quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Governo de Passos Coelho vendeu empresa de diamantes quatro dias antes de cair



João Francisco Gomes - Observador

Venda das participações do Estado em empresa que explorava minas de diamantes em Angola foi feita apenas quatro dias antes da demissão do segundo governo de Passos que durou 11 dias.

O Estado terá perdido perto de 30 milhões de euros quando o governo de Passos Coelho negociou a venda da participação pública numa empresa que estava ligada à exploração de três minas de diamantes em Angola, em novembro de 2015, escreve esta segunda-feira o Correio da Manhã. Segundo o jornal, a venda foi feita no dia 6 de novembro de 2015, apenas quatro dias antes de o executivo de Passos Coelho ter sido chumbado no parlamento.

O acordo — que foi finalmente assinado no mês passado — entre a Endiama (empresa estatal angolana que gere o setor dos diamantes) e a Sociedade Portuguesa de Empreendimentos (SPE) pôs fim a um conflito judicial que se arrastava há vários anos. A solução passou por vender à empresa pública angolana as participações da SPE nas concessionárias de três minas angolanas: 49% na Sociedade Mineira do Lucapa, 24% na mina de Calonga e 4,9% na mina do Camutué. A Parpública, que detém a SPE, garantiu ao jornal que este acordo foi “firmado a 6 de novembro de 2015 entre estas empresas, na sequência de negociações desenvolvidas sob orientação do governo”. Do lado de Portugal, um dos principais negociadores foi Hélder de Oliveira, o presidente da SPE.

O conflito judicial entre a Sociedade Mineira do Lucapa, detida na altura em 51% pela Endiama e em 49% pela SPE, e a empresa pública angolana remonta a 2011. A Endiama apresentou queixas contra a empresa portuguesa (cuja principal atividade era a gestão das participações nacionais nas minas de diamantes angolanas) por não investir o suficiente na mina. A Sociedade Mineira do Lucapa tinha a concessão de uma área com cerca de 8.500 quilómetros quadrados que, apesar do elevado potencial de recolha de diamantes, tem acumulado prejuízos desde a sua fundação.

Além de terminar com o conflito entre as duas empresas, a SPE vendeu à Endiama as participações nas empresas que exploram as três minas por 121 milhões de euros. No entanto, segundo o Correio da Manhã, só a mina do Lucapa estava avaliada em 150 milhões de euros, o que significa que a empresa nacional terá recebido trinta milhões de euros a menos. A Parpública sublinhou ao jornal que o acordo foi feito “em termos que se afiguram equilibrados e adequados tendo em vista as diversas perspetivas em presença”, recusando, contudo, especificar os termos do acordo.

Foto: Paulo Cunha / Lusa

Portugal. MORRER DE FRIO EM 2016


Pedro Ivo Carvalho* – Jornal de Notícias, opinião

Não raramente conseguimos projetar nos infortúnios pessoais os defeitos daconjuntura. Em particular porque há conjunturas que só adquirem dimensão quando são humanizadas. A história triste de Manuel Escobar é paradigmática de como esta relação entre números e pessoas é manifestamente desvantajosa para as segundas. Ainda para mais quando esbarra numa muralha de estereótipos: interioridade, solidão, miséria, burocracia do Estado.

Sim, é possível: ainda há, em Portugal, quem morra sozinho e de frio. Rodeado de lixo. No Dia Internacional dos Direitos Humanos. Manuel Escobar tinha 68 anos. Foi notícia no JN em novembro, aquando de um apelo desesperado por um lugar de acolhimento num lar. Voltou a ser notícia cerca de um mês depois, quando foi encontrado pela GNR em casa, cheio de hematomas, em condições degradantes e gelado. Acabaria por morrer com sinais de hipotermia no Hospital de Mirandela. A lição, a haver alguma lição a reter, é a de que todos sabiam que isto podia acontecer, mas ninguém foi capaz de evitar que isto acontecesse. É uma lição em forma de novelo: tão enrolada que dificilmente se desatará o nó da responsabilidade.

Há anos que somos confrontados com o envelhecimento do país. Com o abandono transversal a tantas almas e geografias. Nas cidades e nas aldeias, os velhos adquirem a condição de corpos lentos e carentes. Estorvos. É, por isso, mais fácil esquecermo-nos que existem."Acabaram por desistir dele por ser uma pessoa difícil", explica Berta Nunes, presidente da Câmara de Alfândega da Fé. Manuel Escobar viveu e morreu no coração de uma tempestade perfeita.

Dono de uma personalidade conflituosa, pediu, durante meses, para que o institucionalizassem num lar. Assim aconteceu. A Segurança Social providenciou-lhe um lugar em Mirandela. De onde terá saído por vontade própria. Foi para casa. Recusou uma família de acolhimento. A de sangue estava longe: dois filhos emigrados e desempregados. Apenas um sobrinho mais perto. Não suficientemente.

Durante meses, assistentes sociais da Câmara de Alfândega da Fé procuraram uma solução junto da Segurança Social. "Não havia família de acolhimento nem vaga social para sexo masculino no distrito de Bragança", foi a resposta de protocolo. Nos dias de frio, Manuel dormia no quartel dos bombeiros. Porque lhe tinham cortado a luz em casa. Uma entidade parceira da Segurança Social ficou responsável por visitas diárias, que contemplavam "alimentação, higiene habitacional e tratamento de roupa". Mas as últimas imagens da casa onde ficou esquecido não coincidem com nenhum compromisso de proximidade.

Manuel estava sinalizado pela família, pelos vizinhos, pela GNR e pela Segurança Social. Mas morreu sozinho, de frio, num país que desistiu dele por não querer ver os sinais. Em 2016.

* Editor executivo adjunto

ONU alerta para condições deploráveis em que vivem muitos portugueses


Peritos das Nações Unidas instaram o Governo a criar legislação que obrigue as entidades locais a "cumprirem os direitos humanos" à água, saneamento e habitação.

Os relatores especiais sobre o direito a uma habitação condigna, Leilani Farha, e sobre os direitos humanos relativos ao acesso à água potável e saneamento básico, Léo Heller, terminaram esta terça-feira uma visita que fizeram a Portugal, a convite do Governo, para verificar em que medida estão a ser respeitados os direitos humanos relativos à habitação, água e saneamento.

Os peritos manifestarem, em conferência de imprensa em Lisboa, a sua preocupação quanto ao impacto da crise económica e da política de austeridade nestes setores e alertaram para a situação das pessoas mais vulneráveis, incluindo os "novos pobres", pessoas que foram empurradas para a pobreza em consequência das medidas de austeridade.

Estas medidas "afetaram de forma clara os direitos à habitação condigna, à água e ao saneamento", afirmou Léo Heller.

Durante a visita de dez dias, os relatores percorreram várias zonas de Lisboa, do Porto, Loures e Amadora, onde encontraram "condições de habitação deploráveis" e falaram com várias pessoas "sem capacidade financeira para aceder a estes serviços".

Porém, Léo Heller destacou "os progressos assinaláveis" alcançados por Portugal nas últimas décadas nesta área, um progresso denominado de "milagre português".

"Se há um milagre, ainda está incompleto", disse o especialista, manifestando preocupação com a "parte mais marginalizada da população (desempregados, reformados, migrantes e população migrante)".

O relator alertou para os cortes de abastecimento por "incapacidade financeira" das pessoas em pagar as tarifas, um problema que deve ser "tratado urgentemente" pelo Governo.

Observou ainda que 5% da população ainda não têm acesso a água canalizada e 20% a esgotos: É "muito importante" sinalizar estas pessoas e tomar as "medidas necessárias para as proteger".

Para Léo Heller, o Governo tem que "garantir o acesso financeiro aos serviços de água e saneamento para todos", adotando medidas, como transformar a atual recomendação da Assembleia da República num diploma que determine a atribuição automática da tarifa social a todos os portugueses que dela necessitam.

Deve ainda adotar legislação que "reconheça os direitos humanos à água e ao saneamento, incluindo obrigações explícitas das autoridades locais e dos governos das regiões autónomas", para garantir que as pessoas possam recorrer aos tribunais em caso de violação desses direitos.

A relatora Leilani Farha disse, por seu turno, que a maioria das pessoas em Portugal "vive vidas dignas", em "paz e segurança", mas ainda há muitos a viver em condições deploráveis.

"Portugal está a passar um período de crise" e os "grupos mais vulneráveis estão a ficar para trás", advertiu a perita, relatando situações de pessoas que vivem em casas que não as protegem do "frio e do calor", de mães que estão em risco de perder os filhos porque não têm uma habitação condigna e de sem-abrigo que vivem em pensões em condições miseráveis.

Leilani Farha salientou que, no contexto internacional, "Portugal tem sido um país líder na promoção dos direitos económicos, sociais e culturais e tem a obrigação de pôr em prática este empenhamento e entusiasmo no contexto interno".

Um primeiro passo essencial seria o Governo adotar uma Lei-Quadro sobre Habitação baseada nos direitos humanos internacionais, em conformidade com o artigo 65 da sua Constituição, defendeu.

Os relatórios dos dois peritos e as recomendações ao Conselho da Europa serão apresentados em março e em setembro.

Jornal de Notícias

DÚVIDA NO CORAÇÃO DO IMPÉRIO




Trump nomeia um guerreiro ensandecido para chefe do Pentágono, mas sinaliza que prioridade é reconstruir internamente os EUA. Dissimulações ou esquizofrenia?

Pepe Escobar – Outras Palavras

O general James “Cachorro Louco” Mattis, escolhido pelo presidente eleito Donald Trump para ser o novo cabeça do Pentágono é funcionário modelo do Império do Caos. Seu bordão de trabalho é – e que outro poderia ser – “caos”. O Comando Operacional das Operações Especial dos Marines (Marsoc) até distribuiu imagem do “São Mattis de Quantico, Santo Padroeiro do Caos“. Na encarnação pop, o santo vem completamente equipado com granada e faca. “Cachorro Louco” pode, claro, ser visto pelo mundo real como, sim, um cachorro louco: estava na linha de frente do assalto ao Afeganistão em 2001; Comandou os marines no assalto a Bagdá durante a Operação Choque e Pavor em 2003. Foi o cérebro que concebeu a horrenda destruição de Fallujah no final de 2004. Amplamente elogiado como fino estrategista, aposentou-se como chefe do Comando Central dos Estados Unidos (Centcom) em 2013. O santo pode ser sido disseminador de caos por todo o “Oriente Médio Expandido” expressão cunhada no regime do ex-vice-presidente Dick Cheney – algo que veio com inevitável dano colateral: a mais apavorante iranofobia. Mas a razão chave de sua indicação é que lhe caberá reconstruir o setor militar dos EUA.

William Hartung, do Center for International Policy, observa, num artigo recente, que “O gasto do Pentágono é um dos piores meios possíveis para criar empregos. A maior parte do dinheiro vai para fornecedores de serviços, executivos da indústria de armas e consultores da Defesa (também chamados de ‘bandidos da Avenida Beltway’).” Além do mais “esse gasto é a definição de beco econômico sem saída. “Criticando a Trumpeconomia como “Reaganeconomia inchada de esteroides” – e aí se inclui o descomunal gasto militar – Hartung diz que, se Donald Trump quer realmente criar empregos, “deve obviamente pensar em investir na infraestrutura, não em pôr grandes quantidades de dinheiro em armas de que o país absolutamente não precisa, a preços que o país não pode pagar.”

Reconstruir a infraestrutura (hoje totalmente em ruínas) nos EUA é uma das principais promessas de campanha de Trump.

Que fazer?

Meu objetivo com a coluna “Lênin Chega à Casa Branca” foi lançar um debate sobre o papel possivelmente leninista do estrategista-chefe para a Casa Branca de Trump, Steve Bannon. Trump, como todos os presidentes dos EUA, obviamente não é leninista. Mas seu estrategista-chefe cultiva a noção leninista de uma vanguarda do proletariado; pode-se chamá-la de contingente dos Machos Brancos Não ‘jovens’ Trabalhadores Braçais Precários e Furiosos. Eles odeiam a identidade dita “liberal”, que elevou algumas minorias seletas ao status de vítimas sacrossantas. Podem chamá-los todos, em geral, de “os deploráveis”. Essa é a vanguarda do proletariado que Bannon busca cultivar, para que liderem/influenciem/modelem a política do futuro político programável para os EUA, vencendo eleição após eleição, sempre para os Republicanos. Devem imperativamente beneficiar-se da luta até a morte que Trump move contra o “livre” mercado neoliberal, embora não esteja claro como privilegiará o “internamento” [ing. “in-sourcing”] não o deslocalização [ing. outsourcing] dos empregos – sabendo que esta ainda é a política oficial do empresariado norte-americano. Com certeza, esses empregos não se beneficiarão de alguma reconstrução maciça do Pentágono.

O analista político Peter Spengler introduz mais uma cunha na engrenagem, ao anotar que Bannon, “como todos os analistas (e estudiosos) de Rússia e do bolchevismo, sempre ignoraram o que Kurt Riezler poderia (e gostaria) de lhes revelar no tempo em que viveu exilado em New York: experiência direta e conhecimento em primeira mão do “continuum da ‘diplomacia’ subterrânea e subversiva entre Alemanha e Rússia” nos preparativos para a Revolução de Outubro. Permanecem abertas as apostas sobre que diplomacia “subversiva” a era Trump implicará – além de um remix para o século 21 do momento “Nixon na China” orquestrado por Kissinger. Teria a forma de um momento “Trump na Rússia-China” – tipo Washington começando a normalizar o tratamento que dispensa àquelas nações que o Pentágono classifica como suas duas principais “ameaças existenciais”, incluídas a projeção global e as esferas de influência.

Aquele muito discutido telefonema para Trump “iniciado” pela presidente de Taiwan Tsai Ing-wen com certeza não contribui para qualquer normalização. E ninguém deve esperar que simplesmente se dissolva no ar o primado global dos EUA especialmente sobre a Eurásia, como Brzezinski o conceptualizou – para “impedir que emergissem concorrentes”. William Engdahl, renascido do Pentágono argumenta que o Bravo Mundo Novo de Trump não passa de elaborada farsa. Que basta examinar a lista dos poucos sortudos escolhidos para o gabinete de plutocratas do presidente eleito para ver que não é exatamente a lista dos Melhores Anjos de Nossa Natureza [ing. Better Angels of our Nature]. Uma fonte no mundo do business em Nova York, intimamente conectada com os Masters of the Universe, que apoiou ativamente o programa de Trump e previu a vitória pelo menos duas semanas antes de acontecer, oferece avaliação curta e grossa:

“Donald é insider. A maioria dos conselheiros aos quais Engdahl refere-se são só decorativos. Há três coisas importantes a considerar. 1) A Suprema Corte terá juízes conservadores. 2) Haverá reaproximação com a Rússia. Pode não ser tão calorosa quanto com a China, mas trabalharemos nisso. 3) Nenhum dos Masters ligam para Lênin ou Thomas Cromwell, nem para ideologias. Essa gente só liga para poder e dinheiro.”

Sobre uma possível Casa Branca leninista,
"se se quiser citar Lênin, será que ‘verdade é qualquer coisa que faça avançar a luta de classes’. Verdade para os Masters of the Universe é ‘qualquer coisa que faça avançar a agenda deles’. Se querem que o Federal Reserve expanda o crédito, procuram um liberal se ele/ela funcionar; ou conservador, ou monetarista ou Keynesiano, o que for. Um deles apoiará a expansão do crédito e os que não apoiem serão postos de lado. Não dão nenhuma importância aos Milton Friedman, Keynes, Marx ou Lênin. O que conta, para eles, é o que funciona. Hillary não funcionou, e foi descartada. E Bannon fará o que o mandarem fazer, como todos os demais. E se começar a atrapalhar, será demitido."
Assim sendo, não importa o quanto a Califórnia esperneie e grite, a Trumpelândia será governada pelos Masters of the Universe, e será governada assim.

O que nos leva, mais uma vez, à reconstrução das forças militares dos EUA. Outra fonte, no business financeiro, que também apoiou ativamente o plano econômico de Trump durante a campanha, destaca que “o poder atual do complexo militar industrial russo é hoje maior que o dos EUA em vários sentidos. E todo ele está instalado na Rússia, enquanto a maior parte do complexo militar industrial dos EUA está instalada na Ásia.”

Assim sendo, “é excelente que Trump esteja na presidência, para pôr abaixo aquele hospício que eles chamam de Washington. Há um consenso acima do presidente, segundo o qual é absolutamente necessário, emergência total, reconstruir as forças militares dos EUA”. E essa é o principal item da pauta sobre a qual o general Cachorro Louco recebeu ordens de começar imediatamente a trabalhar.

A fonte acrescenta: “Um meio fácil de repatriar toda essa indústria de uma vez, rapidamente, é incluir em todos os contratos que a Defesa venha a assinar uma cláusula que determine que avião, míssil ou tanque terá de ser integralmente fabricado e montado nos EUA, o que exigirá rápida e maciça repatriação de empregos e fábricas. É a primeira ordem de trabalho e business que a Casa Branca de Trump distribuirá. E não exige tarifa nem depende de que alguém ponha fim à manipulação da moeda.”

Segure aí, Ialta, aqui vamos nós!

Enquanto isso, tem de haver alguma gestão cuidadosa do que a desatinada galáxia neocon/neoliberal chamou de “bromance” entre Trump e Putin.

Trump quase com certeza renormalizará a Rússia e trabalhará com Moscou para pôr fim à demência salafista jihadista na Síria; o problema é até que ponto Rússia e China conseguirão influenciar a Trumpelândia para que não converta o Irã em dano colateral gravíssimo. Rússia-China-Irã é a aliança chave investida na integração da Eurásia.

Zbig “Grande Tabuleiro de Xadrez” Brzezinski não consegue não exibir os absurdos narcisistas de sempre, como ao sugerir que EUA ajudem a Rússia numa “efetiva transição” para tornar-se “membro construtivo, significativo, da comunidade global” (muito mais provável é que Moscou tenha de fazer exatamente a mesma coisa, mas para ‘normalizar’ os EUA de Trump). Ao mesmo tempo, não surpreende que até o próprio Brzezinski ande agora discursando que “a América é indispensável para organizar qualquer coalizão maior, capaz de enfrentar os problemas globais. E nessa coalizão maior, América, China e a Rússia, se fizer a transição, podem ter lugar proeminente.”

Rússia “se fizer a transição” nesse caso é palavra código para “se a Rússia deixar-se seduzir, amestrar e convencer a afastar-se da China. O contexto chave: a parceria estratégica Rússia-China aponta essencialmente para a Eurásia como empório vasto, integrado – combinação de “Um Cinturão, Uma Estrada” da China, com a União Econômica Eurasiana (UEE), da Rússia.

Brzezinski, refletindo e/ou influenciando “valores” neoliberais neoconservadores, sempre estará reencenando um quadro de Dividir para Governar, tentando separar Rússia da China – ao mesmo tempo em que sugere que Trump não pode permitir que o descartem ação massiva (na Eurásia); que ele insista, porque algum tipo de acordo tem de haver.

Permaneçam sintonizados nesse canal, porque voltaremos com informes sobre os termos de um possível upgrade: de Ialta em 1945 para… algum Ialta remix em 2017?

PARA A CIA, A RÚSSIA INTERFERIU NA CAMPANHA A FAVOR DE DONALD TRUMP


A CIA (serviço secreto norte-americano) acredita que a Rússia interferiu na campanha eleitoral dos Estados Unidos para favorecer o candidato vencedor, o republicano Donald Trump, segundo revelou na sexta-feira o jornal The Washington Post. Segundo fontes, pessoas ligadas ao Governo russo entregaram à Wikileaks mensagens do Comitê Nacional Democrata e do presidente da campanha de Clinton

Marc Bassets (*)

A CIA (serviço secreto norte-americano) acredita que a Rússia interferiu na campanha eleitoral dos Estados Unidos para favorecer o candidato vencedor, o republicano Donald Trump, segundo revelou na sexta-feira o jornal The Washington Post. A CIA, segundo a notícia, atribui a pessoas ligadas ao Governo russo a divulgação de mensagens de e-mail roubadas que acabaram prejudicando a candidata democrata, Hillary Clinton. A equipe de Trump questionou por meio de um comunicado as conclusões da agência de espionagem. O presidente Barack Obama quer esclarecer o caso antes de deixar o cargo, em 20 de janeiro.

"É o mesmo pessoal que disse que Sadam Hussein tinha armas de destruição em massa", argumenta a nota de Trump. Refere-se às conclusões - que se revelaram falsas, posteriormente - que serviram para que outro presidente republicano, George W. Bush, justificasse a invasão do Iraque em 2003. Quando assumir o cargo, Trump terá que trabalhar com os serviços de inteligência que agora acusa de difundir informação falsa.

Segundo fontes governamentais anônimas citadas pelo Post, pessoas ligadas ao Governo russo entregaram à organização Wikileaks as mensagens do Comitê Nacional Democrata e do presidente da campanha de Clinton, John Podesta. A Wikileaks as publicou. Antes, a espionagem norte-americana apontava a Rússia como responsávelpelo roubo e divulgação das mensagens, mas não lhe atribuía explicitamente um objetivo em favor de um candidato com nome e sobrenome.

"A avaliação da comunidade de inteligência é que o objetivo da Rússia era favorecer um candidato em relação a outro, ajudar que Trump se elegesse. Esse é o consenso", disse ao jornal um funcionário de alto escalão. Essa fonte teve acesso à informação que os responsáveis pela espionagem dos EUA deram a portas fechadas ao Senado.

Há poucos precedentes de intervenção estrangeira de tal dimensão nas eleições norte-americanas. Menos ainda para favorecer um candidato específico, que além disso acabou vencendo e será o próximo presidente.

Não existem provas conclusivas sobre o possível papel da Rússia, mas é pública a afinidade entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin. Ambos trocaram elogios nos meses anteriores à eleição, e Trump, que se cercou de assessores pró-Rússia na campanha, prometeu melhorar as relações com Moscou caso se elegesse. E, em plena campanha, Trump incentivou a Rússia a piratear os e-mails de Clinton.

A resposta de pessoas do círculo de Trump e da Wikileaks, a organização que divulgou as mensagens democratas, é que as acusações contra a Rússia são teorias sem confirmação que fazem reviver a paranoia do terror vermelho -o medo da infiltração soviética nos EUA- da Guerra Fria e o macartismo.

Obama encomendou aos serviços de inteligência um relatório que deve ficar pronto antes de Trump assumir o posto. Não ficou claro se os resultados serão tornados públicos. O FBI (polícia federal dos EUA) já tem uma investigação em curso.

"É possível que tenhamos cruzado um novo umbral, e nos cabe levar isso em conta, fazer sua revisão e executar alguma ação complementar, para entender o que aconteceu e tirar as lições aprendidas", disse na sexta-feira num café da manhã com jornalistas Lisa Monaco, conselheira de Obama em antiterrorismo e segurança interna.

A análise da Casa Branca se soma às petições de vários democratas no Senado e na Câmara para que o Governo dos EUA lhes forneça informações mais detalhadas sobre a ingerência russa e eventualmente elimine o sigilo dos dados.

Paralelamente, republicanos proeminentes no Senado críticos a Trump, como John McCain, preparam uma investigação sobre o caso, segundo o Post. Caso a ponham em marcha, podem provocar um confronto com o presidente Trump.

Trump nega que a Rússia esteja por trás da divulgação dos e-mails do Comitê Nacional Democrata e de Podesta. As mensagens, publicadas durante a campanha, não revelaram casos de corrupção nem fatos criminosos, mas foram um gotejar contínuo que ajudou a minar Clinton. Reforçaram sua imagem, entre parte da população, de política pouco transparente e até corrupta. Não ficou provado que o vazamento de e-mails tenha sido decisivo, mas quem o orquestrou provavelmente conseguiu seu objetivo.

"Não deve haver dúvida. Não foi algo feito por acaso. Não era um objetivo escolhido de forma arbitrária", disse dias atrás o almirante Michael Rogers, chefe da Agência de Segurança Nacional (NSA). "Foi um esforço consciente de um Estado-nação para tentar atingir um efeito específico."

Em comunicado publicado em 7 de outubro, o Departamento de Inteligência Nacional e o Departamento de Segurança Interna apontaram a Rússia como responsável pela pirataria cibernética. "A Comunidade de inteligência dos EUA acredita que o Governo russo tenha liderado as recentes [ações] comprometedoras de e-mails de pessoas e instituições dos EUA, incluindo organizações políticas dos EUA", informa a nota.

"Não creio. Não creio que interferissem", disse Trump em entrevista publicada esta semana na revista Time. O jornalista lhe pergunta se acredita que os chefes da espionagem dos EUA tiveram motivação política para publicar tal declaração. "Acho que sim", responde o presidente eleito.

(*) Publicado originalmente no EL PAÍS

Fonte – em Pravda ru

A GUERRA DO OCIDENTE À VERDADE



Paul Craig Roberts

A "guerra ao terror" tem sido simultaneamente uma guerra à verdade. Durante quinze anos – desde o 11/Set até às "armas de destruição em massa" de Saddam Hussein e às "conexões al Qaeda", "ogivas nucleares iranianas", "utilização de armas químicas por Assad", mentiras infindáveis acerca de Kadafi, "invasão russa da Ucrânia" – os governos das assim chamadas democracias ocidentais consideraram essencial alinharem-se firmemente às mentiras a fim de prosseguirem suas agendas. Agora estes governos ocidentais tentam desacreditar os que contam verdades e desafiam as suas mentiras.

Serviços noticiosos russos estão sob o ataque das presstitutas da UE e do ocidente, fornecedoras de "falsas notícias". www.globalresearch.ca/...Obedecendo às ordens dos seus mestres de Washington, a UE aprovou de facto uma resolução contra os media russos por não seguirem a linha de Washington. O presidente russo afirmou que a resolução é um "sinal visível da degradação da ideia de democracia na sociedade ocidental".

Tal como previu George Orwell, dizer a verdade é agora encarado pelos governos "democráticos" do ocidente como um acto hostil. Um sítio web totalmente novo, propornot.com, acaba de surgir condenando uma lista de 200 sítios web da Internet que apresentam notícias e visões em desacordo com os media presstitutos que servem agendas de governos. http://www.propornot.com/p/the-list.html Será que o financiamento de propornot.com vem da CIA, do National Endowment for Democracy ou de George Soros? Tenho orgulho em dizer que paulcraigroberts.org está na lista.

O que aqui vemos é o ocidente a adoptar o modo como os sionistas de Israel trata os críticos. Qualquer um que faça objecções ao tratamento cruel e desumano de palestinos por parte de Israel é demonizado como "anti-semita". No ocidente aqueles que discordam de políticas assassinas e brutais de responsáveis públicos são demonizados como "agentes russos". O próprio presidente eleito dos Estados Unidos foi designado como "agente russo".

Este esquema de redefinir como propagandistas os que contam a verdade saiu pela culatra. O esforço para desacreditá-los produziu, ao invés, um catálogo de sítios web onde pode ser encontrada informação confiável e os leitores estão a acorrer aos sítios da lista. Além disso, o esforço para desacreditar os que dizem a verdade mostra que governos do ocidente e seus presstitutos são intolerantes à veracidade e à diversidade de opinião, assim como estão empenhados em forçar o povo a aceitar como verdadeiras as mentiras em causa própria dos governos.

Evidentemente, os governos e os media ocidentais não têm respeito pela verdade. Assim, como pode o ocidente ser democrático?

O presstituto Washington Post desempenhou o papel que lhe foi assinalado na pretensão apregoada por Washington de que os media alternativos consistem de agentes russos. Craig Timberg, o qual parece destituído de integridade ou de inteligência, e talvez de ambos, é o pateta do WaPo que redigiu a notícia falsa de que "duas equipes de investigadores independentes" – nenhuma das quais foi identificada – descobriu que os russos exploraram minha credulidade, a do CounterPunch, do Professor Michel Chossudovsky do Global Research, Ron Paul, Lew Rockwell, Justin Raimondo e de 194 outros sítios web para ajudar "um candidato insurgente" (Trump) "a pretender a Casa Branca".

Observe-se a expressão aplicada a Trump – "candidato insurgente". Isto lhe diz tudo o que precisa saber.

Pode ler aqui o que passa por "noticiário confiável" no presstituto Washington Post: www.washingtonpost.com/... Ver também: www.alternet.org/... e Glenn Greenwald de The Intercept, o qual de alguma forma escapou à inclusão na lista dos 200, trata de Timberg e do Washington Post aqui: theintercept.com/...

As desculpas dos governos ocidentais começam a esgotar-se. Desde o regime Clinton, a acumulação de crimes de guerra cometidos por governos ocidentais excedeu aqueles da Alemanha nazi. Milhões de muçulmanos foram massacrados, deslocados e desalojados em sete países. Nem um único criminoso de guerra ocidental foi responsabilizado.

O desprezível Washington Post é um apologista primário destes crimes de guerra. Todos os media impressos e de TV do ocidente estão tão fortemente implicados nos piores crimes de guerra da história humana que, se a justiça alguma vez chegar, os presstitutos estarão lado a lado no banco dos reus com os Clintons, George W. Bush e Dick Cheney, Obama e seus operacionais neocon ou manipuladores. 

27/Novembro/2016

O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

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