sexta-feira, 21 de outubro de 2011

OS “DEMOCRATAS” OCIDENTAIS FILHOS DA BESTA




ANTÓNIO VERÍSSIMO

Em Portugal os filhos da besta encarnam os vampiros cantados por Zeca Afonso

Publiquei há pouco no Página Global duas ou três compilações sobre o sucedido a Kadafi (sem h porque uns põem o h ao principio e outros a meio e aqui fica como se pronuncia em português). Na primeira compilação postei junto com uma foto de Kadafi absolutamente normal porque desde ontem que me recusava a ver as fotos que mostram a obra da besta sobre a besta, o linchamento de alguém que como ditador e besta assassina fez o mesmo e pior aos seus adversários políticos ou a simples populações que lhe desagradaram. Hoje, nas duas restantes postagens, optei por ver e escolher de relance duas fotos com o cadáver de Kadafi vilipendiado – tal como ele fazia aos seus adversários. Escolhi as imagens menos reveladoras da bestialidade que exerceram sobre um ser humano que era uma das bestas do planeta mas que lei alguma dá direito aos seus captores para que o condenem à morte sem julgamento, assassinando impunemente, bestializando o cadáver, sem honra nem glória, demonstrando que são iguais a Kadafi, umas bestas.

Retardando as horrendas imagens do vilipendio e da festa à volta do cadáver, ali na Líbia, viajei pelos semblantes regozijados dos dirigentes democratas deste mundo ocidental. É naqueles semblantes repletos de felicidade pela chacina de Kadafi que podemos vislumbrar que afinal estamos perante democratas filhos da besta. Em Portugal vi Paulo Portas em foto esclarecedora, não vi mais nenhum em foto nem em televisão por recusa mas consigo imaginar Cavaco Silva, Passos Coelho e muitos outros democratas filhos da besta que ao apoiarem e intervirem na ação na Líbia não acautelaram aquilo que hipocritamente dizem defender: os Direitos Humanos. E viu-se Obama, e a secretária Clinton e tantos outros do lá de lá do Atlântico. E viu-se Barroso e tantos outros europeus pseudo humanistas… Ficou para mim até à saciedade que estes democratas acabam por ser iguais a Kadafi, sem a mínima preocupação de fazerem respeitar os Direitos Humanos, capturarem o ditador, a besta, e julgá-lo, retendo-o se necessário por toda a vida entre grades. Mas não, nada disso se viu. Viu-se o contrário com o apoio de mentes criminosas de colarinho branco, pseudo democratas e autênticos filhos da besta. Confrange qualquer humano que pugne por respeitar e fazer respeitar os Direitos Humanos concluir que no ocidente temos dirigentes de mente criminosa, afinal tão desumana e tão suja quanto a do ditador e besta Kadafi. A selvajaria também está nos poderes do ocidente, já o havíamos constatado antes mas agora podemos juntar mais uma axa para a fogueira que os condena ao abrigo dos direitos da democracia, da dignidade, do humanismo que devemos guardar com toda a honra para com os nossos adversários. Deste modo, como tudo aconteceu, fácil será sabermos que os Direitos Humanos continuam a ser violados na Líbia, agora é o CNT seu responsável, aquele que é apoiado pela besta ocidental. A mesma besta que por décadas se relacionou com Kadafi sabendo que era um ditador déspota e hediondo. A falta de respeito dos dirigentes ocidentais por eles próprios revela-nos a imensidão de falta de respeito que têm por todos os outros, por nós. Aliás, tudo isso cada vez mais é evidente. Também em Portugal os filhos da besta encarnam os vampiros cantados por Zeca Afonso, sem escrúpulos, sem pruridos, condenando nos à miséria por conveniências de uma minoria que servem. Filhos da besta, pois então.

DEPOIS DE ESCRITO

Algumas horas depois da contestação declarada ao assassinato, linchamento e execução de Kadafi, por parte do CNT, veio a Casa Branca afirmar que “esperam do CNT transparência sobre a morte de Kadafi”. Grande hipocrisia.

Só agora o fazem com um pouco de maior vigor porque as vozes não se calam e é afirmado com provas irrefutáveis (A.I.) que se Kadafi era o ditador, assassino e sanguinário que todo o mundo conheceu, o CNT não é melhor e pode até vir a ser muito pior. Aliás, apoiado como tem estado pelos europeus e norte-americanos filhos da besta outra coisa não seria de esperar de um colégio de militares mal formados e permanentemente violadores dos Direitos Humanos, se assim não fosse Kadafi teria sido capturado, preso, julgado e então, sim, condenado.

O CNT diz que vai dar detalhes nos próximos dias, o que significa que vai mentir, obniamente, porque é mais que visível nas fotos provas de vilipendio e linchamento, bem como de exucução sumária.

E são os EUA, também useiros e vezeiros em atos de terrorismo no Vietnam no passado, no Iraque, Afeganistão e noutras partes do mundo que agora dizem em nome da administração Obama que desejam que “os presos sejam tratados com humanidade”. Esse mesmo Obama que capturou Bin Laden ferido e o mandou executar sumariamente, desconhecendo-se o que antes mais de vilipendio lhe possam ter feito. Hipócrita assim, como Obama, revela o género de um terrorista sofisticado que afinal não é muito diferente de outros terroristas ao estilo de W. Bush. Uns presidentes mais, outros menos, mas acabando por ir dar ao mesmo tipo de terrorismo com outros epítetos de propositos enganadores e suavizantes. Quem não sabe?

*Também publicado em Página Lusófona, blogue do autor.

EUA ESPERAM DO CNT “TRANSPARÊNCIA” SOBRE A MORTE DE KADHAFI




RTP

Os Estados Unidos disseram hoje que esperam que o Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio determine de forma "transparente" as causas da morte do antigo dirigente Muamar Kadhafi.

A administração Obama deseja igualmente que "os presos sejam tratados com humanidade", declarou Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado.

O CNT "vai dar mais detalhes nos próximos dias", considerou o porta-voz numa altura em que as circunstâncias da morte do ditador ainda não foram esclarecidas.

O presidente norte-americano, Barack Obama, afirmou na quinta-feira que a morte de Kadhafi constitui "o fim de um capítulo longo e doloroso" para os líbios.

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 51




MARTINHO JÚNIOR – Luanda

“DILATAR A FÉ E O IMPÉRIO”

Opinião, revista e ampliada no artigo “Timor-Leste: GOVERNO PORTUGUÊS DISPONÍVEL PARA QUE GNRCONTINUE

1) Desgraçadamente é esta a única missão militar-policial de envergadura de Portugal a nível internacional, em relação à qual existe um mínimo de dignidade, de coerência histórica e de bom senso humanitário.

2) Em todas as outras "missões" Portugal veste a roupagem dum desprezível mercenário à disposição dos grandes falcões, nos Balcãs, no Iraque, ao largo da Somália e no Afeganistão sobretudo.

3) É evidente que a relativamente satisfatória missão em Timor é insuficiente para "apagar" a mancha mercenária portuguesa a coberto da NATO.

4) Essa mancha é tanto mais condenável quando, ao mesmo tempo que jovens portugueses são mobilizados para “dilatar a fé e o império” anglo-saxónico à boa maneira de George Bush, Tony Blair Obama e seus sequazes, a sociedade portuguesa sofre os traumas impostos por esse mesmo império e suas tão mal paradas e digeridas finanças.

5) Portugal está-se a reduzir (e a reduzir os seus instrumentos de poder de estado), cada vez mais à condição dum instrumento mercenário, quando o seu próprio povo é castigado pelos interesses omnipresentes da aristocracia financeira mundial, aliada às elites políticas e económicas nacionais.

6) As “missões” militares portuguesas em países do CPLP, deveriam ser alvo não só de inquérito, como também de rigorosa fiscalização: elas estão em funções correspondendo a um modelo estritamente bilateral, ou assumem-se como observatório e filtro ao serviço da NATO?

7) Essa questão é tanto mais pertinente quanto os falcões que tornaram a NATO um instrumento de ingerência e manipulação fora do espaço físico geográfico original, estão apostados em aproveitar as “receitas” da Líbia, do Iraque e do Afeganistão para as aplicarem em outras regiões do Médio Oriente, da América Latina e de África, aproveitando o “mercado” energético, onde procuram completo domínio.

8) Por conseguinte, é legítimo e torna-se necessário a países como Angola, preservarem a cultura que explora as vias de paz e diálogo permanente, de forma a darem oportunidade à continuação dos resgates históricos em benefício dos seus povos, não se deixando enredar nas teias do “mercado” cujas ideologias conduzem, entre outras coisas, à omnipresença da NATO.

9) Compreende-se agora melhor que nunca a razão da ditadura de Salazar ter sido o único fascismo aceite na fundação da NATO: 60 anos depois, uma tenebrosa ditadura financeira, aquela que move o império tisnado de cultura anglo saxónica, impõe o fim da soberania das "velhas" nações europeias e Portugal constituir um dos primeiros sinais dessa decadência e desse colapso, mais ainda que no tempo do “ultimatum” britânico ao “mapa cor de rosa”!

10) Nesse aspecto a super estrutura ideológica do estado fascista de Salazar foi um precursor da ideologia fomentada na origem pelo par George Bush e Tony Blair, para promoverem sucessivamente as ingerências nos Balcãs, no Iraque, no Afeganistão e na Líbia, em nome duma “civilização ocidental” que não passa duma manipulação da poderosa aristocracia financeira mundial, evidenciando uma espécie de feudalismo adaptado ao século XXI, tão do agrado de algumas das correntes católicas inerentes ao próprio Vaticano, como à arcaica sociedade portuguesa, cuja mentalidade-padrão remonta aos tempos da Inquisição e dos Cristão Novos!

Timor-Leste: China vai oferecer dois barcos motorizados e um veículo de manutenção




MSE - LUSA

Díli, 21 out (Lusa) - A China e Timor-Leste assinaram um acordo de assistência militar que prevê a oferta de barcos e de um veículo de manutenção, segundo um comunicado enviado hoje à Agência Lusa pela embaixada chinesa em Díli.

Segundo o documento, o acordo foi assinado entre o major-general Qian Lihua, diretor do gabinete dos Assuntos Exteriores do Ministério da Defesa chinês, e o secretário de Estado da Defesa timorense, Júlio Tomás Pinto.

"Segundo o acordo, a parte chinesa oferecerá à parte timorense dois barcos motorizados e um veículo de manutenção", refere o documento.

A visita da delegação militar chinesa decorreu entre terça e quinta-feira e serviu, segundo o documento, para "trocar opiniões sobre as cooperações entre as duas forças em termos de capacitação e intercâmbio militar".

Durante a sua estada em Díli, a delegação militar chinesa manteve também encontros com o presidente do parlamento timorense e com o vice-chefe das Forças Armadas do país, Filomeno Paixão.

A comitiva teve também um encontro com o general Taur Matan Ruak, antigo chefe das Forças Armadas de Timor-Leste, que anunciou na semana passada a sua candidatura às presidenciais de 2012 no país.

"Durante os encontros, o general Qian avaliou positivamente as boas relações de amizade e cooperação entre os dois países e as duas forças, agradeceu à parte timorense pela adesão firme à política de Uma Só China, e afirmou que a sua visita tem como objetivo intensificar ainda mais o intercâmbio e a cooperação entre as duas forças, assim como promover o desenvolvimento das relações bilaterais", refere o comunicado.

O general Qian referiu também que a "assistência chinesa não possui qualquer condição adicionada e é um tipo de ajuda que mostra a verdadeira fraternidade".

Moçambique: FMI pede mais eficiência na tributação do capital das multinacionais




RTP

O Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu hoje que Moçambique deve ser mais eficiente na tributação do capital das multinacionais envolvidas na exploração dos seus recursos naturais, para gerar benefícios económicos e sociais para o país.

Falando hoje em Maputo em conferência de imprensa, o representante do FMI, o brasileiro Victor Lledó, descreveu como "generoso" o regime fiscal que Moçambique ofereceu aos primeiros grandes projetos implementados no país, defendendo por isso a necessidade de uma mudança de paradigma fiscal em relação às multinacionais.

"A posição do Fundo (Monetário Internacional), de uma forma geral, em relação a grandes projetos nas áreas extrativas dos recursos minerais e naturais é a de que esses projetos precisam dar a sua contribuição económica e social", afirmou Victor Lledó.

As autoridades moçambicanas, sugeriu o representante do FMI em Moçambique, devem ser capaz de compreender a volatilidade do mercado internacional dos recursos naturais, para melhor tirar vantagens das receitas.

"O FMI está a ajudar a aprimorar e a afinar o regime fiscal aplicado aos grandes projetos, prestando assistência técnica sobre a capacidade de previsão das receitas dos produtos minerais", enfatizou Victor Lledó.

Sobre os grandes investimentos externos já realizados, o representante do FMI defendeu uma abordagem "caso a caso e cautelosa", para a salvaguarda dos interesses dos investidores.

"O Governo deve abordar a eventual renegociação de forma cautelosa, dadas as implicações que isso pode ter para os investimentos privados e para o ambiente de negócios no país", frisou Victor Lledó.

Moçambique acolhe dezenas de multinacionais envolvidas na exploração ou pesquisa de recursos naturais, como carvão, gás, petróleo e areias pesadas.

Três médicos condenados a 17 anos de prisão por retirarem órgãos de pacientes vivos...




... sem autorização

CSR - LUSA

São Paulo, 21 out (Lusa) -- Três médicos acusados pela justiça por homicídio doloso, por retirarem órgãos de pacientes ainda vivos, na cidade brasileira de Taubaté, em São Paulo, foram condenados a 17 anos e meio de prisão, informou hoje a imprensa brasileira.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, os três médicos podem ainda recorrer da decisão do tribunal em liberdade.

O julgamento, que começou na segunda-feira, terminou na noite de quinta-feira (madrugada de sexta-feira em Lisboa), em Taubaté, cidade do interior de São Paulo.

O urologista Rui Noronha Sacramento, o nefrologista Pedro Henrique Torrecilhas e o neurocirurgião Mariano Fiore Júnior foram considerados culpados por utilizar diagnósticos falsos de morte cerebral para retirar rins de quatro pessoas em 1986.

Os médicos negam as acusações.

O procurador Marcio Augusto Friggi de Carvalho definiu o trabalho dos médicos como uma central de remessa de rins para pacientes ricos de São Paulo.

Os rins foram retirados às quatro vítimas, com traumatismos graves ou aneurismas cerebrais, em 1986, em Taubaté.

Os arguidos não responderam por tráfico de órgãos, mas por apressar ou contribuir para a morte dos pacientes.

A procuradoria usou relatórios do Conselho Regional de Medicina que, segundo o procurador, concluíram que não há elementos suficientes para atestar que os pacientes estavam em morte cerebral.

Quem será o próximo a entrar na lista, feita pelos donos do mundo, como ditador mau?




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

Agora que alguns ditadores (ainda poucos, é certo) começam a cair ou a ser suicidados, o mundo dito (nem sempre é verdade, mas...) democrático começa a gerar outros e a aguentar alguns que ainda não passaram de bestiais a bestas.

No caso de Angola, José Eduardo dos Santos (no poder há 32 anos sem ter sido eleito) necessita de rever os seus ideais e princípios, apesar de estarem ainda de acordo com o barómetro internacional dos ditadores bons.

De facto, o governo angolano, no poder deste 1975, não tem tido vontade, embora tenha os meios, para resolver os problemas de água, luz, lixo, saúde, trabalho e educação. A juventude não tem casa, não tem educação, emprego e não tem futuro. Os trabalhadores têm salários em atraso e não conseguem obter crédito bancário.

Esses são, contudo, problemas internos que não alteram a posição de José Eduardo dos Santos no ranking dos ditadores amigos do Ocidente.

E não alteram o ranking porque coisas tão banais como casa, saúde, educação, comida, não são preocupações essenciais para os que vão a Angola e, através dela, a Cabinda, sacar a +única coisa que lhes interessa e que é regra de ouro para uma boa qualificação entre os ditadores bestiais, o petróleo.

Estar 32 anos no poder, com o poder absoluto que tem nas mãos (é além de presidente da República e também líder MPLA e chefe do Governo), faz de José Eduardo dos Santos um dos ditadores ou, na melhor das hipóteses, um presidente autocrático, há mais tempo em exercício.

O facto de não ser caso único, nomeadamente em África, em nada abona a seu favor. Sabe todo o mundo, mas sobretudo e mais uma vez África, que se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente. É o caso em Angola. Mas ninguém se preocupa com isso. Por enquanto, é óbvio.

Só em ditadura, mesmo que legitimada pelos votos comprados a um povo que quase sempre pensa com a barriga (vazia) e não com a cabeça, é possível estar tantos anos no poder. Em qualquer estado de direito democrático tal não seria possível.

Aliás, e Angola não foge infelizmente à regra, África é um alfobre constante e habitual de conflitos armados porque a falta de democraticidade obriga a que a alternância política seja conquistada pela linguagem das armas. Há obviamente outras razões, mas quando se julga que eleições são só por si sinónimo de democracia está-se a caminhar para a ditadura.

Com Eduardo dos Santos passa-se exactamente isso. A guerra legitimou tudo o que se consegue imaginar de mau. Permitiu ao actual presidente perpetuar-se no poder, tal como permitiu que a UNITA dissesse que essa era (e pelo que se vai vendo até parece que teve razão) a única via para mudar de dono do país.

É claro que, é sempre assim nas ditaduras, o povo foi sempre e continua a ser (as eleições não alteraram a génese da ditadura, apenas a maquilharam) carne para canhão.

Por outro lado, a típica hipocrisia das grandes potências ocidentais, nomeadamente EUA e União Europeia, ajudou a dotar José Eduardo dos Santos com o rótulo de grande estadista. Rótulo que não corresponde ao produto. Essa opção estratégica de norte-americanos e europeus tem, reconheça-se, razão de ser sobretudo no âmbito económico.

É muito mais fácil negociar com um regime ditatorial do que com um que seja democrático. É muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na cadeira do poder durante toda a vida, do que com alguém que pode ao fim de um par de anos ser substituído pela livre escolha popular.

É, como acontece com José Eduardo dos Santos, muito mais fácil negociar com o líder de um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracias, representante temporário do povo soberano.

Bem visível na caso angolano é o facto de, como em qualquer outra ditadura, quanto mais se tem mais se quer ter, seja no país ou noutro qualquer sítio. Por muito pequeno que seja o ditador, o que não é o caso de José Eduardo dos Santos, a História mostra-nos que tem sempre apreciável fortuna espalhada pelo mundo, seja em bens imobiliários (como era tradição) ou mais modernamente nos paraísos fiscais.

Reconheça-se, entretanto, a estatura política de José Eduardo dos Santos, visível sobretudo a partir do momento em que deixou de poder contar com Jonas Savimbi como o bode expiatório para tudo o que de mal se passava em Angola.

Desde 2002, o presidente vitalício (ao que parece) de Angola tem conseguido fingir que democratiza o país e, mais do que isso, conseguiu (embora não por mérito seu mas, isso sim, por demérito da UNITA) domesticar completamente todos aqueles que lhe poderiam fazer frente.

Não creio que, até pelo facto de o país ter estado em guerra dezenas de anos, José Eduardo dos Santos tenha as mãos limpas de sangue. Aliás, nenhuma ditador com 32 anos de permanência seguida no poder, tem as mãos limpas.

Mas essa também não é uma preocupação. Quando se tem milhões, pouco importa como estão as mãos. Aliás, esses milhões servem também para branquear, para limpar, para transplantar, para comprar (quase) tudo e (quase) todos.

Tudo isto é possível com alguma facilidade quando se é dono de um país rico e, dessa forma, se consegue tudo o que se quer. E quando aparecem pessoas que não estão à venda mas incomodam e ameaçam o trono, há sempre forma de as fazer chocar com uma bala.

Acresce, e nisso os angolanos não são diferentes dos portugueses ou de qualquer outro povo, que continua válida a tese de que “se não consegues vencê-los junta-te a eles”. Não admira por isso que José Eduardo dos Santos tenha mais alguns fiéis seguidores, sejam militares, políticos, empresários e até supostos jornalistas.

É claro que, enquanto isso, o Povo continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a morrer pouco depois... com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as assimetrias sociais são chagas imputáveis ao Poder. E quem está no poder há 32 anos é sempre o mesmo, José Eduardo dos Santos.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

LÍBIA, PETRÓLEO E DEMOCRACIA




CARTA MAIOR

Quatro semanas de bombardeios intensos dos caças da Otan precederam a captura e morte de Kadafi, nesta 5ª feira, na Líbia. Sirte, a cidade nuclear no centro das operações, foi reduzida a ruínas. Mais de 100 pessoas morreram nos últimos 10 dias. Há centenas de feridos e encarcerados. A violência não se limita aos combates.

Um relatório da Anistia Internacional, de 13 de outubro, "Detention Abuses Staining the New Libya", denuncia a persistencia de prisões arbitrárias, sem julgamento, por parte de milícias incorporadas ao governo provisório rebelde. A prática da tortura é generalizada nas prisões, seja por vingança, seja como método sancionado de coleta de informação. Se o Conselho Nacional de Transição (CNT) não der mostras de "uma ação firme e imediata", diz o Relatório da Anistia, a Líbia corre "um risco real de ver algumas tendências do passado repetirem-se.

O documento resume as conclusões de uma delegação da Anistia Internacional que, entre 18 de agosto e 21 de setembro, recolheu os testemunhos de perto de três centenas de prisioneiros em 11 instalações de detenção da capital, Tripoli, bem como de Zawiyah e outras regiões do país. As imagens de Kadafi banhado em sangue, com o rosto desfigurado, morto após captura, ocuparam hoje um espaço de destaque, algo jubiloso, em veículos tradicionalmente empenhados em cobrar o respeito aos direitos humanos, sobretudo de regimes cujos governantes, em sua opinião, não comungam valores democráticos.

Carta Maior repudia a tortura, o arbítrio e a opressão --política e econômica, posto que são indissociáveis-- em qualquer idioma e latitude. Não se constrói uma sociedade justa e libertária com o empréstimo dos métodos que qualificam o seu oposto. A história dirá se o que assistimos hoje na Líbia atende às justas aspirações das etnias líbias por liberdade e justiça social, ou configura apenas uma cortina de fumaça feita de bombas e opacidade midiática para lubrificar o assalto das potências ao petróleo local.

(Carta Maior; 6ª feira, 21/10/ 2011)

KADAFI É PRESO. E SUBMETIDO A LINCHAMENTO. ASSISTA: http://www.youtube.com/user/freemisrata

“OCUPA WALL STREET” E MST JUNTOS EM NOVA YORQUE




Janaina Stronzake, de Nova York, Página do MST -  Planeta Osasco

Em setembro de 2011, alguns jovens tiveram a idéia de acampar em Wall Street, uma rua de Nova York, famosa por abrigar as maiores corporações financeiras do mundo, para exigir que os financistas devolvam o que haviam roubado.

Eles não receberam muita atenção. E uns dias depois, a polícia tentou despejá-los. Foi quando os holofotes se voltaram ao grupo e então já era uma multidão de caras e vozes ocupando a praça.

Com a convocatória mundial para ocupações no dia 15 de outubro, vem um novo fôlego, com sindicatos e grupos organizados se juntando à ocupação. Talvez o “Occuppy Wall Street” não seja a maior ocupação do mundo, não tenha mais pessoas, talvez não seja a mais organizada. Mas é a que está no coração financeiro do capitalismo.

Na praça está proibido o uso de microfones. Quando alguém fala à assembleia, as palavras vão sendo repetidas pela multidão.

Quando o MST levou sua solidariedade ao povo mobilizado em Wall Street, centenas de vozes repetiram, com os punhos levantados: “ocupar, resistir e produzir”.

De certa forma, é esse o compromisso do MST e de todos os que ocupam Nova York: ocupar o mundo, resistir coletivamente e produzir outra cultura e um outro mundo.

Ali na praça, a voz é aberta. De um lado, um grupo de asiáticos e asiáticas batem tambores e parecem rezar. Do outro, tambores africanos ressoam durante todo o dia. À esquerda, dois homens distribuem panfletos enquanto entoam sem parar “ajuda para as pequenas empresas”. Mímicos, jornalistas, hippies, estudantes, desempregadas… Alguns descansam, outros fazem reuniões. E a cozinha coletiva no meio de tudo.

Há quem está ali porque deseja mais empregos. Há quem queira parar a onda neoliberal. Todas e todos querem o fim do capitalismo, por meio da quebra do mercado financeiro. Ouvimos um homem de mais ou menos 40 anos dizer “estou aqui porque não posso olhar meus filhos e dizer que não lutei”.

Ainda não se sabe exatamente o rumo que as ocupações, que se multiplicam por outras cidades nos Estados Unidos e no mundo, vão tomar. Uma assembleia soberana decidirá em algum momento esse rumo. Por enquanto, expressões diversas vão galvanizando desejos de um outro mundo.

*Janaina Stronzake é militante do MST de Nova York, Estados Unidos

Leia também:

Occupy Melbourne: POLÍCIA DE CHOQUE DISPERSOU PROTESTOS




FV - LUSA

Melbourne, Austrália, 21 out (Lusa) - A polícia de choque dispersou hoje uma manifestação ligada ao movimento "Ocupar Wall Street" na cidade australiana de Melbourne.

O confronto surgiu depois de um grupo de cerca de 100 pessoas, que protestava contra a "ganância corporativa" ter desafiado uma ordem para desocupar uma praça da cidade.

Vários membros do grupo "Ocupar Melbourne" foram arrastados pela polícia da praça onde estiveram acampados quase uma semana.

A porta-voz da polícia do estado de Victoria, belinda Nolan, não precisou se houve detenções ou feridos durante os confrontos, mas várias pessoas foram vistas a ser algemadas e a entrar nas carrinhas da polícia.

Empresas da China, Japão e Coreia do Sul interessadas na exploração de petróleo e gás




PNE – LUSA

Empresas chinesas, sul-coreanas e japonesas já manifestaram interesse na exploração de petróleo e gás em Timor-Leste, mas ainda não há acordos assinados, disse hoje à agência Lusa o ministro timorense da Economia e Desenvolvimento, João Gonçalves.

"Já há alguns contactos iniciais, não só com companhias chinesas, como com companhias sul-coreanas e o Japão também está interessado", afirmou o governante em entrevista à Lusa em Macau, realçando que "há bastante interesse de vários países" na exploração de petróleo e gás em Timor-Leste.

Mas João Gonçalves garantiu que "neste momento ainda não há nada assinado", ao explicar que foi criada uma "companhia estatal timorense que irá negociar qualquer possível parceria com empresas estrangeiras para a exploração de petróleo e gás em Timor".

O Conselho de Ministros de Timor-Leste aprovou em maio a criação da empresa nacional de gás e petróleo, a TIMORGAP, EP, "com a finalidade de deter e gerir, com um enquadramento e princípios de natureza empresarial, os ativos da propriedade do Estado de Timor-Leste no setor do petróleo, atribuídos por lei".

Nos termos da decisão aprovada, "as atribuições, que eram anteriormente exercidas pelo órgão de administração direta responsável pelo setor do petróleo, no âmbito da Secretaria de Estado dos Recursos Naturais, relativas a atividades de cariz empresarial, são transferidas para a TIMORGAP, EP."

Num discurso proferido hoje na abertura da Feira Internacional de Macau, João Gonçalves realçou que a economia de Timor-Leste "continua impulsionada pelo setor petrolífero, tendo nos últimos anos mantido taxas de crescimento superiores a 10 por cento, que se espera manter no corrente ano e futuros, diversificando-se os fatores de crescimento".

O governo prevê para a costa sul o desenvolvimento de uma "base de fornecimento logístico" em Suai para "atender às necessidades das explorações de petróleo e gás natural no Mar de Timor", uma "planta de liquefação de gás em Beaço-Viqueque para a exploração do projeto Greater Sunrise, cujas negociações sobre a localização do gasoduto ainda estão em curso", e uma refinaria em Betano-Same.

Ao referir que a China, segunda economia mundial, já manifestou o interesse na exploração petrolífera em Timor-Leste, o ministro da Economia e Desenvolvimento garante que o gigante asiático está ainda interessado noutros recursos minerais.

"Felizmente somos um país rico - mas com gente pobre - e temos algumas riquezas já em fase exploratória, o petróleo e o gás, mas também temos recursos minerais como o mármore, manganês, calcário, algum ouro e cobre, prata, granito", apontou.

Relativamente à cooperação com Portugal, o governante salientou a importância do `know-how` luso no que se refere às renováveis, salientando que nesta área "Portugal poderá ajudar imenso" Timor e manifestou o desejo de intensificar a presença de empresários portugueses no seu país.

O ministro reiterou, por outro lado, que Timor-Leste "está a ponderar um possível investimento na Galp Energia e EDP", que está a ser estudado pela Agência de Investimentos, pois o país "continua interessado e desejoso de também ajudar Portugal, que tem apoiado imenso Timor".

"Não há ainda nada decidido, apenas manifestações de interesse, mas será difícil conseguirmos algo antes das eleições [de 2012], penso que depois disso é que serão tomadas as grandes decisões", concluiu.

XANANA GUSMÃO DIZ QUE FORÇAS AUSTRALIANAS SÃO PARA SAIR EM 2012




MSE - LUSA

Díli, 21 out (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, disse hoje que as forças australianas destacadas no país são para sair no final de 2012 e que "agora estão a mais".

"A nossa posição é que depois das eleições não necessitamos mais das forças australianas", afirmou Xanana Gusmão no aeroporto de Díli, após ter chegado de uma viagem oficial ao Sudão do Sul.

O chefe das Forças Armadas australianas, o general David Hurley, disse quarta-feira numa comissão no Senado australiano, que está a avaliar a presença em Timor-Leste depois de 2012.

"Também li no avião que o ministro da Defesa australiano está a pensar numa maior presença de americanos no Mar de Timor e na Austrália, façam isso, não se preocupem connosco", afirmou Xanana Gusmão.

O primeiro-ministro timorense salientou também que os timorenses vão "dar conta do recado" e que não querem mais violência.

"Estão a gastar dinheiro, sem fazer nada, andam por aí e só recebemos manifestações da nossa população porque vão a todos os sítios sagrados e nós somos católicos, mas somos ainda animistas, desrespeitam os sítios", disse o chefe do Governo timorense.

"Antes precisamos e chamamo-los para aqui, agora estão a mais. Numa palavra assim muito simples, muito breve, estão a mais", disse, concluindo que a posição do governo é a de que depois de 2012 já não há mais necessidade de ter forças australianas no país.

A Austrália tem 380 militares em Timor-Leste no âmbito da Forças Internacional de Estabilização (ISF, sigla em inglês).

A ISF é composta por 460 elementos das forças de defesa australianas e da Nova Zelândia.

Aquela força está em Timor-Leste a convite do governo timorense e em apoio da ONU com o objetivo de manter a estabilidade e ajudar ao desenvolvimento do país.

Além do ISF, as forças militares australianas contribuíram também com elementos para a Missão Integrada da ONU em Timor-Leste (UNMIT).

A UNMIT é a quinta missão da ONU em Timor-Leste desde 1999.

MORTE DE MUAMMAR KADHAFI NÃO RESOLVE PROBLEMA – Xanana Gusmão




MSE - LUSA

Díli, 21 out (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, disse hoje que a morte do ex-líder líbio Muammar Kadhafi não vai resolver os problemas daquele país.

"Só espero que todas as forças intervenientes na Líbia não pensem que a morte no Kadhafi é o fim de tudo", afirmou no aeroporto de Díli, proveniente do Sudão do Sul, onde realizou uma visita oficial.

Para Xanana Gusmão, as "expetativas são enormes" e, portanto, a "morte de Kadhafi é igual à prisão de Mubarak que é igual à morte de Saddam Hussein".

"O problema não se resolve com a morte deles, o problema é cada povo, tanto na Tunísia, como na Líbia, como no Egito aprenderem as lições do Iraque e ver se chegam a um consenso para resolverem os problemas nacionais", disse.

O ex-líder líbio Muammar Khadafi foi morto quinta-feira em Sirte pelas forças rebeldes que desde fevereiro combatiam o regime, confirmou o Conselho de Transição líbio.

O Tribunal Penal Internacional tinha lançado contra Kahafi e contra um dos seus filhos, Seif Al-Islam (detido quinta-feira), um mandado de captura "por crimes contra a humanidade".

KHADAFI DEIXOU 1300 MILHÕES DE EUROS NA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS




Bárbara Reis - Público

Primeiro depósito chegou a Portugal em 2008

A Caixa Geral de Depósitos tem neste momento 1300 milhões de euros de fundos estatais da Líbia depositados em quatro contas que foram congeladas em Março ao abrigo das sanções internacionais contra o regime de Khadafi, confirmou o PÚBLICO junto de várias fontes da banca, do Governo e da diplomacia ao longo dos últimos sete meses.

Contactada, a Caixa não quis comentar. O primeiro depósito chegou a Portugal em 2008, depois de Khadafi, de forma intempestiva, ter levantado todo o dinheiro dos fundos públicos líbios que estava depositado em bancos suíços. O gesto do antigo ditador foi uma represália contra a prisão, no Verão desse ano, do seu filho mais novo, Hannibal Khadafi, e da mulher, na altura grávida de nove meses.

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A LÍBIA ENTRA NUMA NOVA ERA APÓS A MORTE DE KHADAFI




Isabel Gorjão Santos - Público

Muammar Khadafi foi hoje morto na sua cidade natal, Sirte. “Era um momento que esperávamos há muito tempo”, disse o primeiro-ministro do governo de transição líbio, Mahmud Jibril. O Presidente norte-americano Barack Obama falou do fim “de um capítulo longo e doloroso”.

A morte do homem que governou a Líbia durante 42 anos foi anunciada por comandantes militares do governo de transição da Líbia, que acrescentaram que Khadafi foi ferido em ambas as pernas e na cabeça. Mas ao final do dia as circunstâncias da morte não eram ainda claras.

O antigo líder líbio terá ficado ferido após um ataque da NATO e a tomada de Sirte pelas forças do Conselho Nacional de Transição (CNT) que derrubaram o seu regime. Responsáveis do próprio CNT adiantaram que Khadafi foi encontrado escondido num buraco e alvejado quando tentava fugir, chegou a ser divulgado um vídeo que mostra o coronel a ser capturado vivo.

Mais tarde foi anunciada também a morte de um dos filhos de Khadafi, Moutassim Khadafi, que estaria com o pai, e surgiram informações não confirmadas, divulgadas pela estação de televisão Al Arabiya, sobre a morte de outro filho do antigo líder líbio e o seu braço direito, Saif al-Islam Khadafi, que também terá tentado fugir de Sirte numa coluna motorizada. Pouco antes, o ministro da Justiça do governo de transição líbio, Mohammad al-Alagi, dissera à Associated Press que Saif al-Islam tinha sido capturado e levado para um hospital com ferimentos numa perna.

Segundo a Al-Jazira, o corpo de Muammar Khadafi foi levado para uma mesquita de Misurata, mas a estação Al-Arabyia noticiou que o cadáver foi transportado para uma zona comercial daquela cidade, que já se encontra há vários meses sob o controlo das forças revoltosas no país. Apesar de haver informações contraditórias sobre as circunstâncias da morte e o local para onde foi levado o corpo de Khadafi, os vídeos divulgados por vários órgãos de informações internacionais dissiparam as dúvidas sobre o facto de o coronel estar morto. A Al-Arabyia adiantou que o novo regime líbio planeia sepultar Khadafi num local secreto.

A captura de Khadafi levou o primeiro-ministro do governo de transição, Mahmud Jibril, a garantir que anunciará em breve, o mais tardar nesta sexta-feira, “a libertação do país”. E adiantou: “Este era o momento que esperávamos há muito tempo. (...) Penso que é altura de começar uma nova Líbia, uma Líbia unida, um povo, um futuro.”

Em várias cidades Líbias a notícia da morte de Khadafi foi recebida com festejos. Há um mês que as forças do CNT combatiam os grupos leais a Khadafi em Sirte, a cerca de 373 quilómetros de Trípoli. O que aconteceu na cidade contou com um forte envolvimento das forças da NATO presentes no país e hoje o secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen regozijou-se com o sucesso da operação. “Após 42 anos, o reino do medo do coronel Khadafi chegou finalmente ao fim”, disse, deixando aos líbios o convite para “decidirem realmente sobre o seu futuro”.

Em comunicado, a NATO adiantou que o fim da sua operação na Líbia “está agora muito mais próximo”, mas que para já é necessário que o CNT “evite qualquer represália contra os civis e dê mostras de contenção em relação às forças vencidas pró-Khadafi”.

"Um momento histórico"

A morte de Khadafi foi confirmada ao final da manhã pelo porta-voz do Conselho Nacional de Transição líbio (CNT), Abdel Hafez Ghoga, numa conferência de imprensa em Bengasi, sede do poder. “Anunciamos ao mundo inteiro que Khadafi foi morto às mãos das forças revolucionárias”, declarou. “É um momento histórico, é o fim da tirania e da ditadura. Khadafi encontrou o seu destino”, regozijou-se.

Ao final do dia, o ministro francês da Defesa, Gérard Longuet, adiantou que, a pedido do Estado-maior da NATO, a aviação francesa “parou” uma coluna “de algumas dezenas de veículos” que procurava deixar Sirte, e que foram depois as operações militares no solo a levar à morte do coronel. Um avião francês Mirage-2000 foi mobilizado para “impedir essa coluna de avançar”, adiantou Longuet, enquanto um responsável norte-americano garantiu à AFP que também um avião não tripulado dos EUA lançou um míssil Hellfire contra essa coluna.Terá sido depois disso que as forças do CNT se aproximaram. “Nos confrontos foram destruídos vários veículos, várias pessoas ficaram feridas ou mortas e, após confirmação, concluiu-se que faziam parte das forças de Khadafi”, disse o ministro francês da Defesa. A NATO confirmou mais tarde que aviões da Aliança atingiram veículos das forças pró-Khadafi ao início da manhã, embora não tenha referido se Khadafi se encontrava nessa coluna.

Numa conferência de imprensa em Trípoli, responsáveis do CNT adiantaram que Khadafi morreu na sequência dos confrontos e que não foi dada ordem para o matar. E confirmaram também que o filho de Khadafi, Moutassim, foi morto e o seu corpo levado para Misurata, mas admitiram não saber se o outro filho do coronel, Saif al-Islam, foi morto ou capturado vivo, adiantou a AFP.

Um combatente do CNT disse à Reuters, por outro lado, que Khadafi estava escondido “num buraco” de onde saiu a gritar “não disparem, não disparem”. Ao início da tarde a televisão líbia Al-Ahrar difundiu uma imagem que adiantou ser do corpo de Khadafi, com o tronco e cabeça ensanguentados e os olhos abertos, rodeado por outras pessoas.

Um responsável do CNT, que não foi identificado, disse à Reuters que Khadafi foi capturado ainda vivo. “Capturaram-no vivo, depois agrediram-no e foi morto” adiantou. “Terá resistido”.

O fim de uma “era de despotismo”

Sem surpresa, mas com apreensão, vários líderes mundiais reagiram às informações sobre a morte de Khadafi. Barack Obama considerou que este é “o fim de um capítulo longo e doloroso para o povo da Líbia. E adiantou: “A Líbia tem agora a oportunidade de decidir o seu próprio destino como um país novo e democrático”.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apelou aos combatentes de ambas as partes para que “deponham as armas, em paz”, e considerou que "este dia marca claramente uma transição histórica para a Líbia".

Na União Europeia falou-se de um virar de página e do fim de uma ditadora. “A notícia da morte de Muammar Khadafi marca o fim de uma era de despotismo e repressão”, declararam hoje num comunicado conjunto o presidente da Comissão Europeia e o presidente do Conselho Europeu, José Manuel Durão Barroso e Herman Van Rompuy, respectivamente.

“Hoje a Líbia pode virar esta página da sua história e abraçar um novo futuro democrático. Pedimos ao Conselho Nacional de Transição que leve a cabo um processo de reconciliação alargado que chegue a todos os líbios e que permita uma transição democrática, pacífica e transparente no país”, indicaram ainda os mesmos responsáveis europeus.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, considerou que “o povo líbio tem hoje uma boa oportunidade de construir para si próprio um futuro forte e democrático” e o Presidente francês Nicolas Sarkozy disse que o desaparecimento de Khadafi representa “uma etapa fundamental” para a libertação da Líbia e considerou que foi aberta uma nova página na vida dos líbios, “a da reconciliação, unidade e liberdade”.

Em Itália, que teve a Líbia como uma das suas colónias e foi uma antiga aliada do regime de Khadafi, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi reagiu às informações sobre a captura do coronel ao dizer que “a guerra acabou”. E o chefe da diplomacia italiana, Franco Frattini, adiantou que “este é um grande passo em frente” e que a morte do antigo líder líbio “foi uma operação do Conselho Nacional de Transição líbio e de mais ninguém”. A Rússia, que se opôs à intervenção da NATO e se absteve na votação no Conselho de Segurança que abriu caminho à intervenção militar, manifestou o desejo de que esta transição conduza “à paz e a um Governo democrático na Líbia”. O Presidente Dmitri Medvedev disse que todos os que irão governar a Líbia, incluindo representantes das várias tribos, “devem chegar a acordo sobre a configuração do poder para que a Líbia seja um país moderno e democrático”.

A morte de Khadafi ocorre sete meses após o início dos raides aéreos da NATO, mandatados pelas Nações Unidas para “proteger os civis líbios”, e oito meses depois do eclodir do movimento de rebelião no país, em que as primeiras manifestações foram reprimidas violentamente pelo regime.

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