sábado, 16 de maio de 2015

“OS PORTUGUESES ESTÃO A PAGAR PELAS AVENTURAS DOS BANCOS ALEMÃES” - Chomsky




Em entrevista à revista Sábado, o linguista norte-americano que visitou Portugal na semana passada ataca o "capitalismo distorcido" que faz os povos da periferia europeia pagarem pelos empréstimos arriscados dos bancos.

"A crise em Portugal, Grécia, Espanha e outros países da periferia europeia é reveladora", afirmou Chomsky numa entrevista publicada esta quinta-feira na revista Sábado. "Se fossem aplicados os princípios básicos do capitalismo, eram os bancos alemães e de outros países do Norte que tinham de suportar a crise, pois concederam empréstimos de alto risco, com elevadas taxas de juro", acrescentou.

Para Noam Chomsky, que encheu na semana passada o auditório da Gulbenkian numa conferência universitária, "na Europa, os bancos conseguiram que os riscos que tinham assumido fossem suportados pelos Estados". Trata-se portanto de um "capitalismo distorcido", acusa o linguista: "Os portugueses estão a pagar as aventuras dos bancos alemães, que fizeram empréstimos arriscados".

A seguir à crise financeira, pouca coisa mudou, regista Chomsky. "Os últimos relatórios do FMI mostram que os bancos continuam a ter grandes lucros, sobretudo devido às políticas de isenção fiscal e subsídios diretos e indiretos dos governos", conclui.

Esquerda.net

RÚSSIA NUNCA VIOLOU FRONTEIRAS DA UE – general da OTAN




A Rússia nunca violou as fronteiras de qualquer país durante manobras militares, declarou o general alemão na reserva Harald Kujat ao site de notícias Web.de.

Durante a entrevista ao site alemão, o ex-militar da OTAN disse que a Rússia sempre se manteve no espaço aéreo internacional ou águas internacionais quando realiza exercícios ou manobras militares.

Ele fez a declaração ao comentar a situação em torno do alegado aumento da atividade militar da Rússia perto das fronteiras de vários países europeus.

Segundo ele, a Rússia está a tentar mostrar que "estamos aqui de novo" em termos militares e que deve ser levada a sério. Ao mesmo tempo, Kujat acrescentou que Moscovo não planeja atacar qualquer país europeu:

"Gostaria de enfatizar que a Rússia não atravessa qualquer fronteira. O exército russo sempre se manteve no espaço aéreo internacional ou águas internacionais. O confronto aberto está fora dos planos [do presidente] Putin".

Ele também disse que o reforço das tropas da OTAN não é uma ameaça para a Rússia.

"Ninguém quer uma solução militar", disse Kujat, referindo-se às ações "moderadas" da OTAN.

O general também alertou para o fato que de uma possível guerra com a Rússia pode vir a ser uma "catástrofe do século XXI". Segundo ele, tal opção deve ser excluída.

Kujat também descartou a intenção da Ucrânia de se juntar à OTAN "a médio ou longo prazo" devido a uma série de razões, incluindo a situação interna no país e o alto nível de corrupção.

Em fevereiro de 2015, Kujat já havia comentado a situação em torno do conflito ucraniano em uma entrevista à emissora pública alemã ARD. Em particular, ele rejeitou as alegações de haver tropas russas envolvidas nas hostilidades no leste da Ucrânia.

AP Photo/ Sergei Grits – Sputnik

SANÇÕES NÃO CONSEGUIRAM DESTRUIR ECONOMIA RUSSA - opinião




As sanções ocidentais contra a Rússia deveriam causar grandes danos ao país, mas a sua economia está atualmente num estado melhor do que muitos antecipavam, opina o especialista e jornalista Kenneth Raposa da edição norte-americana Forbes.

Segundo o jornalista, o rublo fortaleceu-se em 17% desde o início do ano e o mercado russo foi chamado pelo fundo Market Vectors Russia (RSX) de melhor entre os países em desenvolvimento.

No seu artigo Kenneth Raposa apresenta alguns exemplos que comprovam esta opinião. Segundo ele, no último ranking de capital humano mundial (The Human Capital Report), feito pelo Fórum Econômico Mundial, a Rússia fortaleceu a sua posição e agora ocupa não o 55º lugar, como antes, mas o 26º. O Índice de Capital Humano é determinado tendo em conta as competências e habilidades da população que tem a ver com as metas de produção.

Neste ranking a Rússia ocupa um lugar acima de Israel, Itália, Grécia, Portugal, Espanha e mesmo o Brasil.

As sanções ocidentais levaram alguns problemas à economia russa, nota ironicamente o autor do artigo: o país se tornou um melhor mercado emergente neste ano, de acordo com o RSX. 

O rublo continua a se fortalecer e o dólar permanece abaixo de 50 rublos, embora ainda em janeiro o banco de investimentos Goldman Sachs previsse a sua subida até 70 rublos no espaço de três meses.

Kenneth Raposa considera também que as sanções contra vários setores da economia russa serão levantadas até o final deste ano e que tais fatores como a subida de preços do petróleo, a estabilização da economia nacional, a intenção de investidores de comprar ações e títulos russos, bem como a relutância de muitas empresas estrangeiras de perder o mercado russo, só provam a sua opinião.

AFP 2015/ Alexander Nemenov - Sputnik

VAROUFAKIS RECUSA PLANO QUE PONHA GRÉCIA NUMA “ESPIRAL DE MORTE”




Tsipras multiplica contactos para conseguir acordo até ao final do mês. Atenas recusa baixar mais pensões ou facilitar despedimentos.

Fontes do Governo grego dizem que o primeiro-ministro, Alexis Tsipras, tomou o controlo directo das negociações entre a Grécia e os seus credores, depois de o ministro das Finanças, Yanis Varufakis, ter recusado de novo aceitar um acordo que deixe a Grécia numa “espiral de morte”.

Depois de uma semana com três reuniões do Governo em que tentou aplacar a oposição interna às cedências aos credores, Tsipras irá intensificar contactos com os credores da Grécia, disse fonte do executivo de Atenas à emissora norte-americana CNBC. O primeiro-ministro espera que o seu envolvimento pessoal mostre o empenho em encontrar uma solução, quando Atenas continua a ser acusada pelos seus parceiros de não ser suficientemente rápida nas reformas.

Ainda esta semana, no entanto, o Governo avançou no processo de privatização do porto do Pireu – as privatizações eram uma das exigências dos credores que o Governo de Tsipras começou por recusar mas que entretanto aceitou.

Já os cortes nos valores das reformas e mudanças na lei que permitam despedimentos mais fáceis têm sido mantidas como “linhas vermelhas” do executivo de Tsipras. O Governo argumenta que já cedeu em algumas questões e que espera agora ver alguma flexibilidade do outro lado.

O Financial Times dá um exemplo para mostrar como mais cortes seriam problemáticos: Michalis Akritakis, um funcionário público de 72 anos na reforma, teve o seu vencimento cortado oito vezes nos últimos cinco anos, cortes que retiraram uma fatia de 45% do seu rendimento no total. E 40% dos reformados gregos têm já uma pensão de menos de 665 euros por mês.

O ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, veio novamente sublinhar as linhas vermelhas e recusar um acordo que deixe o país sem espaço para recuperação e em que “os números não batam certo”, quando indicadores mostram que a economia voltou a entrar em recessão.

Varoufakis lançou-se ainda num desabafo: “Gostava muito que tivéssemos a dracma, gostava que nunca tivéssemos entrado nesta união monetária”, declarou. “E acho que, no fundo, todos os membros da zona euro concordariam comigo agora. Porque foi muito mal construída. Mas, uma vez dentro, não se pode sair sem provocar uma catástrofe”, disse.

Varoufakis acrescentou que gostaria de propor uma troca de dívida com o Banco Central Europeu para ajudar na falta de liquidez do país, mas que esta ideia seria certamente recusada, porque traz “medo à alma” do presidente do BCE, Mario Draghi.

Responsáveis gregos vieram entretanto negar planos para um referendo, a que Tsipras aludira indirectamente numa entrevista e que o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, sugeriu. “Estamos a trabalhar para um compromisso”, disse o ministro do Interior, Nikos Voutsis, à Mega TV. “Um recurso imediato a um referendo ou eleições não está nos nossos planos.”

“Estamos a acelerar, estamos a fazer tudo o que foi acordado”, garantiu Nikos Pappas, um responsável próximo de Tsipras, à rádio Kokkino (vermelho), pró-Syriza. “Vamos trabalhar com a mesma determinação para completar este acordo, apesar dos que o querem impedir.”

O Governo grego quer um acordo até ao final do mês, e que se não houver um entendimento na cimeira de líderes da UE em Riga na próxima semana, poderá pedir um encontro de emergência do Eurogrupo, o conjunto de ministros das Finanças dos países da zona euro.

A última prestação entregue pela Grécia ao FMI foi já paga com um fundo de emergência que todos os países do FMI são obrigados a ter e aproxima-se a data de pagamento dos salários e pensões. Ninguém sabe quanto dinheiro tem a Grécia – que já não recebe qualquer empréstimo da troika desde Agosto do ano passado –, mas estes indicadores parecem mostrar que as reservas estão perigosamente baixas.

Acordo climático. AMÉRICA LATINA SERÁ LÍDER NO CAMINHO A PARIS?



Mónica Araya e Guy Edwards – Envolverde

Propostas ambiciosas e construídas com real participação da sociedade podem ser boas para o clima, para a economia e para a democracia na região

Ao longo deste ano, os governos irão decidir como vão contribuir para o novo acordo climático de Paris, que será assinado em dezembro. Isso cria um momento decisivo para a América Latina. Não se trata apenas de formular propostas para combater a mudança climática, mas também de compreender que a maneira como os governos decidirão os seus planos vai definir o apoio político que os mesmos irão receber de parte dos cidadãos, da sociedade civil e das empresas. Existem mais possibilidades de executar propostas sólidas e ambiciosas se a sociedade as considera benéficas, críveis e legítimas.

A América Latina estabeleceu precedentes positivos no esforço global para enfrentar a mudança climática. Diversos países latino-americanos defenderam uma abordagem universal, ou seja, que as medidas do acordo internacional para reduzir as emissões sejam aplicadas a todos os países. Alguns países latino-americanos também figuram entre as primeiras nações em desenvolvimento que se comprometeram em contribuir com o Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund), criado em 2010 em Cancún, no México.

Por outro lado, existem destacadas figuras latino-americanas que desempenham um papel muito ativo no debate global sobre a mudança climática: a costa-ricense Christiana Figueres é secretária-executiva da convenção das Nações Unidas sobre mudança climática; Felipe Calderón, ex-presidente do México, preside a Comissão Global sobre Economia e Clima; e o Papa Francisco, argentino, organizou no último mês de abril uma conferência sobre o clima no Vaticano. Enquanto isso, o ex presidente do Chile, Ricardo Lagos, trabalha com Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, na justiça climática, e o também mexicano José Ángel Gurría considera que o crescimento ecológico é uma prioridade da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O debate sobre a mudança climática já está sendo incorporado na política, na economia e nos meios de comunicação da América Latina. Existe uma preocupação genuína com a vulnerabilidade aos impactos climáticos, tais como a seca ou as inundações e, portanto, o ceticismo é muito menor do que nos EUA ou no Canadá. Diversos relatórios, incluindo um estudo do Pew Research Center de 2013, confirmam que o aquecimento global preocupa muito os latino-americanos.

Um traço que chama a atenção nos países latino-americanos é que, independentemente do tamanho dos mesmos ou de sua orientação política, os governos manifestaram que desejam ser parte da solução da mudança climática. Em 2014, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), composta pelos 22 países da região, confirmou seu compromisso com a Convenção do Clima da ONU e expressou seu apoio a um acordo juridicamente vinculante.

As conferências do clima (COPs) realizadas na Argentina em 1998 e em 2004, no México em 2010 e no Peru em 2014 favoreceram a exposição pública na mídia, e aumentaram o interesse de empresas em soluções climáticas, graças à grande variedade de atos que foram celebrados paralelamente às reuniões oficiais. A conferência climática-empresarial de Lima reuniu investidores e especialistas em infraestrutura, além de um público geral que não costuma frequentar esse tipo de debate.

Cerca de 80% da população latino-americana vive em cidades, o que torna inspiradora a grande quantidade de iniciativas que combinam desenvolvimento e clima. Em março, os prefeitos de 20 cidades latino-americanas assinaram em Buenos Aires a Declaração de Intenções de uma Cidade de Ônibus Limpos, do C40, cujo objetivo é melhorar a qualidade do ar e reduzir as emissões, incorporando às frotas ônibus sem emissões ou de baixas emissões. A mensagem pragmática dos prefeitos do C40 não foi contaminada pelas acusações habituais entre o norte e o sul, e que constantemente atrapalham as conferências da ONU. Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, destacou que “as cidades latino-americanas estão na liderança da promoção de medidas urbanas que reduzam as emissões (…) e melhorem a saúde (…) e as oportunidades econômicas dos cidadãos”.

Ter uma abordagem climática que seja mais amigável com as pessoas é algo que chega à região em um momento de tensão entre governos e ativistas. Enquanto se realizava a conferência climática em Lima, os manifestantes saíram pelas ruas no meio do smog da cidade para exigir medidas mais firmes que combatam a mudança climática. Cerca de 15 mil pessoas participaram da manifestação, que até agora foi a maior da América Latina por essa causa, e exigiram também uma melhor gestão da água e a proteção dos direitos dos ativistas. Não havia só ativistas ambientalistas entre os manifestantes, mas também estudantes, associações de mulheres, de povos tradicionais e sindicalistas, que exigiam responsabilidade ambiental.

As contribuições nacionais são sérias?

A caminho do acordo de Paris, em 2015 todos os países estão convidados a apresentar suas propostas, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (INDC, na sigla em inglês), para instruir o novo acordo que deverá entrar em vigor depois de 2020. As INDC contêm informações sobre o compromisso de redução de emissões do país e sua adaptação aos impactos climáticos, e os meios para apoiar a execução destas medidas, o que inclui financiamento, capacitação e transferência tecnológica.

O México, responsável por 1,4% das emissões globais e situado entre os dez maiores emissores do mundo, foi o primeiro país em desenvolvimento que anunciou em março o seu INDC, após a União Europeia (UE), a Noruega e a Suíça.

O México planeja alcançar o ponto máximo de emissões em 2026 (quatro anos antes da China) e estabelecer o objetivo incondicional de reduzir em um 25% as emissões de gases causadores do efeito estufa e contaminantes climáticos de vida curta (incluindo o carbono negro), em relação ao que estima que emitiria em 2030 se nada fosse feito. Esse compromisso implica reduzir em 22% os gases causadores do efeito estufa e em 51% o carbono negro. Além disso, o México fixou o objetivo de reduzir ainda mais as emissões – em 40% em relação às projeções para 2030 – se forem cumpridas certas condições, entre elas um preço global do carbono, o acesso a recursos econômicos e mecanismos que facilitem a transferência tecnológica.

O México organizou um debate sobre a INDC com a sociedade civil em fevereiro e uma consulta pública online no mês seguinte, antes de apresentar oficialmente a sua contribuição. A INDC está aberta a comentários públicos até o mês de setembro, apesar de não se saber se existirão novas negociações ou se serão incorporadas ideias novas.

Em relação à transparência na elaboração de outras INDC, o Chile adotou a estratégia participativa mais inovadora até agora: uma consulta aberta que durou de dezembro de 2014 a abril do presente ano, e recolheu ideias sobre opções específicas de redução de emissões, além de submetê-las a comentários públicos. A INDC já está no Conselho de Ministros para a Sustentabilidade e Mudança Climática do Chile, e sua apresentação oficial está prevista para junho.

Grande parte da análise técnica da INDC do Chile começou há alguns anos, no âmbito de um programa chamado MAPS (planos de ação e cenários de mitigação de longo prazo), no qual participam diversos atores. O programa MAPS é uma colaboração entre especialistas sul-africanos e latino-americanos para estabelecer trajetórias de mitigação de longo prazo e informar as políticas públicas.

No Brasil, o Ministério de Relações Exteriores organizou reuniões públicas com a sociedade civil, elaborou um questionário online e publicou recentemente o relatório final sobre as contribuições para a elaboração da INDC brasileira. Apesar de ser um passo positivo, se desconhece o nível de ambição da INDC, e alguns especialistas brasileiros estão solicitando novas oportunidades para influenciar no resultado final.

O Brasil é o maior emissor da América Latina, um dos dez maiores emissores do mundo e um ator fundamental nas negociações climáticas da ONU. Portanto, a INDC brasileira é de vital importância tanto a nível nacional quanto regional e internacional. O espírito da contribuição do Brasil terá profundas consequências para o acordo de Paris e para a credibilidade internacional do país. Uma INDC sólida ajudaria a afastar os temores de que o país não possui a vontade política de chegar a um novo acordo climático e de que tenha perdido o interesse em manter sua liderança no tema.

Desde o ano 2005 até agora, o Brasil reduziu admiravelmente o desmatamento na Amazônia. Sua matriz energética é relativamente limpa. Apesar de o governo poder cair na tentação de jogar a toalha, é preciso que a INDC brasileira tenha um novo rumo.

Uma maneira de fazer isto poderia ser mediante a aplicação de medidas que beneficiem tanto aos brasileiros quanto a economia. Por exemplo, aproveitando o enorme potencial de geração de energia renovável e desenvolvendo soluções urbanas sustentáveis. Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente, afirmou que a INDC brasileira aumentará o uso de energia renovável, fixará o objetivo de desmatamento líquido zero e promoverá uma agricultura de baixas emissões.

O Peru começou o processo de elaboração de sua INDC em abril e espera-se que seja organizada uma consulta pública em junho. Recentemente, foi anunciada a criação de uma comissão ministerial liderada pelo Ministério do Meio Ambiente para organizar a elaboração da INDC. Em relação à Costa Rica, o Ministério de Ambiente e Energia e o Ministério de Relações Exteriores organizaram uma oficina de especialistas para discutir a INDC, além de diversas mesas redondas sobre energia e transporte. Espera-se que logo aconteça uma consulta à sociedade civil, e que o rascunho final da INDC fique pronto no mês de setembro. Em relação aos outros países latino-americanos, não se tem conhecimento de como eles estão preparando as suas INDC, uma vez que não há informação pública disponível ou a que existe é muito escassa.

Vantagens de abordagens inclusivas

Tradicionalmente, as políticas climáticas na América Latina foram alimentadas por informações fornecidas por especialistas governamentais, funcionários de bancos de desenvolvimento multilaterais, assessorias e diversas ONG globais. Isto se deve, em grande medida, à boa vontade destes atores, à necessidade de sanar as deficiências da capacidade nacional ou aos pedidos de apoio do governo. Entretanto, os cidadãos ficam, em sua maioria, excluídos da tomada de decisões sobre políticas climáticas nacionais e internacionais – algo que não ocorre apenas na América Latina. Para acabar com a era da política de portas fechadas, é preciso começar desenvolvendo mecanismos novos, que incluam as prioridades dos cidadãos e das empresas. O processo de elaboração da INDC é uma oportunidade concreta de elaborar mecanismos que melhorem a participação cidadã e empresarial.

Os passos dados por Chile, México, Peru e Brasil para abrir o debate sobre as INDC criam um precedente positivo na elaboração de políticas climáticas. No momento, a abertura e a eficácia destas medidas variam consideravelmente, e a estratégia chilena parece ser a mais participativa até agora.

Abrir as INDC a um processo de consulta pública evitaria que os governos defendam posturas nas conferências climáticas da ONU que não tenham sido explicadas ao público, o que ajudaria a aumentar o nível de execução local nas decisões sobre o clima. Tanto o envolvimento como o apoio público são essenciais para adotar medidas que ultrapassem os ciclos eleitorais em curto prazo. Os processos participativos fomentam um debate mais amplo, que pode oferecer melhores ideias e programas climáticos nacionais mais democráticos.

A exigência pública de uma maior transparência por parte dos governos está aumentando. Várias organizações não governamentais da Bolívia, Guatemala, México e Venezuela assinaram uma declaração que exige a consulta pública de seus INDC nacionais, incluindo a participação de distintas associações de povos originários e jovens. O Observatório do Clima do Brasil também pressiona o seu governo para que apresente publicamente a INDC antes que ela seja proposta às Nações Unidas, com o objetivo de avaliar a influência do processo de consulta em sua elaboração.

Falar sobre “Paris” com os cidadãos

Apesar da consciência sobre a mudança climática que existe na América Latina são poucos os cidadãos que sabem que os seus governos estão negociando um novo acordo climático. De maneira geral, são outros problemas que os preocupam: a frustração cada vez maior pelos casos de corrupção, o não cumprimento de promessas e a má governança provocaram diversos protestos em vários países.

É necessário que os governos ofereçam informação empregando uma linguagem acessível para melhorar a compreensão e o significado público do acordo de Paris. Uma maneira de abordar a complexidade das negociações é se concentrar nas vantagens reais das medidas climáticas nacionais para os cidadãos e para as empresas. Podem-se conseguir manchetes positivas se o modo como se aborda a mudança climática se relacionar com os investimentos em energias renováveis, sistemas de transportes limpos, redução da contaminação atmosférica e a melhora da qualidade de vida. É necessário também explicar ao público de que maneira o acordo de Paris contribui para reforçar a resiliência aos impactos climáticos.

Alguns países e algumas cidades já começaram este processo. O governo chileno realizou uma pesquisa sobre condutas e prioridades ambientais dos cidadãos, algo que outros países poderiam fazer. Por exemplo, 33% dos chilenos se preocupam com a contaminação atmosférica. Portanto, o governo teria motivos legítimos para endurecer a regulamentação sobre os veículos e ampliar os sistemas de transporte público limpo, duas medidas de benefício para a saúde e para o objetivo de reduzir emissões. Com esta informação os responsáveis pelas políticas públicas poderiam explicar as suas propostas de ação climática, situando-as em um contexto de resolução de problemas que preocupam os cidadãos.

Está demonstrado que a INDC da UE poderia significar uma economia de 30 bilhões de dólares anuais, graças à menor importação de combustíveis fósseis. Poderia também evitar 6 mil mortes anuais por contaminação atmosférica e criar 70 mil postos de trabalho no âmbito das energias hidráulica, eólica e solar. Na América Latina é preciso realizar um esforço similar para eliminar a falsa crença de que a proteção climática é inacessível ou incompatível com a prosperidade.

A América Latina desempenhou um papel importante ao promover a adaptação como prioridade absoluta para o acordo de Paris. E isso deve ser comunicado ao público para aumentar o envolvimento regional dos resultados de dezembro.

Continuar avançando

Os processos inclusivos e participativos de elaboração da INDC podem dar um novo impulso às políticas climáticas e ambientais atuais, assim como servir de base para uma legislação climática que garanta o compromisso com a tomada de medidas futuras. Neste contexto, o setor privado, as autoridades municipais e a sociedade civil também poderiam criar espaços independentes para conceber outras maneiras de melhorar os planos climáticos nacionais e dar maior credibilidade e legitimidade ao processo.

Entretanto, para que as contribuições climáticas sejam ambiciosas, é fundamental que elas tenham um alto nível de apoio. A consulta pública chilena não teria sido possível sem o apoio político explícito da presidente Michelle Bachelet. O apoio presidencial contribuiu para a transmissão de sinais claros através do governo e da sociedade de que a consulta pública da INDC era uma prioridade.

Em um processo de criação de políticas sólidas, a consulta pública é só o começo. As propostas dos cidadãos devem ser submetidas à revisão e à consideração e, se aceitas, devem ser incluídas nos processos oficiais. Apesar de muitos governos latino-americanos solicitarem comentários públicos, não fica claro como os considerarão ou utilizarão, ou se as propostas serão submetidas ao debate público.

A sociedade civil também tem coisas a aprender: cabe recordar que, quando as contribuições oferecem propostas sólidas, há uma maior probabilidade de que elas sejam consideradas. E também que as exigências não darão em nada se elas não são amparadas por dados que demonstrem a sua viabilidade econômica e técnica.

Uma maneira produtiva de contribuir para os debates sobre a INDC nacional é oferecer ideias sobre como incorporar planos de adaptação nacionais às INDC. A sociedade civil latino-americana poderia considerar a possibilidade de organizar um fórum sobre as INDC regionais partindo de propostas técnicas de alta qualidade para reduzir a contaminação, ampliar o sistema de transporte limpo e acelerar a implementação de energias renováveis. Também poderiam ser propostas ideias concretas para elaborar e iniciar planos nacionais de adaptação.

As negociações climáticas deste ano oferecem uma oportunidade muito concreta de melhorar a política climática da América Latina, tornado-a mais participativa. Se os políticos e funcionários incorporarem as preocupações e propostas dos cidadãos e empresas em seus preparativos para a conferência de Paris, é provável que os países da região entrem em um ciclo novo e produtivo de participação, transparência e ambição nas políticas públicas. A América Latina possui destacados especialistas em energia renovável, arquitetura, planejamento urbano, adaptação e outras áreas que podem contribuir para incorporar a mudança climática na agenda de desenvolvimento.

A região enviou uma mensagem positiva com as consultas públicas da INDC, algo impensável há poucos anos. A política climática inclusiva faz com que aumente o envolvimento local no programa climático, o que teria consequências positivas para a democracia, além de gerar benefícios reais para os cidadãos e a economia. Chegou o momento de os presidentes latino-americanos estabelecerem como prioridade o apoio às contribuições sólidas, inclusivas e mais respeitosas com os cidadãos para o acordo de Paris. E que eles exijam a incorporação de medidas climáticas em seus planos de desenvolvimento. (Observatório do Clima/ #Envolverde)

* Mónica Araya (@MonicaArayaTica) é diretora da Nivela e da Costa Rica Limpia. Guy Edwards(@GuyEdwards) é codiretor do Laboratório de Clima e Desenvolvimento na Universidade de Brown e autor convidado da Nivela é uma organização internacional que promove ideias inovadoras sobre uma melhor interseção entre desenvolvimento, sustentabilidade e democracia.

** Publicado originalmente no site Observatório do Clima.

VENCER A BATALHA DAS IDEIAS




Os governos de esquerda têm que enfrentar o elemento de maior força do neoliberalismo: sua força ideológica do 'modo de vida norte-americano.'

Emir Sader Carta Maior, em Blog do Emir

“E quando, finalmente, a esquerda chegou ao governo, tinha perdido a batalha das ideias.”A afirmação de Perry Anderson sintetiza o maior desafio para os que queremos superar e substituir o neoliberalismo em todas suas dimensões.

Significa que o neoliberalismo fracassou como proposta econômica, o que abre a possibilidade para que a esquerda apareça como alternativa de governo. Quando chega ao governo, tem que enfrentar toda a herança maldita do neoliberalismo: recesso, enfraquecimento do Estado, desindustrialização, fragmentação social, entre outras coisas.

Mas, além disso, tem que enfrentar o elemento de maior força do neoliberalismo, a nível de cada pais, mas também a nível internacional: sua força ideológica, a força do “modo de vida norte-americano”, que impõe sua hegemonia de forma quase inquestionada em escala global.

O estilo de consumo shopping center se globalizou de maneira aparentemente avassaladora. É uma espécie de ponta de lança do neoliberalismo, materializando seu principio geral, de que tudo é mercadoria, tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra. Por isso o shopping center é o exemplo mais claro do que se convencionou chamar de “não lugares”.

O shopping costuma não ter nem janela, nem relógio. Entrar em um desses espaços é se desvincular das condições de vida nas cidades como efetivamente existem, para se articular com a rede de consumo globalizada, mediante às marcas e seu estilo de consumo. Com o conjunto de “vantagens” que traz o shopping center -  proteção do mal tempo, do roubo, com lugar para estacionar, com grande quantidade de cinemas, de lugares para comer, além da diversidade de marcas, todas globalizadas – representa um instrumento poderoso de formas de vida, de sociabilidade, construídas em torno do consumo e dos consumidores.

O shopping center é a utopia neoliberal e expressa, da forma mais acabada – junto com a publicidade, as marcas, a televisão e o cinema norte-americanos, entre outros instrumentos – a hegemonia do modo de vida norteamericano. Lugar que ocupa praticamente sem questionamentos, salvo resistências do islamismo ou dos evangélicos.

A luta antineoliberal conseguiu impor consensos no plano econômico contra a centralidade do mercado, a favor da prioridade das políticas sociais, por exemplo. Mas não gerou ainda valores, formas de sociabilidade, alternativas ao neoliberalismo e a seu mundo de valores mercantilizados. É certo que há mecanismos monstruosos de promoção dos valores neoliberais, mas também é certo que não temos valores alternativos – solidários, humanistas – que apareçam como alternativas.

As politicas sociais dos governos pós-neoliberais tem um caráter solidário e humanista, mas não fomos capazes de traduzi-las em formas de sociabilidade, em valores, alternativos ao egoísmo consumista do neoliberalismo.
  
Não se pode simplesmente incorporar propostas anti-consumistas, em sociedade em que o acesso ao consumo é uma conquista para a grande maioria da população. Acesso que traz, junto, as vantagens do consumo e, por extensão, promove o mundo do consumo – incluído o shopping center – como um objetivo de vida. Assim, não se trata de uma batalha simples. Mas é indispensável para a construção de um mundo solidário e humanista.

Sem a critica do egoísmo consumista dominante, da falta de solidariedade – especialmente com os mais frágeis -, não conseguiremos avançar contra a forte hegemonia ideológica do neoliberalismo e ganhar a decisiva batalha das ideias, decisiva nos enfrentamentos centrais do mundo de hoje.


CARTA MAIOR TEM UM PRESENTE PARA SI - A REVISTA COM O BRASIL À LUPA





"O custo total das campanhas da última eleição foi de 5 bilhões de reais. A consagração legal do financiamento privado consagrará o sistema de corrupção."

A nova edição da Revista da Carta Maior traz uma análise aprofundada sobre as distorções causadas pelo financiamento privado das campanhas eleitorais e sobre o projeto de reforma política proposto por Eduardo Cunha.

Boa leitura!

APAGÃO



Perguntarão os portugueses habituados a verem o PCP na rua em iniciativas próprias; nas empresas ao lado dos trabalhadores em luta; pelo SNS exigindo o respeito pela Constituição nesta (e noutras) área(s); por melhores condições nos hospitais ou centro de saúde públicos; na luta pelo Ensino gratuito, universal e de qualidade; contra o encerramento de tribunais; pela construção da estrada; ao lado dos pescadores e dos pequenos agricultores, etc.,etc.,etc., porque diacho nas televisões e imprensa escrita nacionais, o PCP evapora-se, leva sumiço, escafede-se? É um apagão geral!

Com a grande probabilidade do PSD e o CDS levarem uma grande “abada” na próximas eleições ficando o primeiro longe de ser laranja e encolher até tangerina e o segundo deixar de ser lembrado como o partido do táxi para passar a lambreta, ainda assim de PCP, népia.

As propostas de “uma década para Portugal” tão negra como as duas décadas passadas, variando das propostas do governo apenas “no ritmo e intensidade da mesma política” (1), não seriam razões mais que suficientes para os “Charlies” deste país “fazerem referência à consigna que dá nome ao programa do PCP – Os Valores de Abril no Futuro de Portugal” (2), este sim, um programa alternativo, mesmo? Nã senhor!

O PS encomendou as suas propostas a um grupo de técnicos, quiçá sábios, cujo conteúdo é mais do mesmo e a sempre livre e democrática comunicação social mais os comentadores amestrados, fizeram soar as trombetas anunciando as boas novas. O PSD e O CDS dão um calorzinho naquele prato requentado que nos deu volta à tripa e à vida, sendo que o coordenador do “programa” do PSD é o tipo, perdão, doutor que dá pelo nome de Rogério Gomes que, ao que dizem, “fez contratos públicos a associações a que está ou esteve ligado” , e disso farão alarde os defensores da  «liberdade editorial e informativa».

Em 2007 o programa da RTP “Prós e Contras” que muitas vezes deveria designar-se por “Prós e Prós”, sobre o rescaldo das eleições francesas e às definições de esquerda e direita, convidou para o debate Mário Soares (PS), Miguel Portas (BE), Adriano Moreira (CDS) e Paulo Rangel (PSD). Cadê o PCP? Questionada a moderadora do projecto, doutora Qualquer Coisa Ferreira, reagiu empertigada, dizendo que "o programa não pretende fazer o arco partidário" e que “existem outros espaços para a representação partidária na RTP mas que esse não é o pressuposto do "Prós e contras" (4). Onde? A que horas? Má que jête? Em 2009, sobre o tema "Prioridades da Governação", uma vez mais o PCP se viu excluído daquele programa (5), tendo inclusive apresentado queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). E mais recentemente, a CDU protestou contra a exclusão do mesmo programa (6).

Em 25 de Abril a Revolução dos Cravos comemorou 41 benditos anos. Destaques do dia: o discurso do excelentíssimo senhor professor Aníbal António Cavaco Silva; o anúncio da coligação PSD/CDS-PP às legislativas; o desfile popular na Avenida da Liberdade.

Sobre os primeiros, estamos conversados, ou seja, a coisa repetiu-se por mais uns dias não fossem os portugueses esquecer um e outro acto da mais alta política; sobre o desfile, a RTP canal público de televisão no seu noticiário das 20 horas a “rasura da presença do PCP no desfile foi total. Houve espaço de imagem para quase todos: dentro ou fora da zona da comissão promotora lá couberam dirigentes do PS e do BE, candidatos presidenciais. Só o PCP, mesmo com imagens recolhidas e depoimento gravado, foi apagado!” (7)

Para quem não pode assistir aos debates parlamentares em directo através do canal AR TV e aguarda pelos noticiários televisivos fica com a ideia errada, erradíssima que o PCP só intervém para «mandar umas bocas» ou, como publica o «Avante!», “o PCP só entra no campeonato dos soundbites” (8), ficando para as calendas as propostas e as denúncias dos comunistas.

Por esse País fora e quase diariamente, o PCP leva a efeito diversas iniciativas de âmbito local e regional, e é claro para todos que não se pede o impossível, ou seja, que todas elas fossem mencionadas nos grandes jornais nacionais e nas televisões. Mas que dizer sobre os grandes eventos nacionais? Se o Costa espirra, lá estão todos; se o Portas deixa voar o capachinho, lá estão todos; se o Passos saltita como um coelho, lá estão todos; quando o PCP discute com as mais diversas entidades e/ou organizações (Ordem dos Advogados, PEV, CNA, ID, CGTP, Associação Sindical dos Juízes, etc.), nada, rien! Sobre o Encontro Nacional «Não ao declínio nacional. Soluções para o País» a 28 de Fevereiro em Loures, onde estiveram presente para cima de 2500 participantes, ZERO! Mas há mais, muito mais, e aqui fica uma pequena amostra do que tem sido feito: sectores estratégicos e nacionalizações; a dívida, o euro e a crise: causas e saídas para um Portugal com futuro; valorizar o trabalho e os trabalhadores; etc.

Nesta quinta-feira (14) decorreu a audição sobre políticas migratórias e anuncia iniciativas; no próximo dia 16 será a audição «Defender o SNS, garantir o acesso à saúde», em Lisboa; também nesse dia mas em Faro a audição/debate «Defender os serviços públicos e as funções sociais do Estado»; no dia 18 em Lisboa está agendada a audição «Democratizar a Cultura, valorizar os seus trabalhadores», e claro já sem falar da grande Marcha Nacional – A Força do Povo que ocorrerá no próximo dia 6 de Junho, conforme anunciado no Encontro do passado dia 28 de Fevereiro em Loures. Já estamos à espera que o grande destaque desse dia para a comunicação social “livre e democrática” vá para o anúncio do programa eleitoral do PS, contributo magnífico para que tudo continue igual.

Todo o trabalho desenvolvido junto das populações, dos trabalhadores, dos jovens, das mulheres, dos reformados e pensionistas, dos micro, pequenos e médios comerciantes e industriais, é um contributo precioso para a elaboração de um programa eleitoral. Também estas audições servem para a construção desse programa. Mas o «fechado» e «antidemocrático» PCP ainda abre, para quem quiser, a possibilidade de participar na feitura desse programa através do sítio da internet: http://www.cdu.pt/legislativas2015/.

Posto isto que aqui está descrito e sendo apenas uma pequena amostra, como é que os papagaios de serviço têm a distinta lata e muita falta de vergonha de dizer que o PCP não apresenta propostas e é um partido que não quer assumir responsabilidades governativas fechando-se em si mesmo? Esta comunicação social ajuda a determinar os resultados eleitorais, a restringir o conhecimento sobre a crise real e as soluções alternativas que se apresentam ao País.

E mesmo para acabar que a prosa já vai longa, leiam só mais este excerto do jornal «Avante!» e vejam por vós, como a coisa funciona. “Curiosamente, assistimos a um conjunto de coincidências interessantes. Na noite de dia 6, Francisco Pinto Balsemão, fundador e ex-presidente do PSD, intervinha no aniversário do seu partido, onde enviava recados ao primeiro-ministro. No dia seguinte, o mesmo Pinto Balsemão – mas desta vez presidente da empresa que detém a SIC, o Expresso e a Visão – falava em nome da Plataforma dos Media Privados à saída de um encontro com o PSD e o CDS em que exigia «que nos deixem abordar as campanhas eleitorais como entendermos». Mais dois dias corridos e enviava as suas propostas para o programa eleitoral do PSD a Passos Coelho. Pelo meio, o bloco central ficou completo com Luís Nazaré, director-executivo da tal plataforma, militante e eleito pelas listas do PS a uma freguesia de Lisboa, a falar no final de um encontro similar com o seu partido. Fica evidente a quem serve a discricionariedade de quem manda nos órgãos de comunicação social.” (9).

Perante tal cenário não é de admirar que muitos milhares de pessoas continuem ainda “formatadas” pelos partidos de direita e por esta comunicação social. Como fazer chegar a esses as propostas, lutas e iniciativas do PCP diante de tamanha desigualdade de tratamento? Desculpem os estimados leitores mas, como dizem os brasileiros, é foda!

Notas 
(1)          – João Oliveira, «Avante!», de 14/05/2015
(2)          - «Avante!», de 30/04/2015
(3)          – Diário de Notícias, de 10/04/2015
(4)          – Jornal de Notícias, de 08/05/2007
(5)          - Diário de Notícias, de 10/11/2099
(6)          - CDU – Coligação Democrática Unitária / Cidade do Porto, 10/02/2014
(7)          - «Avante!», de 30/04/2015
(8)          - «Avante!», de 14/05/2015
(9)          - «Avante!», de 14/05/2015

SERÁS POBRE


Sandra Monteiro [*]

Trabalhes ou estejas desempregado, serás pobre. É esta a mensagem subjacente às transformações que estão a ser feitas, em simultâneo, no mundo do trabalho e na protecção social no desemprego. É esta a sociedade de pobreza, com mais pobres e maior intensidade de pobreza, que está a ser construída de forma estrutural, porque o que se passa ao nível das remunerações salariais e da protecção social tem efeitos sobre todo o edifício económico, social e político. Uma sociedade que era já das mais desiguais antes da crise está a tornar-se mais desigual ainda.

Portugal caracteriza-se há muito por níveis salariais extremamente baixos quando comparados com a média europeia. Mas a "desvalorização interna" dos últimos anos mostra que termos salários que são pouco mais de metade da média dos salários na União Europeia (56,4%) não é ainda suficiente nesta corrida para o abismo do trabalho (quase) escravo. Nos últimos anos, além dos cortes salariais no sector público (26%) e no sector privado (13%), registou-se uma acentuada quebra dos salários nos novos contratos e nos contratos a termo (e mais no trabalho feminino do que no masculino). Assim, entre 2012 e 2013, " verificou-se uma travagem a fundo e os salários recuaram 1,9%, correspondendo agora a uma média de 808 euros mensais líquidos" ; e os trabalhadores que sofreram um corte maior, de 6% no último trimestre de 2013, foram os diplomados do ensino superior, apesar de continuarem a ter, em média, salários mais elevados [1] .

A confirmar esta percepção de que os novos empregos criados são cada vez mais trabalhos de miséria está a informação recente de que "os contratos de trabalho feitos de Outubro de 2013 para cá e que ainda estão em vigor apontam para um salário base de cerca de 581 euros brutos por mês" [2] . Isto é, os novos salários tendem a aproximar-se do salário mínimo nacional, ainda agora aumentado para os 505 euros mensais.

A construção desta pobreza laboral, que não é uma característica nacional mas neoliberal, assenta em vários factores, da emigração forçada (superior a 400 mil pessoas) às várias formas de desregulação do emprego. Nestas formas incluem-se as deslocalizações, a precariedade, o trabalho temporário e a tempo parcial, os estágios remunerados com fundos comunitários ou públicos, sem perspectivas de inserção no mercado de trabalho, ou ainda o (auto)emprego através da criação de empresas de desespero, as quais, mascaradas por uma retórica de "empreendedorismo individual", são em geral uma via para o sobreendividamento pessoal.

É este admirável mundo novo da emigração, da precariedade, do biscate, do estágio perpétuo e do endividamento para poder trabalhar que facilita a aceitação de remunerações cada vez mais miseráveis. O exército de reserva dos desempregados é hoje inseparável do exército de reserva dos trabalhadores pobres e das remunerações baixas. As estatísticas que usámos durante décadas terão de ser muito afinadas para traduzirem bem as novas realidades que as políticas sociais e de emprego devem combater.

Quando organismos como o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentam os dados do desemprego (13,7% no primeiro trimestre de 2015) causam entre os cidadãos uma certa ambivalência. Porque, sendo já de si elevadíssimos, percebe-se que não contam com realidades bem conhecidas:   os que já desesperam das grilhetas da apresentação quinzenal no Centro de Emprego, de onde não vem qualquer trabalho; os que emigraram e continuam a pensar voltar mal arranjem trabalho cá; os que trabalham muito menos horas (e semanas, e meses…) do que estão disponíveis para trabalhar; etc.

É por isso importante surgirem estudos que ajudem a compreender melhor a realidade. Exemplo disso é o estudo do "Barómetro das Crise", onde se afirma que, "tendo em conta as diversas formas de desemprego, o subemprego e estimativas prudentes sobre a situação laboral dos novos emigrantes, a taxa real de desemprego poderia situar-se, no segundo semestre de 2014, em 29% da população ativa" [3] . De facto, não só os números da criação de emprego são francamente decepcionantes (pouco e mau emprego), como os níveis do desemprego, em vez de descerem substancialmente, mantêm-se perigosamente estáveis a níveis muito elevados (muito e mau desemprego).

Regressemos à ideia de que as políticas actuais generalizam a pobreza, tanto de quem trabalha como de quem está desempregado, por via de uma actuação simultânea no mundo do trabalho e na protecção social no desemprego. Se existe alguma racionalidade individual – que não colectiva – em aceitar trabalhos miseráveis ("é melhor que nada"), é justamente porque esse "nada" foi fabricado, a montante, nas políticas sociais, pela crescente desprotecção social, desde logo no subsídio de desemprego e demais prestações, ainda para mais num quadro de permanência de níveis muito elevados de desemprego de longa duração.

É este o papel político da desprotecção social dos desempregados. Quando temos, segundo dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), menos 100 mil empregos protegidos entre Dezembro de 2012 e Dezembro de 2014, e quando chegamos a taxas de absoluta desprotecção (sem subsídio de desemprego, nem subsídio social de desemprego inicial, nem subsídio social de desemprego subsequente) de quase metade dos desempregados "oficialmente" registados (46% no segundo trimestre, 49% no quarto trimestre de 2014) [4] , compreendemos que é um dos pilares do Estado social que está a ser destruído. Qual? O direito à protecção social no desemprego, condição fundamental para a igualdade de direitos e de oportunidades, direito que combate a pobreza protegendo todos os trabalhadores e a própria Segurança Social, ao impedir o abaixamento das contribuições gerais pela aceitação de quaisquer níveis remuneratórios.

Ainda para mais, a outra prestação social – o rendimento social de inserção (RSI), não criado especificamente para os desempregados e dependendo apenas da falta de rendimentos – que poderia aliviar dramáticas situações de pobreza, não tem acompanhado as necessidades decorrentes da crise e deixa crescentemente sem protecção desempregados que já esgotaram a duração do subsídio. É aqui que importa mexer, com carácter de urgência, para que o Estado social garanta níveis dignos de protecção social.

Se nem para defender o Estado social se conseguir implantar políticas robustas, como escolher pelo menos um dos outros vértices (o Tratado Orçamental ou a dívida pública actual) do "triângulo das impossibilidades da política orçamental", na expressão do economista Ricardo Paes Mamede, de cujo cumprimento terá de se abdicar para ser possível reverter a austeridade e o empobrecimento? 

[1] Raquel Martins, "Licenciados sofreram a maior queda nos salários em 2013",  Público, 8 de Fevereiro de 2014.
[2] Catarina Almeida Pereira, "Empresas estão a contratar com salário-base de 581 euros", Jornal de Negócios, 26 de Março de 2015.
[3] "Barómetro das Crises n.º13", 26 de Março de 2015, www.ces.uc.pt/...
[4] Os números aqui referidos foram compilados pelo jornalista João Ramos de Almeida, a quem agradeço.


[*] Economista.

O original encontra-se em pt.mondediplo.com/spip.php?article1057

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

RESISTIR, RESISTIR SEMPRE!




O JORNALISMO LIXO CORPORATIVO 

Os padrões de qualidade no jornalismo corporativo sempre foram baixos, mas agora degradam-se cada vez mais. E quando se trata da República Democrática e Popular da Coreia, a degradação atinge uma insânia vertiginosa:   vale absolutamente tudo, qualquer estória, por mais descabelada e inverossímil que seja. 

A mais recente é a de que o ministro da Defesa teria sido executado publicamente (sic) "a tiro de canhão" (sic) por ter dormido durante um discurso do presidente (sic). Isso foi propalada por todo o mundo nos media que têm a pretensão de serem sérios, como o jornal do Belmiro por exemplo.

A enxurrada de sandices, imbecilidades e lixo difundido diariamente por estes media corporativos faz parte da desinformação promovida pela classe dominante. 

A fase histórica do capitalismo que agora vivemos – de depressão económica sem fim à vista – provoca os fenómenos mais aberrantes.

O MÍTICO FIM DA CRISE 

Eles dizem que Portugal já está a sair da crise. Mas, revela-se agora, o número de penhoras duplicou em apenas dois anos . As cobranças coercivas do fisco passaram de 927mil euros em 2013 para mais de dois milhões em 2014.   A voracidade fiscal é tamanha que até clientes de restaurantes e lojas são notificados para penhora dos estabelecimentos onde pedem a e-factura com número de contribuinte (o que é uma razão de peso para nunca informar o número quando se faz uma compra). 

Haverá tanta diferença assim entre Portugal e Grécia, como apregoa este governo? Aparentemente a diferença é só de dois anos:   Portugal está hoje na mesma situação em que estava a Grécia dois anos atrás. 

Inverter a rosa é preciso.


OS ESTUDOS DE CAVACO, OS JOVENS, A EMIGRAÇÃO E OS ROTEIROS DA NEGRITUDE




Cavaco Silva sacou do seu contentor de hipocrisia o chavão do regresso dos jovens que têm emigrado para superar a miséria e fome que ele próprio também tem fomentado em Portugal. Foi mais além e encomendou um estudo que “revela expectativas baixas da juventude em relação ao futuro próximo no país”. Como se ele não o soubesse, não estivesse nos poderes políticos há cerca de 20 anos a semear esta situação de penúria a que chegámos. Tanta hipocrisia num presidente da República causa fartum que só com vómito se atenua. Cavaco é assim. Ou está mudo e quedo a manobrar nos bastidores segundo as suas vontades ressabiadas em prol dos mais ricos, vigaristas e vampiros do país e das populações ou opta por surgir à luz do dia desastrosamente e a demonstrar que é um dos causadores da miséria que na atualidade assentou estrondosamente arraiais em Portugal e assim se perspetiva prosseguir enquanto gente como os de sua laia continuarem a ocupar os poderes que nos conduziram com toda a crueza à negritude do presente e do futuro de Portugal e dos portugueses que teimarem em por cá ficar.

Portugal sem um futuro capaz é a visão que os jovens vislumbram com toda a pertinência. Fome, miséria, exploração. Os ricos cada vez mais ricos… A não ser que isto um dia dê uma volta de 180 graus e se recupere o que Cavaco e os partidos do Arco da Governação destruíram: as conquistas de Abril, a democracia, a liberdade, a justiça.

Num trabalho apresentado no jornal Público a jornalista Maria João Lopes mostra os resultados do estudo cavaquiano e outras considerações. As desesperanças dos jovens são evidentes. Afinal não andam longe das desesperanças da maioria dos portugueses. O que não se compreende se tomarmos em consideração as sondagens publicadas com vista às próximas eleições legislativas. Em que persiste o domínio da associação criminosa conhecida por Arco da Governação. Assim continuaremos a ir para o fundo do poço da desgraça. Dita a experiência de quase 40 anos. Sadomasoquismo no seu exponencial vigor por parte dos eleitores, dos portugueses. Não precisam de continuar a sentir saudades de Salazar. Afinal já estão vários desse jaez em Belém, no governo e até na Assembleia da República se instalaram bastantes com toda a bagagem revanchista.

Redação PG

70% dos jovens entre os 15 e os 24 anos admite ir trabalhar para o estrangeiro

MARIA JOÃO LOPES - Público

Estudo encomendado pela Presidência da República revela expectativas baixas da juventude em relação ao futuro próximo no país. Ao contrário do apelo de Cavaco, maioria dos jovens está disponível para emigrar e desinteressada da política.

O estudo apresentado nesta sexta-feira na Fundação Champalimaud, em Lisboa, dá pouca esperança às preocupações que o Presidente da República expressou, na abertura da IV Conferência Internacional Portugal e os Jovens, Novos Rumos, Outra Esperança.

Cavaco Silva quer os jovens regressem ao país e está apreensivo com o afastamento que mostram em relação à política. O que os números evidenciam é que a maioria dos jovens não se interessa “nada” por política e está aberta, de alguma forma, à possibilidade de trabalhar no estrangeiro.

O estudo foi encomendado pela Presidência da República, chama-seEmprego, Mobilidade, Política e Lazer: situações e atitudes dos jovens portugueses numa perspectiva comparada, e é de Mariana Costa Lobo, Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa).

Nele pode ler-se, entre muitos outros aspectos, que “a proporção de indivíduos que declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no futuro é maior entre os jovens e jovens adultos do que nos restantes grupos etários”: “Se tivermos em conta os jovens que consideram a ideia de vir a trabalhar no estrangeiro e os que, apesar de não considerarem a ideia, não a excluem, pode concluir-se que cerca de 70% dos jovens entre 15 e 24 anos estão de alguma forma abertos à hipótese de vir a ter uma experiência laboral fora de Portugal.”

O número inclui aqueles que respondem “sim” à “hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro em algum momento no futuro” (53,1%) e aqueles que não excluem essa hipótese – 16,1% não sabe.

São os jovens filhos de pais mais escolarizados e os que já frequentaram uma universidade num país da União Europeia os que mais declaram estar abertos à hipótese de trabalhar no estrangeiro.

As razões que levariam os jovens a ter uma experiência laboral no estrangeiro são sobretudo melhores oportunidades de emprego e de condições de trabalho. “Os jovens dos 15 aos 24 anos, na sua maioria ainda em fase de formação, distinguem-se por serem o grupo etário que mais aponta motivações relacionadas com o seu desenvolvimento pessoal, nomeadamente a nível da aquisição de novas competências, na acumulação de novas experiências e ampliação das suas redes de solidariedade”, lê-se.

Férias, desemprego e democracia

Os dados também permitem perceber que os jovens portugueses estão mais insatisfeitos agora com a democracia do que 2007 – em 2015, 17,3% considera que a democracia funciona “bem”; em 2007 a percentagem era 33,8. Além disso, em 2015, 57,3% dos jovens entre os 15 e os 24 não se interessa “nada” por política – em 2007, a percentagem ficava-se pelos 23,5.

Os jovens estão pouco esperançados em relação ao futuro próximo em Portugal. Confrontados com a frase “daqui a dois anos, a crise terá terminado e a situação do emprego em Portugal será melhor do que hoje”, a maioria discordou – 60,8% entre os 15 e os 24 e 66,5% entre os 25 e os 34.

Destaca-se ainda que “uma parte considerável” dos jovens nunca viajou de férias para o estrangeiro (60,6% entre os 15 e 24 anos e 53,3% dos jovens entre 25 e 34).

Segundo o estudo, a proporção de jovens sem trabalho há mais de um ano é “muito significativa”. Entre os inquiridos, dos 15 aos 24 anos, 38,2% estão sem emprego há mais de um ano; entre os 25 e os 34 anos a percentagem chega aos 52,8%.

O estudo ressalva, no entanto, que o desemprego de longa duração tem valores “inexpressivos” nos jovens com formação superior. E que estabilidade e segurança são os factores mais valorizados no que toca ao trabalho, com percentagens a ultrapassarem os 80% em todas as idades. O inquérito foi realizado entre 6 e 17 de Março e o universo incluiu indivíduos com 15 anos e mais. A amostra total incluiu 1612 entrevistas.

Apesar de aos jornalistas se ter escusado a comentar questões da actualidade política, o economista e coordenador do cenário macroeconómico do PS, Mário Centeno, considerou, na sua intervenção, que “é a formação que permite aos jovens ultrapassarem os desafios no mercado de trabalho”.

Defendeu que é necessário “valorizar o retorno aos investimentos em educação no contexto nacional, eliminando os meandros da excessiva segmentação contratual”; “garantir às famílias as condições de financiamento do ensino, aliviando as suas restrições de liquidez”; e “estimular o emprego, aumentando as contratações”.

Já a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, afirmou que Portugal tem as condições para ser “um dos mais atractivos” países para os jovens, ressalvando que é necessário saber como os atrair.

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