sexta-feira, 18 de outubro de 2013

EDWARD SNOWDEN NEGA TER REVELADO DOCUMENTOS SECRETOS À RÚSSIA

 


Opera Mundi, São Paulo
 
Em entrevista, ex-técnico da NSA disse não possuir cópia dos arquivos, que foram dados a jornalistas em Hong Kong
 
O ex-técnico da NSA (Agência de Segurança norte-americana) Edward Snowden, procurado pelo governo dos EUA pelo vazamento de documentos que denunciam o esquema de espionagem do país, afirmou, em entrevista publicada pelo New York Times nesta sexta-feira (18/10), que não revelou nenhum desses arquivos à Rússia ou à China.
 
 “Existe zero por cento de chance que os russos ou os chineses tenham obtido qualquer documento”, afirmou Snowden. Ele disse ter deixado todos os papéis com uma equipe de jornalistas com quem se encontrou em Hong Kong (incluindo Gleen Greenwald, então no jornal britânico The Guardian) antes de voar para Moscou. Por isso, disse, não manteve nenhuma cópia consigo, pois isso não “serviria ao interesse público”.
 
Na entrevista, que foi realizada durante vários dias via internet, por meio de comunicação criptografada, Snowden confessou estar relutante em revelar tal informação por medo de expor os jornalistas de Hong Kong a investigações.
 
O norte-americano também afirmou que, enquanto trabalhava para a NSA, foi responsável por investigar operações secretas da China, além de dar um curso sobre inteligência cibernética. Por conta disso, o ex-técnico da NSA disse ter certeza de que os documentos não caíram nas mãos de espiões chineses.
 
O governo dos EUA está processando o ex-técnico da NSA, acusando-o de violação do “Espionage Act”. Snowden não se mostra preocupado em relação a isso e se afirma como um delator que está agindo em nome do interesse nacional. Para o ex-técnico, suas denúncias estão ajudando o serviço de segurança norte-americano, pois levantaram um debate público necessário a respeito da abrangência do sistema de inteligência do país.

“A permanência secreta desses programas representa um perigo muito maior do que sua interrupção”, afirmou Snowden, que também criticou a falta de legitimidade de atividades governamentais que ocorrem “às escuras”.
 
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ESPIONAGEM CANADENSE NO BRASIL: AS RAZÕES DE UMA DERIVA

 


Pierre Beaudet, Ottawa – Opera Mundi
 
Para o governo de Stephen Harper, práticas se encaixam bem com sua visão do mundo
 
O mundo sabe há algum tempo que os serviços de segurança canadenses estão envolvidos em espionagem industrial contra o Brasil. É sem dúvida o caso de outros países. Para o governo Harper, essas práticas se encaixam bem com sua visão do mundo.
 
Uma política externa marcada pela "guerra sem fim"
 
Stephen Harper foi eleito em 2007, previamente à sua denúncia feroz da "neutralidade" do governo canadense durante a invasão do Iraque pelos EUA (que o Canadá, como a grande maioria dos Estados membros da ONU, recusou-se a endossar). Harper não queria apenas que o Canadá participasse dessa ação ilegal, mas também que reorientasse a sua política externa com base nos objetivos dos neoconservadores norte-americanos, incluindo iniciar guerras "preventivas" e a enfrentar não só a ameaça terrorista como também a emergência de novas potências.
 
Em 2011, após a eleição que lhe permitiu formar um governo majoritário, Harper definiu suas prioridades para o setor de segurança militar através de aumentos substanciais nos orçamentos (enquanto todos os outros ministérios e departamentos do governo federal foram atingidos por grandes reduções). Além disso, as Forças Armadas do Canadá, que tradicionalmente participaram de missões das forças de paz da ONU, foram redirecionados para uma missão de combate na região sul do Afeganistão, na linha de frente, por assim dizer. Ao mesmo tempo, o Canadá é exibido na ONU como o principal aliado de Israel, recusando-se a endossar as condenações regulares contra a expansão dos assentamentos e as graves violações dos direitos humanos nos territórios palestinos ocupados. Tudo isso levou, em 2010, à humilhante derrota da candidatura do Canadá para o Conselho de Segurança, quando tradicionalmente o país sempre foi eleito para o órgão de decisão da ONU. Desde então, o governo canadense tem apoiado as ações militares da OTAN, como foi o caso na Líbia, em 2012. Ele intensifica sanções contra o Irã e denuncia todos aqueles que querem negociar com o regime iraniano, que qualifica de “maléfico”.

A América Latina não é exceção a essa virada neoconservadora canadense. Ottawa foi um dos primeiros (e raros) Estados a apoiar o golpe de Estado em Honduras, bem como a derrubada do presidente do Paraguai. O "inimigo” declarado de Harper é a Venezuela, que ele denuncia nos mesmos termos que a direita republicana nos Estados Unidos. Na verdade, a política externa do Canadá no momento é mais parecida com a do Tea Party do que com a do governo Obama.
 
O reino da petro-energia
 
O realinhamento do Canadá sob Harper não é apenas no domínio da política externa. Com efeito, a nova prioridade é concentrar intervenções para fortalecer o setor petroleiro no oeste do país (em Alberta, notadamente) e, de maneira geral, nos recursos naturais. Esta "reprimarização" da economia ocorre em detrimento de setores industriais, tradicionalmente localizados em Ontário e Quebec. Atualmente, o grande desafio para o governo federal é a construção de uma poderosa rede de dutos para o sul (mercado dos EUA), para o oeste (mercado asiático) e para o leste (Atlântico) para transportar o petróleo da Província de Alberta, descrito por ambientalistas como o "mais sujo" do mundo (sozinhos, os campos de petróleo betuminoso são responsáveis ​​por um grande percentual de emissões de gases de efeito estufa). Atualmente, o governo Harper é apoiado por menos de 30% dos canadenses (40% dos 60% que votam), principalmente nas províncias ocidentais. No Quebec, o Partido Conservador tem apenas cinco deputados, em face de cerca de 60 social-democratas eleitos pelo NDP. O país está fraturado geograficamente e politicamente.
 
Segurança acima de tudo
 
Last but not least, o governo está fortalecendo o setor de segurança, incluindo a Royal Canadian Mounted Police (Polícia Federal), o Serviço Canadense de Inteligência de Segurança (SCRS), e o Centro de Segurança das Telecomunicações do (CSEC), identificado como a agência responsável por interceptar mensagens provenientes de ministérios brasileiros. Estas agências trabalham em estreita colaboração com várias agências de segurança dos EUA, incluindo o grupo TAO, o nome de código de uma unidade de elite da espionagem americana. Essas práticas ilegítimas se somam às políticas discriminatórias e contrárias à Carta dos Direitos, como a detenção "administrativa" (sem processo, nem acusação), e a imposição a indivíduos “suspeitos” de ligação com grupos “subversivos” de “certificados de segurança" que obrigam severas restrições. O governo sustenta ativamente uma campanha de medo, apresentando o Canadá como “alvo” de "terroristas" formados, na maioria, por grupos árabes e muçulmanos. Qualquer organização crítica das políticas de Israel é ameaçada de ser colocada em uma lista de "grupos terroristas", realizada pelo governo canadense, com graves consequências para a liberdade de expressão.
 
Futuro incerto
 
Recentemente, na Cúpula da APEC, o primeiro-ministro Harper retomou seus temas preferidos: livre comércio sem restrições, promoção dos "valores" da "democracia" na interpretação dos EUA do termo, denúncia dos “Estados terroristas" etc. Nas entrelinhas, também defendeu uma política para impor uma nova Pax Americana na região da Ásia-Pacífico. O sonho é um pouco fútil e perigoso, mas pode levar à políticas desestabilizadoras. Apesar das relações comerciais significativas entre Canadá e China, o governo Harper não hesitará em intervir nos assuntos internos desse país, supostamente para defender os direitos humanos. Ele é bem mais hostil ao crescimento das empresas chinesas no Canadá, inclusive no setor energético, apesar de querer vender mais petróleo para a China! Em face das próximas eleições federais previstas para 2015, a opinião pública canadense está inquieta, tanto com as questões de política interna quanto de política externa. Resta saber o que poderão fazer os partidos de centro e centro-esquerda que estão atualmente na oposição, mas que parecem receber o apoio da maioria da população. Questiona-se notadamente o fato que o Brasil foi negligenciado pelo governo Harper, que em sua miopia e dogmatismo o vê mais como um adversário do que como um parceiro.

Pierre Beaudet é professor da Escola de Desenvolvimento Internacional e Estudos Globais da Universidade de Ottawa
 
Tradução: José Renato Vieira Martins
 
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Moçambique: MORRER COM UMA RECEITA NAS MÃOS

 

Verdade (mz) - editorial
 
É a triste sina dos moçambicanos nos dias que correm. Não há medicamentos e as pessoas estão entregues à sua própria sorte. Falta tudo. É um mal geral em todo o país. As farmácias estatais, hospitais, postos e centros de saúde não têm medicamentos. Paradoxalmente, as farmácias privadas, onde comprar custa muito dinheiro, têm tudo o que se procura. Num país acostumado a urdir esquemas no esgoto da sacanice é preciso desconfiar. Contudo, o mais perigoso é o silêncio cúmplice da imprensa. E aqui, diga-se, não escapa nenhum órgão de informação. Estão todos na mesma panela.
 
O que faz correr a imprensa é o escândalo e não o bem-estar dos moçambicanos. E isso é extremamente mau para as nossas necessidades colectivas. Damos mais importância a um pretenso caso de corrupção, mas viramos os olhos para o lado quando o país é açoitado por uma calamidade natural. Não há antirretrovirais e ninguém diz nada. Estamos aqui à espera de um incidente político ou que a Renamo dispare uns quantos tiros em Sathunjira. A falta de medicamentos é pouca coisa. Não há tiros, mas há muito mais mortos. Anónimos, sim, mas resultam desse nosso silêncio repugnante.
 
Um país de cidadãos dignos e no qual a cidadania é um valor supremo o ser humano não morre açoitado pelo silêncio de 22 milhões de cúmplices. Nós, sem excepção, somos culpados desta “carnificina”. O nosso maior problema enquanto moçambicanos reside no descaso em relação ao outro. Enquanto o estado de coisas não mexer com o nosso mundinho, não tocar no nosso carro topo de gama e continuarmos a ser assistidos em clínicas privadas, os moçambicanos deste extenso país podem morrer. Não importa. Só nos importamos com o escândalo imediato.
 
Mas é complicado dizer a alguém que come o que lhe dá na gana que há milhões de outros compatriotas a morrer à fome e/ou de doenças curáveis. Ninguém quer saber dos Iciduas da vida ou da falta de água em Chigubo. Isso não vende e nem causa repulsa. Interessa mais a corrupção de um punhado de gente do que as condições de sobrevivência da maioria.
 
Este foi, pois, muito mais do que um editorial, um lamento. O mundo, infelizmente, continua a ser um lugar preferencialmente para biltres e para bestas. No Moçambique de hoje, ser solidário, olhar para o próximo, partilhar e sacrificar-se pelo bem comum, não é importante. E não o é porque, salvo raras excepções, este país transformou-se no ninho de gente sem escrúpulos, para cobardes, para incultos, para fanáticos. Dificilmente a solidariedade teria lugar no meio de tanto lixo...
 

Moçambique: EM MOMA O POVO É MALTRATADO

 

Verdade (mz)
 
A multinacional Kenmare, que explora as areias pesadas de Moma, no posto administrativo de Topuito, no distrito de Moma, é acusada de destratar a população daquela região da província de Nampula e violar os seus direitos. A firma está para implementar um projecto fora dos limites cedidos pelas famílias e estas exigem novas indemnizações, o que não é aceite pela companhia. O executivo local, em vez de intermediar o impasse entre as partes, ameaça os líderes que defendem os interesses das suas comunidades.
 
Em 2006, a Kenmare interessou-se pelo espaço que hoje está na origem da contenda nos bairros de Topuito e Namalope, naquele posto administrativo. As pessoas que se encontravam nos lugares onde devia ser implementado o plano de exploração das areias pesadas foram ressarcidas. Além de outras actividades, naquelas terras praticava-se agricultura, da qual inúmeras pessoas dependiam para sobreviver.
 
Entretanto, o processo de compensações só ficou concluído em 2008, mas a empresa não explorou imediatamente as áreas que acabava de adquirir junto dos nativos. Volvidos cinco anos, ela pretende ocupar as suas terras, todavia, neste momento, as obras em curso abrangem zonas não previstas para o efeito quando houve atribuição das compensações. Ou seja, vão para além dos limites acordados. Algumas machambas estão a ser destruídas sem que haja compensação.
 
Por isso, a população exige que o processo seja revisto e haja novas compensações, porém, a Kenmare não aceita, facto que gera pandemónio, pois certas famílias queixam-se de terem sido ludibriadas pela companhia. O executivo local quando age sai em defesa da firma e ameaça os líderes comunitários.
 
Na altura em que a população se exasperou, uniu-se, recorreu à força para tentar coibir que tal acontecesse e dirigiu-se às instalações da Kenmare para exigir explicações e novos ressarcimentos, principalmente porque algumas machambas e casas estavam a ser destruídas durante a ocupação ilícita das suas terras. Foi necessária a intervenção da Polícia e do governo distrital para amainar os ânimos, pese embora tenha havido intimidações.
 
Na semana passada, o @Verdade esteve no terreno para junto de algumas famílias aferir os marcos que foram extrapolados mas não foi possível aceder ao local por causa das obras em curso. Neste momento em que as máquinas já estão a “roncar” em Topuito, por exemplo, fica claro que dificilmente os lesados irão conseguir impedir a materialização do plano de extracção das areias pesadas nas suas áreas supostamente tomadas à força.
 
A chefe do Departamento de Relações Comunitárias da Kenmare, Regina Macuácua, não revela a dimensão de terra que a companhia ocupou nem quantas famílias foram compensadas, tão-pouco fala dos valores envolvidos, mas explica que os espaços em alusão em Topuito – hoje na origem do descontentamento – não foram imediatamente explorados pela empresa, apesar de que o processo para o efeito estava concluído porque havia outro plano em curso em Namalope.
 
Os agitadores da população
 
Na tentativa de resolver o problema que agasta as comunidades, os secretários dos bairros do posto administrativo de Topuito reuniram-se com os dirigentes da Kenmare e com os membros do governo distrital de Moma, porém, não houve entendimento entre as partes e os representantes da população foram acusados de estarem a promover agitação e serem militantes de um partido da oposição. “Os líderes comunitários têm estado a colaborar com os protagonistas das manifestações”, afirmou Regina Macuácua.
 
Em 2006, Fernando Silvano, secretário do bairro de Topuito, testemunhou a demarcação da área que a Kenmare devia ocupar e acompanhou todo o processo de indeminizações, incluindo pelas culturas perdidas. Este ano, quando a empresa pretendia iniciar o seu projecto ele foi novamente chamado para confirmar os limites e constatou que houve extrapolação dos mesmos.
 
“As brigadas do governo incumbidas de fazer as consultas públicas para colher diversas sensibilidades nas comunidades apenas deixam ordens em vez de ouvir a própria população”, disse Fernando Silvino, que também é considerado agitador e indiciado de estar contra o desenvolvimento social e económico em Topuito, onde as comunidades se queixam do custo de vida devido, em parte, à falta de meios de subsistência desde que as suas machambas foram destruídas.
 
O governo é culpado
 
Segundo o nosso interlocutor, a Kenmare está a desgraçar a população de Topuito. Os programas de responsabilidade social são apenas para enganar. E quando as pessoas despertarem será tarde demais porque todos os recursos se terão esgotado. “A responsabilidade pelas irregularidades cometidas pela companhia deve ser imputada ao governo de Moma que vendeu as nossas terras”.
 
O secretário do comité de zona do partido Frelimo, no bairro de Topuito, Dover Boavida Massiele, lamenta o facto de o governo não estar preocupado com a população. Além das ameaças a que os secretários dos bairros são sujeitos, os responsáveis pelo sector das Actividades Económicas em Moma sugeriram, sem dó, à Kenmare para reduzir o preço de indemnização para cada cultura alimentar ou fruteira no acto das compensações.
 
Comunidades “oportunistas”
 
Regina Macuácua indica que a população de Topuito está a exigir que seja ressarcida pelas áreas que já foram compensadas, em 2006. Isso é oportunismo. “O que temos assistido é que as pessoas inventam machambas nos locais onde não existiam, apenas para receber indemnizações. A população está com ganância de dinheiro”.
 
Recursos escasseiam
 
Em Topuito, os residentes não olham com agrado os feitos da Kenmare e vandalizam algumas infra-estruturas sociais construídas nos diferentes bairros, tais como fontanários e lavandarias públicos. O saneamento do meio é também precário porque a população não observa as regras básicas de higiene colectiva e individual. As campanhas de sensibilização para o feito estão a fracassar e o lixo aumentou consideravelmente de há tempos para cá.
 
A Kenmare tem o Direito de Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT) válido até o ano de 2050. E no âmbito da sua responsabilidade social construiu uma unidade sanitária, algumas salas de aulas e canalizou água potável para os bairros. Anualmente, em média, dez alunos recebem bolsas de estudo para frequentar o ensino secundário geral e técnico-profissional em diferentes escolas da província de Nampula.
 
Esses projectos não irão garantir um futuro promissor aos beneficiários caso os seus parentes continuem a viver nas condições precárias em que actualmente se encontram naquela região. O grosso dos residentes do posto administrativo de Topuito depende das actividades agrícolas, pesqueiras e de pequenos negócios para sobreviver mas as suas machambas foram destruídas. Alguns solos estão a ficar empobrecidos e as famílias associam o facto à exploração das areias pesadas, sobretudo porque começam a não ter recursos para sobreviver. Aliás, moradores do bairro de Namalope referem que não sabem qual será o futuro dos seus descendentes.
 
Porém, neste momento, o comércio informal está a florescer e constitui a principal fonte de renda e subsistência. Para além de as áreas de cultivo estarem a ficar inférteis, no mar, as zonas onde os pescadores conseguiam pescado para venda e consumo está lotado de navios e pequenos barcos que transportam os recursos explorados dia e noite. As oportunidades de emprego na Kenmare não passam de uma miragem para a população de Topuito e do distrito de Moma, pois, para além de cidadãos estrangeiros, a maior parte da mão-de-obra é proveniente de outros distritos ou províncias do país.
 
Administrador não se pronuncia
 
Na semana em que a nossa Reportagem esteve em Moma tentou, sem sucesso, ouvir a versão do administrador Momade Shale em relação às queixas da população, alegadamente porque ele se encontrava no distrito de Mossuril a participar em cerimónias fúnebres de um familiar. Na altura em que as machambas das pessoas a que nos referimos foram destruídas, há meses, também contactámos Momade Shale mas ele não nos disse nada porque se encontrava na província de Cabo Delgado.
 
Tentativa de deturpar os factos
 
No dia 12 de Setembro passado, o @Verdade veiculou, na sua plataforma online, que a Kenmare estava a destruir machambas nas comunidades de Topuito, Naholokho e Namalope sem o consentimento dos proprietários para dar lugar à segunda fase do projecto de extracção das areias pesadas. Nesse contexto, um quadro da direcção daquela empresa telefonou-nos a dizer que o que publicámos era mentira. Entretanto, para além de condenarmos a tentativa de descredibilizar o nosso trabalho, reafirmamos tudo o que dissemos nessa altura.
 
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Secretário executivo quer "nova CPLP" que aposte no capital humano

 


Lisboa, 17 out (Lusa) - O secretário-executivo da comunidade lusófona defendeu hoje "uma nova CPLP" em que os oito Estados membros apostem no capital humano, comprometendo-se a considerar uma percentagem do seu PIB para a educação, a saúde, a inovação e o género.
 
Na sua intervenção na conferência "O futuro da Agenda Global de Desenvolvimento: Visões para a CPLP", a decorrer em Lisboa, o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Murade Murargy, recordou que a organização acaba de lançar um debate sobre os desafios de futuro, numa altura em que se prepara para celebrar 18 anos.
 
Afirmando que a organização continua a ser "uma comunidade em construção e em constante processo de aprendizagem", defendeu que a instituição quer adequar-se às expectativas dos cidadãos dos seus Estados-membros.
 
"Uma nova CPLP é o que nós queremos", afirmou, acrescentando que o objetivo é usar a força dos oito Estados-membros e "contribuir ativa e sinergicamente para o esforço de desenvolvimento" dos países, sempre com o Homem como foco principal.
 
Reiterando que não é possível uma agenda de desenvolvimento sustentável "sem o concurso do homem capacitado", Murargy apelou aos Estados-membros para que assumam "o compromisso do desenvolvimento do capital humano", nomeadamente considerando uma percentagem do seu Produto Interno Bruto para Educação, a Saúde, a Inovação e o Género.
 
Defendeu ainda a consagração do direito à alimentação como um direito humano fundamental nos Estados-membros da CPLP.
 
"A atual situação não é sustentável e tem origem na inércia em fazer face aos fatores estruturais da fome", alertou.
 
Referindo-se ainda à nova visão da CPLP que quer ver definida, Murargy defendeu que ela resulte de um "diálogo amplamente inclusivo, com a participação dos povos" de todos os Estados-membros.
 
"Esta agenda deve incorporar a essência do que pretendemos ser nos próximos anos para superar o atraso, a miséria, o analfabetismo e as assimetrias", afirmou.
 
FPA // JMR - Lusa
 

Governo de Macau avança com proposta de lei do erro médico após anos de discussão

 


Macau, China, 18 out (Lusa) - O Governo de Macau vai submeter em breve ao hemiciclo uma proposta de lei do erro médico, após mais de dez anos de discussão e obtido o aval do Conselho Executivo, foi hoje anunciado.
 
O porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng, disse, em conferência de imprensa, que o diploma está pronto para ser apreciado pela Assembleia Legislativa, tendo como objetivo o "tratamento imparcial, justo e eficiente de litígios decorrentes de erro médico para a salvaguarda dos direitos e interesses legítimos dos prestadores de cuidados de saúde e dos utentes".
 
A proposta de lei define erro médico como o "facto emergente de atos praticados pelos prestadores de cuidados de saúde no exercício das atividades com violação culposa de diplomas legais, instruções, princípios deontológicos, conhecimentos técnicos, profissionais ou regras gerais, que causem danos para a saúde dos utentes, o que é imputável às instituições ou pessoal médico".
 
O regime jurídico de tratamento de litígios decorrentes de erro médico não prevê sanções para o pessoal médico ou as respetivas instituições envolvidas, mas a aplicação do Código Civil ou Penal, consoante as situações.
 
O diploma estabelece regras nomeadamente para o registo, gestão e conservação do processo clínico, em que são registados os tratamentos dos utentes e que terão de ser conservados por um mínimo de dez anos a partir do registo das últimas informações, determinando que os "utentes possam aceder e requerer" o mesmo.
 
Multas estão previstas para quem violar as regras neste âmbito, bem como sanções penais para "atos de falsificação e danificação do processo clínico", disse Leong Heng Teng.
 
Os prestadores de cuidados de saúde que tenham conhecimento da ocorrência de erro médico ou suspeitem da mesma estão obrigados a notificar em 24 horas os Serviços de Saúde, que informarão o utente da situação se houver fortes indícios de erro médico para que se possa defender.
 
O diploma propõe a criação de uma Comissão de Perícia do Erro Médico, formada por sete profissionais, com o poder de "investigação e perícia técnica independente para a verificação do erro médico" a pedido dos utentes.
 
Esta comissão terá de elaborar um "relatório pericial que deve indicar a verificação ou não do erro médico", mas "não mencionará sanções", salientou Leong Heng Teng.
 
As conclusões da investigação servem de referência para a resolução dos litígios decorrentes do erro médico, sem prejuízo do recurso a outros meios.
 
Com o relatório desta Comissão, os utentes poderão recorrer ao Centro de Mediação de Litígios Médicos, previsto também pelo diploma para que seja definida uma indemnização, mas, caso a mediação não tenha sucesso, as partes poderão recorrer a outros meios, nomeadamente a ação judicial, concluiu o porta-voz do Conselho Executivo.
 
PNE // MLL - Lusa
 

Campeão nacional de culturismo timorense participa em campeonato na Austrália

 

18 de Outubro de 2013, 15:03
 
O campeão nacional de culturismo em Timor-Leste, Isaac Alfredo, 28 anos participa este domingo num campeonato da modalidade em Adelaide, Austrália, de qualificação para o mundial, que vai decorrer nos Estados Unidos.
 
"Isaac é um atleta extremamente talentoso e quer mostrar que Timor-Leste merecer um lugar no campeonato mundial de culturismo", disse, em comunicado divulgado à imprensa, o treinador, Carlos Brito.

Na competição da Federação Mundial de Culturismo Natural vão participar atletas australianos e de outros países da região.

O culturismo natural não inclui a utilização de complementos hormonais para aumento de desempenho e nos últimos anos tem ganho grande popularidade.

Esta é a primeira vez que um atleta timorense participa na competição.

Isaac Alfredo, que venceu em julho pelo segundo ano consecutivo o campeonato timorense, vai concorrer na categoria de 79-86 quilogramas e no masters.

O treinador do atleta, Carlos Brito, que o acompanhou na viagem a Austrália, referiu Isaac Alfredo treinou para conseguir um terceiro lugar no masters e um quinto na categoria de peso.

A deslocação do atleta foi apoiada pela secretária de Estado da Juventude e Desporto timorense, acrescenta o comunicado.

Sapo TL - Lusa
 

Missão empresarial da AEP à Indonésia termina com "boas perspetivas" de negócio

 


Jacarta, 18 de out (Lusa) - A primeira missão empresarial da Associação Empresarial de Portugal (AEP) à Indonésia, de cinco dias, terminou hoje com "boas perspetivas" de negócio para as empresas portuguesas, destacou a responsável pela área internacional da associação.
 
"De uma forma genérica, todas as empresas tiveram bons contactos de negócios. Há boas perspetivas", disse à Lusa Maria Helena Ramos, que quer organizar outra visita ao país em 2014, porque "há mercado para vários setores".
 
Apesar de a Indonésia ser "um país de marcas", a representante da AEP destacou que os empresários indonésios estão "muito recetivos a contactos e a novos produtos", existindo várias oportunidades, sobretudo na construção.
 
Ramiro Tavares, diretor comercial da Amorim Cork Composites, realçou que a Indonésia é um mercado onde é imperativo estar, porque "tem um crescimento acima dos 5%" e uma "classe média a crescer anualmente acima de seis milhões de pessoas, o que não é normal hoje no mundo".
 
A empresa, que tem 552 trabalhadores e está presente em 84 países, termina a visita com "resultados promissores, mas exploratórios", sobretudo na construção, sendo agora necessário "ajustar alguns produtos às necessidades do mercado", segundo o representante.
 
Pedro Luís, diretor-geral da Alexandrino Pais Leitão, empresa de mármore e granito, que exporta para o centro da Europa, Médio Oriente, América do Norte, Angola e Moçambique, encontrou um dos mercados "mais maduros" na sua área de atuação, "se calhar mais do que o mercado da América do Norte a nível de produto", e conhecedor da oferta portuguesa.
 
O responsável da empresa de Pero Pinheiro, com um volume de negócios entre seis a sete milhões de euros, notou que os empresários pareceram interessados no seu produto, mas frisou que os indonésios são conhecidos como "os brasileiros da Ásia", ou seja, embora à partida mostrem abertura, muitas vezes esse interesse inicial não tem seguimento.
 
Daniel Pinho, gestor de área da Vicaima, uma empresa de Vale de Cambra que produz cerca de 1,5 milhões de portas por ano e que está presente em 27 países, deixa a Indonésia "muito otimista" e "espantado" com o mercado, sobretudo na área da hotelaria.
 
"Estamos bem referenciados. Tive oportunidade de falar com cadeias hoteleiras, que é a nossa especialidade, e penso que correu bem", referiu Daniel Pinho, apesar de reconhecer que é necessário instruir os indonésios quanto ao gosto pelo 'design' e à aposta na qualidade em detrimento do preço, bem como uma adequação do produto ao mercado.
 
A Luís Amorim Unipessoal, uma empresa sediada na Senhora da Hora que conta com 15 trabalhadores e um volume de negócios de cerca de dois milhões de euros, veio à Indonésia à procura de negócios na instalação de energia e encontrou um "nicho interessante" na área dos painéis solares fotovoltaicos, segundo o proprietário.
 
Após cinco dias de contactos, Luís Amorim concluiu que os empresários indonésios querem sobretudo investidores e que a economia "depende muito das 'commodities'", como o óleo de palma, sendo por isso encarada como "um gigante com pés de barro", para além de apresentar problemas estruturais, como a burocracia e a corrupção.
 
A missão, na qual participam também a Cifial e a Topázio - esta última viaja mais tarde -, foi organizada em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Indonésia e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e teve apoios do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
 
ANYN // VC - Lusa
 

QUEM SÃO OS TERRORISTAS?

 


Renan Cavalcante Eugenio, São Paulo – Opera Mundi
 
Independentemente das características, atos de governos nunca são taxados de terroristas
 
Desde os ataques às torres gêmeas e outros locais dentro dos Estados Unidos, em 2001, a palavra terrorista se tornou frequente na mídia. De lá para cá, a paranoia coletiva de novos atentados fez com que o termo surgisse em veículos de imprensa em toda tragédia não natural. O problema é que muitas das vezes o termo acaba sendo usado de forma incorreta. Mas quem é terrorista? E o que essa palavra realmente significa?

De acordo com o segundo verbete do dicionário Houaiss define terrorismo da seguinte forma:  “Emprego sistemático da violência para fins políticos, especialmente a prática de atentados e destruições por grupos cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder; terror”.

Nem todos veem as coisas da mesma maneira que o Houaiss. O linguista, filósofo e ativista político Noam Chomsky vê a utilização do terror como forma política e, também, como uma arma do imperialismo. Para ele, os Estados Unidos são um estado líder em terrorismo, tendo cometido atentados em diversas partes do mundo para manter seus interesses políticos e econômicos. Ele cita os ataques ocorrido em 1998 às instalações farmacêuticas da empresa Al-Shifa, no Sudão, como sendo um dos exemplos de terrorismo de estado.

Chosmky também fala sobre o uso propagandístico do termo. Os estados o utilizam para taxar seus inimigos. Os nazistas chamavam os partisans, membros da resistência, de terroristas e empregavam táticas de contraterrorismo para acabar com suas atividades em toda a Europa. Hoje diversos grupos ganham tal denominação apenas por se oporem a alguns governos.

Na mídia a utilização do termo também é envolto em questões filosóficas e políticas. O editor de mundo da Folha de S. Paulo, Fábio Zanini, explica que o uso consensual do termo nos jornais é: o ataque de um ente não estatal contra uma população civil por motivo político. Mas ele ressalta que muitas injustiças são cometidas por isso. “Se um exército fizer a mesma coisa, não é terrorismo”, afirma. E exemplifica, “quando os palestinos atacam Israel, é terrorismo. Quando Israel ataca crianças na faixa de gaza, não é terrorismo”.

Com várias definições para a mesma palavra, o certo é que o terrorismo, independente da motivação, sempre atinge a vida de milhares pessoas inocentes.
 
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NOVO JOGO, NOVA OBSESSÃO, NOVO INIMIGO – AGORA É A CHINA

 

John Pilger
 
Países são "peças num jogo de xadrez sobre o qual está a ser efectuado um grande jogo para a dominação do mundo", escreveu Lord Curzon, vice-rei da Índia, em 1898. Nada mudou. O massacre no centro comercial em Nairobi foi uma fachada sangrenta por trás da qual uma invasão em grande escala da África e uma guerra na Ásia constituem o grande jogo.

Os assassinos do centro comercial al-Shabaab vieram da Somália. Se algum país é uma metáfora, este é a Somália. Partilhando uma língua e religião comuns, os somalis foram divididos entre os britânicos, franceses, italianos e etíopes. Dezenas de milhares de pessoas foram passadas de uma potência para outra. "Quando se faz com que se odeiem entre si", escreveu um responsável colonial britânico, "a boa governação está assegurada".

Hoje, a Somália é um parque temático (theme park) de divisões artificiais brutais, um país há muito empobrecido pelos programas de "ajustamento estrutural" do Banco Mundial e FMI e saturado de armas modernas, nomeadamente aquela da preferência pessoal do presidente Obama: o drone. O único governo estável somali, o dos Tribunais Islâmicos, era "bem aceite pelo povo nas áreas que controlava", relata o US Congressional Research Service, "[mas] recebia cobertura negativa da imprensa, especialmente no Ocidente". Obama esmagou-o e, em Janeiro, Hillary Clinton, então secretária de Estado, apresentou o seu homem ao mundo. "A Somália permanecerá grata pelo apoio resoluto do governo dos Estados Unidos", rejubilou-se o presidente Hassan Mohamud, "obrigado América".

A atrocidade do centro comercial foi uma resposta a isto – assim como o ataque às Torres Gémeas e as bombas de Londres foram reacções explícitas à invasão e injustiça
[NR] . Outrora de pouca importância, agora o jihadismo marcha em uníssono com o retorno do imperialismo descarado.

Desde que em 2011 a NATO reduziu a Líbia moderna a um estado hobbesiano, os últimos obstáculos para [o avanço sobre] a África caíram. "Disputas por energia, minerais e terra fértil provavelmente ocorrerão com intensidade crescente", relatam planeadores do Ministério da Defesa. Eles prevêem "números elevados de baixas civis", portanto "percepções de legitimidade moral serão importantes para o êxito". Sensível ao problema de RP de invadir um continente, o mamute das armas, a BAE Systems, juntamente com o Barclay Capital e a BP advertem que "o governo deveria definir sua missão internacional como administradores de risco em nome dos cidadãos britânicos". O cinismo é letal. Governos britânicos são reiteradamente advertidos, nada menos que pelo comité de inteligência e segurança parlamentar, que aventuras estrangeiras chamam por retaliações em casa.
 
Com o mínimo de interesse dos media, o US African Command (Africom) instalou tropas em 35 países africanos, estabelecendo uma rede familiar de pedintes autoritários ansiosos por subornos e armamentos. Em jogo de guerra, uma doutrina "soldado por soldado" embebe oficiais dos EUA em todos os níveis de comando, desde o general até o primeiro-sargento. Os britânicos fizeram o mesmo na Índia. É como se a orgulhosa história de libertação da África, desde Patrice Lumumba até Nelson Mandela, fosse remetida ao esquecimento pelos mestres de uma nova elite colonial negra cuja "missão histórica", advertiu Frantz Fanon meio século atrás, é a subjugação do seu próprio povo para a causa de "um capitalismo desenfreado embora camuflado". A referência também é adequada ao Filho da África na Casa Branca.

Para Obama, há uma causa mais premente – a China. A África é a história de êxito da China. Onde os americanos trazem drones, os chineses constroem estradas, pontes e barragens. O que os chineses querem é recursos, especialmente combustíveis fósseis. O bombardeamento da Líbia pela NATO expulsou 30 mil trabalhadores chineses da indústria petrolífera. Mais do que o jihadismo ou o Irão, a China é agora a obsessão de Washington na África e para além dela. Isto é uma "política" como o "eixo para a Ásia", cuja ameaça de guerra mundial pode ser tão grande como qualquer outra na era moderna.

A reunião desta semana em Tóquio do secretário de Estado John Kerry e o secretário da Defesa Chuck Hagel com os seus homólogos japoneses acelerou a perspectiva de guerra com o novo rival imperial. Sessenta por cento das forças navais dos EUA estão para serem baseadas na Ásia em 2020, tendo a China como objectivo. O Japão está a rearmar-se rapidamente sob o governo de direita do primeiro-ministro Shinzo Abe, que chegou ao poder em Dezembro com uma promessa de construir uma "nova e forte força militar" e contornar a "constituição pacífica". Um sistema de mísseis anti-balísticos dos EUA e Japão, próximo de Quioto, é dirigido à China. Utilizando drones Global Hawk de longo alcance, os EUA aumentaram drasticamente suas provocações nos mares a Leste e ao Sul da China, onde Japão e China disputam a propriedade das ilhas Senkaku/Diaoyu. Aviões avançados de descolagem vertical agora estão instalados no Japão; o seu propósito é a guerra relâmpago (blitzkrieg).

Na ilha de Guam, no Pacífico, a partir da qual os B-52s atacavam o Vietname, a maior acumulação militar desde as guerras da Indochina inclui 9.000 Fuzileiros Navais dos EUA. Na Austrália esta semana, uma feira de armas e um festival (jamboree) militar que divertiu grande parte de Sidney, está em consonância com uma campanha de propaganda do governo para justificar uma acumulação militar sem precedentes desde Perth até Darwin, destinada à China. A vasta base estado-unidense em Pine Gap, próxima de Alice Springs, é, como revelou Edward Snowden, um centro de espionagem dos EUA na região e para além dela; e também crítico para os assassinatos de Obama à escala mundial através de drones.

"Temos de informar os britânicos para mantê-los do nosso lado", disse certa vez um secretário de Estado assistente dos EUA, McGeorge Bundy, [ao passo que] "vocês na Austrália estão connosco, aconteça o que acontecer". Forças australianas desde há muito desempenham um papel mercenário para Washington. Contudo, há uma dificuldade. A China é a maior parceira comercial da Austrália e em grande parte foi graças a ela que a Austrália escapou à recessão de 2008. Sem a China, não haveria boom de minérios: nenhum rendimento mineiro de mais de mil milhões de dólares por semana.

Os perigos que isto apresenta raramente são debatidos em público na Austrália, onde o patrão do primeiro-ministro Tony Abbott, Rupert Murdoch, controla 70 por cento da imprensa. Ocasionalmente, manifesta-se ansiedade sobre a "opção" que os EUA querem que a Austrália faça. Um relatório do Australian Strategic Policy Institute adverte que quaisquer planos dos EUA para atacar a China envolveriam "cegar" a vigilância chinesa, seus sistemas de inteligência e comando. Isto "consequentemente aumentaria as possibilidade de antecipação nuclear chinesa... e uma série de erros de cálculo de ambos os lados se Pequim perceber ataques convencionais à sua terra natal como uma tentativa de desarmar sua capacidade nuclear".

No seu discurso ao país do mês passado, Obama disse: "O que torna a América diferente, o que nos torna excepcionais, é que nos dedicamos a actuar".
 
[NR] É altamente contestável que o ataque do 11/Set tenha sido uma reacção à "invasão e injustiça". Este ataque pode ser comparado com o incêndio do Reichstag (ateado por ordem de Göring em 1933 a fim de culpar os comunistas e justificar as medidas nazis de excepção que se seguiram). Sobre o 11/Set ver por exemplo Another Nineteen: Investigating Legitimate 9/11 Suspects , de Kevin Robert Ryan, 2013, Microbloom, 418p., ISBN 978-1489507839.

O original encontra-se em
johnpilger.com/articles/old-game-new-obsession-new-enemy-now-its-china

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/ .
 

OS NÁUFRAGOS AFRICANOS E O NAUFRÁGIO MORAL DA EUROPA

 

Eduardo Febbro - Carta Maior
 
Paris - As máscaras do bem caem como maquiagem escorrida pela chuva. Atrás delas aparece o horripilante rosto de uma verdade oculta no papel presente de uma larga cultura declamatória. A União Europeia semeia seus valores com a palavra, mas os nega com os fatos. A realidade não resiste muito: segundo cifras da ONU, 1.500 pessoas morrem por ano no Mediterrâneo, em sua maioria nas costas do Norte da África. Cerca de 20 mil morreram tragadas pelo mar nas últimas duas décadas, cerca de 400 nos últimos 15 dias.

Há uma semana, os ministros do Interior da União Europeia foram incapazes de oferecer tanto uma estratégia como uma resposta humana comum ao drama cotidiano das milhares de pessoas que se lançam ao mar em barcos improvisados com destino às costas de Malta ou da Itália. Inação, racismo galopante, terror à palavra “imigração”, desacordos entre os Estados que compõem a União Europeia, miséria dos países africanos de onde fogem os imigrantes em busca de um destino melhor: tudo concorre para fazer do Mediterrâneo o que o presidente de Malta, Joseph Muscat, chamou de “cemitério”.

Os ditadores da África que antes massacravam seus povos ao mesmo tempo que garantiam ao Velho Continente um controle férreo das fronteiras foram desaparecendo sob o impulso da chamada “primavera árabe” que floresceu na Tunísia em 2011 e se propagou pelo Egito, Síria, Líbia e Jordânia. Muitos lamentam esse desaparecimento. O senador de direita, Philippe Marini, presidente da Comissão de Finanças do Senado francês, escreveu no Twitter: “a afluência de refugiados africanos em Lampedusa e logo na França me faz lamentar a desaparição do regime de Muamar Kadafi”. O grande democrata prefere a segurança fronteiriça garantida por proto-ditadores. As costas líbias são, de fato, o ponto mais intrincado. Por ali passa uma grande parte dos candidatos à imigração proveniente dos países do Chifre da África, que é uma das regiões mais pobres do mundo, Trata-se de Somália, Djibouti, Eritreia e Etiópia.

Para o cúmulo dos males, do mesmo modo que ocorre com os centro-americanos que passam através do México para chegar aos Estados Unidos, muitos caem nas garras de redes de traficantes. Há uma rede mafiosa na Líbia que, a partir de Tripoli, organiza a viagem para Lampedusa em troca de aproximadamente 1.200 euros. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, cerca de 32 mil pessoas chegaram às costas italianas e de Malta este ano. Se o ritmo se mantiver.

A afluência pode igualar ou superar inclusive a de 2012. A Frontex, agência europeia encarregada da cooperação fronteiriça, calcula que cerca de 73 mil pessoas chegaram às fronteiras da União Europeia em 2012.

“Essa situação não pode continuar assim”, disse o presidente do Conselho Italiano, Enrico Letta. No entanto, tudo segue igual, os dramas se acumulam e aqueles que se encontram em perigo em alto mar sequer podem contar plenamente com a solidariedade dos pesqueiros. Não porque lhes falte vontade, mas sim porque existe na Itália uma lei que penaliza quem socorre, ajuda ou encobre estrangeiros ilegais. Dar uma mão a um semelhante é um delito. A Europa naufraga com os náufragos africanos. A União Europeia não tem um plano, nem critérios comuns. A única coisa que tira da manga são medidas de repressão preventivas que consistem em afastar os migrantes. Cecilia Malmström, a comissária europeia encarregada da Segurança, disse semana passada que os membros da UE “devem se mostrar solidários com os migrantes e com os países que enfrentam fluxos migratórios crescentes”.

Por enquanto, nenhuma das duas coisas está acontecendo. A Europa conta com um dispositivo que só entrará em vigor no mês de dezembro. Trata-se do sistema Eurosul, uma rede cuja única utilidade consiste em compartilhar informações de satélites em tempo real sobre a situação nas fronteiras exteriores. Em resumo, uma espécie de polícia comunitária. O outro organismo dedicado à gestão da cooperação nas fronteiras exteriores da União Europeia, Frontex, viu seu orçamento cair de 118 milhões de euros para 85 milhões. Nos dias 24 e 25 de outubro, haverá uma reunião do Conselho europeu para discutir a questão. Thierry Repentin, o ministro francês de Assuntos Europeus, adiantou que Paris proporá nesta reunião “meios financeiros e técnicos” porque “não se pode deixar que homens e mulheres morram no mar sem uma resposta coletiva”.

As linhas, no entanto, não se moveram, ou seja, não haverá uma ação conjunta de envergadura. O princípio europeu segundo o qual o primeiro país onde chega o migrante deve decidir sobre sua demanda de asilo e cuidar dele não mudará, mesmo sob o peso do drama que vem sacudindo Lampedusa e Malta. Não há nenhum dirigente corajoso que coloque o tema migratório sobre a mesa de maneira realista e coletiva. O avanço que não para das forças de extrema direita paralisa os dirigentes políticos do Velho Continente. Os líderes políticos de esquerda e de direita mesclam sutilmente as ideias dos “populistas” – como são chamados os fascistas hoje na Europa – até confundir voluntariamente a imigração com a delinquência e o desemprego, e a livre circulação das pessoas com o aumento dos fluxos migratórios.

O último achado da Itália se chama “Mare Nostrum”. É o nome da operação “militar-humanitária” lançada pelo governo: quatro barcos, helicópteros e drones vão controlar os fluxos migratórios no Mediterrâneo, ou seja, devolver os migrantes a seu inferno de origem. Aqueles que arriscam suas vidas para atravessar o Mediterrâneo reforçam os fantasmas dos cidadãos europeus, obcecados com isso que o antropólogo e diretor do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, Marc Agier, chama de “o estrangeiro abstrato”: figura que concentra todos os medos e menosprezos, culpas e cargas tóxicas, o racismo comum de cada dia, a xenofobia dos “populistas” e dos próprios estados que levaram décadas elaborando uma espécie de estrangeiro responsável idealizado, culpado pelo desemprego, pela delinquência, pela perda de valores, pela crise econômica e deterioração da nação.

Suas multinacionais, seus subsídios agrícolas e protecionismos continuam, porém, explorando o planeta com a mesma indiferença com que, nas belas águas do Mediterrâneo, morrem todas as semanas dezenas de pessoas que se lançam ao mar cheias de esperança para terminar no patíbulo ou no fundo do mar. Náufragos da miséria abandonados pelos mesmos países que os colonizaram ou que, durante décadas e décadas, pactuaram e colaboraram com regimes desumanos, corruptos e assassinos de seus próprios povos.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

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Portugal: O CONTÍNUO CICLO DO LIXO IRREVOGÁVEL

 

Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
 
Dizer que isto não é um novo pacote de austeridade é chamar imbecil ao povo inteiro
 
Portas cobriu-se de ridículo na conferência de imprensa da sétima e oitava avaliações da troika - em que afirmou aos portugueses que não havia novo pacote de austeridade. Passos Coelho fez o mesmo na sessão na RTP. A apresentação do Orçamento do Estado deveria cobrir os dois de vergonha.
 
Afinal ainda havia quem acreditasse que com Portas aos comandos das negociações com a troika os colonizadores iriam ser convenientemente enfrentados e que, juntos, Portas e António Pires de Lima seriam o rosto de um alegado "novo ciclo" que chegaria no fim do arco-íris. Se a palavra de Paulo Portas não vale um avo neste momento, o partido dos pensionistas faleceu. Pires de Lima é mais elegante que Álvaro Santos Pereira e Paulo Portas tem mais capacidades comunicativas que Vítor Gaspar. As diferenças esgotam-se aqui, no meio do lixo, da depressão e da caminhada para o abismo.
 
O Orçamento do Estado é um documento vergonhoso, que privilegia os grandes interesses - a banca e as eléctricas - em detrimentos dos pobres e remediados, que são todos os funcionários públicos com um salário de 600 euros brutos. Um Orçamento que aumenta os gastos de funcionamento do próprio governo em níveis vergonhosos (os gabinetes vão gastar mais 3,3 milhões de euros que em 2012, época em que o primeiro-ministro anunciava que a austeridade começava dentro de portas), enquanto aniquila as pensões de reforma daqueles que nasceram noutros anos de chumbo e se esforçaram por nos entregar um país mais decente - e que agora sustentam os filhos desempregados por causa de uma política económica cega que trava o crescimento, a procura interna e a criação de emprego.
 
O que está em curso é o desmantelamento do país tal como o conhecemos, a reboque de uma experimentação económica comandada por pessoas que não elegemos (embora boa parte do governo em funções se identifique com o estoiro, na certeza de que do alto dos seus cargos e futuros cargos em grandes empresas nunca terão de se confrontar com as dificuldades do cidadão comum.
 
Já se sabia que o "novo ciclo" era uma mentira porque havia um compromisso prévio de corte de 4 mil milhões de euros. Mas quem falou do novo ciclo não foram os funcionários públicos, foram os partidos do governo, dolosamente. Dizer, como Portas e Passos Coelho, que isto "não é um novo pacote de austeridade", é chamar imbecil a um povo inteiro.
 
 

Portugal: SLN E AS DISSIMULAÇÕES DE CAVACO

 

Daniel Oliveira – Expresso, opinião
 
Em reação às acusações de Mário Soares sobre a ligação de Cavaco Silva ao BPN, o Presidente disse: "Devia saber que esclareci, em devido tempo, que nunca tive qualquer relação com o BPN ou com as suas empresas, a não ser a de depositante para aplicação de poupanças, quando era professor universitário. Esqueceu mesmo o esclarecimento que, pessoalmente, lhe foi prestado".
 
O que esclareceu nessa altura Cavaco Silva: "nunca exercera qualquer tipo de função no BPN ou em qualquer das suas empresas, nunca recebera qualquer remuneração do BPN ou de qualquer das suas empresas, nunca comprara ou vendera nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas e que nunca contraira qualquer empréstimo junto do BPN". Cavaco usa o mesmo truque de Rui Machete: fala de comprar e vender coisas ao BPN, quando se sabe que as ações do BPN eram detidas, na sua totalidade, pela SLN. E que era à SLN que ele podia comprar ou vender seja o que for. E comprou. E vendeu. Está, portanto, a brincar com as palavras.
 
A 17 de Novembro Cavaco Silva e a filha, em cartas dirigidas a Oliveira Costa, separadas e no mesmo dia, deram ordem de venda das suas ações da SLN. Ações que foram compradas em 2001 por um euro e vendidas em 2003 por 2,4 euros. Cavaco Silva teve sorte, por elas valorizarem? Não propriamente, já que não estavam cotadas em bolsa. Foi Oliveira Costa que decidiu que seria este o lucro para o seu ex-primeiro-ministro: 147,5 mil euros. Já Patrícia, sua filha, com mais ações, lucrou 209,4 mil euros. Quem comprou as ações foi a própria SLN Valor, maior detentora da SLN.
 
Isto prova que Cavaco Silva teve responsabilidades no que aconteceu no banco onde se concentravam tantos ex-colegas de governo? Não. Nem sequer prova que Cavaco não estava, como afirmou várias vezes, a leste do que os seus amigos andavam a fazer. Pode mesmo ser muito distraído. Prova apenas uma coisa: que Cavaco Silva está a jogar com as palavras quando diz que nunca teve qualquer relação com o BPN ou com as suas empresas, a não ser como depositante. A frase é formalmente correta (a sua relação era com a SLN). Mas essa correção formal é irrelevante para o que está em causa.
 
Na campanha eleitoral isto foi assunto. Cavaco atirou para canto e a comunicação social, que nunca o incomoda muito, não aprofundou mais. Agora o tema volta, por causa de declarações de Mário Soares, e Cavaco repete a estratégia: ser suficientemente lacónico, remeter para esclarecimentos passados que nada esclarecem e esperar que passe.
 
Dirão que a compra e venda de ações da SLN nada diz sobre as relações de Cavaco com o gang do BPN. Não é bem assim. Não estando cotadas em bolsa, as ações da SLN só podiam ser compradas por convite. Cavaco nunca esclareceu se esse convite veio de Oliveira Costa, Dias Loureiro ou outro responsável pela sociedade. Sim, apesar de ser improvável, pode ter sido um gestor de conta do BPN a sugerir a compra das ações da SLN, sem qualquer intervenção do ex-primeiro-ministro, ex-colega e amigo de algumas das principais figuras da SLN. As dele e as da filha. Mas muito dificilmente o poderia fazer sem a sua autorização expressa. Uma coisa é certa: o valor da compra e o valor da venda destas ações (e o dinheiro que rendeu) foi decidido pelo próprio Oliveira Costa. E tudo indica que terá havido favorecimento no preço de entrada, já que estava subavaliado face aos preços que então se praticavam por ação - o aumento de capital tinha sido subscrito a €2,2, mais do dobro do que custou cada ação ao Presidente da República.
 
Até hoje, tirando umas frases formalmente certas mas factualmente irrelevantes, Cavaco Silva nunca esclareceu todas as questões que se levantam com o lucro inusitado que conseguiu com a compra e a venda de ações da SLN, cujos preços foram decididos pelo seu ex-secretário de Estado. Tendo em conta o que aconteceu com a SLN e o BPN e as fortes ligações políticas do Presidente da República a vários dos implicados, seria importante que o fizesse. Pode continuar a fingir que não se passa nada e continuar a confiar na suavidade da comunicação social. O que não pode é dizer que esclareceu tudo.
 
O assunto só continua a ser assunto porque Cavaco Silva se julga acima do escrutínio público, exigido a qualquer detentor de cargos públicos, e, por maioria de razão, ao chefe de Estado. Julga que basta dizer que "é preciso nascer duas vezes para ser mais honesto do que ele" para que mais nada tenha de ser explicado. Pouco interessa o que Cavaco Silva acha sobre a sua própria honestidade. Interessa apenas que não continue a enganar os portugueses sobre a verdadeira natureza da sua relação com a SLN/BPN (foi acionista e teve um lucro difícil de explicar) e não continue a achar que não deve dar esclarecimentos a ninguém.
 
As declarações de Mário Soares terão sido demasiado violentas ou menos felizes? Talvez, mas isso é o menos importante. Nem Mário Soares é o Presidente da República em exercício, nem as suas frases mais ou menos felizes custaram milhares de milhões de euros aos portugueses. Venham então, finalmente, a explicações completas de Cavaco Silva. Desta vez, sem jogos de palavras e autoelogios.
 
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