Em carta aberta aos
libertadores da pátria, Alice Mabota, levanta questionamentos importantes que
carecem de resposta. Um deles é: "Vocês todos respondam-me, por favor,
quem foi verdadeiramente o combatente Armando Emilio Guebuza?
Sabem porquê? Samora deixou o país destruído pela guerra, mas tinha moral,
ética, identidade e espírito de unidade nacional. Dizia que lutava pela unidade
de todos mesmo... que tivesse sido em teoria; ele procurava reflectir a moral
do seu povo e ninguém imaginava que o actual presidente estava metido em
negócios. Sabem, no meu tempo, filha de uma prostituta subia para o altar de
véu e grinalda.
JOAQUIM CHISSANO saiu do poder e deixou os cidadãos com alguma moral e
esperança. Que me lembre não deixou muita gente tão descontente como estão os
cidadãos hoje, sem esperança, sem moral, sem dignidade onde cada um só pensa em
roubar para ser rico. Nunca ouvi o povo tão revoltado e sem esperança como está
agora." Vejam o anexo da carta aberta com o título: "Quem me pode
responder estas inquietações?"
Eis a carta: CARTA ABERTA AOS LIBERTADORES DA PÁTRIA -I
Quem me pode responder estas inquietações?
Por: Maria Alice Mabota
Sr. Director!
Peço à V. Excia para que aceite o meu pedido de publicação desta carta no
jornal que sabiamente dirige.
Não sou jovem, pertenço à geração dos da luta armada. Não fui à luta armada
porque nem todos deveríamos lá ir e nem tive condições para o efeito.
Naturalmente, compreendí as razões da luta armada de libertação em 1970 e, a
partir daí apoiei e acreditei no que a falecida Ivete Mboa, na altura, me
dizia.
Entre muitas coisas, ela vincava que lutar para libertar a terra e os homens do
jugo colonial português era uma acção justa, pois o sistema vigente era uma
coisa dolorosa e detestável. Ela comparava o colonialismo a alguém que sofria
de falta de tudo e que viesse à sua casa pedir para ser acolhido e depois se
tornar dono(a) da casa.
Chegou o 25 de Abril de 1974 e, o grupo Massinga, Taurino Migano, Sumbana,
Muthemba e outros juntaram alguns jovens, na altura, para chamá-los à
consciência sobre a luta de libertação e, que o futuro ainda era incerto,
havendo assim a necessidade de se avançar para várias frentes.
A mim, Ana Maria , Guilhermina, Calisto e Milagre Mazuze coube-nos o trabalho
de mobilização na zona sul e, infelizmente, a caminho de Chibuto tivemos um
grande acidente donde saí sem uma única lesão, mas os meus colegas ficaram
feridos. Porém, antes trabalhei na organização das mulheres para a causa da
luta pela formação da nova sociedade, por isso, fui da OMM.
Acreditei e li em livros, dizendo que a Frelimo era um movimento de massas, um
movimento anti-colonialista, anti-capitalista, anti-racista, anti-regionalista,
anti-corrupção de tal sorte que ter amante, na altura, era visto como uma
pessoa corrupta. Nunca na época se vislumbrava a dimensão da actual corrupção,
daí o facto de ter aderido à revolução encabeçada pela Frelimo com maior vigor
por acreditar nos seus ideais.
A avidez por dinheiro era impensável; quanto a mim, o dinheiro, esse sim, era
necessário para a satisfação das necessidades básicas, mas tudo o que era
ambição exagerada era combatido. Talvez o básico mesmo era suficiente, pois com
5.50 (cinco escudos e cinquenta centavos) dava para um litro de gasolina normal
para o meu Volkswagen 1200 que eu tinha e dei boleia a muitos que chegaram da
luta de libertação e que, na altura, nem sabiam comer com faca e garfo na mesa.
Anos depois, apesar da sobrevivência com repolho, farinha amarela e peixe sem
cabeça que nunca cheguei a saber que peixe era, vivíamos moralmente felizes e,
é por isso que aceitávamos ir à machamba do povo, limpar as estradas, ir à
colheita do arroz no Chókwè com Jorge Tembe,na altura, Director do Complexo
Agro-Industrial do Limpopo, ex- colonato do Limpopo.
Mas, deixo para os historiadores o relato das várias etapas por que passou este
país e vamos agora à minha indignação dirigida às senhoras e aos senhores
libertadores da pátria amada:
DEOLINDA GUEZIMANE,
GRAÇA MACHEL,
MARINA PACHINUAPA,
MONICA CHITUPILA,
MARCELINO DOS SANTOS,
JORGE REBELO,
JOAQUIM CHISSANO,
MARIANO MATSINHE,
ALBERTO CHIPANDE,
RAIMUNDO PACHINUAPA,
SERGIO VIEIRA,
JOAO AMÉRICO MPFUMO,
HAMA THAI,
ÓSCAR MONTEIRO,
PASCOAL MOCUMBI,
PADRE FILIPE COUTO,
Vocês todos respondam-me, por favor, quem foi verdadeiramente o combatente
Armando Emilio Guebuza?
Sabem porquê? Samora deixou o país destruído pela guerra, mas tinha moral,
ética, identidade e espírito de unidade nacional. Dizia que lutava pela unidade
de todos mesmo que tivesse sido em teoria; ele procurava reflectir a moral do
seu povo e ninguém imaginava que o actual presidente estava metido em negócios.
Sabem, no meu tempo, filha de uma prostituta subia para o altar de véu e
grinalda.
JOAQUIM CHISSANO saiu do poder e deixou os cidadãos com alguma moral e
esperança. Que me lembre não deixou muita gente tão descontente como estão os
cidadãos hoje, sem esperança, sem moral, sem dignidade onde cada um só pensa em
roubar para ser rico. Nunca ouvi o povo tão revoltado e sem esperança como está
agora.
Ora, vejamos:
A corrupção aumentou sem qualquer plano de acção para o seu combate;
A incompetência dos governantes acentuou-se mais e passamos a ver ministros que
nem sequer sabem o que fazem, não conhecem a casa que governam, os problemas
dos seus pelouros e não medem palavras quando se dirigem aos cidadãos; a
criminalidade aumentou assustadoramente; a sinistralidade está ceifando vidas
diariamente nas estradas; os incêndios jamais vistos ocorrem nesta governação;
o branqueamento de capitais, o tráfico de órgãos humanos, drogas e armas fazem
parte do sistema de uma forma impune.
Os raptos sucedem-se e atingem números que assustam. A comunidade asiática,
apesar de ser composta por moçambicanos com igual direito de protecção, nada é
feito para a acudir. No mínimo o estado deve esclarecer este fenómeno que,
ultimamente, virou crime organizado com impacto social e económico bastante
negativo.
As manifestações de vários segmentos sucedem-se, dia após dia, mas a Polícia de
Intervenção Rápida é, de facto, veloz para descarregar sobre cidadãos no gozo
dos seus direitos. Para não falar de perseguições consequentes desde o emprego
até a casa. Vivemos, sim, momentos de terror e incerteza.
A greve do pessoal da saúde, por duas vezes, sem resposta e que continua
silenciosa. Basta ir para qualquer posto de saúde ou hospital para ver como é
que o povo sofre. A greve sielanciosa na saúde tem efeitos mais nefastos do que
a da rua.
Os médicos, enfermeiros, todo o pessoal da saúde e suas famílias continuam a
sofrer, ameaças, despedimentos, transferências, descontos, processos
disciplinares e humilhações . É para isto que lutaram e pensam que nos
libertaram? Libertaram a terra, mas os homens continuam debaixo do sofrimento.
Os dois levantamentos populares aconteceram e marcaram os dois mandatos de Armando
Guebuza em que as pessoas procuraram demonstrar a sua revolta ante a má
governação. E o governo no lugar de transmitir mensagem de esperança,
distanciou-se cada vez mais, matando inocentes.
Senhoras e Senhores libertadores acima citados e outros esclareçam-me:
Quem foi, afinal, Armando Guebuza, ontem, na luta de libertação que tantos anos
convosco viveu e não o descobriram que é a pessoa com mais espírito de negócios
pessoais, ambição e ganância desmedida. Porquê não descobriram que ele é que
poderia virar o país para o abismo e não somente o Lázaro Nkavandame e Urias
Simango que os textos parciais da Frelimo tanto nos deliciam?
Digam-me minhas senhoras e meus senhores foi para isto que lutaram e tomaram o
poder para num minuto tornar a filha dele a mulher mais rica de Moçambique; não
lutaram por uma sociedade equilibrada e de justiça social?
Eu acreditei no socialismo propalado pela Frelimo, não nisto que estou a ver e
sentir porque é repugnante. Não tolero mais, confesso, publicamente.
Digam-me minhas senhoras e meus senhores porquê e de que medo têm de o
enfrentar e lhe dizerem que esta não é a Frelimo que nós construímos em Junho
de 1962? O que vos prende a ele ao ponto de engolir tudo isto? O povo está a
sofrer e vocês são cúmplices do sofrimento do povo. A história julgará-vos-à
por este silêncio do que pelos crimes que cometeram durante a luta armada de
libertação. Porque durante a luta de Libertação todos estávamos convencidos que
o colono é que era o nosso inimigo e todo aquele que a ele se aliasse ou
tivesse suas atitudes era contra nós. E hoje, porquê o cidadão que já foi amado
maltrata o seu povo; persegue-o. Traz exploradores piores que os colonos, pois
não sabemos o que irão deixar quando saírem deste solo pátrio onde o colono nos
deixou com a terra, os recursos naturais e casas onde hoje habitamos e,
arrendamos por dólares sem termos construído.
Sabem, senhoras e senhores libertadores, esta indignação não é só minha é de
muitos outros cidadãos e, se não saiem à rua têm medo da FIR que implantaram
para maltratarem o povo que vocês lhe tiraram do colonialismo para pessoalmente
maltratarem. Nas casas, nas ruas, nas festas e nos “chapas” toda, mas toda a
gente só fala da má governação de Guebuza; escutem o jovem que canta a má
governação dele, mesmo os que se encontram no poder dizem que o povo tem razão
mas que fazer, temos filhos por sustentar e educar; dizem basta ver como ele
exonera os seus quadros é humilhante nem parece que merecem dignidade. Eles
bajulam, dizendo falem vocês, nós o que queremos é garantir o pão.
O Senhor Joaquim Alberto Chissano na última campanha nas instalações da EMOSE
afirmou categoricamente que confia no Guebuza porque o que ele promete cumpre.
Recorda-se? Então posso assumir que toda a trama que ele faz é do seu conhecimento
e consentimento é assim que combinaram que quando libertarem a terra quem não
foi à luta e as outras gerações vão passar mal. Vão nos fazer comer o pão que o
diabo amassou e vocês outros senhoras e senhores? Recorda-se que eu,
peremptoriamente, lhe afiancei que não iria votar em vós.
Significa isto que nós também deveremos ir à luta para nos libertarmos de
vocês?
Porquê quando o saudoso Samora vos aconselhava a não lhe entregarem o poder o
chamaram de louco ou alucinado? Desvendam-nos o porquê ele dizia isso .
Senhora Graça Machel:
Como consegues viver, conviver e fazer negócios com esta pessoa que o seu
marido dizia abertamente o que representava para o povo? Que consciência pesa
sobre si esposa que preserva o nome de uma pessoa que aos olhos do povo era são
a conviver e fazer negócios com quem o seu marido não aceitaria fazer. Para
Samora vale mais o povo do que o dinheiro e para si vale mais dinheiro do que o
Povo. Me responda.
Sabem senhoras e senhores libertadores a escritora e poetiza Noémia de Sousa já
dizia que a Africa é mítica.
Sabem porquê? Por causa dos seus mistérios em todas as suas dimensões. Kadafi
domou o seu povo, era o mais rico que tinha até uma pistola de ouro os seus
cidadãos até tinham casas, comida, enfim o básico, mas como morreu? Porque o
povo não tinha liberdades que nasceram com eles os direitos fundamentais, pois
a liberdade de pensamento, de manifestação e de reunião é extremamente
fundamental para que o individuo viva em paz sem falar por dentro que um dia
explode e a explosão, regra geral, mata.
O povo na sua maioria tem saudades de Mondlane que não o conheceu só vocês o
conheceram e conheceram os seus feitos; o povo na sua maioria tem saudades de
Samora e o povo na sua quase totalidade tem saudades de Joaquim Chissano e perguntam
de que medo tem de levar o poder ao Guebuza para pararmos de sofrer. Quem mais
terá saudades de Guebuza? A esperança dos cidadãos até crianças é que depressa
chegue Novembro de 2014 para se ver livre de Guebuza e sua família.
Os críticos vão-me crucificar por esta carta mas eu não vivo para os críticos
com interesses, vivo com e para o povo que sofre. Só me vai sacrificar quem com
Guebuza desfruta o sabor da libertação. Que o digam os madjermanes; os
desmobilizados de Guerra; os antigos combatetes escorraçados das suas
habitações; os sofridos médicos e enfermeiros; os expoliados das suas terras a
favor da Vale, Pro-Savana, Petroleiros, Gaseiros, Chineses e Brasileiros
exploradores, sem dó nem piedade.
Os militares entregues a guerras sem necessidades de novos confrontos, sim essa
é herança do Chissano mas ele sabia gerir, não havia rixas. Quem sabem, ele
tivesse, neste momento, resolvido tal como soube parar com a guerra dos 16
anos. Sim, ele era diplomata e com calma resolvia os problemas dos cidadãos em
momento certo.
Hoje, o espírito do deixa andar virou “xipoko” de roubar os impostos dos
cidadãos, “xipoko” do tráfico de drogas e armas , “xipoko” da alta
criminalidade, “xipoko” da falsidade dos funcionários públicos. Diariamente só
se vê nos jornais funcionários a roubarem dinheiro do povo para não falar dos
barões que sacam os cofres do estado para se tornarem ricos de Moçambique a
partir do nada.
Acredito que o povo pobre e os cidadãos ricos e honestos vão apoiar esta minha
inquietação.
QUEM FOI, QUEM É, O QUE PRETENDE E ONDE QUER CHEGAR O CIDADÃO ARMANDO EMILIO
GUEBUZA? Respondam-me senhores libertadores da terra e, vamos friamente
analisar a sua governação. Caso seja possível ele interiorizar e corrigir a sua
forma de actuação, gostaria de lhe ver a sair do poder pela porta da frente e
deixar saudades neste um ano que lhe falta.
Desde a Constituiçao de 1990 até a de 2004 que gozo da liberdade de expressão e
de pensamento e, é por isso que escrevo e continuarei a escrever como uma
cidadã deste país e não em representação de nenhum grupo ou agenda.
Esperando continuar com vida após esta indignação, despeço-me com a promessa de
voltar.
Maputo, Setembro de 2013
O PAÍS - 18.09.2013
Extraído de
Moçambique Para Todos