domingo, 9 de outubro de 2011

DOM HÉLDER CÂMARA, EXEMPLO DE LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS





Vivemos numa época em que o país enfrenta uma grave crise econômica, ética e de representação popular. Assim, mais do que nunca precisamos diminuir a brutal desigualdade predominante em nossa sociedade, tornando o sistema mais justo e próximo da tão almejada e verdadeira democracia.

Trata-se, sem dúvida, de um luta difícil, a ser encetada por forças políticas conscientes e lideranças comunitárias, pois ela contraria frontalmente o grande cerco imposto pelas elites em torno da manutenção de seus privilégios. E diante de tal aspiração, de suma relevância, os exemplos de personalidades coerentes e perseverantes, ajudam-nos a compreender as dificuldades do tempo atual e a necessidade de nos empenharmos em transformá-lo para melhor. Assim, invocamos hoje a figura de Dom Hélder Câmara, o arcebispo emérito de Olinda e Recife, que sempre repugnou as injustiças sociais e cujo aniversário de sua morte, transcorreu a 27 de agosto.

Defensor intransigente do respeito à condição humana, à dignidade de vida, aos pobres, à reforma agrária e à liberdade, ele se constituiu numa legenda cultivada em todo o mundo como um dos mais importantes nomes do humanismo no século passado, tendo posto sua autoridade moral a serviço dos mais necessitados, pregando com bravura contra os regimes de força e os governantes prepotentes. Tanto que o jornalista Jânio Freitas assim se expressou:- “A dívida que os democratas têm para com D. Hélder é proporcional ao ódio que os militares da ditadura que dedicaram” (Folha de São Paulo- 29.08.99 – cad.1 – pág. 05).

O religioso recebeu o título de doutor “honoris causa” em dezenas de universidades do Exterior e foi premiado diversas vezes por organizações dedicadas à defesa dos direitos humanos. Também chegou a ser indicado em mais de uma ocasião para receber o Prêmio Nobel da Paz, tendo o governo do general Emílio Médici (1969-1974), promovido uma campanha secreta contra sua eleição, através da Embaixada do Brasil em Oslo (Noruega). Foi o idealizador da Feira da Providência – que até hoje funciona como meio de arrecadar dinheiro às obras assistenciais no Rio de Janeiro – tendo também se notabilizado por fundar a CNBB- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a primeira entidade do mundo a reunir bispos de um país e a CELAM- Conselho Episcopal Latino-Americano.

Blogue luso-brasileiro: “PAZ”

*João Carlos José Martinelli é advogado, jornalista, escritor e professor universitário

Ler também:

Brasil: REFORMA POLÍTICA E DEMOCRÁTICA SÓ COM CONSTITUINTE




EMIR SADER – CARTA MAIOR, em Blog do Emir

Durante a campanha eleitoral Lula e Dilma falaram de convocar Assembleia Constituinte exclusiva para a reforma política. Os argumentos a favor são claros: um Congresso eleito pelos benefícios das leis atuais, não iria dar tiro no pé e reformar essas leis.
Terminadas as eleições, não se falou mais no tema. Mesmo com Lula definindo a reforma política como uma das prioridades da sua atuação, não se voltou a mencionar mais a Constituinte. Lula mergulhou nas difíceis e trabalhosas negociações da reforma diretamente com os líderes do Congresso atual.

Logo o PMDB e o PSDB apresentaram suas próprias propostas, que têm em distintas versões do voto distrital seu eixo – retrocessos enormes em relação às precárias formas atuais de representação política. Tudo indica que o fazem sem esperança de que sejam aprovadas, mas para se contrapor o primeiro, e negociar o segundo, com o PT, com algo em mão em torno do qual fazer concessões, em troca de outras tantas por parte do PT e de Lula. Para que finalmente nada mude – condição para que o PMDB continue a ter o peso que tem tido até aqui.

Lula, o governo, o PT, a esquerda – entraram no jogo. Se deixaram levar pela solução mais fácil: negociar com o Congresso e com os partidos como eles existem hoje. Resultado: nem sequer o financiamento público de campanha deve ser aprovado. A reforma política está no limite de ser mais uma vez uma frustração e de termos de conviver com o financiamento privado das campanhas e todo o poder do dinheiro sobre elas; com as candidaturas avulsas em cara partido, em que tantos deles se tornam partidos de aluguel; sem fidelidade partidária, para que o mercado dos mandatos possa seguir correndo solto; para que a deformação da representação atual na Câmara siga favorecendo estados menores, que elegem deputados com dez e quinze menos votos que em outros estados.

Em suma, abandonando a ideia da Assembleia Constituinte autônoma, estamos caminhando para uma grande derrota. Não estaremos aproveitando a grande derrota que impusemos à direita nas eleições de 2010, para eleger uma Assembleia Constituinte com uma composição muito melhor, perdendo a possibilidade de promover uma nova geração de políticos jovens, que representem as camadas emergentes e a juventude.

Se não reconsiderarmos o caminho aparentemente sem saída que trilhamos, faremos de uma vitória, uma derrota, estaremos perpetuando um sistema eleitoral deformado, socialmente injusto, economicamente determinado.

Ainda é tempo. Basta Lula e Dilma se recordarem das posições que defenderam durante a campanha e recolocarem a proposta de convocação de uma Assembleia Constituinte Autonoma. Certamente o PT e os outros partidos de esquerda seguirão por esse caminho e o Brasil poderá renovar, de forma mais acelerada e transparente, seu sistema politica e sua democracia.

- Postado por Emir Sader às 14:02

DEPOIS DA VIAGEM, DILMA VOLTA A BRASÍLIA E PASSA O DIA NO ALVORADA


A presidenta Dilma com o presidente da Turquia durante sua viagem à Europa; royalties do petróleo são o principal tema das reuniões de sua volta – Foto Reuters

CORREIO DO BRASIL, com Rede Brasil Atual - de Brasília

A presidenta Dilma Rousseff chegou na madrugada deste domingo à Base Aérea de Brasília, depois de passar uma semana visitando três países da Europa – Turquia, Bulgária e Bélgica. Segundo a assessoria da Presidência da República, Dilma não tem compromissos oficiais neste domingo, mas na segunda  retoma uma série de reuniões no Palácio do Planalto. À tarde, comanda reunião de coordenação política.

O primeiro encontro do dia será com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na viagem  à Europa, o assunto que dominou a pauta foi a crise econômica internacional. Dilma disse que o Brasil se dispõe a cooperar com os europeus, mas lembrou que as medidas devem ser associadas às políticas sociais e sem exageros.

Dilma se reúne também com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Um dos temas abordados por eles deve ser a questão dos royalties do petróleo. O governo tem como desafio resolver o impasse entre os estados produtores e não produtores na redistribuição dos royalties.

A controvérsia se acirrou nos últimos dias. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que o assunto deve ser tratado como uma questão federativa e não de orientação partidária. Ao mesmo tempo, seu trabalho tem sido o de viabilizar a tramitação mais tranquila possível do projeto do senador Wellington Dias (PT-PI), definido como base para as negociações.

NHEM EN, O FOTÓGRAFO DAS VÍTIMAS DO GENOCÍDIO CAMBOJANO




JORNAL DE NOTÍCIAS

Pouco antes de serem executados, Nhem En pedia-lhes o favor de olharem fixamente para a objectiva. Que não inclinassem a cabeça. Que não se mexessem. "Tentei que saíssem o mais favorecidos possível", conta o retratista das vítimas do genocídio cambojano. "É esse o trabalho do fotógrafo, não é?", pergunta.

Segundo contou ao jornal espanhol "El Mundo", Nhem En tinha 16 anos quando foi recrutado pelos Khmers Vermelhos e enviado para a prisão de Toul Sleng, mais conhecida como S-21. Apenas nove dos 14 mil reclusos que por ali passaram sairam com vida.

Os rostos dos que ali morreram, os seus gestos de resignação, os seus olhares perdidos, estão hoje pendurados nas paredes da prisão, entretanto transformada no Museu do Genocídio de Phnom Penh.

Quando o regime dos Khmers Vermelhos foi derrubado, em 1979, foram encontrados cerca de seis mil negativos nos arquivos da prisão. Homens e mulheres. Velhos e crianças. Muitos deles imortalizados com sinais de tortura recentes. Alguns já sem vida.

O fotógrafo da morte recorda que tinha que remover a venda dos olhos dos reclusos, posicioná-los correctamente e guardam silêncio quando perguntavam o que é que estava a fazer e porque estavam ali. "Sou apenas o fotógrafo", murmurava.

Uma vez interrogados e fotografados, os reclusos eram conduzidos aos campos da morte e executados com um tiro na cabeça ou um golpe de faca do mato. A sua sentença era resumida a apenas uma frase: "Destruir-te não envolve qualquer perda, preservar-te não traz qualquer benefício".

Nhem En viaja até ao passado e diz não ter qualque remorso. "Por que haveria de sentir?", pergunta. "Não matei ninguém. Só os fotografei. Fiz o que me mandaram".

O fotógrafo é um dos milhares de cambojanos que participaram no genocídio de Phnom Penh que não irão sentar-se nos bancos dos réus. O acordo assinado entre as Nações Unidas e o governo para procurar justiça limitou os processo a apenas cinco acusados. Kaing Guek Eav, o chefe da S-21, foi sentenciado no ano passado a 35 anos de prisão. Outros quatro dirigentes aguardam que os seus processos sejam retomados.

Nhem En encontrou outro modo de vida ocupando vários cargos políticos no antigo bastião dos maoístas em Anlong Veng, no norte do país. O seu passado como chefe do serviço de fotografia da S-21 permitiu-lhe montar um negócio turístico e ganhar dinheiro extra com a venda de lembranças dos Khmers Vermelhos, incluindo leiloando as máquinas que utilizou para fotografar os que iam morrer.

A sua foi a última voz que muitos dos que morreram ouviram. Dizia-lhes: "Não inclines a cabeça. Olha para a objectiva. Não te mexas".

MISSÃO DE ESTUDOS DE DEFENSORES DO TIMOR-LESTE EM BRASÍLIA





Brasília, 03/10/2011– Em continuidade à 2ª Missão de Estudos de defensores públicos do Timor-Leste, promovida pela Escola Superior da Defensoria Pública da União (ESDPU), os timorenses Laura Valente Lay, Marçal Mascarenhas e Rui Manuel Guterres foram recebidos nesta segunda-feira (3), em Brasília, pelo defensor público-geral federal em exercício, Afonso Carlos Roberto do Prado.

A delegação timorense fica no Brasil por dois meses – até 26 de novembro –, período no qual os visitantes terão a oportunidade de aperfeiçoar o idioma português e aprender sobre o sistema judiciário brasileiro, com foco no trabalho realizado pela Defensoria Pública, desde o atendimento à população até o ajuizamento das ações. Serão promovidos estágios em núcleos da instituição em Brasília.

Afonso Carlos do Prado deu as boas-vindas ao grupo, acompanhado de Domingos de Sousa, embaixador do Timor-Leste no Brasil, e de Marco Farani, ministro-diretor da Agência Brasileira de Cooperação, do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE). “Graças ao entusiasmo dos defensores brasileiros e à parceria com a ABC, o intercâmbio tem sido bem-sucedido e a missão está se aprimorando”, afirmou.

O embaixador timorense, por sua vez, destacou a articulação entre os dois países. “Esperamos que o programa continue no futuro”,  disse Domingos de Sousa. Já para o diretor da ABC, Marco Farani, “por intermédio da DPU, temos feito um significativo trabalho com as nações amigas”.

Rui Guterres lembrou que o Timor-Leste é o único país da Ásia que adota o sistema brasileiro de assistência jurídica. “Essa troca de informações é muito importante para melhorar nossas ações e beneficiar os cidadãos pobres”, completou. Segundo Marçal Mascarenhas, dois aspectos da missão devem ser enfatizados: “vamos aprimorar o aprendizado do idioma português e receber noções de Direito, de modo geral”. Laura Lay apontou a melhoria nas relações entre as Defensorias dos dois países.

Também participaram  da recepção aos timorenses os defensores públicos federais Haman Tabosa de Moraes e Córdova, aprovado pelo Senado para o cargo de defensor público-geral federal, João Alberto Simões Pires Franco e José Carvalho do Nascimento Júnior, assim como os servidores  Ivan Foresti, da Assessoria Jurídica, Alessandra Raymundo Monteiro, do Grupo de Trabalho de Assessoria Internacional, ambos da DPU, e Paulo Roberto Barbosa Lima, da Coordenação-Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento, da ABC/MRE .

Intercâmbio

Essa é a terceira turma de defensores que participa do Projeto de Cooperação Técnica Brasil/Timor-Leste na Área da Justiça, voltado à reestruturação do sistema judiciário timorense. A primeira viagem de estudos ao Brasil aconteceu em 2010 e a segunda no primeiro semestre deste ano.

Essas atividades se inserem no Plano de Apoio à Reestruturação do Judiciário no Timor-Leste. Por meio de acordo firmado em 2005, a DPU tem, permanentemente, um defensor público federal atuando naquele país, com a função de capacitar e formar defensores públicos timorenses, e atuar em processos.  O projeto conta com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e participação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores.


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*Comunicação Social DPGU

Madeira - Eleições: PSD CONQUISTA NOVA MAIORIA ABSOLUTA



TSF

O PSD conquistou, este domingo, a 10ª maioria absoluta em eleições legislativas regionais da Madeira, tendo conseguido eleger 25 dos 47 deputados regionais.

O PSD obteve, ainda assim, o seu pior resultado de sempre em eleições legislativas regionais - 48,56 por cento.

Até agora, o pior resultado do partido liderado por Alberto João Jardim tinha sido registado em 2004, com 53,71 por cento dos votos.

Já o CDS mais do que quadruplica o seu grupo parlamentar - passando de dois para nove deputados - e torna-se a segunda força política da região, com 17,63 por cento dos votos.

Bem atrás ficou o PS, com 11,50 por cento dos votos, e seis deputados (perde um em relação a 2007).

O PTP, que se estreia em legislativas regionais na Madeira, consegue três deputados e o outro estreante, o PAN, conquista um representante no Parlamento Regional.

De fora do Parlamento ficou o BE que, com 1,70 por cento, foi a força política menos votada na Madeira. Também a CDU piorou o seu resultado em relação a 2007, passando de dois para um deputado.

MPT e PND mantêm um deputado cada um.

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ALGUMA COISA ESTÁ FORA DA ORDEM





Ignacio Ramonet, Le Monde Diplomatique en españolOutras Palavras - Tradução: Daniela Frabasile

Diante dos terremotos que abalam o mundo, Ignacio Ramonet propõe a reinvenção da política para reencantar os seres humanos

Agora que os atentados de 11 de setembro acabam de completar uma década, e passados três anos da quebra do banco Lehman Brothers, quais são as características do novo “sistema-mundo”?

A regra vigente hoje em dia é a dos terremostos. Terremotos climáticos, terremotos financeiros, terremotos nas bolsas de valores, terremotos energéticos e alimentares, terremotos comunicacionais e tecnológicos, terremotos sociais e geopolíticos, como os que causaram as insurreições da “Primavera Árabe”…

Existe uma falta de visibilidade geral. Acontecimentos imprevistos irrompem com força sem que nada — ou quase nada — os faça emergir. Se governar é prever, vivemos uma evidente crise de governança. Os dirigentes atuais não conseguem prever nada. A política se revela impotente. O Estado que protegia os cidadãos deixou de existir. Existe uma crise na democracia representativa: “não nos representam”, dizem com razão os “indignados”. As pessoas constatam a falência da autoridade política e reclamam que ela volte a assumir seu papel de condutora da sociedade, por ser a única que dispõe da legitimidade democrática. Insistem na necessidade de que o poder político limite o poder econômico e financeiro. Outra constatação: uma carência de liderança política em escala nacional. Os líderes atuais não estão a altura dos desafios.

Os países ricos (América do Norte, Europa e Japão) padecem do maior terremoto econômico-financeiro desde a crise de 1929. Pela primeira vez, a União Europeia vê ameaçada sua coesão e sua existência. E o risco de uma grande recessão econômica debilita a liderança internacional da América do Norte, ameaçada também pelo surgimento de novos pólos de poder (China, Índia, Brasil) em escala internacional.

Em discurso recente, o presidente dos Estados Unidos anunciou que dava por terminadas “as guerras do 11 de setembro” — ou seja, as do Iraque e do Afeganistão — contra o “terrorismo internacional”, que marcaram militarmente a última década. Barack Obama recordou que “cinco milhões de americanos vestiram o uniforme nos últimos dez anos”. Isso não significa que Washington tenha saído vencedor nesses conflitos. As “guerras do 11 de setembro” custaram ao orçamento estadunidense entre 1 bilhão e 2,5 bilhões de dólares: carga financeira astronômica, que teve repercussões no endividamento dos Estados Unidos e, consequentemente, na degradação de sua situação econômica.

As guerras têm-se revelado pírricas. No fim das contas, o Al-Qaeda em certa medida se comportou com Washington do mesmo modo que Ronald Reagan com Moscou quando, nos anos 1980, impôs à URSS uma extenuante corrida armamentista que acabou esgotando o império soviético e provocando sua implosão. A “desclassificação estratégica” dos Estados Unidos começou.

Na diplomacia internacional, a década confirmou a emergência de novos atores e de novos pólos de poder, sobretudo na Ásia e na América Latina. O mundo se “desocidentaliza” e é cada vez mais multipolar. Destaca-se o papel da China, que aparece, em princípio, como a grande potência que nasce no século XXI — embora a estabilidade do Império do Meio não esteja garantida, pois coexistem em seu seio o capitalismo mais selvagem e o comunismo mais autoritário. A tensão entre essas duas forças causará, cedo ou tarde, uma fratura. Mas, por hora, enquanto o poder dos Estados Unidos declina, a ascensão da China se confirma. Já é a segunda potência econômica do mundo (à frente do Japão e da Alemanha). Além disso, por deter parte importante da dívida estadunidense, Pequim tem nas mãos o destino do dólar…

O grupo de Estados gigantes reunidos no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) já não obedece automaticamente as grandes potências ocidentais tradicionais (Estados Unidos, Reino Unido, França), ainda que estas continuem se autodesignando como “comunidade internacional”. Os BRICS demostraram recentemente, na crise da Líbia e da Síria, que se opõem às decisões das potências da OTAN e no âmbito da ONU.

Dizemos que existe crise quando, em qualquer setor, algum mecanismo deixa de funcionar, começa a ceder e acaba se rompendo. Essa ruptura impede que o conjunto da máquina continue funcionando. É o que está ocorrendo na economia desde que a crise eclodiu, em 2007.

As repercussões sociais do cataclismo econômico são de uma brutalidade inédita: 23 milhões de desempregados na União Europeia, e mais de 80 milhões de pobres… Os jovens aparecem como as vítimas principais. Por isso, de Madri a Telavive, passando por Santiago do Chile, Atenas e Londres, uma onda de indignação levanta a juventude do mundo.

Mas as classes médias também estão assustadas porque o modelo neoliberal de crescimento as abandonou na beira da estrada. Em Israel, uma parte delas uniu-se à juventude para rechaçar o integrismo ultraliberal do governo de Benjamín Netanyahu.

O poder financeiro (os “mercados”) se impuseram ao poder político, e isso irrita os cidadãos. A democracia não funciona. Ninguém entende a inércia dos governos frente à crise econômica. As pessoas exigem que a política assuma sua função e que intervenha para corrigir os erros. Não será fácil: a velocidade da economia é hoje a mesma que um raio, enquanto a velocidade da política é a mesma que um caracol. Será cada vez mais difícil conciliar o tempo econômico com o tempo político — e também crises globais com governos nacionais.

Os mercados financeiros reagem de forma exagerada frente a qualquer informação, enquanto os organismos financeiros globais (FMI, OMC, Banco Mundial) são incapazes de determinar o que vai acontecer. Tudo isso provoca, nos cidadãos, frustração e angústia. A crise global produz perdedores e ganhadores. Os ganhadores se encontram, principalmente, na Ásia e nos países emergentes, que não têm uma visão tão pessimista da situação quanto os europeus. Também existem muitos ganhadores no interior dos países ocidentais, cujas sociedades se encontram fraturadas pelas desigualdades entre ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres.

Na realidade, não estamos suportando uma crise, mas um feixe de crises, uma soma de crises mescladas tão intimamente umas com as outras que não conseguimos distinguir as causas e os efeitos. Porque os efeitos de umas são as causas das outras, e assim até formar um verdadeiro sistema. Ou seja, enfrentamos uma crise sistêmica do mundo ocidental que afeta a tecnologia, a economia, o comércio, a política, a democracia, a guerra, a geopolítica, o clima, o meio ambiente, a cultura, os valores, a família, a educação, a juventude…

Vivemos um tempo de “rupturas estratégicas” cujo significado não compreendemos. Hoje, a internet é o vetor da maioria das mudanças. Quase todas as crises recentes têm alguma relação com as novas tecnologias de comunicação e de informação. Os mercados financeiros, por exemplo, não seriam tão poderosos se as ordens de compra e venda não circulassem na velocidade da luz pelas pistas da comunicação que a internet colocou à sua disposição. Mais que uma tecnologia, a internet é um ator das crises. Basta lembrar o papel do WikiLeaks, Facebook, Twitter nas recentes revoluções democráticas no mundo árabe.

Desde o ponto de vista antropológico, essas crises estão se traduzindo em aumento do medo e do ressentimento. As pessoas vivem num estado de ansiedade e incerteza. Voltam os grandes pânicos frente a ameaças indeterminadas, como a perda do emprego, os choques tecnológicos, as biotecnologias, as catástrofes naturais, a insegurança generalizada… Tudo isso constitui um desafio para as democracias. Porque esse terror se transforma às vezes em ódio e repulsa. Em vários países europeus, esse ódio se dirige hoje contra os estrangeiros, os imigrantes, os diferentes. Está aumentando a rejeição contra todos os “outros” e crescem os partidos xenofóbicos.

Outra grave preocupação mundial: a crise climática. A consciência do perigo que representa o aquecimento global aumentou. Os problemas ligados ao meio ambiente estão voltando a ser altamente estratégicos. A próxima cúpula internacional do clima, que acontecerá no Rio de Janeiro, em 2012, constatará que o número de grandes catástrofes naturais aumentou, assim como sua espetacularização. O recente acidente nuclear em Fukushima aterrorisou o mundo. Vários governos já deram passos para trás em relação à energia nuclear e apostam agora — em um cenário marcado pelo fim próximo do petróleo — nas energias renováveis.

O curso da globalização parece suspenso. Cada vez mais se fala em desglobalização, de declínio… o pêndulo foi longe demais na direção neoliberal e agora poderia ir na direção contrária. Já não é mais tabu falar em protecionismo para limitar os excessos do livre comércio, e pôr fim às realocações e à desindustrialização dos Estados desenvolvidos. Chegou a hora de reinventar a política e reencantar o mundo.

ATÉ TU, MIRIAM!


Morte às corporações gananciosas

MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND* – DIRETO DA REDAÇÃO

Há vários indicadores de que a crise econômica que assola a Europa e os Estados Unidos é mesmo grave e pode levar ao início de uma nova etapa no modo de produção capitalista. Este diagnóstico já foi admitido até pela insuspeita Miriam Leitão em sua coluna de O Globo.

Com o título “O fim ou tudo de novo”, a colunista, defensora ferrenha de políticas econômicas que na prática resultaram no impasse atual do sistema,  admite em um trecho da sua coluna de 6 de outubro que “depois de uma crise que se desdobra em ondas de aflições desde 2008 está na hora de as autoridades mundiais pensarem no fim do capitalismo como nós o conhecemos”.

Pois bem, em vez de ter intitulado como intitulou o artigo, Miriam Leitão poderia ter dito “Marx tinha razão” ou algo do gênero, mas aí seria demais para quem durante tanto tempo defendeu exatamente políticas econômicas com ênfase para o enfraquecimento do Estado e a hegemonia do Estado mínimo.

Em termos políticos, a crise estrutural do sistema tem levado, como de outras vezes, governos a socorrerem o setor financeiro e isso sempre em detrimento dos trabalhadores assalariados. Os gregos, mobilizados nas ruas em protesto contra a opção de arrocho posta em prática pelo governo socialista (epa!), que o digam.

Enquanto isso ocorria na Grécia, na Itália, país europeu que verdadeiramente está à deriva, o presidente do Conselho de Ministros, Silvio Berlusconi, além de não dar conta da situação levando os italianos ao desespero, é metido a fazer piadas, sempre de mau gosto, diga-se de passagem.

A última que relatam as agências internacionais assinala que ele sugeriu a mudança do nome do seu partido Força Itália para “Força Gnocca”, que no idioma italiano se refere tanto as mulheres bonitas e chamativas como ao órgão sexual feminino. Já imaginaram algum político brasileiro propondo a criação de um partido com o palavreado similar ao utilizado por Berlusconi? Se fosse parlamentar estaria no mínimo respondendo à Comissão de Ética. Mas com o “honorable” Berlusconi, que depõe contra a Itália, fica tudo por isso mesmo.

Na última sexta-feira na Itália, milhares de estudantes saíram as ruas para protestar contra os cortes orçamentários para o ensino decididos pelo governo Berlusconi. Para se ter uma ideia, nos últimos três anos,  Berlusconi, que não quer deixar o poder de jeito nenhum,   cortou 8 bilhões de euros do orçamento para a educação púbica. Pode-se imaginar as consequências disso.

Em Bruxelas, a polícia belga deteve neste sábado (8) 500 manifestantes de várias nacionalidades que preparavam um acampamento e já tendo em vista a realização de um grande ato no próximo sábado (15) por uma “mudança global”.

No mesmo dia, o FMI considerava que o governo grego está tímido na implementação da política econômica de arrocho aos trabalhadores e exigia mais. O organismo internacional não está nada satisfeito com a reação dos trabalhadores e quer uma linha de ação ainda mais dura.

Em outras partes do planeta, nos EUA, por exemplo, como relatou o Eliakim neste DR, os protestos se intensificam em Wall Street, agora com a participação de sindicalistas e veteranos de guerra, o que verdadeiramente seria inimaginável alguns anos atrás.

Na América Latina, e em outras partes do mundo, foram realizadas ações em 75 países em um movimento denominado Jornada Mundial de Trabalho Decente, em defesa dos trabalhadores que estão sendo ameaçados em função de políticas econômicas de favorecimento dos banqueiros, responsáveis pela crise atual.

É sempre salutar quando os trabalhadores em todo mundo se unem em defesa dos seus interesses, sobretudo nos momentos, como o de agora, que as conquistas obtidas depois de muita luta e mobilização estão mais do que ameaçadas. E fica cada vez mais claro que a única resposta de quem está ameaçado em perder conquistas adquiridas é a mobilização. E isso seja na Grécia, nos EUA, na França, no Brasil, no Chile etc.

A propósito do Chile, o presidente Sebastián Piñera, cuja rejeição aumenta a cada dia, quer enfrentar as mobilizações dos mais amplos setores com repressão, algo que os chilenos conheceram durante os anos de chumbo do general Augusto Pinochet. Piñera quer uma legislação mais rigorosa para impedir que os estudantes continuem lutando em favor do ensino público e a não continuidade da mercantilização do setor.

Ao contrário do que já existe em outros países, entre os quais a Venezuela, no Chile não há possibilidade de o povo abreviar o mandato do presidente ou de outros políticos através de um referendo convocado por um determinado percentual de eleitores pedindo a realização da consulta nesse sentido.

As previsões não são nada otimistas no país andino. Piñera não abre mão de aceitar o fortalecimento da escola pública com, pelo menos, a redução dos lucros do setor privado na área do ensino. Muito menos que o ensino volte a ser gratuito, como acontecia no governo de Salvador Allende. Uma das bases de apoio de Piñera são os empresários do setor de ensino, que tudo podem e muito mais.

Em suma: assim caminha a humanidade. Não é à toa que daqui para frente as reações ao arrocho e socorro aos bancos vão se intensificar. Quem viver verá.

*É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE

Ocupação de Wall Street resgata debate sobre os 'rebeldes sem causa' nos EUA




THIAGO CARRAPATOSO, Nova York - OPERA MUNDI

- Hey, Johnny, contra o que você está se rebelando?

- O que você sugere?

O diálogo do filme O Selvagem da Motocicleta, em que Marlon Brando atua como um motociclista juvenil, demonstra que já desde a década de 1950 os protestos sem uma razão específica para se protestar não são tão irracionais ou inesperados. “Isso talvez seja a maior força deste movimento, que não começou com metas fixas e rígidas”, acredita o professor de Políticas Sociais do Instituto Politécnico Rensselear, Langdon Winner, conhecido por seus artigos sobre cultura americana e tecnologia. Ele também foi repórter durante alguns anos da da revista Rolling Stone.

O movimento de ocupação de Wall Street tem sofrido grandes contestações da mídia por esta falta de definição específica sobre o que são os protestos. Desde o dia 17 de setembro, vários grupos sociais decidiram ocupar a praça onde os executivos das maiores instituições financeiras do mundo sentam para almoçar: a LibertyPlaza. A ideia, pegando como princípio o que aconteceu na Primavera Árabe, é demonstrar que o sistema financeiro e político do mundo está falido. Enquanto se vê uma crise do sistema capitalista cada vez maior, há 1% da população que representa cerca de 50% da riqueza mundial. A manifestação é a voz dos 99% restantes, como dizem os participantes da ocupação.

“Só para citar um exemplo, hoje, nos EUA, os jovens enfrentam um terrível índice de desemprego. Esta situação é a pior porque contradiz o que sempre foi prometido para eles: 'o sonho americano'. O montante de débito estudantil por meio de empréstimos para pagar um curso superior atualmente ultrapassa o total de débito em contas de cartão de crédito. É quase 1 trilhão de dólares! Os estudantes saem das universidades devendo dezenas, às vezes centenas de milhares de dólares e descobrem que não há empregos esperando por eles. Será que eles são uma bomba relógio? Claro. Um dos itens que eles podem colocar como demanda é isso: perdão de todos os empréstimos estudantis”, conextualiza Winner.

Na quarta-feira (05/10), o movimento realizou uma manifestação que foi reprimida fortemente pela polícia, terminando com 28 pessoas presas. A manifestação, porém, marca uma mudança na estrutura e credibilidade do movimento para os olhos de grupos mais conservadores. O sociólogo e professor de Jornalismo e Sociologia da Universidade Columbia, Todd Gitlin, analisa o contexto: “A importância do que aconteceu na quarta-feira é que sindicatos e organizações liberais, que são mais tradicionais e hierárquicos, se juntaram aos grupos com posições mais anáquicas. E em números bem grandes. E de muita boa-fé. O que se tem é que a ingenuidade dos protestantes iniciais encontrou um meio para atrair e escolher um momento para que as pessoas que não se ligam culturalmente ao movimento entendam que algo está acontecendo e que estão cansadas de esperar. Nós estamos em uma posição bem diferente da que estávamos na semana passada”.

A demonstração de que o sistema vigente está falido é o que tem atraído cada vez mais organizações, inclusive as mais conservadoras e tradicionais, para o movimento. Nessa quinta-feira (06/10), a Federação de Professores Americanos oficializou o seu apoio à ocupação. Até o apresentador apolítico David Letterman disse em seu programa concordar com o acampamento no distrito financeiro.

Gitlin e Winner concordam que esses protestos já estavam anunciados para acontecer de qualquer maneira. O que adiou para que acontecesse agora foi a eleição de Barack Obama à presidência do país. Os grupos esperaram para ver se o líder eleito conseguiria driblar a crise e resolver a falência global. “Agora, está perfeitamente claro que Obama é só um outro político, alguém considerado relutante ou incapaz de domar a dolorosa crise econômica e política que os norte-americanos vivem todos os dias. Obama e os outros de Washington, a elite do distrito de Columbia, perderam o seu momento de agir. Eles provaram a sua irrelevância. Por razões muito boas, a população decidiu tomar a democracia com suas próprias mãos”, explana Winner.

O que se vê agora e que influenciará a próxima eleição, segundo Gitlin, é que os Estados Unidos contam com uma nova força que influenciará e até decidirá os rumos do país: a sociedade. A democracia norte-americana, agora, precisa lidar com um agente que estava até então oprimido das decisões e relações políticas. A ocupação e manifestação no coração financeiro do mundo fez com que o questionamento sobre o que é a democracia nos EUA se tornasse mais popular e divulgada por todas as camadas da sociedade. “Agora há uma nova força. Nós estamos em um novo contexto político”.

Para Langdon Winner, porém, o futuro pode não ser tão promissor quanto se parece agora. “É muito cedo para dizer se este fermento moverá a sociedade para uma situação mais justa, igualitária e de engajamento público. Aliás, um possível resultado é uma reação fascista viral, algo que frequentemente ocorre quando a economia quebra, como aconteceu na Europa durante os anos de 1930. Nos EUA hoje, é um desafio saber se vai prevalecer a democracia direta da ocupação em Wall Street ou o fascismo do movimento Tea Party. Estes são tempos extremamente perigosos.”



POLÍCIA BELGA COMEÇA A LIBERTAR INDIGNADOS


Indignados montaram acampamento em Bruxelas - foto NICOLAS MAETERLINCK/AFP

JORNAL DE NOTÍCIAS

A polícia belga começou a libertar os 48 indignados espanhóis, belgas e de outras nacionalidades, detidos de noite num parque da capital, onde lhes havido sido negada permissão para acampar.

A libertação faz-se em grupos e de forma escalonada, devendo ficar concluída ao final da manhã, disse à agência EFE um porta-voz da polícia de Bruxelas.

Após passarem a noite no bairro de Etterbeek, os indignados foram conduzidos ao distrito de Koekelberg, a dois quilómetros do centro de Bruxelas, onde se deram as detenções.

O porta-voz explicou que os indignados estão autorizados a permanecer durante todo o dia no parque de Elisabeth, mas a partir das 22:00 (20:00 TMG) terão de o abandonar.

À noite, foi-lhes concedida a possibilidade de se alojarem num centro a escassos metros do parque, uma antiga universidade onde há água, eletricidade e aquecimento.

"Se esta noite voltarem a resistir a abandonar o parque, seremos obrigados a actuar como no sábado", advertiu o porta-voz da polícia.

Um dispositivo policial permanecerá durante o dia nas imediações da zona, mas não tem previsto intervir, a não ser que se verifiquem altercações ou se não cumprirem as condições fixadas sobre o horário para permanecer no parque, referiu.

Madeira: Candidatos do PSD transportam eleitores em carros da Electricidade da Madeira


Protesto durante a campanha eleitoral madeirense - foto Hélder Santos/Aspress

JORNAL DE NOTÍCIAS

O cabeça de lista do CDS-PP às eleições regionais da Madeira, José Manuel Rodrigues, denunciou este domingo a existência de "graves irregularidades" na votação em curso.

"O que é lamentável na democracia na Madeira é que 35 anos depois da implantação desse regime, ainda se registem graves irregularidades, designadamente no voto acompanhado, no transporte de eleitores por candidatos do PSD em carros da Empresa de Eletricidade da Madeira e das câmaras municipais", disse aos jornalistas José Manuel Rodrigues, depois de votar numa escola no Caniço, concelho de Santa Cruz.

O candidato adiantou que também se registam "problemas na identificação dos eleitores junto das mesas de voto, bem como a negação de algumas mesas em aceitarem as reclamações para a acta dos delegados dos partidos que estão presentes nas diversas secções de voto".

"Isto é lamentável, isto é a Madeira, temos que mudar a Madeira e eu espero que seja hoje", declarou José Manuel Rodrigues, acrescentando que estas situações estão a acontecer, "sobretudo, no concelho da Calheta", mas "o transporte pela Empresa de Electricidade da Madeira é em toda a ilha".

"Sei que a Comissão Nacional de Eleições está a actuar, designadamente por via da Polícia de Segurança Pública", declarou o candidato.

Ao jornal Público, o juiz Paulo Barreto, delegado da Comissão Nacional de Eleições na região, descreveu o incidente como "grave", confirmando que já solicitou "a intervenção da PSP para por termo a esta irregularidade".

Paulo Barreto detectou ainda outras irregularidades, que estão a marcar o dia de eleições para a presidência do Governo Regional.

Mais Nacional

Eleições - Jardim: Transporte de eleitores para votar é "normal", CNE é que é "anormal"





O presidente do PSD-M, Alberto João Jardim, considerou este domingo "normal" a disponibilização de transporte para que os eleitores madeirenses possam exercerem o seu direito de voto.

Após votar na escola Francisco Franco, no Funchal, Alberto João Jardim contrapôs como "anormal" a existência de uma Comissão Nacional de Eleições (CNE).

"Quem achar mal que decida, aqui sempre foi costume as pessoas, devido à dispersão habitacional da Madeira colocar carros à disposição das pessoas para exercerem o seu dever cívico", disse.

"Se não concordam - insistiu - queixem-se aos tribunais e nos tribunais vê-se isso, disse.

"Acho normal que se propicie a toda a gente que vá votar e acho anormal haver uma Comissão Nacional de Eleições que só serve para gastar dinheiro aos contribuintes", acrescentou.

João Jardim referiu ainda "achar absolutamente zero" o que a CNE considerar sobre este caso.

Disse sentir-se incomodado de o regime ser "ainda socialista" e "ter estes truques baixos" e considerou que o sistema político português está posto em causa" - "eu não acredito que os actuais situacionistas do regime o consigam aguentar com o que vem aí", disse.

A solução para o eleitor A-805, "é uma democracia com um sistema politico diferente deste".

Lamentou que a comunicação social não lhe tenha dado o "contraditório nisto tudo" e explicou que não participou nos debates televisivos "com oito partidos em que os oito têm 80 e tal por cento do tempo que eu tenho, obviamente que não caio nisso de uma televisão que eu chamo publicamente de desonesta".

Disse no entanto sentir-se feliz "por ter provocado o regime e as sociedades secretas que mandam no regime".

"Senti que tive a coragem de enfrentar aqueles que ninguém tem coragem de enfrentar e por isso é que o pais está assim", sublinhou.

Alberto João Jardim, cabeça-de-lista do PSD-M nestas eleições é presidente do Governo Regional deste março de 1978.

*Foto em Lusa

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INDIGNADOS DA EUROPA SE REÚNEM PARA ORGANIZAR GRANDES MANIFESTAÇÕES




CORREIO DO BRASIL, com agências internacionais - de Bruxelas

Capital belga, Bruxelas foi palco neste sábado da concentração do chamado grupo dos indignados da Bélgica, França, Espanha, Alemanha e Holanda. A ideia é organizar os atos em várias cidades da Europa para o próximo dia 15. Os ativistas esperam reunir apenas neste sábado cerca de 3 mil pessoas.

Eles informam que os atos são um protesto a uma série de incômodos que vão desde os impactos da crise econômica internacional até as questões ambientais e de direitos humanos. No próximo dia 15 estão previstas manifestações na Bélgica, França, Espanha, Alemanha e Holanda.

A crise econômica internacional é tema ainda de uma reunião hoje do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Ontem (7), durante visita à Turquia, a presidenta Dilma Rousseff reiterou sua preocupação com os efeitos da crise e advertiu que deve haver uma ordem mundial como reação a essas situações.

China: MANIFESTAÇÃO SOLIDÁRIA COM OCUPANTES DA WALL STREET




AC - LUSA

Pequim, 08 out (Lusa) -- Centenas de pessoas concentram-se numa cidade do centro da China, na primeira manifestação de solidariedade com o movimento de ocupação da Wall Street conhecida no continente chinês, disse hoje um jornal official.

  A concentração, noticiada também no site do China Study Group, ocorreu na quinta-feira passada em Zhengzhou, capital da província de Henan, sob a palavra de ordem "firme apoio à grande revolução do povo Americano contra Wall Street", indicou o jornal Global Times.

 Segundo o China Study Group, grupo de inspiração esquerdista sedeado nos Estados Unidos, houve uma manifestação idêntica na Hong Kong.

 Ao apelo de uma organização "trotsquista" chamada Ação Socialista, dezenas de jovens manifestaram-se na passada quarta-feira junto à Bolsa de Hong Kong e ao consulado local dos Estados Unidos, disse o China Study Group.

 Entretanto, mais de 50 intelectuais e ativistas chineses divulgaram na Internet uma "carta de solidariedade com o movimento de ocupação da Wall Street".

 "A erupção da 'Revolução da Wall Street' é um indicador histórico de que a revolução popular democrática que irá varrer o mundo está a começar", diz a carta, publicada no site Utopia, um dos grupos esquerdistas mais ativos da China e que critica abertamente "a infiltração do capitalismo privado no sistema socialista" do país.

 Oficialmente, a China é um "estado socialista liderado pela classe trabalhadora e assente na aliança operário -camponesa", mas desde há duas décadas, o Partido Comunista Chinês defende a economia de mercado e os patrões chineses, mesmo os mais ricos, já são admitidos na organização.

 A expressão "esquerdista", na China, designa os nostálgicos do regime maoista que nunca se resignaram às mudanças introduzidas pela política de "Reforma Económica e Abertura ao Exterior" lançada após a morte do fundador do Partido Comunista Chinês, Mao Zedong (1893-1976).

Xanana ultrapassou "golpe de estado" em 1984 antes de se tornar líder da resistência




CFF - LUSA

Lisboa, 09 out (Lusa) - Uma tentativa de "golpe de estado" contra Xanana Gusmão, em 1984, afirmou a sua posição como líder incontestado da resistência timorense à ocupação indonésia, afastando elementos radicais e dando ao movimento um caráter nacionalista e plural.

O episódio surge descrito em detalhe na biografia do líder histórico timorense da investigadora australiana Sara Ninner, que aponta este acontecimento como uma das principais revelações do livro "Xanana -- Uma Biografia Política", editado pela D. Quixote.

A tentativa de golpe é atribuída ao então chefe do estado maior das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (Falintil), o comandante Kilik, apoiado pelo chefe das Brigadas Vermelhas, Mauk Moruk.

Kilik e Moruk convocaram um encontro, em Hudi Laran, para o qual não convidaram Xanana, apelidado pelos "rebeldes" de "revolucionário traidor" por causa das suas posições em defesa do pluralismo dentro do então Conselho de Resistência Revolucionário Nacional (CRRN).

Na sequência deste episódio, Xanana decidiu fazer "uma remodelação radical" da estrutura de comando e expulsar os rebeldes do comité central, assegurando um controlo "mais firme" da resistência.

"Esta purga de partidários de uma linha dura levada a cabo por Xanana pode ser vista como o início da sua liderança sem oposição em Timor e do desacordo mais prolongado com a Fretilin. [...]Tinha rejeitado as ideologias marxistas e iniciado uma inclusão independente de todos os credos políticos num movimento de resistência nacionalista", refere a biografia.

O livro, posto à venda este mês em Portugal, retrata a vida de Kay Rala Xanana Gusmão desde a infância até à sua atual posição de primeiro-ministro de Timor-Leste.

"A descoberta mais surpreendente foi perceber o quão arduamente teve que lutar para conquistar e manter a liderança", disse Sara Ninner à agência Lusa.

A investigadora da australiana Monash University, que já tinha editado "Resistir é Vencer: a autobiografia de Xanana Gusmão", entrevistou exaustivamente o líder timorense e mostrou-se impressionada com a "dureza da sua vida" e com o número de familiares, amigos e camaradas que perdeu durante a luta.

"O seu estilo encantador faz-nos esquecer os nervos de aço. A sua capacidade de suportar o sofrimento e continuar, motivando os outros, é extraordinária", considerou a investigadora.

"Enquanto muitos continuam a ver Xanana como um herói da luta de resistência, o livro mostra um ser humano singular que muito frequentemente questionava o seu papel e que cometeu erros", prossegue a autora.

Sara Ninner sublinha que o livro aborda essencialmente a liderança de Xanana entre o início dos anos 80 e 1999, ano da consulta popular de autodeterminação de Timor-Leste, reservando apenas o posfácio para os quase 10 anos de independência do território.

Sobre este período, a investigadora adianta que "nem sempre a sua atuação teve em conta o interesse supremo do país", apontando como exemplo a crise de 2006. Nesse ano, a autora entende que Xanana, então Presidente da República, desautorizou publicamente as chefias militares na questão dos peticionários desertores do exército.

O caso gerou manifestações contra o Governo liderado por Mari Alkatiri, da Fretilin, que acabaram por degenerar numa escalada de violência e numa grave crise política e de segurança que deixou 150 mil deslocados.

"Vejo este livro como parte das primeiras tentativas para escrever a história Timor-Leste, algo muito difícil porque imensas coisas são contestadas. Penso que muitas pessoas irão discordar da minha abordagem e mesmo o próprio Xanana talvez não concorde com as minhas descobertas", adiantou.

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