quinta-feira, 22 de junho de 2023

África do Sul pode convidar Macron para os Brics para que Putin boicote em protesto?


A África do Sul pode convidar Macron para a cúpula dos Brics deste ano para que Putin boicote em protesto?

Andrew Korybko* | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Se a África do Sul não for capaz de prometer que não executará o mandado de prisão politizado do TPI, então seus formuladores de políticas podem apostar que é melhor convidar Macron depois que o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia condenou esse cenário como "inaceitável" para provocar o presidente Putin a boicotar a cúpula em protesto, o que poderia causar um escândalo tal que o papel do referido mandado em tudo isso seja esquecido.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Riabkov, não mediu palavras nesta quinta-feira ao abordar o cenário de a África do Sul convidar o presidente francês, Emmanuel Macron, como seu convidado na cúpula deste ano:

"Enviamos um sinal de que, com todo o respeito às prerrogativas da África do Sul como anfitriã de convidar convidados individuais, é necessário partir do fato de que o Brics é uma aliança de países que rejeita categoricamente o uso de sanções unilaterais para resolver questões de política externa. Diante disso, a presença de autoridades ocidentais seria claramente inadequada lá."

"Há razões para ser cético em relação à intenção relatada de Macron de participar da Cúpula dos Brics", que pode ser aprendida mais na análise anterior.

Em suma, a feroz guerra por procuração russo-francesa na África sobre o papel do continente na ordem mundial emergente impede qualquer chance realista de Paris respeitar os interesses de Moscou em fóruns multilaterais. Macron quase certamente tentaria armar sua aparição na cúpula deste ano da maneira que os estrategistas de seu país considerarem mais eficaz dando à França uma vantagem sobre a Rússia nesta competição. Isso não significa que terá sucesso, é claro, mas ainda assim seria um evento multipolar que está por vir.

Riabkov sentiu que tinha de falar para que o mundo soubesse da posição oficial da Rússia sobre esta questão, depois de a ministra sul-africana das Relações Internacionais e Cooperação, Naledi Pandor, não ter descartado imediatamente após conversas recentes com o seu homólogo francês, onde este pedido foi feito informalmente. Relatos não oficiais da mídia já teriam alertado Pretória sobre essa possibilidade e, portanto, dado tempo suficiente para formular uma resposta, razão pela qual Moscou aparentemente considerou seu silêncio depois como suspeito.

Angola | OS MÁRTIRES DA TABUADA E DO ESQUECIMENTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O mensageiro tem más notícias para os falsários. O senhor Pai Querido, apreciado autor da falência da Sonangol, deu informações erradas a um tribunal dos piratas holandeses e o juiz de turno diz na sua sentença que “José Eduardo dos Santos esteve no poder quase 40 anos”. Logo, era um ditador. Sou obrigado a ensinar a tabuada ao acomodado gestor da petrolífera falida. 

José Eduardo dos Santos ascendeu ao cargo de Presidente da República em 1979. Angola estava em guerra contra o regime racista de Pretória e seus ajudantes da UNITA. O único poder que tinha era liderar a luta do Povo Angolano pela soberania nacional e a integridade territorial. Governar era impossível. Todos os esforços, todos os recursos eram canalizados para a defesa da soberania nacional e integridade territorial. 

A guerra baixou de intensidade com os Acordos de Nova Iorque. Mas tornou-se muito mais destrutiva e generalizada. Antes estava localizada no Sul e Sudeste de Angola. Fora do teatro de operações existiam acções de sabotagem contra alvos económicos para “secar” o financiamento das actividades militares. Com o Acordo der Bicesse, os criminosos de guerra da UNITA levaram a guerra a todas as províncias e sobretudo às grandes cidades. 

Luanda, em plena campanha eleitoral, ano de 1992, foi transformada num campo de extermínio, numa imensa sala de torturas, por Savimbi, Uambu, Chivukuvuku, Gato, Salupeto, Ben Ben, Mango e outros criminosos de guerra. As GMC da BRINDE, carregadas com assassinos fortemente armados, matavam civis indefesos. Cercavam o Bairro do Miramar quando lhes apetecia. Disparavam sobre os guardas das embaixadas. Raptavam e torturavam.

Acabado o acto eleitoral, apurada a derrota da UNITA, a guerra voltou a alta intensidade. Em poucos dias, as tropas de Jonas Savimbi ocuparam quase todas as províncias. Só ficaram de fora uma parte de Benguela, uma pequena parte do Cuanza Sul, uma parte de Luanda (com a capital) e Cabinda. A guerra durou até Fevereiro de 2002. Meninas e meninos vamos à tabuada. José Eduardo dos Santos chegou à Presidência da República em 1979. Agora apurem quantos anos são até 2002. Isso mesmo. Fabuloso, conseguiram. Pai Querido, és o maior! São 23 anos. Agora vamos contar quantos anos são de 2002 a 2017. Magnífico, Pai Querido, PCA falido. São 15 anos.

Angola | POEMAS PERFUMADOS PELA MÚSICA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A crítica literária faz imensa falta a quem se dedica à escrita. Fazem-nos falta Carlos Ervedosa, Filipe Neiva, David Mestre, Orlando de Albuquerque, Mário António, para só falar nos que mais cultivaram o género antes da Independência Nacional. Uma senhora perita na arte escreveu que o poema “Namoro” de Viriato da Cruz tem imagens belíssimas, uma delas é escrever uma carta em papel perfumado. E o cartão com o canto sim e canto não pedindo namoro à dama eleita. Achei piada à imaginativa literata. Porque eu comprei papel perfumado na Argente Santos para escrever cartas de amor.

Os cartões “por si meu coração sofre” existiam à venda em qualquer papelaria e tabacaria. Uma embalagem de 20 custava meia cinco. Caríssimo. Um fino de cerveja crua na esplanada do Baleizão custava dois escudos.

Eu sou canhoto e fui obrigado a escrever com a mão direita porque a senhora professora dizia que quem usava a mão esquerda era alma do diabo. Escrevo mal com as duas mãos. Em criança aprendi a escrever à máquina e desde então só me sinto bem com teclados, mãos esquerda e direita debitando palavras. Tinha vários fornecedores de papel. Em algumas repartições públicas existiam formulários impressos numa face da folha. Eu desviava-os e escrevia nas costas. Os bancos também tinham à disposição dos clientes formulários para os depósitos! Eu desviava-os e escrevia nas costas. 

O melhor papel para escrever à máquina era o dos panfletos com propaganda do viaje agora e pague depois. Escrevi nas costas a peça de teatro “Os Barrocados” inspirada nos Heróis do 4 de Fevereiro, que escaparam à repressão policial escondendo-se em buracos das barrocas de Luanda. Essa obra foi apreendida pelo senhorio a quem não paguei quatro meses de renda de um anexo no Maculusso. Deve ter ido para o lixo. Gente sem maneiras!

Vendi um original pornográfico ao velho Maciel que ele depois pôs a circular pirateando a Dona Cassandra Trios. Pagou 50 escudos pronto pagamento. Fui à Argente Santos e comprei uma resma de papel perfumado. Escrevia cartas de amor a uma senhora que constituiu família com um empreiteiro de prédios nas avenidas além Kinaxixi. Foi o mercado que me inspirou. E o dinheiro fácil da escrita pornográfica.

As cartas enviadas à minha amada partilhada eram originais. Saíam mesmo da minha cabeça e do meu coração. Com algumas enviava uns versos sofridos. Mas existia à venda um livro intitulado “As 20 Mais Belas Cartas de Amor” que custava dez escudos. Um dia propus ao Velho Maciel fazermos um livro com as cem mais apaixonadas cartas de amor. Ele recusou. Não sabe o que perdeu. Eu era mesmo muito bom a destilar amor em papel perfumado.

Angola | “ABSTENHAM-SE DE MANIFESTAÇÕES CONTRA A LEI” – parlamento

Presidente do parlamento angolano pede a deputados que se abstenham de manifestações contra a lei

Luanda, 22 jun 2023 (Lusa) – A presidente da Assembleia Nacional angolana apelou hoje aos deputados para não se associarem a ações ou manifestações que “violem leis” ou que adotem “comportamentos violadores da paz social”.

Carolina Cerqueira dirigiu-se hoje aos deputados no início da 7.ª reunião plenária ordinária da Assembleia Nacional, que tem lugar depois de uma manifestação nacional, realizada no sábado passado, reprimida em Luanda e Benguela pela Polícia Nacional, num confronto com manifestantes.

Segundo a presidente do parlamento angolano, o apelo, sem pretender que os deputados prescindam “da sua liberdade de expressão, direitos que a democracia lhes confere”, é também no sentido de que não “profiram declarações que incitem à desobediência civil e à desordem pública, vandalização do património público e privado, comportamentos que perturbam a coesão e estabilidade social”.

“Assim deixo um pedido, sublinho, deixo um pedido, a todas senhoras deputadas e senhores deputados, para que não se associem voluntária ou involuntariamente, através da presença, e/ou não incitem qualquer evento ou ação que possa ter o potencial de se transformar numa materialização de violação do Estado de direito”, exortou Carolina Cerqueira.

A presidente da Assembleia Nacional recordou “o caráter central do papel deste órgão de soberania do Estado de direito”, salientando que o parlamento angolano no sistema constitucional consiste num órgão de soberania central da democracia e concomitantemente do estado de direito.

O tempo está se esgotando tanto para Zelensky quanto para a Otan

Operação 'Moedor de carne' precisa começar

Poucos ou nenhum especialista ocidental se perguntam "se está indo bem, então por que a demanda imediata de adesão à Otan? Cadê a crise?"

Martin Jay* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Pode a OTAN esperar sobreviver à sua política de escalada cega de dogmas a longo prazo ou enfrentar um período de declínio, até mesmo de expiração? Parece exagero? Não quando você examina a linha do tempo dos últimos dois anos e observa a direção que esse conglomerado de impérios de máquinas de guerra está tomando sob a liderança de Washington.

Em Vilnius, espera-se que acreditemos que, apesar de a ofensiva de verão ter corrido bem para o exército da Ucrânia – o que é uma mentira perpetuada pelos meios de comunicação ocidentais – a Ucrânia deve ser membro pleno da NATO. A histeria que pode ser vista nos olhos de Zelensky, que pede isso, é palatável. Mas poucos ou nenhum especialista ocidental se perguntam "se está indo bem, então por que a demanda imediata de adesão à Otan? Cadê a crise?".

A verdadeira razão para Zelensky exigir isso, assim como os países do Leste Europeu falando em colocar seus próprios soldados no terreno, simplesmente, equivale à mesma conclusão. A guerra não está indo nada bem para o exército ucraniano que, mesmo pela estimativa mais gentil e conservadora, perdeu pelo menos 150.000 homens. Generais americanos aposentados que estão em contato com observadores militares no terreno estimam esse número em 250.000, já que a operação da mídia ucraniana em Kiev obviamente não fornece dados sérios sobre o assunto. O problema de Zelensky é duplo. Ele anunciou ao mundo que está prestes a iniciar uma ofensiva de verão, que não começou tão mal – abriu um buraco na Linha Maginot que a Rússia colocou completa com minas – e levou algumas aldeias. Boa distribuição de vídeo para os jornalistas do call center na Ucrânia que recebem suas ordens do escritório de mídia de Kiev, que controla onde eles podem ir e o que podem relatar. Mas o pequeno detalhe do que eles não estão relatando é a história real.

O exército ucraniano está tão sem pessoal, com poucos recursos e seus homens tão lamentavelmente subtreinados que a taxa e a velocidade de seu equipamento militar perdido são assustadoras. As brigadas estão entrando em batalhas em veículos blindados com apoio da artilharia e estão sendo dizimadas em uma velocidade notável. Em apenas um dia, de acordo com um relatório, 16 veículos blindados Bradley foram atingidos e queimados, ou simplesmente abandonados pelas forças ucranianas. Para funcionários do Pentágono que ponderam sobre seus relatórios de inteligência, isso deve ser preocupante, já que essa perda representa um quarto de todos os Bradleys dados aos ucranianos. É essa rapidez das perdas materiais que preocupa Zelensky e as elites ocidentais. Olham para os dados e quando vêem minúsculas vitórias simbólicas, como as aldeias recentemente tomadas, não celebram. Eles simplesmente olham para as perdas e fazem as contas.

SOBRE RÁBANO E GUERRA NUCLEAR – Scott Ritter

Quando Vladimir Putin foi questionado recentemente sobre o potencial uso de armas nucleares no contexto da Ucrânia, uma compreensão da gíria russa foi necessária para entender sua resposta.

Scott Ritter* | especial para Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

O presidente russo, Vladimir Putin, é conhecido por muitas coisas – seus discursos "na sua cara", sua maratona de entrevistas coletivas sem roteiro e sua impassibilidade estoica diante das adversidades vêm à mente.

Uma coisa que não salta aos olhos do observador médio é seu senso de humor terroso. Observadores de longa data de Putin sabem que o líder russo de vez em quando apimenta suas apresentações formais com piadas fora de cor que, a menos que alguém seja bem versado em russo coloquial da variedade de beco sem saída, pode fazer falta para o ouvinte casual.

Durante o período de discussão de 16 de junho da sessão plenária do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo de 2023, o líder russo foi questionado sobre suas opiniões sobre o potencial uso de armas nucleares no contexto do conflito ucraniano em curso.

"Esse uso de armas nucleares é certamente teoricamente possível", respondeu Putin sem rodeios.

"Para a Rússia, isso é possível se for criada uma ameaça à nossa integridade territorial, independência e soberania, a existência do Estado russo. As armas nucleares são criadas para garantir nossa segurança no sentido mais amplo da palavra e a existência do Estado russo."

A resposta de Putin refletiu a doutrina nuclear russa de longa data, que postula o uso de armas nucleares no caso de uma ameaça existencial, nuclear ou não, à sobrevivência da Rússia.

Putin, então, procurou deixar o público à vontade. "Mas nós, em primeiro lugar, não temos essa necessidade", observou Putin, "e, em segundo lugar, o próprio fator de raciocínio sobre esse tema já reduz a possibilidade de reduzir o limite para o uso de armas. Esta é a primeira parte."

O que veio a seguir foi o clássico Putin. "A segunda é que temos mais armas desse tipo [ou seja, armas nucleares táticas] do que os países da Otan. Eles sabem disso e o tempo todo nos convencem a iniciar conversas sobre reduções."

Putin fez uma pausa, antes de dar de ombros e, com um meio sorriso, dizer "Khren Im".

Khren Im é uma gíria russa derivada da palavra "rábano" (khren), portanto, uma tradução literal da frase usada por Putin seria "rábano deles". Mas khren se assemelha muito a um termo mais salgado usado para descrever a genitália masculina e, quando usado dessa maneira, khren Im é entendido como "F*da-se".

"F*da-se, sabe?" Putin disse, para a óbvia alegria da plateia. "Como diz o nosso povo. Porque, nos termos desajeitados da economia, essa é a nossa vantagem competitiva."

O "eles" na referência de rábano feita pelo presidente russo são os Estados Unidos. Duas semanas antes da reação man-in-the-street de Putin, em 2 de junho, o conselheiro de segurança nacional do presidente dos EUA, Joe Biden, Jake Sullivan, discursou em uma conferência organizada pela Associação de Controle de Armas, em Washington, DC. O tema, não surpreendentemente, foi a abordagem do governo ao controle de armas entre EUA e Rússia.

O CASO DO TITAN E AS VÍTIMAS DO CEMITÉRIO DO MAR DO MEDITERRÂNEO

Alberta Marques Fernandes “compara” Titan e migrantes: “É a humanidade que temos”

Alberta Marques Fernandes estabeleceu uma comparação entre a atenção mediática e de socorro que está a ser desenvolvida relativamente ao Titan, o submarino que desapareceu no oceano Atlântico com cinco pessoas no interior enquanto fazia uma expedição ao Titanic, e o drama dos migrantes.

“E quando estes naufragam e desaparecem no mar? Quantos meios são colocados em campo para os salvar?“, questionou a jornalista na legenda de uma fotografia que partilhou no Instagram e na qual é possível ver várias dezenas de migrantes a tentarem salvar-se. “É a humanidade que temos“, acrescentou.

Além de Alberta Marques Fernandes, também Catarina Furtado, por exemplo, utilizou a mesma plataforma da Internet para estabelecer uma comparação semelhante.

Catarina Furtado “compara” Titan e o naufrágio dos 750 migrantes

Catarina Furtado utilizou a rede social Instagram, esta quarta-feira à noite, para partilhar uma imagem na qual surge, de um lado, o episódio relacionado com o Titan, submarino com cinco pessoas no interior que desapareceu quando fazia uma expedição ao Titanic, e o naufrágio de uma embarcação onde seguiam cerca de 750 migrantes em busca de uma vida melhor.

“Cinco homens ricos desaparecidos, uma operação de resgate multimilionária – 750 migrantes desaparecidos, apertar as fronteiras“, lê-se na publicação, ainda que a apresentadora da RTP, que é também embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, não tenha acrescentado qualquer opinião sobre o assunto.

A Televisão

Portugal | OS REPRESENTANTES


Henrique Monteiro | Henricartoon

Portugal | OS MORTOS DE PEDRÓGÃO

Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

Os mortos só valem enquanto estão quentes. Enquanto a memória dos vivos se alimenta de momentos. Enquanto a memória coletiva chora, sofre, se revolta, se indigna. E enquanto a política, no sentido mais cru, que está apegada ao ato da perpetuação do poder dos vivos, sabe que não pode haver lugar para o esquecimento dos mortos.

Mas acontece. Por agenda. Porque o tempo passa. Porque alguém num gabinete se esquece. Porque se faz de conta que se esquece e se invocam outros interesses públicos

É quase tudo compreensível. E é por isso que das 66 vítimas dos trágicos incêndios de 2017 em Pedrógão Grande sobra cada vez mais apenas uma ideia no país, que não queremos ver repetida, e a dor trespassada das famílias reduzida a um memorial sem memória.

É porque falhar e esquecer pode até ser, com esforço, compreensível no mundo dos vivos que não se compreende que o erro não seja reparado com pedidos de desculpas sinceros e imediatos, exceção feita à ministra Ana Abrunhosa, a que se seguiram outros, e que assistamos incrédulos ao escalar da troca de declarações e comunicados entre S. Bento e Belém.

A começar pelo primeiro-ministro, que em vez de tentar melhorar a relação com o presidente da República, que já teve óbvios e públicos melhores dias, marca o tributo às vítimas de Pedrógão Grande e a inauguração ao memorial para o dia 27 de junho, sabendo que Marcelo estará nessa altura em Itália.

A acabar no presidente, que tem experiência suficiente para evitar expor-se a S. Bento e que sabe bem como contornar manifestações públicas de azedume que revelam da política portuguesa justamente a imagem daquilo em que ela se está a transformar.

O que se espera agora, depois de tantas falhas, é que haja sentido de Estado e que as populações e a memória das vítimas estejam acima dos interesses particulares. Não é difícil, pois não?

*Diretor-Geral Editorial

O MUNDO INTEIRO ESTÁ A OLHAR PARA O FUNDO DO MAR

João Pedro Barros, editor online | Expresso (curto)

Bom dia,

Quando se fizer um daqueles programas do Canal História sobre os eventos mais importantes do ano de 2023, não há dúvida de que o caso do submarino/submersível (as opções dividem-se, risque o que não interessar) Titan vai lá estar. É um daqueles acontecimentos que supera a ficção, que apela à superação humana e que nos prende a atenção: assim de repente, encontro paralelos com o resgate dos 33 mineiros no Chile, em 2010, o da equipa de futebol na gruta de Tham Luang, na Tailândia, em 2018, e até mesmo o chamado Milagre dos Andes, em 1972.

Ontem, um avião canadiano detetou sons subaquáticos na zona, o que fez aumentar ligeiramente as esperanças de poder haver um final feliz. Em conferência de imprensa, a Guarda Costeira dos EUA admitiu desconhecer a origem dos sons, mas garantiu que as operações – que decorrem em condições difíceis, com nevoeiro e ondas de mais de três metros – continuam a intensificar-se, com cada vez mais meios em ação. O tempo é que urge: os cálculos apontam para que o oxigénio a bordo se esgote por volta do meio-dia de hoje.

A operação de resgate e as caraterísticas do Titan têm sido dissecadas nos últimos dias – o Expresso conta-lhe o essencial em cinco perguntas e respostas –, mas sobre o que se passou a bordo nada mais pode fazer-se, neste momento, do que especular: o submarino pode estar no fundo do oceano, a flutuar na superfície ou pode ter implodido com a pressão da água. A bordo estão cinco pessoas: o empresário e aventureiro britânico Hamish Harding, o empresário paquistanês Shahzada Dawood e o seu filho Suleman, o mergulhador e ex-comandante da Marinha Francesa Paul-Henry Nargeolet, e Stockton Rush, o piloto e diretor executivo da empresa responsável por estas viagens aos destroços do Titanic, a OceanGate Expeditions.

Cada viagem custa cerca de 227 mil euros e o submarino – que pode ver aqui em três dimensões, num trabalho do “New York Times” – tem uma janela de apenas 53 centímetros de diâmetro para se ver o exterior e um interior exíguo. Esta era a primeira expedição de 18 planeadas para 2023, depois de mergulhos bem-sucedidos em 2021 e 2022. O submarino não é homologado por nenhuma entidade e essa foi uma das preocupações de segurança levantadas por peritos dentro e fora da empresa, de acordo com outro trabalho do jornal norte-americano.

Talvez o fundo do mar possa ser considerado, a par do espaço, como a última fronteira: "Debaixo de água a tecnologia ainda não evoluiu o suficiente", afirmou ontem o comandante da Marinha Batista Pereira, na TVI. A esperança é que, tal como no Chile, na Tailândia e, parcialmente, nos Andes, possa ocorrer uma espécie de milagre.

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