terça-feira, 3 de setembro de 2013

A EUROPA, 1848 E A PRIMAVERA ÁRABE

 


Gabriele Crescente – Presseurop, editorial
 
No começo da “primavera árabe”, muitos observadores europeus compararam os levantamentos contra os regimes autoritários do Norte de África e do Médio Oriente aos que provocaram a queda dos regimes comunistas europeus, em 1989. Esperavam assistir a uma vaga de democratização e de desenvolvimento, alimentada por uma nova geração de jovens que se inspiravam nos valores ocidentais.
 
Conforme salientou, em maio de 2012, a diretora-geral adjunta do FMI, a egípcia Nemat Shafik, a diferença é que, em 1989, “a economia mundial estava em plena expansão, a União Europeia estava preparada para acolher entre os seus membros países em transição e era fácil obter financiamentos externos”. A transição dos países árabes verificou-se num contexto muito mais difícil. Segundo Nemat Shafik, sem uma “primavera económica” a acompanhar a renovação política, a primavera árabe estaria condenada ao fracasso, mas, por outro lado, o peso das profundas reformas necessárias teria um impacto potencialmente negativo sobre os cofres já vazios desses países instáveis.
 
Após o regresso sangrento do Exército, no Egito, o fracasso está à vista de todos. E a situação atual parece, como sublinham entre outros Robert D. Kaplan e Jonathan Steinberg, ser mais comparável a um outro grande ciclo revolucionário que fracassou: a “primavera dos povos” de 1848.
 
Contudo, entre os pontos comuns manifestados entre estes dois grandes acontecimentos, inclui-se um que passou despercebido: nos dois casos, tratou-se de uma explosão que culminou num longo processo de reequilíbrio entre sistemas económicos, políticos e sociais antigos e novos. Em 1848, o capitalismo burguês triunfante tentava derrubar o sistema feudal e instituir um modelo baseado na democracia parlamentar e no liberalismo. Em 2011, a crise económica rebentava no termo de uma longa fase de usura e de obsolescência de regimes autoritários que datavam da Guerra Fria. E a classe média, que deveria apoiar a criação de um modelo de tipo ocidental, tinha uma dimensão demasiado reduzida e estava enfraquecida pela sua própria crise. O processo passou assim para as mãos dos islamitas, que, em vez de sofrerem os efeitos das dificuldades económicas viram a sua posição reforçada por elas.
 
Tal como em meados do século XIX, a nossa época não estava preparada para o que aconteceu e, perante a vaga atual de protestos, os movimentos islamitas estão a regressar à clandestinidade. Os Estados do Golfo, que tentaram aproveitar-se do movimento, aperceberam-se do seu alcance real e decidiram substituir a Europa e os Estados Unidos no papel de padrinhos dos guardiães autoritários da ordem regional. Assim, em comparação com os 12 mil milhões de dólares oferecidos aos generais egípcios, as parcas ajudas bloqueadas pela União Europeia como “resposta simbólica forte” mostram, de uma forma quase caricatural, até que ponto o papel da Europa na outra margem do Mediterrâneo é agora acessório.
 
Para poder colher os frutos de uma primavera de democracia e de desenvolvimento, a Europa deveria ter lançado as sementes, quando os tempos eram favoráveis, e ter apoiado os principais atores do movimento, em vez de se dividir por causa de algumas cumplicidades com regimes ditatoriais corruptos e de iniciativas vãs como a União para o Mediterrâneo. Agora, é tarde demais. A primavera árabe talvez esteja a chegar ao fim, mas – como depois de 1849 – a dinâmica histórica que desencadeou irá seguir o seu curso. O dinheiro dos xeques não bastará para resolver os problemas estruturais dos países árabes e a hora do acerto de contas com os movimentos islamitas só foi adiada. Mas os europeus podem estar descansados: já não temos nenhum papel a desempenhar nessa história.
 
*Gabriele Crescente é um jornalista italiano, nascido em 1980. Trabalha na revista Internazionale, desde 2006, e é responsável pela versão italiana do Presseurop.
 

Síria: QUEM USOU AS ARMAS QUÍMICAS

 


Ao governo sírio, não interessava fazê-lo. À oposição, que inclui Al Qaeda, certamente sim. Mas outras razões mobilizam Washington
 
Phyllis Bennis e David Wildman, no Znet - Tradução Cristiana Martin – em Outras Palavras
 
A ameaça de um ataque imprudente, perigoso e ilegal contra a Síria, cometido ou conduzido pelos Estados Unidos, pode estar mais próxima do que nunca.
 
O governo norte-americano dividiu-se sobre a crise na Síria desde que ela começou. Algumas vozes, em especial no Pentágono e nas agências de inteligência, afirmaram que intervenções militares diretas seriam perigosas e não resultariam em nada. Outras, principalmente no Congresso e no Departamento de Estado, pediram ataques militares e até derrubada do regime de Damasco, antes mesmo qualquer alegação sobre armas químicas. A equipe de Obama também esteve dividida, com a aparente oposição do presidente a um ataque. Já os norte-americanos não estão divididos: 60% são contra intervenções na guerra civil Síria, mesmo que ela envolva uso de armas químicas.
 
Mas a situação está mudando rapidamente e o governo Obama parece estar movendo na direção de uma intervenção militar. Isto tornaria a trágica situação na Síria ainda pior.
 
O ataque que matou tantos civis, incluindo muitas crianças na quarta-feira passada pode ter sido provocado por uma arma química. Os Médicos Sem Fronteiras, que apoiam diretamente os hospitais locais, afirmaram que os sintomas indicam exposição de milhares de pacientes a um agente neurotóxico; mas que “não podem nem confirmar cientificamente a causa destes sintomas, nem estabelecer quem é responsável pelo ataque.” A equipe de inspeção de armas químicas das Nações Unidas, que já está na Síria para investigar denúncias anteriores, teve permissão, assegurada pelo governo de Damasco, para visitar o local dos novos incidentes; mas ainda não apresentou relato.
 
Ninguém sabe ainda o que de fato aconteceu, além de outro ataque horrível a civis, muitos dos quais morreram. Ninguém ainda tornou pública nenhuma evidência do que os matou ou de quem é o responsável. Todos os ataques aos civis são crimes de guerra – independentemente se feitos pelo exército sírio, por milícias ou mísseis norte-americanos.
 
Ainda assim, vão se multiplicando suposições e apelos tendentes a ataque norte-americano à Síria. A NBC News relata que os Estados Unidos têm “muito poucas dúvidas” de que o governo sírio tinha usado armas químicas. O The Wall Street Journal cita um “oficial do exército” anônimo, segundo o qual, se os ataques militares forem considerados, serão conduzidos a partir de embarcações no Mediterrâneo Oriental, usando mísseis de longo alcance, sem recorrer a aeronaves tripuladas. “Você não precisa de cobertura. Você não precisa de sobrevoo. Você não precisa preocupar-se em se defender.”
 
Apesar do pronunciamento do secretário de Estado John Kerry, referindo-se a um ataque químico “inegável”, ainda não sabemos ao certo se empregou-se arma química, e certamente também não sabemos quem atacou. Kerry falou esta tarde, chamando o ataque de uma “obscenidade moral.” Se tiver havido um ataque químico, como parece provável, a qualificação é correta. Porém, mais de 100 mil pessoas foram mortas, até agora, nesta guerra e milhões foram forçadas a saírem de suas casas. Isso tudo não são obscenidades morais?
 
“Mesmo se”…
 
Kerry parece acreditar que esta obscenidade moral requer ação militar como resposta. O senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham também o disseram mais cedo. Mas eles estão errados. É provável que um agente químico de algum tipo tenha levado ao sofrimento em massa e à morte de muitos, no subúrbio de Damasco. E talvez o regime sírio tenha sido o responsável por isto. As questões que precisam ser feitas, as questões “mesmo se”, teriam que começar por “nesse caso, o que faríamos?”
 
Alguém realmente acredita que um ataque militar a uma suposta fábrica de armas químicas ajudaria o povo sírio, salvaria vidas, ajudaria a encerrar esta terrível guerra civil? O melhor que poderíamos esperar é que um ataque por meio mísseis, disparados de uma embarcação, fosse bem sucedido, encontrasse precisamente seu alvo e explodisse um armazém repleto de agentes químicos provocando fumaça de resíduos mortais.
 
Ilegal “mesmo se”…
 
O governo dos Estados Unidos está criando uma falsa dicotomia – ou se lança ataque militar, ou nós os deixamos escapar. Não se cogita algum outro tipo de responsabilização, nada como a Corte Penal Internacional. No mês passado, o grupo de advogados da Casa Branca notou que armar os rebeldes sírios poderia violar a lei internacional. Eles acham, então, que um ataque por mísseis estaria bem? Ouvimos o presidente Obama referir-se, alguns dias atrás, à lei internacional. Ele disse: “se os Estados Unidos intervierem e atacarem outro país sem um mandato das Nações Unidas e sem apresentação de evidências claras, haverá questionamentos sobre se a lei internacional aprova ou não o ato… e estas são considerações que devem ser feitas.”
 
Mas o que estamos ouvindo agora é que o modelo a considerar, num ataque dos Estados Unidos à Síria, seria o de Kosovo. Lembram-se dele, em 1999, no fim da Guerra da Bósnia? Naquele tempo, sabendo que era impossível conseguir um acordo do Conselho de Segurança para uma guerra aérea contra a Sérvia, em torno do disputado enclave de Kosovo, os Estados Unidos e seus aliados simplesmente anunciaram que conseguiriam uma permissão internacional em outro lugar. Este seria o alto comando da OTAN. Que surpresa…: os generais da OTAN concordaram com seus respectivos presidentes e primeiros-ministros, e disseram: “claro, pensamos que é uma ótima ideia”. O problema é que a Carta das Nações Unidas é bastante clara sobre o que constitui uso da força militar – e uma permissão da OTAN não está incluída nesta pequena lista. Se o Conselho de Segurança não aprova, e não há motivos para imediata auto-defesa (algo que os EUA não estão alegando em relação à Síria), qualquer uso ou ameaça de uso da força militar é ilegal. Ponto. Fim. Alegar que a OTAN, ou quem quer que seja, aprova uma ação, não faz parte das leis internacionais. A guerra aérea era ilegal em Kosovo, e seria ilegal na Síria.
 
Cui Bono… (A quem beneficia?)
 
Mas vamos voltar um minuto. Vamos lembrar que nós não temos certeza de que foi uma arma química. Nós não temos certeza de que foi mesmo uma arma. Principalmente, vamos lembrar de que nós não temos nenhuma evidência sobre quem fez uso de tal arma. Então o que perguntamos? Talvez possamos começar com a boa e velha pergunta, cui bono? A quem beneficia a ação?
 
É fácil dizer quem perde – o povo sírio, principalmente as vítimas e suas famílias. Comunidades inteiras estão sendo dizimadas. (Não devemos esquecer que os norte-americanos também pagarão um preço – uma nova guerra vai resultar em mais gastos militares. Isso vai criar pressão no Congresso para cortar ainda mais gastos, cortando programas sociais vitais e muito mais.)
 
Mas a quem beneficia é um pouco mais complicado.
 
Certamente, não é impossível que o regime sírio, conhecido por ter tido um arsenal de armas químicas, tenha-as utilizado tal arma. Se o fez, por quê? Apesar de permanecer sob a pressão das sanções e de enfrentar crescente isolamento internacional, Damasco tem alcançado algum sucesso no campo de batalha. É certamente possível que um oficial intermediário da Síria, preocupado com derrotas passadas e desesperado com risco de ser acusado por elas, tenha optado por usar tais arma para obter alguma vitória macabra no campo de batalha, apesar de agravar as ameaças de uma intervenção militar direta. Mas é bastante improvável que a liderança do regime tenha feito tal escolha. Não pelo fato de que “eles não matariam o próprio povo”: eles têm feito isso. Mas porque o risco de perda era muito maior que que qualquer chance de ganho. Não é impossível. Mas, por mais brutal que seja este regime, ele não é louco.
 
Mas há ainda o outro lado, uma oposição heterogênea cujos combatentes mais fortes proclamam fidelidade à Al Qaeda e a organizações extremistas semelhantes. Aqueles que se beneficiam desse ataque são os que anseiam por maior intervenção militar ocidental e dos EUA contra o regime de Assad, em Damasco. Além disso, Al Qaeda e suas ramificações sempre quiseram colocar o exército norte-americano – tropas, aviões de guerra, navios, bases, seja o que for – em seu território. É tão mais fácil atacá-los de lá… Politicamente, mantém-se o que os agentes de contra-espionagem dos EUA nomearam, há muito tempo, como “ferramenta de recrutamento” da Al Qaeda. Eles amam a guerra do Iraque por esse motivo. E amariam ainda mais a guerra da Síria, se os alvos norte-americanos fossem levados para lá. Todo o debate sobre linhas-vermelhas, a pressão interna e internacional para “fazer alguma coisa,” as ameaças aos inspetores das Nações Unidas em solo… Quem, na Síria, estaria torcendo por isso?
 
(E quanto à capacidade da oposição e a seu ânimo em usar tais armas… nós também deveríamos lembrar que a oposição inclui alguns desertores. Quem sabe quais habilidades e acesso a armas eles levaram consigo? E nós realmente duvidamos que os extremistas da Al Qaeda, muitos dos quais não são nem mesmo sírios, hesitariam em matar civis em um subúrbio de Damasco?)
 
Inspetores das Nações Unidas estão de fora?
 
O sinal mais perigoso das intenções dos Estados Unidos é, provavelmente o apelo ao que os inspetores de armas das Nações Unidas deixem a Síria. Em favor do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, deve-se lembrar que rejeitou o pedido do governo Obama, e manteve a equipe de inspetores no local, para que fizesse seus trabalho.
 
Mas às vésperas da guerra no Iraque, 48 horas antes de as aeronaves dos Estados Unidos lançarem seu ataque a Bagdad, George W. Bush pediu ainda mais diretamente o afastamento de inspetores de armas e das equipes humanitárias das Nações Unidas. Em seguida, o secretário-geral Kofi Annan recuou, porque temeu, compreensivelmente, pela vida de seu pessoal. Mas e se aqueles funcionários das Nações Unidas tivessem tido a opção de ficar? Será que o risco de matar dezenas de funcionários internacionais da ONU teria feito os Estados Unidos pararem apenas por um momento, antes de iniciarem os ataques? Talvez tais funcionários tivessem mudado a história. Desta vez, como da outra, a diplomacia, ao invés da ação militar, é a única maneira de permitir que os inspetores das Nações Unidas continuem o trabalho de buscar a verdade.
 
Vamos ser claros. Qualquer ataque militar norte-americano, mísseis ou qualquer outra coisa, não vai proteger os civis. Significará, mais uma vez, assumir um lado, em uma complicada e sangrenta guerra civil. E a Al Qaeda ficará muito grata.
 
Desta vez, talvez o governo Obama não esteja prestes a lançar mísseis contra a Síria. Talvez ainda haja tempo para evitá-los. Agora, aqueles que estão arriscando suas vidas em solo para ajudar o povo sírio são os inspetores das Nações Unidas. Se os Estados Unidos estão realmente preocupado com a segurança deles, e reconhecem a legitimidade dos inspetores da ONU, o governo Obama deve imediatamente engajar-se com a liderança de Ban Ki-Moon e com os governos sírio, russo e outros relevantes, para garantir a segurança deles enquanto continuam seus esforços cruciais. Mísseis vindos do oceano tornarão isso impossível. O que é necessário agora é diplomacia dura e não ataques politicamente motivados, que tornarão esta guerra horrível ainda pior.
 
Foto: Crianças sírias cruzam, num carro, fronteira para Líbano. Possível ataque dos EUA só tornará ainda pior uma guerra que já matou 100 mil e desalojou milhões
 

Dick Cheney ganhou contratos de 39,5 bilhões de dólares com guerra do Iraque

 


Os EUA tinham no país, em muitas ocasiões, mais empresas contratadas privadas que militares
 
Marco Antonio Moreno, original em El Blog Salmón. Tradução de Carlos Santos do Esquerda.netem Revista Fórum
 
Dez anos depois da guerra do Iraque, uma recente análise dos custos financeiros lança luz sobre as empresas que fizeram mais dinheiro com o lucrativo negócio da guerra na prestação de serviços no Iraque, desde as operações militares à construção de infraestruturas e à alimentação das tropas. Estas empresas (todas privadas, até os soldados) receberam 138 bilhões de dólares e houve dez empresas contratadas que ficaram com 52% dos fundos, segundo este relatório do Financial Times. Muitas das ofertas foram outorgadas sem nenhuma licitação aberta às empresas, que competem ferozmente, diretamente às amizades do governo de Bush. De acordo com a Bloomberg, vários escândalos são hoje investigados como a renovação de um contrato no ano de 2010 por 568 milhões de dólares para proporcionar alojamento, alimentação, água e banho às tropas no Iraque.
 
A análise do Financial Times demonstra que duas empresas ganharam com o conflito bélico contratos de pelo menos 72 bilhões de dólares, e a que mais ganhos obteve foi a Kellogg Brown & Root, a filial da Halliburton dirigida pelo então vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, com 39.500 milhões de dólares, pondo em relevo o “capitalismo de amigos” em que se corrompeu a economia atual. A nota de Anna Fifield salienta vários dados relevantes como este: “No Iraque, os Estados Unidos contrataram mais empresas privadas do que em qualquer conflito anterior e em muitas ocasiões tinham no terreno mais empresas contratadas privadas que militares”. O insólito é que todas essas despesas foram feitas sob encargo do Estado, isto é, dos contribuintes, mas os lucros foram para as grandes empresas privadas. Significativamente, a dívida pública dos Estados Unidos passou de 6 para 16 bilhões de dólares nestes dez anos, enquanto as empresas que participaram na guerra enriqueceram.
 
É evidente que todas as empresas justificam e defendem a sua participação “com honra e sacrifício, nesse ambiente hostil, complexo, ambíguo e imprevisível da guerra”, como assinala Marianne Gooch, porta-voz da Kellogg Brown & Root, a empresa que preparou e serviu mais de mil milhões de refeições, mobilizou mais de 25 bilhões de galões de água potável e 265 toneladas de gelo. Quando no ano de 2011 o governo dos Estados Unidos começou a fazer os cortes orçamentais, considerou excessivos e injustificados os pagamentos à KBR , mais ainda quando se tornou o único fornecedor nesse setor cheio de concorrentes. A KBR tinha, além disso, contratos para obras de engenharia e serviços de construção. A imposição da austeridade depois da crise financeira desencadeada em 2008 obrigou a rever com mais detalhe os contratos e por isso para muitas empresas a guerra terminou em dezembro de 2011, com a retirada da tropas. No entanto, ainda ficaram no Iraque mais de 14 mil empresas contratadas e 5,5 mil guardas de segurança.
 
Se a guerra do Iraque foi produto de uma mentira assustadora (as armas biológicas de destruição em massa de Saddam Hussein), é lógico que tudo nessa guerra seja uma mentira e que tudo esteja mergulhado na corrupção. Isso é o que investiga a Comissão bipartidária do Congresso dos Estados Unidos, que aponta o Departamento de Defesa dos tempos de Bush como o principal motor da corrupção: contratos à porta fechada e por somas estratosféricas e custos nunca estimados como o das vidas humanas, que dispararam o custo da guerra para os 3 bilhões de dólares como assinalou Joseph Stiglitz em 2008, ainda que hoje assinala que os custos da guerra de Iraque apenas começam. Isto obriga a recordar a frase de Bush de que “a guerra seria breve”, e a do seu ministro de Defesa, Paul Wolfowitz quando em março de 2003 assinalou ao Congresso dos Estados Unidos que “se trata de um país que poderá financiar rapidamente a sua reconstrução”. Dez anos depois dessas afirmações, todo o mundo concorda que essa visão foi totalmente errada.
 
Outro dos fatos relevantes da guerra do Iraque foi a participação da banca. A guerra do Iraque foi financiada completamente com crédito privado e foi tal o movimento de fluxos da banca europeia e norte-americana para as empresas que participavam na guerra, que os bancos (europeus e norte-americanos) deixaram de cumprir os seus compromissos com países africanos, asiáticos e outros países europeus. A banca optou por facilitar recursos financeiros às empresas da primeira economia mundial dado que tinham menor risco e maior rentabilidade. Apesar dos Estados Unidos não terem necessidade de pedir dinheiro emprestado dado que o podem imprimir diretamente e em quantidades avultadas, como tem deixado bem claro a Reserva Federal com os resgates à banca, o excesso de confiança levou a um retorcido mecanismo de financiamento que fez disparar a dívida pública de forma exponencial.
 
Se a guerra do Iraque foi um escândalo em termos de corrupção política, também o foi em termos financeiros dado que favoreceu de forma abusiva as empresas que apoiavam e financiavam o governo de Bush. É também uma das provas mais claras da ineficiência global dado que desde a privatização do petróleo iraquiano nos finais de 2003 o petróleo despediu-se para sempre dos 20 dólares o barril, quintuplicando e sextuplicando o seu preço numa década. É eficácia só para os quatro grandes bancos dos Estados Unidos, que com um petróleo a maior valor conseguem impulsionar a procura de dólares que é a divisa em que é transacionado o ouro negro em quase todo mundo. Isto consegue evitar transitoriamente o colapso dos Estados Unidos com a sua dívida de 16,8 bilhões de dólares.
 
O petróleo estatal iraquiano era o mais barato do mundo dado que o seu custo de produção chegava aos 60 cêntimos o barril em 2003. Desde a sua privatização em mãos estrangeiras o petróleo iraquiano encareceu para pagar a incursão bélica em Bagdá dos empresários amigos de Dick Cheney, o então vice-presidente dos Estados Unidos. Os invasores não tiveram qualquer pudor em destruir o patrimônio histórico e cultural de um dos berços da nossa civilização. Este fato,é também a prova mais clara de que a economia atual não é mais que um “capitalismo de amigos” onde impera a corrupção, os ganhos secretos, a evasão e o crime organizado. E enquanto esta situação perdurar no tempo, as crises locais e globais serão cada dia mais devastadoras.
 
Artigo de Marco Antonio Moreno, publicado em El Blog Salmón. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net
 
Foto: Os interesses da guerra (Imagem retirada do blogue El Salmón)
 

“FAZER É A MELHOR MANEIRA DE DIZER!”

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – Esse é um dos muitos conceitos lapidares de José Marti, bem conhecidos de todos aqueles que vêm na Revolução Cubana, na sua dignidade, na sua solidariedade, no seu internacionalismo, um exemplo de paz, um desafio de amor e sobretudo um caminho projectado para o futuro!

À medida que a América Latina vai interpretando de forma substantiva a sua própria história, resgatando-a do império e de seus sequazes disseminados pelo continente, o que tem vindo a fazer Cuba e o seu povo não marca apenas a diferença: constitui um verdadeiro contraste com as tensões, os conflitos e as guerras que o império semeia pelos quatro cantos do mundo, como se tragicamente não houvesse outra alternativa para a humanidade!

Há duas condutas exponenciais no que a Revolução Cubana tem realizado ao longo dos poucos mais de 50 anos de sua identidade à frente dos destinos da maior das Antilhas, que tem sido experimentado também por outros povos condenados ao subdesenvolvimento: educação e saúde!

Essas duas condutas cultivadas pelos revolucionários desde mesmo antes do derrube de Fulgêncio Baptista, quando ainda se encontravam na Sierra Maestra, tornaram-se década após década em autênticas mensagens inspiradoras, em relação às quais não há poder algum, por mais poderosos que sejam os meios mediáticos, capaz de subverter ou manipular no que diz respeito ao seu sentido profundamente humano e anti imperialista, manifestamente no que essas mensagens calam contra os riscos de toda a ordem: terramotos, furacões, tensões, conflitos, guerras… precisamente em socorro dos oprimidos e dos mais marginalizados e desprotegidos…

2 – No Brasil, como em muitas outras partes mais sofridas do Mundo, a geografia da pobreza tem sido ditada também por um sistema de saúde que tem demonstrado não chegar a uma grande parte do território nacional, em redundância dum poder político que tem sido incapaz, até agora, de encontrar melhores soluções.

Se fosse possível espelhar isso num mapa, a área do Brasil onde não há cobertura médica minimamente aceitável, é muito maior do que aquela onde existe densidade de serviços, quase limitada aos grandes urbanismos das cosmopolitas metrópoles brasileiras.

Aquelas instituições de saúde e aqueles médicos brasileiros que se têm manifestado contra o recurso a médicos de outras nacionalidades para preencher o vazio que essas mesmas instituições e esses mesmos médicos jamais enfrentaram, contribuíram para tornar o Brasil num espaço de enormes desequilíbrios e contradições e pretendem continuar nessa saga, que serve aos grandes interesses, incluindo os filiados no império e às oligarquias suas agenciadas.

O governo de Dilma ao ser posto à prova, socorreu-se duma política que teve a sensibilidade de ouvir e melhor interpretar uma das questões mais candentes que têm sido evocadas nas múltiplas manifestações populares que aconteceram nos últimos meses e teve o condão de colocar o dedo numa das chagas que finalmente está agora à vista de todos e é mais entendida que nunca!

Por aquilo que têm feito e por aquilo que muitos desses médicos acabaram por dizer, ou manifestar, contra o recurso a colegas que estão disponíveis em chegar onde nunca algum médico brasileiro esteve, torna tudo muito mais evidente: o sistema de formação dos quadros da saúde do imenso país está em causa, estando em causa a deontologia que se tem praticado, sintomática do capitalismo que de forma continuada tem gerado tantos impactos nefastos no Brasil, como de resto em muitas outras paragens do Mundo!

Há mais de 200 anos que o Brasil é “independente”, mas uma das questões essenciais como a saúde, a saúde que constitucionalmente deveria ser em benefício de todos os brasileiros, tarda em chegar a imensas áreas do país por que esses geógrafos-mercenários feitos médicos, nunca tiveram a honestidade de fazer!

O povo brasileiro habita em áreas muito para além das que podem garantir lucro imediato, das que podem garantir conforto quanto baste, ou das que podem garantir mordomias, “renome” e “prestígio”...

A vida espraia-se muito para além da limitada geografia urbana de que se servem esses médicos e as suas instituições, pelo que há uma aprendizagem básica que eles vão ter de se sujeitar: aprendam a ser efectivamente brasileiros, amantes de seu povo, capazes de estratégias amplas, integradoras, efectivas e reconheçam o estado de subdesenvolvimento em que se encontra ainda o Brasil, que tão severamente se esbate no seu sistema de saúde e no seu próprio comportamento!

Sejam capazes de garantir a vocação para realizar os imensos resgates que necessário se torna alcançar, por que só assim se promove paz e progresso (os lemas inscritos na sua própria bandeira)!

3 – A vocação da Revolução Cubana nas condutas de saúde e educação e das mensagens que cada vez mais inspiram outros povos e sensibilidades, foram no último mês de Agosto, precisamente quando no Brasil tantas questões polémicas foram levantadas, contrastantes com os riscos da eclosão duma nova guerra de grandes proporções com epicentro na Síria e no Irão.

A Revolução Cubana leva opções de paz, de equilíbrio e de socialismo precisamente àqueles “rincões obscuros” a que sarcasticamente um dia o Presidente George Bush se referiu, mas o que leva o império a esses mesmos lugares?!

Alguma vez as instituições e os médicos brasileiros se levantaram para fazer frente às calamidades naturais que vêm ocorrendo no seu próprio continente, ou se manifestaram (pelo menos ao nível do que fizeram agora contra a chegada dos colegas cubanos), contra as tensões, os conflitos e as guerras que têm eclodido década após década, desde que o império emergiu?

É justo colocar essa questão, pois no momento em que a situação evolui para mais uma guerra de dimensões imprevisíveis, uma guerra que pode alcançar proporções nucleares, os médicos brasileiros, redutores na brasilidade de sua geografia, demonstram ser incapazes dum simples gesto de condenação em relação ao abismo em que se encontra o Mundo!

4 – Tudo isso vem a propósito do tema “Fazer é a melhor forma de dizer”: veja-se o que diz e o que faz o Presidente Barack Hussein Obama, precisamente na altura em que nos Estados Unidos é lembrado o discurso de Martin Luther King!!!

Alguns apontamentos: Fazer é a melhor maneira de dizer – http://recursos.wook.pt/recurso?&id=7270598; http://www.horadopovo.com.br/2006/fevereiro/22-02-06/pag8a.htm

Foto: Médico cubano junto a pacientes que foram recuperados da cólera; é outra a cólera de alguns médicos brasileiros e a sua recuperação será mais lenta que a dos pacientes haitianos!


A consultar:
- As muitas lições do Haiti –
http://paginaglobal.blogspot.com/2011/05/as-muitas-licoes-do-haiti.html
- Salvar a humanidade já –
http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/salvar-humanidade-ja.html
- Rapidinhas do Martinho – 49 – Resgatar África –
http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/rapidinhas-do-martinho-49.html
- … E por isso chegou Fidel –
http://paginaglobal.blogspot.com/2012/08/e-por-isso-chegou-fidel.html
- Che, 45 anos depois –
http://paginaglobal.blogspot.com/p/blog-page.html
- Imprescindíveis –
http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/imprescindiveis.html
- A liberdade em substância –
http://paginaglobal.blogspot.pt/search/label/MARTINHO%20J%C3%9ANIOR
- Dilma condena o imenso preconceito contra os cubanos –
http://www.horadopovo.com.br/
 

Robert Fisk: O VERDADEIRO ALVO DO OCIDENTE É O IRÃ, E NÃO A SÍRIA

 


O Irã está profundamente envolvido na proteção ao governo sírio. Além disso, uma vitória de Bashar representa uma vitória do Irã. E vitórias do Irã não podem ser toleradas pelo Ocidente. O artigo é de Robert Fisk, do Independent
 
Robert Fisk – Carta Maior
 
Antes que comece a guerra ocidental mais idiota na história do mundo moderno – eu me refiro, é claro, ao ataque à Síria que todos nós vamos ter que engolir – podemos dizer que os mísseis que esperamos ver cruzando os céus de uma das cidades mais antigas das humanidade não têm nada a ver com a Síria.

Eles têm como objetivo atacar o Irã. Eles pretendem atacar a república islâmica agora que ela tem um presidente novo e vibrante – diferente do bizarro Mahmoud Ahmadinejad – e bem quando ele pode estar um pouco mais estável.

O Irã é inimigo de Israel. Então o Irã é, naturalmente, inimigo dos EUA. Então dispare os mísseis no único aliado árabe do Irã.

Não há nada de agradável no regime de Damasco. Nem esses comentários livram a cara do regime quando se trata de uso de armas químicas em massa. Mas eu tenho idade suficiente para me lembrar de que quando o Iraque – então aliado dos EUA – usou armas químicas contra os curdos em Hallabjah em 1988, nós não invadimos Bagdá. De fato, esse ataque esperou até 2003, quando Saddam não tinha mais armas químicas ou qualquer outra arma com as quais tínhamos pesadelos.

E eu também me lembro de que, em 1988, a CIA disse que o Irã foi o responsável pelo uso de armas químicas em Hallabjah, uma mentira deslavada, que mirava no nosso inimigo, contra quem Saddam estava lutando em nosso nome. E milhares – não centenas – morreram em Hallabjah. Mas aí está. Jeitos diferentes, padrões diferentes.

E eu acho que vale a pena notar que quando Israel matou 17 mil homens, mulheres e crianças no Líbano em 1982, numa invasão supostamente provocada pela tentativa de homicídio pela OLP do embaixador israelense em Londres – foi o amigo de Saddam, Abu Nidal, quem organizou o atentado, não a OLP, mas isso não importa agora – os EUA pediram aos dois lados que tentassem “se conter”. E quando, poucos meses antes dessa invasão, Hafez Al-Assad – pai de Bashar – mandou seu irmão para Hama para exterminar milhares de rebeldes da Irmandade Muçulmana, ninguém soltou um murmúrio que fosse condenatório. “Regras de Hama” foi como meu velho amigo Tom Friedman cinicamente classificou esse banho de sangue.

De qualquer forma, há uma Irmandade diferente por aí esses dias – e Obama nem se dignou a dar uma vaiadinha quando seu presidente eleito foi deposto.

Mas espere um pouco. O Iraque – quando era aliado “nosso” contra o Irã – também usou armas químicas contra o exército iraniano? Usou. Eu vi os resultados desse ataque horroroso feito por Saddam – oficiais dos EUA, devo dizer, fizeram um tour pelo campo de batalha depois, e se reportaram de volta para Washington – e nós não demos a mínima bola para isso. Milhares de soldados iranianos foram envenenados até a morte por essa arma terrível na guerra entre 1980 e 1988.

Eu viajei de volta para Teerã em um trem noturno com soldados feridos e cheguei a sentir o cheiro da coisa, abrindo as janelas dos corredores para diminuir o cheiro. Esses jovens tinham feridas dentro de feridas, literalmente. Eles tinham dores que surgiam dentro das dores, algo próximo do indescritível. Ainda assim, quando os soldados foram enviados para hospitais ocidentais para serem tratados, nós, jornalistas, chamamos esses feridos – depois de evidências das Nações Unidas muito mais convincentes do que as que podemos encontrar hoje em Damasco – de “supostas” vítimas de armas químicas.

Então o que diabos estamos fazendo? Depois de incontáveis milhares de mortes na terrível tragédia síria, de repente – agora, depois de meses e anos de prevaricação – estamos indignados com algumas centenas de mortes. Terrível. Inconcebível. Sim, é verdade. Mas nós deveríamos ter ficado traumatizados por essa guerra em 2011. E em 2012. Mas por que agora?

Suspeito que eu saiba o motivo. Suspeito que Bashar Al-Assad esteja ganhando a guerra contra os rebeldes que temos armado secretamente. Com a ajuda do Hezbollah libanês – aliado do Irã no Líbano – o regime de Damasco quebrou os rebeldes em Qusayr e podem estar no processo de quebra-los ao norte de Homs. O Irã está cada vez mais envolvido na proteção ao governo sírio. Portanto, uma vitória de Bashar é uma vitória do Irã. E vitórias iranianas não podem ser toleradas pelo Ocidente.

E enquanto estamos falando de guerra, o que aconteceu com aquelas ótimas negociações entre palestinos e israelenses de que John Kerry andava se gabando? Enquanto expressamos nossa tremenda angústia com o terrível uso de armar químicas na Síria, a terra palestina continua sendo destruída. A política do Likud de Israel – de negociar a paz até não haver mais Palestina – continua a toda, e é por isso que o pesadelo do Rei Abdullah, da Jordânia, (muito mais potente que as “armas de destruição em massa” que imaginávamos em 2003) só aumenta: que a “Palestina” fique na Jordânia, não na Palestina.

*Robert Fisk é correspondente no Oriente Médio do ‘The Independent’. É autor de vários livros sobre a região.
 

BRASIL VAI CRIAR “E-MAIL” CONTRA A ESPIONAGEM

 


03 de Setembro de 2013, 00:20
 
Após as notícias sobre a espionagem dos EUA à Presidente Dilma, o Governo brasileiro anuncia a criação de um correio eletrónico mais seguro e concorrente do gmail e hotmail.
 
O Governo brasileiro reuniu-se de emergência, depois de ter sido revelado que a Presidente foi alvo direto da espionagem norte-americana, e já encomendou a criação de um sistema nacional de e-mail.
 
Em causa está a reportagem do programa 'Fantástico' do canal de televisão "Globo", que revelou no domingo que as comunicações de Dilma Rousseff e dos seus assessores foram intercetadas pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA).
 
A Presidente reuniu-se de imediato com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, que considerou a situação de "inaceitável" e pediu explicações ao embaixador norte-americano no Brasil, Thomas Shannon.
 
Segundo o jornal "Folha de São Paulo", o governo já encomendou aos Correios a criação de um sistema nacional de e-mail, que garanta segurança e privacidade, para rivalizar com o hotmail da Microsoft e o gmail do Google.
 
E-mail com mecanismo de criptografia
 
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, sublinhou que é vital desenvolver um serviço de e-mail mais seguro, que contará um mecanismo de criptografia para garantir que a correpondência não é violada.
 
"Os Correios têm uma bandeira de credibilidade grande. Entregam cartas no Brasil há 350 anos e ninguém acha que eles ficam bisbilhotando", afirmou Paulo Bernardo, citado pelo jornal.
 
O Executivo brasileiro quer também alterar a lei, de forma a que o crime da leitura de e-mails seja equiparado à violação de cartas.
 
Os ministros da Justiça, José Eduardo Cardoso, e das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, dão hoje, em Brasília, uma conferência de imprensa para falar sobre o caso da espionagem norte-americana.
 
Sapo TL e Expresso
 

Dilma escala Cardozo para coordenar resposta à espionagem dos EUA

 


O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) tem conduzido o caso por ser considerado um dos ministros de maior confiança no "personograma" de Dilma. Dois outros órgãos chamam a atenção pela ausência. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general José Elito Carvalho Siqueira, e o Ministério da Defesa, por Celso Amorim.
 
Carta Maior
 
Brasília - Na tarde desta segunda-feira (2), a presidenta Dilma Rousseff se reúne com o ministro José Eduardo Cardozo. O assunto central é a denúncia de que os Estados Unidos praticaram ações de espionagem contra a toda a Presidência da República, incluindo aí a própria presidenta, assessores e ministros. Cardozo é quem está incumbido de cuidar do assunto. Ele já vinha desempenhando a tarefa e continua à frente dos trabalhos.

Na semana passada, o ministro coordenou a comitiva que viajou aos Estados Unidos para, entre outras reuniões, reunir-se com o vice-presidente daquele país, Joe Biden, e também com Lisa Mônaco, assessora para Assuntos de Contraterrorismo, e Eric Holder, chefe de Departamento de Justiça.

A comitiva dá uma mostra dos demais ministérios que estão envolvidos no assunto, sob a coordenação de Cardozo. Entre eles estão o Ministério das Comunicações, o da Ciência e Tecnologia e o das Relações Exteriores.

Cardozo tem conduzido o caso por ser considerado um dos ministros de maior confiança no "personograma" de Dilma. Dois outros órgãos chamam a atenção pela ausência. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado pelo general José Elito Carvalho Siqueira, e o Ministério da Defesa, comandado por Celso Amorim. O GSI tem tido uma participação secundária. É considerado um responsável direto por não ter providenciado a devida proteção ou alerta sobre o assunto, além de ter sido pego de surpresa nas manifestações ocorridas em junho.

O Ministério da Defesa, cujo ministro Celso Amorim conta com a confiança de Dilma, tem sido poupado de uma atuação mais direta para não melindrar o Itamaraty, mas tem sido consultado permanentemente a respeito do tema.

A atuação do ministro Cardozo até o momento vinha sendo considerada discreta e cautelosa, até semana passada. Resta ver se, depois da denúncia ainda mais grave, feita pelo jornalista Glenn Greenwald, passam a ser um pouco mais incisivas e firmes. O freio de arrumação pode ser dado justamente hoje à tarde.
 

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