sexta-feira, 16 de agosto de 2013

EUA: Na Califórnia, médicos são acusados de coagir detentas à esterilização

 


Corey G. Johnson/CIR/Agência Pública, Los Angeles - Opera Mundi
 
“Eu pensava: ‘meu Deus, isso não está certo’”, diz ex-prisioneira que foi pressionada a fazer ligação das trompas
 
Entre 1997 e 2010, o governo do estado da Califórnia pagou US$ 147.460 pelo procedimento médico, de acordo com dados oficiais. As cirurgias foram agendadas enquanto elas ainda estavam grávidas, na Instituição para Mulheres Corona, ou na Prisão Estadual para Mulheres Valley State Prison, em Chowchilla – que hoje é uma prisão para homens.
 
Outra ex-detenta da Valley State que deu a luz a um filho em outubro de 2006 disse que o obstetra e ginecologista da instituição, o doutor James Heinrich, a pressionava repetidamente para concordar em fazer a cirurgia de ligação das trompas.

“Assim que ele descobriu que eu tinha cinco filhos, ele sugeriu que eu considerasse fazer a cirurgia. Quanto mais perto eu chegava de dar à luz, mais ele falava sobre isso”, conta Christina Cordero, 34, que passou dois anos presa por roubo de carro. “Ele me fez sentir que se eu não fizesse seria uma mãe ruim.”
 
Cordero, que foi solta em 2008 e agora vive em Upland, California, concordou na época, mas diz “hoje eu queria que nunca tivesse feito”. As alegações dão eco àquelas feitas quase meio século atrás, quando esterilizações forçadas de mulheres prisioneiras, doentes mentais e pobres eram comuns na California. Essas práticas foram banidas pelos deputados locais em 1979.

“Crianças indesejadas”

Em entrevista para o Center for Investigative Reporting, Heinrich disse que ele provia um importante serviço para mulheres pobres sujeitas a risco de saúde em alguma gravidez futura por conta de cesarianas feitas no passado. Com 69 anos, o médico da região de Bay Area negou que tenha pressionado as pacientes e se disse surpreso ao saber que os profissionais locais cobraram pelas cirurgias. Segundo ele, o valor de US$ 147.460 pago é pequeno.
 
“Em um período de 10 anos, esta não é uma enorme quantidade de dinheiro comparada com o que você economiza em bem-estar por essas crianças indesejadas, se as mulheres continuassem procriando”, disse Heirinch. O chefe da equipe médica da Valley State Prison (entre 2005 e 2008) qualificou as cirurgias como um “empoderamento” para as mulheres detentas, oferecendo a elas as mesmas opções que outras têm fora das cadeias. Daun Martin, um psicólogo, também argumentou que algumas mulheres grávidas, especialmente aquelas viciadas em drogas ou que viviam nas ruas, cometiam crimes para voltar para prisões e receber melhores cuidados médicos.

“Eu critico essas mulheres por manipularem o sistema porque estão grávidas? É claro que não,” diz Martin, 73. “Mas eu não acho que isso deva acontecer. E eu gostaria de achar maneiras de diminuir isso.” Martin negou ter aprovado essas cirurgias, mas ao menos 60 laqueaduras foram feitas em Valley State enquanto ele era o responsável, de acordo com a base de dados de contratos do Estado.
 
A doutora Jacqueline Long, que ocupa o mesmo cargo que Martin na California Institution for Women, se recusou a discutir porque internas sob sua responsabilidade foram submetidas a cirurgias de ligação das trompas sem a devida autorização. Porém, um ex-oficial da prisão de Corona, William Kelsey, disse que havia desacordo sobre o procedimento entre os membros da equipe.
 
Em uma reunião no fim de 2005, alguns oficiais corregedores discordaram da equipe médica de Long a respeito da inclusão do procedimento de laqueadura a um contrato com um hospital local, segundo Kelsey. Os oficias consideraram que as cirurgias não eram essenciais para os cuidados médicos e questionaram se o estado deveria pagar por elas.
 
“Eles não achavam que criminosas e internas tinham o direito aos cuidados que estávamos proporcionando e deixaram suas opiniões pessoais prevalecerem”, disse Kelsey. No entanto, o serviço foi incluído e Kelsey diz que as reclamações diminuíram.
 
Leis estaduais e federais proíbem a esterilização de detentas com recursos federais, o que reflete a preocupação de que as prisioneiras se sintam pressionadas a se submeter ao procedimento. Em vez disso, a Califórnia usou verba estadual, mas desde 1994, o procedimento precisa ser aprovado caso a caso por médicos oficiais da cidade de Sacramento.

“Nos sentimos um pouco nauseados”

Até agora, nenhum pedido de ligação de trompas foi apresentado para o comitê de saúde responsável para aprovar cirurgias mais sensíveis, segundo o médico Ricki Barnett, que acompanha os serviços médicos e gastos para a Corporação de Recebimento de Saúde das Prisões da Califórnia. Barnett está à frente do comitê desde 2008.

“Quando ouvimos falar nas laqueaduras, nos sentimos um pouco nauseados,” disse Barnett. “A questão não era que as pessoas estavam conspirando, ou sendo coercitivas ou descuidadas. O que me preocupa é que as pessoas nunca deram um passo para trás para imaginar o que elas sentiriam se estivessem no lugar das detentas, e o que o futuro delas reservava caso realizassem o procedimento.”

Jeffrey Callison, porta-voz do departamento de correções do Estado da Califórnia, disse que o órgão não poderia comentar porque não tem mais acesso aos arquivos médicos das internas. “Todos os cuidados médicos para as detentas, do passado e do presente, estão sob controle do Escritório da Recebedoria,” Callison escreveu em um email.

O recebedor supervisionou os cuidados médicos em todas as 33 prisões estaduais desde 2006, quando o juiz Thelton Henderson, do distrito norte da Califórnia, decidiu que o sistema de saúde era tão precário que violava a proibição constitucional a punições cruéis e incomuns. Registros mostram que o Escritório da Recebedoria estava ciente de que as esterilizações estavam acontecendo.

Em setembro de 2008, o Justice Now, grupo de direitos prisionais, recebeu uma resposta sobre o tratamento dado a internas grávidas escrita por Tim Rougeux, recebedor-chefe na época. A carta dizia que as duas prisões ofereciam a cirurgia de esterilização para mulheres.

Mas nada mudou até 2010, quando a organização com sede em Oakland entrou com um pedido de acesso aos arquivos públicos e fez uma reclamação ao escritório da senadora Carol Liu, diretora do Comitê para Mulheres e Crianças no Sistema de Justiça Criminal do Senado americano.

Por telefone, Barnett disse que o Escritório do Recebedor pediu a ela para pesquisar sobre o tema. Depois de analisar arquivos médicos e financeiros, Barnett se encontrou em 2010 com funcionários em ambas as prisões femininas e contratou profissionais de saúde afiliados a hospitais na região.

Durante esses encontros, disse a eles para parar com as esterilizações das prisioneiras. Em resposta, segundo ela, eles lhe deram uma bronca. Barnett relembra que a restrição de idade de 16 anos para fazer ligações das trompas parecia novidade para os administradores de saúde da prisão, médicos, enfermeiras e clínicos. Segundo ela, nenhum dos médicos pensou que precisasse de permissão para realizar as cirurgias nas internas. “Todos estavam agindo com base no fato de que era uma coisa perfeitamente normal de se fazer”, diz ela.

Fatores de risco

Martin, gerente médica da Prisão Estadual Valley, diz que ela e sua equipe descobriram que o procedimento era restrito cinco anos atrás. Alguém havia feito uma reclamação sobre a esterilização de uma interna que tinha pelo menos seis filhos, e isso a levou a pesquisar as regras médicas da prisão. Depois de descobrir sobre as restrições, Martin disse ao CIR que ela e Heinrich começaram a procurar jeitos de burlá-las. Segundo conta, os dois acreditavam que as regras eram injustas para as mulheres.

“Tenho certeza que em pelo menos duas ocasiões, (Heinrich) veio falar comigo dizendo ‘Mary Smith está passando por uma emergência médica e nós precisamos fazer uma ligação de trompas. Ela tem seis filhos. Podemos fazer?’”, diz Martin. “E eu disse, ‘Bem, se você documentar como emergência médica, talvez."

Heinrich diz que ofereceu ligações de trompa somente para internas grávidas que tinham histórico de pelo menos três cesarianas. Segundo ele, nesse caso uma nova gravidez poderia ser perigosa porque o tecido do útero poderia romper-se, resultando em uma grande perda de sangue e possibilidade de morte. “Era um problema médico que nós tínhamos que avisar,” diz Heinrich. “É responsabilidade do médico que está trabalhando no parto… fazer com que ela saiba o que está acontecendo. Até corremos risco se não dizemos a elas.”

Mas ex-internas contam uma história bem diferente

Michelle Anderson, que teve um bebê em dezembro de 2006 enquanto estava na prisão de Valley, diz que ela tinha feito apenas uma cesariana. Anderson, 44, foi questionada várias vezes se concordava com a esterilização, mas jamais lhe disseram que havia fatores de risco envolvidos. Ela recusou.

Nikki Montano também tinha somente uma cesariana antes de aterrisar em Valley em 2008, grávida e batalhando contra o vício em drogas. Montano, 42, estava cumprindo pena por roubo, falsificação e recebimento de propriedade roubada. Mãe de sete crianças, ela disse que nem Heinrich, nem a equipe médica disseram a ela o porquê da necessidade de uma ligação de trompas.

“Eu pensei que era o que acontecia na prisão – e que esse era o melhor médico que iria conseguir”, diz Montano. “Ele nunca me disse nada sobre nada.” Montano concordou com a cirurgia e diz que ainda considera o procedimento como positivo em sua vida.

A Dra. Carolyn Sufrin, obstetra e ginecologista no Hospital Geral de São Francisco, que também é professora na Universidade de São Francisco, diz que não é uma prática comum oferecer ligações de trompas a mulheres que já realizaram cesarianas. Ela confirma que ter múltiplas cesarianas aumenta o risco de complicações, mas mesmo assim, segundo ela, é mais apropriado oferecer à mulher maneiras reversíveis de controle de natalidade, como aparelhos intrauterinos ou implantes.

“Cada cesariana, cada situação, é diferente”, diz Sufrin. “Algumas mulheres com cesarianas prévias não têm nenhum problema ou risco.”

Histórico de eugenia

As ligações de trompa representam uma pequena porção do tratamento médico fornecido a internas grávidas. Estatísticas e um relatório do Escritório de Acolhida na Prisão mostram que entre 2000 e 2010, 2.423 mulheres realizaram partos enquanto estavam presas, na Califórna, custando ao Estado US$ 2,7 milhões de dólares. Menos de uma em cada dez foram cirurgicamente esterilizadas.

Mas os números não contam a história inteira. A Califórnia ainda lida com um passado feio: sujeitos a leis de esterilização compulsória na Califórnia e em outros 31 estados dos Estados Unidos, minorias pobres, deficientes físicos, doentes mentais e criminosos foram apontados como inferiores e esterilizados como maneira de prevenir a propagação de seus genes.

Entre 1909 e 1964, cerca de 20 mil mulheres e homens na Califórnia passaram por cirurgias para evitar a reprodução – fazendo do estado o mais prolífico em esterilização nos EUA. Historiadores dizem que, nos anos 1930, a Alemanha nazista chegou a buscar conselhos com líderes eugenistas do Estado.

Em 2003, o Senado realizou duas audiências para expor essa história, com os depoimentos de pesquisadores, acadêmicos e funcionários do governo. Em resposta, o então Procurador Geral Bill Lickyer e o governado Gray Davis apresentaram desculpas oficiais.

“Nossos corações estão pesados pela dor que a eugenia causou. Foi um capítulo triste e lamentável da história do nosso Estado. Algo que nunca mais deve ser repetido”, diz Davis na declaração. O que faltou nas audiências foi a perspectiva dos funcionários das prisões estaduais. O então diretor de correções, Edward Alameida Jr, informou o comitê do Senado que o sistema prisional não tinha registros sobre esterilizações.

“Enquanto obviamente esse foi um capítulo negro da história da Califórnia, o CDC (sigla em inglês para Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia) representou um papel minúsculo”, escreveu Alameida em uma carta datada de junho de 2003. “Nossa participação, portanto, em sua audiência não forneceria nenhuma informação substancial nessa questão e eu não acredito que nossa presença iria contribuir de alguma maneira para seus objetivos.”

Porém, Alexandra Minna Stern, professor da Universidade de Michigan e especialista no processo de esterilização da Califórnia, cita a atividade da prisão estadual entre as questões pendentes daquela era. Stern depôs durante as audiências, dizendo que ela encontrou em mãos privadas e em arquivos de universidade provas de 600 esterilizações realizadas na Prisão Estadual de San Quentin, anteriores a 1941, que não estavam incluídas nos números oficiais. Segundo disse ao comitê, os esterilizadores da Califórnia viam seu trabalho como humano e econômico.

“Um dos objetivos – e isso é crítico para entender a história da eugenia na Califórnia – era economizar dinheiro: como reduzir os gastos com bem-estar social,” disse Stern, de acordo com a transcrição de sua audiência. “E a esterilização está muito ligada a isso.”

Pressionada à esterilização durante o trabaho de parto

A Corte Suprema dos EUA, depois da indignação pública e dominante sobre a eugenia e abusos similares com esterilizações no Alabama e em Nova York, gerou novos requisitos nos anos 1970 para que médico informassem completamente os pacientes. Desde então, é ilegal pressionar qualquer pessoa para que ela seja esterilizada ou pedir seu consentimento durante o trabalho de parto ou o nascimento da criança.

Ainda assim, Kimberly Jeffrey diz que foi pressionada por um médico enquanto estava sedada e amarrada a uma mesa cirúrgica para uma cesárea em 2010, durante uma temporada em Valley por violação da condicional. Jeffrey, 43, estava horrorizada, conta, e resistiu.

“Ele disse, ‘Então, nós vamos fazer a ligação das trompas, certo?’”, conta Jeffrey. “Eu disse, ‘Ligação de trompas? Do que você está falando? Eu não quero que seja feito nenhum procedimento. Só quero ter o meu bebê’. Eu entrei em pânico.”

Jeffrey forneceu cópias dos arquivos oficiais hospitalares e de sua prisão ao CIR. Os arquivos mostram que Jeffrey rejeitou a ligação de trompas oferecida durante um check-up pré-natal em dezembro de 2009, no consultório de Heinrich. Um relatório médico da cesária de Jeffrey um mês depois aponta que ela novamente havia recusado a ligação de trompas depois que chegou ao Hospital Comunidade Madera. Segundo ela, em nenhum momento, ninguém deu qualquer justificativa médica para realizar a ligação de trompas.

Essa experiência ainda assombra Jeffrey, que vive em São Francisco com seu filho de três anos, Noel. Ela trabalha com grupos buscando melhorar as condições para prisioneiras e tem feito lobby com legisladores em Sacramento. Jeffrey recentemente realizou a prova do vestibular e espera lutar por um diploma na Universidade Federal de São Francisco.

“Ter sido tratada como se eu fosse menos que um ser humano gerou em mim um desespero”, diz.

Os funcionários das prisão estadual “são os verdadeiros ofensores”, acrescentou ela. “Eles repetidamente me ofenderam ao negar o meu direito à dignidade e humanidade.”

Dorothy Roberts, professor de direito na Universidade da Pensilvânia e especialista em esterilização, diz que tribunais concluíram que solicitar aprovação para o procedimento de esterilização durante o trabalho de parto é coercitivo, isso porque a dor e o desconforto podem comprometer a habilidade da mulher em tomar a decisão.

“Se isso acontecesse em uma prisão federal, seria ilegal”, diz Roberts. “Existem situações específicas em que não se pode dizer que houve consentimento, e uma delas é durante o nascimento da criança ou o trabalho de parto. Nenhuma mulher deve dar consentimento enquanto está em uma mesa de operação.”

Heinrich considera as questões levantadas sobre seu tratamento médico injustas e diz que suspeita dos motivos das mulheres. Ele insiste que trabalhou duro para dar às internas tratamento médico de alta qualidade, e acrescenta que centenas de prisioneiras poderiam confirmar isso.

“Todas queriam que fosse feito”, afirma ele sobre as esterilizações. “Se elas vem um ou dois anos depois dizendo ‘alguém me forçou a fazer isso’, isso é mentira. Isso é alguém procurando receber esmola do Estado”, diz. “Eu acho que o único motivo para elas fazerem isso não é porque se sentem injustiçadas, mas porque querem continuar com o subsídio do Estado, de algum jeito.”

Barnett se recusou a responder se as práticas de Heinrich foram revisadas pelo Escritório de Acolhida, citando leis de confidencialidade de empregados. Inicialmente, ela disse acreditar que Heinrich havia deixado o sistema prisional. Entretanto, logo depois de se aposentar em 2011, Heinrich retornou em outro cargo. Ele atualmente é um dos clínicos contratados pela prisão.

Barnett ressaltou que buscava apenas acabar com as esterilizações na prisão, não investigar funcionários ou entrevistar internas sobre os abusos que podem ter ocorrido. “Se o Dr. Heinrich disse coisas impróprias? Não posso dizer”, acrescentou ela. “Se o nosso processo é suficientemente draconiano para eliminar maus atores? Nós temos vários processos cvis contra eles. São 100% eficazes? É o melhor processo que inventamos? Não, claro que não.”

* Reportagem republicada pela Agência Pública

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Michelle Obama: “EUA ESTÃO PRONTOS PARA TER UMA MULHER COMO PRESIDENTE”

 


A primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, disse numa entrevista hoje publicada que os Estados Unidos estão preparados para terem uma mulher como Presidente, mas não quis comentar as hipóteses de Hillary Clinton conseguir o lugar.
 
Michelle Obama fez tais afirmações numa entrevista à revista Parade, excertos da qual foram divulgados no site da internet da publicação.
 
Inquirida sobre se considera que o país terá uma mulher Presidente durante o seu tempo de vida, a mulher do Presidente Barack Obama respondeu: “Sim, penso que o país está pronto para isso. É só uma questão de encontrar a melhor pessoa”.
 
Escusou-se, contudo, a comentar as probabilidades de a ex-primeira-dama Hillary Clinton se candidatar para suceder a Obama em 2016.
 
Hillary Clinton, ex-senadora democrata e secretária de Estado durante o primeiro mandato presidencial de Obama, foi vaga sobre se irá ou não candidatar-se ao mais alto cargo da nação.
 
Clinton deixou em fevereiro o lugar de chefe da diplomacia dos Estados Unidos e as sondagens divulgadas quando ainda faltam três anos para as primárias do Partido Democrata, de onde sairá o nome do candidato às presidenciais, colocam-na na dianteira da corrida – tanto à nomeação democrata como numas eventuais eleições presidenciais.
 
Sobre as hipóteses de Hillary Clinton, Michelle Obama disse “Ela ainda não anunciou nada, por isso não irei, com certeza, adiantar-me a ela”, acrescentando que ela própria não se candidatará ao cargo de Presidente.
 
A primeira-dama sublinhou ainda que pensa que a Presidência do marido tem ajudado a atenuar os preconceitos raciais nos Estados Unidos.
 
“As crianças nascidas nos últimos oito anos apenas terão conhecido como Presidente dos Estados Unidos um homem afro-americano. Isso muda tudo para todas as nossas crianças, independentemente da sua raça, orientação sexual e género”, observou Michelle Obama.
 
Agência Lusa
 

O MASSACRE NO CAIRO E SUA HERANÇA

 


Robert Fisk escreve: Ocidente ensina muçulmanos a desprezar democracia; intelectuais e ativistas que apoiaram militares não escaparão da vergonha moral
 
Robert Fisk, The Independent  - Outras Palavras - Tradução Cauê Seignemartin Ameni
 
O cristal egípcio rompeu-se. A “unidade” do Egito – aquela cola patriótica e essencial que manteve o país unido desde a derrubada da monarquia, em 1952 e o governo de Nasser – derreteu em meio aos massacres, tiroteios e fúria, ontem no ataque brutal à Irmandade Muçulmana. Uma centena de mortos – 200, 300 “mártires” [o número de vítimas continua subindo: 638, na quinta-feira à noite, segundo o New York Times] - não faz diferença o resultado: para milhões de egípcios, o caminho da democracia tem sido dilacerado entre balas e brutalidade. Os muçulmanos que buscam um Estado baseado em sua religião poderão confiar nas urnas novamente?
 
Em 1992, na Argélia; no Cairo em 2013 – e quem sabe o que acontecerá na Tunísia nas próximas semanas? – os muçulmanos que conquistaram o poder, de forma justa e democrática através do voto, foram em seguida derrubados do poder. E quem pode esquecer o bloqueio brutal sobre Gaza quando os palestinos votaram – mais uma vez democraticamente – para o Hamas? Não importa quantos erros a Irmandade Muçulmana tenha cometido no Egito – nem quão promiscuas ou estúpidas fossem suas leis – o presidente democraticamente eleito Mohamed Morsi foi derrubado pelo Exército. Foi um golpe de Estado, e John McCain estava certo ao usar essa palavra.
 
A Irmandade, é claro, deveria há muito tempo ter reprimido seu amor próprio e tentando manter-se dentro da casca de pseudo-democracia permitida pelo Exército no Egito. Não porque fosse justo ou aceitável, mas para não ser obrigada a retornar à clandestinidade, prisões à meia-noite, torturas e martírio. Este tem sido o papel histórico da Irmandade – com períodos de colaboração vergonhosa com ocupações britânicas e ditaduras militares no Egito. O retorno à escuridão sugere dois resultados: que a Irmandade será extinta em meio à violência; ou vai ter sucesso, em algum momento distante, na criação de uma autocracia islâmica.
 
Os sábios da mídia fizeram seu trabalho venenoso antes de o primeiro cadáver ser sepultado. “O Egito pode evitar uma guerra-civil”?, perguntavam. Será que os “terroristas” da Irmandade Muçulmana pode ser dizimada pelo exército? E aqueles que se manifestavam antes da queda de Morsi? Tony Blair foi apenas um dos que falou sobre a importância de evitar o iminente “caos”, ao conceder o seu apoio ao general Abdul-Fattah al-Sisi. Cada incidente violento no Sinai, cada arma empunhada pelas mãos da Irmandade Muçulmana vai ser usada para convencer o mundo de que a organização – que na verdade é um movimento islâmico muito mal armado, e muito bem organizado – era o braço direito da al-Qaeda.
 
A história pode enxergar de outro modo. Será certamente difícil explicar como milhares – talvez milhões – de liberais egípcios bem-formados continuaram a dar suporte incondicional ao general, que passou boa parte do tempo após a queda do ditador Mubarak justificando os teste de virgindade do Exército entre as manifestantes do sexo feminino na Praça Tahrir. Al-sisi estará sobre pressão nos próximos dias; ele que sempre foi supostamente simpatizante da Irmandade, embora a origem dessa ideia possa ser o fato de sua esposa sempre ter usado o véu para encobriu o corpo todo, deixando apenas os olhos aparentes. Muitos intelectuais da classe média que deram seu apoio ao exercito, terão que espremer suas consciências em uma garrafa para acomodar o futuro.
 
Poderia Mohamed el-Baradei, Prêmio Nobel e especialista nuclear, a mais famosa personalidade – aos olhos ocidentais, não egípcios – no “governo interino — ter permanecido no poder? Claro que não. Ele teve que ir, pois ele nunca desejou tal resultado, quando apostou seu poder político e concordou em sustentar a escolha de ministros feita pelo Exército, depois do golpe no mês passado. Mas o círculo de escritores e artistas que insistem em afirmar o golpe de Estado como uma continuidade da revolução de 2011, terá que usar – depois do banho de sangue e da renúncia de el-Baradei – alguma linguística bem angustiada, para escapar da culpa moral.
 
Preparem-se, é claro, para as habituais perguntas-jargões. Será que isso significa o fim do Islã político? No momento, certamente; a Irmandade Muçulmana não terá disposição para tentar outras experiências na democracia – uma recusa que é o perigo imediato no Egito. Pois, sem liberdade, há violência. Será que o Egito se transformará em outra Síria? Improvável. O Egito não é um Estado sectário – nunca foi, mesmo com 10% dos seus habitantes cristãos –, nem inerentemente violento. Nunca experimentou a selvageria das revoltas argelinas contra os franceses, ou as insurgências sírias, libanesas e palestinas contra os britânicos e franceses. Mas muitos fantasmas estarão curvarão suas cabeças envergonhados, hoje. Entre eles, Saad Zaghloul, o grande advogado revolucionário do levante de 1919. E o general Muhammed Neguib, cujas exigências revolucionarias de 1952 são tão similares às exigências dos que se reuniram na praça Tahrir, em 2011.
 
Mas sim, algo morreu hoje no Egito. Não a revolução, porque em todo o mundo árabe conserva-se íntegra — embora ensanguentada — a noção de que os países pertencem aos povos, não a seus governantes. A inocência morrem, é claro, tal como acontece após cada revolução. O que expirou hoje foi a ideia de que o Egito era a mãe eterna da nação árabe, o ideal nacionalista, a pureza da história segundo a qual o Egito considerava todo o seu povo como seus filhos. Porque as vítimas da Irmandade – assim como a polícia e os partidários do governo – são também filhas do Egito. E ninguém disse isso. Eles haviam se tornado os “terroristas”, o novo inimigo do povo. Esta é a nova herança do Egito.
 

Brasil-EUA - Espionagem: O AMIGO KERRY NÃO CONVENCEU

 


As desculpas esfarrapadas do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em sua passagem pelo Brasil, sobre o o caso de espionagem revelado por Edward Snowden, causaram péssima impressão no governo. Para proteger o país, cogita-se até em Brasília o lançamento de um satélite de uso exclusivo. Mas o mais importante de tudo é mesmo o fato de o governo ter percebido a natureza da guerra em curso no mundo do século XXI. Por Saul Leblon
 
Saul Leblon – Carta Maior
 
As desculpas esfarrapadas do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que, em sua passagem por Brasília, defendeu a espionagem norte-americana no país como um fator de proteção aos brasileiros, causaram péssima impressão no governo.

Detalhada no depoimento do jornalista do Guardian Glenn Greenwald ao Senado Nacional, a ‘proteção’ incluiria bisbilhotar segredos comerciais e de empresas brasileiras.

Com a porta arrombada – e o sinal de que o pé de cabra diáfano continuará ativo – Brasília incorporou um Clausewitz adaptado aos novos tempos, em que a espionagem digital é a continuação da guerra por outros meios.

Antes tarde do que nunca, o país resolveu se defender do grande amigo do Norte.

Os ministérios das Relações Exteriores, Defesa e Comunicações correm atrás do prejuízo, em busca de alternativas para aumentar a segurança da informação e blindar o fluxo de dados do Estado brasileiro.

Cogita-se do lançamento de um satélite de uso exclusivo, bem como da construção de dois cabos submarinos e a instalação protegida de um Ponto de Troca de Tráfego (PTT) internacional – centro dados em que todas as estradas da internet se encontram.

Mais importante de tudo é mesmo o fato de o governo ter percebido a natureza da guerra em curso no mundo do século XXI.

Não se pode insistir em lustrar baionetas num tempo em que droners silenciosos eliminam a necessidade de Guantánamos. E por uma razão muito simples: as geringonças movidas à distancia ‘eliminam o mal pela raiz’, sem o desgaste dos campos de concentração à margem do Direito.

Até mesmo Paulo Bernardo – sentado em berço esplendido no caso da regulação da mídia – percebeu o adiantado da hora.

A internet se tornou o teatro de uma guerra silenciosa, de cunho não só militar, mas político e econômico. Não lutar implica uma rendição incondicional de consequências desastrosas.

Sem normas internacionais, a web emerge como a prefiguração do mundo ideal contido nos sonhos neoliberais.

O tal do ‘mundo plano’ , a terra de ninguém em que as fronteiras e direitos vigentes no planeta original deixam de valer, imperando a lei de mercado. Bem entendido, a ‘lei do mais forte’, como mostra a realidade desvelada pelo ex-funcionário da CIA Edward Snowden.

Um exemplo prosaico do que está em marcha: a ‘Amazon’ envida esforços jurídicos nesse momento para transformar o domínio ‘.amazon’ em sua propriedade. Se tiver êxito, quando o estado do Amazonas quiser utilizar o próprio nome na web, pagará por isso.

Absurdo equivalente ocorreu quando da tentativa de um grupo empresarial japonês de patentear o Cupuaçu. Vai por aí a coisa da cyber desregulação.

Uma das propostas em análise no Itamaraty transformará o Brasil em líder de uma cruzada mundial pela definição de regras internacionais que revertam essa replica digital ameaçadora da supremacia dos ‘mercados autorregulados’.

Cogita-se em Brasília que normas, diretos etc. do mundo digital seriam abrigados no sistema ONU, que colheria as adesões dos países, de forma a se evitar situações de desrespeito à privacidade, aos direitos humanos e econômicos.

Hoje, como se sabe, quem manda na internet são as grandes empresas privadas dos Estados Unidos e seu grande braço político operacional, a Casa Branca e o Departamento de Estado.

Além disso, o governo Dilma poderá ressuscitar uma antiga proposta do Ministério do Planejamento, surgida na época do Governo Lula, de se criar um sistema próprio de comunicação e de dados para a "blindagem" de toda a Esplanada, por fibra ótica.

Funcionaria como uma espécie de intranet governamental, sobretudo para a alta administração.

Se a ideia vier acompanhada de satélite próprio, futuramente, além de permitir maior segurança, estima-se que o Governo teria uma razoável economia de recursos com o sistema de telefonia fixa, móvel e internet.

Por enquanto, são ideias no papel ou na cabeça de alguns assessores, à espera de decisões de governo, que a visita pouco satisfatória do amigo Kerry pode ter acelerado.

Enquanto a vulnerabilidade persiste, o Itamaraty recomenda cuidados básicos aos seus funcionários: manter computadores portáteis fora da rede para a produção de documentos mais sigilosos e o uso mais intenso do velho e esquecido papel, entregue em mãos.

Os e-mails devem ser telegráficos ou mais protocolares.

Nas viagens internacionais da Presidenta, ainda hoje, a diplomacia leva a tiracolo uma pequena máquina datilográfica. O fato, que já foi objeto de piada, agora ganhou status de um cuidado high-tec.

No limite, depois das revelações de Edward Snowden, o corpo diplomático ironiza: "Até 'bom dia' é melhor falar pessoalmente".

Fotos: EBC
 

BRASIL E ARGENTINA APOIARAM A BOLÍVIA PARA MATAR CHE GUEVARA

 


Brasília, 13 ago (Prensa Latina) Documentos desclassificados do período da ditadura militar no Brasil (1964-1985) revelam que os regimes deste país e o argentino colaboraram com a Bolívia para combater a guerrilha e assassinar Ernesto "Che" Guevara.
 
O governo militar da Argentina de Juan Carlos Onganía (1966-1970) entregou bombas de napalm e outras armas ao governo militar boliviano, enquanto os brasileiros treinaram quatro pilotos bolivianos no Rio Grande do Sul em operações específicas para combater a guerrilha, segundo o Portal Vermelho, na internet.

Os depoimentos recopilados de agosto de 1967 assinalam que o regime brasileiro monitorava os movimentos das forças insurgentes, lideradas por Guevara, por temor de que a atividade se estendesse a este território, indica a fonte.

Segundo atas do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), o treinamento de pilotos militares da Bolívia não era oficial, mas uma ação estratégica informal.

Os dados do EMFA mostram que os Estados Unidos e a Argentina entregaram ao regime boliviano ao menos 100 bombas de napalm de 100 libras cada uma para aniquilar os guerrilheiros.

Esses artefatos dinamiteiros foram os mesmos utilizados pelas tropas estadunidenses contra o povo do Vietnã nas décadas de 1960 a 1970.

Che foi assassinado no dia 9 de outubro de 1967 na Higuera, Bolívia, após ter sido ferido e capturado em uma emboscada pelo exército boliviano.

mgt/lgo/es

CUBA DESENVOLVE TRATAMENTO ANTI-CANCRO SEM EFEITOS COLATERAIS

 


 
Investigadores cubanos estão em estágio avançado de desenvolvimento de um novo tratamento contra vários tipos de cancro que, segundo eles, não provoca os fortes efeitos colaterais dos tratamentos tradicionais e tem um índice de êxito muito acima do normal, segundo informou José António Fraga, director-geral do grupo empresarial Labiofam, que desenvolve o novo produto.
 
De acordo com Fraga, após 14 anos de exaustivas pesquisas e testes pré-clínicos, conseguiu-se desenvolver uma nova gama de peptídeos (um tipo de molécula) criada por via biotecnológica que actua exclusivamente sobre as células cancerígenas, não afectando as demais, o que permitiria evitar o uso dos actuais citostáticos, e que tem um efeito surpreendentemente impactante.
 
Em testes já realizados com ratos, um desses novos peptídeos criados em laboratório, o ‘RJLB-14′, provocou a redução dos tumores em 95% em apenas nove dias de tratamento e em vários casos até a erradicação total da doença.
 
Fraga afirmou que não está a criar falsas expectativas a pessoas que hoje enfrentam o cancro, mas sim a anunciar resultados concretos de estudos minuciosos e que o produto já está na fase de testes de toxicologia, para que, em 2014, seja pedida autorização para testes em humanos.
 
Para acelerar a chegada ao produto final, o grupo empresarial que desenvolve os novos peptídeos marcou para 18, 19 e 20 de Setembro, em Havana, um grande simpósio internacional, no qual pretende compartilhar os dados já conseguidos e espera receber contribuições de pesquisadores de outras partes do Mundo para aprimorar o novo tratamento e fazê-lo chegar o mais rapidamente possível ao mercado.
 
Fonte: Sábado
 

A HUMILDADE QUE SE PRECISA

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Cada um de nós necessita cada vez mais interrogar-se em relação à vida e aos múltiplos factores que culminaram na substância humana que nos distingue, nos põe de pé, nos impulsiona e nos responsabiliza; entre outras coisas:
 
- Sobre a trajectória humilde e efémera de nossa passagem vital pelo mundo, com capacidade de apreender-nos a nós próprios e àquilo que nos rodeia;
 
- Sobre o passado para além da história, sobretudo o passado da formação do que se considera universo e planeta, na perspectiva de sua evolução e dialéctica, até à formação hominídea e daí até ao que somos hoje;
 
- Sobre a responsabilidade humana para connosco mesmos, individual e colectivamente, inter-relacionando-a com o insubstituível acervo que constitui a Mãe Terra;
 
- Sobre as nossas possibilidades humanas de luta no âmbito da lógica com sentido de vida, avaliando ainda o grau de ignorância em que nos encontramos, tal como os desafios e os riscos que nos avassalam;
 
- Sobre as sínteses de equilíbrio que há que encontrar em função dos resgates, muitos dos quais são heranças do passado, resgates esses que, sob o ponto de vista ético, estético, moral e humano, tanto nos impelem e à nossa vontade, a nos mobilizar hoje com os olhos no futuro e nos possibilitam enfrentar tantos obstáculos, vicissitudes e manipulações!
 
Para tal, é preciso nunca o esquecer, a experiência que alcançarmos na trajectória individual e colectiva, integrará nosso conhecimento e não deixará de corresponder aos nossos limites, aos nossos sonhos e às nossas emoções!
 
A humildade que se precisa faz parte da cultura daquele amor rigoroso que recentemente tive a oportunidade de evocar… um pouco como El Che!
 
2 – Tudo isso, ao fim e ao cabo, constato, tem feito parte das preocupações de Fidel, que a si próprio se observa e se interroga, observando e interrogando a vida, muito par além das preocupações próprias da consciência dum Comandante rebelde, dum líder vanguardista, esclarecido e carismático, durante décadas, dum resistente que procura com rigor socialismo e paz, como um dos mais preocupados filósofos contemporâneos.
 
Aos 87 anos é por isso ainda um Fidel que pedagogicamente nos surpreende e nos avisa, quando reflecte sobre a história da humanidade e alguns dos desafios contemporâneos que teve de enfrentar:
 
…“Las ciencias deben enseñarnos a todos a ser sobre todo humildes, dada nuestra autosuficiencia congénita. Estaríamos así más preparados para enfrentar e incluso disfrutar el raro privilegio de existir”…
 
3 – Assinalar o 87º aniversario de Fidel de Castro foi pois um acto de coerência e de humildade no Centro Cultural Dr. Agostinho Neto ao Bairro Operário de Luanda, precisamente na modesta residência um dia habitada pela familia Neto em plena época colonial.
 
Naquela altura, alguém teve o cuidado de o referir, quão difícil era aos angolanos terem acesso à habitação, à saúde, ao ensino, e à dignidade?!
 
Só muito poucos então, entre eles Agostinho Neto, tiveram a possibilidade de vencer muitas barreiras e, com isso, avaliar tal como Fidel, os imensos resgates que havia que realizar…
 
A maioria vegetava oprimida, com uma sobrevivencia em pesadelo!
 
A independencia de Angola, se respeitarmos esses ensinamentos, não é apenas um simples acto do içar duma bandeira: é um ponto de partida identitário, singular e colectivo, em que toda uma sociedade reflexivamente tem a oportunidade de se mover para fazer frente aos obstáculos herdados do passado, antes de mais na saúde, na educação, nos equilibrios humanos que há que encontrar, no respeito que o planeta nos merece, na coerência que há que cultivar conforme à lógica com sentido de vida e à paz!
 
4 – Esse espírito respirou-se, essa atmosfera bebeu-se no dia 13 de Agosto de 2013, para além do ambiente local simples e respeitoso que está na origen do próprio Centro: ela foi transmitida também pelas intervenções que sintetizaram quanto angolanos e cubanos se têm empenhado em Angola e em África (esteve também presente o “caimanero” que é o actual embaixador da Guiné Conacry em Angola), em prol duma melhor saúde e educação para todos, num paciente e persistente proceso de luta que persegue alcançar na próxima década os objectivos do milénio que não se poderão alcançar até 2015!
 
Os desafíos mantêm-se, os regates impõem-se e dão sequência ao movimiento de libertação quando ele, assumindo os desafíos dos resgates, teve de lutar de armas na mão contra o colonialismo, o “apartheid” e as suas séquelas!
 
Essa saga começou praticamente desde os alvores da revolução cubana, quando as primeiras equipas médicas internacionalistas foram destacadas para o Chile e para a Argélia, quando o movimiento de libertação em África beneficiou desde logo desses destacamentos, quando as escolas cubanas se abriram a milhares e milhares de estudantes provenientes dos países mais explorados da Terra!
 
5 – Hoje pode-se avaliar quanto os procesos de capitalismo neo liberal têm avassalado a vida em Angola e por isso há todo um manancial de vontade humilde que nos deve orientar, apegando-nos à nossa própria essência e à nossa passagem pela vida: de facto o movimiento de libertação em África, de resgate em resgate, só se poderá asumir quando os beneficios forem efectivamente para todos!
 
Esse é o segredo da nossa identidade, da nossa coerência, da nossa resistência e da paz que chegou, a paz só possível com solidariedade, internacionalismo e justiça social!
 
Essa humildade que se precisa, é o que nos ensinam os nossos maiores, como Agostinho Neto, Amilcar Cabral, Samora Machel, Che Guevara e Fidel!
 
Isso percebeu-se no Centro Dr. Agostinho Nero, ao bairro Operário de Luanda, a 13 de Agosto de 2013, por ocasião do acto que assinalou os 87 anos de Fidel!
 
A consultar:
 

Brasil: “SEM REFORMA POLÍTICA, TUDO CONTINUARÁ COMO SEMPRE FOI”, diz Barroso

 


Na retomada do julgamento do “mensalão”, agora em fase de recursos, o mais novo ministro do STF criticou o sistema brasileiro que, segundo ele, transforma a política em negócio: “o julgamento da ação penal 470, mais do que a condenação de pessoas, significou a condenação de um sistema político”. Por Najla Passos, de Brasília
 
Najla Passos – Carta Maior
 
Brasília – O mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, defendeu a urgência da reforma política no Brasil, durante a sua estreia no julgamento do mensalão, nesta quarta (14), em Brasília (DF). “Sem reforma política, tudo continuará como sempre foi. A distinção será apenas entre os que foram pegos e os que não foram”, afirmou, ao tecer suas considerações iniciais sobre o julgamento que entra, agora, na fase de recursos, os chamados embargos.

Segundo ele, a sociedade brasileira está exausta da forma como se faz política no país. O ministro lembrou que uma campanha barata para deputado federal custa, em média R$ 400 milhões, enquanto o salário de um político não chega a R$ 1 milhão durante todo o mandato. “Com esses números, não há como a política viver sob o signo do interesse público, ela se torna um negócio. (...) O modelo político brasileiro produz uma ampla e quase inexorável criminalização da política”, enfatizou.

Dentre as principais características negativas do sistema brasileiro, ressaltou o papel central do dinheiro, a irrelevância programática dos partidos que funcionam como rótulos para candidaturas e o sistema eleitoral e partidário que dificulta a formação de maioria estáveis. “O julgamento da ação penal 470, mais do que a condenação de pessoas, significou a condenação de um sistema político”, insistiu.

Barroso deixou claro também que não importa que a reforma política seja feita pelo Congresso ou diretamente pelo povo, por meio de plebiscito, conforme proposto pela presidenta Dilma Rousseff. Para ele, o importante é que ela ajude a coibir a corrupção, um mal maior que independe de coloração partidária. “Não existe corrupção do PT, do PSDB ou do PMDB. Não há corrupção melhor ou pior, dos nossos ou dos deles. Não há corrupção do bem. A corrupção é um mal em si e não deve ser politizada”, opinou.

Barroso também refutou o chamado mensalão constituiu um evento isolado na vida política nacional. Como em uma linha do tempo imaginária, lembrou de escândalos como o dos “anões do orçamento” (1993), dos precatórios (1997), da construção do TRT-SF (1999) e Banestado (2003). Para ele, é no mínimo questionável que o mensalão seja o maior escândalo político da história do país, como insiste a mídia convencional. "Talvez se possa afirmar é que foi o mais investigado de todos, seja pelo Ministério Público, pela Política Federal ou pela imprensa”, acrescentou.

Embargos declaratórios

No primeiro dia de julgamento dos recursos da Ação Penal 470, os ministros do STF apreciaram cinco tópicos comuns em vários dos embargos declaratórios apresentados pelos 25 condenados. Presidente da corte e relator da ação, Joaquim Barbosa apresentou e rejeitou todos eles, que reivindicavam nova distribuição da ação penal, criticavam o cancelamento das notas taquigráficas referentes aos apartes concedidos em plenário, rediscutiam a competência da corte para julgar ação penal, contestavam a metodologia adotada no julgamento e pediam a nulidade do voto do ex-ministro Ayres Brito, que se aposentou durante o processo.

Primeiro a votar, Barroso seguiu o presidente na íntegra, mas não sem criticar a corte pela metodologia adotada no julgamento da ação, em que os ministros vencidos não participavam da dosimetria das penas. “Essa metodologia produziu desequilíbrios e penas mais altas do que o habitual”, pontuou, embora, no mérito, tenha seguido o relator ao rejeitar o embargo, por julgá-lo matéria já vencida. Os demais também seguiram o voto do relator, à exceção de Marco Aurélio Mello, que foi vencido nos dois tópicos em que apresentou visão diferenciada.

De acordo com Barbosa, definidas essas questões comuns a vários condenados, o julgamento dos embargos declaratórios será feito de forma individualizada. Só quando este processo terminar, a corte irá analisar os embargos infringentes que, conforme o Regimento do STF, dão direito a novo julgamento quando os réus condenados com pelo menos quatro votos divergentes.

O ministro Teori Zavaski, que também é novo na corte e não participou do julgamento do mensalão, entre agosto e dezembro de 2012, não compareceu à seção devido à morte recente de sua esposa. O ministro Gilmar Mendes chegou atrasado e não votou nesta primeira etapa.

Fotos: EBC
 

Portugal: A SUBSIDIARIEDADE INVERTIDA

 


José Manuel Pureza – Diário de Notícias, opinião
 
Se há coisa que a Direita - política, económica e ideológica - encara como alvo prioritário de combate essa é a escola pública. A razão é simples: a escola pública é um dos mais eficientes mecanismos - a par do Serviço Nacional de Saúde - de ligação indissociável entre a democracia e a igualdade. Na escola pública - como no Serviço Nacional de Saúde - o filho do rico é igual ao filho do pobre. Na escola pública - como no Serviço Nacional de Saúde - a igualdade que combate a discriminação e a diferença que combate a despersonalização dão-se as mãos nas estratégias de dignificação de todos e de cada um. Porque é isso que é exigido pelo primado de uma cidadania democrática. E são esse entendimento e essa política que a Direita portuguesa não tolera e nunca aceitará.
 
A Direita sempre viu na igualdade efetiva que anima a escola pública um mal a erradicar. A sua estratégia é clara: primeiro, fazer crer que o primado da escola pública tem um animus totalitário e uniformizador; depois, apregoar o princípio abstrato da "liberdade de escolha" associando-o a uma subsidiariedade invertida (o ensino público subsidiário da oferta privada e não esta como supletiva do primado da rede pública); finalmente, a responsabilização financeira do Estado pela oferta de ensino privado, não apenas lá onde a rede pública não chega mas em toda a parte - isto é, a obrigação de o Estado pagar a concorrência contra si próprio. Por outras palavras, o Estado supostamente totalitário e ameaçador torna-se libertador se aceitar pagar a fatura da iniciativa privada.
 
É o modelo desse financiamento que o Governo se apresta a rever em breve. O seu guião será o do aristocrata de Lampedusa posto em filme inesquecível por Visconti: "algo tem que mudar para que tudo fique na mesma." No caso, o valor transferido diretamente para as escolas no âmbito dos contratos de associação descerá - ficando, ainda assim, acima do que havia sido fixado pelo Governo anterior - e, em contrapartida, aumentará o financiamento direto às famílias que queiram ter os seus filhos no ensino privado ou cooperativo, incrementando os chamados "contratos simples".
 
O bolo global da fatura privada paga pelo orçamento público não diminuirá, portanto. Mas o que diminuirá, disso não há dúvidas, é o financiamento público da escola... pública. E a sua desqualificação através do despedimento de professores e funcionários ou do encerramento de escolas. Vale pois a pergunta: há razões de eficiência acrescida que justifiquem esta transferência de dinheiro público para o setor privado neste domínio? A resposta é um rotundo não. A Inspeção-Geral da Educação tem insistentemente identificado no ensino privado e cooperativo práticas de excesso de alunos por turma, sobrecarga ilegal de tarefas e de horários para professores impostas arbitrariamente ao abrigo da precariedade mais escandalosa, afastamento de alunos cujas classificações fazem perigar o lugar dessas escolas nos rankings, subalternização das atividades de enriquecimento curricular ou mesmo cobrança de propinas ilegais (por exemplo, sob a forma de pagamento obrigatório de senhas de refeição por crianças apoiadas pela ação social escolar).
 
Não, não é de liberdade de escolha que se trata coisa nenhuma. É sim de apoiar clientelas políticas da maioria governamental para que estas se fortaleçam à custa da delapidação do bem público, seja este a escola pública ou o dinheiro dos contribuintes. E de cumprir uma obsessão ideológica de combate à igualdade efetiva de todos em favor da escolha real só de alguns. Os de sempre.
 

DEUS, PÁTRIA, AUTORIDADE - Rui Simões (1976) filme completo - Cinema à Séria

 

 
Tal como o Bom Povo Português, este filme de Rui Simões foi realizado com imagens de arquivo. É, sumariamente, uma analise da sociedade portuguesa a partir de pontos vitais como o estado novo, a influência da igreja, a guerra colonial, a revolução de Abril, etc.

Feito sobretudo de material de arquivo, de filmes de actualidades, a narrativa surge na montagem, analisando os principais acontecimentos históricos em Portugal, desde a queda da monarquia, em 1910, até à Revolução dos Cravos, numa perspectiva social de luta de classes. wiki

Rui Simões (Lisboa, 20 de Março de 1944) é um cineasta português que se caracteriza pela prática do documentário histórico, visto como cinema militante, de intervenção política, e ainda pela realização de documentários em vídeo e de gravações de peças de teatro e de bailado. wiki

Description: For this documentary about Portugal's political explosion, Simoes had access to the archives of Portuguese TV, but he has cut the material together in a very different way from its original presentation (most of the archive footage predates the April 1974 coup). In addition, he includes filmed interviews with workers about their conditions, and with others about their own and the Portuguese colonies' part in the downfall of the Caetano regime. The film is less a history than a statement about class realities, and how political power in Lisbon never left the hands of the bourgeoisie. (From Time Out Film Guide)

Realizador: Rui Simões - Narrador: Rui Paulo da Cruz
 
Cinema à Séria no PG
 
A partir de hoje o Página Global vai contemplar,incluir e destacar uma secção de cinema a que chamará Cinema à Séria. Para os cinéfilos não passará de um alerta, talvez para reverem este ou aquele filme. Para os menos interessados em cinema poderá também constituir um incentivo que desperte o interesse pelo cinema. Por filmes portugueses, de outros países lusófonos ou de outras nacionalidades. Afinal a linguagem cinematográfica é universal e assim a devemos encarar e apreciar. Bom apetite. (Redação PG)
 

Portugal: PASSOS DO ALGARVE - O METE NOJO VOLTA HOJE AO PONTAL - opinião PG

 


A chamada Festa do Pontal, no Algarve, é ciclica para o PSD. Até calha bem porque os seus lideres desde há anos e anos que curtem por lá as férias que nem nababos à custa do erário público – olhem a casa da Aldeia da Coelha de Cavaco – e depois dão início às hostilidades e mentiras na Festa do Pontal.
 
No texto que segue o Jornal i começa por referir que foi na Festa do Pontal que Passos Coelho – o nefasto atual PM de Portugal – “contestou o aumento de impostos e previu que 2013 seria "um ano de inversão". Também se disse um homem do povo lá pelo Pontal. As balelas do costume paridas por estes políticos da atualidade e de uma geração parasitária que nunca nada fizeram de útil pela e para a comunidade mas que não se atrasaram no apressar de se locupletarem de mordomias e chularias comuns à pandilha de que fazem parte.
  
É hoje, aproveitando as suas férias nababas em Manta Rota, no Algarve, que Passos vai debitar mais umas quantas patranhas e fazer ilusionismos com os números estatisticos que uns quantos parasitas doutos - fruto de encomendas - botam em tabelas para conhecimento e ilusão do público, dos portuguesitos acarneirados que têm o reto transbordante de matéria gordurosa para que assim não sintam tão intensamente quanto estão a ser violados e vilipendiados por escabrosos vigaristas que com loas se apossaram dos poderes para dar rédeas soltas à miséria, à fome, à exploração esclavagista dos que integram e sustentam a elevada bolsa de desemprego conveniente para manter os trabalhadores portugueses à babuja das caridadezinhas do gosto dos da laia de Passos, de Portas, de Cavaco e das suas trupes, que também classificam de máfias. Nada mais a dizer: Passos do Algarve – ou o Mete Nojo volta hoje ao Pontal porque a carneirada lusa assim permite. (Redação PG – AV)
 
Festa do Pontal. O "homem do povo" fica mais optimista no Verão
 
Luís Claro – Jornal i
 
Passos regressa hoje à Festa do Pontal. Foi lá que contestou o aumento de impostos e previu que 2013 seria "um ano de inversão"
 
Foi em 2010 que o ainda líder do maior partido da oposição discursou pela primeira vez na Festa do Pontal. Sócrates ainda estava no poder e dava fortes sinais de desgaste, o que é o mesmo que dizer que no PSD já cheirava a poder. Foi por isso com entusiasmo que Mendes Bota, deputado e na altura líder do PSD/Algarve, anunciou a presença de Passos como o "homem do povo", que "vive em Massamá", ao contrário de outros, que "vivem em condomínios fechados".
 
A comparação não era inocente. Fazia parte da estratégia do PSD apresentar Passos como um português simples, que passa férias numa casa alugada na Manta Rota, em contraste com José Sócrates, que vivia numa casa de luxo no centro da cidade de Lisboa e durante as férias se alojava em hotéis de luxo.
 
O homem que vive em Massamá ainda não estava no poder e podia dar-se ao luxo de bater o pé ao aumento de impostos. No discurso que fez em Agosto de 2010, o agora primeiro-ministro apresentou como condição para não fazer cair o governo, através da viabilização do Orçamento do Estado, não haver "um novo aumento de impostos nem directo nem encapotado", através da redução dos benefícios fiscais na educação e saúde.
 
Uma exigência que Passos fez mas não cumpriu quando chegou ao governo. O corte no subsídio de Natal, através de uma contribuição especial extraordinária em sede de IRS, ou o "enorme" aumento de impostos anunciado por Vítor Gaspar, deitou por terra as promessas do primeiro-ministro, que, no ano seguinte - o primeiro em que discursou naquela festa como primeiro-ministro - justificou as medidas de austeridade com a situação internacional e o "desvio" que encontrou nas contas públicas.
 
Passos devolveu dignidade à Festa do Pontal, que desde os tempos de Cavaco Silva não recebia um primeiro-ministro, e anteviu em 2011 tempos difíceis. "Em 2011 e 2012 vamos ter de gastar menos", avisou o líder do PSD, que, numa altura em que se agravava a revolta contra a austeridade na Grécia, apelou aos portugueses e aos parceiros sociais para evitarem o caminho da conflitualidade.
 
Mais optimista, em 2012 Passos já via a luz ao fundo do túnel. Foi com esse espírito que anunciou 2013 como o ano da "estabilização da economia" e "um ano de inversão na situação da actividade económica em Portugal".
 
Apesar dos números do INE - que deverão ser hoje aproveitados por Passos para justificar a sua política e que apontam para um crescimento de 1,1% no segundo trimestre face ao trimestre anterior -, o governo, pela voz de Marques Guedes, adiou a estabilização da economia para 2014. Só "daí para a frente" poderão estar criadas as condições para "o crescimento sustentável", admitiu esta semana o ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares.
 
Antes da crise política no governo, que quase o fez cair com a demissão de Paulo Portas e a saída de Vítor Gaspar, Passos garantia que o governo vai durar "quatro anos" e tem a "ambição de poder vir a renovar o mandato, porque Portugal precisa de mudar continuamente e não voltar à cultura da facilidade do endividamento".
 
As previsões optimistas de Passos Coelho foram recordadas por Catarina Martins num comício, anteontem à noite, a poucos metros do local onde o PSD vai realizar hoje a sua festa. A coordenadora do BE acusou o primeiro-ministro de todos os anos anunciar no Pontal a recuperação económica "que nunca aconteceu" e desafiou "o povo de Quarteira e o povo que está em Quarteira" a "ir perguntar ao senhor primeiro-ministro que sinal positivo vê ele nos 15 mil funcionários públicos que quer despedir".
 
Passos Coelho, que está a passar férias no Algarve, regressa hoje pela quarta vez à Festa do Pontal, às 20 horas, que este ano volta a realizar-se no calçadão de Quarteira, em Loulé, junto à praia. Há um ano o PSD optou por um espaço fechado no salão de um parque aquático, com o argumento de que teria menos custos.
 

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