domingo, 1 de abril de 2012

BRASIL ENDURECE REGRAS PARA ENTRADA DE ESPANHÓIS




Oficialmente, a medida é um exercício de "reciprocidade", mas acontece após casos de brasileiros barrados ao tentarem entrar na Espanha. Para distender relações, Brasil e Espanha iniciaram uma fase de diálogo.

As novas regras passam a valer a partir desta segunda-feira (02/04) e têm como objetivo tornar mais rígida a seleção dos espanhóis que podem entrar no Brasil. A partir de agora, turistas espanhóis terão, entre outras exigências, que comprovar bilhete de ida e volta, o mínimo de 170 reais por dia de permanência e comprovação da reserva do hotel ou carta-convite do anfitrião, caso o viajante fique em casa particular.

Assim, o Brasil se aproxima da Espanha no nível de exigência para entrada de brasileiros. Na última segunda-feira (26/03), representantes das chancelarias dos dois países reuniram-se em São Paulo. Segundo informações repassadas à DW Brasil pela assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores, a reunião foi considerada positiva. "Eles [a Espanha] agora também vão facilitar a liberação", afirmou a fonte da assessoria.

Para o Itamaraty, houve um "avanço na posição negociadora", já que antes "não se observava essa possibilidade de dialogar". Este "avanço", portanto, pode ser uma indicação de um reconhecimento, por parte do governo espanhol, do exagero no número de rejeitados e no tratamento daqueles detidos para questionamentos.

De agora em diante, os dois países pretendem manter o diálogo aberto, com possibilidade de novas reuniões dentro de um ou dois meses. O que o Brasil busca, segundo o Itamaraty, são "critérios transparentes de ingresso".

Segundo fontes diplomáticas espanholas ouvidas pela DW Brasil, o governo da Espanha considera que as novas regras não vão prejudicar o fluxo de espanhóis, uma vez que atingem apenas turistas. Há, também do lado espanhol, uma expectativa de maior abertura para o diálogo.

Em comunicado publicado no site da Embaixada da Espanha no Brasil, o governo do país europeu reafirma que brasileiros não precisam de visto, mas que devem se submeter às exigências europeias, não exclusivas da Espanha. "Os critérios de admissão de cidadãos estrangeiros na Espanha não são competência do governo espanhol, mas sim dos Estados signatários do Acordo Schengen, que estabeleceram requisitos em comum para que os estrangeiros entrem no território dos Estados que fazem parte do mesmo", diz o comunicado.

Números em queda

Segundo dados do Itamaraty, desde 2007 – ano em que novas regras de entrada passaram a ser adotadas – o número de brasileiros barrados vem diminuindo. Em 2007, foram mais de 3 mil e, no ano passado, o número de brasileiros com entrada rejeitada totalizou 1.412.

Com a quantidade de casos de rejeição, brasileiros passaram a agir com mais cautela para evitarem problemas. Mariana Santos saiu de São Paulo rumo a Madri no início do mês de março para passar férias na Europa. Sabendo dos casos de longas horas de entrevista ou de amigos e conhecidos barrados, ela decidiu se precaver.

"Eu já sabia do problema diplomático, mas não sabia que era tão intenso. Depois que comprei as passagens, comecei a conversar com as pessoas. Foi aí que percebi que poderia ser complicado", contou Mariana em conversa com a DW Brasil.
Na Espanha, Mariana planejava encontrar uma amiga que faz doutorado e não queria correr riscos. "Não deixei brecha: levei o dinheiro, seguro saúde, cartas-convite". Além das exigências básicas, Mariana foi além e decidiu pedir para a amiga um documento que comprova sua residência na Espanha. Além disso, ela também pediu que seu chefe no Brasil preparasse uma carta dizendo que ela tem emprego fixo. "É uma situação complicada, há muito terrorismo em volta e conheço várias pessoas que têm histórias complicadas para contar", conta. Segundo ela, o Brasil tem razão em adotar medidas mais rígidas.

Princípio da reciprocidade

Um caso recente de grande repercussão no país aconteceu no início do mês de março. O governo brasileiro foi acionado para pedir explicações sobre a detenção, por mais de três dias, no aeroporto de Madri, da aposentada Dionísia Rosa da Silva, de 77 anos. Ela foi ao país visitar a neta, mas não conseguiu liberação.

O governo brasileiro chegou a pedir explicações ao governo espanhol sobre esse e outras alegações de maus-tratos. Ao comentar o caso, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Tovar Nunes, disse à Agência Brasil que a permissão de entrada e concessão de visto é um ato de soberania, mas os direitos dos cidadãos devem ser respeitados nesse processo. "Estamos indagando sobre o que realmente aconteceu, porque achamos que uma senhora com a idade que tem e com o desejo legítimo de ingressar no país não merecia um tratamento como o que pareceu ter recebido", disse Tovar Nunes.

As novas regras para a entrada de espanhóis no Brasil, segundo o Ministério, não são retaliação, mas um exercício do princípio da reciprocidade. Tovar Nunes explicou a decisão: "Tentamos, por um bom tempo, aliviar os requisitos para a entrada de brasileiros [na Espanha]. Mas não foi possível. Eles mantiveram [a decisão]. Não houve muita alternativa ao Brasil se não aplicar esses requisitos de maneira semelhante. Apesar da retomada do diálogo entre os dois países na última semana, a aplicação das novas regras está mantida.

Autora: Ericka de Sá - Revisão: Roselaine Wandscheer

Se Sócrates lambia as botas a Chavez, o que faz Passos Coelho a Eduardo dos Santos?




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O eurodeputado do CDS-PP, José Ribeiro e Castro, acusou no dia 23 de Outubro de 2008 o então primeiro-ministro português, José Sócrates, de ser "lambe-botas" do presidente venezuelano Hugo Chavez e de prosseguir uma "política externa de cócoras".

Não teria ficado mal, continua a não ficar mal, até porque corresponde à verdade, que tivesse também acrescentado – entre outros – o presidente de Angola e do MPLA, José Eduardo dos Santos, o tal que está há 32 anos no poder sem nunca ter sido eleito.

Durante o debate sobre "perseguições políticas na Venezuela" no Parlamento Europeu, Estrasburgo, Ribeiro e Castro lamentou ainda que "Portugal esteja a ser transformado na sala de visitas do tirano".

Tirano por tirano, eu gosto mais de ver em Portugal o dono de Angola, mas este tem outras salas de visita que lhe dão igualmente cobertura, mesmo no âmbito dessa coisa que dá pelo nome de Comunidade de Países de Língua Portuguesa. É o caso do Brasil.

Na altura e de acordo com o seu gabinete em Estrasburgo, Ribeiro e Castro considerou fundamental que a Europa adopte uma resposta mais clara e eficaz e não mostre "indiferença, senão cumplicidade", diante de situações em que "listas de nomes de opositores ao regime de Hugo Chavez têm sido usadas para impedir candidaturas às eleições regionais" e municipais.

Já agora, meu caro Ribeiro e Castro, não seria mau que de vez em quando fosse olhando para aquele território a norte de Angola que, como sabe, está ocupado pelos norte-americanos e pelos angolanos e que dá pelo nome de Cabinda.

De vez em quando olhar para Cabinda já não seria mau. Sem esquecer, obviamente, a Venezuela.

Em Fevereiro de 2009, Ana Gomes e José Ribeiro e Castro integraram um grupo de deputados europeus que lançou, em Bruxelas, através de uma página da Internet, uma petição para lutar contra a corrupção.

A petição instava a Comissão Europeia e os Estados-membros da União Europeia a propor legislação e mecanismos de combate à corrupção, em particular nas relações com países em vias de desenvolvimento.

Confesso que me veio logo à cabeça o regime do MPLA que, como poucos se lembram, dirige os destinos de Angola desde 1975, e cujo chefe máximo (do partido e da República) tem um outro reino, desta vez nas ocidentais praias lusitanas a norte – embora cada vez mais a sul – de Marrocos.

Segundo este grupo de eurodeputados, a corrupção ao mais alto nível "reduz a capacidade de muitos estados para garantir serviços básicos às suas populações", como o direito à alimentação, habitação, saúde e educação. Se calhar, digo eu, é por isso que perto de 70% de angolanos passa fome.

Em África, por exemplo, os Estados perdem anualmente cerca de 25 por cento do Produto Interno Bruto devido à corrupção, foi sublinhado no comunicado de imprensa que anunciava a iniciativa.

Que eu saiba, o grupo não falava que para haver corrupção tem de haver quem corrompa e quem seja corrumpido. Ou não será? Adiante.

A petição pretendia recolher as assinaturas de um milhão de cidadãos dos 27 para "obrigar as autoridades europeias a tomar medidas contra a corrupção", segundo Ana Gomes.

A eurodeputada explicou na altura em declarações à Agência Lusa que principalmente os países em desenvolvimento perdem somas enormes de dinheiro que é investido na Europa.

Os deputados europeus que promoveram a petição gostariam que a sua iniciativa levasse a que fluxos financeiros duvidosos passassem a ser analisados. Era bom, era.

Por seu lado, Ribeiro e Castro lembrava as questões de "moralidade e legalidade" e, principalmente, os "prejuízos para o bem-estar dos povos" que recebem apoios dos 27 que são desviados para outros fins.

Fins onde, se calhar, aparecem os que contribuíram com esses apoios. Ou não será?

Um grupo de pelo menos um milhão de europeus pode obrigar a Comissão Europeia a estudar e apresentar propostas legislativas relacionadas com determinada matéria.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: EM PORTUGAL SÓ ALGUMAS MOSCAS MUDARAM

Portugal - Greve geral: MAI recebe segunda-feira relatório sobre incidentes no Chiado



TSF

O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, anunciou hoje que o relatório do processo de averiguações aos incidentes de 22 de março, lhe será entregue esta segunda-feira.

«Tanto quanto estou informado, o relatório da averiguação vai-me ser entregue amanhã [segunda-feira]», afirmou Miguel Macedo adiantando que o processo «vai ter conclusões e propostas».

«Sobre elas, eu vou ter de tomar uma posição», acrescentou.

Recorde-se que na tarde de 22 de março, em dia de greve geral convocada pela CGTP, a Polícia de Segurança Pública (PSP) e várias pessoas ligadas à plataforma 15 de Outubro envolveram-se em confrontos junto ao Largo do Chiado, em plena baixa lisboeta.

Depois de vários manifestantes terem arremessado objetos contra agentes e da esplanada do café A Brasileira ter sido praticamente destruída, a PSP reforçou a sua presença com elementos das Equipas de Intervenção Rápida (EIR) e do Corpo de Intervenção.


A Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) abriu um processo de averiguações, estando «previsto» que o respetivo relatório seja entregue esta segunda-feira ao ministro Miguel Macedo.

«Este não vai ser um daqueles casos em que se manda averiguar no país e depois nunca há conclusões», garantiu o ministro, frisando que este caso «não vai ficar escondido, para nunca mais ver a luz do sol», antes «é para ver, sem problema nenhum».

«É assim que deve ser em democracia», rematou Miguel Macedo.

Opinião Página Global

Começando pelo fim. Remata o ministro da polícia: “É assim que deve ser em democracia”. Se não fosse triste dava para rir a bandeiras despregadas e rebolarmo-nos no chão de gozo. Estes sujeitos enchem a bocarra com a palavra democracia e não mais que isso. Grave ainda porque julgam estar a falar para deficientes mentais, para quem não recorda e sabe que de democracia este sistema já tem muito pouco e ainda que, neste caso, causa do pseudo relatório (quem pode acreditar num Bando de Mentirosos?), nada provará que seja credivel.

Como pode ser credível se ao ser este apresentado nunca mais vimos os resultados do inquérito dito, pelo PGR, vir a ser eleborado para apurar sobre os acontecimentos em São Bento, junto à Assembleia da República, quando da anterior greve geral em que a UGT também participou? Porque escondem os resultados e porque não mostram com honestidade que a PSP infiltra nas manifestações agitadores arruaceiros para causarem o caos e servirem de desculpa para as intervenções dos agentes selvagens ao serviço da repressão proporcionada por Passos e seus seguidores. Aliás, tradições do PSD quando é governo, como com Cavaco PM – nesse até balas atingiram portugueses.

Pois que venha o relatório anunciado pelo ministro da polícia. É amanhã? Segunda-feira, 2 de Abril? Que pena não ter sido hoje, dia 1. Hoje, um dia apropriado. Dia das Mentiras. É que assim sempre haveria por base uma desculpa alusiva ao dia… Gato escaldado de água fria tem medo, diz o adágio. Pudera. São um bando de mentirosos! (Redação PG – AV)

Portugal: Jovens desfilaram a sua indignação contra a precariedade laboral



TSF - ontem

Da Rua do Carmo ao Largo Camões, centenas de jovens manifestaram, esta tarde, a sua indignação contra o desemprego e a precariedade que os afeta, munidos de bandeiras, faixas e cartazes e gritando em uníssono palavras de ordem a exigir políticas diferentes.

Pouco passava das 15h00 quando os jovens manifestantes, que responderam positivamente à convocatória da CGTP - interjovem, começaram a subir a Rua do Carmo em direção ao Chiado, numa coluna organizada, pontuada por bandeiras, cartazes e faixas, algumas a denunciar a adesão de manifestantes com outras reivindicações, como foi o caso dos trabalhadores do setor da restauração.

À entrada para a Rua Garrett tinham à sua espera Jerónimo de Sousa, que aplaudiu a sua passagem e foi cumprimentando de sorriso na cara, apesar da chuva que começou a cair na altura, alguns manifestantes que a ele se dirigiram.

Acompanhados de perto pela PSP, depois dos incidentes que marcaram a manifestação no Chiado na última greve geral, o protesto de hoje foi obrigado a um percurso que se desviava da zona das esplanadas, e a contornar o Largo do Chiado para depois seguir em direção ao Largo Camões, onde o desfile terminava e os esperava Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, para uma intervenção.

Turistas e portugueses viram passar os manifestantes, num misto de indiferença e expetativa. Enquanto uns saboreavam o café, outros alinhavam-se lado a lado com máquinas fotográficas e telemóveis a postos para registar a manifestação, atentamente vigiada por agentes da PSP.

A manifestação terminou sem registo de qualquer incidente.

O protesto foi convocado pela CGTP - interjovem contra a exploração, precariedade e o desemprego.

Presidente da Anafre agradeceu aos "mais de 200 mil portugueses" que se manifestaram



i online – Lusa - ontem

O presidente da Associação Nacional de Freguesias (Anafre) Armando Vieira esteve no Rossio, em Lisboa, a agradecer ao "mais de 200 mil portugueses" que se manifestaram hoje em defesa das freguesias.

No seu discurso, proferido enquanto ainda estavam manifestantes a descerem a avenida da Liberdade, o dirigente afirmou que "a causa primeira é a da gente com rosto".

"São os que nos estendem a mão que apertamos, os que nos contam os seus problemas, que partilhamos e gente anónima para outros, mas a quem chamamos pelos nomes", disse.

Armando Vieira garantiu que o caminho a seguir "não é por ali" numa alusão à reforma que o Governo quer seguir, que passa por reduzir o número de freguesias existentes.

A Anafre garante ter consciência que já levou a sua mensagem a todos os responsáveis e decisores do país e que esta reforma deve ser promovida com as freguesias.

Sobre a manifestação de hoje, que segundo a organização juntou na capital cerca de 200 mil pessoas, caracterizou-a como "grande afirmação" cultural, etnográfica, demonstrativas das raízes, da riqueza e da representatividade das freguesias".

Entre gritos "Portugal, Portugal", Armando vieira concluiu que a manifestação foi, acima de tudo, "uma grande lição de força e humildade".

Milhares de pessoas a caminho do Marquês de Pombal para "manifestação das freguesias"

"O coveiro das freguesias" e "Relvas é piegas" são algumas das frases escritas em cartazes transportados pelos milhares de pessoas que se encaminham para o Marquês de Pombal, em Lisboa, em protesto contra a extinção de freguesias.

Hoje, Lisboa é verdadeiramente a capital do país ao acolher grupos folclóricos, fanfarras e 'Zés Pereiras' vindos de norte a sul de Portugal numa manifestação que pretende convencer os partidos com assento parlamentar a voltarem atrás quanto à fusão de freguesias.

Entre bandeiras das suas freguesias, os manifestantes também usam bonés e camisolas, muitas delas pretas, numa alusão ao luto pelo fim das freguesias.

A música ambiente também é uma mostra das tradições populares portuguesas e faz-se ouvir com bombos, gaitas-de-foles e outros instrumentos que viajaram até Lisboa ao longo de várias horas e ainda mais quilómetros.

O protesto é organizado pela Associação Nacional de Freguesias (Anafre) e realiza-se um dia depois de o grupo parlamentar do PSD ter apresentado uma proposta à Anafre segundo a qual os municípios podem fundir menos 20% das freguesias em relação aos critérios definidos inicialmente na reforma administrativa, que previa a agregação de 1.000 a 1.500 destas autarquias.


O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considerou hoje uma "resposta espantosa" do povo português de "condenação" ao Governo a "grande manifestação" contra a reorganização das freguesias que está a decorrer em Lisboa.


O líder do BE considera que a manifestação contra a reorganização das freguesias, em Lisboa, é uma "moção de censura" ao Governo e à 'troika' e reiterou o "empenho" do Bloco "contra a destruição do mapa do país".

Angola: RAMO JUDICIAL CONTINUA FRÁGIL



Arão Ndipa, Luanda - VOA

Analistas referiram à VOA que o poder judicial continua a sofrer atropelos por parte do poder executivo.

A independência do poder judicial em Angola tem sido atropelada pela influência do poder executivo que vigora no país, afirmaram à “Voz da América” analistas ligados ao sector jurídico.

Durante o percurso de dez anos de paz que Angola vai comemorar no próximo dia 4 de Abril falamos com juristas acerca dos avanços e recuos observados neste período.

Os atropelos à lei orgânica dos magistrados judiciais, a lentidão que se observa no processo da reforma judicial e a falta de tribunais suficientes, são apontados como sendo os principais desafios que se colocam às autoridades.

Analistas de questões jurídicas reconhecem no entanto que muito tem sido feito para devolver à justiça angolana o seu verdadeiro papel como resultado dos benefícios da paz.

Consideram por outro lado que Angola tem sido fértil em termos de produção legislativa mas constatam que a distância entre a teoria e a prática tem sido bastante abismal.

O repórter Arão Ndipa conversou com António Ventura, Presidente da Associação, Justiça, Paz e Democracia (AJPD) Domingos José, jurista e activista cívico.

Domingos José declarou nomeadamente à VOA que, na sua opinião, o sector da justiça em Angola é aquele que menos investimentos registou desde o alcance da paz.

Angola: VANDALIZADA VIATURA DO ATIVISTA DAVID MENDES



Alexandre Neto, Luanda - VOA

Esta não é a primeira vez que este género de acontecimentos têm lugar

A viatura do conhecido Advogado David Mendes foi vandalizada na cidade de Benguela.O presidente do PP-Partido Popular, encontra-se naquela província no âmbito das actividades político-partidárias que tem levado a cabo.

Pouco antes do sucedido tinha-se reunido com os seus partidários, para fazer o balanço sobre o processo de recolha de assinaturas para sustentar a inscrição do PP junto do tribunal Constitucional,tendo em vista a participação nas próximas eleições.

Contou a Voz da América que ao anoitecer, decidiu tomar o jantar, recorrendo para o efeito a um conhecido lugar da cidade, qundo um grupo de indivíduos se acercou da sua viatura e estilharçaram o vidro traseiro.

David Mendes disse que alguns elementos da segurança industrial, presentes próximo do local, preferiram nada fazer,o que - na interpretação dele - é sinal de que os actores são pessoas bem conhecidas.

Aquele político e advogado disse ter levado ao conhecimento da polícia que fez deslocar para o local uma equipa da Investigação Criminal.

Esta não é a primeira vez que este género de acontecimentos têm lugar.Na semana passada indivíduos não identificados dispararam tiros de metralhadora contra a sede da Associação Mãos livres. Não houve vítimas.

No ano passado foi queimada uma viatura na cidade do Huambo, pertencente a Associação Mãos Livres.
Seguiram-se outros ataques em Luanda, contra três viaturas diferentes, todas elas pertencentes a organização, ou entidades que para ela trabalhavam.

Todas estas ocorrências foram levadas ao conhecimento das autoridades policiais.
Nenhum dos casos foi esclarecido até ao momento, reforçando suspeições sobre a cumplicidade do órgão de ordem pública.

O presidente do PP-Partido Popular julga que todas estas acções têm por propósito fazê-lo desistir da sua intervenção pública.No ano passado, levou queixa à Procuradoria Geral da República, contra quatro figuras titulares de cargos públicos, incluindo o presidente José Eduardo dos Santos, por supostos actos de desvios de fundos para bancos no estrangeiro.

Sobre os acontecimentos deste sábado, a VOA tentou por todos os meios, mas sem sucesso, uma reacção da polícia local.

Angola: JOVEM CONTA COMO FOI TORTURADO PELA POLÍCIA




Luanda - O vídeo foi gravado há exatamente 15 dias. O jovem Joaquim Andrade Manuel tinha sido posto em liberdade (sem nunca lhe ter sido dada voz de prisão, sem nunca ter pendido sobre si qualquer acusação) com os seus dois camaradas há apenas 3 dias.

Ele contou-nos detalhadamente o horror que viveu nas mãos dos seus carrascos, entre policiais à paisana e fardados, todos a trabalhar juntos. Espancados, primeiro por serem “dissidentes da história única” e ousarem tornar públicas as suas posições, depois por encorajamento da própria população, depois, quiçá, para aprenderem definitivamente uma “lição” e regressarem às suas casas traumatizados, dissuadindo os outros de voltar a participar em manifestações, ainda que legais, ainda que legítimas.

"Nós não temos acesso à TPA, não nos pedem a nossa versão no JA e na RNA, já nem na Ecclésia e na Despertar somos tão benvindos, mas temos o dever e a responsabilidade de tornar públicos os nossos relatos, por mais limitados que sejam os meios ao nosso dispor para fazê-lo, pois esta, é a única maneira de dar a nossa versão, de vocês poderem comparar os dois lados e tirar as vossas conclusões, esta é a nossa maneira de nos defendermos", contou

Fonte: CentralAngola2311.net

EM PORTUGAL SÓ ALGUMAS MOSCAS MUDARAM



Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

Com as últimas eleições em Portugal as moscas mudaram, democraticamente, de posição mas o resto manteve-se. O que pensarão hoje os partidos lusos (se é que pensam) sobre Angola?

No dia 10 de Março de 2009, PS, PSD, CDS-PP e PCP enalteceram os esforços do Presidente (não eleito e há 32 anos no cargo) angolano, José Eduardo dos Santos, na consolidação da democracia (que se calhar até gostariam de ver transplantada para Portugal), e congratularam-se com o aprofundamento das relações entre Portugal e Angola. Hoje diriam a mesma coisa.

As relações são mais e quase exclusivamente entre Portugal e o MPLA, entre Portugal e família dona de Angola (clã Eduardo dos Santos). Mas isso é, obviamente, irrelevante deste que ajude a atestar os bolsos dos políticos e empresários portugueses.

Democracia angolana, digo eu, deve ser aquela coisa a propósito da qual Ana Gomes, então membro da missão de observação eleitoral da União Europeia nas segundas eleições multipartidárias, disse:

“São legítimas as dúvidas que foram levantadas por partidos políticos e organizações da sociedade civil sobre a votação em Luanda”; “Posso apenas dizer que a desorganização foi bem organizada”; “À última da hora, foram credenciados 500 observadores por organizações que se sabe serem muito próximas do MPLA”; “Parece que alguém não quis que as eleições fossem observadas por pessoas independentes”; “As eleições em Luanda decorreram sem a presença de cadernos eleitorais nas assembleias de voto e isso não pode ser apenas desorganização...”

Nessa altura, o Bloco de Esquerda acabou por ficar isolado nas críticas à “falta de democracia” em Angola, com os restantes partidos a valorizarem os esforços do Presidente angolano para a paz e para a democracia, só faltando a indicação de que Eduardo dos Santos deveria ser proposto por Portugal (sê-lo-á um dia destes) para o Nobel da Paz.

Por alguma razão o Jornal de Angola (órgão oficial do regime) escrevia recentemente: “Os media portugueses pelo menos deviam reconhecer o que José Eduardo dos Santos tem feito para que os portugueses não vão ao fundo com a crise. Eles mais do que ninguém deviam propor o seu nome para Prémio Nobel da Paz”.

É natural. Percebo que (com excepção do BE) PSD, PS e até o CDS queiram ser donos da verdade e que, por isso, se identificam com todos aqueles que são donos, estejam onde estiverem.

Quanto ao PCP, continua igual a si mesmo, ou não fosse um dos pais do MPLA, ou não fosse o principal responsável pelo facto do MPLA estar no poder em Angola desde 1975.

Em relação ao CDS, já lá vai e está mais do que enterrado o partido que Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Lucas Pires, Manuel Monteiro ou até mesmo Ribeiro e Castro ajudaram a singrar.

Em declarações aos jornalistas, o deputado do BE João Semedo criticou na altura a “perseguição política, violação dos direitos humanos e de liberdade de imprensa” em Angola, sublinhando que aquele país tem “o mesmo presidente da República há 30 anos”.

Mas tudo isto, e o muito mais que se vai sabendo, é claro, nada significa se comparado com os dólares da Sonangol. Tão simples quanto isso.

Quanto ao resto, enquanto a Sonangol, MPLA, José Eduardo dos Santos e os seus comparsas portugueses deixarem, o Alto Hama continuará a dizer que:

- No ranking da corrupção divulgado pela Transparência Internacional, Portugal aparecia o ano passado na 32ª posição, Cabo verde na 47ª, Brasil na 80ª, São Tomé e Príncipe na 121ª, Moçambique na 126ª, Timor-Leste na 145ª, Guiné-Bissau na 158ª tal como Angola.

- Em Angola, mais de 68% da população vive em pobreza extrema e a taxa estimada de analfabetismo é de 58%.

- Em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.

- Em Angola, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

- Em Angola, a corrupção política e económica é, hoje como ontem, utilizada contra todos os que querem ser livres.

- Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: VILANAGEM DOS SENHORES IMPOLUTOS

AFINAL NÃO FALTA DINHEIRO




Rui Moreira – Jornal de Notícias, opinião

Soube-se nesta semana que o Grupo José de Mello e a Arcus, que já detêm 53,6 por cento do capital da Brisa, irão lançar uma Oferta Pública de Aquisição sobre a totalidade das ações da sociedade. De acordo com o comunicado do Grupo Mello, a OPA assenta numa visão comum e de longo prazo sobre a empresa e o setor, visa o reforço da estabilidade acionista da Brisa e representa um investimento total de 700 milhões de euros.

O ministro da Economia revelou o seu contentamento por esta operação demonstrar que os grupos económicos acreditam no desenvolvimento do país. Santos Pereira tem razão para se congratular com esse facto, tanto mais que a Brisa é uma empresa cujas receitas variam, em larga medida, em função do tráfego rodoviário que, em Portugal, tem estado em queda, o que tem tido repercussão nos seus resultados. Se, apesar disso, há investidores credíveis disponíveis para pagar 13% mais do que a cotação atual do mercado bolsista, é porque acreditam na economia doméstica.

Para que fique claro, é razoável que o Grupo Mello faça as suas opções, como é boa notícia saber que um grande grupo económico português está disponível para investir em Portugal, aumentando a sua participação numa empresa de referência do PSI20.

Restava, ainda assim, uma questão: numa altura em que a economia se debate com falta de liquidez, como é possível realizar esta operação, tanto mais que a Brisa é uma empresa também ela afetada pelos ratings da República, o que dificulta o acesso à Banca estrangeira para esta operação? Vasco Mello esclareceu que o grupo não terá de alienar ativos, na medida em que tem garantido o financiamento, em dois terços por dívida e em um terço por capitais próprios, ficando a saber-se que esta operação será feita pela Banca portuguesa, mais exatamente pela Caixa Geral de Depósitos, pelo Millenium e pelo Banco Espírito Santo.

Não deixa de causar estranheza que os bancos Millennium e Espírito Santo estejam interessados nessa operação, na medida em que um investimento numa empresa cujo "core business" está no setor "não transacionável" doméstico comporta grandes riscos, designadamente numa altura em que o mercado interno está em recessão, mas essa é uma decisão do âmbito privado que só os bancos em causa podem avaliar. O mesmo não se pode dizer, no entanto, da Caixa Geral de Depósitos que, pertencendo ao Estado português, deveria orientar os seus critérios por outros fatores, e com outra ponderação.

Ora, numa altura em que tantas empresas exportadoras não conseguem acesso ao crédito, seja para investir na produção seja para garantir a sua liquidez, não é fácil compreender por que razão uma grande grupo económico como é o caso do Grupo Mello, que tem níveis de endividamento muito elevados à Banca portuguesa, consegue ainda assim captar estes recursos escassos da nossa Banca e, em particular, da Banca pública. Não se podendo contestar a avaliação de risco que terá sido feita de acordo com parâmetros razoáveis, e não sendo possível questionar a razoabilidade da operação sob o ponto de vista estritamente privado, fica por saber se é do interesse público que o Estado português se esforce por injetar liquidez na Banca, para que esta a utilize, depois, em operações desta natureza, para retirar uma empresa do PSI20 e, por essa via, diminuir o investimento estrangeiro em Portugal.

Do que não restam dúvidas é que a Caixa Geral de Depósitos, que deveria ter sempre presente o interesse público e atuar de acordo com a política macroeconómica do Governo, está mais interessada nesta operação do que em dispersar liquidez pela economia e financiar as empresas portuguesas que produzem bens e serviços transacionáveis. Este é, sem sombra de dúvida, o aspeto negativo desta operação, porque demonstra que não há uma sintonia entre a política do Governo e as decisões desta sua empresa. E, se assim é, pode colocar-se a velha questão de fundo: precisaremos nós de um banco público?


Portugal: Há doentes com cancro a deixar de se tratar por dificuldades económicas




Restrições ao transporte de doentes dificultam acesso a tratamentos

Graça Barbosa Ribeiro -  Público

O presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos, Jorge Espírito Santo, diz, em declarações ao PÚBLICO, que lhe têm chegado "informações, sem carácter oficial, de que há doentes com cancro a faltar a consultas e a tratamentos de rádio e de quimioterapia, devido a dificuldades económicas".

Carlos Oliveira, presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), confirma que uma parte dos 2,6 milhões de euros gastos em 2011 na "humanização do apoio ao doente" foram aplicados no pagamento de transporte. Ambos se dizem preocupados. O primeiro pede razoabilidade e bom senso na aplicação das leis; o segundo solicita apoio, em dinheiro, à população.

Há cerca de meio ano, quando foi internado em Coimbra para mais uma sessão de quimioterapia, Luís Cardona, de 46 anos, residente na Covilhã, descobriu que não teria como regressar a casa. Depois do tratamento, que por ser especialmente agressivo o obrigava a dormir no Instituto Português de Oncologia (IPO), a médica disse-lhe: "Não sei como é que amanhã vai para casa... Infelizmente, não podemos arranjar transporte".

Luís tem dificuldade em expressar o que sentiu. Estava na fase em que tinha muito medo (diz que o medo "era muito maior antes da cirurgia"); antevia o mal-estar que em breve o ia derrubar; não conhecia uma única pessoa em Coimbra; estava a 200 quilómetros de casa; e tinha dez euros no bolso.

Disse à médica: "Aqui é que não fico". Mas "foi da boca para fora". Não sabia o que fazer: faltou-lhe o ar, tal a sensação de abandono. Passou assim uma noite. Depois, teve "sorte". Dos serviços de acção social do IPO, mandaram-no para o gabinete da LPCC. A assistente social acalmou-o. Dar-lhe-ia dinheiro para o autocarro e quando regressasse para novo tratamento, deveria trazer prova dos rendimentos e ela daria o suficiente para outra viagem de ida e volta. Isso significava quatro horas para lá e quatro horas para cá, o dobro do que demorava de ambulância. Luís, finalmente, inspirou: "Foi como se em vez de dinheiro ela me tivesse dado um balão de oxigénio".

O que é que aconteceu entre a última requisição de transporte em ambulância e aquela tarde? Os arquivos não indicam qualquer alteração legislativa naquela altura. E pode até não ter acontecido nada de significativo, diz o presidente do Colégio de Oncologia. "Não tenho conhecimento de que, em qualquer instituição, tenha sido dada uma ordem directa para restringir as requisições de transporte. O que sei, oficiosamente, é que de mês para mês se tem adensado a pressão no sentido de as limitar ao mínimo indispensável; e também que as regras variam consoante o estabelecimento, as mudanças das administrações e as épocas do ano", diz Jorge Espírito Santo.

A legislação em vigor, do fim de 2010, limitou o pagamento de deslocações à insuficiência económica ou incapacidade física por motivos clínicos. A queda de requisições, na altura, provocou uma onda de indignação entre corporações de bombeiros. De então para cá, a confusão sobre quem tem direito a quê e em que circunstâncias só se agravou.

Crise não justifica tudo

A regulamentação do diploma, em Maio, não clarificou a situação, a alteração feita no final de 2011 introduziu mais ruído e o resultado dos avanços e recuos nas recentes negociações entre Governo e bombeiros ainda não tomou forma de lei. "Quando isso acontecer, continuará a não bastar", diz Jorge Espírito Santo, que pede "bom senso, razoabilidade e cuidado na análise de cada caso", porque "nenhuma crise justifica que certos limites sejam ultrapassados".

"Será difícil entender que a crise, que tem deixado tanta gente em situações tão graves, tem reflexos ainda mais sérios na vida de um doente com cancro? Que esta é uma doença que debilita toda a família? Que é ela própria causa de desemprego e de dificuldade em arranjar emprego? Que muitas vezes alguém tem de se despedir [do emprego] para apoiar o familiar doente?", pergunta o presidente da LPCC.

Luís Cardona, por exemplo, não tinha dificuldades, diz a lei. Ele ganhava 600 euros, a mulher o ordenado mínimo. Acontece que "é preciso fazer contas ao resto", explica - à prestação da casa; ao preço dos medicamentos; ao custo da alimentação; aos gastos com manuais escolares e com roupa e calçado para o filho; à água, à luz e ao gás; e até à depressão da mulher que, depois de meses de luta, teve de meter baixa, também. "Se não fosse a ajuda da liga, de onde viriam os cem euros para as viagens?", pergunta.Manuela Proença, que tem cancro da mama, vive mais perto de Coimbra - em Aveiro. Nos primeiros tempos deslocou-se de ambulância. Primeiro legalmente, depois à boleia, com outros doentes. Até que, um dia, os bombeiros lhe disseram que "não podiam continuar a arriscar". Foi então que pediu à médica que lhe passasse uma requisição. Ela disse que não, que fisicamente Manuela estava capaz de andar em transportes públicos. E Manuela – que só quando teve cancro descobriu que a patroa não fizera os descontos para a Segurança Social - não explicou que os 187 euros que recebia de Rendimento Social de Inserção não chegavam, sequer, para pagar a prestação da casa.

Como Luís, Manuela diz que teve "sorte". Indicaram-lhe o gabinete da LPCC. Numa primeira fase, a assistente social deu-lhe dinheiro para o transporte. Depois, quando se apercebeu de que ela estava em risco de perder a casa e de que não se alimentava devidamente, abriu outro processo, para o chamado apoio de segunda linha, e passou a dar-lhe 250 euros por mês. "Foi o que me valeu para endireitar a vida", diz Manuela. Ainda está a fazer radioterapia, mas já arranjou emprego e pagou quase "todas as dívidas". Passou a receber da LPCC apenas 100 euros e está prestes a poder dizer que já não precisa deles.

Vamos precisar de dinheiro

Manuela e Luís querem que as pessoas saibam "para onde vão os seus donativos" e como eles podem ser decisivos. "Ver, não vi. Mas várias vezes ouvi falar, no IPO, que havia gente a falhar consultas e tratamentos por falta de dinheiro", conta Luís. O presidente da LPCC prefere não comentar: "Falo do que sei e disso não sei. Mas estou muito, muito assustado com o que vai acontecer neste ano de 2012."

"Se há um ano apareciam seis pessoas por dia, agora aparecem dezasseis", conta Margarida Costa, a assistente social da liga que trabalha no IPO. Uma das pessoas que apareceram foi P., de 38 anos. O marido, que trabalhava na construção civil, teve um cancro no cérebro. Foi operado, passou a ter crises de epilepsia e ela teve de deixar o emprego para cuidar dele e da filha. Porque recebiam a baixa do marido e possuíam habitação própria - construída aos poucos, ao longo dos anos – não tiveram direito a qualquer apoio da Segurança Social. P. não perdoa à técnica que lhe sugeriu que se divorciassem ou que pusessem a casa em nome de terceiros, para que os pudesse ajudar. Sentiu-se à beira do precipício. E também a ela valeu a LPCC.

Carlos Oliveira encolhe os ombros quando lhe perguntam se a quase informalidade e os critérios subjectivos com que a liga distribui dinheiro não a torna vulnerável a fraudes. "Temos sistemas de controlo, mas ainda assim, mais do que dar meia dúzia de euros a quem não precisa, preocupa-me não chegar a quem precisa", diz.

Oliveira adivinha que "o pior ainda está para vir", porque, "como no país, em geral, também entre os doentes com cancro há pobreza envergonhada", explica. Não tem pudor em pedir donativos: "Temos de conseguir chegar a essas pessoas e, quando isso acontecer, vamos precisar de dinheiro para as ajudar."

Nova regras

O Ministério da Saúde vai continuar a fazer depender "da situação clínica incapacitante" ou "da situação de insuficiência económica" o transporte gratuito de doentes não-urgentes. Os doentes oncológicos, com insuficiência renal crónica e em fase aguda de reabilitação que necessitem de tratamento prolongado, contudo, passarão a pagar, no máximo, 30 euros, em função do percurso.A negociação do novo regulamento foi motivada pelas exigências da troika, que prevê um corte de um terço da factura com o transporte não-urgente, que ascendeu, em 2010, a 168 milhões de euros.O PÚBLICO não conseguiu obter em tempo útil um comentário do Ministério da Saúde às preocupações do presidente do Colégio de Oncologia da Ordem dos Médicos, Jorge Espírito Santo, que diz que há doentes a faltar a tratamentos por não poderem pagar as deslocações e considera a alteração legislativa insuficiente para resolver o problema.

AS HERANÇAS MALDITAS DA DITADURA




Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir

Um regime brutal como a ditadura militar, que tratou de erradicar da sociedade e do Estado brasileiros tudo o que lhe parecesse vinculado à democracia, que se constituiu em uma ditadura de classe contra os trabalhadores e suas organizações, que tratou de ser um subimperiaismo, aliado privilegiado dos EUA na região – não poderia desaparecer sem deixar vestígios. Ainda mais que a ditadura militar brasileira não foi derrotada, como aconteceu nos países vizinhos.

Na Argentina, essa derrota se deu na tentativa desesperada dos militares de conquistar legitimidade com a aventura das guerra das Malvinas, encarnando uma justa reivindicação do povo argentino com uma bravata que terminou com uma vergonhosa derrota e retirada covarde da mesma alta oficialidade que havia mostrado sua “coragem” na repressão selvagem aos militantes da resistência popular. Sua derrota teve o efeito oposto, o de acelerar sua derrota e o fim do regime, que também por isso tem seus principais gendarmes presos, julgados e condenados.

No Uruguai e no Chile essas derrotas assumiram formas similares com referendos convocados pelas ditaduras militares para tentar perpetuar-se, em que foram derrotadas e tiveram que abrir caminho à transição para a democracia. Ali também se conseguiu reverter as anistias decretadas pelos militares e promover formas de investigação da verdade e da justiça correspondente.

No Brasil não houve algo similar. A ditadura conduziu o processo de transição à democracia, definindo suas formas e seus prazos. Conseguiu evitar as eleições diretas para presidente, impediu assim que uma eleição popular pudesse consagrar uma presidência como a de Ulysses Guimaraes, que representava de maneira mais cabal o impulso democrático acumulado pelas lutas de resistência à ditadura, para impor o mais moderado Tancredo Neves e, pelas contingências da história, terminando por ter o presidente do partido da ditadura e principal articulador contra as diretas, José Sarney, como o primeiro presidente civil desde o golpe militar.

Bastaria isso para explicar como o novo regime foi um híbrido do novo e do velho, nasceu de mais um pacto de elites na história brasileira, forjado em torno do Colégio Eleitoral e do pacto entre o PMDB e um partido nascido das costelas do regime militar, o então PFL. O anti-malufismo substituiu o anti-ditadura e quem se alinhava naquele bloco recebia o selo de “democrata”, entre eles ACM, Marco Maciel, Jorge Bornhausen. Foi um caso típico do “transformismo”, caracterizado por Gramsci, em que se muda a forma de dominação para preservar seu conteúdo.

A primeira das heranças desse parto conciliador do novo regime foi seu caráter profundamente liberal, no sentido de que a reinstauração da democracia se limitou às instâncias políticas, jurídicas e institucionais. Não se promoveu a democratização econômica e social da sociedade brasileira – que, de alguma forma, estava contida no programa democrático do PMDB, que não orientou o governo Sarney. A concentração ainda maior do poder da terra, dos bancos, das grandes corporações industriais e comerciais, dos meios de comunicação, das estruturas privadas nos campos da educação, da saúde, não foram tocadas e sobreviveram como uma das mais duras heranças da ditadura para a democracia brasileira.

A ausência das derrotas políticas que caracterizaram os países vizinhos fez com que a anistia auto-decretada pela ditadura militar sobrevivesse até hoje, bloqueando a busca da verdade e impedindo que mesmo crimes inafiançáveis como a tortura ficassem impunes no Brasil. Paralelamente, os militares mantem poder de pressão sobre este e outros temas, de forma totalmente indevida numa democracia, ainda mais pelos graves danos que a alta oficialidade das FFAA produziu no país.

Outra das heranças negativas foi o modelo econômico imposto pela ditadura a ferro e fogo, que teve alguns dos seus aspectos essenciais preservados no pós-ditadura. Ja nao foi possível manter o arrocho salarial e a intervenção militar em todos os sindicatos – que fez a festa do grande empresariado e foi um dos “santos” do chamado “milagre econômico”. Mas o modelo econômico voltado para a exportação e para o consumo das altas esferas do consumo se manteve, sem que se desenvolvessem amplas politicas de distribuição de renda e de ampliacao do mercado interno de consumo popular – que só viriam a ocorrer a partir do governo Lula. A marca de país mais desigual do mundo, que se havia aprofundado na ditadura e se mantido no novo regime, acompanhou a democracia brasileira como a sua grande lacra.

Uma outra herança maldita da ditadura foi a deterioração dos serviços públicos. Ao arrochar os salários dos servidores públicos e diminuir os gastos sociais, a ditadura promoveu uma degradação da escola pública e da saúde pública no Brasil. Até aquele momento esses eram espaços que agrupavam os setores populares e a classe média, numa aliança e convivência que eram parte integrante da democracia e da construção da esfera pública. Com sua deterioração, a classe media se bandeou maciçamente para a escola privada e os serviços privados de saúde, a ponto de passar a fazer parte “natural” dos seus orçamentos familiares esses gastos enormes. Enquanto isso a escola e a saúde publica passaram a ser coisa de pobre, foram se degradando, assim como as condições de trabalho e de salários dos trabalhadores da educação e da saúde.

Os meios de comunicação foram outra elemento da herança maldita deixada pela ditadura. O elemento central dessa herança foi a constituição da Globo como o principal grupo monopólico dos meios de comunicação no Brasil, com todos os privilégios que a ditadura lhe permitiu, fazendo da TV Globo praticamente o órgão oficial da ditadura. Por outro lado, impediu que outros grupos das elites dominantes - como a Abril e o JB, entre outros – pudessem disputar hegemonia com a Globo, favorecendo seu monopólio inquestionado como setor dominante da mídia privada. As outras empresas, que haviam, todas, apoiado a golpe militar, dado cobertura à selvagem repressão da ditadura, e se valido da liquidação dos órgãos que não haviam tido essa postura – como a Última Hora e, de certa forma, o Correio da Manhã -, puderam aparecer como entidades identificadas com a democracia liberal durante o período de transição e bloquear o surgimento de imprensa alternativa.

Sem esgotar os elementos dessa herança, haveria que mencionar ainda a tentativa de descaracterização do aspecto ditatorial do regime militar, presente na “teoria do autoritarismo”, formulada por FHC, segundo a qual não teríamos tido uma ditadura – menos ainda militar, cujo aspecto ele sempre desconheceu nas suas análises - , mas simplesmente um “regime autoritário”.

A democratização, pelas propostas de FHC se limitaria a desconcentrar o poder político em torno do executivo e desconcentrar o poder econômico em torno do Estado – aparecendo como um formulador precoce as teses neoliberais no Brasil. A teoria do autoritarismo foi a ideologia da transição conservadora no Brasil, lhe deu respaldo teórico e favoreceu a sobrevivência das heranças malditas que a ditadura deixou para a democracia brasileira.

Brasil completa 30 anos de uso da energia nuclear com avanços tecnológicos e críticas




Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Brasil chega aos 30 anos de uso da energia nuclear com recorde de produção de 15,644 milhões de megawatts-hora (MWh), registrado no ano passado, e a possibilidade de, com a conclusão de Angra 3, em 2016, ter 60% do consumo de energia elétrica do estado do Rio de Janeiro abastecidos pela fonte nuclear. Hoje, as duas usinas nucleares em funcionamento no país, Angra 1 e Angra 2, geram o equivalente a 30% do que é consumido no estado.

Na avaliação do presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro, o uso da fonte nuclear para geração de energia trouxe ao país maturidade tecnológica na área, abrindo o campo de trabalho e colaborando para a formação de engenheiros nucleares de padrão internacional. “A principal vantagem que tivemos foi o aprendizado”, avaliou.

Para Othon Pinheiro, hoje, não se pode prescindir da fonte nuclear de energia que, na sua opinião, não pode ser descartada da matriz energética nacional. “É muito importante na geração de eletricidade, porque nós temos, hoje, no Brasil, 80% da população vivendo nas cidades. A sustentabilidade das cidades passa pela energia elétrica, da forma mais econômica e racional possível”.

Ele, inclusive, refuta o posicionamento de ambientalistas, que fazem oposição ao uso da energia nuclear, defendendo que, “se tratada de forma adequada, é uma fonte de energia limpa e não deve ser descartada da matriz energética nacional”.

Othon Pinheiro lembrou da característica estratégica da energia nuclear, por ser opção em caso de problemas na oferta de energia elétrica devido a questões climáticas, já que a matriz energética é majoritariamente hidrelétrica. “Precisamos da [fonte de energia] eólica, da solar. Seria bom se elas trabalhassem sozinhas. Mas a gente precisa das térmicas, para acionar em caso de problema da natureza. Energia é como ação [da Bolsa de Valores]. Por melhor que seja, a gente tem que comprar uma cesta de papéis para garantia do investimento”. Para o presidente da Eletronuclear, o país não pode descartar nenhuma fonte de energia renovável.

Ele defende a geração de energia nuclear por considerá-la de baixo impacto ambiental e por questões de custo. Pinheiro ressalta que, dentre as térmicas, como as que produzem energia a partir do carvão, óleo combustível ou gás, a usina nuclear é a que tem menos custo. Além disso, ele lembra que o Brasil tem uma grande reserva de urânio, sendo “falta de imaginação” não aproveitar esse potencial.

Angra 1, a primeira usina nuclear a entrar em funcionamento no país, foi interligada ao sistema elétrico nacional no dia 1º de abril de 1982. E, mesmo contestando a real necessidade do Brasil lançar mão dessa fonte de energia tão controversa, o físico Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras, acredita que a geração de energia nuclear constitui um fato histórico. “A gente não pode se arrepender da história. Ela é como é”, disse Pinguelli à Agência Brasil.

Diretor da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Pinguelli, no entanto, enfatiza que geração de energia a partir da fonte nuclear não pode ser vista como imprescindível para o país. Para ele, a energia produzida pelas usinas Angra 1 e 2 poderia ser compensada por outras fontes de energia renováveis. “Por hidrelétricas mesmo. Até agora, não haveria problema”.

Ele relembra o acordo nuclear bilateral, firmado entre o Brasil e a Alemanha, em 1975, que previa a construção de oito reatores, definindo que nem tudo correu bem em relação à energia nuclear no Brasil. “Acho que o acordo com a Alemanha foi malsucedido do ponto de vista brasileiro”. Os custos elevados e as seguidas crises econômicas fizeram, no entanto, com que apenas duas usinas fossem construídas no país até agora.

Pinguelli, por outro lado, concorda com Othon Pinheiro sobre o ganho tecnológico que a geração nuclear propiciou ao Brasil, embora a um custo muito elevado. “Criou-se uma competência na engenharia nuclear. Os dois reatores que o Brasil tem funcionando têm boa performance técnica”. O físico destacou, ainda, como avanço tecnológico o aprendizado relativo ao enriquecimento do urânio. “Acho que esse é o ponto, tecnologicamente, mais elevado, promovido pela Marinha de Guerra”.

Edição: Lana Cristina

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UNILAB, UMA DAS NAUS DO CONHECIMENTO PARA ESTUDANTES TIMORENSES


Estudantes timorenses chegados à UNILAB, Brasil
António Veríssimo

No Brasil, a UNILAB - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia, dita  afro-brasileira, vai muito mais para além do continente africano, com quem partilha o Oceano Atlântico – África é logo ali depois de o atravessar, sempre em frente. Timor-Leste fica muito mais além e do Atlântico tem de passar ao Índico para chegar ao país mais recôndito da lusofonia, Timor-Leste. É percorrer mais de meio-mundo.

Ao inverso, também podem optar por outro percurso atravessando o outro meio-mundo, o Oceano Pacífico, e lá vão dar a Timor-Leste. Não é bem sempre em frente, mas quase. Assim se prova que a UNILAB não tem a sua vocação exclusiva afro-brasileira mas também direcionada ao longínquo Timor que outros da têmpera de Alvares Cabral encontraram e povoaram, ocuparam e chamaram deles, de Portugal. E foram esses, os ditos descobridores, os aventureiros, que deram novos mundos ao mundo, contribuindo para alargar o conhecimento físico, económico e cultural entre povos. Demasiado virados para a ocupação (conquista), submissão e exploração desses povos tão longe do minúsculo retângulo português, com tantas ações reprováveis e terríveis chacinas, mas eis que há também, na atualidade, a parte positiva: a multiculturalidade, a mesma língua (ou quase) e um sentimento de irmandade entre povos, porque não foram nem são só os longínquos do tal retângulo colonizador que são espoliados e explorados, vítimas de anteriores senhores gananciosos e de atuais clones desses… Mas sobra de toda essa parte negativa a comunhão entre povos e pessoas de bem que tomam louváveis iniciativas e nos vão juntando, nos levam e trazem enlevados em viagens neste mundo lusófono intercambiando naus de conhecimento. A nau UNILAB achou Timor-Leste, seu povo, sua sede de saber, e recolhe os timorenses no seu regaço para partilhar conhecimento e capacitação. Jovens estudantes que agora atravessam oceanos (Pacífico, Índico e Atlântico) para se saciarem de conhecimento nas fontes encontradas por Álvares Cabral há mais de quinhentos anos. Esta é a ternurenta e fraterna parte positiva que mostra que o longe se faz perto e que basta querer para fazer desaparecer barreiras.

Têm sido imensos os estudantes timorenses que voam para o Brasil a fim de se capacitarem e valorizarem mais o seu país e eles próprios. Nesta universidade brasileira o corropio de lá para cá e de cá para lá – voando sobre oceanos - não tem parado. Incansáveis, os estudantes timorenses seguram a mão amiga dos não menos incansáveis benfazejos irmãos brasileiros. É disso que tratam reportagens da informação UNILAB online que convidamos desde já e sempre a acompanhar. Ela, a informação, as imagens, chegaram-nos profusamente por mão atenta e amiga. Prometemos fazer referência. Aqui está. Não se coíbam de ver à distância o que pertence a todos nós. O lado positivo da lusofonia, dos ditos descobrimentos… Que não limpa as chacinas e o de errado dos descobrimentos mas que tem o belo condão de nos aproximar enquanto povos diferentes mas também iguais.

Nas imagens da informação UNILAB (pesquise mais) olhai os semblantes radiosos dos jovens estudantes timorenses - acabados de chegar - à mistura com os dos brasileiros anfitriões, leves de preconceitos, amigos, cordatos e solidários. Apetece muito deixar aqui um grande Por Timor, muito obrigado Brasil! Boa fortuna, jovens estudantes timorenses!

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