quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Rememorando cinco anos de perturbação económica: azia ou ataque de coração?

 

Zoltan Zigedy [*]
 
Quando mercados económicos significativos dos EUA se descontrolaram durante o Verão e fins de 2008, um temor, mesmo um pânico, apossou-se dos encarregados de desenvolver e aplicar a política económica. O pensamento prevalecente – capitalismo desenfreado com confiança quase religiosa em mecanismos de mercado – parecia estar em retirada irreversível.

O mercado habitacional esfriou, os valores das casas contraíram-se, e a estrutura financeira construída em torno da propriedade habitacional começou a entrar em colapso. Na medida em que o mercado de acções caía em queda livre das alturas anteriores, levado pela implosão das acções de bancos, os investidores retiravam-se dramaticamente do mercado. O crédito congelou e o consumo diminuiu. Começou então uma espiral decrescente de despedimentos colectivos, consumo reduzido, entesouramento de capital e crescimento retardado, seguida por mais despedimentos, etc, etc.

Com o medo, decisores políticos mexiam-se para encontrar uma resposta à crise que ameaçava aprofundar-se e propagar-se às mais remotas paragens da economia global. Com taxas de juro próximas de zero, reconheceram por fim que a caixa de ferramentas monetarista, em uso desde a administração Carter, não apresentava resposta.

No fim da administração Bush, líderes bipartidários aprovaram a injecção de centenas de milhares de milhões de dólares públicos no sistema financeiro com a esperança de estabilizar o valor de mercado dos bancos que estava em colapso, um movimento popularmente alcunhado como "bailout" (salvamento externo).

No princípio da administração Obama, administradores do Partido Democrata carpinteiraram um outro programa de recuperação que totalizava cerca de três quartos de um milhão de milhões (trillion) de dólares, um programa envolvendo uma combinação de cortes fiscais, projectos público-privados de infraestrutura e alívio directo ampliado. A generalidade dos economistas encarou este esforço como um programa de "estímulo" destinado a disparar uma explosão de actividade económica para dar o arranque a um motor económico enguiçado. Estimativas em dólar dos salvamentos federais e estímulos federais destinados a ultrapassar a crise ascenderam a valores tão altos quanto o Produto Interno Bruto de um ano nos anos iniciais após o início da queda livre. A Reserva Federal continua a fazer uma transfusão de US$75 mil milhões por mês para as veias da ainda enferma economia dos EUA.

Má fé

As últimas três décadas do século XX produziram um novo consenso económico: não meramente do primado do mercado, mas sim da total governação da vida económica pelo mercado. Acreditou-se que a regulamentação desestabilizava os mercado e não que o corrigia. A propriedade pública e os serviços públicos eram vistos como ineficientes e entraves inadmissíveis às forças do mercado. Tanto a vida pública como a privada, para além do universo económico, foram sujeitas aos mercados, medidas pelos mecanismos de mercado e analisadas através das lentes do pensamento de mercado. Na verdade, a linguagem de mercado (market-speak) tornou-se a língua franca unificadora de todas as ciências sociais e humanas nesta era. Com a queda da União Soviética, o capital e seus processos orientados pelo lucro penetraram todos os cantos do mundo. Só movimentos independentes, anti-imperialistas, desconfiados do mercado, como aqueles liderados por Hugo Chavez, Evo Morales e uns tantos outros obtiveram algum êxito político contra a dominância global sem precedentes da propriedade privada e dos mecanismos de mercado.

Enquanto o capitalismo na sua forma mais crua e agressiva desfrutava os seus momentos de triunfo, estavam em actuação forças que minavam aquela celebração. Aquelas forças estragaram a festa em 2000 sob a forma de um grave arrefecimento económico, a chamada "Recessão Dot-com" caracterizada por uma perda de valor no mercado de acções de US$5 milhões de milhões e o desaparecimento de milhões de empregos. Economistas assombravam-se pela lentidão com que os empregos estavam a retornar até os EUA e a economia global serem atingidos em 2008 por outra bofetada ainda mais poderosa. Claramente, a primeira década do século XXI será recordada como uma época de crise económica e incerteza, uma perturbação que continua até o dia de hoje.

Além do custo humano – milhões de empregos perdidos, pobreza, número de sem abrigos, oportunidades perdidas, destruição de riqueza pessoal – o século XXI infestado de crise desafiava a ortodoxia prevalecente dos mercados sem peias e da propriedade privada. Mesmo advogados tão sólidos e fervorosos daquela ortodoxia, como o Wall Street Journal, The Economist e The Times foram abalados pela crise, questionando a validade de princípios económicos clássicos. Nenhum princípio é mais querido e essencial para os adeptos do livre mercado do que a ideia de que os mesmos são auto-correctores. Apesar de poder haver desequilíbrios económicos de curto prazo ou maus tempos nos negócios, os advogados do mercado livre acreditam que o seu movimento tende sempre ao equilíbrio e à expansão no longo prazo. Portanto, uma estagnação persistente e de longo prazo, ou declínio, é considerada virtualmente impossível (com a condição de que não haja restrições impostas ao mecanismo de mercado).

Assim, quando a era da mais ampla economia global de mercado aberto experimentou o mais catastrófico colapso desde a Grande Depressão, levantam-se sérias dúvidas acerca dos princípios fundamentais da ideologia de mercado. E durante os dias mais negros de 2008 e 2009, um verdadeiro pânico ideológico abateu-se sobre sabichões e peritos da direita e da esquerda "respeitável". Alguns reabilitaram um economista fora de moda e falaram de um "momento Minsky". Liberais proclamaram a morte do neoliberalismo (a expressão popular para o retorno à respeitabilidade da teoria económica clássica que começou no fim da década de 1970). E outros ainda anteviram uma restauração dos intervencionistas teorias económicas representados por John Maynard Keynes, teorias que guiaram a economia capitalista através da maior parte do período do pós-guerra. Mesmo os economistas mais conservadores admitiram que a supervisão do mercado, se não mesmo a regulamentação, era tanto necessária como desejável.

Contudo, a mudança surgiu. Apesar de mais de cinco anos de declínio e estagnação, apesar de um contínuo fracasso dos mercados para a auto-correcção, a ideologia do livre mercado continua a dominar tanto o pensamento como a política, claramente mais baseada na fé do que na realidade. Em parte, a resiliência da filosofia do mercado aberto emana da perspicaz fabricação do medo do endividamento por políticos e traficantes de dívida das instituições financeiras. Ao levantar o grito estridente da explosão da dívida e da catástrofe iminente, a atenção desviava-se dos fracassos dos mercados sem peias e dirigia-se à austeridade governamental e à redução da dívida maciça.

Diagnóstico?

É evidente que todos os modelos matemáticos vencedores do Prémio Nobel, concebidos para apreender a actividade económica, fracassaram na previsão e explicação do crash de 2008. Nenhuma quantidade de fé poderia disfarçar o fracasso monumental dos mercados não regulamentados e das políticas que os promoveram. Duas explicações simplistas e conflitantes, agudamente contrastantes, são avançadas.

Os defensores dos mercados livres, desavergonhadamente e arrogantemente argumentam que o governo se intrometeu e prejudicou a plena e livre operação dos mecanismos de mercado, exacerbando portanto o que teria sido uma correcção penosa mas que seria resolvida rapidamente. Seguindo a metáfora mencionada no título deste artigo, a azia foi mal diagnosticada, tratada com cirurgia radical, só para criar uma condição que põe a vida em perigo.

Naturalmente, isto é uma insensatez dita em proveito próprio.

Seja o que for que possamos saber acerca de mercados, sabemos isto: desde que o processo de desregulamentação de mercados começou no fim da década de 1970, as crises têm ocorrido com mais frequencia, com maior amplitude e com consequências humanas mais drásticas. Antes disso, e durante todo o período anterior do pós guerra, a intervenção do governo e a regulamentação tendiam a prevenir períodos maus, moderar o seu nadir e suavizar os custos humanos. E um vislumbre do período anterior de política favorável ao mercado – os primeiros anos da Grande Depressão – demonstra a loucura de simplesmente esperar pela correcção prometida: as coisas só ficam piores. Assim, tal como agora, a vida demonstrou ser um capataz duro. Quando mecanismos de mercado realmente dão para o torto, ninguém pode se dar a luxo de esperar por auto-correcção.

Os oponentes liberais e da esquerda suave ao mercado sem peias apresentam um argumento diferente. Eles vêem a crise não na ausência de mercados livres mas sim no fracasso em supervisioná-los e regulamentá-los adequadamente. Nesta visão, partilhada por quase todos os liberais e a maior parte da esquerda não comunista, os mercados são mecanismos económicos fundamentais – essenciais, se quiser – mas melhor pastoreados por controles do governo que os pilotam para porto seguro quando ameaçam fugir ao controle.

Portanto, a crise de 2008 teria sido impedida, acreditam eles, se regras e regulamentos permanecessem em vigor tal como haviam sido anteriormente concebidos e implementados a fim de proteger a economia dos excessos do mercado. Se não houvéssemos afrouxado as regras e regulamentos, nunca teríamos experimentado o desastre de 2008.

Esta visão é história mal contada e análise económica ainda pior.

Se bem que os liberais gostem de acreditar que regulamentações e instituições geradas pelo New Deal da década de 1930 estabilizaram o capitalismo e domaram os mercados, a verdade é outra. O maciços gastos de guerra iniciado algum tempo antes da entrada dos EUA na II Guerra Mundial resolveram os problemas de crescimento e de excesso de mão-de-obra associados à longa década de estagnação, recuperação hesitante, recuo e nova estagnação que assolaram a economia desde 1929.

O capitalismo ganhou novo impulso com a reconstrução do pós guerra. Forças produtivas foram restauradas onde haviam sido destruídas, renovadas quando estavam gastas e melhoradas face aos novos desafios. Esta vasta reestruturação do capitalismo produziu novas oportunidades tanto para o lucro como para o crescimento. Ao mesmo tempo, a lição do gasto militar maciço, socializado, público e planeado não foi perdida. Novas ameaças foram conjuradas, novos temores construídos. A guerra quente na Coreia e a Guerra-Fria sempre crescente alimentaram uma expansão dos EUA sem precedentes. Não é inadequado caracterizar esta expansão do pós guerra como um período de "keynesianismo militar". Por outras palavras, foi uma era de politicas keynesianas de gastos governamentais planeados e extensos acoplados a encomendas militares fora do mercado. Na medida em que transferia uma fatia significativa da economia capitalista para um comando, um sector extra-mercado, ela assinalou uma nova etapa do capitalismo monopolista de estado, uma etapa que adoptava algumas das características do socialismo.

Mas em meados da década de 1960 este "ajustamento" começou a perder a sua vitalidade. O crescimento do lucro, a força condutora da expansão capitalista, começou um declínio persistente (para uma ilustração gráfica desta tendência, ver a página 103 de The Economics of Global Turbulence ( New Left Review, May/June 1998), de Robert Brenner.

A queda da taxa de lucro emparelhou-se à enorme inflação de meados da década de 1970. As soluções militar-keynesianas para a crise capitalista estavam gastas, exauridas, demonstrando-se inadequadas para tratar uma nova expressão da instabilidade do capitalismo. Talvez nada tenha assinalado mais a bancarrota da ortodoxia (keynesiana) prevalecente do que a desesperada campanha WIN ( Whip Inflation Now, Bata a inflação agora) da presidência Gerald Ford, uma tentativa impotente para deter a crise com determinação em massa.

Ao contrário das afirmações de liberais, sociais-democratas e outros salvadores do capitalismo voltados para reformas, a resultante mudança na ortodoxia não foi meramente um golpe político, uma vitória da ideologia retrógrada, mas ao invés disso um desmanchar das fracassadas políticas keynesianas da época. Portanto, a "revolução" de Thatcher/Reagan foi apenas o veículo para um ajustamento dramático da rota do capitalismo a afastar-se de um paradigma gasto, ineficaz.

Com Paul Volker assumindo a presidência do Federal Reserve e os princípios da desregulamentação sistemática, a administração Carter plantou as sementes do abandono das velhas receitas. Volker, com o seu crescimento sufocante das taxas de juro, assegurou uma recessão que afastaria qualquer vontade de resistir ao aperto de cinto. Mas foi preciso a eleição de Ronald Reagan orientado pelo dogma para emular a Margaret Thatcher do Reino Unidos e utilizar a ocasião para estripar salários e benefícios a fim de abrir o caminho para o crescimento do lucro.

O custo de devolver a vida à moribunda economia capitalista foi arcado pela classe trabalhadora. Loucamente, a impassível e complacente liderança [sindical] confiou na continuação do contrato tácito da Guerra Fria: O trabalho apoia a campanha anti-comunista e as corporações honram a paz trabalhista com salários firmes e crescimento de benefícios. Ao invés disso, o crescimento do lucro foi restaurado pela supressão dos padrões de vida do trabalho – cortando "custos". Seguiu-se uma odiosa ofensiva anti-trabalho.

Se bem que a leal oposição insista em retratar a ruptura com a teoria económica keynesiana como algo novo (habitualmente alcunhado "neoliberalismo"), ela foi, de facto, uma capitulação à antiga. A bancarrota da teoria económica burguesa não podia oferecer nada de novo, nenhuma resposta criativa à crise capitalista; ela só podia abandonar uma abordagem fracassada e restaurar lucros pelo esmagamento implacável do mercado de trabalho.

Esta resposta só podia ter êxito devido à extraordinária fraqueza do movimento trabalhista. Quando a taxa de lucro começou a recuperar, faltou ao trabalho liderança e vontade para não só assegurar uma fatia dos aumentos de produtividade, mas mesmo para defender seus ganhos anteriores.

Portanto, o capitalismo adquiriu um segundo fôlego ao recuar do consenso económico do pós guerra e renegar o implícito tratado de paz com o trabalho. O crescimento do lucro retornou e o sistema navegou.

Mas o contínuo avanço da desregulamentação e da privatização trouxe consigo um retorno à anarquia drástica dos mercados. A crise das Caixas Económicas (Savings e Loan) das décadas de 1980 e 1990 e o crash do mercado de acções de Outubro de 1987 foram os arautos do que estava para vir e reflexos de instabilidade mais profunda.

Com a queda União Soviética e do socialismo na Europa do Leste, foi entregue um enorme novo mercado ao sistema capitalista global, um mercado que mais uma vez revigorou as oportunidades para acumulação de capital e expandiu lucros. Milhões de trabalhadores educados, recém "libertos" (libertos da estabilidade de emprego, de condições de trabalho seguros, de protecção legal e de organização) juntaram-se aos trabalhadores com salários reduzidos e mal pagos do resto do mundo para constituir um vasto manancial de trabalho barato. Portanto, uma guerra de classe imensa e unilateral e a integração de milhões de trabalhadores com salários deprimidos estabeleceram o capitalismo num saudável caminho de recuperação do lucro, colocando a agora impotente ortodoxia keynesiana no espelho retrovisor. Poucos imaginariam que esta viagem duraria menos de duas décadas, até o capitalismo deparar-se outra vez com crises graves.

Crescimento económico significativo num período de trabalho fraco necessariamente produz desigualdade galopante. Com políticas fiscais amistosas para com as corporações e a riqueza, muitos mecanismos de redistribuição do governo são exauridos ou desmantelados. O fluxo de riqueza acelera-se para as corporações e os super-ricos e afasta-se daqueles que trabalham para viver. Os cofres da classe investidora incham com dinheiro ansioso por um retorno significativo sobre o investimento. Quando o processo de acumulação de capital se intensifica, cada vez menos seguro, surgem oportunidades de investimento produtivo de alto rendimento para absorver a vasta acumulação de riqueza sempre em expansão concentradas nas mãos de uma pequena minoria.

Num capitalismo maduro, novas e mais arriscadas avenidas – tipicamente removidas do sector produtivo – se abrem para oferecer um lar para o capital e prometendo um retorno. Banqueiros e outros "magos" financeiros competem ferozmente para construir dispositivos geradores de lucro que prometem cada vez mais. Estes instrumentos crescem gradualmente a partir da actividade produtiva. Além disso, seus "lucros" resultantes são mais uma vez removidos do valor real, tangível, material. Ao invés, eles existem virtualmente como capital "hipotético", ou capital "contra-factual", ou capital "direccionado ao futuro", ou capital "contingente". Alguns marxistas apressam-se a etiquetar este produto da especulação como "fictício", mas isso obscurece a sua origem fundamental em actos exploradores no processo mercadoria-produção. É esta expansão de capital promitente que alimenta volta após volta o investimento especulativo lubrificado com dívida cada vez maior.

Abundam metáforas do fim de jogo deste processo: "bolhas", "castelo de cartas", etc. Mas em última instância a causa da crise é o fracasso em satisfazer a infindável busca do retorno. Por outras palavras, a causa da crise reside no processo de acumulação intrínseco ao capitalismo e à incapacidade para sustentar um retorno viável ao sempre crescente mar de capital e capital promitente. Os capitalistas medem o seu êxito pelo modo como os seus recursos são plena e efectivamente postos em uso para gerar novos excedentes. Por outras palavras, o mais profundo e o mais impressionante sendo da "taxa de lucro". É o critério que guia o capitalista – uma taxa de lucro efectiva com base nos activos acumulados. Além das medidas oficiais e forçadas das taxas de lucro, o crescimento do capital acumulado, ponderado contra as oportunidades de investimento disponível, conduz o investimento futuro e determina o curso da actividade económica.

Em 1999, a lucratividade do sector tecnológico caiu precipitadamente em resultado do investimento irrealizável de milhares de milhões de dólares à procura de rendimento nas companhias marginais Dot.com e de serviços internet. Em resposta ao problema da super-acumulação, investir nas fantasias de jovens génios de 20 anos demonstrou-se ser tão irracional quanto observadores lúcidos pensam ser. Seguiu-se o crash.

E mais uma vez os dias estonteantes de 2005, a comprar pacotes de títulos bizarros com os destroços de hipotecas marotas parecia um meio de encontrar um lar para vastas somas de capital "improdutivo". Afinal de contas, o capital não pode permanecer ocioso; tem de encontrar um meio para reproduzir-se. Mas o que fazer com os rendimentos da revenda de títulos conduzidos pela procura? Mais do mesmo? Mais risco? Mais dívida? E repetir?

A porção dos lucros das corporações estado-unidenses "ganha" pelo sector financeiro cresceu dramaticamente desde 1990 até o crash de 2008, atingindo aproximadamente os 40% em meados dos anos 2000 e demonstrando a explosão de veículos de investimento alternativo que ocupava capital ocioso. É crucial ver uma ligação, uma necessidade evolucionária, entre a restauração da lucratividade, a intensa acumulação de capital e a tendência para a lucratividade ser desafiada pela falta de oportunidades de investimento prometedoras. Não é o capricho de banqueiros ou a esperteza de empreendedores que conduz este processo, mas o imperativo lógico do capital para produzir e reproduzir-se.

Alguns comentários e observações

Há outras teorias da crise apresentadas pela esquerda. Uma teoria, abraçada por muitos Partidos Comunista, sustenta que a crise emerge da super-produção. Naturalmente, num sentido a super-acumulalação é uma espécie de super-produção, uma super-produção de capital a que falta um destino para investimento produtivo. Mas muitos à esquerda entendiam algo diferente. Eles argumentam que o capitalismo põe mais mercadorias no mercado do que trabalhadores empobrecidos, mal pagos, podem comprar. Há duas objecções a isto: uma teórica, uma ideológica.

Primeiro, a evidência mostra que uma queda no consumo ou um aumento na produção de facto não antecede o declínio económico na nossa era. Se a super-produção ou o seu primo, o sub-consumo, fossem a causa da retracção económica de 2008, os dados necessariamente mostrariam algum desvio anterior dos padrões de produção/consumo. Mas não há nenhum. Ao invés, verifica-se o inverso: a própria crise provocou um fosso maciço entre a produção e o consumo, exacerbando-a. A ameaça de oferta excessiva prolonga-se na enorme pressão deflacionária que agita a economia global. Apesar do facto de o gasto do consumidor ser uma grande componente da economia dos EUA, os efeitos da sua estagnação secular ou declínio têm sido em grande medida atenuados pela expansão do crédito ao consumidor e a existência, embora ténue, de programas de bem-estar social como o seguro de desemprego.

Segundo, se consumo retardado ou inadequado fosse a causa de crises, então políticas redistributivas ou políticas fiscais proporcionariam uma solução simples para retracções, ambas impedem-nas e revertem-nas. Portanto, o capitalismo podia avançar no seu alegre carrossel com pouco temor de crise. Certamente esta é a atracção ideológica de explicações de crises pela super-produção: elas permitem a liberais e sociais-democratas apregoar sua capacidade para administrar o capitalismo através de políticas governamentais.

Contudo, eles não podem administrar o capitalismo porque as crises estão localizadas não na arena da circulação (compatibilizando produção e consumo), mas sim no mecanismo gerador de lucro do capitalismo, a sua própria alma.

Devido à centralidade do lucro, a explicação da super-acumulação tem uma afinidade com outra teoria da crise: o argumento de Marx para a tendência de queda da taxa de lucro. De facto, pode ser encarada como uma versão contemporânea do argumento sem as suposições do século XIX.

Felizmente, muitos comentadores de hoje revisitaram a teoria esboçada no Volume III de O Capital, descobrindo uma relevância ignorada ao longo da maior parte do século XX. Somente um punhado de admiradores do trabalho de Marx manteve a teoria viva naquela era, autores como Henryk Grossman, John Strachey e Paul Mattick. Infelizmente, admiradores de hoje, como os antecessores acima mencionados, partilham o viés acriticamente ao tomar o esquema de Marx como o Santo Graal. Na maior parte das vezes, Marx usava formalismo muito ocasional como ferramenta de exposição e não como os axiomas de um sistema formal. Aqueles treinados na análise económica moderna são inclinados a saltar sobre estas fórmulas com um fervor de discípulo. Eles debatem a resistência de um modelo que descreve a economia global como uma colecção de empresas a devorarem capital constante a uma taxa maior do que o emprego de trabalho e mecanicamente deprimindo a taxa de lucro. Isto é confundir a simplificada exposição de Marx com explicação robusta. Pode-se aprender muito da exposição de Marx sem que se faça disto um exercício escolástico.

Entre os nossos amigos de esquerda, tornou-se popular falar da crise e desta era como de "financiarização". Isto é sobretudo inútil. Na verdade, a crise tem muito a ver com o sector financeiro; este desempenhou e desempenha um papel maior na economia global, especialmente nos EUA e Reino Unido. Mas recorrer a um novo nome nada faz para expor ou explicar o papel da finança. Tal como "globalização" num momento anterior, a palavra "financiarização" pode ser emocionante, elegante e conveniente, mas normalmente esconde os mecanismos em funcionamento. É uma palavra preguiçosa.

Há um ponto nesta algo extensa, mas apenas esboçada, jornada ao longo do capitalismo do pós guerra. Esperançosamente, a jornada demonstra ou sugere fortemente que os eventos do passado económico não foram nem aleatórios nem simplesmente conduzidos pela política. Eles foram, ao invés, o produto da lógica interna do capitalismo; eles brotaram de barreiras e de ajustamentos na trajectória do capitalismo. Quando direcções se mostraram infrutíferas, novas direcções foram tomadas. Se bem que não seja possível descartar novas manobras que tratem o problema inerente da super-acumulação, o problema não irá embora. Ele retornará para assombrar qualquer tentativa que presuma conquistá-lo de uma vez por todas. E se o capitalismo carrega este gene, então seria sábio procurar um melhor sistema económico que prometa tanto maior estabilidade como maior justiça social. Naturalmente, encontrar essa alternativa começa por revisitar a ideia com duas centenas de anos há muito favorecida pelo movimento da classe trabalhadora: o socialismo. Ligado a esse projecto está a tarefa de reconstruir o movimento, a organização política necessária para alcançar o socialismo.

Como as coisas estão no mundo de hoje, há apenas duas magras opções no menu habitual: uma, é salvar e manter o capitalismo com os sacrifícios dos trabalhadores e de outros, a outra é salvar e manter o capitalismo com os sacrifícios dos trabalhadores e um simbólico sacrifício de uma "quota justa" por parte das corporações e dos ricos. Nenhuma delas é muito animadora.

A primeira opção é baseada na papa fina da teoria económica do "gotejamento" ("trickle down") e na visão para embalar crianças de que "uma subida da maré eleva todos os barcos". É a receita dos dois principais partidos políticos dos EUA, do Abe do Japão, dos partidos europeus do centro e dos Trabalhistas do Reino Unidos.

A segunda opção também promete salvar o capitalismo, mas através de uma falsa distribuição justa da adversidade por todas as classes. Esta é a rota apresentada pela maior parte dos partidos da esquerda europeia e mesmo por alguns Partidos Comunistas.

Mas um sistema – o capitalismo – que está geneticamente propenso à extrema distribuição de riqueza e à crise persistente não contribui para uma refeição apetitosa. Precisamos, ao invés, dispensar programas que prometem melhor gestão do capitalismo, como os comunistas gregos (KKE) gostam de dizer. Isso é para outros que estão em paz com o capitalismo ou subestimam seus fracassos inevitáveis.

A única resposta para a insuficiência cardíaca do capitalismo é mudar a dieta e colocar o socialismo no menu.
Do mesmo autor:
 

REVOLTAS 2014: CONTRA GOVERNOS OU O CAPITALISMO?

 


Mídia, naturalmente, não enxerga. Mas movimentos expressam, no fundo, colapso das relações econômicas e políticas hegemônicas em todo o mundo
 
Paul Mason - Tradução: Antonio Martins – Outras Palavras
 
Foi como uma faixa de CD saltada, ou um vídeo que derrapa de repente para a cena seguinte. Eu filmava uma barricada em Istambul, tentando ficar fora do alcance das bombas de gás disparadas pela polícia, quando uma delas me atingiu na testa. O rombo que ela fez em meu capacete é hoje parte de uma apresentação em PowerPoint, para cursos de treinamento sobre a segurança de jornalistas.
 
Durante a Ocupação do Gezi Park, gente típica de classe média ergueu barricadas que mantiveram a polícia turca à distância por quatro noites. No interior do parque, organizaram uma versão-maquete da sociedade em que gostariam de viver. Estocaram montes de comida grátis, cantaram e beberam cerveja, em desafio ao governo conservador religioso.
 
De dia, os gramados abrigavam estudantes fazendo suas tarefas. À noite, as ruas no entorno enchiam-se de jovens mascarados – e os fãs de futebol trocavam flâmulas, para sinalizar uma trégua, no ódio de cem anos entre os clubes de Istambul. Quando perguntava sobre suas profissões, sussuravam: “Arquiteto, despachante de cargas, engenheiro de software”.
 
Os acontecimentos do Gezi Park marcaram uma virada nas revoltas globais de nosso tempo. Embora não seja oficialmente parte dos BRICS, a Turquia tem a maior parte das características destes – alto crescimento, população jovem, um Estado repressor associado a corrupção e atos arbitrários. Depois de Gezi, não foi surpresa ver um milhão de pessoas nos movimentos de protesto do Brasil. Nem as 17 milhões que participaram das manifestações que derrubaram Mohamed Morsi, no Egito, nem os protestos da Ucrânia, que ainda estão em curso. Estas sociedades foram, supostamente, beneficiárias da globalização. Mas as classes médias sentiram-se batidas. Por isso, agora, o “garoto mascarado que frequenta academia e odeia a corrupção” somou-se ao “diplomado sem futuro”, na lista de arquétipos sociais por meio dos quais procuramos entender a revolta.
 
Quem lê a última tentativa da revista Economist para entender onde ela vai eclodir em 2014 percebe como é árduo fazê-lo por meio do pensamento convencional. O cálculo tem como parâmetro a suposta presença de alta desigualdade, alta corrupção, crise econômica e colapso de confiança nas instituições. Por isso, a Nigéria (maior economia da África), Egito e Argentina estão no topo da lista de países onde há “risco muito alto” de conflito capaz de ameaçar a ordem política – enquanto Brasil, África do Sul e China figuram abaixo, como locais de “risco alto”. Embora seja um avanço em relação ao pensamento simplório que ligava as revoltas apenas à crise econômica pós-2008, ainda acho que falta algo. Quando alguém me pergunta sobre onde o movimento vai eclodir de novo, respondo: “na mente das pessoas”.
 
 A repressão tornou-se tão intensa, mesmo nas democracias estáveis, que aqueles que se queixam hesitam mais, antes de embarcar em ações que podem resultar em prisão. Não há uma Convenção de Genebra sobre os conflitos contemporâneos entre tropas de choque e manifestantes. Por isso, os sinais de consentimento são, muitas vezes, falsos. O que parece ser ordem social é apenas a epiderme de uma desordem profunda. A China conhece este conceito. Na internet chinesa, fervilha descontentamento, ainda que todos, em público, reverenciem a linha oficial. Mas o mesmo ocorre no mundo “desenvolvido”. No passado, havia poucos motivos para temer movimentos que eram cheios de ideias, mas vazios de ação. Porém, agora vivemos numa economia da informação. As ideias críticas têm materialidade e a repressão parece impulsionar a crítica.
 
Chelsea Manning e Edward Snowden não são vistos como heróis do povo, na mídia ocidental. Mas no mundo informal, o da conversação online, eles são metáforas sobre “o que acontece”. Desafie a vigilância ilegal do Estado, jogue luzes sobre as atrocidades militares no Iraque e você se tornará candidato ao tipo de tortura mental praticada em Guantánamo. Nestas circunstâncias, as velhas “métricas” – pobreza, desigualdade, colapso da confiança – tornaram-se menos relevantes para prever as revoltas.
 
Apesar disso, o Grupo Gartner prevê, há alguns meses, que “um movimento do tipo Occupy, em escala maior, vai começar até o final de 2014”. Os analistas do Gartner estão mais próximos da realidade. A tecnologia da informação está reduzindo, “em escala sem precedentes”, a quantidade de trabalho presente nos bens e serviços. A relação entre capital e trabalho dobrou, com a urbanização do Sul global e a mercantilização dos antigos países socialistas. Mas não há uma rota que leve as maiorias a salários altos, ou a estilos de vida associados à prosperidade. Em consequência, prevê o Gartner, por volta de 2020 este cenário levará a “uma exigência de novos modelos econômicos, em muitas sociedades maduras”.
 
A articulação em redes das sociedades modernas torna imprecisas as previsões de revolta que têm por foco países específicos. Na realidade, há uma entidade política que importa. Hoje, ela é mais desigual do que nunca. Seu modelo econômico central está destruído. O consentimento dos cidadãos, diante de quem os governa, corroeu-se. Esta entidade é o mundo.
 

PAPA APELA A MAIS SOLIDARIEDADE E MENOS VIOLÊNCIA NO MUNDO

 


O papa Francisco apelou, esta quarta-feira, a mais solidariedade e menos violência no mundo no seu primeiro angelus do ano perante dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, no Vaticano.
 
"Nós temos a responsabilidade de trabalhar de forma a que o mundo se torne uma comunidade de irmãos, que se respeite e aceite nas suas diferenças e que tomem conta uns dos outros", disse o papa no dia em que os católicos celebram Dia Mundial da Paz.
 
"Que a coragem do diálogo e da reconciliação prevaleça sobre as tentações de vingança, de prepotência, de corrupção", apelou.
 
O primeiro papa da América Latina disse ainda que a violência e a injustiça não pode deixar os católicos "indiferentes e imóveis" e 2014 deve trazer "um verdadeiro compromisso de construir uma sociedade mais justa e mais solidária".
 
"É preciso parar neste caminho de violência e procurar a paz", disse.
 
"O que é se passa no coração do homem, o que se passa no coração da humanidade? É hora de parar", acrescentou Francisco.
 
O papa frisou que a justiça e a paz começam "em casa" e exigem a "mansidão, a força não-violenta da verdade e do amor".
 
Numa missa de Ano Novo, celebrada na basílica de São Pedro, Francisco rezou ainda pelos que "têm fome e sede de justiça e paz no mundo".
 
O papa, de 77 anos, e que foi eleito em março de 2013 também pediu durante a homilia aos fiéis para mostrarem "força, coragem e esperança" no ano que vem.
 
Jornal de Notícias
 

AS SEMENTES DE 2014 EM NÓS

 


Que 2014 seja um degrau dessa caminhada é o engajamento fraterno que une Carta Maior e seus leitores a milhões de brasileiros empenhados em construir o Ano Novo
 
Saul Leblon – Carta Maior
 
Liste meia dúzia de fatos públicos que subverteram a sua indiferença em 2013.

O exercício rememorativo não busca o rigor dos balanços enciclopédicos, mas o frescor do impacto que impele à ação e faz da memória um pedaço do futuro.

O que mais te impressionou no Ano Velho?

A convalescência sem cura da desordem neoliberal; o custo histórico devastador dessa longa agonia?

A força fraca das praças e ruas cheias de protestos, mas vazios de projetos?

O afunilamento do establishment capitalista, ilustrada no esfarelamento de Obama e da UE ?

A versão nativa desse ponto de mutação; a despudorada endogamia entre a direita, a ‘terceira via’, o judiciário e a mídia no Brasil?

O espaço de exceção escavado na democracia brasileira pela AP 470; a cobrança de um aggiornamento político que essa ofensiva vem reiterar ao PT?

A morte de Chávez -- as rupturas que a roleta biológica impõe ao destino individual e coletivo, desprovido de contrapesos institucionais perenes?

A angústia ambiental marcada nos ponteiros de um futuro capturado pela lógica cega dos oligopólios?

A confirmação de que nunca mais estaremos sozinhos, como provou Edward Snowden?

A percepção de que é inadiável refazer o pacto do desenvolvimento brasileiro, interditado pela virulenta sabotagem conservadora?

A dura transição de uma América Latina cobrada a reconstruir o alicerce da esquerda na areia movediça da crise global?

A certeza de que viver e produzir como indivíduo e/ou famílias isoladas, diante das forças descomunais dos mercados, é a danação da liberdade individual e não o seu fastígio?

As combinações são inesgotáveis.

Mas dificilmente escapam à percepção, quase sensorial, de que o calendário e a história coincidem cada vez mais em direção à travessia do velho para o novo.

A opressão de uma existência sobrecarregada de demandas coletivas não contempladas não cairá por si.

De novo, é incontornável refletir sobre o peso decisivo do poder que essa travessia requisita.

O poder de Estado.

Os compromissos e escolhas que a luta dentro e fora dele impõe, mas sobretudo, as salvaguardas do processo que só a ampliação da democracia participativa pode assegurar.

O Brasil viverá nas eleições de 2014 um degrau importante dessa transição de ciclo.

Pelo seu peso geopolítico dentro e fora da AL, não é exagero dizer que a luta pela reeleição de Dilma pulsa na constelação dos divisores que vão ordenar o longo amanhecer do século XXI.

A sociedade que emergiu das conquistas acumuladas a partir de 2002, não cabe mais nos limites do atual sistema político nacional.

A democracia brasileira precisa se ampliar para que a riqueza possa convergir. E a economia voltar a crescer.

As costuras já não se sustentam com novos remendos.

Uma logística e uma industrialização planejadas para servir a 30% da população mostram a incompatibilidade do projeto elitista com o anseio de cidadania de milhões de brasileiros resgatados da fome e da miséria na última década.

Supor que uma novo equilíbrio emergirá do retorno a políticas nefastas dos anos 90, quando o país, seu patrimônio e sua gente foram reduzidos a um anexo dos mercados desregulados, é confundir o que anda para frente com o cortejo empenhado em ir para trás.

A responsabilidade de interferir nessa disputa requer certas estacas balizadoras que impeçam o retrocesso e assegurem o rumo progressista às mudanças.

O Brasil tem razões para não regredir.

A desigualdade entre nós ainda grita alto em qualquer competição mundial.

Mas indicadores de 150 países comparados pela Boston Consulting Group mostram que o Brasil foi o que melhor utilizou o crescimento dos últimos cinco anos para elevar o padrão de vida da população.

A narrativa conservadora sempre desdenhou da dinâmica vigorosa embutida nesse degelo social.

Reconhecer os novos aceleradores sociais do desenvolvimento não implica negar os gargalos prevalecentes e outros novos adicionados pela correlação de forças da última década.

Ambos são reais.

A coexistência de um Brasil urgente, vital e encorajador, com uma estrutura de comunicação anacrônica e monopolista, por exemplo, distorce e constrange as vozes que precisam ser ouvidas nesse Rubicão da nossa história.

A travessia não se completará de forma emancipadora se a mídia persistir como um poder ubíquo, dotado de meios e recursos leoninos para exacerbar o conflito, desqualificar projetos e fraudar opiniões que não comungam do seu ideário de nação e de mundo.

A importância desse debate e desse momento levou Carta Maior a definir uma nova etapa de sua história.

Para contemplá-lo renovamos o projeto gráfico e promovemos um salto editorial com a incorporação de vozes consagradas do debate democrático brasileiro.

Mudamos não para reforçar uma casamata de certezas graníticas.

Mas para ampliar a janela aberta ao ar fresco do desassombro, que inclui a crítica e a autocrítica das escolhas e experiências do próprio campo progressista nesse percurso.

Temos a convicção de que somente assim será possível enxergar melhor o caminho no longo amanhecer da sociedade de homens e mulheres livres que tenham o comando do seu próprio destino.

Que 2014 seja um degrau dessa caminhada é o engajamento fraterno que une Carta Maior e seus leitores a milhões de brasileiros empenhados em construir o verdadeiro Ano Novo.
 

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