terça-feira, 16 de julho de 2013

SINAIS DE AVANÇO NO DIÁLOGO ENTRE RENAMO E GOVERNO MOÇAMBICANO




Deutsche Welle

As negociações entre a RENAMO e o executivo produziram finalmente primeiros resultados. É uma "boa notícia" que motivará mais moçambicanos a inscrever-se nos postos de recenseamento, diz analista.

Depois de 11 rondas, as negociações entre o maior partido da oposição moçambicano, a RENAMO, e o Governo trouxeram, pela primeira vez, resultados.

Relativamente ao pacote eleitoral, poderão ser feitas as mudanças exigidas pelo maior partido da oposição. Os políticos chegaram, por exemplo, a um acordo parcial sobre a composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Já quanto à desmilitarização da RENAMO, exigida pelo Governo, permanece o impasse. Mas até que o acordo final seja alcançado ainda haverá mais rondas para os últimos acertos, bem como preparativos para o encontro entre o Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.

Em entrevista à DW África, o analista político moçambicano Silvério Ronguane deu nota positiva a este primeiro consenso no diálogo entre o Governo e a RENAMO.

DW África: Como avalia os resultados destas negociações?

Silvério Ronguane (SR): Admito que milhões de moçambicanos se sentiram muito reconfortados com aquela que foi a prova viva de que os nossos governantes e dirigentes políticos ainda têm esta capacidade de se encontrar e resolver os problemas. Porque, a grande questão era a paridade e a participação dos partidos políticos nos órgãos eleitorais. Acho que é uma questão justa, porque o processo político tem de ser dirigido pelos interessados. Portanto, tem muito sentido que os dirigentes dos processos eleitorais também sejam pessoas do mundo da política, mormente dos partidos políticos.

Para nós, foi uma ótima notícia, um sinal de esperança muito grande. Significa que, efetivamente, as coisas já estão a começar a encaixar.

DW África: Caso cheguem a acordo, será formada então uma nova Comissão Nacional de Eleições (CNE), mais equilibrada?

SR: Se calhar, "novo" não é o termo mais adequado, mas haverá um novo figurino. Isto pode ser duas coisas: ou se refaz toda a CNE, e acho que não é essa a via mais correta, ou simplesmente há uma acomodação. Se diminuírem os membros do partido FRELIMO ou que vieram pela sociedade civil, mas que, para todos os efeitos, pertencem à FRELIMO porque foram votados pela bancada maioritária, e, depois, a RENAMO indicar os seus membros e o MDM fazer o mesmo, então caminhamos para a paridade.

DW África: A ser assinado, o acordo não satisfaz apenas a RENAMO, mas também a sociedade civil moçambicana, que tem criticado a composição da CNE e também questões relativas às eleições em si. Podemos considerar, com isso, que as bases para eleições justas, credíveis e transparentes poderão ficar garantidas com o acordo?

SR: Sem dúvida nenhuma. Moçambique, como qualquer país subdesenvolvido, é aquilo que nós chamamos de "país sobrecarregado por condições desfavoráveis". Num contexto destes, nunca se pode fazer processos tão transparentes, tão justos, mas pelo menos serão as eleições possíveis e serão eleições com o maior número de consenso. Por essa via, é mais fácil que [as eleições] sejam aceites e reconhecidas.

Nesse sentido, podemos dizer que serão eleições mais transparentes, porque todos os atores vão sentir que fazem parte do processo. Eles vão assumir os seus erros, os constrangimentos, assim como os êxitos. Isso significa que serão eleições que vão garantir aquilo que efetivamente é importante numa democracia, que é a capacidade de criar consensos, acomodar interesses conflituantes e criar uma estabilidade governativa.

DW África: A serem aprovadas as mudanças no âmbito do processo eleitoral, acha que o recenseamento será prolongado ou será feito um outro recenseamento, tomando em conta que a RENAMO está a boicotar o processo?

SR: Não. Pela primeira vez na história de Moçambique, o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) veio reconhecer que só se iam recensear 75% dos eleitores. O que significa que há um grupo de 25% da população que não se recenseou por várias razões, mas é possível acreditar que uma parte deles é porque são filiados à RENAMO.

Acredito que, a partir de hoje, com este anúncio de que já foi encontrado um consenso e que estão abertas as portas para o povo participar, muita gente vai começar a afluir às mesas de recenseamento. Portanto, é de acreditar que um prolongamento já se fazia sentir.

ONG VAI PUBLICAR LIVRO SOBRE CORRUPÇÃO ENVOLVENDO DIRIGENTES ANGOLANOS




Manuel José – Voz da América

Mãos Livres vai detalhar caso da dívida à URSS em que milhões foram alegadamente desviados para contas pessoais 

A organização não governamental Mãos Livres tenciona em breve  colocar em circulação em Angola um livro detalhando um caso de fraude alegadamente envolvendo destacados dirigentes do país, incluindo o presidente José Eduardo dos Santos.

O caso envolve o pagamento da divida angolana à antiga União Soviética de cuja transacção milhões de dólares teriam sido transferidos para as contas pessoais desses dirigentes.

A organização Mãos Livres apresentou aliás uma queixa sobre esta questão à Procuradoria-Geral da República há três meses atrás mas aparentemente sem qualquer sucesso.

A queixa crime de corrupção e branqueamento de capitais foi feita contra altas figuras próximas ao presidente da república José Eduardo dos Santos e até ao momento não há nenhuma resposta da PGR.

A queixa-crime contra altas figuras angolanas e estrangeiras envolvidas no negocio da divida de Angola a Rússia em 1996, em que o governo angolano arregimentou intermediários da empresa Abalone Investments, de Arcadi Gaydamak empresário russo e Pierre Falcone empresário franco-angolano, para que estes negociassem a liquidação da divida de Angola a Rússia avaliada em 5 mil milhões de dólares, contraídas na compra de armamento para a guerra do nosso país.

De acordo com o relatório da Mãos Livres o total pago pela Sonangol à empresa Abalone Investments foi cerca de 1 bilhão e quatrocentos milhões de dólares.
Parte desse dinheiro teria sido desviado para contas pessoais

Os nomes envolvidos na fraude, segundo a Mãos Livres são os russos Arcadi Gaydamak e Vitaly Malkin, este senador da câmara russa, o franco-angolano Pierre Falcone e da parte angolana José Eduardo dos Santos, presidente da república e seus colaboradores Elísio de Figueiredo, na altura embaixador angolano em França, Joaquim David director geral da Sonangol, José Paiva da Costa e castro representante da Sonangol nas negociações e José Leitão antigo ministro do gabinete da presidência da republica.

Em exclusivo a Voz da América o presidente da Associação queixosa Salvador Freire diz não perceber as razões do silencio da Procuradoria Geral três meses depois da apresentação formal do documento.

"Infelizmente há um silencio total quer das pessoas que foram alvo da queixa , colaboradores do presidente da república, como também da Procuradoria Geral da República,” disse.

“Não compreendemos porque que a PGR não investiga e só se preocupa com casos menos importantes," acrescentou.

Salvador Freire interpreta contudo este silencio da Procuradoria como concordância a acusação da sua associação.

"O silencio significa dizer que eles aceitaram o cometimento destes crimes, há crime evidente, há provas também evidentes," disse

O advogado garante que as provas destes crimes estão compiladas em livro que a qualquer altura será apresentado publicamente aos angolanos.

"Nos remetemos copias deste documento à presidência da república, a outras instituições do país e ao próprio MPLA e dentro de poucos dias vamos apresentar em conferencia de imprensa o livro sobre este relatório intitulado: Fraude em altas Posições, O contrato corrupto da divida de Angola a Rússia," disse

Recordar que no dia 16 de Abril deste ano a Associação Mãos Livres apresentou publicamente em simultâneo, em Luanda e na Suíça a queixa crime contra colaboradores directos do presidente angolano José Eduardo dos Santos.

Ministra confiante numa “boa solução” para os agentes da polícia detidos em Bissau



Inforpress

O Governo está “a trabalhar e à espera de boas novidades, a qualquer momento”, sobre o regresso dos dois agentes da Polícia Nacional (PN) detidos sexta-feira em Bissau, disse, na Praia, a ministra da Administração Interna.

Em declarações aos jornalistas, Marisa Morais explicou que os dois agentes foram detidos “quando já se encontravam na sala de embarque” para regressarem a Cabo Verde e que, além das especulações que têm surgido na imprensa, ainda não tem “todos os dados” que a permitam comentar o assunto.

Segundo a ministra, os dois agentes da Direcção de Estrangeiros e Fronteiras (DEF) estavam em missão de serviço na Guiné-Bissau, onde chegaram na terça-feira, 09 de Julho, e, na sexta-feira, 12, no momento de regresso, foram detidos no aeroporto.

Questionada se se trata de uma retaliação contra Cabo Verde, Marisa Morais disse que “não é altura para especular” e que todos devem ter a sensibilidade necessária de, num momento como este, “deixar baixar a maré”.

A ministra adiantou que o regresso dos agentes da polícia deve acontecer na madrugada de quinta para sexta-feira e confirmou que os detidos “não estão em celas e estão a ser bem tratados”. Outra coisa não seria de esperar, alegou, garantindo que a situação está a ser acompanhada pelo Governo.

Quanto à acusação de que os elementos da polícia nacional não levaram os documentos habituais para este tipo de missão, afiançou: “esta é uma situação que iremos analisar quando ambos regressarem”. Infelizmente, admitiu, “devido à falta de ligações com a Guiné, tiveram de ficar em Bissau”.

O que importa, para a ministra, é resolver a situação e que os agentes estejam de regresso a Cabo Verde “o mais depressa possível”, pelo que não haverá necessidade de nenhuma missão se deslocar a Bissau para negociar a sua vinda.

À pergunta se acha normal este tipo de procedimento, respondeu: “não tenho de achar normal ou anormal. Trata-se de um incidente e estamos a resolvê-lo”.

Admitiu, contudo, que não tem todas as informações necessárias para poder responder às questões colocadas “sem entrar em especulação” e descartou a possibilidade deste “incidente” criar mal-estar nas relações entre os dois países.

“Trata-se, tanto quanto sabemos, de um simples incidente que pode acontecer em várias fronteiras e que já aconteceu em fronteiras europeias, sem tanto ruído”, referiu.

Os dois agentes da Polícia Nacional deslocaram-se a Bissau em missão de escolta de uma cidadã desse país que cumpria uma pena de cinco anos em Cabo Verde por tráfico de drogas, executando o despacho de pena acessória de expulsão do Tribunal, após ter cumprido metade da pena.

Num contacto com a Agência de Notícias da Guiné (ANG), a Inforpress apurou que, esta manhã, a Rádio Difusão Nacional da Guiné Bissau noticiava sobre os dois agentes da PN, citando o primeiro-ministro, Rui Barros, que confirmava aos deputados a detenção dos agentes cabo-verdianos, alegando que, supostamente, não teriam cumprido as regras guineenses de extradição.

Fonte da Direcção de Estrageiros e Fronteiras de Cabo Verde explicou à Inforpress que foram cumpridas todas as normas internacionais de extradição, ou seja, foram informadas as companhias aéreas, neste caso, a Maroc Royal Airlines, os pilotos, os aeroportos e a polícia guineense de que a extradição ia ter lugar com o acompanhamento dos dois agentes.

Segundo as informações que a DEF detém, até segunda-feira, os dois agentes encontravam-se nas instalações do Serviço de Informação da República (SIR) e estava prevista a sua audição esta manhã pela Polícia Judiciária guineense.

ORÇAMENTO DA GUINÉ-BISSAU APROVADO POR LARGA MAIORIA, GOVERNO SATISFEITO




O Orçamento Geral do Estado da Guiné-Bissau, que prevê um défice de quase 50 por cento, foi hoje aprovado pela Assembleia Nacional, com 88 votos a favor, de um universo de 100 deputados.

O orçamento é de 102 mil milhões de francos CFA (156 milhões de euros) mas tem um défice de cerca de 48 mil milhões de francos (73 milhões de euros).

Com a aprovação do Orçamento e do programa de Governo "estão criadas as condições para a efetivação das eleições presidenciais e legislativas em novembro", disse hoje o ministro da Presidência e porta-voz do Governo de transição, Fernando Vaz.

Em declarações aos jornalistas o responsável salientou "a maturidade dos políticos guineenses" no momento difícil que o país atravessa. "Todos nós estamos de parabéns e agora mãos à obra para ver se fazemos umas eleições justas", disse.

PELO MENOS 16 MORTOS E 80 FERIDOS EM VIOLÊNCIA TRIBAL NA GUINÉ-CONACRI



APN – ARA - Lusa

Conacri, 16 jul (Lusa) - Pelo menos 16 pessoas foram queimadas vivas ou assassinadas com catanas e dezenas ficaram feridas ao cabo de dois dias de violência étnica na Guiné-Conacri, afirmaram hoje as autoridades do país.

A violência foi desencadeada na cidade de Koule, no sul do país, quando guardas de uma estação de serviço da tribo Guerze espancaram até à morte um jovem da etnia Konianke que acusaram de roubo.

Os confrontos alastraram à capital provincial, N'Zerekore, situada 570 quilómetros a sudeste de Conakry, e várias casas foram destruídas.

Um porta-voz governamental, Albert Damatang Camara, afirmou que as forças de segurança foram reforçadas e que a calma voltou às ruas, apesar de terem morrido 16 pessoas e 80 terem ficado feridas.

De acordo com Francois Lamah, um médico local ouvido pela agência France Presse, o número de mortos não foi ainda totalmente contabilizado, uma vez que muitos corpos mutilados não chegaram a passar pelo hospital.

"Alguns foram queimados vivos e outros mortos com catanas. Não conseguimos dar conta disto, a situação ultrapassou-nos", referiu.

A violência tribal é comum naquela região junto à fronteira com a Libéria, muitas vezes por motivos religiosos.

Os Guerze são maioritariamente cristãos ou animistas, enquanto os Konianke são muçulmanos, associados à comunidade étnica Mandingo, da Libéria.

GOVERNO ALEMÃO PODE AFROUXAR REGRAS DA DUPLA NACIONALIDADE




Deutsche Welle

Muitos descendentes de estrangeiros, mesmo nascidos na Alemanha, são obrigados a abdicar da nacionalidade de origem para ter a alemã. Partidos políticos e especialistas defendem a regularização da dupla cidadania.

A Alemanha já é, de longa data, um país receptor de imigrantes, mas ainda tem problemas para se entender como tal. A política de imigração, definida sobretudo por governos conservadores, exige dos estrangeiros e seus filhos – mesmo os já nascidos no país – uma lealdade à Alemanha documentada no passaporte. Entre as razões para isso estão um temor, muitas vezes velado, da formação de guetos e das chamadas "sociedades paralelas".

Até hoje, políticos da conservadora União Democrata Cristã (CDU), o partido de Angela Merkel, argumentam que um cidadão não pode ser leal a um país se tiver dupla cidadania. A CDU defende o direito da cidadania adquirida para imigrantes e seus descendentes, sem, contudo, a possibilidade de manter mais de uma nacionalidade.

Em 2000, social-democratas e verdes tentaram, durante o governo de coalizão, modernizar o "Direito de Nacionalidade e do Reich", datado de 1913 e ainda em vigor no país. As duas facções tentaram fazer com que os estrangeiros tivessem maior facilidade de adotar a cidadania alemã, possibilitando a dupla nacionalidade.

A reforma desencadeou algumas mudanças: desde então, passou a ser possível ao estrangeiro que vive no país há seis ou oito anos adotar a cidadania alemã, em vez dos 15 anos necessários anteriormente. No entanto, a câmara alta do Parlamento (Bundesrat), na época dominada pela CDU, impediu que democrata-cristãos e verdes aprovassem o reconhecimento legal da dupla nacionalidade. O acordo selado entre os partidos em 2000 criou uma situação que vem trazendo problemas para muitos imigrantes e seus descendentes.

Situação jurídica confusa e perigosa

Há, por exemplo, muitos estrangeiros vivendo na Alemanha, cujos países de origem não tirariam deles a cidadania. Este é o caso de Brasil, Marrocos, Síria, Irã e de dezenas de outras nações. Quem vem de um destes lugares e quer ter um passaporte alemão precisa entrar com um "requerimento de manutenção da nacionalidade anterior". A essas pessoas é possível manter duas nacionalidades.

O direito de dupla cidadania é também exercido pelos três milhões de descendentes de alemães que migraram para o país depois da derrocada da União Soviética, bem como aos filhos de pais americanos ou de qualquer país da União Europeia. Todos os outros imigrantes de países que não pertencem à UE precisam optar por uma só nacionalidade: ou a alemã, ou a de origem. A situação mais complexa diz respeito aos filhos de imigrantes que nasceram na Alemanha. Até os 18 anos de idade, eles podem manter as duas nacionalidades, mas com a maioridade são obrigados a optar por uma delas.

Chamados de "crianças que precisam optar", eles são obrigados a resolver entre o 18° e o 23° ano de vida se querem continuar mantendo a nacionalidade alemã. Para isso, é preciso abdicar oficialmente da outra nacionalidade de origem. O documento do outro país que comprova a perda da cidadania pode, contudo, levar meses para ser expedido.

"E quem não puder provar até o aniversário de 23 anos que não tem mais uma segunda nacionalidade perde automaticamente a alemã", alerta Susanne Worbs, do Departamento Federal de Migração e Refugiados.

Uma pesquisa oficial confirma que a maioria dos jovens atingidos por esta questão não detém as informações necessárias sobre tais obrigações burocráticas. "Quem perde os prazos precisa, em último caso, entrar com um pedido de visto na Alemanha", alerta Worbs, ao salientar que o tempo gasto para este procedimento não deve ser subestimado.

Decisão forçada gera polêmica

Na Alemanha, o grupo mais atingido pela obrigação de escolher entre uma ou outra nacionalidade é o de origem turca, que forma a maior comunidade de imigrantes e descendentes no país. Muitos turco-alemães – ou seja, filhos de turcos, mas nascidos na Alemanha – a reclamam da lei que os obriga a abdicar da nacionalidade de seus pais quando optam pela alemã. Ao fazerem isso, eles têm a sensação de estarem abdicando de sua cultura de origem. E acham injusto que a muitos outros estrangeiros seja permitida a dupla nacionalidade, o que lhes é negado.

A opção pelo passaporte alemão permite votar e, com isso, poder contribuir para determinar os rumos do país. E também usufruir da proteção das representações diplomáticas alemãs em todo o mundo. Por outro lado, abdicar da cidadania turca pode trazer também desvantagens, como por exemplo a dificuldade ou até a proibição do exercício de determinadas profissões, só permitidas aos cidadãos do país. Isso dificulta a mobilidade profissional do cidadão. Receber uma herança na Turquia, sendo cidadão de outro país, também é mais complicado.

"Na verdade, não deveria ser assim, mas na realidade muitos departamentos públicos das prefeituras se veem sobrecarregados", afirma Serkan Tören. Deputado federal de origem turca pelo Partido Liberal Democrático (FDP), ele tomou há cinco anos a decisão de se tornar alemão. "Você se torna de repente parte da sociedade na qual vive. Isso foi para mim muito importante", completa.

Tören acredita que a obrigação de optar por apenas uma nacionalidade não é positiva e defende a permissão de dupla cidadania a todos os imigrantes e seus filhos. "Muitos outros países do mundo permitem isso também. Se quisermos concorrer com eles, na luta para angariar mão de obra especializada para a Alemanha, precisamos aceitar a dupla nacionalidade", reivindica o parlamentar.

Mudanças à vista

Esta postura política do deputado é comum entre os membros do FDP, que apoiam em sua maioria a dupla cidadania. Não se sabe, porém, se eles conseguirão se impor frente à conservadora CDU. Social-democratas, verdes e membros do partido A Esquerda pretendem, caso cheguem ao poder, regularizar a dupla nacionalidade.

Uma iniciativa do Bundesrat (câmara alta do Parlamento), hoje de maioria social-democrata, opôs-se oficialmente à obrigação da opção por uma nacionalidade e está à espera de uma decisão do novo Bundestag (câmara baixa do Parlamento), a ser eleito no segundo semestre deste ano. Enquetes atuais provam que há um número cada vez maior de alemães que defendem a dupla nacionalidade para os imigrantes e seus filhos.

"Mais cedo ou mais tarde as regras atuais vão cair por terra, pois elas são alheias ao tempo presente", aponta o pesquisador da Universidade de Osnabrück Jens Schneider. Ele teme que todo aquele que não puder manter duas nacionalidades acabe voltando a seu país de origem. "O atual direito de nacionalidade tem alto potencial explosivo", acredita Schneider. Nas escolas, diz ele, isso causa graves "problemas de estranhamento" – uma observação comprovada por suas pesquisas.

No estado da Renânia do Norte-Vestfália, o maior do país, os requerimentos pedindo a nacionalidade alemã caíram em torno de 40% – uma tendência que pode ser observada em todo o país. A Secretaria de Integração do estado vê a não introdução do passaporte duplo e a obrigação de abdicar da segunda cidadania como uma das razões para isso. Pois manter a nacionalidade de origem é parte essencial da identidade do cidadão.

ESPANHA: RAJOY, ACUSADO, TERÁ DE FALAR




EL PAÍS, MADRID - Presseurop – imagem Cécile Bertrand

Envolvido no escândalo do saco azul do seu partido, o primeiro-ministro escolheu falar o menos possível. Essa maneira de ganhar tempo vai acabar e Mariano Rajoy terá de se explicar perante o parlamento, tal como se faz nos outros países europeus, escreve “El País”.


Mariano Rajoy respondeu ontem [15 de julho] com um rotundo não ao pedido de demissão apresentado 24 horas antes pela oposição. Mas não o fez em sede parlamentar nem no âmbito de uma explicação pormenorizada sobre o caso Bárcenas, mas sim no decorrer de uma conferência de imprensa com o primeiro-ministro polaco e com uma declaração previamente preparada. O presidente do governo sabe muito bem que o que ontem ouvimos não são as explicações que lhe são exigidas e que, por isso, subsiste por inteiro a necessidade indesculpável de o fazer no parlamento.

E isto acontece no mesmo dia em que o ex-dirigente e ex-tesoureiro do PP confirmou perante o juiz [Juan] Ruz a sua mudança de estratégia. Bárcenas, que anteriormente negou a autoria dos documentos de contabilidade publicados por este jornal a 31 de janeiro, passou agora não só a reconhecê-los como seus como também a apresentá-los como o reflexo de um sistema consolidado de bónus e de dinheiro não declarado que existia na sede central do PP. Excluiu José María Aznar da lista de recetores, mas não poupou Rajoy e María Dolores de Cospedal [secretária-geral do Partido Popular], a quem atribuiu pagamentos de quantias concretas, apesar de também dizer que não guardou os respetivos recibos. É verdade que entregou um documento sobre o pagamento de €200 mil, em 2007, à então líder do PP em Toledo, supostamente a troco de um contrato de limpeza, quando Cospedal era a presidente da região de Castilla-La Mancha [eleita pelo PP]. A visada nega a acusação e considera tais afirmações de Bárcenas como um cúmulo de “calúnias e mentiras”.

Um método inútil

A justiça tem de prosseguir firmemente a sua investigação. Mas não se esgotam aí as explicações que é necessário dar aos cidadãos. Depois da declaração de Bárcenas em tribunal, as incógnitas multiplicam-se e deixam ainda mais no ar o grau de comprometimento com o ex-tesoureiro do PP e as graves suspeitas sobre um sistema de recebimentos de dinheiro e pagamentos irregulares dentro do partido. Argumentar que não há conivência com Bárcenas porque está preso não é só um disparate, é também um argumento perigoso na boca de dirigentes políticos, porque sugere que o Poder Executivo pode decidir quem mete na prisão e quem não mete.

Rajoy agarra-se ao valor da estabilidade política e dá a entender que é a garantia do programa de reformas posto em marcha pelo seu Executivo. É uma resposta que tenta levar o debate para o terreno clássico da discussão entre Governo e oposição; mas não se faz no parlamento, lugar natural de encontro entre a maioria e as minorias, para além de ser sede da soberania. Rajoy faz bem em não discutir em público com o seu ex-tesoureiro ou com as pessoas que lhe estão próximas, mas para que isso seja aceitável para os cidadãos deve submeter-se aos canais parlamentares semelhantes aos dos países à nossa volta.

O problema continua a pôr-se nos mesmos termos em que estava antes da conferência de imprensa de ontem, e a única vantagem provisória com que conta Rajoy é o desentendimento da oposição no que diz respeito à estratégia a seguir. O chefe do Governo procura instalar-se na ideia da resistência, ir ganhado semanas ou meses de vida política com base no adiamento dos problemas. É um método inútil para responder à gravidade das suspeitas que se levantam nos cidadãos.

Traduzido por Maria João Vieira

CONTRAPONTO

Uma “chantagem” que ameaça um país em crise

“Rajoy não cede à chantagem de Bárcenas e dos seus cúmplices”, titula o jornal ABC. O diário conservador denuncia uma campanha para derrubar o primeiro-ministro, orquestrada com a cumplicidade de alguns jornais, entre os quais El Mundo, outro diário conservador.

O ABC lembra que o diretor de El Mundo, Pedro J. Ramírez, se encontrou com Bárcenas e o ajudou a encontrar um novo advogado.

Mas, para além desta polémica, o editorialista do ABC Ignacio Camacho sublinha que o problema para a nação é que o cerco a Rajoy compromete a estabilidade institucional num momento crítico. É impossível governar nestas condições. Se o Governo cair, haverá um terramoto de implicações, geopolíticas inclusivamente. Num momento em que a Europa sangra por causa da sua debilidade estrutural, a Espanha é o único país do Sul da União que tem um Governo com maioria absoluta. As consequências de uma convulsão que rebentasse com a legislatura seriam muito semelhantes a um desastre.

EUA: NBC ACUSADA DE “FABRICAR” RACISMO DE GEORGE ZIMMERMAN




Ricardo Lourenço, correspondente nos EUA - Expresso

Findo o julgamento do vigilante acusado de ter morto um jovem negro de 17 anos, a defesa critica a parcialidade da cobertura televisiva do caso e avança para tribunal.

George Zimmerman foi considerado inocente, no sábado à noite, do crime de assassínio em segundo grau (homicídio não premeditado) do jovem Trayvon Martin, de 17 anos.

Conhecida a sentença, tida como injusta por vários grupos de defesa dos direitos cívicos nos EUA, que acusam Zimmerman de ter atacado Martin por ele ser negro, seguiram-se protestos nas principais cidades americanas.

"Existe a ideia de que o veredicto não foi justo e que os tribunais são incapazes de fazer Justiça. Existe também uma preocupação geral com a criminalização da juventude negra na América, que é constantemente rotulada de suspeita", disse, ao Expresso, Ajamu Dilahunt, membro da "Black Workers For Justice", organização que liderou alguns das manifestações, na Carolina do Norte.

"América precisa de ser honesta nos casos de possível discriminação racial"

Eric Holder, o procurador-geral americano (cargo equivalente a ministro da Justiça), explicou hoje que a investigação federal, iniciada antes do julgamento, "vai continuar". "A América precisa de ser mais honesta nos casos de possível discriminação racial", frisou.

O Presidente americano, Barack Obama apelou ontem à calma, esclarecendo que "o júri pronunciou-se" e que a decisão da Justiça estava "tomada".

Os próprios pais do adolescente, à saída de uma cerimónia religiosa em memória de Trayvon Martin, afirmaram que a tragédia não iria condicionar "o resto das nossas vidas" nem a "memória do nosso filho". "Por favor, tenham calma e não cedam à violência", apelaram.

"Racismo fabricado?"

O advogado de Defesa, James Beasley, garantiu entretanto que irá avançar com um processo por difamação contra a NBC, depois do canal televisivo ter manipulado uma comunicação entre George Zimmerman e um polícia, após o incidente, dando a entender que o acusado seria racista.

A 27 de março de 2012, no programa "Today Show", ouviu-se a seguinte versão editada da conversa entre Zimmerman e um agente: "Este tipo (Trayvon Martin) parece que está a preparar alguma. Ele parece preto".

Beasley exigiu que fosse publicada a versão integral do diálogo, o que aconteceu dias depois. "Este tipo parece que está a preparar alguma. Parece drogado... Está a chover e ele continua a andar por aqui, a olhar para as casas".

Só depois o polícia perguntou-lhe se o rapaz era preto, branco ou latino-americano. Ao que Zimmerman respondeu: "Ele parece preto".

A NBC reconheceu que tinha seleccionado o princípio e o fim da comunicação, explicando que outras televisões tinham feito o mesmo no sentido de "realçar a tensão racial da história".

Ontem, James Beasley criticou o trabalho das televisões, que seguiram em direto o julgamento. "Vocês trataram o meu cliente como se ele estivesse numa mesa de operações, experimentando vários tipos de cirurgias sem que ele tivesse sequer direito a anestesia", apontou.

Na foto: Barack Obama tem apelado à calma, mas as manifestações contra a decisão judicial sucedem-se um pouco por toda a parte, aqui em pleno Times Square, no coração da baixa de Manhattan, em Nova Iorque - Keith BedfordReuters

Para salvar o país: Demitir o Governo, eleições antecipadas, romper com esta política




MARGARIDA BOTELHO – Público, opinião

Quando daqui a uns tempos se escrever a História destes dois anos que já levamos de aplicação do pacto das troikas e do Governo PSD / CDS-PP, o que vai ressaltar é a força poderosa da luta do povo português. O que há-de ficar para a história é que, apesar de todas as forças se parecerem conjugar para que o povo português fosse esmagado em menos de nada, a verdade é que não foi bem assim.

Todos os ventos pareciam soprar a favor dos poderosos do mundo - aqui no cantinho à beira mar plantado representados pelo FMI, pelo Banco Central Europeu e pela União Europeia -, ajudados no plano nacional por uma maioria, um Governo, um Presidente e o maior partido da oposição, decididos a levar por diante o memorando que assinaram com a troika estrangeira. Parecia que tinham a faca e o queijo na mão. E afinal, dois anos depois, o Governo, a maioria e a política que praticam estão derrotados e isolados.

O Presidente da República, empenhado em salvar a política de direita, quer fazer crer que é possível sair do buraco com quem o cavou. PS, PSD e CDS são não só os responsáveis pelos governos dos últimos 37 anos como os subscritores do memorando de entendimento que agravou todos e cada um dos problemas do país. Ao  não dissolver o Parlamento e não convocar eleições, o Presidente assume para si a responsabilidade de todas as consequências que vão resultar deste caminho de degradação económica e social. O Presidente da República não quer dar a palavra ao povo porque sabe que o resultado das eleições seria uma gigantesca condenação deste rumo.

A política definida no memorando está errada e falhou. Insistir em mais do mesmo só afundará mais o país. Mas é isso que Cavaco quer garantir: que o Orçamento do Estado para 2014 passa com mais roubos nos salários e nas pensões, mais cortes na saúde, na educação e na segurança social, com mais despedimentos e privatizações. Não importa que os portugueses sejam condenados à pobreza, ao desemprego, à emigração, a doenças evitáveis, desde que os milhares de milhões de euros que a “ajuda” da troika nos custa no próximo ano estejam pontualmente nas contas da banca nacional e estrangeira.

Romper com esta política e assegurar uma política patriótica e de esquerda é um imperativo nacional. Uma política que liberte Portugal da dependência e da submissão, que recupere para o país o que é do país, que devolva os direitos, salários e rendimentos roubados aos trabalhadores e ao  povo.

É neste quadro que tem grande importância o apelo que o PCP lançou hoje às forças sociais, aos partidos e forças políticas, aos democratas, que têm como objectivos a demissão do Governo, a realização de eleições e a rejeição do pacto de agressão. Nos próximos dias realizar-se-ão encontros com o PEV, a ID, o BE, diversas organizações sociais e personalidades. O facto de o PS não estar incluído nestes contactos não significa qualquer recusa de encontros – significa, simplesmente, que quem acaba de renovar o seu compromisso com o Pacto de Agressão e está neste preciso momento a negociar com o PSD e o CDS-PP a continuação da política de direita, não pode esperar ao mesmo tempo ser incluído no número daqueles a combatem.

Foi a luta do povo português que derrotou este Governo e esta maioria. Vai ser a luta que obrigará à realização de eleições antecipadas, à ruptura com o pacto de agressão das troikas, a um novo rumo na vida nacional. Há neste país forças suficientes para construir uma alternativa patriótica e de esquerda.

Elevado número de alunos em debilidade económica grave, alerta Conselho Educação



Público – Lusa - ontem

O Conselho Nacional de Educação (CNE) alertou para uma "elevada percentagem de estudantes numa situação de debilidade económica grave", recomendando a atribuição de recursos à acção social para que não falhe o apoio aos mais carenciados.

Numa recomendação hoje publicada em Diário da República, o CNE defende a necessidade de garantir o bom funcionamento dos serviços de acção social e de acabar com as diferenças nas respostas sociais registadas nas diferentes instituições do ensino superior.

"Irregularidades técnicas, problemas de comunicação entre serviços e estudantes, indefinição nos processos de candidatura, atrasos na análise dos requerimentos e nos pagamentos das bolsas de estudo e abrangência insuficiente são entropias introduzidas sucessivamente no sistema que têm inibido a acção social de cumprir integralmente o seu papel", alerta o CNE numa recomendações sobre "A condição estudantil no Ensino Superior".

As alterações no acesso às bolsas, que agora é condicionado à situação contributiva das famílias, vieram "colocar uma elevada percentagem de estudantes numa situação de debilidade económica grave", sublinha aquele órgão consultivo.

O CNE alerta ainda para a existência de respostas de acção social "bastante díspares" consoante as instituições, sendo necessário acabar com essas diferenças.

No total, o CNE apresenta às instituições e Governo dez pontos que considera essenciais para evitar o abandono escolar, captar novos estudantes, promover o reingresso e o sucesso dos percursos formativos dos alunos.

A formação dos estudantes deve ter em conta “a necessidade de desenvolver competências de empregabilidade, facilitadoras da integração dos jovens no mundo do trabalho", defende na sua quarta recomendação divulgada este ano.

Além disso, os candidatos ao ensino superior devem conhecer o grau de empregabilidade dos cursos, devendo, por isso, ser criada uma "base de dados fidedigna" que divulgue publicamente essas informações.

Incentivar a mobilidade transnacional de estudantes e garantir apoios financeiros à realização dos seus estudos e estágios no espaço europeu é outra das recomendações do CNE, que lembra que Portugal ainda está "muito distante das metas" para 2020, ano para o 20% dos estudantes já deveriam ter frequentado um ou mais semestres numa instituição fora do país.

Para garantir que essas metas ainda possam ser atingidas, o CNE sugere que o acesso aos programas existentes seja alargado, através de uma melhor divulgação dos programas e na melhoria do reconhecimento de créditos: “É imprescindível que cada estudante saiba, à partida, quais as equivalências que lhe serão dadas nas unidades curriculares que irá frequentar no seu período de mobilidade”, refere o documento.

Além disso, o CNE defende uma melhoria das bolsas de mobilidade para que os alunos carenciados não sejam impedidos de participar nestes programas.

A situação dos trabalhadores estudantes também deve ser melhorada através da adaptação do regime de frequência e avaliação dos cursos aos alunos e alargamento da oferta de cursos em regime pós-laboral ou de ensino à distância.

O CNE recomenda ainda que "se clarifiquem rapidamente as competências da A3ES e das ordens e câmaras profissionais na regulação da relação entre formação e acesso à profissão".

No documento, o CNE defende o reforço financeiro no ensino superior e lamenta que em 2010, "apesar de acordado e contratualizado o reforço de 100 milhões de euros no âmbito dos Contratos de Confiança, tal não se concretizou, tendo-se verificado uma redução de 28% nos orçamentos de funcionamento das instituições".

Portugal: O CAOS ESTÁ INSTALADO




Mário Soares – Diário de Notícias, opinião

1-Como ninguém se entende depois do discurso do Presidente Cavaco Silva, o caos é total. Mas falta o principal: este Governo de Passos Coelho, que está há muito moribundo e completamente paralisado, não teve a dignidade de se demitir. Por isso, tudo continua na mesma. Sem que ninguém veja uma saída para o futuro deste País. Mas há...

Os mercados e a troika já perceberam que com este Governo tudo irá de mal a pior. O descrédito é total, como a imprensa internacional vem manifestando. Não somos a Grécia, dizia com um orgulho tonto Passos Coelho, o fiel aluno da chanceler Merkel. Pois não. Somos piores que a Grécia.

Os portugueses sabem que com Passos Coelho tudo irá mal, sem remédio. Vítor Gaspar, quando se demitiu, numa carta lúcida que tornou pública, acusou Passos Coelho e responsabilizou-o. Enquanto persistir este Governo nada se modifica. É verdade, e cria um total vazio.

O Presidente da República, no seu discurso, humilhou Passos Coelho e o seu atual aliado, Paulo Portas, que muda de opinião como quem muda de camisa. O Governo que Passos Coelho tinha fabricado para convencer Portas e que continha como ministros dirigentes do CDS/PP, afinal, não existe.

Portas não será vice-presidente do Governo, mas tão-só ministro dos Negócios Estrangeiros, como era. Perante tal humilhação, Passos Coelho e Portas nem sequer protestam. Porque o que querem é continuar no Governo a todo o custo, venham as humilhações que vierem...

O contrário do que pensam os portugueses, que acham que enquanto Passos Coelho não desaparecer como primeiro-ministro nada de bom lhes pode acontecer. E Portas? Estava ao lado de Passos Coelho, na última sessão do Parlamento, como um cordeirinho. E falou sem dizer nada de jeito. Uma tristeza da parte de um homem inteligente mas, ao que parece, sem carácter...

Para os portugueses vítimas de tantos atropelos, roubo das pensões, desemprego, que os obriga a emigrar, sem saber como valer aos filhos, a prioridade das prioridades consiste na demissão do Governo. É também a opinião do PS, do PCP, do Bloco de Esquerda, na sua esmagadora maioria, das centrais sindicais, dos parceiros sociais, e mesmo dos empresários e de alguns banqueiros.

Partilho, cem por cento, essa opinião, embora não tenha hoje nenhuma responsabilidade política e nem a queira ter. Limito-me a pensar e a dizer o que penso.

E quem substitui o Governo Passos Coelho/Portas? Há várias soluções que o Presidente da República pode escolher: um Governo de Salvação Nacional, dirigido por um homem sério e não ligado aos negócios, como Silva Peneda ou outros, uma vez que o Presidente da República não quer convocar eleições, antes de 2014 e recusa - e bem - um Governo de iniciativa presidencial. O essencial, como pensam os portugueses, é que este Governo caia e desapareça, antes que caia a mal.

Os partidos - sem exceção - estão em queda na opinião dos portugueses, como a política e os políticos em geral. Era bom que se entendessem sobretudo os da esquerda (ou que se reclamam da esquerda) sem terem partido nenhum. Mas também os sociais-democratas anti-Passos Coelho, que são obviamente importantes e devem começar a agir. Há hoje uma onda cívica de pessoas que não se reveem em nenhum partido, mas querem agir política e civicamente e que o têm feito. É óbvio que os partidos têm de se modificar e desburocratizar. Porque os partidos são necessários e essenciais em democracia.

O Presidente disse no seu discurso que os três partidos do arco do poder se devem entender. Agora? Mas como, se nestes dois últimos anos o Governo Passos Coelho só tentou inferiorizar o PS de todas as formas, como lembrou o deputado e antigo presidente dos Açores, Mota Amaral, insuspeito, com o seu bom senso e sabedoria habituais.

Isso é uma impossibilidade aparente. Só se o PS fosse dirigido por alguém que não tivesse senso, o que não é obviamente o caso. Como as referências permanentes em relação à assinatura do memorando, o qual já teve sete avaliações. Onde isso já vai?... Quem foi além do memorando foi o Governo Passos Coelho, com uma subserviência total em relação à troika. Mais ninguém. Por sinal quis sempre ir além da troika, cada vez mais austeridade, para agradar à sua mestra Angela Merkel, como todo o País sabe... Que tem o PS a ver com as avaliações até à atual? Nada!

A austeridade só agravou a situação portuguesa, cometendo-se erros e mais erros, como reconheceu Vítor Gaspar. E tendo estado, desde então, a vender a retalho o nosso património, continuando a dever cada vez mais dinheiro à troika e aos mercados usurários que a comandam. Há que gritar: BASTA! Este Governo não pode continuar a destruir o País e a empobrecer, até aos limites da miséria, os portugueses, de todas as classes e sobretudo os mais pobres.

Cavaco Silva não pode esperar nada de bom - e sobretudo a paz em que temos estado - se espera continuar com este Governo, mesmo humilhado, até junho de 2014. Reflita em que situação estaremos todos, a começar por ele próprio...

Constituir um Governo de Salvação Nacional com gente incorrupta e patriótica. É do que precisamos como de pão para a boca. Se assim não for, o seu discurso terá sido uma boa vingança mas não faz qualquer sentido.

2-A IMPORTÂNCIA DA CPLP

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa foi consequência da rapidez com que a descolonização foi feita, respeitando a dignidade das nossas colónias e daqueles que se batiam no terreno para a obter: a Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.

Claro que isso só foi possível dada a Revolução dos Cravos, que derrubou a ditadura e abriu caminho ao fim das guerras coloniais, o que só podia acontecer concedendo-lhes o direito à autodeterminação.

A vitória do MFA abriu a porta, desde logo, aos emigrantes antifascistas que estavam então deportados, dos quais os primeiros a chegar foram Ramos da Costa, Tito Morais, Oneto e eu próprio. Todos do PS, que se tinha constituído em partido, desde 1973, um ano antes, na Alemanha.

Quando regressei tinha a ideia dos três slogans do MFA: democratizar, descolonizar e desenvolver. Mas por outra ordem: descolonizar devia ser a prioridade e só depois podíamos democratizar a sério e desenvolver. Porquê? Porque Portugal tinha de pôr fim às guerras coloniais, sem o que a democratização como a fizemos e o desenvolvimento não podiam ocorrer. Foi o que disse no próprio dia em que cheguei e conheci o general Spínola. Que aliás estava longe de ter o meu ponto de vista: com a sua experiência na Guiné, achava possível acabar com as guerras sem reconhecer aos países em guerra o seu direito à autodeterminação.

Não era possível.

Por isso, quando me ofereceu o lugar de ministro sem pasta, lhe disse que só aceitava ser ministro dos Negócios Estrangeiros, apesar dos ministros sem pasta serem protocolarmente mais importantes do que os outros. Assim aconteceu e o PS, ao contrário do que alguns PS me disseram, só ganhou com isso.

Vem isto a propósito do reconhecimento do direito à autodeterminação dos povos coloniais em guerra contra Portugal como exigia a ONU. A paz que se fez com o reconhecimento do direito das colónias à autodeterminação e, a seguir a isso, com a descolonização que foi fácil e rápida. O que permitiu, depois disso, que os povos antes colonizados se tenham tornado independentes, mantendo todos a língua portuguesa e constituído, com o Brasil, Timor e todos os outros que hoje a compõem, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Na semana passada fui visitado por alguns timorenses ilustres entre os quais um genro de Xanana Gusmão e uma ilustre personalidade que conheci no exílio há anos mas de que não me lembrava, Roque Rodrigues, que me vieram comunicar que no início do próximo ano é Timor a quem cabe presidir à CPLP. E queriam falar comigo a esse respeito, convidando-me, desde logo, para ir a Timor, que aliás, por esta e aquela razão, nunca tive oportunidade de conhecer.

Infelizmente o estado de convalescença em que ainda me encontro não me permite, desde já, ir lá, embora a curiosidade não me falte.

Timor, do outro lado do mundo, como percebi, leva muito a sério - mais do que infelizmente muitos portugueses - a importância da CPLP. Sem esquecer, como dizia Pessoa, que a nossa Pátria é a Língua Portuguesa. A CPLP é a nossa língua comum.

Portugal, infelizmente segundo me parece, não tem dado a importância que é devida à CPLP. A nossa língua comum, a quinta mais falada no mundo, é uma pérola que não podemos deixar de desenvolver. Mas é preciso dar mais prestígio à CPLP e fazer tudo para a desenvolver. A Galiza e outros países como a Guiné Equatorial querem pertencer-lhe e devemos integrá-los se assim o desejam. Só é vantajoso para nós.

Sobretudo porque temos muito prazer que um Estado soberano como Timor seja o próximo presidente da CPLP, embora esteja no outro lado do mundo. É a forma de mostrar que a nossa língua é muito valiosa, mais do que a economia ou os negócios que tanto os americanos como os britânicos pensam estar acima de tudo... Não é assim, porque a língua e a cultura são mais importantes do que o dinheiro.

3-UMA EXPOSIÇÃO INVULGAR

A Casa-Museu Centro Cultural João Soares, que tem a sua sede em Cortes, a sete quilómetros de Leiria, inaugurou no sábado passado uma exposição, concebida e feita pelo artista, historiador e homem de cultura Jorge Estrela, intitulada "Viagem de Cosme III de Médicis em Portugal no Ano de 1669".

Trata-se de uma exposição muito original e que demorou muito tempo a concluir (mais de dois anos, ao que penso), feita a partir dos desenhos de Pier Maria Baldi, pintor e arquiteto italiano que acompanhou na sua viagem a Espanha e a Portugal o grão-duque da Toscana Cosimo III de Médicis, que ocorreu, como disse, em janeiro de 1669, quando os dois Estados tinham feito as pazes e o reconhecimento da independência de Portugal, depois de 1640.

Trata-se, portanto, de uma série de aguarelas e desenhos feitos pelo referido arquiteto Baldi sobre muitas terras e cidades portuguesas, cujos originais constituem hoje documentos já muito frágeis (e, por isso, não abertos à consulta do público). Foi a partir deles que Jorge Estrela trabalhou afincadamente para os recriar, com rigor mas com a originalidade do artista que é. Sobretudo nas cores, já muito esbatidas nos originais.

Dá-nos uma visão interessantíssima - e talvez única do que era o Portugal de então. Para alguém que ama a sua Pátria e a quer conhecer, como o mais velho Estado europeu, com as mesmas fronteiras intocáveis, merece bem a pena visitar esta exposição, que estará aberta ao público nos próximos meses.

Tem, aliás, um catálogo excelente que vale a pena consultar e possuir, que se deve ao auxílio do Montepio Geral e ao seu ilustre presidente, Tomás Correia, a quem estou muito agradecido.

Portugal: Ana Gomes. “Resta a Cavaco Silva pensar em antecipar as presidenciais”




Catarina Correia Rocha – Jornal i

Para a eurodeputada, se “Passos Coelho não tem a decência de se demitir tendo sido a incompetência da sua liderança exposta por Gaspar, Portas e pelo próprio Cavaco Silva, resta ao presidente da República convidá-lo a demitir-se”

Ana Gomes considerou, no programa Conselho Superior da Antena 1, que Cavaco pode ter de se demitir antecipando as eleições presidenciais. Para a eurodeputada, resta a Cavaco “pensar antecipar as eleições presidenciais” porque tendo “falhado ao país, quanto mais tempo esperará para se demitir?”

Segundo a eurodeputada, se “Passos Coelho não tem a decência de se demitir tendo sido a incompetência da sua liderança exposta por Gaspar, Portas e pelo próprio Cavaco Silva, resta ao presidente da República convidá-lo a demitir-se”.

“Se o presidente não quer avançar com um governo de sua iniciativa que leve um programa à aprovação assembleia da República, resta a Cavaco não atrasar mais a dissolução da assembleia e convocar eleições legislativas o mais rapidamente possível, coincidindo com as autárquicas”, disse ainda a eurodeputada, acrescentando que é “altamente improvável que o PS possa chegar a um compromisso com este PSD e este CDS”.

Para Ana Gomes, o discurso de “Cavaco veio acrescentar mais crise à crise” e prolongou “a agonia que resultou da bomba da demissão do ministro Gaspar, a que se seguiu a segunda bomba da demissão irrevogável do ministro Portas.”

Para a eurodeputada, a intervenção do presidente “poderia clarificar tudo devolvendo a palavra ao povo convocando eleições”. Outra alternativa seria adiar tudo empossando o governo remodelado em que “Passos passava a suplente e Portas ficava vice com poderes de primeiro-ministro”.

Portugal: Bloco de Esquerda propõe negociações ao PS e PCP. Partidos encontram-se hoje



Jornal i

Para João Semedo, "é na esquerda que está a responsabilidade"

João Semedo propôs negociação ao PS e ao PCP, querendo estabelecer "bases programáticas de um governo de esquerda" e no "mais curto espaço de tempo.”

 O dirigente do bloco explicava esta manhã que é necessário acabar com a austeridade e “mandar a troika embora do país”. Para isso, considera que “é na esquerda que está a responsabilidade.” Assim, Semedo apela a PS e PCP para a abertura de "um processo de discussão e aprovação das bases programáticas de um governo de esquerda.”

Depois de o PCP ter convidado os bloquistas para negociações, a comissão política do BE responde com a proposta de negociações alargadas aos socialistas, salientando que "são precisas soluções urgentes e nenhum esforço deve ser poupado para conseguir uma resposta à crise nacional".

O Partido Socialista e Bloco de Esquerda reúnem-se às 19horas na sede nacional do PS para debater proposta do bloco.

OCDE PREVÊ 18,5% DE DESEMPREGO EM PORTUGAL EM 2014



ANA RUTE SILVA - Público

Na zona euro, estimativas da organização apontam para uma taxa recorde de 12,3%. Desemprego entre os jovens atinge 40% em Portugal.

No final de 2014 a taxa de desemprego em Portugal vai subir dos actuais 17,6% (registados em Maio) para 18,5%, estima a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico).

As previsões da OCDE estão em linha com a última revisão feita pelo Governo, na sequência da sétima avaliação ao programa de ajustamento. A taxa de desemprego apontada para 2013 é de 18,2% e para 2014 é de 18,5%.

As estimativas da OCDE para o último trimestre do próximo ano, divulgadas nesta terça-feira, apontam para um agravamento do desemprego na zona euro: 12,3%, com valores ainda mais expressivos entre os jovens. Mais de 60% de desemprego jovem na Grécia, 55% em Espanha e 40% em Itália e Portugal.

A taxa de desemprego deve subir de 26,9% para 27,8% em Espanha, e de 26,8% na Grécia para 28,2%. Em sentido inverso, a Alemanha poderá diminuir de 5,3% para 4,7%.

Entre as 34 economias que fazem parte da OCDE, a taxa de desemprego deverá cair ligeiramente nos próximos 18 meses, de 8% em Maio para 7,8% no final de 2014. A organização estima que, no total, haja 48 milhões de pessoas se, trabalho.

“As cicatrizes sociais da crise estão longe de estar saradas. Muitos dos nossos países continuam a lutar contra o elevado e persistente desemprego, particularmente entre os mais jovens”, disse Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, em Paris, durante a apresentação dos dados.

Foto: ENRIC VIVES RUBIO

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