quinta-feira, 8 de agosto de 2013

PORTUGAL À ESPERA DO BASTA!

 


Boaventura Santos analisa crise política e vislumbra alternativa institucional para ela, mas adverte: será necessária ação catalisadora das ruas
 
Boaventura de Sousa Santos – Outras Palavras
 
A última cambalhota do presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, mostra que o país atravessa um momento de irracionalidade tal que torna tudo imprevisível. Os decisores políticos não são irracionais mas as condições em que se resignam a operar obrigam-nos a agir como se fossem. Para serem coerentes, as decisões políticas têm de ter um só ponto de referência. Em democracia, esse ponto é a vontade dos cidadãos, e os conflitos decorrem das diferentes interpretações dessa vontade. Atualmente, em vez de um, há dois pontos de referência: a vontade dos cidadãos e a vontade dos mercados financeiros. Nas condições presentes, as duas são inconciliáveis.
 
Cavaco Silva disse numa semana que era fácil conciliá-las e, na seguinte, que só a vontade dos mercados conta. Um decisor deste tipo acabará por “ser decidido” por fatores que o ultrapassam e que não pode prever. Dada a irracionalidade instalada, tais fatores, vistos de fora, são afinal os mais previsíveis. Vou-me referir a alguns deles.
 
1. Em condições de tutela internacional, quem decide não é quem diz decidir e quem tem poder para decidir não revela motu proprio os limites do seu poder. Por isso, as alternativas ou a capacidade de manobra concretas só se revelam aos que se dispuserem a questionar a tutela. Tal questionamento implica, neste caso, ter a vontade dos cidadãos como único ponto de referência. Se tal questionamento ocorrer, será possível prever uma agenda concreta pautada pelo seguinte. O que há meses era evidente apenas para os dissidentes é hoje evidente para todos os governantes europeus: as políticas de austeridade estão a conduzir ao desastre a Europa e não apenas os países do sul; nos EUA, donde veio a ortodoxia econômica e financeira que nos domina, o Estado não tem qualquer problema em intervir na economia sempre que o mercado descarrila; a dívida, no seu atual montante, é impagável; é técnica e politicamente complicado mas possível recomprar parte da dívida abaixo do valor nominal com total proteção da dívida que não pode ser tocada; o mesmo se diga de uma moratória ao pagamento do serviço da dívida, enquanto durar uma negociação com os credores; a mutualização europeia da dívida já está em curso e deve ser aprofundada; várias condições do memorando da troika têm de ser alteradas em função das mudanças macro-econômicas; em diferentes momentos foi isto que fizeram outros países sufocados pela dívida, nomeadamente a Alemanha; é de todo legal que o Estado acione os poderes que a crise lhe conferiu (depois de lhe tirar muitos outros); assim, o Estado, ao recapitalizar alguns bancos, tornou-se o acionista maioritário e pode acionar os poderes que tal posição lhe confere, sem extrapolar do direito privado; o Estado pode introduzir por essa via alguma política industrial com crédito direcionado para as pequenas e médias empresas e certos setores da indústria.
 
2. A agenda que acabei de descrever só pode ser levada à prática por um governo dotado de uma legitimidade democrática reforçada, o que só é possível mediante eleições antecipadas. A desastrada iniciativa de Cavaco e Silva teve apenas um mérito: obrigar o Partido Socialista (PS) a mostrar a sua alternativa. Ela é hoje mais clara. As medidas propostas pelo PS são muito positivas mas contêm uma contradição: pressupõem uma reestruturação da dívida que envolva o seu montante. Um acordo de incidência parlamentar com outros partidos de esquerda pode reforçar a legitimidade para avançar por aí.
 
3. O capital financeiro pressiona os Estados mas não o faz de modo uniforme. O poder executivo tende a ser mais vulnerável, logo seguido do parlamento. Já os tribunais, e, em especial, o Tribunal Constitucional (TC), são mais imunes a tais pressões. Os despedimentos na função pública e os cortes nas pensões são inconstitucionais e é de prever que o TC não se demita da sua função de último garante da coesão social e da democracia consagradas na Constituição.
 
4. O mais imprevisível pode, de repente, tornar-se o mais previsível. Refiro-me à revolta dos cidadãos nas ruas e nas praças, inconformados com a indignidade a que as instituições e os governos os sujeitam. Não há nenhuma sociedade que não conheça a palavra Basta!
 

Portugal: ELES A PRIVATIZAR E NÓS A PAGAR

 


Nicolau Santos – Expresso, opinião
 
O processo de privatizações em curso tem sido baseado, do ponto de vista teórico, na afirmação de que introduzem maior concorrência nos mercados, logo mais eficiência, e que os privados gerem sempre melhor que o público.
 
E a prová-lo em todo o seu esplendor aí está a privatização da EDP, em que os preços continuam a subir, apesar da empresa pública estatal chinesa China Three Gorges ser agora o dono maioritário da elétrica nacional. Explicação para a contradiçâo: é que os preços subiriam mais se não houvesse privatização.
 
A prová-lo em todo o seu esplendor está a privatização, feita à bruta e por imposição de António Borges, da Cimpor aos brasileiros da Camargo Côrrea. Como é óbvio, o centro da empresa já não está em Portugal, há menos emprego para os engenheiros nacionais e as suas equipas técnicas estão a ser desmembradas.
 
A prová-lo em todo o seu esplendor está a futura privatização das águas. Ora se os privados puderem aumentar os preços, claro que o negócio das águas vai passar a dar lucro, até porque ninguém consegue viver sem água, não é?
 
E finalmente a prová-lo em todo o seu esplendor está a privatização das infraestruturas aeroportuárias nacionais, através da venda da ANA aos franceses da Vinci, com muitas promessas à mistura de que as tarifas aplicadas nos aeroportos nacionais não só começariam a descer, como estavam garantidos os investimentos necessários nos vários aeroportos e, a prazo, a construção do novo aeroporto de Lisboa.
 
Ora hoje soube-se que para cumprir este plano a ANA decidiu aumentar desde já em 4,4% as tarifas aeroportuárias. Queixavam-se os operadores que as nossas tarifas não eram concorrenciais? Agora, como são geridas por privados, vão seguramente ficar muito mais concorrenciais, apesar deste aumento de preço.
 
É assim: eles a privatizar empresas que produzem bens públicos (excepção para a Cimpor) e nós, cidadãos, consumidores, clientes e contribuintes, a pagar. É fácil, é barato e dá milhões. A uns. E tira aos outros. A economia é uma ciência muito bonita.
 

"Mercados não acreditam que Portugal evite um segundo resgate", diz The Economist

 


Jorge Nascimento Rodrigues - Expresso
 
A influente revista britânica analisa os países resgatados pela troika num artigo intitulado "O que Angela não está a dizer" que é publicado na edição de 10 de agosto

O comportamento das yields da dívida portuguesa de longo prazo, que continuam no mercado secundário em níveis acima de 6,5%, revela que "os mercados não acreditam que Portugal evite algum tipo de segundo resgate", escreve a revista The Economist na edição de 10 de agosto.

 
No artigo intitulado "O que Angela não está a dizer", a revista britânica analisa os três países intervencionados pela troika e conclui que os resgates realizados "deixaram a dívida soberana demasiado elevada para ser sustentável". A revista refere-se à chanceler alemã Angela Merkel e ao que não está a ser dito ao eleitorado alemão que terá de votar em eleições legislativas a 22 de setembro.
 
"Sob o peso da dívida, as perspetivas de crescimento de Portugal no médio prazo são pobres. A dívida pública atingiu 127% do PIB, e o fardo potencial é maior. O governo tem grandes passivos contingentes, decorrentes de garantias, parcerias público-privadas e empresas públicas. Esses passivos poderiam transformar-se em dívida real: o FMI estima que poderiam acrescentar mais 15% do PIB ao fardo, elevando o rácio acima de 140%.", refere The Economist.
 

GUANTÁNAMO: PRISIONEIROS COMPLETAM 6 MESES DE GREVE DE FOME

 


A greve de fome dos prisioneiros de Guántanamo começou em 6 de fevereiro. Um advogado de alguns dos presos, David Reme, alerta para o risco de alguns dos detidos morrerem nos próximos dias, sem acusação nem processo formal. Fechamento da prisão é promessa de campanha de Obama.
 
Esquerda.net – Carta Maior
 
Obama tinha prometido o encerramento da prisão norte-americana de Guantánamo, mas quatro anos e meio depois da sua primeira eleição ela continua a funcionar, com grande parte dos seus prisioneiros sem acusação, nem processo formal. Noventa por cento dos prisioneiros nunca foram acusados de crime algum.

Desde o dia 6 de fevereiro, os prisioneiros de Guantánamo iniciaram uma greve de fome de protesto pela sua situação de prisão ilegal e sem fim e também contra os abusos que sofrem.

Dos 166 detidos na prisão norte-americana de Guantánamo, 102 participam no protesto e, pelo menos, 45 foram alimentados à força nas últimas semanas.

Segundo David Reme, advogado de alguns dos detidos, vários prisioneiros perderam quase 20 quilos e estão desesperados. Reme alerta que alguns podem morrer nos próximos dias.

O jornal Miami Herald noticiou recentemente que os EUA vão gastar este ano 454,1 milhões de dólares com a prisão de Guantánamo. A previsão é que os custos totais com a prisão de Guantánamo, até ao final de 2014, sejam de 5,242 bilhões de dólares. Estes dados foram confirmados pela administração norte-americana, pela primeira vez na semana passada, numa reunião do Comité de Justiça do Senado dos EUA.

O senador Richard Durbin, que defende o encerramento de Guantánamo, há anos, foi o convocador daquela reunião e afirmou então: “Façam as contas: 166 prisioneiros, 454 milhões de dólares. Nós estamos gastando 2,7 milhões de dólares com cada preso de Guantánamo”.

Durbin lembrou que cada preso na prisão considerada mais segura dos EUA, no Colorado, cada preso custa em média 78 mil dólares por ano e salientou que estes gastos tão elevados já “seriam irresponsáveis, do ponto de vista fiscal, em tempos econômicos normais”, são ainda piores quando o “Departamento de Defesa” está enfrentando cortes e despedimentos.

Neste fim de semana, a cantora britânica PJ Harvey, a única a ganhar duas vezes o Mercury Prize, publicou uma canção nova com o título “Shaker Aamer”, na plataforma online Soundcloud.

Shaker Aamer é um britânico originário da Arábia Saudita que está preso desde 2001, sem qualquer acusação.

A canção é um apelo à libertação de Shaker Aamer e, nela, PJ Harvey canta: “No water for three days/I cannot sleep, or stay awake/Four months hunger strike/Am I dead, or am I alive?” [“Sem água há três dias/Não consigo dormir, ou manter-me acordado/Quatro meses de greve de fome/Estarei morto, ou estarei vivo?”].
 

KOFI ANNAN: O DIPLOMATA SEM PAPAS NA LÍNGUA

 


Livro de ex-secretário-geral da ONU expõe fenômenos cruciais, como atitude imperial dos EUA e resistência da indústria farmacêutica à luta contra AIDS
 
Ladislau Dowbor - Outras Palavras

Resenha do livro Intervenções – Uma vida de guerra e paz
De Kofi Annan e Nader Mousavizadeh
Companhia das Letras, 464 páginas, R$ 63
Tradução: Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra

O ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan, escreveu um livro de leitura extremamente agradável e de riqueza informativa impressionante. Digo isto porque os textos de pessoas ligadas às Nações Unidas tendem a ser tão cuidadosos que frequentemente não dizem nada. Tipo do político ou do empresário, que questionado sobre um desastre afirma que será rigoroso, que tomara as medidas adequadas, encarregando as pessoas ou departamentos competentes. Quando? Ora, no momento oportuno. Não dizer nada é uma arte. Kofi Annan, liberado dos seus cargos, traz com voz tranquila e valores fortes, uma visão privilegiada.
 
Grande parte do seu interesse resulta, a meu ver, das posições centrais que ocupou no cenário internacional. Todos sabemos da fragilidade das Nações Unidas — ainda “nações” unidas, e não “povos” unidos, com tudo o que isto implica na necessidade de terminar aprovando o mínimo denominador comum. Ainda assim, depois de intermináveis negociações, no quadro de um Conselho de Segurança que data dos anos 1940, e de uma Assembleia Geral onde muita ilhota com status de nação e alguns milhares de habitantes tem voto igual à Índia, que reúne cerca de 20% da população mundial. Isto não impede que as grandes tensões geradas no plano internacional levem a uma corrida dos participantes para puxar para si o manto da legitimidade das Nações Unidas. Assim, com toda a fragilidade institucional, o secretário-geral Kofi Annan esteve sempre presente nos principais núcleos de conflitos e centros de negociação. Por dever de ofício, conversava com todos, era consultado por todos, e terminava tendo uma visão de conjunto privilegiada. É esta visão que Kofi Annan nos apresenta neste livro, que ele mesmo qualifica de “meu relato dos principais desafios que a comunidade internacional enfrenta hoje”.
 
O discurso é direto: “A ação militar empreendida por propósitos mesquinhos, sem legitimidade global, ou sem previsão das consequências – como no caso do Iraque –, pode ser tão destrutiva quanto os males que ela se dispõe a combater. O conceito global emergente de “responsabilidade de proteger” foi criado como um princípio universal de resguardo dos direitos humanos fundamentais – não como uma autorização para fazer a guerra em nome da paz”. (pág. 15) Nesta linha, e detalhando por exemplo as negociações no caso do Iraque, comenta que “todos os lados começavam a desconfiar que tudo aquilo tinha muito menos a ver com as supostas armas de destruição de massa do Iraque do que com a questão de quem seria o supremo árbitro da legitimidade do uso da força no sistema internacional” (411)
 
O conflito israelense ocupa naturalmente, um espaço importante, e em particular o desequilíbrio gerado pelo fato do principal ator ser de outro externo: “Os Estados Unidos usam seu poder de veto para proteger os israelenses de qualquer julgamento ou pressão internacionais, ainda que legítima, paralisando o Conselho em relação a um dos principais conflitos do mundo” (307) Há muitas pérolas no livro. Ao apontar para Ariel Sharon a ilegalidade de erguer uma muralha que avançava sobre terras palestinas, este lhe responde que “boas cercas fazem bons vizinhos”. “É verdade, respondi, desde que as cercas não sejam erguidas no meio da terra de seu vizinho”. (304)
 
As negociações com as corporações transnacionais, poderes políticos não declarados mas muito presentes na esfera internacional e na composição de muitos governos, também aparecem com força no livro. No caso da AIDS, por exemplo, “íamos ajudar milhões de pessoas que estavam morrendo, tendo o conhecimento científico necessário para isso, ou não? Foi à sombra dessa pergunta, persistente e inexoravelmente simples, que Peter Piot, Gro Brundland e eu marcamos uma série de reuniões com representantes dos principais laboratórios farmacêuticos, a primeira delas realizada em março 2001, em Amsterdam. Em decorrência dessas reuniões e do processo coletivo de pressão e envolvimento no mundo todo, os laboratórios farmacêuticos começaram a ceder. Isso levou a uma drástica queda do custo do tratamento nos países em desenvolvimento. O preço das drogas caiu de 15 mil dólares por ano para 150 dólares, ou 0,50 cents por dia. O impacto foi colossal” (293).
 
Kofi Annan detalha a errática luta contra o terrorismo, onde dimensões militares foram priorizadas, relativamente às medidas que favorecem o desenvolvimento: “Um dos aspectos de cruel ironia dessa mudança é que o desenvolvimento internacional é parte essencial da luta de longo prazo contra o terrorismo”. Na realidade, “a globalização e a privatização por si sós não conseguem ajudar os países mais pobres, já que eles carecem de infraestrutura e capital humano para atrair esses investimentos”. (281)
 
O livro não expressa, de maneira alguma, memórias de aposentado. Traz todo o vigor de alguém que deixou o cargo mas não a presença internacional que resulta da sua respeitabilidade. E o olhar é também para o futuro. ”As Nações Unidas do século XXI devem criar novas parcerias, atender às necessidades das pessoas e guiar-se pelo princípio segundo o qual a soberania nacional nunca pode ser usada como escudo protetor do genocídio e de violações de direitos humanos. Se quisermos enfrentar com sucesso os desafios da era global, é preciso propor uma visão muito mais ampla do que seja segurança – integrando paz, desenvolvimento, emancipação das mulheres e direitos humanos. É preciso atuar efetivamente nos quatro desafios principais do século XXI: paz e segurança, crescimento com desenvolvimento, respeito pelos direitos humanos e o império da lei”. (34)
 
As próprias Nações Unidas devem ser repensadas nesta perspectiva. “Eu sempre disse que as Nações Unidas devem ser uma entidade não só de governos, mas de povos, já que é dos povos, e não de governos, que o poder emana em última instância”, envolvendo também uma “robusta sociedade civil”. (261)
 
Uma leitura que flui, e nos traz um manancial de informações sobre os bastidores das tensões internacionais, e também dos logros, como o pacto pelos Objetivos do Milênio. Há milhares de análises sobre estes temas. Mas ouvir um protagonista multilateral, que estava no centro do picadeiro, enriquece muito. A tradução, de Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra, é impecável.
 

EUA: Foram Manning, Snowden e Assange que correram riscos para expor crimes

 


Amy Goodman - Democracy Now, Washington – Opera Mundi
 
Enquanto isso, os criminosos de guerra e responsáveis por espionagem ilegal permanecem impunes
 
“Que edifício perigoso é a guerra, como ela pode facilmente desmoronar e enterrar todos nós em ruínas”, escreveu Carl von Clausewitz, o general prussiano e teórico militar do século XIX, em seu famoso texto “Da Guerra”, quase 200 anos atrás.

Essa frase foi tirada do capítulo “Informação na guerra”, um assunto que ainda reverbera hoje, desde Fort Meade, Maryland, onde Bradley Manning acaba de ser condenado por espionagem por uma corte militar, passando pela embaixada do Equador em Londres, onde o fundador do Wikileaks, Julian Assange, mora há mais de um ano, tendo conseguido asilo político para escapar de perseguição política dos EUA, até a Rússia, onde o denunciante da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA), Edward Snowden, está após ter recebido asilo temporário.

A condenação de Manning despertou um interesse momentâneo dos membros da mídia de elite dos EUA, que passaram pouco tempo na corte marcial de dois meses, localizada poucos quilômetros ao norte de Washington. Aqueles que torciam por Manning ficaram aliviados que ele foi considerado inocente da acusação mais séria, a de ajudar o inimigo, o que teria como consequência uma sentença de prisão perpétua. Ele foi condenado em 20 das 22 acusações, e pode pegar uma pena de 136 anos de prisão.

“Os vazamentos de Bradley Manning expuseram crimes de guerra, ocasionaram revoluções e promoveram reformas democráticas” disse Assange, de dentro da embaixada. “Ele é o denunciante por excelência”. É interessante que o ex-secretário de Defesa Robert Gates tenha escrito o seguinte para o senador Carl Levin, em 2010, sobre os vazamentos:

“A avaliação feita até hoje aponta que nenhuma fonte de informação especial ou métodos tenham sido comprometidos com o vazamento.”

Manning deu uma declaração no início do julgamento em que se responsabilizou pelos vazamentos, mas, importante, apontou seus motivos. Ele mencionou especificamente o vídeo do ataque de um helicóptero Apache que trucidou uma dúzia de civis em Bagdá, em 12 de julho de 2007. Dois dos mortos trabalhavam para a agência de notícias Reuters, o operador de câmera Namir Noor-Eldeen, 22, e seu motorista, Saeed Chmagh, pai de quatro.

Podemos ouvir Manning dizer suas próprias palavras durante o julgamento, graças a uma gravação não autorizada, de seu depoimento, vazada anonimamente. Ele disse:

”O aspecto mais alarmante do vídeo, para mim, foi como a equipe que operava as armas parecia estar se deliciando com a carnificina. Eles desumanizaram os indivíduos que eles estavam atacando e pareciam não dar nenhum valor à vida humana. Se referiam a eles como ‘bastardos mortos’, e se elogiavam uns aos outros por suas habilidades de matar um grande número de pessoas... Para mim, aquilo pareceu uma criança torturando formigas com lentes de aumento”.

Uma das acusações de que Manning foi julgado culpado foi de “publicação arbitrária”. Isso não tem precedentes na lei militar. O advogado de Manning afirmou que esse é um crime inventado. O verdadeiro crime, do qual ninguém foi acusado, é o desrespeito arbitrário pela vida humana, o que foi exposto por Manning.

O vazamento de Manning deu para a Reuters, e para o mundo, uma ilustração do horror da guerra moderna, da morte violenta de dois trabalhadores da mídia no cumprimento de seu serviço.

Como o jovem soldado também disse em sua eloquente declaração, “acredito que se o público em geral, e especialmente o público dos EUA, tivesse acesso às informações [dos vazamentos], isso poderia gerar um debate nacional sobre o papel dos militares e sobre nossa política externa de maneira geral, da forma como se relacionou com Iraque e Afeganistão”.

De fato, ele gerou tal debate. A onda mais recente de vazamentos, de Edward Snowden, apenas intensificou o debate, com uma rara coalizão bipartidária no Congresso para reprimir o que muitos veem como um desertor. Apesar de que uma emenda legislativa, de autoria do republicano John Amash e do democrata John Conyers na Casa dos Representantes tenha sido derrotada, por pouco, semana passada, os dois também são autores de um projeto, o HR 2399, que faz a mesma coisa.

Carl von Clausewitz escreveu que “a grande incerteza a respeito de informação em toda guerra é uma dificuldade peculiar, porque toda ação deve, em grande medida, ser planejada de um dia para o outro”. Manning fez algo muito corajoso ao soltar essas informações, para desvelar o véu que esconde, para tornar públicas as maquinações do modo de fazer guerra moderna dos EUA. Edward Snowden expôs a sofisticação e alcance extraordinários do sistema de vigilância dos EUA, acabando com os que ousassem divulgar informações. E Julian Assange se senta entre as quatro paredes de seu reduto, perseguido pelo crime de publicar. Ainda assim, aqueles que planejaram as guerras, que cometeram crimes de guerra, que promoveram espionagem ilegal, por enquanto, andam livremente.

Texto em português na Carta Maior. Tradução: Rodrigo Mendes

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Justiça dos EUA proíbe crianças de falar sobre exploração de xisto por toda vida

 

Opera Mundi, São Paulo
 
Família da Pensilvânia alega ter sofrido problemas de saúde com extração mineral; acordo de sigilo com a empresa foi de US$ 750 mil
 
O acordo judicial foi fechado em agosto de 2011, mas só divulgado na semana passada pelo jornal local Pittsburgh Post Gazette. O diário divulgou parte dos autos, que mostra uma transcrição dos diálogos entre a família, a empresa e o juiz. A íntegra pode ser vista nesse link. O jornal afirma que tenta há algum tempo liberar todo o conteúdo do caso, que contém cerca de 900 páginas. Isso significa que as crianças foram censuradas quando possuíam apenas nove e sete anos de idade.

A decisão provocou indignação entre ambientalistas e defensores da liberdade de expressão. Segundo os ativistas, esses acordos sigilosos têm ajudado as empresas do setor a resistir a controles ambientais e de saúde mais rigorosos pois, dessa maneira, conseguem acobertam denúncias e evidências de contaminação da água, solo e ar, além dos problemas de saúde à população local que coabita com essas operações.

A disputa

O caso começou em 2010 quando a família entrou na justiça acusando as companhias envolvidas na produção de destruir sua fazenda, além de colocar a saúde das duas crianças em risco. A atividade econômica dos vizinhos teria causado problemas respiratórios, dores de cabeça e garganta além de ardência nos olhos.

Eles são vizinhos de grandes operações industriais: são quatro poços de gás, estações de compressão e um lago de dejetos industriais, o qual a família afirma ser responsável pela contaminação da água abastecida e os consequentes problemas de saúde.
Com o desgaste causado pela batalha judicial, a família decidiu aceitar o acordo e a "mordaça". Nos autos, eles afirmaram que não tinham outra alternativa para criar seus filhos em um ambiente mais seguro. "Precisamos tirar as crianças de lá pela própria qquestão da saúde e segurança", disse a mãe, Stephanie. Com o acordo, eles obteriam dinheiro para se mudarem para uma nova casa longe dos campos de gás. A empresa insistiu no caráter vitalício do sigilo e que este também incluísse as crianças.

A mordaça

Os Hallowich receberam uma “gag order” (termo jurídico em inglês equivalente a “ordem de mordaça”, ou “obrigação de silêncio”), um dispositivo legal que, mediante acordo (quase sempre com uma compensação financeira) impede a difusão pública de uma informação, opinião ou denúncia sobre o caso por uma das partes envolvidas. É aplicada em alguns países que adotam o sistema jurídico anglo-saxão. Nos EUA, onde são muito corriqueiras, quase sempre envolvem empresas que trocam uma indenização a indivíduos em troca de sigilo – muitas vezes tratam de questões ambientais. Até os próprios advogados chegam a ser proibidos de comentar publicamente sobre a questão, sem nem mesmo poderem evocar o artigo da Constituição norte-americana que evoca a liberdade de expressão.

Polêmica

O que chama atenção e parece não encontrar jurisprudência nos EUA, segundo especialistas consultados pelo jornal de Pittsburgh, é que a mordaça foi estendida para crianças, que naturalmente não participaram das discussões. O advogado da família, por sua vez, disse nos autos nunca ter visto uma “gag order” sendo imposta a crianças em seus 30 anos de exercício da advocacia.

Nos autos, a mãe, Stephanie Hallowich, disse que duvida que as crianças consigam manter a boca fechada por tanto tempo. “Minha preocupação é que eles são menores de idade. Não estou certa de que eles entenderão completamente a situação. Sabemos que estamos assinando um voto de silêncio para sempre, mas como essa decisão pode tirar os direitos de nossos filhos, que são menores agora? Afinal, minha filha tem sete anos, o menino tem dez”, questiona.

O pai, Chris, também advertiu a corte de que pode ser difícil manter o silêncio das crianças. “Eles irão se relacionar com outras crianças, filhos de famílias que trabalham nessa indústria (...) Até podemos dizer a eles: não falem sobre isso, não falem sobre aquilo, mas e quando eles estiverem sem nós em um playground?”

Depois que esse acordo se tornou público e gerou forte repercussão, um porta-voz da Range Resources falou ao Post Gazette que não acredita que o acordo se estenda às crianças e que a empresa não concordaria com isso. Ele afirmou também que não havia evidência de que os Hallowich foram afetados pelas atividades, e que os pais assinaram um documento afirmando que a saúde deles não foi afetada.

No entanto, a posição do porta-voz vai contra a afirmação do advogado da empresa, James Swetz, feita nos autos. Ao ser perguntado duas vezes sobre o acordo ser aplicado a crianças, ele foi enfático em dizer que sim: “Nossa posição [sobre o acordo] se aplica para toda a família. Nós certamente faremos valer isso”, disse o defensor à corte. Outro advogado da empresa, Peter Villari, perguntou formalmente aos pais se eles estavam conscientes de que o acordo anularia também os direitos dos filhos de recorrerem à primeira emenda da Constiuição norte-americana especificamente para esse caso. E os pais responderam que sim. "Estou fazendo essas perguntas para que não haja desacordo no futuro", explicou Villari.

A primeira emenda desautoriza qualquer ramos dos três poderes a infrigir direitos fundamentais, entre eles, o liver exercício da religião, a liberdade de expressão, de imprensa e de associação pacífica.

Na foto: Família usou como prova foto que mostrava a proximidade da propriedade com as indústrias locais
 
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QUEIXA-CRIME CONTRA VICE-PRESIDENTE DE ANGOLA MANUEL VICENTE

 

Deutsche Welle
 
O defensor dos direitos humanos, Rafael Marques, acusa Manuel Vicente de exercer a função de diretor duma empresa privada chinesa, apesar da incompatibilidade com o seu cargo de vice-presidente.
 
A queixa-crime foi entregue por Rafael Marques de Morais à Procuradoria-Geral da República em Luanda no dia 8 de agosto de 2013 e baseia-se na alegada participação de Manuel Vicente na empresa privada chinesa China-Sonangol International Holding Limited.
 
Segundo Rafael Marques, Manuel Vicente exerce atualmente a função de diretor na China-Sonangol International Holding Limited. O cargo seria incompatível com as suas funções de vice-presidente da República de Angola, alega Rafael Marques e cita a definição de Incompatibilidades no artigo 138 da Constituição de Angola. Este artigo proíbe para os Ministros de Estado, Ministros, Secretários de Estado e Vice-Ministros “o exercício de funções de administração, gerência ou de qualquer cargo social em sociedades comerciais e demais instituições que prossigam fins de natureza económica".
 
Manuel Vicente, que nasceu em 1956, foi diretor-geral da Sonangol, a empresa estatal de petróleos, entre 1999 e 2012. Desde então exerce o cargo de vice-presidente de Angola. É tido como um dos possíveis sucessores do Presidente José Eduardo dos Santos e como um dos homens mais ricos e poderosos de África.
 
O alegado envolvimento em negócios privados com empresas chinesas já foi documentado num artigo da DW África do dia 28 de outubro de 2011. O documento explica o alegado uso de empresas privadas chinesas por políticos angolanos para lucrar pessoalmente da concessão de créditos chineses para a recuperação da infraestrutura de Angola.
 
Republicamos o artigo do dia 28 de outubro de 2011:
 
A teia da China International Fund
 
A China International Fund foi criada em 2003 e está sediada numa morada em Hong Kong, na China. Faz parte do chamado grupo de Queensway e entrou em Angola numa altura em que o país estava ainda a recuperar da guerra civil e precisava de infraestruturas.
 
Segundo Deborah Brautigam, professora na American University em Washington, nos Estados Unidos, e autora do livro “The Dragon’s Gift”, “O Presente do Dragão”, fatores pessoais terão influído na escolha da empresa chinesa: “Pelo que percebo, havia redes de conhecimentos e relações pessoais entre as elites angolanas e alguns dos responsáveis do grupo de Queensway. Eles conheciam-se”.
 
Segundo um relatório de uma comissão do Congresso norte-americano, de 2009, a China International Fund já providenciou pelo menos 2,9 mil milhões de dólares a Angola para a reconstrução de infraestruturas.
 
Mas ainda hoje os investigadores têm várias dúvidas quanto ao acordo feito com Angola. Deborah Brautigam diz que não se sabe muito bem qual o tipo de acordo de que estamos a falar. “O que sabemos é que a China International Fund é apenas um veículo de um conglomerado que conhecemos como grupo de Queensway”, diz. “Uma série de empresas que estão à procura de oportunidades. E há responsáveis em Angola que também estão à procura de oportunidades de investimento”.
 
A teia de relacionamentos entre as empresas do grupo Queensway, tal como é apresentada num relatório do centro de estudos inglês Chatham House, de 2009, apresenta uma certa complexidade. De acordo com o relatório, a China International Fund, que foi criada em 2003, pareceria constituir o ramo de construção da Beya International Development Ltd., uma companhia mãe da China Angola Oil Stock Holding Ltd, que negociaria com o petróleo angolano e estaria ligada à China Sonangol International Holding.
 
O mesmo relatório refere ainda que a morada da China International Fund em Queensway, Hong Kong, serviria também de endereço a outros empreendimentos comerciais com ligações a Angola, incluindo a China Sonangol International Limited. Ainda de acordo com o relatório da Chatham House, entre os diretores da China Sonangol International Limited estaria Manuel Vicente.
 
Críticas à transparência
 
Segundo a investigadora da Universidade de Londres, Lucy Corkin, a China International Fund tem financiado projetos em Angola, que utilizam o petróleo como colateral. E isso funciona como garantia para o financiamento.
 
Tendo em conta a sua investigação, Corkin comenta, no entanto, que “porque a China International Fund parece estar a atuar como o financiador e o principal empreiteiro, isso tem implicações na forma como o empréstimo é levado a cabo. Mas como ninguém conseguiu ver o conteúdo dos contratos, é muito difícil perceber como eles funcionam”.
 
A falta de transparência é precisamente uma das críticas à China International Fund e ao grupo inteiro das empresas de Queensway.
 
De acordo com Rafael Marques, só há duas pessoas em Angola que deverão conseguir explicar o que se passa com a China International Fund no país e para onde vai o dinheiro: Manuel Vicente e o General Manuel Hélder Vieira Dias Junior "Kopelipa”. Segundo o jornalista e ativista dos direitos humanos, “estes indivíduos apresentam hoje uma fortuna incalculável. Sobretudo desde que começou este projeto com os chineses. E criaram um império de várias empresas fazendo investimentos colossais sem conseguirem explicar a proveniência desse dinheiro”.
 
De acordo com a revista inglesa The Economist, nos últimos sete anos o grupo de Queensway terá assinado contratos avaliados em milhares de milhões de dólares por petróleo, minérios e diamantes de África. A revista escreve num artigo de agosto de 2011 que estes acordos estão rodeados de secretismo e “parecem garantir ao grupo de Queensway condições bastante favoráveis”.
 
Sobre a situação da China International Fund em Angola, Rafael Marques diz que a empresa normalmente atua “como intermediária”. Segundo Marques, “é o que os próprios chineses aqui têm dito: Têm os projetos, que não vão a concurso público, e depois inflacionam os valores das obras e subcontratam outras empresas chinesas a um valor muito inferior àquele que o contribuinte angolano paga para estas obras”.
 
Projetos de relevo em Angola
 
Os projetos que foram atribuídos à China International Fund podem ser consultados na página online da empresa. Incluem a construção de mais de 215 mil unidades de habitação, de autoestradas ou, por exemplo, da linha de caminho de ferro de Benguela.
 
A linha de caminho de ferro de Benguela, que atravessa o país de Benguela ao Luau, ainda não está totalmente reconstruída, apesar da sua conclusão ter sido inicialmente anunciada para agosto de 2007.
 
A investigadora Lucy Corkin sugere um motivo para o atraso: “Segundo o meu entendimento sobre a forma como o projeto estava a ser conduzido, este era visto como um projeto-piloto. E decidiu-se avançar sem uma série completa de estudos de praticabilidade”, conta. “Penso que muitos aspetos da reconstrução do caminho de ferro não foram tidos em conta. Um deles, o facto de ser necessário desminar a maior parte das áreas em que a linha ia ser reconstruída”.
 
Dificuldades de financiamento
 
Mas as dificuldades não ficaram por aqui. De acordo com Corkin, em 2007/2008 a China International Fund teve também problemas financeiros.
 
Em outubro de 2007, e na sequência de relatos sobre alegadas anomalias no funcionamento da linha de crédito da China, o Ministério das Finanças angolano, emitiu um comunicado em que afirma que tendo-se verificado alguns constrangimentos por parte do Fundo Internacional da China em mobilizar financiamento para completar os projetos em curso e para o início de novos, o governo instruiu o Ministério das Finanças “no sentido de obter no mercado interno um financiamento de 3,5 biliões (ou mil milhões) de dólares americanos através da emissão de Obrigações do Tesouro”.
 
Talvez a China International Fund tenha tomado demasiados projetos em mãos, sugere Markus Weimer, investigador da Chatham House, de Inglaterra, e um dos autores do relatório “Sede de Petróleo Africano”:
 
“A reconstrução da infraestrutura em Angola teve muitos reveses, também pelo facto de não se conseguir transportar mercadorias pelos portos tão rápido quanto era preciso”, conta. “Portanto, houve este género de impedimentos, que restringiram os projetos e os atrasou. Talvez tenha sido um problema de gestão: prometeram demasiadas coisas que não puderam concretizar”.
 
Benefícios?
 
Rafael Marques coloca um ponto de interrogação quanto aos benefícios que os negócios entre a China International Fund e Angola trouxeram para os angolanos: “Caso fosse um negócio transparente, para o benefício do povo angolano, o governo seria o primeiro a publicitá-lo. E o governo não o faz precisamente porque é um acordo extremamente opaco e corrupto”.
 
Sendo assim, uma maioria da população angolana sairia a perder com estes “negócios da China” com cunho angolano.
 
Quando foi escrita a versão original do artigo em 2011, contactámos a China International Fund e a Sonangol, mas as empresas não responderam à nossa proposta de entrevista.
 
Leia mais em Deutsche Welle
 

PR de Timor-Leste pede a comunidade muçulmana para contribuir para desenvolvimento

 

MSE – MLL - Lusa
 
Díli, 08 ago (Lusa) - O Presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, pediu hoje aos muçulmanos timorenses para contribuírem para a paz, tranquilidade e desenvolvimento do país.
 
"O nosso Estado também precisa da vossa contribuição para a paz, tranquilidade e desenvolvimento do país", afirma Taur Matan Ruak, numa mensagem distribuída à imprensa por ocasião do Idul Fitri, que põe fim ao Ramadão.
 
Na mensagem, o Presidente felicita a comunidade muçulmana timorense por "este dia especial" e destaca a "tolerância religiosa" existente no país, que, apesar de maioritariamente católico, inclui no calendário oficial de feriados os dias sagrados para os muçulmanos.
 
"Assim, acredito que o nosso país possa ser um exemplo para outros", afirma o chefe de Estado timorense.
 
Segundo dados oficiais, cerca de quatro por cento dos poucos mais de um milhão de habitantes de Timor-Leste é muçulmano.
 
Leia mais sobre Macau e Timor-Leste – e outros países daquela região do mundo - em TIMOR LOROSAE NAÇÃO
 

Moçambique: Ausência nas autárquicas causa dúvidas sobre próximos passos da RENAMO

 

Deutsche Welle
 
Impasse na reforma da lei eleitoral impediu participação da RENAMO. Mais da metade dos partidos políticos em Moçambique também não se inscreveu para participar nas eleições de 20 de novembro.
 
O processo de inscrição terminou na terça-feira (7/8), tendo apenas 19 partidos políticos, coligações e grupos de cidadãos se registado para participar nas eleições autárquicas de 20 de Novembro.

A ausência de vulto é do maior partido da oposição, a RENAMO, que condiciona a sua participação no escrutínio à revisão da actual lei eleitoral.

O grupo de partidos políticos “Mãos Dadas” apresentou um pedido de impugnação de todo o processo eleitoral, alegando que a actual Comissão Nacional de Eleições (CNE) é incompetente para dirigir o escrutínio.

Impasse tirou RENAMO do pleito

A ausência de um acordo entre o governo e a RENAMO sobre a revisão do pacote eleitoral levou o partido de oposição a não se inscrever para participar nas eleições autárquicas de 20 de novembro próximo.

Ao cabo de 13 rondas negociais, as duas partes não conseguiram chegar a tempo a um acordo que permitisse enviar um projecto de revisão eleitoral ao legislativo. Os parlamentares estão reunidos há alguns dias, em sessões extraordinárias, para discutir, entre outros assuntos, esta matéria.
 
Para Francisco Campira, porta-voz do “Mãos Dadas” - grupo constituído por nove partidos sem representação no parlamento - sem a revisão do pacote eleitoral não será possível garantir a realização de eleições livres, justas e transparentes. O "Mãos Dadas" decidiu igualmente não participar nas eleições.

"Como podemos avançar para um processo eleitoral com uma lei que já está completamente minada, que abre espaços para fraudes", reclama Campira. Para o representante da oposição, o grupo quer uma CNE independente, mas não há condições para que isto aconteça porque "todos os setores da sociedade civil estão partidarizados", disse.

Vontade política

O analista Lourenço do Rosário argumenta que, terminado o prazo de inscrição para as eleições, a regra é que o governo siga o curso normal do calendário eleitoral.

Ele acrescentou, entretanto, que se está perante uma excepção e se há conclusão de que excepção vale a pena para a tranquilidade do povo moçambicano e da sociedade, vai se encontrar mecanismos para se ultrapassar o mal-estar. "Não é impossível resolver esta questão quando a excepção prevalece sobre a regra", avalia.

Caso a ausência da RENAMO se confirme, será a segunda vez que isso acontece depois de 1998. A embaixadora da Holanda, um dos países que promove o diálogo político em Moçambique, não acha que o boicote às eleições seja solução. Frederique de Man acha que "boicotar é irresponsável". No entanto, ela afirma que "cabe aos partidos políticos decidirem o que fazer."

Partidos sem expressão?

Rosário minimiza o facto de apenas 19 partidos políticos, coligações e grupos de cidadãos terem se inscrito para as eleições. "Alguns partidos políticos têm nome, mas não têm estrutura para se apresentar em um processo eleitoral. Estão lá mais para dizer que existem."

Campira lembra que a composição da CNE, neste momento, é de 11 membros. "Falta um dos membros, que é a RENAMO. E a RENAMO declinou de fazer parte deste órgão. Uma vez que este órgão é um colegiado, todas as suas deliberações são nulas", concluiu o líder oposicionista.

África do Sul: NELSON MANDELA RESPIRA NORMALMENTE

 


Notícias ao Minuto - Lusa
 
O ex-Presidente sul-africano Nelson Mandela, hospitalizado há dois meses em Pretória, está a respirar normalmente, afirmou hoje a sua ex-mulher, Winnie Madikizela-Mandela, numa entrevista concedida à estação de televisão Sky News.
 
“Os médicos conseguiram controlar a situação e ele está a respirar normalmente agora”, acrescentou, sem precisar o que entende por “normalmente”.
 
Segundo as visitas que recebeu no início de julho, Nelson Mandela estava “com respiração assistida”.
 
“Ele sempre teve problemas respiratórios e infeções pulmonares, que regressam regularmente. Agora, na sua idade, ele debate-se com isso e não se cessa de drenar o fluido presente nos seus pulmões”, explicou Winnie.
 
Para a ex-mulher de Mandela, que foi a sua mais fervorosa apoiante durante os 27 anos que este passou nas prisões do regime racista do apartheid, a situação é “cruel” porque as pessoas se comportam como se o Prémio Nobel da Paz 1993 já tivesse morrido.
 
“À nossa volta, vemos pessoas prestarem-lhe homenagem, dá-lo como morto e preparar-se para o funeral”, observou.
 
“Ele está a ser enterrado por antecipação. Será que as pessoas não pensam nos nossos sentimentos?”, interrogou-se Winnie, afirmando que Mandela continua a piscar os olhos quando os seus filhos o visitam.
 
“Para aqueles que o conhecem, que conhecem a sua força, é muito duro de suportar”, comentou ainda.
 
Nelson Mandela, de 95 anos, foi hospitalizado de emergência há dois meses com uma infeção pulmonar.
 
De acordo com as últimas declarações das autoridades sul-africanas, encontra-se em estado “crítico mas estável”, depois de ter fintado a morte no final de junho.
 
Os problemas pulmonares do herói nacional sul-africano estão provavelmente relacionados com as sequelas de uma tuberculose contraída durante a sua estada na ilha-prisão de Robben Island, ao largo do Cabo, onde passou 18 dos seus 27 anos de prisão.
 

Moçambique deve combater ritos de iniciação que violam direitos das mulheres – ONG

 


Notícias ao Minuto - Lusa
 
O Estado moçambicano deve intervir contra ritos de iniciação que atentam contra os direitos das mulheres, combatendo os casamentos prematuros e o abandono escolar forçado entre as jovens, avisou hoje a Liga das Mulheres da África Austral (WLSA).
 
A necessidade de uma mudança na abordagem da sociedade moçambicana aos ritos de iniciação é uma das reivindicações da pesquisa "Ritos de Iniciação e Construção das Identidades Sociais" elaborado pela WLSA, hoje divulgada.
 
Falando aos jornalistas em Maputo sobre os resultados da pesquisa, à margem de um encontro sobre o documento, a coordenadora de pesquisa da WLSA, Conceição Osório, afirmou que o estudo observou uma transformação na atitude dos jovens perante os ritos de iniciação, um costume em muitas comunidades para sinalizar a transição para a vida adulta.
 
Nas zonas rurais moçambicanas, os jovens são muitas vezes retirados da escola para serem colocados em isolamento, onde aprendem valores como a obediência, ou submissão, no caso das mulheres.
 
"Constatámos que nas zonas rurais há resistência, nós trazemos a voz dos que dizem que 'eu não quero isso para a minha vida'. Falámos com muitas raparigas que negaram o casamento prematuro e usaram estratégias de fuga a essa imposição", disse Conceição Osório.
 
O alargamento da rede escolar e o consequente acesso de mais jovens aos estudos, bem como o acesso aos meios de comunicação social têm promovido a consciência de liberdade dos jovens em relação a práticas repressivas dos seus direitos, assinalou a coordenadora de pesquisa da WLSA.
 
De acordo com Conceição Osório, o estudo mostrou que muitos jovens das zonas de Moçambique onde os ritos de iniciação são comuns têm questionado a prática, desafiando o medo e até os castigos físicos usados pelas comunidades na mobilização dos jovens em idade de serem sujeitos aos ritos.
 
A WLSA exortou o Estado moçambicano a atuar contra atitudes que violam os direitos dos jovens, principalmente das mulheres, impedindo, principalmente, os casamentos prematuros e o abandono escolar forçado.
 

UE – Desemprego Jovem: QUAL O DESTINO DA GERAÇÃO PERDIDA?

 


NRC Handelsblad, Amesterdão - Presseurop
 
Nestes anos de crise económica e desmoronamento político, o fosso entre gerações está a ficar cada vez maior. Mas como será a revolta da que assistiu ao declínio? É o que se pergunta um dos decanos da imprensa holandesa.
 
 
Atualmente, na Holanda, os desempregados representam 8,9% da força de trabalho, ou seja, cerca de 675 mil pessoas na força da vida. Não somos uma exceção. Por toda a Europa Ocidental, cerca de oito milhões de jovens não têm trabalho nem formação. Há poucos meses, The Economist calculava que, desde o início da crise, por volta de 2007, o desemprego entre os jovens, no mundo ocidental, tinha aumentado 30%, atingindo agora 26 milhões de pessoas.
 
Basta um pouco de bom senso para perceber que isso vai necessariamente ter consequências. Os dirigentes europeus estão conscientes disso. A chanceler alemã, Angela Merkel, acredita que o desemprego entre os jovens é o mais grave problema da Europa e adverte contra o perigo de uma "geração perdida". O apelo a uma reação a partir das altas esferas, que se está a tornar cada vez mais urgente, confirma a gravidade do problema. E leva a opinião pública a questionar-se sobre as medidas a tomar.
 
Falta de convicção política
 
Está previsto um novo programa europeu. Nos próximos dois anos, a Europa vai desbloquear 8 mil milhões de euros, para os países mais afetados – Grécia, Espanha e Portugal. O Banco Europeu de Investimento (BEI) vai ajudar a formar jovens, para criarem pequenas empresas, etc. Esperemos que estas medidas sejam eficazes.
 
No entanto, esta crise não é apenas económica. A Europa Ocidental e os Estados Unidos sofrem de falta de convicção política. Nenhum partido nem nenhum dirigente político tem sido capaz de inspirar a maioria do eleitorado. Obviamente, há muito que a elite política em todo o Ocidente está a sentir-se desconfortável. As guerras falharam e as populações apercebem-se, na maioria das vezes, de que a situação económica continuar a degradar-se. As classes médias estão pessimistas e tornam-se impacientes. E o cidadão vê as suas opiniões reforçadas a cada dia. O caso de Detroit, outrora o coração da indústria automóvel mundial, transformada numa cidade em ruínas e viveiro de criminalidade, é apenas a prova mais recente.
 
Esta crise representa, sob todos os aspetos, uma fratura em relação a um passado próspero e otimista. A questão que se coloca agora é saber como as novas gerações se vão comportar em tais circunstâncias. Já conhecemos fossos geracionais. Na história, o mais perturbador foi realizado pelo Terceiro Reich. Nasceu do revanchismo gerado por uma guerra mundial perdida, da crise económica dos anos 30, da fraqueza da República de Weimar e do talento oratório de Hitler.
 
Sem imaginação
 
Não é minha intenção fazer avisos anunciando a chegada de um "novo Hitler". Não é nada disso. Só quero frisar que, na década de 30, também ele se dirigiu ao povo alemão de uma forma positiva. Veja-se a este respeito o estudo de Sebastian Haffner, Anmerkungen zu Hitler [Notas sobre Hitler, sem edição portuguesa]. Hitler relançou a indústria alemã, lutou de forma eficaz contra o desemprego, independentemente do rearmamento e da sua política externa. Se teve êxito, foi em parte graças a uma fratura profunda entre gerações.
 
Na Holanda, tivemos a experiência recente desse fenómeno. Considero-me uma ilustração disso mesmo. Era jovem, durante a guerra que terminou com o Inverno da Fome [durante o último inverno da II Guerra Mundial, a fome matou mais de 20 mil holandeses]. Após a libertação, vivi o fracasso da mudança política e o início da guerra com a Indonésia, que se saldou noutro fracasso e que tinha feito com que enviássemos 150 mil soldados para o outro lado do mundo.
 
Depois, o Governo pensou que podia começar a tratar dos assuntos correntes. Mas não! A primeira prova está no romance de W. F. Hermans, Ik heb altijd gelijk (1951) [Estou sempre certo, um romance inédito em Portugal, sobre a vida de um soldado holandês que esteve na Indonésia de 1947 a 1949, quando regressa à Holanda]. Uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em compreender os mecanismos de um conflito de gerações.
 
Na literatura, tivemos o grupo Vijftigers [poetas dos anos 50].Seguiu-se o movimento [anarquista e contestatário] Provo, e os ocupas. Ao longo desses anos, tornou-se claro que a Holanda de antes da guerra pertencia definitivamente ao passado. Depois, as gerações cresceram na disciplina da Guerra Fria. E finalmente após 1989, começou uma nova era.
 
É impossível prever como se vai apresentar o novo fosso entre as gerações. Aqueles que tinham dez anos em 1990, como é que vivem a [a memória da] crescente prosperidade da década de 1990, o declínio insidioso da década subsequente e, agora, uma crise ainda sem cura? Que papel desempenha a Comunicação Social para esta geração perdida? Prepara-se uma nova resistência? Que forma vai assumir? Este tema não é ideal para uma longa-metragem profética ou um documentário sociopolítico?
 
Por vezes, acho que sofremos sobretudo de falta de imaginação. E não estamos sequer conscientes disso.
 
Na foto: Dois homens passam diante de uma parede onde está escrito "traidores" e de cartazes que apelam à greve geral, em Atenas em novembro de 2012 - Bloomberg via Getty Images
 

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