domingo, 11 de março de 2012

COMO O GOLDMAN SACHS AJUDOU A QUEBRAR A GRÉCIA




Eduardo Febbro, Paris - Opera Mundi

Há empresas que roubam para o império para o qual trabalham. A Goldman Sachs é uma delas.
 
Há empresas que roubam para o império para o qual trabalham. A Goldman Sachs é uma delas. O banco de negócios norteamericano encheu seus cofres com um botim de 600 milhões de euros (800 milhões de dólares) quando ajudou a Grécia a maquiar suas contas a fim de que este país preenchesse os requisitos para ingressar na zona do euro, a moeda única europeia.
 
A informação não é nova mas até agora se desconheciam os detalhes mais profundos do mecanismo pelo qual o Goldman Sachs enganou todos os governos europeus que participavam da criação da moeda única. O porta estandarte da oligarquia financeira operou protegido por sólidas cumplicidades no seio das instituições bancárias europeias e dentro do poder político, que fez tudo o que esteve ao seu alcance para impedir as investigações.
 
Dois dos protagonistas desta mega fraude falaram pela primeira vez sobre as transações encobertas mediante as quais Atenas escondeu o tamanho de sua dívida. Trata-se de Christoforos Sardelis, chefe do escritório de gestão da dívida grega entre 1999 e 2004, e de Spyros Papanicolaou, o homem que o substituiu-o até 2012.
 
O resultado da operação foi uma gigantesca fraude que fez do suposto salvador, no caso o Goldman Sachs, o operador da derrocada da Grécia e de boa parte da Europa. Levando-se em conta somente os bancos franceses, a aventura grega custou 7 bilhões de euros : o BNP Paribas perdeu 3,2 bilhões, o Crédit Agricole, 1,3 bilhões, a Société Générale, 892 milhões, o BPCE, 921 milhões e o Crédit Mutuel, 359 milhões. Esse foi o custo só para o sistema bancário francês : os povos pagaram e pagarão em sacrifícios e privações muito mais do que isso.
 
A operação financeira foi astuta. O Tratado de Maastricht, da União Europeia, fixava requisitos rígidos para integrar o euro : nenhum membro da zona euro podia ter uma dívida superior a 60% do PIB e os déficitis públicos não podiam superar os 3%. Em junho de 2000, para ocultar o peso gigantesco da dívida grega, que era de 103% de seu PIB e obter assim a qualificação da Grécia para entrar no euro, Goldman Sachs bolou um plano : transportou a dívida grega de uma moeda a outra.
 
A transação consistiu em mudar a dívida que estava cotizada em dólares e em yens para euros, mas com base em uma taxa de câmbio fictícia. Assim se reduziu o endividamento grego e, com isso, a Grécia respeitou os critérios fixados pelo Tratado de Maastricht para ingressar no euro. Um detalhe complicou a maquiagem: o Goldman Sachs estabeleceu um contrato com a Grécia mediante o qual dissimulou o acerto sob a forma do que se conhece como um SWAP, um contrato de câmbio para os fluxos financeiros que equivale a uma espécie de crédito.
 
Esse esquema fraudulento fez com que, na base dos chamados « produtos derivativos » implicados na operação, em apenas quatro anos a dívida que a Grécia contraiu com o Goldman Sachs passasse de 2,8 bilhões de euros para 5,1 bilhões. Dois jornalistas da agência Bloomberg, Nick Dunbar e Elisa Martinuzii, realizaram uma paciente investigação ao término da qual desnudaram este obscuro mecanismo.
 
Segundo explicou aos jornalistras o chefe do escritório de gestão da dívida grega entre 1999 e 2004, Christoforos Sardelis, neste momento a arquitetura da proposta do Goldman Sachs escapou de suas mãos. Logo em seguida, disse Sardelis, os atentados de 11 de setembro e uma má decisão dos bancos plantaram a semente do desastre atual. A conclusão da investigação é contundente : Grécia e Goldman Sachs hipotecaram o futuro do povo grego e acionaram uma bomba relógio que, 10 anos mais tarde, explodiria nas mãos da sociedade.
 
Em matéria de grandes fraudes organizados por bancos de investimento a impunidade é a regra. Ninguém foi nem será condenado. Christoforos Sardelis afirmou que « o acordo com o Goldman Sachs é uma história muito sexy dentre dois pecadores. O Goldman Sachs obteve apetitosos lucros nesta operação truculenta. No entanto, o banco de negócios norteamericano afirma em sua defesa que não fez nada de ilegal, que tudo o que foi realizado respeitava ao pé da letra as diretrizes do Eurostat, o organismo europeu de estatísticas.
 
O Eurostat, por sua vez, alega que só tomou conhecimento em 2010 dos níveis de endividamento grego. A defesa parece pobre porque as primeiras denúncias sobre a maquiagem das contas gregas e o papel desempenhado pelo Goldman Sachs datam de 2003.
 
Em um informe de 2004, o Eurostat escreveu : "falsificação generalizada dos dados sobre o déficit e a dívida por parte das autoridades gregas". Graças à cumplicidade do organismo financeiro norteamericano e de várias instâncias e personalidades europeias, a Grécia pôde dissimular durante vários anos o "pacote" escondido de sua dívida. Em 2010, Jean Claude Trichet, então presidente do Banco Central Europeu (BCE), se negou a entregar os documentos requeridos para dar a conhecer a amplitude da verdade.
 
No meio a esta grande mentira, há um personagem que hoje é central : trata-se de Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu e grande partidário de terminar de uma vez por todas com o modelo social europeu. Draghi é um homem do Goldman Sachs. Entre 2002 e 2005 foi vice-presidente do Goldman Sachs para a Europa e, por conseguinte, estava a par da falsificação de dados sobre as finanças públicas da Grécia. Foi o seu próprio banco que estruturou a falsificação.
 
O liberalismo premia muito bem seus soldados. Durante dois anos, o Banco Central Europeu e os lobbys políticos usaram todos os truques possíveis para proteger Draghi e não permitir que fossem realizadas auditorias em torno das irregularidades cometidas na Grécia. As comissões do Parlamento europeu designadas para investigar esta mega fraude se chocaram sistematicamente contra as redes que protegiam o segredo.
 
O desenlace final desta cumplicidade entre as oligarquias financeiras é conhecido por todos : quase um continente submerso na crise da dívida, a Grécia, estropiada e de joelhos, recessão, demissões massivas, perda de poder aquisitivo para os trabalhadores, reestruturações, sacrifícios dos benefícios sociais, planos de ajuste e miséria. Enquanto isso, os 600 milhões que o Goldman Sachs ganhou com esta fraude seguiram dando frutos na aposta suicida que o capital faz em benefício próprio contra a humanidade.
 
*Artigo publicado originalmente na Carta Maior e traduzido por Katarina Peixoto
 
Leia mais

Guiné-Bissau: Henrique Rosa contra bandeira que é nacional e de um partido



FP - Lusa

Bissau, 11 mar (Lusa) - Henrique Rosa, candidato a Presidente da Guiné-Bissau nas eleições de dia 18, quer um debate sobre a bandeira nacional, porque é "falta de respeito" a bandeira do país e de um partido serem iguais.

"A bandeira é importante, é um símbolo, mas a nossa bandeira é uma onde há um símbolo de um partido escrito, um candidato escrito. Afinal é a bandeira nacional, de um partido ou de um candidato?", questionou num comício em Mansoa, arredores de Bissau.

E acrescentou: eu não quero a nossa bandeira assim, nós queremos uma bandeira nacional. Temos de fazer uma opção clara, ou o PAIGC (partido que lutou contra o colonialismo e que está hoje no poder, apoiando o candidato Carlos Gomes Júnior) fica com a bandeira e arranjamos outra ou eles arranjam outra bandeira.

Para Henrique Rosa, é uma "falta de respeito" e "não é possível homens que querem ser presidentes tratarem assim um símbolo nacional".

Henrique Rosa fez hoje contactos com populações da região de Mansoa, onde ao fim da tarde fez um comício no qual lembrou as regiões por onde andou na primeira semana de campanha.

"Temos andado de tabanca em tabanca (lugares), setor a setor, para ouvir o povo onde ele está, o que lhe falta, o que deseja", porque "quero ser o Presidente da Guiné-Bissau, de todos os guineenses, e para ser Presidente tenho de saber como é que o povo vive, quais as suas dificuldades e canseiras", disse.

E depois contou que viu mulheres grávidas a serem levadas em carros de burro para o hospital, que viu uma mulher a quem lhe morreu o filho porque não passou nenhuma canoa na ilha onde vive que a levasse para um hospital. "Esta é a Guiné que temos", disse.

"Se gostamos da Guiné-Bissau, do povo da Guiné-Bissau, e se há muitas coisas que podemos resolver, em vez de comprarmos um carro podemos resolver. Podemos dar escola aos nossos meninos, dar boas condições para os hospitais, podemos fazer muitas coisas", afirmou Henrique Rosa no comício, perante uma assistência atenta e muito jovem.

E foi para os jovens que falou depois, dizendo que os vê por todo o país e que se pergunta que futuro terão. São rostos bonitos, com força, com energia, com sonhos, "mas que podem fazer? Que oportunidades lhes são dadas se não há formação? Quando os mais velhos morrerem a quem entregar a Guiné se não preparamos as pessoas?", perguntou.

Num país, disse, onde todos os dias se noticiam milhões que são dados ao governo e que continua "terra do fim do mundo", é preciso mudar, "sacudir o miserabilismo" e beneficiar da riqueza da terra. E a oportunidade, acrescentou, está no dia 18, o único dia em que o povo tem o poder.

Espancamento de Filomeno Vieira Lopes vai ser alvo de queixa junto de...




…instâncias nacionais e internacionais

EL - Lusa

Luanda, 11 mar (Lusa) - O economista Filomeno Vieira Lopes, espancado sábado em Luanda, à margem da frustrada manifestação antigovernamental, disse hoje à Lusa e à RTP que está preparar uma queixa do sucedido junto de instâncias nacionais e internacionais.

Secretário-geral do Bloco Democrático, recém-formado partido da oposição, Filomeno Vieira Lopes alega que a agressão de que foi alvo foi instigada pela Polícia Nacional.

Da agressão resultou a fratura do braço esquerdo em três sítios, um golpe profundo na cabeça, que levou dois pontos e equimoses em todo o corpo.

"Ainda não apresentei queixa (da agressão). Estamos a preparar a queixa, com todos os cuidados porque poderá ser uma base para as diversas queixas que vamos apresentar", considerou.

O governo angolano "foi longe demais", considerou Filomeno Vieira Lopes, garantindo que vai recorrer a todos "os instrumentos nacionais e internacionais do Estado de Direito" para levar a tribunal, disse, "sobretudo os mentores, aqueles que estão por detrás dos desgraçados que são mandados (agredir)".

O economista considera que os autores morais do espancamento de que foi alvo são a Polícia Nacional e o Governador Provincial de Luanda, Bento Bento.

"Em Angola ainda não temos, em termos factuais, conquistado o direito de manifestação. Este direito, estou convencido, vai ser conquistado", concluiu.

O Bloco Democrático foi o único partido da oposição a fazer-se representar na frustrada manifestação de Luanda, tendo a UNITA, FNLA e Partidos da Oposição Civil, uma coligação de formações partidárias sem representação parlamentar, optado por não corresponder às promessas de que estariam presentes feitas pelos organizadores do protesto.

Convocada pelo autodenominado Movimento Revolucionário Estudantil, para exigir o afastamento da presidente da Comissão Nacional Eleitoral e a demissão do Presidente José Eduardo dos Santos, a manifestação de Luanda visou protestar contra a designação de Suzana Inglês para a presidência da CNE, que desencadeou uma série de iniciativas dos três maiores partidos da oposição com representação parlamentar, UNITA, PRS e FNLA, junto do Conselho Superior da Magistratura Judicial e do Tribunal Supremo, onde interpuseram uma providência cautelar, e que foram liminarmente rejeitadas por estes dois órgãos judiciais.

Os organizadores pretendiam ainda com o protesto exigir a demissão do Presidente José Eduardo dos Santos, a quem acusam de se manter há 32 anos no poder sem ter sido eleito.


Afinal nada falta ao Povo angolano. Tem fuba podre, peixe podre e... porrada quando refila



Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O Povo angolano, uma espécie de escravos – segundo o entendimento do regime de Eduardo dos Santos, luta pelo seu país na esperança, até agora vã, de que ele seja um Estado de Direito.

O regime, como é habitual e com a cobertura da comunidade internacional, responde com a sua principal arma: a razão da força, onde não faltam as milícias populares.

A polícia contou ontem, mais uma vez, com o seu poder popular (civis) para meter na ordem todos aqueles que teimam em pensar diferente do regime que, recorde-se, governa Angola desde 1975 e que tem um presidente, não eleito, há 32 anos no poder.

Também como é habitual, todos os que se manifestam são culpados até prova em contrário. Assim sendo, enquanto a CPLP (presidida por Angola) e a restante comunidade internacional olha para o lado, alguns dos manifestante ficam com os ossos partidos.

Não adianta, pelo menos por enquanto, dizer que a polícia (armada até aos dentes) e os seus capangas à civil, desrespeitam o direito à manifestação e os direitos humanos. E não adianta porque Angola não é um Estado de Direito mas, antes, um reino em que o soba tem plenos poderes, inclusive para mandar matar quem pense de maneira diferente.

Os manifestantes que continuam a semear a Primavera, embora até agora vivam no mais duro Inverno, bem gritaram que "a polícia é do povo, não é do MPLA". Esqueceram-se, contudo, que num regime totalitário como é o angolano, o MPLA é Angola e Angola é o MPLA.

Em Angola "vive-se uma democracia com medo", disse uma vez o "rapper" angolano Mona Dya Kidi. Mentira. No reino de Eduardo dos Santos existe a mais avançada democracia de que há conhecimento… Duvidam? É só perguntarem, entre outros, a Cavaco Silva, Passos Coelho ou Armando Guebuza.

Falar, no caso de Angola, de democracia com medo é uma forma de branquear a situação, compreensível no contexto de que os angolanos sabem que o regime mata primeiro e pergunta depois. Aliás, se existe medo é porque não existe democracia.

O regime de Eduardo dos Santos sabe bem que a melhor forma de exercer a sua “democracia” é mesmo ter 70% da população na miséria, é ter tirado a coluna vertebral à esmagadora maioria dos seus opositores políticos, a começar pela UNITA, é dizer ao povo que tem de escolher entre a liberdade e um saco de fuba.

José Eduardo dos Santos que tem, que ainda tem, a cobertura internacional (comprada, mas tem), sabe que pôr o povo a pensar com a barriga é a melhor forma de o manter calado e quieto.

De facto, defender a liberdade de expressão não é nada do outro mundo, mas é algo que o regime não quer. Tudo quanto envolva a liberdade (com excepção da liberdade para estar de acordo com o regime) é algo que causa alergias graves a Eduardo dos Santos.

Abel Chivukuvuku (na foto com Filomeno Vieira Lopes, secretário-geral do Bloco Democrático ontem agredido pelos esbirros do regime) qualificou o que ontem aconteceu em Luanda, capital do reino de José Eduardo dos Santos, como uma, mais uma, “barbárie".

"Barbárie. O que aconteceu foi uma barbárie. Há um único responsável, que é o Presidente José Eduardo dos Santos", frisou Abel Chivukuvuku em declarações à Lusa.

Chocado com o sucedido, Abel Chivukuvuku salientou que se for preciso juntar manifestações de rua à acção política que se propõe encabeçar, o irá fazer.

"Vim aqui prestar a minha solidariedade a Filomeno Vieira Lopes. Se for preciso ir para a rua vamos fazê-lo, mas de forma organizada", acentuou o antigo líder parlamentar da UNITA e agora líder de um novo projecto partidário que será apresentado, quarta-feira, em Luanda.

Por tudo o que se tem passado em Angola estou, sinceramente, de acordo com as teses do antigo ministro da Defesa, figura de destaque do MPLA, e um empresário de sucesso em áreas que vão da banca ao imobiliário, hotelaria, jogos, diamantes etc., de seu nome Kundy Paihama.

Se todos os angolanos que não são do MPLA levassem em conta as suas palavras, certamente que evitavam ter de comer peixe podre, fuba podre, e ter direito a 50 angolares e a porrada se refilarem.

Num dos seus (foram tantos) célebres e antológicos discursos, Kundy Paihama disse: “Não percam tempo a escutar as mensagens de promessas de certos Políticos”, acrescentando: “Trabalhem para serem ricos”.

Tal como a maioria do povo angolano, 68%, que vive abaixo da linha de pobreza, também eu passei a venerar Kundy Paihama.

A tal ponto vai a minha veneração que até advogo a tese de que as verdades de Kundy Paihama deveriam, no mínimo, fazer parte das enciclopédias políticas das universidades angolanas e, porque não?, de todo o mundo civilizado.

“Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”, afirmou há uns tempos o então ministro da Defesa do MPLA. Não, não há engano. Reflectindo a filosofia basilar do MPLA, Kundy Paihama disse exactamente isso: o que sobra não vai para os pobres, vai para os coitados dos cães.

E por que não vai para os pobres?, perguntam os milhões, os tais 68%, que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…

“Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, explicou Kundy Paihama.

É claro que, embora reconhecendo a legitimidade que os cães de Kundy Paihama (bem como de todos os outros donos do país) têm para reivindicar uma boa alimentação, penso que os angolanos, os tais 68% que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome, não devem transformar-se em cães só para ter um prato de comida.

Embora tenham regressado pela mão do MPLA ao tempo do peixe podre, fuba podre, 50 angolares e porrada se refilares, devem continuar a lutar para ter direito a, pelo menos, comer como os cães de Kundy Paihama.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.


Leia mais sobre Angola - use os símbolos da barra lateral para se ligar aos países lusófonos pretendidos


UM ANO DEPOIS, A CRISE DE FUKUSHIMA AINDA NÃO TERMINOU



Tomi Mori - Esquerda.net - Carta Maior

O derretimento de reatores em Fukushima fez com que fosse lançada no meio ambiente uma grande quantidade de radioatividade. As consequências ambientais desse vazamento só poderão ser verificadas em vários anos. A radioatividade arrasou a agricultura e a criação de animais local, com um impacto econômico dramático. Para manter a situação "sob controle" é necessário injetar água continuamente nos reatores, gerando uma quantidade colossal de água radioativa. Desativação de reatores gerou uma grave crise energética no país.

Desde que ocorreu a tragédia do 11 de marco, o terremoto seguido de tsunami, no ano passado, foram publicadas uma grande quantidade de reportagens. Mas ainda continuam a aparecer fatos novos ou obscuros sobre o que aconteceu naqueles dias e as suas consequências.

Entulho ainda amontoado

O número de mortos foi de 15.645 e os desaparecidos 4.984, totalizando 20.629. Desses, 1.046 tinham 19 anos ou menos, entre mortos e desaparecidos. Não resta dúvida que a dor da tragédia é profunda e não há como eliminá-la em tão pouco tempo.

O avassalador tsunami destruiu algo em torno de 500 quilômetros de costa. Desde então, não se conseguiu sequer resolver o problema dos 22,53 milhões de toneladas de entulho e lixo gerados na ocasião. O entulho amontoado formam montanhas e, em Ishinomaki, na provincial de Miyagi, têm forma piramidal. É a mais concreta demonstração da calamidade ocorrida. Uma outra parte dos escombros flutua no oceano Pacífico em direção aos EUA, devendo chegar à costa americana em 2016.

As províncias afetadas estão lutando para que as demais províncias do arquipélago colaborem para incinerar o lixo produzido, mas, com a falta de credibilidade que tomou conta do país, ninguém acredita que esse lixo esteja isento de radiação prejudicial e, por isso, a resistência a colaborar é enorme.

Na região de Touhoku, o nordeste japonês, milhares de famílias abandonaram a área, e, nas três mais atingidas províncias, Iwate, Miyagi e Fukushima, esse numero ultrapassou mais de 41 mil moradores. A costa atingida virou uma área deserta e a propagada “reconstrução” ainda não deu mostras de que, realmente, ira ocorrer. As escolas, com poucos alunos, estão com dificuldades de voltar a funcionar. Hospitais e comércio continuam praticamente inexistentes em varias localidades. É uma situação muito distinta de quando ocorreu o terremoto de Kobe e a cidade foi rapidamente reconstruída.

Com a destruição e, sem reconstrução, milhares de pessoas estão impossibilitadas de voltar a trabalhar na área afetada. Dos cerca de 27 mil negócios comerciais e industriais, cerca de 6 mil decidiram interromper temporariamente ou definitivamente as suas atividades.

573 mortos pela crise nuclear

O tsunami de 21 metros que atingiu Fukushima provocou uma das maiores tragédias nucleares da história. Mas é preciso delimitar a responsabilidade humana na tragédia e atual crise nuclear.

Passado um ano, sabemos algumas coisas, mas, muito provavelmente, nunca saberemos realmente o que ocorreu naquele dia e nos posteriores que se seguiram à tragédia. Ao contrário do que se afirmava na época, tanto o governo quanto a TEPCO, operadora da central nuclear, hoje sabemos que houve meltdown (derretimento) em 3 dos 6 reatores da usina. Tanto a TEPCO quanto o governo, desde o acidente, contaram tantas mentiras que, hoje, a palavra credibilidade na sociedade japonesa pode ser, inclusive, retirada do dicionário. Ninguém acredita mais em nada.

Dias atrás, ficamos sabendo também que, no auge da crise, a direção da TEPCO ameaçou abandonar a central nuclear à própria sorte e, se isso tivesse ocorrido, teria colocado em risco milhões de pessoas, num verdadeiro salve-se quem puder. Mas, enquanto essa grave situação se desenrolava, o governo afirmava, cinicamente, que a situação estava sob controle! Um cinismo decorrente do desespero no momento em que a situação estava completamente fora do controle.

Radioatividade continua a ser uma ameaça

Sabemos também que, devido ao meltdown, foi lançada, no meio ambiente, uma grande quantidade de radioatividade Mas, também nesse caso, ninguém tem garantia de que a quantidade divulgada seja verdadeira. Sabemos que a radioatividade viajou, pelo ar, dezenas de quilômetros, centenas e até alguns milhares. Tanto a TEPCO quanto o governo alegam que essa radioatividade não foi e não é prejudicial à saúde, excetuando-se a zona proibida num raio de 20 km em volta da central. Sabemos que a TEPCO, autorizada pelo governo do então primeiro-ministro Naoto Kan, lançou uma grande quantidade de água contaminada pela radiação no oceano Pacifico. Não apenas lançou como promete lançar mais ainda durante este mês. As consequências ambientais dessa desesperada e irresponsável medida só poderão ser verificadas em vários anos, através de pesquisas cientificas.

A radioatividade arrasou a agricultura e a criação de animais local. Existe uma forte rejeição por produtos da região de Fukushima. Nesse último ano, várias vezes foram detetadas um alto nível de radioatividade no arroz produzido nessa província, mesmo após o governo ter declarado que era seguro.

A minhoca atômica

Pesquisas recentes demonstraram que minhocas coletadas no vilarejo de Kawauchi, próxima a Fukushima 1, apresentaram uma grande quantidade de césio. Um nível elevado. Como vários animais e pássaros se alimentam de minhocas, os pesquisadores dizem que a contaminação irá passar para outros animais através da cadeia alimentar. Fukushima já havia produzido a vaca atômica, o javali atômico, e agora temos a minhoca atómica, mas, seguramente, novas espécies serão integradas à lista.

Crise arrasou a vida da população local

Até o momento, segundo dados de fevereiro, o governo reconheceu que 573 pessoas morreram devido ao desastre nuclear. Mas é um numero que ainda irá crescer. O governo emite um certificado que é o reconhecimento de que a pessoa morreu não por causas diretas, mas indiretas, como fadiga ou agravamento de doenças crônicas devido ao desastre. Nada menos que 748 já registaram seu pedido de reconhecimento, mas vários casos ainda não tiveram resposta. Se a pessoa morta era um arrimo de família, uma quantia de condolência de 5 milhões de ienes é paga para a família. Uma bagatela no que se refere ao Japão.

Cerca de 25 mil pessoas serão impossibilitadas de voltar aos seus lares, na zona de entrada proibida, por pelo menos 5 anos. Mas sabemos que também pode ser por varias décadas. O que, para os idosos, significa nunca mais.

Os animais domésticos foram abandonados à própria sorte e muitos deles se tornaram selvagens e arredios ao contato humano. Mais de 300 cães e gatos estão em abrigos, sem que os seus antigos donos possam resgatá-los por não terem como mantê-los nas moradias provisórias.

Não deixa de ser impressionante que, mesmo com cerca de 600 mortos devido ao desastre, nenhum executivo da TEPCO tenha ido para a prisão e a responsabilidade por essas mortes e todo o transtorno social, que não se restringe apenas a Fukushima, permaneça na impunidade.

Crise nuclear longe do controle

O governo e a TEPCO declararam, no final do ano passado, que havia se chegado ao controle da situação, já que os reatores estavam estabilizados. Mas o que não foi alardeado é que, para se manter essa situação de controle aparente é necessário injetar água continuamente nos reatores para manter a temperatura em torno de 100 graus centígrados. E não disse também que isso terá de continuar não se sabe por quantos anos, gerando uma quantidade colossal de água radioativa que não tem onde ser armazenada.

Durante o ano que passou, fortes terremotos têm ocorrido sistematicamente na região da central nuclear. Não há nenhuma lei que impeça que um terremoto atinja diretamente a central ou suas proximidades. É mais que evidente que a estrutura da central está bastante abalada e não há nenhuma garantia de que possa resistir caso um forte terremoto provoque uma nova tragédia. O que será feito nos próximos anos para amenizar essa situação? Essa resposta ninguém sabe.

Crise nuclear acirra crise capitalista

A crise nuclear gerou um forte repúdio na pacata população japonesa. Ninguém quer uma central nuclear a funcionar próximo da sua moradia. Essa situação, onde a maioria dos reatores nucleares está desativada, criou uma profunda crise energética. Durante o verão passado e este inverno, o consumo de energia nos momentos de pico chegou próximo ao colapso, e, em algumas áreas, chegou aos 97% de utilização. Essa situação estrangula o país, já que as empresas não podem fazer nenhum plano de expansão interna e com a ameaça de aumento das tarifas elétricas muitas estão optando por sair fora do arquipélago.

Junto com a alta do iene, a crise energética é um dos fatores a contribuir para que a economia japonesa continue a afundar. Devido ao papel que o Japão ocupa no sistema capitalista, a crise japonesa apenas ajuda a acirrar a crise capitalista que a cada dia é mais aguda.


CHOVE DINHEIRO, ÁGUA NÃO!



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Nas últimas semanas surgiram notícias de relevo, relativas às decisões do Banco Central Europeu (BCE) "produzir" dinheiro; à opção do Governo meter graciosamente 4,4 milhões de Euros (portagens da ponte 25 de Abril) nos cofres da Lusoponte; à falta de transparência e ao atentado que significa o excesso de rendas (lucro) da EDP e de outras empresas; ao agravamento da seca.

O país precisa de chuva para a agricultura, para consumo de água e para limpar a atmosfera, mas a água teima em não cair do céu. Para agravar a situação de seca, que segundo vários especialistas não era de todo imprevisível e já dá sinais sérios há muitos meses, o Governo tem uma atuação tardia na mobilização de fundos em Bruxelas, e não executa medidas de apoio à agricultura em tempo útil.
Se a seca atingisse os interesses do poder financeiro e de grandes capitalistas, a ministra e o Governo já teriam atuado, mas como as faturas virão sobre o povo e as suas condições de vida, deixam andar.

No que diz respeito a sujidades e nuvens negras que pairam na atmosfera de Portugal e da Europa, é caso para dizer: estamos perante uma situação cada vez mais complexa que ameaça o nosso futuro coletivo.

O sol, a estrela que nos dá vida e nos ilumina, oferece-nos nestes dias uma chuva de partículas eletromagnéticas quando, no nosso país, o que precisávamos mesmo era de um forte aguaceiro de raios luminosos de democracia que trouxesse aos nossos governantes valores morais e éticos, sentido de responsabilidade, exigência de rigor, transparência no exercício da governação.

Não podemos ficar à espera do milagre de uma estrela e muito menos dos alertas, perdidos em nuvens de poeiras contaminadas, do avisador-mor do reino. Será o povo português, pela sua consciencialização, mobilização e luta, construindo projetos políticos alternativos e colocando-os em execução pela sua força coletiva, que encontrará as medidas necessárias, e cada dia urgentes.

Em nome da poupança de uns tostões corremos o risco de, a prazo não muito longo, apenas pouco mais de 1/3 dos desempregados terem subsídio de desemprego. Mas em agosto/setembro choveram, por decisão consciente do Governo, 4,4 milhões de euros nos cofres da Lusoponte. E quantos casos deste tipo, maiores e mais pequenos, existirão no país?

Os governantes enaltecem o despedimento mais fácil e a redução generalizada do valor das indemnizações por despedimento, num quadro em que os encerramentos e falências de empresas surgem em catadupa, quantas vezes a partir de duvidosas invocações da crise e para facilitar negócios de ocasião. Em contrapartida, chove dinheiro a rodos para acionistas das EDP e para alimentar os beneficiários dos contratos das ruinosas parcerias público-privadas, dinheiro esse sacado ao povo através dos impostos e de outras medidas e, em muitos casos, com sacrifício de pequenas e médias empresas.

Costuma dizer-se que o dinheiro não cai do céu. Estas práticas que referi e o comportamento do BCE devem levar-nos a exigir clarificação sobre como se faz aparecer dinheiro. Por onde anda ele e quem o controla?

No espaço de três meses, o BCE decidiu fazer chover duas bátegas de notas que somam cerca de 1 milhão de milhões de euros. É quase o dobro da soma das dívidas de Portugal, Irlanda e Grécia!

Esse dinheiro vai correr (escorrer), a taxas de 1%, para a Banca. Aí fica disponibilizado para os seus acionistas, que são simultaneamente os acionistas dos grandes grupos económicos, lhe darem bom tratamento. Ao comum das empresas pouco há de chegar e às pessoas muito menos.

Relembremos que o BCE é uma instituição da União Europeia. E, por exemplo, se a troika aplicasse a Portugal aquela taxa de juros, pagaríamos menos 2 mil milhões de euros de juros por ano do que vamos pagar!

O comum dos cidadãos está convencido de que não é possível criar dinheiro sem a garantia de depósito de metais preciosos, nas caves dos bancos centrais. Afinal, isso não é assim! Para alimentar o sistema financeiro, parece que eles conseguem fazer chover dinheiro quando querem.

As pessoas, habituadas a contar tostões, nem lhes passa pela cabeça que vivem prisioneiras destes esquemas.

Portugal: Carlos César lamenta falta de “sentido de Estado” de Cavaco Silva


Público - Lusa

Reacção às críticas recentes a José Sócrates

O presidente do Governo regional dos Açores, Carlos César, lamentou ontem à noite a posição que o Presidente da República manifestou sobre o ex-primeiro-ministro José Sócrates no prefácio do seu mais recente livro, considerando que demonstrou ter pouco “sentido de Estado”.

“Infelizmente, o nosso país atravessa uma fase de grande desorientação e tenho pena que seja a principal figura do Estado a ter menos sentido de Estado”, afirmou Carlos César, numa breve declaração aos jornalistas em Ponta Delgada.

O presidente do Governo dos Açores, que é também líder do PS-Açores, escusou-se a fazer mais comentários sobre esta questão, salientando que “já disse o que tinha a dizer em relação ao Presidente da República há tempos atrás”.

Nesse sentido, considerou que as críticas que vários dirigentes socialistas agora fizeram a Cavaco Silva significam que “partilham a mesma posição” que ele já manifestou sobre o Presidente da República.

No prefácio do livro “Roteiros VI”, que reúne as suas principais intervenções públicas, Cavaco Silva tece várias considerações sobre a postura do ex-primeiro-ministro José Sócrates, criticando não ter sido “previamente informado sobre o conteúdo ou sequer da existência do PEC IV”, tendo por isso ficado “impedido de exercer a sua magistratura de influência com vista a evitar o deflagrar de uma crise política”.

“Tratou-se de uma falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia. O Presidente da República, nos termos constitucionais, deve ser informado acerca de assuntos respeitantes à condução da política interna e externa do País”, acusou Cavaco Silva.

CAVACO NÃO RESISTE...


Manuel Tavares – Jornal de Notícias, opinião

O presidente da República escolheu este momento complexo da nossa vida em comum para se queixar publicamente de José Socrates, e isso não é aceitável.

Em primeiro lugar, porque Sócrates foi derrotado nas urnas e abandonou a cena política. Em segundo, porque detendo o mais alto cargo da nação não deveria queixarse de quem desempenha outro cargo político, mas uns degraus abaixo na hierarquia do Estado, e já não está na luta política para se poder defender da acusação.

Depois de termos tido a sensação de que Cavaco atrapalhava a vida a Sócrates com algumas boas razões, mas nem sempre com os métodos mais desportivos, as recentes intervenções do presidente da República dão a sensação de destinadas ao mesmo fim: o desgaste do Executivo. Podemos estar mesmo perante uma sofisticada evolução de Cavaco no sentido de reforçar a imagem de um presidente que, mais cedo ou mais tarde, acaba por meter na ordem o primeiro-ministro, por mais pintado que pareça. Um presidencialismo de influência e, em caso de rebeldia, de autoridade, é o que é.

No caso de Sócrates, pudemos compreender que no desgaste do segundo mandato de governação poderá ter merecido todas as críticas e mais uma, das abertas"às mais veladas, que foram apadrinhas a partir do Palácio de Belém e que alguma comunicação social aproveitou para autênticos assassinatos de carácter, na mira de acumular o maior capital de queixa passível de ser utilizado nas batalhas de mercado, envolvendo poderosos grupos económicos.

Aquilo que à época de Sócrates poderia ser entendido por muito boa gente como uma real insatisfação do presidente da República quanto às soluções governativas para o país, hoje soa a ajuste de contas e um dos mais velhacos confrontos políticos. Verdadeiramente impróprio da solenidade equidistante que devem revestir as intervenções do mais alto magistrado da nação.

Este tipo de intervenção meio-informal de Cavaco é uma ameaça para Passos, que por muito que permaneça em estado de graça enfrenta uma recessão, com queda do investimento e do consumo das famílias acima das previsões.

Num quadro tão grave, intervenções moralistas sem comprometimento nas soluções reais são altamente destruidoras. Mas já sabemos que Cavaco não resiste a essa tentação. Sendo o mais experiente dos nossos políticos, nada nele pode ser levado à conta de casuístico e muito menos de errático."

Cada vez que surja uma dúvida sobre os ditames da austeridade, como a de que não haverá cortes nos salários dos funcionários da Caixa, ANA e NAV, haverá sempre quem faça ecoar estas ou aquelas palavras presidenciais, escolhidas a preceito, sobre a justa repartição de sacrifícios. De preferência palavras singelas e sem contraditório...


Brasil: A OPERAÇÃO SATIAGRAHA E OS SINAIS DE ALENTO




Mauro Santayana – Carta Maior, em Colunistas

O recurso da Procuradoria Geral da República, junto ao STF, contra a decisão do STJ que anulou toda a operação Satiagraha, traz novo ânimo à cidadania. No entendimento do ministro Gilmar Mendes e de mais um ou outro juiz o banqueiro Dantas sempre terá razão. Mas, pelas decisões recentes, sabemos que provavelmente esse não será o entendimento da maioria da alta corte.

O recurso da Procuradoria Geral da República, junto ao Supremo Tribunal Federal, contra a decisão do STJ que anulou toda a operação Satiagraha, traz novo ânimo à cidadania. É mais um dos sinais alvissareiros de que a República se aprimora, apesar da reincidência da corrupção em certas áreas da sociedade.

A operação, autorizada pela Justiça, e comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, foi conduzida dentro dos procedimentos rotineiros da Polícia Federal, sem fugir dos trilhos da realidade. É possível, conforme acusam os defensores do banqueiro Daniel Dantas, que os policiais se tenham entusiasmado, diante das provas recolhidas, e deixado vazar algumas informações à imprensa. Esses descuidos, no entanto, não invalidam o processo. As provas recolhidas – e conhecidas – não deixam dúvida de que houve atos ilícitos, previstos na legislação penal.

Mas o banqueiro Daniel Dantas é um honourable man. Todos nos recordamos de seu comparecimento à CPI que não prosperou. O banqueiro não foi inquirido, mas, sim, homenageado, pela maior parte dos parlamentares presentes. Ele estava à vontade, e se esgueirava das poucas e pertinentes perguntas que lhe faziam, discorrendo sobre a sua vitoriosa vida empresarial. Não se encontrava na cadeira dos acusados, mas no púlpito em que, de forma sutil, pregava a filosofia do êxito capitalista.

E havia razões para isso. Daniel Dantas é um dos fenômenos de nossos tempos neoliberais. Recorde-se, entre outros fatos, a admiração quase reverencial do então presidente Fernando Henrique Cardoso - admiração emulada por sua equipe econômica – pelo “gênio” das finanças. Recordem-se os esforços dos responsáveis pela privatização criminosa das empresas estatais a fim de privilegiar o Banco Opportunity, de acordo com as interceptações telefônicas, nunca contestadas. É difícil esquecer o fato de que, nas semanas finais do mandato de Fernando Henrique, o presidente recebeu, no Palácio da Alvorada, o banqueiro, para um jantar a dois, sem testemunhas.

O Brasil é um dos poucos países do mundo em que os homens de negócios têm acesso direto aos chefes de Estado. Não é um bom hábito. Os homens de Estado, ainda que procurem manter-se bem informados sobre os assuntos, devem ser preservados desses contatos pessoais. Para receber os mercadores, os banqueiros, os empreiteiros, investidores – seja lá que títulos tenham esses homens de negócios, existem os ministros de Estado, responsáveis pelas áreas de interesse. E é importante que esses encontros sejam registrados e tenham a presença de testemunhas. Se os negócios são lícitos, não há por que manter os encontros secretos, ainda que possam ser provisoriamente sigilosos; se não são lícitos, não podem ser realizados.

Será difícil ao STF negar o pedido da Procuradoria, diante dos argumentos expostos. Como considerar ilícita uma prova, apenas pelo fato de que mais de um órgão legítimo do Estado, tenha contribuído para a investigação?

É certo que no entendimento jurídico do Ministro Gilmar Mendes e, provavelmente de mais um ou outro juiz, o banqueiro Dantas sempre terá razão. Mas, pelas decisões recentes, sabemos que provavelmente esse não será o entendimento da maioria da alta corte.

* Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Timor-Leste/Eleições: Missão de Observação Eleitoral da CPLP chega terça-feira



Angola Press

Díli - Uma missão de observação eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) às presidenciais de dia 17 em Timor-Leste, chefiada pelo antigo primeiro-ministro da Guiné-Bissau Carlos Correia, chega terça-feira a Díli, Timor-Leste.

Segundo um comunicado da CPLP, a missão vai permanecer no país até 21 de Março para "acompanhar as eleições presidenciais de 2012 à luz dos princípios internacionais para a realização de eleições democráticas".

Chefiada pelo antigo primeiro-ministro guineense Carlos Correia, a missão conta com um total de 18 observadores provenientes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.

"Entre os observadores, figuram diplomatas, membros dos órgãos de administração eleitoral, elementos do Secretariado Executivo da CPLP e um parlamentar da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe", refere o documento.

Do grupo fazem também parte observadores credenciados pelas embaixadas do Brasil e de Portugal.

Os observadores da CPLP vão testemunhar a fase final da campanha, que termina quarta-feira, o dia das eleições, a contagem dos votos e o apuramento dos resultados.

No final da missão será emitida uma declaração preliminar.

Em Timor-Leste, a CPLP realizou missões de observação ao referendo sobre a autodeterminação, às eleições para a Assembleia Constituinte e eleições presidenciais em Timor-Leste.

Leia mais sobre Timor-Leste - use os símbolos da barra lateral para se ligar aos países lusófonos pretendidos.

ELEITORES TIMORENSES: PARTICIPEM NA SONDAGEM “VOTO PARA PR DE TIMOR-LESTE”, na barra lateral

Guiné-Bissau/Eleições: PAÍS “NO FUNDO POÇO” - Candidato Vicente Fernandes



FP - Lusa

Bissau, 11 mar (Lusa) - Vicente Fernandes, candidato apoiado pela Aliança Democrática, pequeno partido da Guiné-Bissau, tem centrado a campanha para as eleições de dia 18 na educação e diz que, nesse aspeto, o país está "no fundo do poço".

Longe dos comícios que arrastam multidões, o candidato a Presidente tem preferido uma campanha de esclarecimento, porta-a-porta, tabanca a tabanca (pequenas aldeias do interior), porque, justifica, percebeu em eleições anteriores que os comícios não representam nada e que as pessoas "são sempre as mesmas".

Em declarações à Lusa em Bafatá, no intervalo de ações de campanha na Guiné-Bissau "mais profunda", faz um balanço "muito positivo" da primeira semana de campanha e garante: "vai haver surpresas, esperamos um bom resultado em Oio, Bafatá, Gabu (leste), e também no norte".

Mas aponta como "muito negativo" o estado do ensino no país, com um Estado a "promover o analfabetismo" e um governo com "ministros quase analfabetos".

"Entendi que devia levantar a minha voz, com os demais da minha geração, de forma a lutar pela alteração da situação política que se vive. Foi decisão minha mas é perfilhada por muitos guineenses descontentes com a situação social, política e económica do povo. Não sou mais do que uma caixa de ressonância dessa indignação", diz.

Formando em Portugal (em Direito), empresário em Bissau, Vicente Fernandes tem sido acusado de nem sequer falar crioulo guineense mas não é verdade. À Lusa fala em português para dizer que ele mesmo ficou admirado com o atraso do interior do país, onde por todo o lado a inteligência é relegada para segundo plano.

O país, diz, não tem falta de quadros, mas os incentivos são tão poucos que os melhores professores foram para Cabo Verde e os que se formaram em Medicina, em Portugal, ainda por lá estão.

"A Educação para mim é o ponto fulcral, sem ela não há progresso para nenhum outro setor, é hipotecar o país", diz Vicente Fernandes, que acusa o partido no poder, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), de "usar as fraquezas populares para amarrar as pessoas".

"Os quadros vindos da luta de libertação tornaram-se agentes adversos ao desenvolvimento. O que Amílcar Cabral disse caiu em saco roto. Porquê então a luta de libertação? Para termos uma bandeira e um hino?", questiona.

É que, diz o candidato, não se entende como é que tantos anos após a independência continua a haver tanto analfabetismo, como é que não se potencia a grande capacidade agrícola do país, que podia ser autossuficiente em termos alimentares, e como é que não se potencia o turismo, aproveitando o arquipélago dos Bijagós.

"Não acredito que haja vontade dos agentes do PAIGC em levar o país ao desenvolvimento", diz à Lusa, propondo uma mudança completa de valores na Guiné-Bissau, começando por rever a Constituição, reduzir substancialmente o número de Ministérios e reduzir o número de deputados para 50, porque os outros "nem sabem ler o português".

Vicente Fernandes vai andar pela zona leste do país na próxima semana, sempre na mesma toada: "levar as pessoas a inteirar-se da realidade e propor-lhes soluções".

Leia mais sobre Guiné-Bissau - use os símbolos da barra lateral para se ligar aos países lusófonos pretendidos

MAGISTRADOS LUSÓFONOS FUNDAM ASSOCIAÇÃO



Ana Paula Azevedo – Sol

Magistrados do Ministério Público de cinco países de expressão portuguesa fundaram no último fim-de-semana, em Vilamoura (Portugal), a UAPEL: União das Associações de Procuradores do Espaço da Lusofonia.

A associação foi lançada durante o IX Congresso do Ministério Público (MP) português, que decorreu no último fim-de-semana, em Vilamoura.

O objectivo da UAPEL é que os seus associados troquem experiências sobre os seus sistemas judiciais – todos muito semelhantes – e que daí possam resultar contributos para uma melhoria da Justiça nos respectivos países e até propostas de alteração legislativa. Defender a independência da Justiça e os direitos humanos, e lutar pela segurança dos magistrados são outros dos fins da UAPEL.

Na fundação, participaram dirigentes de sindicatos de magistrados do MP: Nélia Correia (por Moçambique), Vandro de Carvalho (Cabo Verde), Vanderley Bento Mateus e Carla Nogueira (Angola), Domingos Sambu e Bacar Bai (Guiné-Bissau), João Palma e Pedro Baranita (Portugal). Prevê-se para breve a adesão também dos procuradores do Brasil, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Leis parecidas e problemas comuns

A ideia de criar a UAPEL surgiu em 2009, noutro congresso do MP realizado em Portugal. «Chegámos à conclusão de que a cooperação pelas vias institucionais (pelos órgãos de Justiça dos vários países) não chega. Os sindicatos dão-nos mais liberdade de acção», salienta ao SOL Pedro Baranita, avançando que em breve a UAPEL irá apresentar-se junto da CPLP. A presidência ficará para já a cargo de Portugal, precisamente de João Palma, presidente do sindicato do MP português.

«Temos uma tradição jurídica comum, leis e códigos muito parecidos. Podemos debater experiências e fazer estudos, de forma a reforçar os nossos sistemas judiciais e o prestígio e autonomia do MP» – refere, por seu turno, Nélia Correia, presidente do sindicato do MP de Moçambique.

«Num dos debates do congresso, aqui em Vilamoura, falou-se das distorções do Código de Processo Penal português – algo muito semelhante ao que acontece em Cabo Verde», salienta Vandro de Carvalho, presidente da Associação de Magistrados de Cabo Verde.

«Tal como em Portugal, também em Angola temos necessidade de actualizar algumas leis, como os códigos Penal e de Processo Civil», exemplifica Carla Nogueira, da direcção do sindicato angolano.

Para já, a UAPEL pretende organizar uma conferência anual, para os seus associados debaterem temas que preocupem a classe.

Autoridades tradicionais convidam Presidente da República a visitar Cabinda



Angola Press

Cabinda - As autoridades tradicionais de Cabinda, reunidas sexta-feira no seu primeiro encontro provincial, na vila de Belize, sede do município com o mesmo nome, convidam o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a visitar a província antes das eleições gerais deste ano.

Num comunicado final do encontro, as autoridades tradicioanais encorajam o Governo a continuar com os programas "Nossa aldeia nova Imagem" que consiste na venda subvencionada de chapas de zinco, com vista a melhorar a cobertura das residência no meio rural, "Água para todos" e de abertura e reabilitação das vias terciárias.

Os participantes solicitaram ainda ao Governo no sentido de continuar a construção das sedes das regedorias, residências e meios de transporte para as regedorias, bem como continuar a trabalhar no regate dos valores culturais da região.

Consideram importante o papel das autoridades tradicionais na mobilização da população para o registo eleitoral e sublinham a necessidade de se promover mais encontros do género para mais intercâmbio e troca de experiência entre regedorias.

Fotojornalista João Silva agraciado com a Ordem da Liberdade




O repórter fotográfico português residente na África do Sul João Silva, que perdeu duas pernas no Afeganistão em Outubro de 2010, vai ser distinguido com a Ordem da Liberdade.

João Silva, um dos mais consagrados fotojornalistas de conflitos do mundo, nasceu em Lisboa e reside desde muito novo na África do Sul, onde o seu trabalho começou a ganhar destaque no início da década de 90.

Foi nessa altura, em pleno processo de transição política da África do Sul, que as "townships" em redor da grande metrópole de Joanesburgo foram palco de uma guerra aberta, com recursos a todo o tipo de armas, entre apoiantes do Congresso Nacional Africano (ANC) e o Partido Inkatha da Liberdade (IFP).

Quando as fotografias de João Silva dos trágicos massacres e trocas de tiros entre os dois movimentos, com as forças de segurança em risco de perderem o controlo da situação, começaram a ser publicadas na Imprensa sul-africana, a carreira deste jornalista conheceu uma ascensão meteórica.

De um modesto jornal na altura publicado no sul de Joanesburgo, o "Alberton Record", transferiu-se rapidamente para o "The Star" e daquele diário de grande circulação para agências internacionais como a Reuters e a Associated Press, e, mais tarde, para o "The New York Times".

Foi ao serviço do "The New York Times" - jornal que o contratou como correspondente permanente para África - que João Silva perdeu as pernas, ao pisar uma mina durante uma das muitas missões de serviço no Afeganistão, numa área, próxima de Arghandab, que os militares americanos, com os quais estava integrado, já tinham desminado e consideravam segura.

Entre 23 de Outubro de 2010, quando foi ferido e de imediato transportado pelo exército americano para um hospital na Alemanha e depois para o centro médico Walter Reed, em Washington, em dezembro de 2010, Silva foi sujeito a mais de 3 dezenas de operações destinadas a reparar os danos provocados pela explosão da mina e a horas sem conta de fisioterapia e adaptação às próteses que lhe permitem hoje andar de novo.

O fotógrafo, que se afirma "cem por cento português mas com a África do Sul sempre no coração", voltou a casa, em Joanesburgo, e ao convívio permanente com a mulher, os dois filhos e os pais em dezembro de 2011, depois de quase dois anos de tratamentos e de momentos emocionantes, como os que teve com a primeira dama norte-americana Michelle Obama, que o visitou no hospital militar, e com o Presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, no gabinete oval da Casa Branca.

Em Joanesburgo, em fevereiro, João Silva voltou a ser submetido a uma cirurgia de emergência para debelar uma infeção abdominal que provocara um abcesso, resultante ainda dos ferimentos sofridos no Afeganistão.

Em abril o fotógrafo de guerra, que se afirma preparado para regressar ao trabalho, embora condicionado em termos de mobilidade, voltará a Washington para ser submetido a novos tratamentos e sessões de fisioterapia.

A Ordem da Liberdade será conferida a João Silva pelo embaixador João Ramos Pinto, na quinta-feira, dia 15, na Embaixada de Portugal em Pretória, durante uma receção que tinha como objetivo original a despedida do representante diplomático de Portugal da África do Sul.

Segundo a página oficial das ordens honoríficas portuguesas, "a Ordem da Liberdade destina-se a distinguir serviços relevantes prestados em defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e à causa da liberdade".

Mais lidas da semana