domingo, 18 de junho de 2023

Angola | O SISTEMA FALIDO E BLOQUEADO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O papel do Poder Judicial é garantir a aplicação da Lei de forma imparcial, justa e objectiva, interpretando e aplicando as normas jurídicas de acordo com as evidências apresentadas e os princípios constitucionais e legais orientadores. 

Não fiquem nervosos nem comecem a afiar a faca. Eu não sou o autor desta afirmação. Ela pertence a João Lourenço o rei dos reis, mestre dos mestres, deus dos deuses. Tudo o que acontece de bom deve-se a sua excelência. Dar de comer às crianças famintas é com o Grupo Carrinho. 

O respeito das decisões judiciais é um dos pilares fundamentais do Estado Democrático de Direito. As decisões judiciais devem ser respeitadas e cumpridas pelos cidadãos, pelas empresas, partidos políticos e todas as instituições públicas e privadas. O respeito das decisões dos Tribunais é importante para manter a estabilidade e a segurança jurídicas, evitando conflitos e garantindo a coexistência pacífica entre os cidadãos e as instituições. 

Não comecem a xingar-me nem preparem a moca. As afirmações no parágrafo anterior são de João Lourenço, o presidente de todas as sentenças, todos os acórdãos, todas as diligências, todos os excessos de prisão preventiva, todos os atentados à defesa dos arguidos, todas as inconstitucionalidades praticadas por magistrados judicias na barra dos Tribunais.

Tomem nota nas estrelas porque se escreverem na pedra ela pode ser Levada nas enxurradas. Se escreverem nas paredes, elas podem ser demolidas. Se escreverem nos papéis eles podem ser rasgados e atirados ao lixo. Apontem: Se a crise atingiu o Judiciário isso significa que o sistema político está falido.

Polícia Nacional angolana considerou manifestações de sábado ilegais

UNITA acusada de organizar "atos de desordem"

A polícia angolana acusou hoje a UNITA, maior partido da oposição, de estar envolvida em atos de desordem e arruaça durante as manifestações que se realizaram no sábado a nível nacional e que as autoridades reprimiram em várias províncias.

Sem mencionar o número de detidos, a Polícia Nacional refere que as manifestações convocadas pela sociedade civil foram reprimidas em Luanda e Benguela porque não observaram “os pressupostos legais” e por primarem por arruaças, rebelião e violência contra as forças policiais.

A polícia carregou contra os manifestantes com gás lacrimogéneo e disparos, pelo menos nestas duas províncias, havendo relatos de dezenas de feridos e detidos, não tendo sido possível ainda determinar quantos.

“A Polícia Nacional constatou que, em todas as manifestações realizadas, foi notória a presença de deputados, dirigentes e militantes do Partido UNITA, que de forma direta participaram na organização dos atos de desordem pública acima referidos e que provocaram ferimentos a vários participantes, entre os quais cidadãos que circulavam na via pública, bem como a sete membros das Forças de Segurança”, lê-se no comunicado.

A JURA, “braço” juvenil da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que aderiu à manifestação contra a subida dos combustíveis, fim da venda ambulante e alteração do estatuto das ONG, denunciou, no dia anterior, uma alegada tentativa de se culpar o partido “por eventuais estragos” que venham a ocorrer na manifestação de sábado.

A JURA disse ter tomado conhecimento de um “plano macabro” do regime que, alegadamente, mandou “produzir milhares de materiais de propaganda com símbolos e dizeres da UNITA e da JURA, para vestir e infiltrar pessoas ligadas ao regime e forças de segurança na manifestação”.

O deputado da UNITA e secretário provincial do governo, Adriano Sapiñala, que esteve presente na manifestação em Luanda, denunciou a utilização abusiva das suas imagens pela Televisão Pública de Angola (TPA), que, no seu espaço de informação da noite, acusou a UNITA de estar ligada aos distúrbios citando “fontes do governo”.

“Só para lembrar que todas imagens que a TPA montou na sua vergonhosa peça, foram feitas por mim e pelo Nelito Ekuikui [presidente da JURA] e foram retiradas das nossas páginas do Facebook!”, escreveu Sapiñala na sua página daquela rede social.

O Bloco Democrático, partido que aderiu à iniciativa, denunciou a detenção no sábado de alguns dos seus dirigentes, em Luanda e noutras províncias.

Em Luanda foi também detido pelo menos um elemento de uma das organizações cívicas que convocaram o protesto, entre outras dezenas de pessoas.

No Bié, foi detido um músico, em Cabinda, três ativistas, e no Huambo, outros quatro.

Em Benguela, foram detidas 55 pessoas.

A Polícia Nacional afirma no comunicado divulgado esta madrugada que as forças de segurança usaram meios táticos-operacionais moderados e proporcionais à natureza dos atos praticados e apelou aos cidadãos a “não aderirem a atos de violência”.

Imagens partilhadas nas redes sociais mostram pessoas feridas e uso de granadas de gás lacrimogéneos e disparos contra manifestantes, sendo alguns deles também perseguidos pelas ruas até aos seus bairros.

Sapo | Lusa

Movimento dos Estudantes Angolanos repudia "comportamento pidesco” da polícia

Num comunicado, o MEA diz ter tomado conhecimento do comportamento "criminoso" contra jovens que tentavam exercer os seus direitos de reunião e manifestação na província do Huambo (sábado), acusando a polícia de atos "vis e terroristas".

Em causa está a detenção do secretário provincial do MEA, José Sprajeu, que segundo o Movimento sofreu "tortura física e psicológica", tendo a família sido igualmente molestada.

"Sem mandado judicial, os senhores munidos de armas de fogo e farda de um órgão do Estado efetuaram vários disparos, molestaram a sua filha, apontando-lhe uma arma de fogo na cabeça e levaram o jovem para a cadeia onde permanece até ao momento", denuncia esta organização.

Dezenas de pessoas foram detidas no sábado em Angola no âmbito de protestos contra a subida dos combustíveis e fim da venda ambulante. Os manifestantes foram reprimidos pela polícia, que usou gás lacrimogéneo e fez disparos, pelo menos em Luanda e Benguela.

A Polícia Nacional acusou a UNITA de envolvimento nos distúrbios, embora o maior partido da oposição angolana não tenha aderido oficialmente à manifestação convocada pela sociedade civil e tenha denunciado através do seu braço juvenil, a JURA, alegadas manobras do regime -- suportado pelo MPLA -- para culpar a UNITA por eventuais estragos que viessem a acontecer.

A MEA afirma, no comunicado, que foi detido um outro dirigente na Cáala (Huambo), bem como mais dois ativistas.

O MEA exortou a Procuradoria-Geral da República, a provedoria de Justiça e a presidência angolana a posicionarem-se diante da "anarquia e violência gratuita no Huambo" e encorajou os seus membros a continuarem a exercer os seus direitos.

Sapo | Lusa

Angola | A MINHA MANIFESTAÇÃO DE PROTESTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os portões do tempo não têm guardas nem ferrolhos, entramos e saímos quando desejamos. Nós sim, minha amada Pátria, temos um guarda de sentinela aos nossos desejos, uma prisão ameaça os nossos actos e os nossos sentimentos estão sob vigilância policial.

Minha amada Pátria, nós aprendemos a lutar por ti, sob a bandeira do MPLA. Foi o movimento que nos ensinou a lutar. Sem medo do chefe do posto, do sipaio, do ximba ou do bufo. Foi por isso que chegámos ao dia 11 de Novembro de 1975. A liberdade custou muitas vidas, muitos sonhos foram triturados. 

No dia 12 de Novembro de 1975 descobrimos que Luanda estava vazia. Angola estava vazia. Sós nos deixaram as paredes arruinadas e as vidas cansadas. Muitos fugiram das suas terras para ficarem sob a protecção do MPLA na capital. Fizeram das fraquezas forças e sobreviveram. O sentimento de familiaridade era mais forte do que o de nacionalidade. Havia sempre lugar para mais um. Mais um resto de conduto para partilhar. A zunga nasceu aí. Na nossa Pátria precária surgiu uma classe social, da base ao topo, que nas ruas fazia comércio de nada.

Nós vínhamos de uma infância de tongas e kapopas, filmes do espadachim Errol Flynn, Cantinflas, Toto e Fernandel, muamba de galinha kabiri nos dias festivos, maruvo fresquinho e um jipe willys. O tempo movia-se à velocidade dos nossos passos e nunca nos deixou para trás. Depois crescemos e aprendemos com o MPLA que com tempo ou sem tempo, ninguém fica para trás. Agostinho Neto jurou solenemente que o MPLA É o Povo e o Povo É o MPLA. Acreditávamos nele mais do que em nós.

O MPLA ganhou as eleições com maioria absoluta. O seu cabeça de lista é o Chefe de Estado e Titular do Poder Executivo. Os ministros, secretários de estado, directores-gerais ou nem por isso e outros servidores públicos são do MPLA ou próximos, quando não são acomodados, primos, sobrinhos, madalenos e outra fauna protegida.

Portugal | TAP!

Henrique Monteiro | Henricartoon

Portugal | PESCADINHA DE RABO NA BOCA

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Para se compreender o conjunto do sistema de emprego e das remunerações salariais que lhe estão associadas, é indispensável uma análise atenta ao padrão de especialização da nossa economia.

Essa análise deverá ser acompanhada por estudos rigorosos sobre: o estado do Sistema de Relações Laborais nos setores privado e público; a persistência de uma política de desvalorização salarial e das profissões; as causas que levam os portugueses a serem condescendentes com a pobreza e com as desigualdades.

O economista José Reis tem colocado ênfase na observação do sistema de criação de valor em que assenta a economia portuguesa, isto é, na identificação dos ramos de atividades às quais se dedica capital e trabalho. Ora, como ainda recentemente ele mencionava, em 2020, em Portugal, 75% do emprego estava concentrado em ramos de atividade com produtividade igual ou inferior a 90% da produtividade média nacional.

O comércio, o alojamento e a restauração ocupavam já 22% do emprego. Em atividades administrativas e de apoio - incluem limpeza, segurança, e muitos subcontratados - encontravam-se 16,8%. Os ramos industriais menos produtivos tinham 8,4% do emprego. 5% estavam na agricultura. Acontece ainda que, dos 520 mil postos de trabalho criados depois de 2013, 314 mil surgiram nestes ramos de baixa produtividade. Este número sobe para 395 mil, se tivermos em conta a redução de emprego verificada na agricultura e no serviço doméstico. Tudo indica que estes dados vêm a piorar.

Esta semana, a Fundação José Neves divulgou um relatório titulado, Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal, que atualiza leituras de alguns indicadores - embora em poucas áreas - propiciadores de reflexão sobre peias crónicas ao nosso desenvolvimento. A diminuição dos salários reais e da diferença salarial entre jovens com ensino superior e com ensino secundário, a falta de literacia digital e a não evolução tecnológica das empresas, e o "desajustamento" da Escola, foram dos tópicos mais comentados. Alguns dos comentários assentaram em interpretações parcelares e em sugestões enviesadas. É preciso dizer que a pólvora está descoberta há muito tempo.

Num ano, tivemos 105 mil jovens com licenciatura ou mais, que emigraram. Eles dispõem de preparação e conhecimentos digitais, mas foram "exportados" porque se "desajustam" do emprego disponível no país.

Estamos prisioneiros do enorme peso de atividades de baixo valor acrescentado - onde o emprego é pouco qualificado ou tido como tal - que se articula com a promoção de políticas de desvalorização salarial, reforçada pela utilização de imigrantes em situações de vulnerabilidade, e com uma prolongada fragilização e até achincalhamento da negociação coletiva. O Governo dá mau exemplo quando não negoceia e arrasta conflitos, quando promove acordos de contenção salarial. Além disso, temos um baixo nível de formação de empresários e discursos pacóvios que "promovem" os trabalhadores a colaboradores, para fugirem à fixação dos seus direitos e deveres.

Não esperemos que a Escola e a formação - que é preciso melhorar - venham por si resolver os "desajustamentos" do mercado de trabalho.

Há empresários inovadores e conscientes dos desafios? Sem dúvida. Todavia, quando existe possibilidade de obter lucros com mão de obra barata, baixam as hipóteses de inovação. E as "boas vontades" para repartir riqueza estão a léguas do efeito da contratação coletiva no crescimento dos salários e na modernização das empresas e serviços.

*Investigador e professor universitário

Portugal | Partidos criticam, PR desvaloriza, Costa em silêncio. A escala na Hungria

As reações dos partidos - e do Presidente da República - à escala feita por António Costa em Budapeste, na Hungria, para assistir a um jogo de futebol.

À medida que as polémicas que envolvem a TAP parecem aproximar-se do fim - pelo menos, com o encerramento da Comissão de Inquérito Parlamentar (CPI) à companhia área portuguesa -, outras questões parecem levantar voo, aterrar e seguir viagem de forma turbulenta. É o caso de uma viagem que o primeiro-ministro, António Costa, fez, no final de maio, a Budapeste, na Hungria, durante a qual assistiu a um jogo de futebol com o seu homólogo húngaro, Viktor Orbán.

No mesmo dia em que a CPI à TAP chegou ao fim, na sexta-feira, o Observador noticiou a existência desta escala, para a qual o chefe de Governo não tinha 'visto'. É que de acordo com as informações noticiadas, e entretanto confirmadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o desvio de Costa aconteceu quando este seguia a caminho da Moldova para a cimeira da Comunidade Política Europeia. A viagem realizou-se, mas Costa não a tinha declarado na 'alfândega' - ou seja, na agenda pública. A 31 de maio, o primeiro-ministro aterrou no país num Falcon 50 da Força Aérea Portuguesa e assistiu ao jogo.

"O primeiro-ministro ia para uma reunião internacional e entendeu que devia dar um abraço a José Mourinho. Ele disse-me 'é um português que está envolvido, vou-lhe dar um abraço, pode ser que dê sorte' e quase ia dando", revelou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, à margem de um evento no Seixal, Setúbal.

Já António Costa ainda não prestou qualquer comentário sobre esta questão, apesar dos pedidos de esclarecimento dos partidos.

“Humilhação, revolta e injustiça”: da urgência de um hospital a uma sala de tribunal

PORTUGAL

Olá,

As urgências de um hospital, onde vamos quando estamos vulneráveis, deviam ser locais seguros. Mas nem sempre o são: não o foram para Carlota, Ana e Joana. Foram sujeitas a abusos sexuais por um enfermeiro: ele drogava-as, paralisando-as, para depois as violentar sexualmente. Aconteceu em 2009. Duas delas apresentaram queixa-crime e o processo judicial arrastou-se por sete anos.

Cinco meses antes de Carlota ser sexualmente violentada, uma outra mulher tinha apresentado reclamação, mas o conselho clínico, lê-se no processo judicial, considerou a conduta do enfermeiro “respeitadora e sem falhas”. A maioria da equipa clínica recusou-se a acreditar que praticava abusos, até ser condenado pela Justiça. O julgamento foi longo, durou três anos, e foi uma verdadeira via sacra para as três mulheres: tiveram de reviver os traumas, de lidar com tentativas de assassinato de carácter, de descrebilização.

Chegaram até a ser vaiadas, perseguidas e maltratadas em cada audiência do julgamento por quem apoiava o enfermeiro na cidade alentejana. Houve quem lhes cuspisse para cima. Não desistiram, foram até ao fim, mas a Justiça soube-lhes a pouco, foi “benevolente”. O enfermeiro foi condenado a cinco anos de prisão com pena suspensa e a pagar uma indemnização de 12 mil euros. Uma imagem que ainda hoje marca a vida destas mulheres é a de ele estar sentado na sala de audiências a rir-se, como se “estivesse numa esplanada”, enquanto elas testemunhavam. O agressor sexual condenado poderá regressar em breve aos corredores de um hospital.

Como lida a Justiça com sobreviventes de abusos? Contamos a história destas três mulheres.

Este é o tema desta segunda parte da Investigação74 Paredes Frágeis em Lugares de Dor, da Ana Patrícia Silva com Cláudia Marques Santos, em parceria com o jornal Público e apoiada pela bolsa de jornalismo Gender and Equality do Pulitzer Center.

Na edição desta semana temos ainda a crónica de Filipe Vargas.

Bom fim de semana.

Ricardo

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Portugal | RACISMO

Manifestação do Chega, extrema-direita em Portugal, com cartaz de mentira e saudações nazis implicitamente racistas (imagem em JN)

Cândida Almeida* | Jornal de Notícias | opinião

Quem rejeita a existência de racismo em Portugal alberga, de forma consciente ou não, uma atitude mental de ódio e aversão por aqueles que divergem da sua raça, tendo em conta a sua origem étnico-racial. Não é possível ignorar, de boa-fé, a sucessão de crimes violentos, incluindo o homicídio, contra pessoas de origem africana, indiana, paquistanesa, cigana ou até brasileira, cometidos por gente racista, sem outro fundamento que não seja o seu sectarismo doutrinário da hierarquia das raças. Já para não referir os ataques verbais, as discriminações, os impropérios jocosos com que diariamente aquelas pessoas se confrontam. Há racismo em Portugal como um pouco por todo o Mundo.

O nosso país ratificou a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e o protocolo adicional. Nem por isso diminuiu, antes pelo contrário, a aversão de uma pequena parte da população à cor da pele não branca de concidadãos que procuraram refúgio, paz e dignidade neste país, bens essenciais que lhes negavam no seu, ou que já nasceram aqui e não conhecem outra pátria que não esta. É por isso que a CRP proíbe qualquer discriminação e segregação em razão da raça, da ascendência ou território de origem. A exposição ao racismo por aqueles que negam a sua realidade é apenas uma forma enganosa de justificar e subestimar as manifestações e actos de origem racista. 

A maior parte dos cidadãos e em particular os mais atentos, responsáveis e convictos da igualdade de todos os seres humanos, em direitos e deveres, defendem a necessidade de as crianças serem ensinadas para a igualdade, liberdade, tolerância, fraternidade e partilha. Noções estas a serem-lhes prestadas na escola e na universidade. É precisamente neste patamar do processo civilizacional em que nos encontramos que nos surge uma manifestação pública de alguns professores, ostentando cartazes de conteúdo racista visando o primeiro-ministro de Portugal. Intolerante e inaceitável na e para a classe. Até nas reivindicações de melhores condições de vida e de carreira os professores têm de conduzir-se como mestres, que deviam ser, têm o dever funcional, moral e cívico de acompanhar os alunos na sua formação social e de cidadania, considerando que estes serão o amanhã de todos nós. Não adianta desviar a nossa atenção e responsabilidade ético-social, devendo, pelo contrário, expressar a rejeição deste tipo de manifestações. Não é admissível em nenhum grupo profissional, muito menos no dos professores, a utilização de mensagens de teor racista porque, acompanhando a declaração da Fenprof, até quando reivindicam publicamente os seus direitos os professores estão e devem estar a ensinar. Aqueles cartazes, o seu conteúdo e as palavras proferidas não são só de mau gosto, são racistas. Há que reflectir, o racismo e a xenofobia estão presentes em qualquer cartilha da extrema-direita e é contra aquela que temos que serrar fileiras. Bastaram já 48 anos de ditadura.

*EX-DIRETORA DO DCIAP | A AUTORA ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA 

CEMITÉRIO MEDITERRÂNEO: 26 MIL MORTOS EM DEZ ANOS (estimativas por baixo)

2023 - Cemitério Mediterrâneo: 26 mil mortos em dez anos. Nos primeiros dois meses de 2023 já morreram 225 pessoas que tentavam chegar à Europa (Ler em Expresso)

Buscas em curso: estariam centenas de migrantes em barco que naufragou na Grécia

Foram resgatados 78 corpos e 104 pessoas com vida após o naufrágio de uma embarcação, na noite de terça-feira, ao largo da Grécia. Prosseguem as buscas. Suspeita-se que estariam 400 migrantes a bordo.

As buscas por centenas de pessoas dadas como desaparecidas após um naufrágio na costa grega continuam esta quinta-feira, enquanto os corpos dos migrantes mortos estão a ser transferidos para camiões frigoríficos.

De acordo com a agência de notícias Associated Press (AP), pelo menos 78 corpos foram recuperados do mar após um barco de pesca lotado de migrantes - que saiu da Líbia rumo à Itália - ter naufragado na costa sudoeste da Grécia na noite de terça-feira.

As equipas de resgate salvaram 104 passageiros - incluindo egípcios, sírios, paquistaneses, afegãos e palestinianos - mas as autoridades temem que centenas de outros possam ter ficado presos debaixo do convés do navio. Relatos dos sobreviventes referem que estariam a bordo 750 pessoas, incluindo uma centena de crianças.

As operações de busca ao sul da região do Peloponeso, na Grécia, não conseguiram localizar mais corpos ou sobreviventes entre a noite de quarta-feira e o início do dia de hoje.

"As probabilidades de encontrar [mais sobreviventes] são mínimas", disse o almirante reformado da guarda costeira grega Nikos Spanos à televisão estatal ERT.

"Os sobreviventes estão numa situação muito difícil. Estão em estado de choque", declarou à AP Erasmia Roumana, chefe da delegação da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), depois de encontrar os migrantes resgatados no porto de Kalamata, no sul da Grécia.

"Eles querem entrar em contacto com as suas famílias para dizer que estão bem e continuam a perguntar sobre os desaparecidos. Muitos têm amigos e familiares desaparecidos", declarou Erasmia Roumana.

A Grécia declarou três dias de luto e os políticos suspenderam a campanha para as eleições gerais de 25 de junho.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse estar "profundamente triste" com a tragédia e prometeu fortalecer a cooperação entre a União Europeia (UE) e os países vizinhos para tentar reprimir ainda mais o tráfico de migrantes.

Entretanto, os grupos de direitos humanos argumentaram que mais repressão irá levar os migrantes e refugiados a procurarem rotas mais longas e perigosas para chegar a países seguros.

A Itália e a UE pagam milhares de milhões ao novo homem forte da região MENA

O que poderia dar errado?

A UE mostrou que toda a região do MENA tem potes de dinheiro para apoiar os ditadores mais brutais para impedir que os migrantes cheguem às suas costas.

Martin Jay* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Que palavra usaria para descrever a UE a desviar mil milhões de euros para os cofres do déspota tunisino Kais Saied? "Chantagem" parece vir à mente. A UE, juntamente com a líder de direita italiana, Giorgia Meloni, acaba de assinar cerca de 2 mil milhões de euros em "ajuda" à Tunísia - em troca de Saied fazer algo sobre as centenas de migrantes africanos que tentam deixar as costas da Tunísia numa tentativa de chegar a Itália e depois a França antes de obter o estatuto de asilo.

Tanto a UE como a Itália acreditam firmemente que o continente europeu está num ponto de ruptura – não em termos de logística ou mesmo de dinheiro que desvia para os refugiados – mas politicamente. As consequências entre a França e a Itália sobre os migrantes que estão a ser enviados através da fronteira para o território francês são suficientemente más; mas há uma crença comum de que, depois das ondas de sírios que chegaram nos últimos anos, com muitos optando pela Alemanha, o ponto de ruptura política tanto para os partidos incumbentes quanto para a própria UE chegou. E assim a UE faz o que normalmente faz quando as suas políticas falham e não tem outras ideias. Pega o talão de cheques e começa a distribuir dinheiro como se não houvesse amanhã.

Neste caso, foi a Itália que agiu como o incentivador, mas, em última análise, o que a UE fez foi pagar ao chantagista, o que já está a preocupar os analistas que argumentam que não se resolve a crise da imigração enchendo as contas bancárias de déspotas que já têm um historial abismal de atrocidades dos direitos humanos. O caso de Saied é extraordinário, pois ele já tinha a reputação de ser um Hitler da região do norte da África, em que muito do racismo feio contra os africanos culminou com eles sendo expulsos de suas casas pelas quais pagavam aluguel e deixados para dormir na rua. Foi o seu momento Kristallnacht que chocou o mundo talvez até mais do que as imagens horríveis de migrantes africanos mortos a inundar a costa tunisina.

Mesmo os mais ardentes e ferrenhos defensores da UE — Carnegie — mal podem acreditar na façanha.

"É a erosão dos direitos humanos combinada com a rápida deterioração da economia que está levando os tunisianos a deixar o país", diz o texto. "Desde que Saied se tornou presidente, há dois anos, por meio do que foi descrito como uma tomada de poder, ele silenciou a oposição, esmagou a liberdade de imprensa, minou o Estado de Direito e quase destruiu o Judiciário independente. Seus críticos ou estão atrás das grades, no exílio interno, ou deixaram o país", diz o texto.

MEDITERRÂNEO

Tjeerd Royaards, Países Baixos | Cartoon Movement

Mais migrantes morrem afogados no Mediterrâneo, enquanto a maior parte da Europa permanece indiferente.

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