra o Exército libanês e milícias curdas.

O armamento começou a ser enviado para os opositores sírios em setembro de 2013. Na época, analistas davam o ISIS como terminado e a alegação para fortalecer esses grupos era a de que o governo Assad havia usado armas químicas. Para enviar as armas, o governo Obama usou bases clandestinas na Jordânia e na Turquia. Aliados dos EUA na região, como Arábia Saudita e Catar, também forneceram ajuda financeira e militar.

Ironicamente, os EUA sabem inclusive a real identidade do líder do Califado. Durante um ataque à cidade iraquiana de Falluja em 2004, os norte-americanos prenderam alguns dos militantes pelos quais procuravam. Entre eles, estava um homem de 30 e poucos anos e pouco importante na organização: Ibrahim Awad Ibrahim al-Badry. 10 anos depois, ele se tornaria líder da mais radical insurgência islâmica contra o Ocidente, segundo informações de um oficial do Pentágono.

Na foto: Armados pelos EUA, militantes do Estado Islâmico conseguiram lutar em cinco frente concomitantemente

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INÍCIO DA VIRAGEM DO MUNDO




O ataque dos Anglo-Saxões contra a Rússia toma a forma de uma guerra financeira e económica. Entretanto, Moscovo prepara-se para as hostilidades armadas desenvolvendo a auto-suficiência da sua agricultura e multiplicando as suas alianças para o efeito.
  
O ataque dos Anglo-Saxões contra a Rússia toma a forma de uma guerra financeira e económica. Entretanto, Moscovo prepara-se para as hostilidades armadas desenvolvendo a auto-suficiência da sua agricultura e multiplicando as suas alianças para o efeito. Para Thierry Meyssan, após a criação do califado do Levante, Washington deverá jogar uma nova cartada, em setembro, em São Petersburgo. A capacidade da Rússia em preservar a sua estabilidade interna determinará, então, a sequência dos acontecimentos.

 Thierry Meyssan - Voz da Rússia

A ofensiva conduzida pelos Anglos-Saxões (Estados-Unidos, Reino Unido e Israel) para dominar o mundo prossegue sobre dois eixos simultâneos: quer, por um lado, a criação do «Médio-Oriente alargado» (Greater Middle East), atacando simultaneamente o Iraque, a Síria, o Líbano e a Palestina, como, por outro, o afastamento da Rússia da União Europeia, através da crise que eles montaram na Ucrânia.

Nesta corrida de velocidade, parece que Washington quer impôr o dólar como moeda única no mercado do gaz, a fonte de energia do XXIo século, do mesmo modo que a impuseram sobre o mercado do petróleo [1].

Os média (mídia-Br) ocidentais quase que não cobrem a guerra do Donbass, e a sua população ignora a amplitude dos combates, a presença dos militares US, o número das vítimas civis, a vaga dos refugiados. Os média ocidentais focam pelo contrário, com detalhe, os acontecimentos no Magrebe e no Levante, mas apresentando-os seja como resultantes de uma pretensa «primavera árabe» (quer dizer, na prática, de uma tomada de poder pelos Irmãos muçulmanos), seja como o efeito destrutivo de uma civilização violenta em si mesma. Mais do que nunca, seria necessário vir em socorro de árabes incapazes de viver, pacificamente, na ausência de colonos ocidentais.

A Rússia é actualmente a principal potência capaz de conduzir a Resistência ao imperialismo anglo-saxónico. Ela dispõe de três ferramentas: os BRICS, uma aliança de rivais económicos que sabem não poder crescer senão uns com outros, a Organização de cooperação de Xangai, uma aliança estratégica com a China para estabilizar a Ásia central, e por fim a Organização do Tratado de segurança colectiva (OTSC-ndT), uma aliança militar dos antigos Estados soviéticos.

Na cimeira de Fortaleza (Brasil), que se desenrolou de 14 a 16 de julho, os BRICS deram o passo em frente anunciando a criação de um Fundo de reserva monetária (principalmente chinês) e de um Banco BRICS, como alternativas ao Fundo monetário internacional e ao Banco mundial, portanto ao sistema-dólar [2].

Antes mesmo deste anúncio, já os Anglo-Saxões haviam posto em acção a sua resposta: a transformação da rede terrorista Al-Qaida num califado, afim de preparar os conflitos entre todas as populações muçulmanas da Rússia e da China [3]. Eles prosseguiram a sua ofensiva na Síria e transbordaram-na quer para o Iraque, quer depois para o Líbano. Falharam, por outro lado, no expulsar de uma parte dos Palestinianos para o Egipto e a desestabilizar mais profundamente ainda a região. Por fim, eles mantiveram-se afastados do Irão(Irã-Br), para dar ao presidente Hassan Rohani a chance de enfraquecer a corrente anti-imperialista dos khomeinistas.

Dois dias após o anúncio dos BRICS, os Estados Unidos acusaram a Rússia de ter destruído o vôo MH17 da Malaysia Airlines por cima do Donbass, matando 298 pessoas. Sobre esta base, puramente arbitrária, impuseram aos Europeus a entrada em guerra económica contra a Rússia. Assumindo-se como um tribunal o Conselho da União europeia julgou e condenou a Rússia, sem a menor prova e sem lhe dar a oportunidade de se defender. Ele promulgou «sanções» contra o seu sistema financeiro.

Consciente que os dirigentes europeus não trabalham pelos interesses dos seus povos, mas sim pelos dos Anglo-Saxões, a Rússia mordeu o seu freio e interditou-se, até à data, de entrar em guerra na Ucrânia. Ela apoia com armas e com informação os insurgentes, e acolhe mais de 500. 000 refugiados, mas, abstêm-se de enviar tropas e de entrar na engrenagem. É provável que ela não intervenha antes que a grande maioria dos Ucranianos se revolte contra o presidente Petro Porochenko, mesmo que isso signifique não entrar no país senão após a queda da República popular de Donetsk.

Face à guerra económica, Moscovo escolheu responder por medidas similares, mas envolvendo a agricultura e não as finanças. Dois considerandos guiaram esta escolha: primeiro, a curto prazo, os outros BRICS podem mitigar as consequências das pretensas «sanções»; por outro lado, a médio e longo prazo, a Rússia prepara-se para a guerra e entende reconstituir completamente a sua agricultura, para poder viver em auto-suficiência.

Por outro lado, os Anglo-Saxões previram paralisar a Rússia pelo interior. Primeiro activando para tal, via Emirado islâmico (EI), grupos terroristas no seio da sua população muçulmana, depois organizando também uma contestação mediática aquando das eleições municipais de 14 de setembro. Consideráveis somas de dinheiro foram fornecidas a todos os candidatos da oposição, numa trintena de grandes cidades envolvidas, enquanto pelo menos 50. 000 agitadores ucranianos, misturados com os refugiados, estão em vias de se reagrupar em São Petersburgo. A maior parte de entre eles têm a dupla nacionalidade russa. Trata-se, com toda a evidência, de reproduzir na província as manifestações que em Moscovo (Moscou-Br) se seguiram ás eleições de dezembro de 2011 -a violência sobretudo-; e de mergulhar o país num processo de revolução colorida ao qual uma parte dos funcionários e da classe dirigente é favorável.

Para o realizar Washington nomeou um novo embaixador na Rússia, John Tefft, que já preparara a «revolução das rosas» na Geórgia e o golpe de Estado na Ucrânia.

Será importante para o presidente Vladimir Putin poder confiar no seu Primeiro- ministro, Dmitri Medvedev, que Washington esperava recrutar para o derrubar.

Considerando a iminência do perigo, Moscovo teria conseguido convencer Pequim a aceitar a adesão da Índia contra a do Irão (mais, também, as do Paquistão e da Mongólia) à Organização de cooperação de Xangai (OCS em inglês-ndT). A decisão deveria ser tornada pública aquando da cimeira prevista para Duchambe (Tajiquistão) entre 12 e 13 de setembro. Ela deveria pôr um fim ao conflito que opõe, desde há séculos, a Índia e a China, e envolvê-los numa cooperação militar. Esta reviravolta, se se confirmar, terminaria igualmente com a lua de mel entre Nova Deli e Washington, que esperava afastar a Índia da Rússia dando-lhe acesso, por tal, nomeadamente a tecnologias nucleares. A adesão de Nova Deli é também uma aposta acerca da sinceridade do seu novo Primeiro-ministro, Narendra Modi, quando pesa sobre ele a suspeita de ter encorajado violências anti-muçulmanas, em 2002, em Gujarate, do qual era ministro-chefe.

Por outro lado a adesão do Irão, que constitui um desafio para Washington, deverá trazer ao OCS um conhecimento preciso dos movimentos jihadistas e das maneiras de combatê-los. Mais uma vez, se confirmada, tal reduziria a disposição iraniana para negociar uma trégua com o «Grande Satã», que a levou a eleger o Xeque Hassan Rohani para a presidência. Isto seria uma aposta quanto à autoridade do líder supremo da Revolução Islâmica, o aiatola Ali Khamenei.

De facto, estas adesões marcariam o início da viragem do mundo do Ocidente para o Oriente [4]. Ainda assim, esta evolução deverá ser protegida militarmente. É o papel da Organização do Tratado de Segurança Coletiva(OTSC), formado em volta da Rússia, mas do qual a China não faz parte. Ao contrário da Otan, esta organização é uma aliança clássica, compatível com a Carta das Nações Unidas, uma vez que cada membro conserva a opção de sair dela, se o desejar. É, pois, apoiando-se nessa liberdade que Washington tem tentado, no decurso dos últimos meses, comprar alguns membros, nomeadamente a Arménia. No entanto, a situação caótica na Ucrânia parece ter arrefecido aqueles que nela sonhavam com uma «proteção» norte- americana.

A tensão deverá pois subir nas próximas semanas.


Tradução: Alva

[1] « Qu'ont en commun les guerres en Ukraine, à Gaza, en Syrie et en Libye ? »(Fr-«Que teêm em comum as guerras na Ucrânia, Gaza, Síria e na Líbia?»- ndT) , por Alfredo Jalife-Rahme, Traduction Arnaud Bréart,La Jornada (México), Réseau Voltaire, 7 août 2014.
[2] "Cúpula do Brics: Sementes de uma nova arquitetura financiera", Ariel Noyola Rodríguez, Rede Voltaire, 3 de Julho de 2014. "Sixth BRICS Summit : Fortaleza Declaration and Action Plan" (Ing-«Sexta Cimeira do BRICS: Declaraçãode Fortaleza e Plano de Acção»-ndT), Voltaire Network, 16 July 2014.
[3] «Un djihad mondial contre les BRICS ?» (Fr-«Uma jihade mundial contra os BRICS?»-ndT), por Alfredo Jalife-Rahme, Traduction Arnaud Bréart, La Jornada (México), Réseau Voltaire, 18 juillet 2014.
[4] "Russia and China in the Balance of the Middle East : Syria and other countries" (Ing-« Rússia e China no Balanço do Oriente Médio: Síria e outros países»-ndT), por Imad Fawzi Shueibi, Voltaire Network, 27 Janeiro de 2012.

Europa atira ‘no próprio pé’ ao impor sanções à Rússia, diz premiê húngaro




Correio do Brasil, com agências internacionais - de Budapeste

A União Europeia prejudicou a si mesma com as sanções impostas à Rússia por conta da crise na Ucrânia, disse nesta sexta-feira o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, pedindo por uma reconsideração. Os comentários de Orban acontecem um dia após seu homólogo eslovaco, o premiê Robert Fico, ter criticado as sanções como “sem sentido”, dizendo que elas ameaçam o crescimento econômico do bloco europeu, composto de 28 países.

– A política de sanções perseguida pelo Ocidente, ou seja, nós mesmos, uma necessária consequência ao que os russos estão fazendo, causa mais dano para nós do que para a Rússia. Na política, isso é chamado dar um tiro no próprio pé – disse Orban em uma entrevista no rádio.

A Hungria, um país orientado para as exportações, tem uma grande dependência de importações de energia da Rússia, e no começo deste ano Budapeste fechou um acordo com a empresa russa Rosatom para expandir a única usina nuclear húngara, em um acordo de 10 bilhões de euros (US$ 13 bilhões). A Rússia também é o maior parceiro comercial da Hungria fora a União Europeia, com exportações de 2,55 bilhões de euros em 2013.

– A UE não deve apenas compensar os produtores de alguma forma, sejam eles poloneses, eslovacos, húngaros ou gregos, que agora têm que sofrer perdas, mas como toda a política de sanções deve ser reconsiderada – disse Orban.

Ministros das Relações Exteriores da UE realizaram uma reunião de emergência nesta sexta-feira para discutir os conflitos na Ucrânia e no Iraque. Orban já sinalizou oposição às sanções econômicas contra a Rússia por medo de que o caso prejudique a economia doméstica. Nesta sexta-feira, ele disse que buscaria maneiras de facilitar uma reconsideração.

– Eu farei meu máximo. É claro que estamos todos cientes do peso da Hungria, então as possibilidades são claras, mas estou buscando parceiros para mudar a política de sanções da UE, a qual eu acho que não foi considerada com suficiente meticulosidade – afirmou o premiê.

O Ministério da Agricultura da Hungria disse em nota, na terça-feira, que as exportações agrícolas não seriam prejudicadas significativamente pelo embargo de importações da Rússia a uma grande variedade de alimentos vindos da UE, mas tende a revisar a declaração.

PASSOS DO PONTAL POSTO A NU POR ADELINO MALTEZ E PEDRO ADÃO E SILVA




O professor José Adelino Maltez deixou no Facebook os seus comentários na SIC minutos depois do discurso populista de Passos Coelho no Pontal. Diz ele no FB: “A minha análise do chamado discurso do Pontal de 2014, o de ontem, comparado com o da pesada herança de 18 de Agosto de 1974, mas sem que os gonçalvistas tenham sido os principais responsáveis pelo governo do país quatro décadas antes.”

Nas imagens e no som também Pedro Adão e Silva complementa o programa da SIC. Para ele também Pedro Passos Coelho no Pontal fica muito mal na “fotografia”. A hipocrisisa e o populismo escabroso de Passos Coelho são ali postos a nu.

Do trio de comentadores resta António Costa Pinto. Cauteloso, nebuloso, barafundo. Aquilo a que chamam um moderado e que muitos designam por “empatas” ou opinistas “cúmplices da ocultação dos desaforos e má governação de Passos Coelho”. Mas ele lá sabe. E nós respeitamos e sabemos o que ele representa: Um “nim”, algumas vezes, um “são” noutras. Uma no cravo outra na ferradura, soi dizer-se. Cada um é como cada qual.

Recomenda-se, para quem não ouviu os comentadores, que o façam. Vale a pena. 

Mário Motta

Ex-chefe de gabinete de Sarkozy encaixou 32,6 milhões na venda de acções do BES



Ana Suspiro – jornal i

O administrador do Crédit Agricole e do BES, Xavier Musca, vendeu 35,8 milhões de acções no final de Maio, mas só comunicou em Julho

Um dos representantes do Crédit Agricole na administração do Banco Espírito Santo (BES) vendeu 35,8 milhões de acções, dois meses antes do colapso do banco português. Xavier Musca, administrador do banco francês, encaixou 32,6 milhões de euros nestas operações, de acordo com os números do comunicado enviado à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Estas alienações foram realizadas entre 21 e 26 de Maio, antes da concretização do último aumento de capital do BES mas só foram comunicadas como imputáveis ao gestor francês a 15 de Julho.

Xavier Musca era administrador não executivo do BES desde Novembro de 2012, ano em que ingressou no Crédit Agricole com o pelouro da área internacional de retalho e banca comercial, gestão de activos e seguros.

Mas no seu curriculum profissional destacam-se os cargos que desempenhou no gabinete do ex-presidente francês, Nikolas Sarkozy. Musca foi director para assuntos económicos do Eliseu e em 2011, tornou-se secretário-geral do gabinete do Presidente Francês (ver perfil). Até ao comunicado de 15 de Julho, o gestor francês não tinha divulgado a compra ou venda de quaisquer acções do Banco Espírito Santo. Aliás, no último relatório do governo da sociedade do BES relativo ao exercício de 2013, Musca não consta da lista de administradores que detinham investimentos em acções ou dívida do banco.

COMUNICAÇÃO FALHA PRAZO LEGAL 

A aparente omissão vai contra o dever de comunicação dos gestores e dirigentes das sociedades cotadas que, segundo o Código de Valores Mobiliários, devem comunicar todas as transacções, compra ou venda, de acções emitidas pela sociedade em causa e cujo valor supere os cinco mil euros desde a última operação reportada. O prazo legal para esta comunicação são cinco dias úteis, mas neste caso passaram quase dois meses entre as transacções e a sua correcta divulgação. O código considera que os dirigentes devem divulgar estas operações porque têm acesso a informação privilegiada e participam nas decisões de gestão e estratégia.

Para além de ser administrador do BES, Musca é também administrador de um dos maiores accionistas do banco português, o Crédit Agricole, e da Bespar, sociedade conjunta que controlava a maior fatia de capital do BES. O incumprimento destes deveres de informação constitui uma contra-ordenação e poderá dar origem a um processo.

Contactada pelo i, a CMVM não confirma que o caso esteja a ser investigado, mas remete para o comunicado emitido a 4 de Agosto em que o regulador diz estar a analisar o cumprimento de todos os deveres de informação a que estão sujeitas as sociedade emitentes e os seus responsáveis.

QUATRO OPERAÇÕES, 0,9% DO CAPITAL 

Na primeira alienação, as 13 milhões de acções foram vendidas a um preço médio de 0,993 euros por título. Esta operação, que envolveu 0,33% do capital do BES e rendeu quase 13 milhões de euros, foi comunicada a 26 de Maio, mas foi atribuída ao Crédit Agricole. Em Julho, a mesma operação é imputada ao gestor francês. Foram comunicadas mais três operações de venda de acções do BES: a 22 de Maio foram vendidas 6,5 milhões de acções ao preço médio de 0,8779 euros, o que resultou numa receita de 5,7 milhões de euros; a 23 de Maio foram alienadas cerca de 15 milhões de títulos ao preço de 0,8536 euros, rendendo 12,8 milhões de euros e a 26 de Maio foram transaccionados 1,280 milhões de títulos ao preço de 0,87 euros, com encaixe de 1,1 milhões de euros. Mais de metade dos títulos, que representaram cerca de 0,9% do capital do banco, foram alienados fora de mercado. Desde essa data, Xavier Musca não terá mais acções do BES.

Estas operações seguem-se ao desfazer da parceria empresarial entre a família Espírito Santo e o Crédit Agricole, através da dissolução da Bespar, sociedade que controlava mais de 35% do capital do BES. O banco francês não foi ao aumento de capital e reduziu a sua participação para 14,6%. Ainda assim é o segundo maior accionista do BES, que agora está reduzido aos activos de pior qualidade.

Na apresentação dos resultados semestrais, esta posição representou um prejuízo de 708 milhões de euros para o Crédit Agricole. O presidente executivo do banco garantiu desconhecer as más práticas no BES. Jean-Paul Chifflet confessou-se "enganado".

Xavier Musca - Perfil

Licenciado em ciência política, Xavier Musca foi director-geral do Tesouro e da política económica francesa em 2007. Em 2009 foi nomeado director executivo dos assuntos económicos do gabinete do então presidente francês. Em 2011, Musca, especialista no sector financeiro, torna-se no “braço direito” de Nikolas Sarkozy ao assumir o cargo de secretário-geral do gabinete do presidente francês. Com a chegada de Hollande ao Eliseu em 2012, Musca é contratado pelo Crédit Agricole onde assume a área internacional de retalho e banca comercial, gestão de activos e seguros. No Verão de 2012, o seu nome surge envolvido em suspeitas de tráfico de influências. Segundo a queixa de um empresário, Musca terá recomendado à ex-ministra das Finanças, Christine Lagarde, a atribuição de legião de honra francesa a um perito independente que viria a decidir um litígio comercial com uma empresa privada a favor do Estado francês. Em Novembro de 2012, entra na administração do BES com um cargo não executivo.

Na foto: Sarkozy, Lagarde e Xavier Musca - Philippe Wojazer / Reuters

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