quinta-feira, 23 de junho de 2011

Nuclear: AVISO ALEMÃO





Em 2009 fui a Chernobyl. Trinta anos depois do acidente, ainda não foi fácil conseguir autorização para visitar o lugar e as ruínas do reator nuclear. Consegui permissão para ir até o local por, no máximo, seis horas de permanência.

A paisagem que tive a oportunidade de ver foi assustadora, desoladora, uma devastação nuclear sem explosão. Silenciosa, sem fumaça.

Pude visitar prédios, escolas, restaurantes, centros de diversão, tudo abandonado, fantasmagórico, apesar da beleza do branco da neve ao redor. Uma roda gigante de um parque de diversão infantil mantinha-se intacta à espera da inauguração que seria no dia seguinte ao da tragédia. As casas estão invadidas pelas árvores que crescem dentro delas. Em breve, tudo será uma floresta, apenas o mausoléu do reator se manterá rodeado pelos prédios mais altos.

Tudo indica que o horror começou por um erro dos dirigentes da usina, que permitiu a um engenheiro testar até que ponto seria possível o reator funcionar em segurança. Ele perdeu o controle e o reator explodiu, emitindo as terríveis radiações. Durante algumas horas o governo soviético, apesar da “glasnost”, preferiu manter a informação em segredo, até que, na Finlândia, analistas perceberam o forte aumento de radiação naquela região e revelaram o assunto ao mundo.

A partir da divulgação, o governo soviético decidiu esvaziar as duas cidades: a velha e modesta, quase medieval, Chernobyl, com suas casinhas de madeira; e a nova, ostentosa e moderna, um retrato menor de Brasília, sede oficial dos serviços e das residências de servidores da usina.

Dezenas de milhares de pessoas já contaminadas foram obrigadas a sair da cidade em poucos minutos, levando somente a roupa do corpo, que logo depois foi retirada e jogada em meio ao lixo classificado como contaminado.

Ao sair, depois de quase seis horas caminhando e conversando com os fiscais da área afetada, olhando para os medidores de radioatividade espalhados pela cidade, precisei passar por um detector de radiação que media todo o corpo para saber se voltaria para o hotel ou seria levado para o isolamento de algum hospital do país.

A visita mostra um quadro assustador. Pior é a percepção que vem ao conversar com pessoas que moravam a 200 quilômetros e até hoje carregam os efeitos na saúde dos familiares. Ainda mais ao ler sobre os milhares de mortos ao longo desses 30 anos; as pessoas que carregam doenças por toda a vida; e outras que transmitirão doenças aos filhos que ainda não nasceram.

Aquela visita me fez mudar a posição de ver a alternativa nuclear como energia limpa. Fukushima consolidou meu antagonismo ao uso de reatores nucleares como forma de gerar energia. Pelo menos enquanto não evoluírem a engenharia civil, para garantir resistência absoluta nas edificações, e a engenharia nuclear, para garantir o armazenamento seguro dos resíduos. Não se trata de dizer “nuclear jamais”, mas definir uma moratória de 20 anos à espera de uma evolução na engenharia.

Neste momento, construir usinas nucleares é uma temeridade que beira o crime. Até mesmo manter as atuais é viver sob risco de tragédia em algum momento. Em vez de novas centrais nucleares, o Brasil precisa reduzir seu consumo de energia e investir em novas fontes, renováveis e menos perigosas.

A decisão do governo alemão na semana passada (final de maio de 2011), definindo prazo para desativar todas as suas usinas nucleares, é um alerta que o Brasil não tem o direito de ignorar. Suas usinas estão em locais mais protegidos que as nossas; seus sistemas de defesa civil são mais bem organizados; sua dependência de energia nuclear é de 23% do total da demanda de energia, enquanto a nossa é de apenas 3%. E a Alemanha não tem as alternativas de fontes energéticas que temos. Se a Alemanha está assustada, será um crime fecharmos os olhos. Sobretudo ao lembrar que importamos a velha tecnologia que os alemães desenvolveram e agora já não serve para eles.

*Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e Senador pelo PDT/DF. http://www.cristovam.org.br

Ler também:

LIBERDADE DE WEIWEI FORTALECE APELOS CONTRA REGIME CHINÊS


Weiwei fala com jornalistas diante de sua casa

DEUTSCHE WELLE

A libertação do artista chinês e crítico do regime de Pequim Ai Weiwei causou alívio internacional. À Deutsche Welle, ele disse estar em casa e bem de saúde. Em liberdade condicional, afirmou não poder dar entrevistas.

As autoridades chinesas libertaram o artista e crítico do regime chinês Ai Weiwei nesta quarta-feira (22/06), após o pagamento de uma caução. Ao "admitir sua infração", ele teria mostrado uma "atitude positiva", noticiou a agência oficial de notícias da China Xinhua. Outro motivo alegado para a libertação teria sido uma doença crônica de que Weiwei sofreria. Segundo a polícia, ele teria se prontificado a pagar os impostos sonegados.

"Sinto-me bem normal"

"Está tudo OK, me sinto bem", disse Ai Weiwei à Deutsche Welle. "Estou sob liberdade condicional por pelo menos um ano, por isso não posso conceder entrevistas agora. Sinto-me bem normal. Eu me sinto da mesma forma como antes de tudo isso acontecer", disse o artista, proibido de sair de Pequim.

O governo alemão se manifestou satisfeito com a libertação de Weiwei. Segundo o porta-voz do governo, Steffen Seibert, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse ser positivo "o fato de Ai Weiwei ter sido libertado". Merkel teria se engajado junto às lideranças chinesas pela liberdade ao artista, pelo acesso à sua família e o apoio de um advogado.

Também os líderes da bancada do Partido Verde no Parlamento alemão, Renate Künast e Jürgen Trittin, saudaram a libertação. "Estamos aliviados que a liderança chinesa finalmente tenha soltado Ai Weiwei desta detenção sem fundamento". Segundo eles, a medida foi uma reação aos protestos em todo o mundo.

Muitos dissidentes continuam presos

O presidente da Comissão de Direitos Humanos no Parlamento alemão, Tom Koenigs, se disse aliviado. "O fato de não se ter sabido onde ele estava era especialmente assustador", observou Koenigs, que questiona confissões feitas sob tais condições. O deputado alemão espera que este seja o começo de uma distensão, "pelo menos no tocante a detenções ilegais na China".

O estudioso em assuntos sobre a China Tilmann Spengler se disse contente pela libertação de Weiwei, "sejam quais tenham sido as condições para isso". Ele ressalta, no entanto, que Weiwei "foi apenas uma das tantas vítimas desta política", referindo-se ao fato de muitos outros chineses serem oprimidos pelo regime chinês.

Spengler era membro da comitiva do ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, que viajou a Pequim para abertura da exposição Arte do Iluminismo, a maior mostra de arte alemã no exterior. A China, no entanto, não permitiu a entrada de Spengler no país.

Anistia Internacional exige libertação completa

Também Chine Chan, porta-voz da Anistia Internacional em Hongkong, salienta que ainda há muitos dissidentes presos, inclusive quatro funcionários de Weiwei. "Nós nos importamos muito com estas pessoas, por isso exortamos o governo chinês a libertá-las o mais rápido possível". Ela também apela para que Ai Weiwei seja completamente liberado e não fique, "de alguma maneira, preso em casa".

Ai Weiwei foi detido em 3 de abril deste ano no aeroporto de Pequim, ao tentar embarcar para Hong Kong. A polícia o acusa de evasão fiscal em larga escala e destruição de documentos de contabilidade de uma empresa controlada pelo artista.

Apoiadores de Weiwei acreditam, no entanto, que a prisão tenha sido parte de uma onda de prisões de dissidentes chineses, depois que ativistas haviam começado a convocar, pela internet, manifestações nos moldes dos protestos que aconteceram recentemente em países árabes.

Autor: Christoph Ricking (rw) - Revisão: Marcio Damasceno

Cabo Verde: CHINA VAI AUMENTAR AJUDA AO PAÍS – governo chinês




CLI - LUSA

Cidade da Praia, 23 jun (Lusa) -- O vice-ministro chinês do Comércio, Jiang Yao Ping, afirmou hoje que a China vai aumentar a sua ajuda a Cabo Verde, além de aprofundar a cooperação económica tendo como "plataforma" a região administrativa de Macau.

Jiang Yao Ping falou no início desta tarde aos jornalistas após um encontro com o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, enquadrado na visita de dois dias que efetua ao arquipélago, acompanhado pelo secretário para a Economia e Finanças do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, Tam Pak Yuen, e por uma delegação empresarial de Macau composta por 40 empresários.

Na audiência com o chefe do governo cabo-verdiano, Jiang Yao Ping afirmou ter trocado impressões sobre a cooperação económica, comercial, política, cultural e no setor da educação entre Pequim e Cidade da Praia.

"Todos nós apostamos muito na cooperação entre a China e Cabo Verde e dentro da nossa disponibilidade o governo da China vai aumentar as doações para o desenvolvimento económico e social de Cabo Verde e também vamos continuar a promover a cooperação de investimentos", disse o vice-ministro chinês.

Jiang Yao Ping avançou ainda que esta visita tem uma vertente de cooperação económica "forte", referindo-se à delegação de quarenta empresários de Macau que participam nesta viagem e que deverão promover uma bolsa de contactos com os operadores económicos locais.

"Desta vez chefiamos uma grande delegação empresarial e vamos trocar impressões com empresários locais para identificar novas oportunidades de cooperação para o benefício mútuo. Também apoiamos o investimento chinês em Cabo Verde", garantiu.

Para o governante chinês, o facto de em Macau se falar português e de "haver laços históricos e culturais muito estreitos" com Cabo Verde pode facilitar a plataforma de entendimento.

"Podemos aproveitar esta plataforma desempenhada por Macau para aprofundar a cooperação bilateral", sublinhou.

Durante a sua visita ao arquipélago, o vice-ministro do Comércio da China deverá assinar com Cabo Verde cinco acordos nas áreas de educação, energia solar, água e saúde.

A delegação chinesa parte nesta sexta-feira para a ilha do Sal onde terá oportunidade para fazer uma prospeção turística e visitar alguns empreendimentos turísticos.

Rebeldes são problema do Senegal, mas não vamos permitir perturbações à paz - CEMGFA




MB - LUSA

Bissau, 23 jun (Lusa) -- O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, general António Indjai, disse hoje que nenhum rebelde da Casamança pode ver o território guineense como lugar de refúgio para perturbar a paz no Senegal.

"A rebelião é (um problema) do Senegal. Não é da Guiné-Bissau, mas se os rebeldes vierem para cá arranjar refúgio para perturbar a paz no Senegal serão imediatamente devolvidos para lá", afirmou, em declarações a imprensa, o general Indjai no âmbito da visita do seu homologo senegalês à Bissau.

O general Abdoulaye Fal chegou hoje à Bissau para uma visita de trabalho de 24 horas durante a qual será recebido pelas autoridades civis e militares e ainda visitará algumas unidades do exército guineense.

Falando do seu primeiro encontro com o responsável militar do Senegal, o general António Indjai explicou que estão a passar em revista os aspetos gerais da cooperação e é nesse âmbito que abordaram a questão da rebelião da província senegalesa da Casamança que há mais de 20 anos luta pela independência do resto do Senegal.

"Não podemos ser um santuário da rebelião do Senegal, como também pensamos que o Senegal jamais aceitaria rebeldes que possam desestabilizar a Guiné-Bissau", frisou o chefe das Forças Armadas guineenses.

Segundo o general António Indjai, durante o encontro foram abordados a cooperação bilateral, a "circulação de armas ligeiros e da droga", bem como aspetos de controlo das águas territoriais, que "estão sem vigilância necessária devido a variados fatores".

"Para nós a cooperação com o Senegal é uma cooperação sã que poderá ter êxitos. De mãos dadas como o Senegal poderemos ter tranquilidade e combater o banditismo na nossa fronteira comum", enfatizou o chefe das Forças Armadas guineense.

Por sua vez o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas do Senegal, general Abdoulaye Fal, destacou o "espírito fraternal" que está a nortear a sua visita, lembrando que recentemente o seu homólogo guineense esteve, também em visita de trabalho, em Dacar.

O responsável militar senegaleses salientou que estão a discutir todos os aspetos da cooperação "sem qualquer tabu", referindo-se à problemática da rebelião da Casamança.
Sobre as perspetivas do futuro, o Senegal comprometeu-se em formar os jovens militares guineenses, nomeadamente no domínio da cozinha do exército e ainda a ajudar na recuperação do quartel da Marinha de Guerra em Bissau.

*Foto em Lusa

Guiné-Bissau: ONU VAI APOIAR CONSTRUÇÃO DE 12 ESQUADRAS MODELO NO PAÍS




MSE - LUSA

Bissau, 23 jun (Lusa) -- O Gabinete Integrado da ONU para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau UNIOGBIS) vai apoiar a construção de 12 esquadras-modelo no país no âmbito da reforma do setor de segurança, refere a missão em comunicado hoje divulgado.

As 12 esquadras serão construídas com o Fundo da ONU para a Consolidação da Paz e têm como objetivo criar no país uma rede de postos de polícia que respeitem os "elevados padrões internacionais", segundo o comunicado.

A primeira esquadra modelo da Guiné-Bissau está a ser construída no Bairro Militar, em Bissau, um dos mais populosos do país, e deve ser inaugurada no próximo mês.

Os polícias que vão ser destacados para aquelas esquadras estão já a receber ações de formação contínua relacionadas com serviço policial urbano, proteção de grupos vulneráveis, bem como investigação criminal e segurança rodoviária.

POLICIA OCUPA NOVA COMUNIDADE NO RIO DE JANEIRO EM BUSCA DE TRAFICANTES




GL - LUSA

São Paulo, 23 jun (Lusa) -- A Polícia Militar do Rio de Janeiro ocupou o Morro do Juramento, após receber a informação de que parte dos traficantes da Favela da Mangueira, ocupada pacificamente no último domingo, estaria no local.

A ocupação ocorreu após um confronto na noite passada e deverá continuar por tempo indeterminado, informa o jornal O Globo. O objetivo da polícia é evitar que traficantes se movimentem e usem o morro como base para invadir outras comunidades.

Na operação, um músico que voltava para casa na comunidade foi baleado no peito e precisou de ser operado.

Durante a madrugada de hoje, equipas do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) também fizeram uma operação no Morro do Engenho da Rainha.

Na invasão, foram mortos oito traficantes que, segundo a polícia, haviam fugido da Mangueira na operação da semana passada.

Foram apreendidos no Engenho da Rainha dois fuzis, cinco pistolas e duas granadas.

A invasão no Morro da Mangueira no último domingo foi feita por uma equipa de 750 policiais, além de fuzileiros da Marinha.

Mais de um milhão de pessoas vivem nessa área, que é berço de uma das mais antigas e famosas escolas de samba do Rio e fica nas proximidades do Maracanã, para onde está marcada a final do Mundial de 2014 e competições dos Jogos Olímpicos de 2016.

Com a invasão da Mangueira, fechou-se um "perímetro de segurança" em torno do estádio.

Crise na europa derruba empregos e Brasil se torna a nova Meca dos imigrantes




CORREIO DO BRASIL, com BBC - de Londres

Entre 2003 e 2007, a Espanha recebeu dezenas de milhares de imigrantes, mas a crise econômica que persiste no país está alterando o fluxo migratório. Sem emprego no presente e sem perspectivas para o futuro, os estrangeiros procuram saídas em outros lugares. E o Brasil virou meta para os latino-americanos de baixa formação. De acordo com quatro relatórios que investigam as respostas dos imigrantes diante da crise, o Brasil aparece entre os três destinos preferidos de sul-americanos hispânicos (junto com Estados Unidos e Argentina) como opção para conseguir emprego.

Uma pesquisa da agência de empregos Randstad revelou que 65% dos imigrantes ilegais na Espanha estão pensando ou decididos a trocar a Europa por outro mercado se não encontrarem trabalho até 2012. Os estudos antecipam um fluxo que já pode ter começado. Em 2010, pela primeira vez nos últimos 35 anos, a Espanha registrou uma taxa de saída de população ativa maior do que a de entrada.

No ano passado, 48 mil imigrantes chegaram e 43 mil estrangeiros retornaram aos seus países de origem, mas 90 mil espanhóis também foram morar no exterior. O ritmo de redução é tão vertiginoso que em cinco anos o fluxo de chegada pode ser praticamente nulo. Pelas previsões da Fundação de Estudos de Economia Aplicada, se a crise se mantiver como agora, em 2014 chegariam apenas 3 mil imigrantes.

Saídas

Josep Oliver, professor de economia da Universidade Autônoma de Barcelona e um dos autores do Anuário de Imigração da Espanha, do Ministério do Interior, disse que “80% dos imigrantes não têm outras saídas além do aeroporto rumo a mercados com melhores opções, como o Brasil, que oferece oportunidades sólidas”. A pesquisa Mobilidade Laboral, da Randstad, indica que a Espanha perdeu interesse para o trabalhador estrangeiro de baixa formação.

A razão é o perfil destes imigrantes, cujos currículos se limitam a ofícios relacionados a áreas que não se reativam, como serviços e construção. O setor de construção foi precisamente o que detonou a crise de desemprego. De 2008 a 2010 quebraram mais de 200 mil empresas do ramo, que davam trabalho a 70% dos imigrantes sul-americanos, segundo dados oficiais.

Os estrangeiros entrevistados na pesquisa responderam que querem sair da Espanha, mas temem crises políticas e econômicas na América Latina e só vêem bonança financeira no Brasil, onde criticam a falta de segurança pública. Mais ainda assim estão convencidos de que se não encontrarem emprego até 2012, o caminho é o aeroporto. Estados Unidos, Brasil ou Argentina, na ordem dos mais votados.

Alta formação

O Brasil também aparece como opção para espanhóis de alta formação.Um estudo elaborado pela consultora Adecco e pela Universidade de Navarra indica que os espanhóis com alto grau de formação e que também foram atingidos pela crise colocam o Brasil como um dos seis destinos preferidos para emigrar por emprego. O mercado brasileiro é visto como opção para 55% dos entrevistados, junto com Alemanha, França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Argentina.

O perfil médio dos interessados em cruzar o Atlântico é de homens, entre 25 e 35 anos, com formações em engenharia, arquitetura, informática, medicina, biologia e investigação científica.

– Que engenheiro ou arquiteto não quer ir para o Brasil, de olho nas obras de infraestrutura? Está tudo por fazer, e agora há também recursos, referências de empresas espanholas já estabelecidas e a abertura ao (idioma) espanhol. Essas pessoas entendem que insistir aqui é uma perda de tempo. O Brasil cresce a uma velocidade que nenhum país da Europa pode se comparar – disse o professor de Economia da Universidade de Navarra Sandalio Gómez, autor do relatório apresentado em janeiro.

Os dados do Instituto Nacional de Estatística confirmam a tendência. Até janeiro de 2011, havia 1,8 milhão de espanhóis morando em outros países; 92.260 no Brasil, um aumento de 10.071 pessoas em um ano no território brasileiro.

Problemas

Mas, apesar das oportunidades, o país perde para outros destinos em vários quesitos. Os entrevistados da pesquisa ressaltam insegurança, falta de serviços públicos de qualidade, instabilidade econômica e jurídica para quem quer criar um negócio próprio e a distância de seus lugares de origem como barreiras a levar em consideração. O governo espanhol reforça estas conclusões. A diretora-geral do Departamento de Emigração, (que estuda as condições dos espanhóis em outros países), Pilar Pin, define como impedimentos as carências nos sistemas de seguro-desemprego, rede púbica de saúde e educação e a legislação trabalhista.

Em um relatório oficial apresentado em maio depois de uma visita a Brasília, Pin afirmou que o Brasil tem “enorme potencial com seus iminentes eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, além de obras para abastecimento de energia, proteção ambiental e turismo”. Apesar disso, o relatório observa: “A legislação de implantação de empresas no Brasil é restritiva demais. Nossos trabalhadores vão com licença de obra. No final do contrato encontram muitas dificuldades para estabelecer-se por conta própria”.

Mesmo assim, segundo o relatório, as autoridades brasileiras calculam que faltam 1,9 milhão de profissionais de alta qualificação. Uma lacuna que os espanhóis poderiam ocupar.

Brasil: PARÁ REGISTROU 219 MORTES NO CAMPO NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS




CORREIO DO BRASIL, com ABr - de Brasília

Nos últimos dez anos, o Pará registrou 219 homicídios no campo, mas houve apenas quatro condenações em consequência desses crimes. Em 37 casos, não houve sequer instauração de inquérito para investigar as mortes. As informações são do procurador do Tribunal Regional Federal da 1º Região José Marques Teixeira, que participou de audiência pública sobre violência no campo na Comissão de Direitos Humanos e Participação Legislativa do Senado.

O procurador lembrou o caso do trabalhador rural Antônio Francisco dos Santos, morto em Anapu (PA) em 2002.

– A delegacia só foi implantada em outubro de 2006. Até então, os inquéritos eram feitos de forma precária pela Polícia Militar –, disse.

– A forma de apurar [os homicídios] só milita no sentido de que a impunidade seja sacramentada, ainda que pessoas acusadas de crimes sejam processadas –, acrescentou durante a audiência pública.

O secretário de Segurança Pública do Pará, Luiz Fernandes Rocha, foi convidado para participar da reunião, mas enviou como representante o diretor de Polícia do Interior, delegado Sílvio Cezar Batista.

O presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, Gercino da Silva Filho, que é o ouvidor agrário nacional, disse que entre as principais razões para a ocorrência de crimes no campo estão grilagem de terras públicas ou a ocupação ilegal dessas áreas e extração ilegal de madeira.

Como forma de tentar solucionar o problema, Gercino destacou os mutirões judiciais, feitos para acelerar os processos e os inquéritos sobre conflitos agrários. Os mutirões, segundo ele, já estão em andamento em Rondônia e Mato Grosso, “para agilizar o julgamento desses processos acabando com a sensação de impunidade que existe na zona rural”.

Outra medida tomada foi a criação de um manual com diretrizes nacionais para a execução de mandados judiciais. O manual disciplina a maneira de cumprimento dos mandados, dizendo como a Polícia Federal e a Polícia Militar, se requisitadas para dar apoio no cumprimento do mandado, devem proceder.

Brasil: Bispo do Xingu diz conviver com a ameaça de se tornar mais um "mártir da Amazônia"




DEUTSCHE WELLE

Erwin Kräutler é austríaco, mas atua no Brasil há muitos anos. O bispo premiado por sua atuação a favor da Amazônia disse à DW que lamenta a morte de "mártires da floresta" e que convive com ameaça de se tornar mais um.

Em sua terra natal, Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu, pode circular sem proteção policial pelas ruas. Pelo menos uma vez por ano, ele deixa Altamira, no Pará, para passar alguns dias na Áustria.

No Brasil, a escolta policial foi um meio adotado para proteger a vida do bispo, reconhecido internacionalmente pela sua atuação a favor da preservação da Amazônia, assim como da cultura local e dos povos indígenas.

Erwin Kräutler interrompeu o descanso para falar à Deutsche Welle sobre sua missão no Xingu, sua paixão pela Amazônia e sobre a luta contra a ambição que ameaça a floresta e que já tirou vida de muitos ativistas, os quais o bispo chama de "mártires da Amazônia". Kräutler mostra admiração por todos os "brasileiros natos" que se colocam em defesa do maior bem natural do país e lamenta a morte de amigos assassinados por denunciar crimes ambientais.

Deutsche Welle: Quão difícil é exercer a função de bispo na região amazônica?

Erwin Kräutler: Já trabalho há mais de 25 anos na região do rio Xingu e há 13 anos como bispo. Sempre estive ao lado da população, fui muito bem recebido e amo essas pessoas. Esse é um lado do trabalho: o meu amor pela população e o meu trabalho junto às comunidades.

Por outro lado, quando se tenta proteger a floresta tropical, quando se é contrário às queimadas e fortemente contrário a esse projeto gigante que é Belo Monte e, ainda, ao mesmo tempo, quando se mostra que direitos humanos estão sendo violados, então uma pessoa não encontra só amigos.

Mas tenho que dizer que o meu amor por esse povo nunca foi, nenhuma vez, abalado por todos esses problemas. O fato de eu ter tantos problemas fez com que meu amor só aumentasse. E isso também acontece do outro lado: os frequentadores da igreja se mostram solidários, estão ao meu lado, e também me amam.

Sobre os meus "inimigos", eles são opositores porque são movidos por essa ambição, esse desejo de enriquecimento rápido e, por isso, são capazes de passar por cima de cadáveres e, por isso, eles veem em mim alguém que possa atrapalhar esses planos.

O senhor conhece esses inimigos pessoalmente?

Sim, eu os conheço pessoalmente, mas eles se negam como tal. Eles não se admitiriam como tal, não diriam: "eu estou ameaçando você". Eu recebi cartas anônimas, até na internet há mensagens dizendo que eu não vou sobreviver a um dado dia. A Polícia Federal está investigando, mas não se pode prender um consórcio, uma máfia, mas sim pessoas.

Do lado da Justiça, há vários processos relacionados a essas ameaças. Por exemplo, contra este jornal que estampou umas três vezes que eu precisava sumir, que "esse bispo precisa ser eliminado". E esse caso foi levado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e não se repetiu.

O senhor coordenou pessoalmente protestos contra a hidrelétrica de Belo Monte e mostrou ao mundo os conflitos que envolvem esse projeto. Como o senhor se sente agora, depois que a usina ganhou a licença e deve ser construída em breve?

É verdade que coordenei protestos, mas é preciso dizer que sou apenas um dos que são contra esse projeto maluco e lutam há mais de 30 anos contra ele. Há muitas, muitas pessoas contrárias. Em Altamira, por exemplo, que vai sofrer bastante com o impacto da usina, eu estou completamente convencido de que a maioria absoluta é contra a construção da usina.

E por quê? Porque as condições impostas para que a usina fosse construída não foram atendidas. E para mim foi uma grande derrota no sentido de que o governo tem a coragem de simplesmente dar a licença e de ainda afirmar que todas as condicionantes foram atendidas. Isso não é verdade.

Eu moro naquele local, eu conheço muito bem a região e sei o que acontece lá. Não é verdade que as condições foram cumpridas. Isso é, para mim, um dos pontos-chave. A autoridade ambiental brasileira simplesmente ignorou essa situação.

Ainda existem processos em execução movidos pelo Ministério Público, que é contra a forma com que o projeto está sendo conduzido. E ainda existem cientistas, pesquisadores de renome internacional que alertaram o governo sobre Belo Monte, que o projeto não deve ser levado adiante por razões sociais, ambientais e até econômicas.

Como ganhador do chamado Prêmio Nobel Alternativo, o senhor teve mais facilidade de dialogar com o governo brasileiro, por exemplo, sobre Belo Monte?

Estive várias vezes com o ex-presidente Lula e ele me prometeu oposição ao projeto. Eu confiei nele, mas o que ele me prometeu não foi cumprido. Eu também queria falar com Dilma Rousseff e, alguns dias antes do nosso encontro, ela afirmou por meio de seu gabinete que o projeto teria que ser levado adiante de qualquer maneira. Então eu mesmo cancelei a audiência.

Não existe diálogo. É como se fosse uma penalidade imposta sobre nós. É preciso haver uma solução. Mas nós sabemos, a partir de outras usinas hidrelétricas construídas no Brasil, que as condicionantes não serão atendidas. O próprio Lula admitiu que existem milhões de pessoas que correm riscos devido à construção de usinas hidrelétricas, e que o Brasil tem uma enorme dívida com esses cidadãos.

O Nobel Alternativo é para mim um reconhecimento internacional pelo que eu faço, e isso é muito importante. Eu não sei, claro, até que ponto isso influencia o governo. A imprensa brasileira escreveu que eu ganhei o prêmio por ser um opositor ferrenho de Belo Monte, por defender os direitos humanos, a Amazônia, a floresta. Mas não ficou tão claro quais são os argumentos adotados pelo Right Livelihood Award [Prêmio Nobel Alternativo]. Mas recebi o prêmio em nome de tantas pessoas, que se agem exatamente como eu.

Como bispo, naturalmente, o fato ganha mais destaque. Mas eu recebi o prêmio em nome das pessoas que se comprometeram com essa missão e até perderam suas vidas em nome dela. O prêmio é importante para chamar a atenção da comunidade internacional para o assunto. Não se trata apenas de Belo Monte, mas da violação de direitos humanos das crianças, das mulheres, do problema da prostituição, do problema da escravidão moderna nessas enormes fazendas. É importante tocar nesses pontos e denunciá-los publicamente.

Entrevista: Nádia Pontes - Revisão: Carlos Albuquerque

MORTE DE CIVIS EM ATAQUES DA OTAN CAUSA REVOLTA NO AFEGANISTÃO





Ataque aéreo da Otan mata 14 civis, incluindo 12 crianças. Caso é um entre vários registrados recentemente. Mais de 30 civis morreram em ataques das tropas internacionais nos últimos dias, dizem autoridades locais.

Principalmente os civis sofrem com a guerra no Afeganistão. Isso ficou mais uma vez comprovado com o trágico incidente na província de Helmand, no sul do país, na madrugada deste domingo (29/05). Segundo o porta-voz do governo da região, um ataque de tropas da Força Internacional de Assistência para Segurança (Isaf, na sigla em inglês) matou cinco meninas, sete meninos e duas mulheres. Outras seis pessoas ficaram feridas, entre elas, três crianças.

Tropas dos Estados Unidos teriam sido atacadas por guerrilheiros talibãs na região de Nawzad e pediram ajuda aérea, disse o porta-voz. Helicópteros foram, então, auxiliar os soldados com artilharia aérea. Duas casas com civis acabaram sendo alvejadas, relatou o porta-voz.

A Isaf comunicou que vai investigar o caso. Uma equipe de investigadores já estaria a caminho da região.

"Minha casa foi bombardeada no meio da noite e minhas crianças foram mortas", relatou um parente das vítimas. "Os talibãs estavam bem longe da minha casa. Por que então ela foi bombardeada?"

O líder de uma tribo em Nawzad disse à agência de notícias AFP que 12 integrantes de sua família foram mortos e outros dez ficaram feridos no ataque da Otan. Ele contou ter visto os helicópteros sendo atacados a tiros. As aeronaves teriam recuado e voltado dez minutos depois, quando dispararam foguetes contra as residências.

Homens em trajes de luto carregavam em seus braços os corpos das crianças, envoltos em panos cheios de manchas de sangue. Os cadáveres foram postos num caminhão e levados à capital da província.

Cerca de 2.800 civis mortos em 2010

No Afeganistão, cresce a revolta com as mortes de civis nos ataques aéreos das tropas estrangeiras. Somente nos últimos dias, ataques da Otan mataram mais de 30 civis, segundo as autoridades locais. O caso anterior ocorreu na província de Nuristão, na quarta-feira passada (25/05), quando 18 civis e 20 policiais foram mortos por engano. Eles haviam sido confundidos com rebeldes do Talibã pelos soldados da Otan.

De acordo com números das Nações Unidas, o conflito no Afeganistão custou a morte de quase 2.800 civis somente no ano de 2010. Em torno de 15% dos casos, as mortes são atribuídas às tropas estrangeiras e afegãs, os demais 85% são de responsabilidade dos rebeldes do Talibã.

Uma semana antes, uma menina havia sido morta durante uma operação de captura de um líder talibã na província de Nangarhar, no leste do país. Ela teria corrido e acabou sendo alvejada porque os soldados equivocadamente pensaram que ela estivesse armada, comunicou a Isaf.

Segundo relatos da imprensa local, a menina teria 12 anos. Na operação, foi morto ainda um homem, também por engano. Mais tarde, descobriu-se que era um policial. O líder do Talibã não foi capturado.

AS/afp/dpa/rtr - Revisão: Marcio Damasceno

José Luís Fiori: “A GEOPOLÍTICA ANGLOAMERICANA"




JOSÉ LUÍS FIORI – OUTRAS PALAVRAS

“Venho hoje reafirmar uma das mais antigas, uma das mais fortes alianças que o mundo já viu. Há muito é dito que os Estados Unidos e a Grã Bretanha compartilham de uma relação especial” - Barack Obama:  “Discurso no Parlamento Britânico”, em 25/5/ 2011

Existe uma idéia generalizada de que a Geopolítica é uma “ciência alemã”, quando na verdade ela não é nem uma ciência, nem muito menos alemã. Ao contrário da Geografia Política, que é uma disciplina que estuda as relações entre o espaço e a organização dos estados, a Geopolítica é um conhecimento estratégico e normativo que avalia e redesenha a própria geografia, a partir de algum projeto de poder específico, defensivo ou expansivo.  O “Oriente Médio”, por exemplo, não é um fenomeno geográfico, é uma região criada e definida pela política externa inglesa do século XIX, assim como o “Grande Médio Oriente”, é um sub produto geográfico da “guerra global ao terrorismo”, do governo Bush, do início do século XXI.  Por outro lado, a associação incorreta, da Geopolítica com a história da Alemanha, se deve a importância que as idéias de Friederich Ratzel (1844-1904) e Karl Haushofer (1869-1946) tiveram – direta ou indiretamente – no desenho estratégico dos desastrosos projetos expansionistas da Alemanha de Guilherme II (1888-1918) e de Adolf Hiltler (1933-1945). Apesar disto, as teorias destes dois geógrafos transcenderam sua origem alemã, e idéias costumam reaparecer nas discussões geopolíticas de países que compartilham o mesmo sentimento de cerco militar e inferioridade na hierarquia internacional. Mas a despeito disto, foi na Inglaterra e nos Estados Unidos que se formularam as teorias e estratégias geopolíticas mais bem sucedidas da história moderna.

Sir Walter Raleigh (1554-1618), conselheiro da Rainha Elizabeth I, definiu no fim do século XVI, o princípio geopolítico que orientou toda a estratégia naval da Inglaterra, até o século XIX.  Segundo Raleigh, “quem tem o mar, tem o comércio do mundo, tem a riqueza do mundo; e quem tem a riqueza do mundo, tem o próprio mundo”. Muito mais tarde, quando a marinha Britânica já controlava  quase todos os mares do mundo, o geógrafo inglês Halford Mackinder (1861-1947) formulou um novo princípio e uma nova teoria geopolítica, que marcaram a política externa inglesa do século XX. Segundo Mackinder, “quem controla o “coração do mundo”  comanda a “ilha do mundo”, e quem controla a ilha do mundo comanda o mundo”. A “ilha do mundo seria o continente eurasiano, e o seu “coração” estaria situado – mais ou menos –  entre o Mar Báltico e o Mar Negro, e entre Berlim e Moscou. Por isto, para Mackinder, a maior ameaça ao poder da Inglaterra seria que a Alemanha ou a Rússia conseguissem monopolizar o poder dentro do continente eurasiano. Uma idéia-força que moveu a Inglaterra nas duas Guerras Mundiais, e que levou Winston Churchill a propor – em 1946 — a criação da “Cortina de Ferro”  que deu origem a Guerra Fria.

Do lado norte-americano, o formulador geopolítico mais importante da primeira metade do século XX, foi o Almirante Alfred Mahan (1840-1914), amigo e conselheiro do Presidente Theodor Roosevelt, desde antes da invenção da Guerra Hispano-Americano, no final do século XIX. A tese geopolítica fundamental de Mahan, sobre a “importância do poder naval na história”, não tem nenhuma originalidade. Repete Walter Raleigh, e reproduz a história da Marinha Britânica. E o mesmo acontece com as idéias de Nicholas Spykman (1893-1943), o geopolítico que mais influenciou a estratégia internacional dos EUA na segunda metade do século XX. Spykman desenvolve e muda um pouco a teoria de Mackinder, mas chega quase às mesmas conclusões e propostas estratégicas. Para conquistar e manter o poder mundial, depois da Segunda Guerra, Spykman recomenda que os EUA ocupem o “anel” que cerca a Rússia, do Báltico até a China, aliando-se com a Grã Bretanha e a França, na Europa, e com a China, na Ásia.

No cômputo final, o que diferencia a geopolítica anglo-americana é a sua pergunta fundamental: “que partes do mundo há que controlar, para dominar o mundo”. Ou seja, uma pergunta ofensiva e global, ao contrário dos países que se propõem apenas a conquista e o controle de “espaços vitais” regionais. Além disto, a Inglaterra e os EUA ganharam, e no início do século XXI, mantém sua aliança de ferro com o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia: derrotaram e cercaram a Rússia; mantém seu protetorado atômico sobre a Alemanha e o Japão; expandiram sua parceria e seu cerco preventivo da China; estão refazendo seu controle da África; e mantém a América Latina sob a supervisão da sua IVº Frota Naval. E acabam de reafirmar sua decisão de manter sua liderança geopolítica mundial.

Existe, entretanto, uma grande incógnita no horizonte geopolítico anglo-americano. Uma vez conquistado o poder global, é indispensável expandi-lo, para mantê-lo. Mas, para onde expandi-lo?

José Luís Fiori é professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, e autor do livro “O Poder Global”, da Editora Boitempo, 2007

ESPANHA: E AGORA?




Josep Maria Antentas e Esther Vivas - Tradução: Antonio Martins – Outras Palavras

Após mega-manifestações em dezenas de cidades, dois articuladores do movimento dos “indignados” debatem o futuro e afirmam: “apenas começamos”

A indignação superou outra vez todos os cálculos, tomando maciçamente as ruas e mostrando a brecha aberta entre o mal-estar social e as políticas adotadas nas instituições. De 15 de maio a 19 de junho, acumularam-se forças e se teceram cumplicidades, não apenas no local (acampamentos e bairros), mas igualmente com amplos setores sociais que se sentiram identificados com nossa crítica rotunda à classe política e a um sistema bancário e financeiro a quem responsabilizamos pela crise atual. O lema “não somos mercadorias em mãos de políticos e banqueiros” sintetiza as duas demandas.

As e os indignados manifestaram-se sem ambiguidades, àqueles que sucumbiram aos “mercados” e que, exigindo políticas de cortes orçamentários, não as aplicaram a si mesmos. “Queremos políticos mileuristas” [gíria espanhola para quem recebe salários próximos de mil euros mensais], era uma das consignas aplaudidas com entusiasmo na manifestação. A democracia atual torna-se cada vez mais vazia de conteúdo, para uma cidadania com vontade de decisão e de controle sobre suas próprias vidas. Um voto a cada quatro anos não é suficiente para quem reivindica a política como exercício quotidiano de seus direitos, no dia a dia, e de baixo para cima.

O cerco conservador e midiático ao movimento, após a ação diante do parlamento catalão, em 15 de junho, não suportou uma indignação social coletiva que vai além dos e das acampadas. Equivoca-se quem pense que o movimento é coisa de jovens ou ativistas. Ou quem o considere em mero problema de ordem pública. Os “mesmos de sempre” agora são muitos. Dois anos e nove meses de crise pesam. O movimento expressa uma corrente profunda de mal-estar social, que finalmente emergiu e, como é de hábito, de modo imprevisto e com formas inovadoras. Não estamos diante de um fenômeno conjuntural ou passageiro. Vivemos as primeiras ondas de um novo ciclo de mobilizações, lançado pelas manifestações de 15 de maio e os acampamentos que se seguiram.

Na mesma data, as ruas tomadas de Barcelona

De 15 de maio a 19 de junho, recuperou-se a confiança na ação coletiva. Passou-se do ceticismo e resignação ao sí, se puede. As revoltas no mundo árabe, as mobilizações na Grécia e o “não pagaremos a crise” do povo islandês pesaram com força no imaginário coletivo. Deram-lhe poderoso impulso, permitindo recuperar a confiança no “nós”. A globalização das resistências, daquele movimento altermundista que já tem mais de dez anos, revive de novo, num cenário bem distinto, marcado pela crise.

Depois da jornada de 15 de junho, em que o movimento viu-se imerso numa batalha pela legitimidade, as manifestações de domingo eram um teste para mostrar solidez diante dos ataques recebidos. Tratava-se de traduzir em ação nas ruas as simpatias populares despertadas. Assim foi. O 19 de junho mostrou a ampliação do movimento, sua capacidade de mobilização de massas e sua explosiva expansão, em tempo muito curto. O crescimento, em comparação a maio, não é apenas quantitativo, mas também qualitativo, em termos de diversificação da base social e composição generacional.

E agora? Os desafios do movimento incluem reforçar seu enraizamento territorial, estimular assembleias locais e mecanismos de coordenação estáveis. Trata-se, também, de buscar laços com a classe trabalhadora, os setores em luta e o sindicalismo combativo, e manter a pressão sobre os sindicatos majoritários – desconcertados por uma mudança no panorama político e social que não previam.

E preciso conseguir vitórias concretas. Embora seja vitória parcial, o bloqueio de muitos despejos de moradores endividados aponta o caminho e soma novas energias. Visto de modo mais amplo, o movimento enfrenta o desafio de combinar seu caráter generalista, de crítica global ao atual modelo econômico e à classe política, com o fortalecimento das lutas concretas contra os cortes de serviços públicos e as políticas que procuram transferir o custo da crise para os de baixo.

O 19 de junho marcou um ponto de inflexão que encerra a primeira fase aberta com o 15 de maio e prepara a etapa seguinte, de um movimento que apenas começou.
* Josep Maria Antentas é professor de sociologia da Universidade Autônoma de Barcelona. Esther Vivas é membro do Centro de Estudos sobre Movimentos Sociais da Universidade Pompeu Fabra. Ambos participaram ativamente da organização dos acampamentos que ocuparam praças no Estado espanhol, entre 15 de maio e 12 de junho. Agora, ajudam a articular a luta contra banqueiros e políticos — e por uma nova democracia.

Moçambique será o segundo grande parceiro depois de Angola -- secret. adj. do Fórum Macau




PNE - LUSA

Macau, China, 23 jun (Lusa) -- Moçambique deverá tornar-se no segundo parceiro económico da China em África nos próximos cinco ou dez anos com o desenvolvimento da cooperação em setores como a energia, disse à Agência Lusa o secretário-geral adjunto do Fórum Macau.

"O volume de negócios com Angola e o potencial que existe em Moçambique em termos da sua relação futura próxima com a China fazem com que esses dois países sejam as locomotivas da relação China-Países Africanos de Língua Portuguesa", observou Manuel Amante da Rosa à margem de uma palestra sobre as relações China-África no escritório de advogados de Macau C&C.

Para o também embaixador de carreira cabo-verdiano, Moçambique poderá "facilmente" tornar-se no segundo grande parceiro da China em África, depois de Angola, dentro de "cinco ou dez anos, dependente da forma como a exportação de carvão e gás se vier a fazer".

"Moçambique começa a exportar para a China carvão, exportará gás, tem grandes potencialidades eólicas, agropecuárias e de ter petróleo e já estão em fase de implementação projetos de barragens, o que permitirá ao país um desafogo enorme em termos de receitas cambiais e ter uma posição preponderante em tudo o que seja estratégico na área da produção energética", apontou.

Amante da Rosa referiu também o facto de o "canal de Moçambique ser estratégico para as relações da China com África" e de aquele país africano "vir a ter a maior capacidade hidroenergética da África Austral" como outros motores do incremento da cooperação bilateral.

As relações entre a China e Moçambique "remontam ao período antes da independência do país africano, diversificaram-se durante o período da luta armada e consolidaram-se após a independência, mas a guerra civil não permitiu o seu desenvolvimento e mesmo depois demorou um certo tempo a reagirem", recordou o responsável.

Mas para o diplomata, "dentro de dois ou três anos a cooperação atingirá níveis muito substanciais, assim que (Moçambique) começar a exportar (para a China) carvão em grande escala e quando se começarem a fazer as obras de infraestruturação".

Por outro lado, acrescentou, "Moçambique tem uma costa de mais de 3.000 quilómetros e precisa de vias de comunicação e quando se começar isso penso que haverá um campo muito mais vasto e aberto de cooperação".

Amante da Rosa considera que o investimento da China em África "continuará a ser maciço e estará voltado para o setor extrativo, dos hidrocarbonetos", mas observa que se "começam a delinear, principalmente na África Austral, alguns projetos na área agropecuária, nomeadamente em Moçambique, que tem potencialidades enormíssimas nesse setor".

"É normal que a China venha a diversificar os investimentos que tem feito até agora para o setor agropecuário, mas com 'backup' no setor hidroenergético", constatou.

Ao sublinhar que a China "tem a necessidade absoluta de importar matérias-primas", Manuel Amante da Rosa salienta que o local mais viável para responder a essa procura é "África e depois o continente sul-americano", sendo que aqui o Brasil continuará a ser o "maior parceiro" do gigante asiático.

Angola: REFUGIADOS, UM RECURSO PARA O DESENVOLVIMENTO




LUÍS FERNANDO – O PAÍS, editorial

Milhares de angolanos na diáspora começam a retornar à casa. Os primeiros tinham o regresso marcado para esta quintafeira, e voltaram. O primeiro contacto com a terra-mãe foi no Luena.

O Estado e o Executivo angolano estão de parabéns. Num momento em que Angola vive um pujante processo de reconstrução, é de todo louvável que se acolham os milhares e milhares de angolanos que ainda vivem fora das fronteiras nacionais, alguns reduzidos nos seus direitos humanos e de cidadania.

Por um lado, é obrigação do Estado acolher os seus filhos, proporcionar-lhes o usufruto de todos os seus direitos enquanto cidadãos nacionais. Por outro lado, é igualmente obrigação do Estado tirar proveito das mais-valias que estes concidadãos trazem dos lugares que os acolheram durante anos. Porque é verdade também que, ao longo de muitos anos, os países de acolhimento foram, de facto, a garantia de segurança e de esperança de formação para os refugiados angolanos.

A tarefa é hercúlea. São centenas de milhar, no total, os angolanos que ainda estão no estrangeiro e que Angola precisa de atrair. Muitos não têm sequer meios para voltar. Cresceram lá, criaram famílias, algumas mistas, muitos não têm emprego, mas há muita vontade de voltar.

Em todo este processo há também aspectos interessantes. Há pessoas que vivem fora do nosso território há mais de quarenta anos sem que a angolanidade se lhes tenha extinguido. Há gente a exibir documentos passados pela administração colonial, há gente a passar documentos passados pelos movimentos de libertação quando estes também tinham as suas bases no exterior. Ou seja, os anos passaram, algumas memórias se terão perdido, mas o ser angolano é um sentimento que não abandonou os nossos concidadãos.

Mas tudo isso, o processo de repatriamento de milhares de angolanos refugiados no exterior, coincide com um momento em que o país é visto por cidadãos de outros países como um ponto que lhes assegura o futuro.

Alguns vêm fugidos das más condições de vida em que se encontram, para eles Angola é o local para a sua realização e para dar dignidade à existência dos seus familiares. Para outros, Angola é um bom local para trabalhar, ou para ganhar dinheiro.

Seja como for, os cidadãos que agora regressam deparar-se-ão com uma realidade muito distante da que deixaram ou daquela que terão idealizado. Chegarão a um país que precisa dos seus esforços e que muito exigirá de cada um. Virão encontrar um país onde a concorrência no mundo do trabalho é já enorme, apesar de haver ainda lugar para todos.

Na verdade, a melhor forma de integrar os ex-refugiados será, por ventura, a sua localização fora dos grandes centros urbanos. O melhor será colocá-los, a quem o pretenda, já que gozam da mesma liberdade de escolha que qualquer outro angolano, nas regiões onde se precisa de mão-de-obra e de vontade de trabalhar, onde possam rapidamente encontrar emprego e transformar as suas vidas, transformando o meio.

O problema maior será, num primeiro olhar, o choque cultural.

Angola mudou, incorporou novos hábitos, novas culturas. Os regressados trarão outros hábitos e outras culturas. Mas mesmo aqui as diferenças poderão fortalecer-nos. Este país já disso deu provas bastantes.

Se houver vontade, em vez de gente carenciada e a precisar de esmolas, os cidadãos que agora voltam ao país poderão ser um importante recurso para a reconstrução e para o desenvolvimento nacional.

*Luís Fernando - Director do jornal O País, passou pela direcção do Jornal de Angola e é autor de vários romances.

São Tomé e Príncipe: PM diz que número de candidatos às presidenciais é excessivo...




... e alerta para fenómeno "banho"

JF - LUSA

Porto, 23 jun (Lusa) - O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe considera que os 14 candidatos às eleições presidenciais no país correspondem "a uma confusão na interpretação dos poderes do Presidente da República" e alerta que o fenómeno do "banho" ainda vai existir.

Em entrevista à Agência Lusa durante a visita que está a realizar ao Norte de Portugal, Patrice Trovoada considerou o número de candidatos às presidenciais, a realizar a 17 julho no seu país, excessivo.

Defendendo que é "fundamental que se encontre um Presidente da República que possa garantir estabilidade e apoiar o Governo nas reformas necessárias", o primeiro-ministro admitiu que os 14 candidatos às presidenciais podem ser um fator de alguma instabilidade, antecipando uma "campanha um bocadinho agitada".

Patrice Trovoada prefere que das eleições saia um presidente da sua cor política, realçando que isto "não é, em nada, um fator de controlo totalitário do poder".

"O Presidente da República tem que estar alinhado com o Governo. Se é para controlar, se é para amanhã deixar cair o Governo, a Assembleia pode fazê-lo", observou, explicando que Evaristo de Carvalho, apoiado pelo seu partido, Acção Democrática Independente (ADI), é "de todos os candidatos, o mais experiente".

"O clima de campanha está muito frio e não sinto muito trabalho político e nós sofremos muito com o fenómeno de banho (pagamentos a eleitores) em São Tomé e Príncipe", explicou, acrescentando que "não havendo candidatos a mover-se", receia que "muitos candidatos estejam a pensar naquele estímulo do último dia para poder influenciar os votos".

Trovoada quer por isso "combater esse risco potencial, quer do banho (pagamentos a eleitores), quer da abstenção", e questionado sobre as medidas necessárias, respondeu que "é preciso legislação e também que se deixe passar um contingente de alguns políticos que patologicamente só veem a política dessa maneira".

"É uma questão de tempo e de legislação. Nestas eleições ainda teremos o fenómeno ("banho"). Nas eleições passadas houve um estudo para saber o que é que determinou o voto das pessoas e chegou-se à conclusão que houve banho mas este não foi determinante, o que me faz pensar que o povo aproveitou-se dos políticos, ou seja, as pessoas receberam os dinheiros mas já sabiam em quem iam votar", enfatizou.

O filho do ex-presidente da República, Miguel Trovoada, explicou que não concorreu às presidenciais porque há dez meses fez uma campanha legislativa onde apresentou "um programa de transformação do país para quatro anos".

"É verdade que o cadeirão presidencial é um cadeirão com seguro contra todos os riscos, mas assumi um compromisso com o meu país e entendo que a palavra dada tem muito valor", sublinhou.

Questionado sobre se temia que o seu Governo minoritário não chegasse ao final do mandato, o primeiro-ministro recordou que governa "sob o controlo e fiscalização do Parlamento" mas mais do que ao Parlamento, deve "contas ao povo são-tomense".

"Enquanto eu governar com o apoio da maioria dos são-tomenses eu acho perfeitamente difícil nós regressarmos aos pequenos golpes parlamentares. Não sou ingénuo e acho que há muitos políticos que gostavam de ver este Governo cair, mas a oposição sabe que o povo também está atento", explicou.

*Foto em Lusa

Mais lidas da semana