segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

GUINÉ-BISSAU “PARADISÍACA” QUER ULTRAPASSAR CLICHÉS DA CRISE





Palco de recorrente instabilidade política, a Guiné-Bissau tem relíquias naturais, como o arquipélago dos Bijagós, e culturais. Portugal acolheu Semana Cultural da Guiné-Bissau para divulgar país africano.

O arquipélago de Bijagós é uma das relíquias naturais da Guiné-Bissau, cujo potencial está subvalorizado. Responsáveis do Instituto da Biodiversidade das Áreas Protegidas estiveram em Lisboa para falar desse potencial e sublinhar  a necessidade de preservar aquela reserva de biosfera constituída por 88 ilhas, situadas na costa ocidental africana.

Artistas plásticos e fotógrafos retratam os Bijagós numa exposição encerrada este domingo no âmbito da Semana Cultural da Guiné-Bissau em Portugal que decorreu entre 19 e 27 deste mês.

Chegou ao fim este domingo a Semana Cultural da Guiné-Bissau, encerrada com torneio de futebol e participação de Portugal e dos cinco países lusófonos de África. No fim-de-semana anterior, a abertura desta iniciativa promovida pela Embaixada da Guiné-Bissau, em parceria com outras instituições, também juntou a comunidade guineense e convidados que partilharam com alma os momentos de música e de poesia.

Os poemas de Edson Incópté, Ernesto Dabó, Emílio Lima e Toni Tcheka, de gerações distintas, ou as canções, por exemplo, de Juca Delgado e Braima Galisa, entre outros motivos exibidos ao longo da semana, confirmaram que, na diversidade, a Guiné-Bissau é uma nação culturalmente rica.

É esta riqueza que os organizadores quiseram mostrar ao público português e não só. Referência necessária à exposição de artes plásticas e de fotografias sobre a biodiversidade da Guiné-Bissau, que reuniu no Centro Cultural da Malaposta, em Odivelas, perto de Lisboa, trabalhos diversos, por exemplo de Maio Copé, Irmãos Unidos, Michel Té, Tchudá e João Carlos Barros.

A mostra exibe em quatro telas de tamanho maior alguns aspetos pitorescos das áreas protegidas do arquipélago dos Bijagós. Trata-se de um património natural a preservar, assim como é necessário preservar os valores da cultura guineense.

"E também temos que aproveitar a riqueza que nós temos, que é a riqueza cultura. Hoje em dia, fala-se de Guiné por tudo. Nós temos que falar da Guiné positiva. Quando falamos da Guiné positiva, isso só nos dá alegria", disse Edmilson dos Santos, da comissão organizadora.

"Todos os guineenses aqui na diáspora são embaixadores da Guiné", acrescentou dos Santos. "As pessoas apreciam com vontade de ajudar, com vontade de comentar e de ver a Semana. As pessoas reconheceram o trabalho que foi feito e que a cultura neste momento é a parte que nos une".

Um paraíso, "muito mais que os militares"

Já Flaviano Mindelo, declamador de poesia, usa a força das palavras para exortar a uma maior atenção aos Bijagós, "que é para, finalmente, aquilo começar a ser explorado, porque aquilo é um patrimônio mundial. E é bom que a humanidade desfrute de alguma maneira, direta ou indiretamente. Organizamos esta semana cultural para mostrar a Portugal e ao mundo que a Guiné[-Bissau] tem muito mais do que os militares", afirmou Mindelo, ao lembrar a atual situação de crise política do país ocidental africano, desencadeada pelo golpe militar de Estado de abril de 2012.

Na exposição, também há fotografias de Paula Tábuas, que, depois de uma viagem a Bissau, retrata sobretudo a vida, a história e a simplicidade das pessoas. Esta portuguesa que está a fazer mestrado em fotografia pensa voltar ao país para novas descobertas, incluindo as ilhas dos Bijagós.

"Não só Bijagós. A Guiné-Bissau é apaixonante", afirmou a fotógrafa. "O país mantém-se ainda num estado bastante puro, mas há sempre essa necessidade de chegar e procurar mais. Estivemos na ponte Amílcar Cabral e não avançamos. E gostaríamos de avançar e abranger outras áreas, porque é de pureza que precisa de ser registada. É preciso mostrar ao mundo que a Guiné-Bissau é um paraíso a ser também trabalhado e desenvolvido", avaliou.

Autor: João Carlos (Lisboa) - Edição: Renate Krieger/António Rocha

Chefe das Forças Armadas do Senegal em visita "de amizade e de trabalho" à Guiné-Bissau




FP – PJA - Lusa

Bissau, 28 jan (Lusa) - O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas do Senegal, general Mamadou Sow, iniciou hoje uma visita "de amizade e de trabalho" à Guiné-Bissau com uma reunião com o seu homólogo guineense, António Indjai, para "troca de experiências".

Numa curta declaração aos jornalistas após a reunião, também breve, com António Indjai, o responsável das Forças Armadas do Senegal disse que a visita serve para trocar experiências, "ouvir conselhos" e debater questões como as relacionadas com as fronteiras comuns.

Mamadou Sow disse que tem com António Injai uma relação de amizade, já que os dois foram no passado comandantes de zonas contíguas, o general senegalês da zona de Ziguinchor, no sul do país, e António Injai da zona norte da Guiné-Bissau, que faz fronteira com o Senegal.

Nomeado chefe das Forças Armadas do Senegal há cerca de dois meses, o general considera que é normal uma visita ao país vizinho, para troca de experiências.

Mamadou Sow lembrou que está na Guiné-Bissau um contingente senegalês, no âmbito das forças da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que foram colocadas no país após o golpe de Estado de 12 de abril do ano passado, e que por isso a visita se destina também a estar com essas forças, "ver como trabalham e em que condições trabalham".

Os cerca de 200 militares senegaleses estão na Guiné-Bissau integrados na Ecomib (Força de alerta da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e a sua ação é sobretudo na área da Saúde e da Engenharia.

Mamadou Sow visita na terça-feira o Hospital Militar e encontra-se depois com a companhia de Engenharia Militar do Senegal. Tem também um encontro com o Presidente da República de transição, Serifo Nhamadjo.

Angola: BENFICA EM LUANDA, INFLAÇÃO BAIXOU, COMBATE À EVASÃO FISCAL




Benfica assinou acordo para criação de escola de futebol em Luanda

28 de Janeiro de 2013, 14:16

Luanda, 28 jan (Lusa) - O Sport Lisboa e Benfica e a Escola Portuguesa de Luanda (EPL) assinaram hoje na capital angolana um acordo para a criação de uma escola de futebol, numa cerimónia apadrinhada pelo antigo jogador angolano Pedro Mantorras.

O acordo foi assinado por Armando Jorge Carneiro, diretor-geral do Benfica e responsável do Centro de Formação e Treino dos encarnados, no Seixal, e por Dino Paulo, ex-aluno da EPL e diretor da Escola Geração Benfica da Maianga, Luanda.

Numa primeira fase, a Escola da Maianga vai funcionar na EPL, e posteriormente, quando tiver outras instalações, receberá também alunos de outras escolas e instituições.

Em declarações à agência Lusa, Armando Jorge Carneiro salientou que este projeto, iniciado há um ano e que conta já com uma escola de futebol para jovens no Mindelo, Cabo Verde, funciona em sistema de "franchising".

"Temos parceiros. Isto é um sistema de 'franchising', no fundo. Vamos disponibilizar todos os nossos meios. Virão para Angola treinadores-formadores, para darem formação aqui também a treinadores angolanos", disse.

"Queremos basicamente apoiar na formação de atletas e crianças, disponíveis para prática do futebol e prática do desporto", acrescentou.

A Escola da Maianga será a segunda em Luanda, na sequência da assinatura na passada quinta-feira de idêntico acordo para a abertura da Escola Geração Benfica do Cajueiro, em Luanda Sul.

"E perspetivam-se mais escolas por Angola. Não só em Luanda, mas pelas províncias. Este é o nosso desejo, trazer os nossos valores, os nossos princípios, a nossa metodologia de treino e lançar aqui um lastro de benfiquismo. O Benfica tem de ser cada vez maior e tem de se renovar", acentuou o dirigente benfiquista.

Quanto à descoberta de talentos, Armando Jorge Carneiro frisou que o objetivo principal é a formação.

"O que queremos é que os miúdos nestas idades se divirtam e tenham prazer a jogar futebol. É nesse espírito que estamos aqui, logicamente que não descuramos os talentos. Angola tem muitos talentos", salientou, destacando que atualmente o Benfica tem quatro atletas de origem angolana na formação.

EL // NF.

Angola registou em 2012 a taxa de inflação mais baixa desde 2002 -- Banco Nacional

28 de Janeiro de 2013, 15:59

Luanda, 28 jan (Lusa) - Angola registou em 2012 uma taxa de inflação de 9,02 por cento, "a mais baixa" desde o fim da guerra civil, em 2002, destaca hoje o Banco Nacional de Angola (BNA) em comunicado divulgado em Luanda.

O documento, saído da reunião mensal do Comité de Política Monetária do BNA, refere que, em dezembro de 2012, a taxa de inflação mensal foi de 0,99%, e que as classes de "Alimentação e Bebidas Não-Alcoólicas", "Bens e Serviços Diversos" e "Vestuário e Calçado", foram as que registaram maiores variações dos preços naquele mês.

"O crédito à economia cresceu 1,12% no mês de dezembro, mantendo a tendência verificada ao longo dos meses anteriores", lê-se no comunicado.

A taxa de câmbio média de referência da moeda angolana, o kwanza, relativamente ao dólar situou-se em 95,826 no final de dezembro, e em 2012 observou-se uma "ligeira depreciação" de 0,57%, que o BNA considera evidenciar a "estabilidade" da moeda nacional.

Quanto às decisões adotadas pelo Comité de Política Monetária, o destaque vai para a redução da Taxa Básica de Juro, a chamada Taxa BNA, que passou de 10,25% para 10% ao ano.

Foi ainda decidido reduzir a Taxa de Juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez, de 11,5% para 11,25% ao ano e a Taxa de Juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez, de 1,5% para 1,25% ao ano.

Entretanto, no quadro dos debates em curso a nível de comissão do parlamento angolano sobre o Orçamento Geral de Estado para 2013, o governador do BNA, José de Lima Massano, disse que no quadro macroeconómico, até 2015, as reservas internacionais líquidas de Angola deverão rondar os 35 mil milhões de euros.

Em 2012, as reservas internacionais atingiram 30 mil milhões de euros contra os 23,7 mil milhões registados no ano anterior.

Quanto à liquidez dos bancos comerciais, José Massano explicou que o Banco Nacional de Angola acompanha a evolução dos mercados com particular incidência sobre os níveis de liquidez. "Os dados mais recentes disponíveis dizem que vamos numa liquidez geral a nível dos 118 por cento", disse, acrescentando que "não há motivos para o não pagamento, em tempo, dos bancos comerciais".

O OGE para 2013 foi aprovado na generalidade no passado dia 15 e a votação final está agendada para 14 de fevereiro.

EL // PJA

Governo angolano quer aumentar base tributária e combater evasão fiscal e economia informal

28 de Janeiro de 2013, 16:19

Luanda, 28 jan (Lusa) - As autoridades angolanas estão a desenvolver um programa de educação fiscal de sensibilização da população para aumentar a base tributária e, ao mesmo tempo, garantir um controlo fiscal mais acentuado, refere hoje o diário Jornal de Angola.

Citando a diretora do Orçamento, do Ministério das Finanças, Arlete de Sousa, numa intervenção no programa "Tendências e Debates", da Rádio Nacional de Angola, o diário escreve que o executivo "decidiu apostar no alargamento da base tributária e dar um combate mais cerrado à economia informal e à evasão fiscal".

O objetivo é que a receita fiscal não-petrolífera, que representa 17 por cento no Orçamento Geral do Estado, atinja os 24 por cento dentro de quatro anos.

Mas a grande meta do executivo é aumentar a base tributária, combatendo a evasão fiscal.
Dados de 2011, referidos pelo diretor Nacional de Impostos, Leonel Silva, em entrevista à agência Angop, apontam para a existência de mais de 30 mil empresas sem atividade tributária há mais de cinco anos.

No mesmo período, em Angola estavam registados na Direção Nacional dos Impostos apenas 120.482 contribuintes.

EL //JMR.

Moçambique: CHEIAS CONTINUAM A MATAR, PORTUGUESES INTOXICADOS, LIXO EM MAPUTO




Cheias em Moçambique já mataram 68 pessoas desde outubro

28 de Janeiro de 2013, 12:00

Maputo, 28 jan (Lusa) - A época chuvosa que se iniciou em outubro em Moçambique provocou a morte a 68 pessoas e o deslocamento de 112 mil pessoas, indicou hoje o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).

Em declarações hoje à imprensa, a porta-voz do INGC, Rita Almeida, afirmou que o número de óbitos devido às cheias poderá aumentar, uma vez que há várias pessoas desaparecidas.

"Tememos que o número de vítimas poderá subir, porque muitas pessoas estão em paradeiro desconhecido pelas suas famílias", disse Rita Almeida.

Cruz Vermelha de Moçambique pede "mobilização ativa de todo o país" para apoio a vítimas de cheias

28 de Janeiro de 2013, 13:50

Maputo, 28 jan (Lusa) - A Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) pediu hoje "a mobilização ativa de todo o país" para o apoio às vítimas das calamidades naturais por considerar que Moçambique "vive um tempo de sofrimento".

Dados do Instituto Nacional de Gestão de Calamidade (INGC) referem que pouco mais de 150 mil pessoas precisam de "assistência alimentar imediata" por terem perdido tudo devido às cheias que assolam o país.

Desde o iníco da época das chuvas, em outubro, já perderam a vida 68 pessoas, a maior parte das quais nas últimas semanas, na província de Gaza, no sul de Moçambique.

O secretário-geral da CVM, Américo Ubisse, insistiu na necessidade da solidariedade para as pessoas afetadas pelas inundações, quando recebia uma doação de membros da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder em Moçambique, a favor das vítimas das cheias.

Em declarações à Lusa, à margem do evento, Ubisse qualificou a fase que o país atravessa como "um momento de sofrimento, que exige a mobilização ativa" de todos.

"A magnitude da crise humanitária provocada pelas calamidades naturais não pode ser enfrentada por um ator isolado", enfatizou Américo Ubisse, invocando o imperativo da unidade.

A CVM, assinalou, criou pontos de arrecadação de apoio nas capitais das 11 províncias moçambicanas e brigadas móveis, com o objetivo de angariar doações para as vítimas das cheias.

PMA // MLL.

Município de Maputo cancela pela segunda vez concurso para recolha de lixo

28 de Janeiro de 2013, 09:39

Maputo, 28 jan (Lusa) - O governo do município de Maputo, sul de Moçambique, anulou, pela segunda vez consecutiva, o concurso de seleção da empresa de recolha de lixo da área urbana da capital moçambicana por considerar elevadas as propostas financeiras dos concorrentes.

O executivo municipal de Maputo ainda não encontrou uma empresa de recolha de lixo para a área urbana da capital, depois de ter terminado o contrato com a portuguesa EGH (do grupo Águas de Portugal) em outubro de 2011.

Em declarações ao Notícias, de Maputo, o vereador da área de Salubridade e Cemitérios no Conselho Municipal de Maputo, Florentino Ferreira, disse que foi anulado o concurso lançado em setembro do ano passado, devido ao elevado custo apresentado pelos concorrentes.

O cancelamento do concurso lançado em setembro segue-se à anulação, pelas mesmas razões, do anterior concurso, lançado em agosto, tendo ambos o apoio do Banco Mundial.

Florentindo Ferreira adiantou que foi lançado um terceiro concurso, cujo prazo de entrega de propostas é até ao próximo dia 31, estando a seleção do vencedor agendada para fevereiro.

Para preencher o vazio na recolha de lixo em Maputo, as autoridades municipais negociaram com a firma sul-africana Enviroserv, encarregada de limpar a área suburbana, para também garantir a limpeza da zona urbana.

Mas a solução não tem sido eficaz, uma vez que pululam contentores de lixo não recolhido no centro de Maputo.

PMA // MLL.

Quatro engenheiros portugueses intoxicados por químico alegadamente usado em câmaras de gás nazis

28 de Janeiro de 2013, 13:15

Maputo, 28 jan (Lusa) - Quatro engenheiros portugueses ficaram feridos durante uma operação de fumigação num estaleiro da construtora portuguesa Opway, na província de Gaza, no sul de Moçambique, disse hoje à Lusa o diretor geral da empresa, Luís Leite Pinto.

O incidente ocorreu após uso de um inseticida altamente tóxico, que levou à hospitalização de seis engenheiros envolvidos na fiscalização da empreitada.

Um dos feridos graves, alegadamente por fosforeto de alumínio - um inseticida altamente tóxico, usado nas câmaras de gás nazis para extermínio dos judeus durante a II Guerra Mundial -, é uma portuguesa que já foi transferida para a África do Sul.

Portugal: POLÍCIAS OU PISTOLEIROS?




António Marinho Pinto – Jornal de Notícias, opinião

Sou dos que acreditaram que a criação de sindicatos nas polícias, mormente nas forças de segurança, iria contribuir para a sua democratização, para a sua modernização, enfim, para a criação de uma cultura de respeito pela dignidade da pessoa humana e dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Sempre acreditei que as liberdades cívicas só existem verdadeiramente nas sociedades onde esteja garantida a segurança de pessoas e bens - a segurança de todos os cidadãos, independentemente do sexo, da raça, do credo político, ideológico ou religioso, da condição social, cultural ou económica, da língua, da nacionalidade e da orientação sexual. Como jornalista e como cidadão, acompanhei e apoiei, desde o seu início, o processo de criação dos sindicatos na PSP, no Corpo da Guarda Prisional e na Polícia Judiciária. Lembro-me bem dos primeiros passos desses processos dados no início dos anos oitenta pelos pioneiros do sindicalismo nas polícias: o comissário Santinhos, da PSP (e as sessões quase clandestinas em alguns restaurantes de Coimbra), o inspetor Roseiro Vicente, da Polícia Judiciária e Bento Vieira, da Guarda Prisional.

Desde muito novo tive a esperança de que a constituição de sindicatos nas forças de segurança iria abri-las à sociedade e à cidadania e, simultaneamente, abrir a própria sociedade às forças de segurança, fazendo com que estas e cada um dos seus membros passassem a ser olhados com respeito e com confiança pelos cidadãos em geral, e não com medo e desconfiança. Lembro-me muito bem de como na minha aldeia, nos finais dos anos cinquenta, todos, adultos e crianças, fugíamos quando alguém anunciava a vinda da Guarda, uma patrulha de dois soldados da GNR (um de cada lado da estrada) que fazia dezenas de quilómetros a pé apenas para se mostrarem e incutirem medo às pessoas.

Hoje, tudo está mudado e, em muitos casos, para pior. E, infelizmente, as forças de segurança não conquistaram o respeito e a confiança dos cidadãos. Durante o dia, os nossos polícias amontoam-se nas esquadras ou então andam nas ruas a exibir-se com arrogância, armados até aos dentes, mais parecendo personagens de filmes de ficção do que agentes de segurança de uma sociedade democrática.

Porém, à noite fogem quase todos, para suas casas, deixando as ruas das nossas vilas e cidades abandonadas aos criminosos. E, pior do que tudo isso, em muitas situações de contacto com suspeitos de crimes as polícias atiram logo a matar com uma leviandade chocante para qualquer consciência minimamente humanista. Em cerca de dez anos, as duas principais forças de segurança - PSP e GNR - já mataram quase quatro dezenas de pessoas, a esmagadora maioria das quais em circunstâncias em que não se justificava o uso de armas de fogo, enquanto em outras ficaram muitas dúvidas sobre essa necessidade. A maioria das mortes ocorreu em situações em que não estava em causa a segurança dos polícias, mas sim quando os suspeitos eram perseguidos. Um miúdo de 14 anos foi morto durante uma perseguição policial, em condições que, segundo testemunhas, mais se aparentam com uma execução a sangue-frio do que com um ato de legítima defesa. Pessoas que não pararam em operações stop foram simplesmente abatidas pela Polícia.

As forças de segurança matam pessoas e imediatamente a seguir aparecem na comunicação social os sindicalistas respetivos a distorcer a verdade dos factos, nomeadamente, eliminando os aspetos incriminadores e realçando ou mesmo inventando circunstâncias atenuantes. Os sindicatos têm servido, sobretudo, para promover a impunidade de quem deveria ser sancionado, para misturar os bons com os maus numa argamassa corporativa que acentua o desprestígio e o sentimento de desproteção da comunidade, bem como para insultar publicamente quem denuncia essas degenerescências.

É preciso que os polícias se convençam de que ninguém se pode sentir verdadeiramente seguro numa sociedade onde as forças de segurança matam com tanta facilidade e com tanta impunidade. É urgente que todos, incluindo os polícias dignos desse nome, se mobilizem para combater a cultura de pistoleiro que tem vindo a disseminar-se no interior das forças de segurança em Portugal.

Plataforma 15 de Outubro protesta quarta-feira frente ao gabinete do FMI em Lisboa




Jornal i - Lusa

A Plataforma 15 de Outubro realiza na quarta-feira um protesto em frente ao gabinete do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Lisboa, para dizer “basta” à sua presença em Portugal e exigir a demissão do Governo.

“Vem ao FMI mostrar quem manda aqui” é o lema do protesto marcado para as 18:00 de quarta-feira, que tem como objetivo contestar as políticas do Governo e do FMI.

Numa nota, a Plataforma 15 de outubro refere que “é preciso continuar a sair à rua para que o Governo caia de vez”, tendo em conta que Orçamento do Estado vai “condenar milhares de pessoas à fome e à miséria” e o conjunto de recomendações avançadas pelo FMI “consistem em mais despedimentos, cortes nos salários, saúde e educação”.

“O FMI apresentou um relatório, a pedido do Governo, que só trará mais cortes e desemprego. No mesmo mês, o Governo informa que vai injetar 1.100. milhões no BANIF. Mais uma vez demonstra que está decidido em cumprir à risca as orientações da Troika e em lançar o país na mais profunda das misérias enquanto vai salvando banco atrás de banco”, adianta a nota.

A Plataforma 15 de Outubro refere ainda que é necessário dizer “basta” e está “na hora de mandar o Governo e o FMI” para a rua.

IEFP refuta que desempregados sejam tratados como "bandidos" nos centros de emprego



Jornal i - Lusa

O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) refutou hoje as declarações do presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, Sérgio Aires, de que "há desempregados tratados como bandidos", nos centros de emprego.

Em comunicado, o Conselho Diretivo do IEFP "entende, por não corresponderem à verdade, expressar indignação perante tais afirmações", consideradas "atentatórias das relevantes atividades sociais promovidas pelo IEFP e da dignidade pessoal e profissional dos trabalhadores", dos centros de emprego do país.

O IEFP lembra que as reclamações - em Livro Amarelo ou em cartas dirigidas à direção - "são residuais perante as centenas de milhares de utentes que são atendidos", sustentando que "o sentimento geral dos portugueses é de terem no IEFP e nos seus trabalhadores aliados".

Esclarece ainda o IEFP que "o grande fluxo de utentes e pessoas desempregadas, aos centros de emprego, constitui uma pressão ao desenvolvimento de um trabalho em qualidade", pelo que o organismo "tem procurado desenvolver novos processos de modernização dos serviços".

Na sexta-feira, o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza denunciou a existência de centros de emprego que tratam os desempregados como "bandidos" e esquecem-se de que, para terem direito a subsídio de desemprego, essas pessoas já descontaram para a Segurança Social.

Sérgio Aires falava no decorrer do debate promovido pela rádio Antena 1 sobre "Estado Social. Que futuro?", em Lisboa, no qual criticou o facto de alguns centros de emprego tratarem os desempregados como "bandidos".

No final do debate, o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) Portugal admitiu à agência Lusa que alguns centros de emprego, em algumas zonas do país, estão a passar por situações "que os próprios funcionários nunca imaginaram", "desde o número de pessoas que acorre aos centros de emprego até ao volume de trabalho que também aumentou".

Sérgio Aires frisou que se trata de um "trabalho meramente burocrático", porque as "pessoas vão aos centros de emprego marcar presença", em vez de irem procurar ofertas de emprego ou mostrar que andam à procura de emprego.

"É provável que o cansaço de alguns funcionários de alguns centros de emprego ajude a que esta interpretação seja feita, principalmente em cidades onde o desemprego é mais acutilante, como Setúbal ou o Porto, mas a verdade é que os ecos que nos chegam é que as pessoas são tratadas como se não tivessem direito a receber aquele valor e estão a tirar dinheiro a alguém", criticou.

Sublinhou que esta é uma situação "emocionalmente muito pesada" para alguém que não contava estar desempregada, que tem outras pessoas a cargo e que muitas vezes, para terem algum rendimento extra, têm de fazer coisas "inimagináveis" como ir buscar um familiar a um lar para poder ter acesso ao valor da pensão e complementar assim o rendimento mensal do agregado familiar.

A “INTELIGÊNCIA” RESOLVE – II




Martinho Júnior, Luanda

O AFRICOM foi gerado como um Sub Comando unificado do EUCOM a 1 de Outubro de 2007 e só ganhou estatuto de Comando a partir de 30 de Setembro de 2008, mantendo sintomaticamente a sua estrutura-chave operacional em Stuttgard, na Alemanha, com as “facilidades” dispersas no continente africano, de acordo com os interesses evolutivos que a hegemonia vem promovendo, explorando expedientes de “inteligência” civil e militar “techint” e “humint”…

O AFRICOM é uma resposta à relativa perda de influência norte americana face aos interesses emergentes que começaram a disputar sectores considerados de importância “vital”, quer em relação ao petróleo e ao gás, quer em relação aos minerais considerados “estratégicos”, pelo que se pode considerar dum instrumento geo estratégico e geo político norte americano a favor da sua hegemonia.

Para todos os efeitos, África continua a ser considerada apenas no mapa geo estratégico como fornecedor de matérias primas e por isso mesmo os processos a que recorre a hegemonia são de âmbito neo colonial: há investimentos que chegam de fora e se emparceiram localmente no sector primário (exploração de matérias primas), nas indispensáveis estruturas e infra estruturas que suportam esses investimentos, ou que lhes estão acopladas, nos serviços afins e em pouco mais.

Desse modo as multinacionais do petróleo, do gás e dos minérios são importantes para o exercício dessa hegemonia, tal como para identificação do campo de manobra e o AFRICOM aporta e reforça a esse “sistema” a capacidade de inteligência, de influência, de manipulação e de ingerência, refinando os expedientes e integrando os interesses dos europeus e da NATO, sobretudo aqueles interesses que decorrem de parceiros com experiência colonial e continuidade neo colonial (caso vigente da “FrançAfrique”), assim como interesses provenientes das alianças arábicas (Qatar e Arábia Saudita como elementos “decisivos”).

Por essa razão o AFRICOM, embora estimulasse a recolha de opinião sobre a instalação do seu Comando em vários países africanos agitando a sensibilidade dos políticos, dos militares e dos serviços de inteligência africanos, com mais de quatro anos de plena actividade não tem pressa em sair de Stuttgard, socorrendo-se do CENTCOM instalado em Doha (Qatar)!

A Operação “Turquoise” levada a cabo no Ruanda em 1994 marcou o fim da “resistência” francesa ao “diktat” de novo tipo norte americano que acabava de nascer, mesmo que ele tenha sido produzido com o concurso da ONU e é a partir da Presidência de Nicolas Sarkozy que os relacionamentos franceses em África e no Médio Oriente se tornaram “alinhados”, nos “dossiers” principais do AFRICOM e CENTCOM, ou completamente “integrados”.

Sarkozy integrou a França nos esforços mais agressivos no quadro da Primavera Árabe aliando-se aos elementos mais radicais financiados pelas monarquias arábicas na Líbia e na Síria e Hollande ensaia no Mali a contradição entre a ementa neo colonial ocidental e a ementa neo colonial salafista e árabe, sob os olhos “soft power” do AFRICOM, ou seja, da administração “democrata” de Barack Hussein Obama!

A Operção Turquoise recorde-se, foi implementada com o recurso a 2.500 militares franceses e a outros 500 provenientes de cada um dos países africanos como o Senegal, a Guiné Bissau, o Chade, a Mauritânia, o Egipto, o Congo (Brazzaville) e o Níger, de forma a propiciar uma “zona de segurança” aos refugiados, sobretudo hutus ligados ao regime de Juvénal Habyarimana.

Com Sarkozy, como os interesses no petróleo, no gás e nos minerais estratégicos dos franceses estão interligados a outros interesses europeus, norte americanos e arábicos, emparceirados por seu turno com os tão divididos quão confundidos interesses de grupos das elites africanas, os franceses “esqueceram” as contradições secundárias com os anglo-saxónicos e não tiveram mais dúvidas senão integrar uma geo-estratégia e uma geo-política comum, reforçando o impacto e o campo de acção neo colonial projectada nas Primaveras Árabes e na Síria!

Com François Hollande a Operação “Serval” em curso no Mali deriva nesse padrão de referências e pode dar azo a que o estilhaçar de Azawad crie condições para uma espiral de situações insufladas pela Irmandade Muçulmana conjugada aos salafistas e sob os impulsos de Riahd e Doha (estimulados por Washington)!

O AFRICOM aproveita-se da disputa neo colonial perfilhada nos dois “padrões”, tensões que se distendem não só no Sahel e Norte de África (com a Argélia na mira), mas também a Sul do Sahel, onde houver radicais islâmicos implantados, ou em vias de implantação, aproveitando a fluência migratória para sul, que chega a Angola!

Nas grandes operações em curso desde 2011 em África, os alinhamentos e as integrações passaram-se a fazer por patamares:

- No vértice está o AFRICOM, reforçado com todas as capacidades de inteligência em consonância com o guarda-chuva propiciado pelos Estados Unidos;

- No plano intermédio está a NATO e os Europeus, sobretudo as antigas potências coloniais que operam as espinhas dorsais operativas (militares e de inteligência) – a tese;

- Ainda no plano intermédio estão os aliados arábicos como a Arábia Saudita e o Qatar, promotores dos Irmãos Muçulmanos nas Primaveras Árabes e dos grupos radicais que proliferam da Somália à Mauritânia, passando pela Líbia, Mali e Nigéria – a antítese;

- Na base do “esforço conjugado” está a “arraia-miúda”, trabalhada pelos sucessivos “partnership” e pela proficuidade dos exercícios, das ligações diplomáticas, das actividades governamentais “civis” e das influências das multinacionais, ou seja, os países africanos que, com o engodo na “democracia representativa” tão do agrado de suas “novas” elites, estão a ser estimulados a escolher entre o neo colonialismo “ocidental” e o que é derivado das monarquias arábicas – a frágil síntese forjada na dialéctica da contradição!

Para dar mais substância ao papel dominante do AFRICOM nas panóplias africanas, ele cruza ao seu nível e correspondendo aos estímulos e programas do Pentágono, as análises e informações quer com outros sectores do Pentágono (EUCOM e CENTCOM por exemplo), quer com expedientes distintos de aliados como Israel, Arábia Saudita e outros, entre eles o Qatar!

Quer sobre a Líbia, quer sobre o Mali os africanos não hesitaram senão em alinhar com as Resoluções do Conselho de Segurança, até por que os emergentes, incluindo o emergente africano que constitui a África do Sul, em nome das “democracias representativas” não colocaram qualquer tipo de obstáculos à intervenção a partir do céu e do espaço, que terminaram na Líbia no assassinato de Kadafi, na Síria está projectado acabar com o assassinato de Hassad e no Sahel, se não houver casamento que comece entre a TOTAL e o Qatar Petroleum na bacia de Taoudeni, pode fazer proliferar e radicalizar as tensões!

De facto a China tem sua própria geo estratégia e geo política de relacionamentos que não põe em causa a militarização do continente segundo os padrões “inteligentes” estimulados pelo AFRICOM; em alguns casos não é de admirar até alguns acondicionamentos como os que a China promoveu no Sudão e no Sudão do Sul, com os olhos postos no que lhe é essencial: a exploração do petróleo!

Vetos no Conselho de Segurança por parte dos emergentes como a Rússia e a China são para casos que ocorram no Médio Oriente ou na Ásia Central; para África estimulada pelas tensões ao serviço do “soft power” norte americano-israelita não há vetos no Conselho de Segurança e por isso é tão fácil a progressão dos interesses neo coloniais ocidentais ou arábicos em vastas regiões, com as incidências a partir das intervenções militares conformes à Líbia e agora ao Mali!

África continua sem reagir: quando os elefantes lutam, quem sofre é o capim!

Gravura: Mapa de 2010 referente aos exercícios militares norte americanos e por si promovidos no continente africano.

A consultar:
- 2012 POSTURE STATEMENT: Statement of General Carter Ham Before House Armed Services Committee – http://www.africom.mil/NEWSROOM/Article/8832/2012-posture-statement-statement-of-general-carter
- Promoting interagency unity of effort between AFRICOM and US Embassy teams (ECT’s) in Africa – http://www.dtic.mil/cgi-bin/GetTRDoc?AD=ADA563838
- A Líbia, a África e a Nova Ordem Mundial – http://resistir.info/libia/carta_aberta_ago11.html
- Opération Turquoise – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Op%C3%A9ration_Turquoise
- Un gouvernement au service des entreprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- NATO: AFRICOM's partner in penetrating Africa – http://www.thirdworldtraveler.com/NATO/NATO_AFRICOM_Africa.html
- La penetración delos Estados Unidos en el África Subsahariana – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=29423
- Sarkozy ressuscita o pré-carré com “novas tendências” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/sarkozy-ressuscita-o-pre-carre-com.html
- La nación africana occidental se convierte en el octavo país, en los últimos cuatro años, en el que Occidente mata musulmanes – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=162320&titular=el-bombardeo-de-mali-destaca-todas-las-lecciones-del-intervencionismo-occidental-
- Opération Serval – Wikipedia – http://fr.wikipedia.org/wiki/Op%C3%A9ration_Serval
- El papel de Israel en la représsion mundial – http://www.rebelion.org/docs/162551.pdf

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Guerra no Mali: EUROPA VAI À GUERRA DE OLHOS FECHADOS




LA REPUBBLICA, Roma – Presseurop – imagem Peter Schrank

A Europa, prémio Nobel da Paz, está na verdade em guerra há cerca de 15 anos – dos Balcãs à Líbia, passando pelo Afeganistão, e atualmente no Sahel. Um intervencionismo marcado pela ausência de uma visão a longo prazo e de debates sobre o seu objetivo no seio dos Vinte Sete.


Na véspera das eleições italianas [fevereiro] e alemãs [setembro], o silêncio que reina sobre um assunto tão importante como a guerra é impressionante. Não se houve falar disso porque esses conflitos ocorrem noutro continente. No entanto, há muito que a guerra se entranha em nós até aos ossos.

E embora não seja travada pela União Europeia, desprovida de governação política comum, a guerra continua hoje em dia a fazer parte do seu quotidiano. Se juntarmos à luta eterna contra o terrorismo os conflitos que rebentaram nos Balcãs no final do século XX, concluímos que há cerca de 14 anos que os europeus participam periodicamente em intervenções armadas. No início, estas intervenções geravam debates amargos: serão as guerras necessárias? E se não for este o caso, porque combatemos? Serão verdadeiramente humanitárias, ou devastadoras? E que balanço podemos tirar da luta contra o terrorismo à escala mundial: terá este diminuído ou aumentado?

Os políticos não se pronunciam e nenhum país europeu coloca em causa uma União que não tem nada a dizer sobre o assunto, estando demasiado concentrada na sua moeda. A Europa, que entrou numa nova era de guerra neocolonial, avança às cegas.

Explicações falaciosas

A guerra – muitas vezes sangrenta mas raramente benéfica – nunca é designada pelo seu nome. Avança disfarçada: com ela conseguiremos estabilizar os países em falência, torná-los democráticos e, tudo isso, num curto espaço de tempo e sem grandes despesas. A que começou a 12 de janeiro no Mali é liderada pela França de François Hollande, com o fraco apoio de soldados africanos e a aprovação – retroativa – dos seus aliados europeus.

Não foi previamente discutida, violando assim o Tratado de Lisboa (art. 32, 347). Somos quase sempre projetados para a guerra. Até temos alguém – pomposamente batizado de “alto representante da União para os Negócios Estrangeiros” [Catherine Ashton]- para agradecer à França e lhe informar que Paris terá de se desenrascar sozinho, “uma vez que não existe nenhuma força militar europeia”. Uma imagem que ilustra na perfeição a situação, é verdade, mas esperávamos um discurso ligeiramente diferente de alguém que ocupa um cargo tão importante.

Lê-se imensas coisas falsas sobre a guerra que não convidam a meditar sobre o acontecimento mas a fazer um balanço passivo, e a considerar as intervenções como casos isolados, sem qualquer relação. A guerra promove também a aparição massiva de especialistas duvidosos e técnicos. O intervencionismo está a tornar-se um hábito europeu, inspirado nos americanos, mas nunca chegamos a ouvir a versão completa desta transformação, que relaciona os conflitos e permite esclarecer a situação global. Falta para isso uma visão global duradoura que defina o que somos na África, no Afeganistão, no Golfo Pérsico. Que compare a nossa ideia à dos outros países. Que analise a política chinesa na África, tão ativa e diferente da nossa: centrada no investimento, enquanto a nossa se foca no aspeto militar.

Uma visão global duradoura que permitiria estabelecer um balanço frio dos conflitos desprovidos de objetivos claros, de limites geográficos, de calendário – conflitos esses que promoveram o jihadismo em vez de o conter, passando a dominar a região do Saara e do Sahel após ter conquistado o Afeganistão. São conflitos que não tiraram lições dos erros passados, sistematicamente abafados. Os nobres epítetos não chegam para disfarçar os resultados catastróficos: as intervenções não promovem a ordem, mas o caos, não criam Estados fortes, mas Estados ainda mais defeituosos do que aquilo que eram. Após a intervenção, os países são deixados ao seu próprio destino, ficando um sentimento de profunda desilusão nos povos assistidos. E parte-se para novas frentes, como se a história das guerras fosse um safári turístico em busca de recompensas exóticas.

Caso de estudo

O Mali é um caso exemplar de guerra necessária e humanitária. No decorrer da última década, o adjetivo humanitário perdeu toda a sua inocência. Era necessário intervir para parar o genocídio ruandês em 1994, e só não agimos porque a ONU retirou as suas tropas no momento em que a exterminação começou. Em contrapartida, era necessário evitar o êxodo – para a Europa – dos kosovares perseguidos pelo exército sérvio. Mas estas guerras recorrentes não são necessárias, já que não travam o terrorismo nem são democráticas. Caso contrário, como poderíamos explicar a aliança com a Arábia Saudita e o montante das ajudas prestadas a Riad, mais generosas do que as destinadas a Israel? Além de não ser democrático, o reino saudita é um dos principais investidores do terrorismo.

A degradação da situação no Mali podia ter sido evitada se os europeus tivessem estudado o país: considerado durante muitos anos como um símbolo da democracia, o Mali caiu na pobreza e reavivou os problemas colocados por fronteiras coloniais artificiais. A luta pela independência dos tuaregues culminou a 6 de abril de 2012 com a independência do Azawad, no norte do país. Durante décadas, os tuaregues foram ignorados, menosprezados. Para lutar contra um independentismo inicialmente laico, tolerou-se a formação de milícias islamitas, repetindo desta forma o erro cometido no Afeganistão. Resultado: os tuaregues apoiaram-se no [líder líbio] Kadhafi e, mais tarde, nos islamitas: foram estes últimos que invadiram o norte do Mali, no início de 2012, acabando por recuperar e corromper a luta tuaregue.

Uma guerra nascida nas suas cinzas

Mas o erro mais grave é não encarar as guerras destas últimas décadas de um ponto de vista global. Uma operação levada a cabo num ponto preciso do globo tem repercussões noutro sítio: os fracassos afegãos originaram o caso da Líbia, enquanto o semi-fracasso da Líbia provocou a situação atual do Mali. O problema é que cada conflito começa sem qualquer análise crítica dos conflitos precedentes. Na Líbia, o triunfalismo durou anos, até ao assassinato do embaixador dos Estados Unidos, Christopher Stevens, a 11 de setembro de 2012 em Bengasi. Só depois de isto acontecer é que se percebeu que muitos membros da milícia de Kadhafi – tuaregues ou islamitas – se deslocaram para o Azawad. E que a guerra ainda não tinha acabado, e que estava a ganhar uma segunda vida no Mali.

Em sete anos, o número de democracias na África caiu de 24 para 19. É um fracasso para a Europa e o Ocidente. Entretanto, a China, que observa e esfrega as mãos de contente, aumenta a sua presença no continente. Atualmente, o seu intervencionismo consiste em construir estradas, e não travar guerras. Trata-se claramente de colonialismo, mas de um género diferente. As suas forças são a resiliência e a paciência. Talvez seja por discutirem em Pequim o seu domínio sobre a África e a Ásia que a Europa e os Estados Unidos se mostram tão agressivos. É apenas uma hipótese, mas se a Europa começasse a discutir, mencionaria também este assunto, e não seria de todo inútil.

A MAIOR AMEAÇA À PAZ MUNDIAL




Os Estados Unidos realizaram em dezembro um teste nuclear em Nevada. O país não aceitou abrir a atividade aos inspetores internacionais, o que têm exigido do Irã – que, aliás, protestou, assim como fizeram o prefeito de Hiroshima e alguns grupos pacifistas japoneses. O acontecimento voltou a chamar atenção para a disputa entre Israel e Irã, mas sem pôr em pauta o que realmente é importante: a criação de uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio.

Noam Chomsky - La Jornada - Carta Maior

Há alguns meses, ao informar sobre o debate final da campanha presidencial nos Estados Unidos, o The Wall Street Journal observou que “o único país mais mencionado (que Israel) foi o Irã, o qual a maioria das nações de Oriente Médio vê como a principal ameaça à segurança da região”.

Os dois candidatos estiveram de acordo em que um Irã nuclear é a maior ameaça à região, se não ao mundo, como Romney sustentou explicitamente, reiterando uma opinião convencional.

Sobre Israel, os candidatos rivalizaram em declarar sua devoção, mas nem assim os as autoridades israelenses se deram por satisfeitas. Esperavam “uma linguagem mais ‘agressiva’ de Romney”, segundo os repórteres. Não foi suficiente que Romney exigisse que não se permitisse que o Irã “alcance um ponto de capacidade nuclear”.

Também os árabes estavam insatisfeitos, porque os temores árabes sobre o Irã se “debateram sob a ótica da segurança israelense, não da região”, e as preocupações dos árabes não foram contempladas: uma vez mais, o tratamento convencional.

O artigo do Journal, como incontáveis outros sobre o Irã, deixa sem resposta perguntas essenciais, entre elas: Quem exatamente vê o Irã como a ameaça mais grave à segurança? O que os árabes (e a maior parte do mundo) acham que se pode fazer diante dessa ameaça, existindo ou não?

A primeira pergunta é fácil de responder. A ameaça iraniana é uma obsessão totalmente do Ocidente, compartilhada por ditadores árabes, embora não pelas populações árabes.

Como mostraram numerosas pesquisas, mesmo que os cidadãos dos países árabes em geral não simpatizem com o Irã, não o consideram uma ameaça muito grave. Na verdade percebem que a ameaça são Israel e Estados Unidos, e vários, muitas vezes maiorias consideráveis, veem nas armas nucleares iranianas um contrapeso para essas ameaças.

Em altas esferas dos Estados Unidos, alguns estão de acordo com a percepção das populações árabes, entre eles o general Lee Butler, ex-chefe do Comando Estratégico. Em 1998 ele disse: “É extremamente perigoso que, no caldeirão de animosidades que chamamos Oriente Médio”, uma nação, Israel, deva contar com um poderoso arsenal de armas nucleares, “que inspira outras nações a tê-lo também”.

Ainda mais perigosa é a estratégia de contenção nuclear da qual Butler foi o principal formulador por muitos anos. Tal estratégia, escreveu em 2002, é “uma fórmula para uma catástrofe sem remédio” e convidou os Estados Unidos e outras potências atômicas a aceitar os compromissos contraídos dentro do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e fazer esforços de “boa fé” para eliminar a praga das armas atômicas.

As nações têm a obrigação legal de levar a sério esses esforços, decretou a Corte Mundial em 1996: “Existe a obrigação de avançar de boa fé e levar a termo as negociações orientadas ao desarmamento nuclear em todos seus aspectos, conforme um controle internacional estrito e efetivo”. Em 2002, o governo de George W. Bush declarou que os Estados Unidos não estão comprometidos com essa obrigação.

Uma grande maioria do mundo parece compartilhar a opinião dos árabes sobre a ameaça iraniana. O Movimento de Países Não Alinhados (MNA) apoiou com vigor o direito do Irã de enriquecer urânio; sua declaração mais recente aconteceu na cúpula de Teerã, em agosto passado.

A Índia, membro mais populoso do MNA, encontrou formas de evadir às onerosas sanções financeiras dos Estados Unidos ao Irã. Executam planos para vincular o porto iraniano de Chabahar, recondicionado com assistência indiana, com a Ásia Central, através do Afeganistão. Também se informa que as relações comerciais se incrementam. Se não fosse pelas fortes pressões de Washington, é provável que estes vínculos naturais tivessem uma melhoria substancial.

A China, que tem estatuto de observadora no MNA, faz o mesmo, em boa medida. Expande seus projetos de desenvolvimento para o Ocidente, entre eles iniciativas para reconstituir a antiga Rota da Seda para a Europa. Uma linha ferroviária de alta velocidade conecta a China com o Cazaquistão e além. É provável que chegue ao Turcomenistão, com seus ricos recursos energéticos, e que se conecte com o Irã e se estenda até a Turquia e a Europa.

A China também tomou o controle do importante porto de Gwadar, no Paquistão, que lhe permite obter petróleo do Oriente Médio evitando os estreitos de Ormuz e Malaca, saturados de tráfico e controlados pelos Estados Unidos. A imprensa paquistanesa informa que “as importações de petróleo cru do Irã, dos estados árabes do Golfo e da África poderiam ser transportadas por terra até o noroeste da China através deste porto”.

Em sua reunião de agosto, em Teerã, o MNA reiterou sua velha proposta de mitigar ou pôr fim à ameaça das armas nucleares no Oriente Médio estabelecendo uma zona livre de armas de destruição em massa. Os passos nessa direção são, sem dúvida, a maneira mais direta e menos onerosa de superar essas ameaças, o que é apoiado por quase o mundo inteiro.
Uma excelente oportunidade de aplicar essas medidas se apresentou recentemente, quando se planejou uma conferência internacional sobre o tema em Helsinki.

Foi realizada uma conferência, mas não a que estava planejada. Só organizações não governamentais participaram da reunião alternativa, organizada pela União pela Paz, da Finlândia. A conferência internacional planejada foi cancelada por Washington em novembro, pouco depois que o Irã concordou em comparecer.

A razão oficial do governo Obama foi “a turbulência política na região e a desafiante postura do Irã sobre a não proliferação” segundo a agência Associated Press, junto a uma falta de consenso sobre como enfocar a conferência. Essa razão é a aprovada referência ao fato de que a única potência nuclear da região, Israel, se negou a comparecer, alegando que a solicitação para fazê-lo era “coerção”.

Aparentemente, o governo de Obama mantém sua postura anterior de que “as condições não são apropriadas, a menos que todos os membros da região participem”. Os Estados Unidos não permitirão medidas para submeter as instalações nucleares de Israel a inspeção internacional. Também não revelará informação sobre “a natureza e alcance das instalações e atividades nucleares israelenses”.

A agência de notícias do Kuwait informou imediatamente que “o grupo árabe de Estados e os estados membros do MNA concordaram em continuar negociando uma conferência para o estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio, assim como de outras armas de destruição em massa”.

Recentemente, a Assembleia Geral da ONU aprovou, por 174 votos a seis, uma resolução na qual convida Israel a aderir ao TNP. Pelo não, votou o contingente acostumado: Israel, Estados Unidos, Canadá, as Ilhas Marshall, Micronésia e Palau.

Dias depois, em dezembro, os Estados Unidos realizaram um teste nuclear impedindo, uma vez mais, aos inspetores internacionais, o acesso ao local do teste, em Nevada. O Irã protestou, assim como o prefeito de Hiroshima e alguns grupos pacifistas japoneses.

Claro que, para estabelecer uma zona livre de armas atômicas, se requer a cooperação das potências nucleares: no Oriente Médio, isso incluiria os Estados Unidos e Israel, que se negam a cooperar. O mesmo acontece em outros lugares. As zonas da África e do Pacífico aguardam a aplicação do tratado porque os Estados Unidos insistem em manter e melhorar as bases de armas nucleares nas ilhas que controla.

Enquanto se levava a cabo a conferência de ONGs em Helsinki, em Nova York se realizava um jantar com o patrocínio do Instituto sobre Políticas sobre o Oriente Próximo, de Washington, ramificação do conselho israelense.
Segundo uma matéria entusiasta sobre essa “cerimônia” na imprensa israelense, Dennis Ross, Elliott Abrams e outros “ex-conselheiros de alto nível de Obama e Bush” asseguraram aos presentes que “o presidente atacará (o Irã) se a diplomacia não funcionar”: um presente de festas de fim de ano muito atrativo.

É difícil que os estadunidenses estejam cientes de como a diplomacia voltou a falhar, por uma simples razão: virtualmente não se informa nada nos Estados Unidos sobre o destino da forma mais óbvia de lidar com “a mais grave ameaça”: estabelecer uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio.

*Noam Chomsky é professor emérito de linguística e filosofia no Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge. O novo livro de Noam Chomsky, Power systems: conversations om global democratic uprisings and the new challenges to US empire (Sistemas de poder: conversas sobre as rebeliões democráticas globais e os novos desafios ao império estadunidense) será publicado em janeiro.

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