sábado, 14 de setembro de 2013

Portugal: Vasco Lourenço inconformado com país dirigido "por corruptos e por aldrabões"

 
 
 
Lisboa, 14 set (Lusa) - Vasco Lourenço, um dos intervenientes da revolução de abril de 1974, afirmou hoje, num encontro de militares em Alcáçovas (Évora), estar inconformado com um "país sequestrado pelo medo" e dirigido "por corruptos, por aldrabões, por pessoas sem ética nem moral".
 
Num encontro em Monte Sobral, Alcáçovas, para assinalar os 40 anos da fundação do Movimento dos Capitães, Vasco Lourenço elogiou a revolução dos cravos, que pôs termo à ditadura, mas admitiu que não se aproveitou o 25 de Abril para construir "um país melhor do que o que hoje" existe.
 
O militar disse estar inconformado por Portugal se ter tornado "num protetorado de forças estrangeiras" [numa alusão à 'troika'] e estar a ser dirigido por pessoas que "tudo espezinham para manterem lugar à mesa dos poderosos".
 
Lusa
 

Portugal: MOBILIDADE DESCENDENTE

 


Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião
 
Nunca as palavras igualdade e equidade foram utilizadas de forma tão manipulada e subvertida. Não há medida do Governo que vise cortar nos salários, nas pensões de reforma, nos subsídios de desemprego, nas mais diversas prestações sociais, nas condições de emprego, no acesso à saúde ou ao ensino, nos mais variados direitos das pessoas, que não seja embrulhada em pretensos objetivos de "igualdade" e "equidade".
 
A cada dia, descemos um degrau no patamar do desenvolvimento da sociedade portuguesa - é o caminho para uma "equidade" sustentada na injustiça e na pobreza. Como repetidamente digo, estamos a construir uma harmonização no retrocesso.
 
A democratização da sociedade, o progresso social, o desenvolvimento mais harmonioso e humano que se conseguiu construir em Portugal tomaram, como em qualquer outro país, as políticas do trabalho e do emprego, da saúde, da educação e formação, da segurança e proteção social, da igualdade nas suas múltiplas expressões, da criação e sustentação de infraestruturas de base e da prestação de serviços essenciais, como políticas que devem assegurar condições de mobilidade social. Esta mobilidade procura assegurar a grandes massas de indivíduos a passagem a um patamar um pouco melhor na escala social e propiciar, a toda a sociedade, avanços com sentido progressista.
 
Ora, as receitas do Governo e da troika que o comanda têm assentado na identificação de diferenças entre as condições das pessoas - excluindo os detentores de efetivo poder e riqueza - para se definir o menor denominador comum. Trata-se de um nivelar por baixo, produzindo uma mobilidade descendente. A maioria empobrece em nome da igualdade e da equidade, mas uns quantos ficam cada vez mais ricos.
 
Arrepia qualquer português minimamente informado ouvir, ver e ler, nos últimos dias, as milhares de repetições da palavra "convergência", a propósito do corte injusto e ilegal (porque de absoluta unilateralidade e contra a legitimidade democrática) que o Governo quer aplicar aos futuros e atuais pensionistas da Caixa Geral de Aposentações.
 
A estes reformados, em dois anos, é diminuído o valor das pensões, de forma direta, entre 13,5% e 20%, se contarmos com a "Contribuição Extraordinária de Solidariedade" que já é aplicada este ano e que o ministro Poiares Maduro considera se manterá, "em princípio", no futuro.
 
A estes cortes associam-se mecanismos de degradação do valor futuro das pensões. Tudo apresentado como atos de justiça e de convergência. A favor de quem?
 
Quando analisamos o setor do ensino, observamos que o abaixamento das condições de vida das pessoas, o desemprego, a redução dos salários e das pensões, a emigração, o encerramento de empresas, fizeram desaparecer, sem deixar rasto, muitos milhares de potenciais alunos para as nossas escolas. Agora, qualquer cidadão menos atento aplaude a ideia de que se há menos alunos, não é preciso contratar professores.
 
Entretanto, os professores foram sendo estigmatizados como privilegiados e pouco ocupados. E os fazedores de opinião de serviço não se cansaram de zurzir na escola pública. Criaram-se assim condições para constituir turmas enormes, acabar com disciplinas "sem utilidade", com apoios ao estudo e ao funcionamento estabilizado das escolas e para lançar essa medida de retrocesso conceptual do sistema de ensino que é o cheque-ensino.
 
É uma burla afirmar que se vai assegurar às famílias a igualdade e a liberdade de escolha de escola para os seus filhos. A liberdade afirmada sem reconhecimento das diferenças em que os cidadãos - neste caso, as crianças e as suas famílias - se encontram, oprime, não liberta.
 
A uma escola privada pode dar jeito ter alguns poucos casos de alunos carenciados para publicidade, mas as "leis do mercado" por que se rege, o objetivo do lucro, jamais lhe permitem ser uma escola de qualidade para todos.
 
O que está em curso no nosso país é um programa violento de austeridade associado a um processo de privatização de tudo o que possa dar lucro, de liberalização, de transformação profunda do país debaixo de uma conceção ideológica que põe em causa o Estado de direito democrático e nos fará regredir.
 

Portugal: DESEMPREGO SOBE 3,2% FACE A AGOSTO DE 2012

 


Os 695.065 desempregados registados em agosto correspondem a 79,1% do total de 879.113 pessoas que se inscreveram para pedir emprego.
 
O número de desempregados inscritos nos centros de emprego em agosto era de 695.065, o que representa um aumento de 3,2% em termos homólogos e de 1% face a julho, divulgou o Instituto de Emprego e Formação Profissional.
 
De acordo com a informação mensal do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), o total de desempregados registados nos centros de emprego no final de agosto aumentou 21.644 em relação ao mesmo mês do ano passado e aumentou 6.966 em relação ao mês de julho deste ano.
 
Os 695.065 desempregados registados em agosto correspondem a 79,1% do total de 879.113 pessoas que se inscreveram para pedir emprego.
 
A subida do desemprego em termos homólogos foi generalizada a todas as regiões, com exceção do Algarve, onde se registou uma redução de 6,9%.
 
O “fim de trabalho não permanente” foi o principal motivo para a inscrição nos centros de emprego, representando cerca de 41% do total de desemprego em agosto.
 
O motivo "despedido" foi a segunda causa, representando 13% do total de desempregados.
 
Em agosto, os desempregados de longa duração (inscritos há mais de um ano) aumentaram 23,6% em relação ao mesmo mês de 2012, enquanto os desempregados inscritos há menos de um ano decresceram 9,6%.
 
Lusa
 

Angola: Eduardo dos Santos responde com promessas a preocupações dos jovens

 


O Presidente angolano José Eduardo dos Santos respondeu hoje com promessas às preocupações apresentadas em Luanda no Fórum Nacional da Juventude, em que o desemprego surge como a principal preocupação.
 
A iniciativa, que culminou hoje com a realização do Fórum, em que participaram mais de 3 mil delegados vindos de todo o país e da diáspora, arrancou a 21 de junho passado quando José Eduardo dos Santos recebeu na Cidade Alta, sede da Presidência da República, representantes de 30 organizações juvenis, ligadas a partidos políticos ou a organizações da sociedade civil.
 
O objetivo era, através do diálogo, inventariar os problemas da juventude angolana, setor da população mais afetada pelo desemprego em Angola.
 
No discurso de encerramento dos trabalhos, José Eduardo dos Santos prometeu criar mais centros de formação profissional e mais verbas para investimento público em infraestruturas e investimento privado nos setores produtivo e da prestação de serviços.
 
O objetivo, acentuou, é "criar cada vez mais postos de trabalho".
 
Nesse sentido, acrescentou que os serviços competentes do Estado já receberam orientações para fiscalizarem, "com mais rigor", a aplicação das normas da Lei Geral do Trabalho que protegem o emprego dos cidadãos nacionais, sem esquecer as normas legais que garantem o acesso ao primeiro emprego.
 
"Não é justo que as empresas nacionais ou estrangeiras prefiram dar emprego a cidadãos estrangeiros no nosso país para realizarem trabalhos que os angolanos podem fazer e as vezes apenas mediante alguns cursos de formação profissional", disse.
 
José Eduardo dos Santos considerou que aos quadros recém-formados não se podem exigir experiência profissional como condição para o primeiro emprego.
 
"Têm de ser garantidas as condições de estágio para que esses quadros recém-formados possam ter imediatamente acesso ao primeiro emprego", defendeu.
 
Antes da intervenção de José Eduardo dos Santos, foram apresentadas as conclusões finais e recomendações, que apresentam a falta de emprego e a formação profissional como a principal preocupação saída dos encontros realizados em todo o país e em que participaram mais de 50 mil jovens.
 
Depois da falta de emprego e formação profissional, as outras duas principais preocupações manifestadas têm a ver com a falta de escolas e de qualidade do ensino e a habitação.
 
Neste processo de auscultação dos problemas da juventude, o autodenominado Movimento Revolucionário (MR), que tem chamado a si a organização de manifestações públicas contra o regime e prontamente reprimidas pelas autoridades, recusou-se a participar por não acreditar na iniciativa.
 
Contactado pela Lusa, Gaspar Luamba, do MR, disse não ver "nenhuma razão para participar", porque, adiantou, José Eduardo dos Santos "desconhece os problemas da juventude".
 
Quem participou no encontro de 21 de junho e hoje também esteve presente, mas agora sem intervir, foi Mfuca Muzemba, ex-dirigente da organização juvenil da UNITA, o maior partido da oposição.
 
A 21 de junho, Muzemba foi o mais crítico de todos os intervenientes, questionando diretamente José Eduardo dos Santos sobre o desaparecimento de manifestantes e a repressão policial.
 
Hoje, no início dos trabalhos, disse à Lusa que o Fórum visou "lavar a imagem do governo diante da juventude angolana, porque os problemas já estão mais que identificados".
 
"Temos perto de 80 por cento de jovens que não trabalham e os que trabalham têm salário precário que não chega para pagar nem a escola, nem a renda de casa e muito menos para sobreviver. Estamos a falar de jovens com extremas dificuldades e só por isso é que se justifica a onda crescente de manifestações públicas, no sentido da mudança", concluiu.
 
Lusa
 

PEDRO PIRES ACUSA MILITARES DA GUINÉ-BISSAU DE “TIRANIA E DELINQUÊNCIA”

 


José Pedro Castanheira - Expresso
 
O ex-Presidente de Cabo Verde era, há 40 anos, um dos principais comandantes militares do PAIGC, em nome dos quais falou na proclamação da independência da Guiné-Bissau.

Volvidos 40 anos sobre a proclamação da independência da Guiné Bissau, as suas Forças Armadas transfiguraram-se "em instrumento de tirania e de delinquência". A acusação é feita pelo ex-Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires, que lutou de armas na mão pela independência da Guiné.

Pedro Pires, de 79 anos é um dos mais respeitados dirigentes dos movimentos de libertação, fala com a autoridade reforçada de quem representou as Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP) na cerimónia de proclamação da independência da Guiné-Bissau, no dia 24 de Setembro de 1973.
 
Numa entrevista concedida ao Expresso a propósito dos 40 anos da independência da Guiné-Bissau, Pedro Pires entende que o "objetivo principal" do PAIGC foi alcançado: "as independências das colónias da Guiné-Bissau e de Cabo Verde". Reconhece, no entanto, que "a segunda parte" do projeto - a unidade daqueles dois territórios - "fracassou". Sem nunca mencionar nomes, diz que a segunda dimensão do projeto do PAIGC e do seu líder, Amílcar Cabral, "foi interrompido pelo golpe de Estado que teve lugar na Guiné". Pedro Pires alude ao golpe militar de 14 de Novembro de 1980, em que o Presidente da República Luís Cabral (meio irmão de Amílcar) foi deposto por "Nino" Vieira, que assumiu então a chefia do Estado.
 
O assassinato de Amílcar Cabral e o rapto de Aristides Pereira

Para o antigo primeiro-ministro e Presidente da República de Cabo Verde, que foi um dos principais comandantes da guerrilha do PAIGC na Guiné, "não seria objetivo nem razoável pretender atribuir responsabilidades unicamente a Amílcar Cabral. O insucesso foi, em grande medida, da responsabilidade dos seus sucessores que não souberam construir as condições subjetivas e os mecanismos políticos para a viabilização do projeto".

O projeto de unidade entre a Guiné e Cabo Verde terá começado a ser posto em causa aquando do assassinato do próprio Amílcar Cabral, em Janeiro de 1973. Baleado por um dos seus guarda-costas, a morte do fundador do PAIGC acentuou a enorme tensão existente entre guineenses e cabo-verdianos. "Estou em crer que o assassinato do Amílcar" e o simultâneo "rapto e tortura do Aristides Pereira enfraqueceram, em boa medida, a confiança necessária" entre os dirigentes e militantes do partido.
 
Recusando-se a especular "sobre como faria Amílcar Cabral para garantir a realização do projeto unitário", prefere manifestar uma outra "inquietação", não tanto sobre o passado, mas sobre o presente: "Como foi possível a transfiguração das valorosas FARP em instrumento de tirania e de delinquência?"
 
EUA querem capturar o general António Injai
 
Como se sabe, as Forças Armadas da Guiné têm estado no centro da vida política e económica do país, promovendo sucessivos golpes de Estado pelo menos desde Maio de 1999, quando uma Junta Militar liderada pelo brigadeiro Ansumane Mané tentou depor o Presidente da República, Nino Vieira. Ansumane e Nino foram dois dos muitos militares que, desde então, foram assassinados pelos seus camaradas de armas, quase sempre em circunstância de extrema violência.
 
O atual poder em Bissau resultou de mais um desses golpes de Estado, consumado a 12 de Abril do ano passado. Um dos homens mais poderosos do país, o almirante Bubo Na Tchuto, foi detido em Abril passado em águas internacionais por forças da Agência Antidroga dos EUA (DEA), aguardando-se o início do seu julgamento. Os EUA estão mesmo decididos a capturar o atual Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, general António Injai, considerado o homem-forte do país. Injai é suspeito, tal como o seu camarada da Marinha, Na Tchuto, de tráfico de droga e de armas.

Leia mais em Expresso
 

Brasil: DE DORES E RANCORES

 


A direita, ostensiva ou envergonhada, ataca os médicos cubanos. Os assanhados, do alto de seus bons planos particulares de saúde, tiveram a triste companhia de alguns médicos brasileiros estridentes. Mas a esquerda também comete seus pecadilhos.
 
Jacques Gruman* – Carta Maior
 
O mais duro é conviver com essa dor que não passa nunca (Adriano Amieiro, irmão da engenheira Patrícia Amieiro, que, em 2008, teve seu carro alvejado, caiu no Canal de Marapendi e o corpo desapareceu; PMs acusados do crime aguardam julgamento)

Parecia uma noite comum. Voltava de uma aula de dança de salão, quando uma dorzinha que vinha da barriga e se irradiava pelo tórax começou a incomodar. Vai ver que o almoço não caiu bem, pensei. A dor foi aumentando, até ficar insuportável. Fui para a emergência de uma clínica particular, onde uma jovenzinha mal me perguntou o que estava acontecendo e me deu um antiácido. Diagnóstico cínico, irresponsável. Claro que não adiantou nada. A peregrinação continuou, a dor virando quase uma entidade à parte, que sugava todas as energias. Depois de me internar num dos hospitais de ponta do Rio (nessas horas os cifrões vão p’ra Camarões) e de uma injeção fortíssima, um primeiro alívio. Exames acusaram crise aguda na vesícula. Horas mais tarde, entrei na faca, ou melhor, num aparelhinho futurista, que me fez quatro furinhos e arrancou fora a vesícula estragada. Paraíso. Em pouco mais de 24 horas, meu problema de saúde foi resolvido com técnicas modernas e atendimento competente. O custo, claro, não foi pequeno.

Dores fortes colocam a vida em estado de suspensão. O corpo se transforma, o sofrimento afoga qualquer tipo de iniciativa. Não me refiro apenas às dores físicas. As psíquicas são igualmente devastadoras. Ao se referir às investigações dos militantes que desapareceram durante a ditadura militar brasileira, a psicanalista Maria Rita Kehl, membro da Comissão Nacional da Verdade, comentou que “a morte é um evento tão inaceitável para qualquer um, e a morte violenta ainda mais, que precisamos velar o corpo morto para conseguir acreditar nela. Sem o corpo, fica-se com a sensação que a realidade da morte foi decidida não por quem causou o desaparecimento, mas pelos que desistiram de buscar o desaparecido. Por isso o luto dos familiares é uma ferida que nunca deixa de doer”. É a dor que a família do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, sumido há dois meses, certamente está sentindo. Ela e milhares de outras que tiveram seres queridos arrancados da convivência. Seus corpos jamais aparecerão e os criminosos permanecerão impunes.

Dor não menos intensa do que a das multidões anônimas do Brasil profundo, carentes dos serviços mais elementares. Dor de Maria do Nazaré Batista, que mora no interior do Piauí e precisou ir a duas cidades para ter o diagnóstico de um mal que a mantinha quase paralisada. Está há dois meses na lista de espera por uma cirurgia. Dois meses ! Talvez seja uma felizarda, outros esperarão anos, outros ainda morrerão neste calvário, que, até não faz muito, era completamente ignorado pelos meios de comunicação. Para os incontáveis municípios sem qualquer tipo de assistência médica ou odontológica, “a greve nos serviços de saúde dura bem uns quatro séculos”, ironizou com propriedade o colunista Marcelo Coelho, da Folha de S. Paulo.

Muita gente já opinou sobre o programa Mais Médicos, implementado com boa dose de improviso pelo governo federal. Não vou chover no molhado. O tema é controvertido, exige rigor informativo (e não raro técnico) para se formar opinião. Não é hora, no entanto, de ignorar certos aspectos flagrantes dos últimos acontecimentos. A neutralidade, neste caso, é má conselheira.

Para começar, sou absolutamente solidário à tentativa de se levar um mínimo de assistência médica a 701 municípios para onde nenhum médico brasileiro quis ir. Usar critérios ideológicos, provincianos ou corporativos para criticar esta medida é desconhecer a tragédia dos desassistidos. Como bem disse o doutor Drauzio Varella, “localidades sem eles precisam tê-los, mesmo que não estejam bem preparados. É melhor um médico com formação medíocre, mas boa vontade, do que não ter nenhum ou contar com um daqueles que mal olha na cara dos pacientes”. Repercute, na área da saúde, o que disse o Betinho: “Quem tem fome, tem pressa”. Não faz o menor sentido esperar soluções estruturais para a situação calamitosa da saúde pública, que podem demorar décadas, para, só então, atender os que sofrem, muitas vezes, de doenças já erradicadas com relativa facilidade. Em quantos condomínios da Barra da Tijuca ainda se morre de diarreia?
 
A direita, ostensiva ou envergonhada, ataca os médicos cubanos. Os assanhados, do alto de seus bons planos particulares de saúde, tiveram a triste companhia de alguns médicos brasileiros estridentes, que armaram até corredor polonês para chamar os colegas cubanos de escravos. Para as viúvas da Guerra Fria, basta vir da ilha caribenha para ter a marca de Caim. Os indignados de fancaria “exigem” que os profissionais estrangeiros façam um exame de revalidação do diploma. Claro que o ideal seria que esses que chegam comprovassem a sua competência. A pergunta que faço, montado nas observações do doutor Drauzio, é a seguinte: se não temos uma lei que obrigue os médicos brasileiros a prestar exames que comprovem seu preparo, a exemplo do que exige a OAB, por que se deve dar um tratamento distinto aos estrangeiros ? Estamos, sejamos claros, em situação de calamidade pública.
 
A esquerda também comete seus pecadilhos. Especialmente a esquerda oficialista. Assediado pelas ruas desde junho e com uma eleição pela frente em 2014, o governo federal correu para dar uma resposta imediatista, sem sinalizar que pretende discutir em profundidade o desastre da saúde pública no Brasil. Continuarão sucateados os hospitais públicos ? Os médicos e demais profissionais da saúde que lá trabalham, não raro com grande abnegação, permanecerão sem condições mínimas para dar um atendimento decente á população ? A formação de novos médicos ficará enquadrada no padrão que se observou nos dois governos Lula, ou seja, 77% dos cursos foram abertos em instituições privadas ? São cursos caros, com altas taxas de evasão. Pode-se esperar que deles saiam médicos dispostos a se embrenhar em lugarejos remotos para exercer a profissão ? Por outro lado, se o programa Mais Médicos não for complementado por um plano estratégico sério, o que é para ser encarado como provisório se transfigurará em solução mágica para a saúde no Brasil. Continuamos carentes de investimentos e métodos administrativos honestos e modernos. Continuamos reféns de períodos eleitorais, de interesses mesquinhos, da falta de uma política de Estado (e não de governo) para a saúde pública. Gostaria de ver os setores progressistas mergulharem neste caldo grosso e fermentado.

Quem se irrita com a concentração de médicos nas regiões mais desenvolvidas do país está se iludindo. Vivemos ou não numa sociedade de classes ? Por que exigir dos médicos uma solidariedade com as camadas populares e não fazer o mesmo com engenheiros, arquitetos, advogados, e tantos outros, igualmente instalados nas cidades que oferecem condições adequadas de trabalho e mercado lucrativo ? Luta de classes é ou não é pra valer ?

Em meio à desolação, muitos dos que sofrem das várias e humanas dores acabam apelando para o sobrenatural. Promessas, simpatias, fé. Nessa área, minha avó materna era craque. Tinha uma simpatia infalível para curar mau-olhado. Colocava um pouco de sal num saquinho de pano, amarrava, fechava os olhos e circulava o saquinho em torno da cabeça do paciente, pronunciando palavras secretas. Depois, jogava o saquinho no fogo. Pronto. Estava derrotado o olho grande. Quem dera fosse tão fácil ...
 
(*) Engenheiro químico, é militante internacionalista da esquerda judaica no Rio de Janeiro.
 

Brasil: PRÉ-SAL E NEO-ENTREGUISMO

 


21 de outubro: esse é o dia que a ANP estabeleceu para que se apresentem os interessados na exploração do campo Libra. São 15 bilhões de barris a serem retirados com risco praticamente nulo para o consórcio vencedor, uma vez que a Petrobrás já perfurou e encontrou o óleo. O Brasil merece uma solução mais inteligente e menos danosa ao nosso patrimônio.
 
Paulo Kliass – Carta Maior, em Debate Aberto
 
As denúncias envolvendo as atividades de espionagem, contra-informação e bisbilhotagem patrocinadas pelo governo norte-americano em nossas terras têm criado situações bastante desconfortáveis para a diplomacia. O constrangimento e a desfaçatez são tão grandes que até mesmo a visita de nossa Presidenta aos EUA está sendo colocada em compasso de espera, aguardando algum gesto da parte de Obama. A lista começa com as primeiras suspeitas envolvendo a solicitação de dados das empresas gestoras das chamadas “redes sociais” e chega até a confirmação de gravação de conversas e outras formas de comunicação de integrantes de alto escalão do governo brasileiro, a começar pela própria Dilma.

Esse vendaval de novos casos revelados a cada dia que passa demonstra a extrema fragilidade com que esse aspecto de nosso modelo de segurança nacional estratégica é tratado pelo próprio Estado brasileiro. A falta de investimentos na inovação científica e tecnológica tem nos deixado cada vez mais à mercê dos interesses dos países e das corporações com as quais mantemos relações econômicas e diplomáticas. A desculpa de que a espionagem existe desde que o ser humano se organiza em sociedade não cabe como justificativa para a incapacidade de fazer valer nossas fronteiras terrestres, marítimas ou virtuais. Se é verdade que são muitos os países parceiros que buscam as informações por meios ilícitos, cabe aos Estados nacionais promover políticas públicas para preservar a integralidade de seu território e de sua população.

A espionagem norte-americana e o Pré Sal

Dentre os inúmeros dossiês que vieram à tona, encontra-se o caso do Pré Sal. Trata-se de um processo que revela de forma emblemática o quanto o Brasil ainda está distante de um patamar mínimo daquilo que se possa considerar como razoável em termos de autonomia e soberania, se o foco se localizar na defesa dos interesses como Nação e de seu povo. Afinal, o próprio governo de Obama reconheceu que sua Agência Nacional de Segurança (NSA) tem mesmo rastreado ilegalmente as atividades de nosso governo, em especial a Petrobrás e a Agência Nacional de Petróleo (ANP). É mais do que óbvio que os norte-americanos estão buscando mapear de forma mais elaborada o processo de tomada de decisões da administração pública brasileira. E isso é tanto mais verdade no que se refere à imensa capacidade potencial estratégica proporcionada pela descoberta desses novos campos petrolíferos.

Mas, ao que tudo indica, eles não devem estar assim tão preocupados, não! Isso porque a política implementada pela equipe de Dilma nesse tema é bastante favorável aos interesses das grandes corporações mundiais que se dedicam à exploração do óleo. Apesar de possuirmos uma empresa pública que é líder inconteste no cenário internacional, com competência atestada pela sua presença em todos os continentes, os responsáveis pela área energética em Brasília ignoraram essa alternativa. Com isso, optaram por dar continuidade à política dos governos anteriores a 2003, sempre tangenciando perigosamente a privatização e o favorecimento do setor privado.

A prospecção e as perfurações que estão sendo desenvolvidas nas novas áreas do campo submarino proporcionam cenários bastante otimistas. As estimativas falam de um total de reservas de petróleo equivalentes a 60 bilhões de barris, volume esse que nos colocaria entre as maiores nações produtoras no mundo. No entanto, é recomendável segurar as pontas do ufanismo tupiniquim exagerado, pois isso representa muito pouco para o atual estoque mundial reconhecido, avaliado em torno de 1,5 trilhão de barris. Se o pré-sal não nos coloca como líder expressivo comparado aos países membros da OPEP, a conversão monetária desse estoque potencial não pode ser negligenciada. Caso viesse a ser explorado aos preços praticados nos dias de hoje, essa riqueza corresponderia a US$ 1 trilhão. Ou seja, aproximadamente o valor da metade de nosso PIB anual.

O modelo do neo-entreguismo

Colocado na mesa de debate esse conjunto de informações, causa profunda estranheza a política proposta e desenvolvida por um governo que é liderado por um partido que se diz representante dos trabalhadores. Ao invés de buscar o caminho de fortalecimento da Petrobrás e de consolidação de um setor nacional para a arquitetura desse complexo sistema do ramo petrolífero, as autoridades da área energética decidiram por abrir ainda mais a exploração de nossa riqueza estratégica para o capital multinacional.

Para fins de definição etimológica, o dicionário Houaiss é bastante claro e objetivo, não abrindo espaço para indefinições ou artifícios de natureza retórica. Vejamos como ele apresenta o verbete relativo a esse processo de abertura de nossa economia:

“Entreguismo: preceito, mentalidade ou prática político-ideológica de entregar recursos naturais da nação para exploração por outro país ou entidades, empresas etc. de capital internacional.”

É compreensível que o discurso chapa-branca mais submisso tente argumentar que, afinal de contas, a Petrobrás não foi privatizada e a maioria de suas ações ainda permanece em mãos do Estado brasileiro. De acordo, mas essa justificativa não ultrapassa o limite do mero conformismo. A situação poderia estar pior, como aconteceu com países que venderam suas empresas estatais de petróleo, como a YPF argentina. Mas isso não pode servir como consolo para os equívocos atuais. O fato é que ao longo das últimas décadas, a nossa opção estratégica tem sido realizada exatamente no sentido contrário da campanha “O petróleo é nosso!”, que culminou na criação da empresa em outubro de 1953, sob a presidência de Getúlio Vargas.

Ao oferecer nosso subsolo para que as grandes corporações transnacionais do ramo retirem o nosso petróleo, o governo brasileiro está promovendo apenas um “aggiornamento” daquilo que a maioria dos especialistas da área - comprometidos com um projeto de desenvolvimento nacional – sempre chamou de “política entreguista”. Mas, vá lá! Sejamos generosos e imaginemos que talvez fosse realmente importante - ao menos em um primeiro momento - agilizar a extração, incorporar tecnologia com a vinda de empresas estrangeiras e alavancar a economia brasileira com esse salto. No entanto, nem mesmo assim se consegue aceitar o modelo apresentado pelo governo para que o capital privado participe das licitações em nossas águas.

As benesses do modelo de exploração proposto

Ao invés de preservar o patrimônio nacional, os documentos oficiais que desenham o modelo institucional terminam por defender os interesses dos conglomerados multinacionais. No modelo de partilha, em geral, a empresa se responsabiliza pela extração do óleo e se submete ao que está definido no contrato: uma parcela do petróleo é destinada ao Estado nacional e a forma de destino do restante é objeto de detalhamento. Há casos de previsão de transferência tecnológica, obrigatoriedade de contratação de empresas nacionais para serviços, previsão de quotas mínimas para refino em território do próprio país, entre outras exigências de contrapartida. Mas no caso brasileiro, tudo poderia ser feito pela própria Petrobrás, sem a participação das multinacionais.

Àqueles que possam eventualmente considerar esse modelo um excesso de intervenção estatal na economia, cabe lembrar que nem por isso os mastodontes do setor deixam de se apresentar às concorrências que são abertas pelo mundo afora. Sim, pois a atividade é extremamente lucrativa e apresenta riscos compatíveis com suas expectativas de ganhos. Se estão explorando e faturando em territórios turbulentos e arriscados como o iraniano e o iraquiano, o que dizer de suas perspectivas de negócios aqui nessas terras e mares tão tranqüilos e que nos dizem terem sido abençoados por Deus? Infelizmente, o petróleo ainda funciona, nos tempos atuais, como o principal combustível para a maior parte da economia capitalista globalizada.

Exatamente por se tratar de uma questão essencial e estratégica para os países ricos, as últimas aventuras belicistas dos EUA aconteceram no Afeganistão, Irã, Iraque, além da Síria, em compasso de espera. É quase impossível imaginarmos alguma modalidade maior de intervenção estatal na economia!

Mas, como parte de nossas elites sempre manteve uma postura de submissão e vassalagem face aos pólos do chamado “mundo desenvolvido”, resolveu-se aqui tornar os ganhos dos grupos privados ainda mais substanciosos. Algo como um efeito retardado das marolas do neoliberalismo. E foi criado, então, o modelo do neo-entreguismo. Um regime onde a empresa exploradora pode quase tudo, ao passo que o Brasil e o Estado brasileiro podem quase nada. Como se nós estivéssemos ávidos pela vinda das grandes petroleiras, que estariam assim prestando um grande favor ao nosso País.

É necessário cancelar o leilão de 21 de outubro!

Ainda que o consórcio vencedor do leilão se comprometa a fornecer um percentual do óleo para o Estado, depois ele tem liberdade absoluta para fazer o que bem entender com a sua cota-parte do óleo extraído. As conseqüências negativas para o Brasil são evidentes. Não há previsão de transferência de tecnologia. Não ocorrem os chamados efeitos “para frente” e “para trás” no setor, pois as plataformas, os navios, os componentes e os serviços intermediários são contratados no exterior. A mesma ausência de impacto positivo para o restante da cadeia produtiva se verifica quanto aos processos de refino e industrialização, uma vez que os editais não estabelecem um percentual máximo para exportação do óleo em estado bruto. A tendência é de se exportar a totalidade do extraído. O processo de agregação de valor ocorre no exterior, cabendo a nós a continuidade do antigo e conhecido papel subalterno de país primário exportador.

A data para o leilão do neo-entreguismo do Pré Sal já está definida: 21 de outubro. Esse é o dia que a ANP estabeleceu para que se apresentem os interessados na exploração do campo Libra. São 15 bilhões de barris a serem retirados com risco praticamente nulo para o consórcio vencedor, uma vez que a Petrobrás já perfurou e encontrou o óleo. E com a grande chance de levar ainda um “bônus” extra, de outros 9 bilhões de barris, em razão da existência de outro campo contíguo - Franco. É que ali também já foram perfurados poços pela empresa brasileira, comprovando a riqueza potencial. Cabe ao movimento sindical e às demais entidades do movimento popular se levantarem contra essa medida e exigir o cancelamento do leilão. O Brasil merece uma solução mais inteligente e menos danosa ao nosso patrimônio.
 
*Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.
 
Leia em Carta Maior Emir Sader
 

ABORTO PRESTES A SER LEGALIZADO EM ANGOLA

 

Diário Angolano
 
A comissão parlamentar que trabalha no anteprojecto de revisão do Código Penal defende a despenalização do aborto a partir das 16 semanas de gestação, em situações definidas por lei.
 
No actual Código Penal, o aborto é um crime previsto no artigo 358º e tem como interesse tutelado a vida intra-uterina (a vida do feto), a normalidade da formação da vida e o nascimento.
 
Ao abrigo do Código Penal vigente no país, o aborto é punido com pena de prisão que vai dos dois aos oito anos, salvo quando cometido para ocultar a desonra da mulher ou quando esta decida abortar em virtude de relações sexuais forçadas.
 
De acordo com o Código Penal angolano, “a licitude do aborto terapêutico resulta do facto de haver um conflito de interesses entre a vida da mãe e a do feto e, embora a vida humana seja igual, entende-se que a mãe, por ser autónoma e já ter forma acabada da vida humana, deve ser privilegiada em detrimento da vida do feto”.
 
Em carta dirigida, este ano, ao Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas, o Governo angolano informa que o homicídio contra pessoas humanas com vida autónoma em Angola é punido mais severamente que o aborto.
 
A carta do Governo angolano responde a uma recomendação do Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas para a revisão das leis do aborto em diversos países. Na missiva, o Executivo revela: “Acolhemos bem a recomendação do Comité para rever a legislação sobre o aborto no sentido de permitir que ele seja feito por razões terapêuticas e, em caso de gravidez, resultante de estupro ou incesto” revela a carta.
 
O Projecto do Código Penal em discussão refere no artigo 144º que a interrupção de gravidez não punível prevê a possibilidade de aborto consentido pela mulher grávida nas mais variadas situações, nas primeiras dez semanas de gravidez, em caso de risco de vida da mulher, nas primeiras 16 semanas, em caso de possibilidade de malformação ou doença do feto nas primeiras 24 semanas ou nos casos em que a gravidez tenha resultado de uma relação forçada.
 
A proposta de lei, para além de estabelecer prazos em que o aborto é permitido, exige que o mesmo seja feito por um médico, numa unidade hospitalar oficial e com o consentimento da mulher. O novo diploma legal impõe aos médicos a obrigação de prevenir a mulher grávida das implicações do acto de interrupção da gravidez.
 
A legalização do aborto no país, nos termos previstos no anteprojecto de revisão do Código Penal, está a ser contestada por muitas igreja e alguns sectores conservadores da sociedade angolana que são contrários a qualquer cedência nesta matéria.
 
Jornal de Angola, 12 de setembro de 2013
 
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MNE ANGOLANO INICIA NO DOMINGO VISITA À CHINA

 


O ministro angolano dos Negócios Estrangeiros, Georges Chikoti, inicia no domingo uma visita oficial de quatro dias à China, anunciou hoje o ministério chines dos Negócios Estrangeiros.
 
A visita realiza-se a convite do homólogo chinês, Wang Yi, indicou um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hong Lei.
 
Será a primeira visita oficial de Georges Chikoti à China e "enquadra-se no domínio do reforço dos laços de amizade e das relações de cooperação existentes entre os dois países e povos", disse o ministério angolano dos Negócios Estrangeiros.
 
O ministro angolano vai também encontrar-se com um dos quatro vices-primeiro-ministros chineses, Wang Yang, e terá ainda um encontro com o corpo diplomático africano acreditado na China.
 
As conversações formais, entre Chikoti e o homólogo chinês, estão marcadas para terça-feira.
 
A agenda inclui, entre outros pontos, a preparação da próxima reunião da Comissão Mista Sino-Angolana e o estado das relações bilaterais no âmbito do Fórum de Macau para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, adiantou fonte angolana. Numa entrevista concedida a semana passada à Radio Nacional de Angola, George Chicoti descreveu a China como "um parceiro importante" do seu país.
 
"Vamos olhar para toda a nossa cooperação e, também, definirmos como é que será o nosso futuro", afirmou o MNE angolano.
 
AC // PJ - Lusa
 
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A MELHOR OMELETA DE CORRUPÇÃO LEVA OVOS DE OURO, PETRÓLEO E (DI)AMANTES

 


Orlando Castro – Folha 8 – 7 setembro 2013 – edição 1158
 
Antigamente os milioná­rios faziam­-se à custa de um ár­duo proces­so de labuta que, como se constata pelo curriculum da mulher mais rica de África, Isabel dos Santos, passava pelo trabalho in­fantil, no caso pela venda de ovos pelas ruas de Luan­da. Hoje os ovos chamam­-se petróleo, diamantes e produtos e serviços afins.
 
A produção petrolífera em Angola atingiu, até Junho deste ano, 160,1 milhões de barris, segundo revela o Relatório de Actividades do Governo, referente ao segundo trimestre de 2013, aprovado no Conselho de Ministros. A não ser assim, certamente que será uma involuntária falha para… menos.
 
A meta para este ano apon­ta para uma produção de 2 milhões de barris diários, o que representaria uma su­bida de 250 mil face à pro­dução actual, no entanto, este objectivo só deverá ser atingido, segundo os dados oficiais, entre 2014 e 2015. A produção este ano tem rondado os 1,75 milhões de barris por dia em média, estando as reservas estima­das em 12,7 mil milhões de barris.
 
O documento, que serve de instrumento de avaliação oficial do nível de execu­ção das principais acções projectadas pelo Governo, adianta também que a infla­ção acumulada no período em análise foi de 4,27%.
 
No domínio do crédito à economia, o documento informa que “houve uma expansão de 2,90%”. Em re­lação à base monetária em moeda nacional, o kwanza, o relatório sublinha que observou um aumento em cerca de 5,60%.
 
Por outro lado, fazendo fé nos dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), as expor­tações de petróleo tinham subido quase 10% em Mar­ço, para 1,74 milhões de bar­ris por dia face a Fevereiro, sendo este o valor mais alto desde 2010.
 
Por sua vez a agência fi­nanceira Bloomberg dizia que a subida nas vendas de petróleo deveria manter­-se nos meses de Abril e Maio, sendo previsível que abrande em Junho, mês para o qual Angola tem já contratos firmados de 1,63 milhões de barris diários.
 
Os contratos de venda de petróleo confirmados di­zem respeito a 51 carguei­ros e totalizam 1,63 milhões de barris diários, distante dos 1,831 milhões vendidos em Maio e corresponden­tes a 58 cargueiros.
 
Operadores do mercado de hidrocarbonetos cita­dos pela Bloomberg clas­sificam a quebra de ex­portações como “normal”, atendendo à época do ano.
 
O petróleo é o nosso (for­ma eufemística de dizer deles) principal produto de exportação, representa 45% do Produto Interno Bruto, 70% das receitas fiscais e 90% das exporta­ções.
 
De acordo com os dados oficiais da OPEP, a Ará­bia Saudita, o Kuwait e a Venezuela reduziram as exportações de petróleo em Março, ao passo que os países da África Ocidental aumentaram as exporta­ções. A lista é liderada pela Arábia Saudita, com 7,42 milhões de barris diários, uma redução de 30 mil face à média de Fevereiro, ao passo que as exportações da Venezuela desceram para o nível mais baixo do último ano, com a saída de 1,55 milhões por dia.
 
A procura de petróleo dos países da OPEP, que repre­sentam cerca de 40% da produção mundial, deve registar uma média de 29,8 milhões de barris por dia durante este ano.
 
A OPEP prevê uma redu­ção na produção de 400 mil barris diários face ao ano passado, tendo, no entanto, revisto em alta a produção em 100 mil bar­ris diários face à estimativa anterior, que data de Abril.
 
Por outro lado, a Rússia mostra-se interessada em investir directamente nas áreas diamantíferas e na indústria pesada em An­gola, como foi divulgado à margem do Fórum de Negócios Rússia-Angola, que decorreu ontem em Luanda.
 
Segundo o presidente do Conselho de Administra­ção do banco russo VTB­-África, Igor Skvortsov, a segunda fase do projecto diamantífero de Catoca, na província da Lunda Sul, avaliado em 20 mil milhões de kwanzas, será financiado por aquela ins­tituição bancária.
 
Além do projecto dia­mantífero Catoca, o VTB­-África está a estudar a possibilidade de também financiar a segunda fase do projecto hidroelétrico de Chicapa, situado igual­mente na Lunda Sul.
 
A Sociedade Mineira de Catoca é constituída pela empresa diamantífera an­golana (Endiama) com 32,8%, a russa Alrosa com 32,8%, a israelita Daumon­ty com 18% e a brasileira Odebrechet com 16,4%.
 
No sector da indústria pe­sada, Igor Skvortsov disse que duas empresas russas, a Uralvagonzavod e a Ka­maz, anunciaram a inten­ção de investir em fábricas de vagões e montagem de carros em Angola.
 
A Uralvagonzavod preten­de investir 10 mil milhões de Kuanzas, ajudando An­gola a satisfazer as suas necessidades e a tornar-se exportador em África.
 
Recorde-se que o minis­tro da Economia, Abra­hão Gourgel, apelou aos empresários russos para investirem nos grandes projectos estruturantes da economia angolana, admi­tindo igualmente as par­cerias público-privadas e empresariais.
 
Também o ministro da Geologia Minas, Francis­co Queiroz, garante que o Governo pretende ver aumentada a produção de diamantes até pelo menos 5% por ano, procurando assim atngir os objectivos do Plano Nacional de De­senvolvimento “Angola 2025”.
 
O ministro diz que as li­nhas estratégicas para o alcance deste objectivo passam por inserir a ac­tividade diamantífera de Angola nas diferentes fa­ses da indústria mundial de diamantes, procurando colocar Angola entre os três principais produtores mundiais.
 
No âmbito das linhas estra­tégicas do “Angola 2025″ o Governo pretende organi­zar a actividade artesanal de acordo com a legislação em vigor e a médio prazo substituí-la pela produção semi-industrial e contri­buir para o surgimento e desenvolvimento de uma indústria nacional de joa­lharia, tanto em pedras preciosas e semi-preciosas como em outros metais.
 
Por último, para apimen­tar esta orgia colectiva dos donos do poder, registe­-se e relembre-se sempre (desde logo porque é um paradigma enciclopédico do regime) que Isabel dos Santos, filha do chefe de Estado, do MPLA e do Go­verno, afirmou que iniciou a sua carreira como em­presária a vender ovos aos seis anos de idade.
 
Como disse David Men­des, uma das personali­dades que mais tem de­nunciado a corrupção em Angola, era bom que os milhões de angolanos que passam fome soubessem do “paradeiro da galinha dos ovos de ouro”. Ao que parece, como disse este jurista, “a galinha deu ovos de ouro para uma pessoa e depois mataram a galinha para que ninguém mais fi­casse milionário.”
 
Também não é despicien­do recordar que o profes­sor universitário Celso Malavoloneke considerou que as declarações da fi­lha do presidente ferem a sensibilidade dos angola­nos, afirmando que a sua declaração parece indicar que “está a brincar com as pessoas”.
 
Ou, parafraseando Mia Couto, o nosso problema é que eles em vez de pro­duzirem riqueza produ­zem ricos. Em vez de tra­balharem para os milhões que têm pouco ou nada, trabalham para os poucos que têm milhões (eles pró­prios).
 

Portugal: A MODA MORAL DA DIREITA

 


José Manuel Pureza – Diário de Notícias, opinião
 
O ódio contra a esquerda tem uma nova moda: acusar a esquerda de odiar. Com intensidades diferentes, instalou-se para os lados da direita uma barragem discursiva que recrimina à esquerda a suposta responsabilidade de estar a crispar a vida política portuguesa, de demonizar sem tolerância, de, no limite, obedecer a um DNA de eliminação do outro diferente. Não me detenho em nenhum dos escritos concretos que deram voz nos últimos dias a esta ofensiva para não gastar espaço com minudências. E muito menos cuidarei da relação mal resolvida de alguns dos seus autores com os fantasmas do seu passado. Quero ir ao que realmente importa: os dois traços mais marcantes desta nova - e afinal tão velha - retórica moral da direita.
 
O primeiro é o do branqueamento da História. A direita tem história atrás de si, como a esquerda a tem. Cada um aceita e honra as heranças que quer e faz as ruturas que faz. Pelo meu lado, sei que quer a desumanidade das engenharias sociais de qualquer natureza quer o cinismo da ausência de poder regulador que sanciona a exclusão de quem não tem poder estão ambas no avesso de toda a emancipação. E sei, por isso, que a esquerda não pode ser complacente nem com uma nem com outra. Ou não será esquerda. Quanto à direita, essa que agora brande as espadas do humanismo tolerante e liberal - com a maior e mais violenta das intolerâncias, sublinhe-se - tem na sua genealogia recente desumanidades gigantescas, desde o colonialismo à preservação guerreira de poderosos interesses económicos onde quer que seja, passando pela desregulação produtora de miséria e de desespero em massa. São heranças que não são disfarçáveis e que ou se aceitam ou se repudiam.
 
Mas, para lá das heranças alheias do passado, há os comportamentos próprios do presente. A direita que critica, como virgem ofendida, a demonização de adversários políticos individuais, pratica convictamente a demonização anónima de massas humanas. Tirar-lhes o nome e o rosto - como aos funcionários públicos acusados de serem o cancro da sociedade por não aceitarem ser despedidos, ou aos pais acusados de, pela sua resistência à retirada de direitos, serem os carrascos do mundo do trabalho dos filhos, ou aos beneficiários de políticas de combate à pobreza, referidos como preguiçosos, vigaristas e párias da sociedade - é aliás elemento maior dessa brutalidade. Brutalidade contra um é horror, brutalidade contra muitos sem nome e sem rosto é "a difícil arte de governar". Essa é a cínica perspetiva moral da direita.
 
O segundo traço deste discurso moral da direita é o descaramento. No preciso momento em que a direita carrega sem piedade sobre as vidas já quase impossíveis da esmagadora maioria das pessoas, em que atira desapiedadamente para o desespero trabalhadores, pequenos empresários e reformados sacrificando-os à salvação de bancos com administrações irresponsáveis e ruinosas, em que empurra para a emigração milhares de jovens altamente qualificados, em que envolve todas estas suas escolhas de penalização dos mais frágeis no celofane da inevitabilidade e da racionalidade gestionária, neste preciso momento, a direita vem reivindicar a sua nobreza de sentimentos e a conveniência de reações suaves e fleumáticas. Ao transformar as pessoas em objetos de experimentação de receitas ideológicas de redenção social e económica - para mais, quando estas já provaram que resultam justamente no contrário do que anunciam - exercendo sobre elas uma violência imensa, só por suprema ironia a direita pode clamar por política de salão como resposta.
 
Sou dos que, com Mia Couto, acreditam que "contra factos só há argumentos". É essa tenacidade de argumentar e de resistir aos factos que quer consumados que a direita não perdoa. Chama-lhe arrogância. Eu chamo-lhe lucidez.
 

Portugal: NUNO CRATO “DEMOCRÁTICO”

 

Balneário Público
 
Diz o Público com notícia da Lusa: “Uma professora descontente com o estado da educação em Portugal interrompeu nesta sexta-feira o discurso do ministro Nuno Crato, durante a tomada de posse do presidente do Instituto Politécnico de Viseu (IPV).” Acusou o ministro de mentir. Nisso não há novidade, eles (os do governo) são o tal Bando de Mentirosos orgulhosamente sós. Nem é novidade interromper o discurso de um ministro. A diferença foi que Nuno Crato não se abespinhou nem se deixou perturbar, até entrou em diálogo com a professora que o interrompeu. Disse que: “Eu tenho todo o gosto em discutir consigo noutra ocasião, creio que aqui é um bocadinho despropositado, embora a minha natureza democrática me leve a aceitar este diálogo”. O homenzito sabe como dar a volta aos incómodos e às alegações com razão. É democrático… É? Se fosse não andava tão empenhado em destruir a escola pública. O que Crato sabe é como dar a volta às perturbações e tem a arte (arte?) de aparentar uma coisa mas ser outra. Esconde o mais que pode a sua hipocrisia. O problema é que os seus propósitos estão à vista. Uma escola pública de trampa para os pobres e outra com todas e as melhores condições para os ricos. Os da classe média que possam, sacrifiquem-se, passem fome, poupem e paguem as escola dos filhos. Que engordem o ensino privado – de quem Crato é agente de plenos poderes na defesa de interesses. Boa democracia Crato. Enganas uns quantos mas não enganas todos. É o costume e o problema destes filhos do Salazar. Revelam-se mais tarde ou mais cedo. Portugal ainda está a tempo de reverter estas situações de uns quantos adeptos do salazarismo a que agora chamam neoliberais. Mas a sujeira é a mesma e nem dá para ser lavada em casa porque o casco é tanto que consporcaria tudo. Há ainda muito espaço e condições para lavar tanta “nhanha” no balneário público. Liguem as mangueiras do depósito com mistura de lixivia. Tudo limpinho. (a foto é de Rui Gonçalves-Nfactos)
 
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Portugal: FAÇA UM DEPÓSITO, GANHE O BRINDE!

 

José Gabriel - Aventar
 
Nuno Crato (peço desculpa ao honrado Concelho alentejano com o mesmo nome, mas o homem assina assim…) tirou um novo coelho – soit-disant – da sua piolhosa cartola. A partir de agora – “ai, tia, que coisa tão chic…”- os testes de inglês do 9º ano (leram bem, nono ano) serão elaborados em Cambridge, patrocinados por um banco, duas editoras e uma empresa de software ( e, quem sabe, “por uma bebida qualquereee…”).
 
Exultai, alunos. Não mais aqueles professores portugueses licenciados em Universidades propriamente ditas e cheios de vontade – têm dito os governos do centrão aos vossos pais e, sobretudo, seus eleitores – de reprovar as suas discentes vítimas. Agora a coisa será “autonomizada” ( ou “externalizada” – adoro estes neologismos… ) , diz ele, consignada a privados que, como se sabe, são peritos nestas matérias e impolutos como jamais serão os serviços públicos, garantem-nos. E patrocinada!
 
Estou a ver tudo: acabaram-se os trabalhos da GNR e os complexos e confiáveis processos de segurança e sigilo que sempre vigoraram; agora são os bancos – entidades de bem-fazer em que se pode confiar!- , as editoras – que são completamente desinteressadas nesse sigilo, claro – e uma empresa de software que sempre pode dar uma ajuda a pescar um enunciado antes dos outros.
 
Que outros, perguntareis? Bom, aqueles que esperarão por uma promoção antes da época de exames. Do género: “abra uma conta no nosso banco e ganhe um subscrito-surpresa com um enunciado-mistério lá dentro”. Ou: “a nossa editora patrocina a elaboração de um exame numa famosa Universidade inglesa; adivinhe qual e compre o nosso manual com anexos exclusivos que nenhuma outra editora conhece!”. Enfim, tudo transparente, tudo económico, tudo inteligente. E, sobretudo, muita gente feliz, incluindo os of-shore por onde continuarão a circular os cabedais que sempre pingam nestas negociatas. Espero que não deixem de nos informar quem são os cúmplices desta operação. Gosto de saber quem devo boicotar.
 
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Portugal: 15 DE SETEMBRO DE 2012

 

Tiago Mota Saraiva – Jornal i, opinião
 
Domingo fará um ano que uma das maiores manifestações de contestação à "troika e aos troikistas" - formulação utilizada pelos subscritores da sua convocatória - saiu às ruas um pouco por todo o país. Os mais simpáticos dizem que o 15S derrotou as alterações à TSU, mesmo que alguns dos donos do país as contestassem. Outros dizem que foi uma válvula de escape que libertou uma parte da pressão. Não partilhando de nenhuma destas visões e sem retirar o mérito de ter sido um gigantesco sinal político, não creio que seja momento de comemorações.
 
O 15 de Setembro afirmou o que ficou ainda mais claro a 2 de Março. Existe uma ruptura insanável entre quem nos governa e o povo. Cavaco convocou o Conselho de Estado para cerrar fileiras, Relvas inventou umas quantas notícias e Seguro, em entrevista na televisão, tentou capitalizar para si o sucesso da manifestação desviando as suas reivindicações. Mas na realidade o que ficou na cabeça de todos é que uma extraordinária manifestação política não cumpriu os seus objectivos mínimos.
 
Apesar da intensa campanha governamental que ocupa os órgãos de comunicação social, sabemos que vivemos pior. Sabemos que mais gente perdeu o trabalho, a casa, os filhos (emigrados), os avós (pouco tratados nos hospitais públicos). Pode haver dúvidas sobre o que podemos, mas nada fazer é uma loucura.
 
Com a crise a ser adoçada até ao dia das eleições autárquicas (quão longe vai o "que se lixem as eleições" de Passos Coelho), o OE2014 tornará públicos em Outubro os novos cortes combinados com a troika e que Portas esconde desde Fevereiro. A convocatória da CGTP para dia 19/10 e o início de construção de uma nova grande manifestação para dia 26/10 (data provisória) - anunciada pelo Que Se Lixe a Troika - dizem respeito a todos. Só é inevitável o que deixarmos acontecer.
 
Escreve ao sábado
 
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