sábado, 1 de outubro de 2011

CAVACO SILVA, UMA REVISITAÇÃO DE OLIVEIRA SALAZAR




ANTÓNIO VERÍSSIMO

UM REACIONÁRIO EM BELÉM

Estamos a assistir ao inimaginável pela maioria dos portugueses. Tão inimaginável que ainda hoje uma parte muito substancial dos portugueses se revela amorfa relativamente aos “sacrifícios para todos” que a classe política nos exige com o maior dos desplantes e a maior das injustiças. Os “sacrifícios para todos” são na realidade somente para a classe média e para aqueles que quase nada têm mas que estão a ser conduzidos para uma situação de quase esclavagismo ao perderem os direitos que confere ao patronato plenos poderes para sujeitar ou despedir os que neste país são a força produtiva.

Há cerca de duas décadas que assistimos à incompetência e ao depauperar de garantes constitucionais produzidos pela pessoa de Cavaco Silva desde que num nefasto dia foi fazer a rodagem do automóvel a um congresso do PSD em Aveiro e de lá saiu dono do burgo laranja, passando a dono do burgo nacional pouco depois, ao ser votado com maioria em eleições que lhe deram acesso ao cargo de primeiro-ministro. Com maior incidência foi exatamente a partir desse momento que os portugueses começaram a ver malbaratados os seus direitos, liberdades e garantias. Os milhões então provindos da CEE, atual União Europeia, transformaram-se em alcatrão e em betão, os latifúndios renasceram, os grandes da agricultura viram os seus cofres a abarrotar num processo que teve o macabro mérito de destruir a produção agrícola nacional. O mesmo se passou nas pescas. O mesmo se passou quase por toda a parte. Portugal transformou-se num razoável entreposto mercantilista em que o negócio imposto era não produzir. Por esse não produzir os cada vez mais ricos arrecadaram milhões. A decadência do país e dos portugueses começou com Cavaco Silva. Os que lhe seguiram, do PS, quase nada fizeram para contrariar as políticas erradas de Cavaco durante cerca de uma década como primeiro-ministro. O PS em muitos casos ainda agravou mais a situação.

Assistimos ao regresso de Cavaco há meia dúzia de anos… para concretizar ainda mais as políticas de descalabro que geram miséria e fome para os portugueses de menores recursos. Os homens de mão que o rodeiam e que representam o regresso ao passado quase salazarista estão espalhados por todos os poderes na atualidade. Não é por acaso que Cavaco Silva pouco diz e se revela presidente de uma república que não é a de todos os portugueses. Cavaco Silva está recheado de falsidades na perseguição de um objetivo: servir os portugueses mais ricos e os da alta finança internacional, que ficarão cada vez mais ricos. Cavaco Silva personifica a nossa destruição enquanto país. Felizmente é impossível destruir este povo, por mais que procure fazê-lo. É evidente que ele representa aquilo que não queremos, a miséria para onde nos tem empurrado.

Hoje, os portugueses, alguns, vão sair à rua e manifestarem-se contra estas políticas semelhantes em muito ao salazarismo derrubado em Abril de 1974, a organização do protesto é da Intersindical Nacional – CGTP, que dizem afeta ao PCP. Que lhe é afeta… será. Mas isso que importa se a razão está daquele lado? Vamos ver a aderência ao protesto e só depois poderemos fazer a análise justa. Certo é que os trabalhadores portugueses que produzem a maior parte da mais-valia estão a ser roubados por este regime cavaquista e da ala laranja do PSD submetida a Cavaco Silva. Foi ele na qualidade de PR que afirmou que teríamos de fazer bastantes sacrifícios, todos os portugueses, “mas com justiça”, disse. Com aquele ar seráfico, tenebroso, afirmou-o. Afinal onde está a justiça dos sacrifícios que nos estão a impor? Cavaco já se insurgiu contra as injustiças? Não. Antes pelo contrário. Afinal para ele e os de sua eleição, que o rodeiam, a vida é fácil. Até têm beneméritos que lhes compram ações da bolsa com valores muito superiores à sua valia. Caso de Oliveira e Costa, do BPN, o benemérito que deu lucros inadmissíveis a Cavaco e à filha. Por nada, só porque o homem estava em dia de fazer ofertas de negócios a perder. Praticou a boa ação com Cavaco Silva e com a filha… Mas podia ter sido um pobretanas anónimo qualquer a beneficiar. Calhou a Cavaco, sorte… naquele dia. E, talvez ainda mais sorte nos dias que nem sabemos… Passos Coelho não passa de um instrumento dos sevandijas. Formado na juventude laranja, onde lhe extraíram a coluna vertebral, como a tantos outros.

Cavaco nem consegue ser eminência parda. Só não sabe quem não quer, que esta obra de avanço selvagem da direita e do capital é dele. É ele o principal causador de os que trabalham estarem a ser levados para uma situação esclavagista. Obra que começou há cerca de duas décadas e que agora quer finalizar pela parte que lhe cabe. A obra é dele, ao serviço do patronato e do capital reacionário.

Hoje, ele e o seu governo com Passos Coelho tiveram parte da resposta dos trabalhadores no protesto que ainda há pouco terminou em Lisboa e no Porto, onde se manifestaram cerca de 180 mil portugueses, segundo a CGTP. Na semana de 20 a 27 de Outubro está prevista uma vaga de protestos e greves conforme o que foi aprovado nas manifestações. As ações de luta por certo que se vão radicalizando contra os sevandijas que na política servem interesses adversos aos mais elementares direitos dos que trabalham. Vamos ter tempos de muita luta por via do presente e pelas perspetivas futuras já serem de fome e miséria. Cavaco é uma revisitação de Salazar, um reacionário em Belém.

* Texto parcial a publicar em Página Lusófona – blogue do autor – que inclui apontamentos sobre Angola e Timor-Leste

Portugal - Protesto: TRABALHADORES APROVAM SEMANA DE LUTA COM GREVES




DESTAK - LUSA

Os trabalhadores presentes na manifestação de Lisboa da CGTP aprovaram hoje a realização de uma semana de luta, entre 20 e 27 de outubro, que incluirá greves nos sectores privado e público.

A decisão faz parte de uma resolução, aprovada no final do protesto de Lisboa, que defende "a mudança de políticas para um Portugal com futuro".

No dia em que a intersindical celebra o seu 41º aniversário, os manifestantes aprovaram, na Praça dos Restauradores, a continuação da luta “cada vez mais geral” contra "a destruição dos direitos laborais e sociais, contra o empobrecimento e as injustiças e pelo emprego, salários, pensões e direitos sociais".

A CGTP convocou para hoje, em Lisboa e no Porto, duas manifestações “contra o empobrecimento e as injustiças”, porque considera que as medidas de austeridade que têm sido impostas aos portugueses levam à recessão económica e consequentemente ao aumento do desemprego e da precariedade.

*Foto em Lusa

Portugal - Jerónimo de Sousa: Trabalhadores "não vão dar tréguas" ao Governo




DESTAK - LUSA

O líder do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu que a adesão aos protestos de hoje demonstra que os trabalhadores não vão "dar tréguas" ao Governo", considerando a continuação dessa luta "determinante para o futuro que aí vem".

"A luta e a sua continuação vai ser o elemento determinante para o futuro que aí vem. Num quadro em que eles dizem que não vale a pena lutar, em que dizem que tudo é inevitável, esta grande resposta demonstra que os trabalhadores portugueses não estão dispostos a dar tréguas a uma guerra que lhes foi declarada pelo Governo", afirmou Jerónimo de Sousa à Lusa na avenida da Liberdade.

O secretário-geral comunista saudou o protesto, convocado pela CGTP, que tinha à "cabeça" os trabalhadores da empresa de camionagem TNC, e, distribuindo cumprimentos, subiu junto da janela dos camiões que "abriam" a manifestação.

"Perante a gravidade da ofensiva, a sua dimensão, a sua profundidade, que tem como eixo central o aumento da exploração dos trabalhadores, obviamente tínhamos que apoiar esta manifestação", declarou.

Expressando que os comunistas estão "profundamente animados, confiantes e solidários" com o protesto, Jerónimo de Sousa prevê o endurecimento dos protestos no futuro, que o PCP promete continuar a apoiar.

O líder comunista sublinhou, assim, que "o PCP vai cumprir o seu compromisso de honra com os trabalhadores e o povo, que fez durante a campanha eleitoral, vai continuar a luta para uma mudança, para um futuro melhor".

"Quando nós verificamos a proposta de alteração da lei laboral, visando a destruição de direitos fundamentais, quando vemos as taxas moderadoras, o aumento dos impostos, do gás, da eletricidade, então que resposta é que devemos dar?", questionou.

"Essa resposta é de luta e, nesse sentido, tendo em conta o agravamento da situação em que o Governo vai passar dos anúncios à concretização das medidas, aqui estão os trabalhadores para dar resposta", defendeu.

PALESTINA E ISRAEL POR TRÁS DA CORTINA DE FUMAÇA





Sérgio Storch*, da esquerda sionista, acredita numa paz — e julga que Brasil pode jogar papel decisivo em seu favor

O presidente da Autoridade Palestina pediu na semana passada, à Assembleia Geral das Nações Unidas, o reconhecimento do Estado Palestino. Embora a imprensa venha dando vasta cobertura a esse momento histórico, pouco se dabate sobre a complexidade do que está em jogo e a dificuldade das partes interessadas chegarem a um denominador comum. Eis uma lista das principais perguntas cujas respostas parecem importantes até mesmo para leitores bem informados:

Por que Israel não aceita o Estado Palestino?

Pesquisas de opinião (disponíveis no site da Iniciativa de Genebra), evidenciam que a maioria da população israelense está convencida da criação do Estado Palestino, e entende que o momento está chegando. Não será uma derrota para Israel, como mostra essa lista de 50 razões para Israel dizer sim, compilada por uma coalizão de ONGs pacifistas israelenses e palestinas. Há manifestações nas ruas de Israel denunciando a intransigência do governo Netanyahu.

O Estado Palestino já foi previsto no acordo de Oslo, graças ao qual Itzhak Rabin e Yasser Arafat ganharam o prêmio Nobel da Paz, há 18 anos. Esse acordo foi uma declaração de intenções, em que ficou estabelecida a aceitação mútua da solução Dois Estados para Dois Povos. Há uma minoria que o recusa, e que tem posição forte no atual governo. Se o primeiro ministro ceder, ele perderá a liderança da coalizão de direita que lhe dá sustentação, que poderá cair nas mãos de seu aliado e rival interno — Avigdor Lieberman, da extrema direita. Portanto, o impasse deve-se não a Israel não aceitar o Estado Palestino, e sim às contradições da política interna israelense (leia mais em Outras Palavras sobre a coalizão de direita que está no governo israelense). O argumento utilizado pelo primeiro-ministro na ONU, que leva o presidente Obama a apoiá-lo por medo de perder votos judaicos nas eleições de 2012, é que a criação do Estado Palestino não pode ser unilateral, e que só poderá se dar através de negociações diretas.

E por que então não fazem as negociações diretas?

Sim, houve negociações diretas diversas vezes. As primeiras foram no ano 2000, em Camp David, patrocinadas por Bill Clinton. Não houve tempo hábil para concluí-las, em vista da mudança de guarda na presidência dos Estados Unidos, que George W. Bush assumiu em janeiro de 2001. A experiência de negociações e o enfrentamento das questões mais complexas levou os negociadores a se encontrarem novamente em 2002, na chamada Iniciativa de Genebra, que serve de base para tudo que veio a ser negociado posteriormente (ver detalhes em Paz Agora).

Outra rodada aconteceu em 2008, mas foi interrompida por nova mudança de governo — agora em Israel. Como a coalizão agora no poder tem rabo preso com setores interessados na construção de habitações nos assentamentos em territórios ocupados por Israel, Netanyahu colocou dificuldades para as negociações. Exigiu algo que nunca havia sido requerido antes: que a Autoridade Palestina reconhecesse o Estado de Israel como um Estado judeu.

Tal condição pode ter implicações em relação ao destino dos refugiados palestinos, um tema que faz parte das negociações. O governo israelense também boicotou o diálogo ao retomar e acelerar as construções nos assentamentos e em Jerusalém Oriental, o que é visto pelos palestinos como ato hostil. Portanto a exigência de Netanyahu e o seu comportamento em relação à construção nos assentamentos resultaram na paralisia das negociações, apesar dos esforços exercidos pelos Estados Unidos e pelo Quarteto (EUA, Rússia, ONU e União Europeia), para que elas acontecessem. A Autoridade Palestina, pressionada por sua sociedade, não teve outro recurso a não ser recorrer à ONU.

O que estará envolvido nas negociações?

As negociações deverão estabelecer as fronteiras entre o Estado de Israel e o Estado Palestino, já tendo por base o princípio aceito por todos de que a base serão as fronteiras anteriores à guerra de 1967 — vencida por Israel, que então ocupou a Cisjordânia e Gaza. Há ajustes a serem feitos nas fronteiras através da troca de terras, para garantir as condições de segurança para ambos os estados, e para conciliar dois pontos do conflito: a exigência dos palestinos de que tenham território contínuo que viabilize sua economia, versus a necessidade dos israelenses reduzirem o ônus social e econômico de levar de volta para o Estado de Israel os colonos que residem nos assentamentos. Do total de 300 mil colonos, as negociações poderão exigir o deslocamento de cerca de 100 mil, reduzindo muito a dimensão do problema.

Um outro ponto de negociação foi o motivo principal para as negociações de uma década atrás não terem tido sucesso: o status de Jerusalém. É exigência palestina que Jerusalém Oriental seja parte do Estado Palestino. Parte da sociedade israelense entende que Israel não pode abrir mão de ter Jerusalém unificada. Há outras questões também complexas, como a da desmilitarização do Estado Palestino, a questão dos refugiados e a questão dos direitos sobre a água. A negociação de todas essas questões não deve ser motivo para postergar a criação do Estado Palestino.

Israel não tem razão de temer que os palestinos não o reconheçam?

Sim. A sociedade israelense tem uma imagem negativa dos árabes: entre outras coisas, acredita-se em Israel que os árabes não cumprem acordos. As declarações reiteradas de grupos radicais como o Hamas e o Hezbollah (do Líbano), apoiados pelo Irã, de que Israel não tem direito a existir, levam o povo israelense a temer a possibilidade de novos confrontos que visem à sua destruição. Essas declarações são utilizadas pela direita israelense para sustentar o medo de grande parte da população, que tem fundamentos históricos. O governo israelense explora essa tendência, estereotipando os árabes e, em particular, os palestinos, inclusive na educação escolar. Há estudos de pacifistas israelenses que evidenciam, nas cartilhas elementos, que levam a temer os povos árabes. Do lado palestino, ocorre algo semelhante: ensina-se desde a escola que os judeus são malignos. E a maior parte dos palestinos só conheceu judeus em uniformes militares.

E como esse medo pode ser vencido?

Primeiramente com informação. Muitos judeus desconhecem as mudanças que ocorreram nas últimas décadas, e mantêm impressões que tinham fundamento muito tempo atrás. Por exemplo, não é sabido que em 2002 a Liga Árabe, liderada pela Arábia Saudita, lançou a Iniciativa Árabe de Paz, oferecendo a Israel o reconhecimento de todos os países árabes em contrapartida ao fim da ocupação. Foi uma guinada histórica em relação à posição explícita de recusa ao Estado de Israel, representada pelos nãos da Conferência de Cartum, em 1968: “não ao reconhecimento, não ao diálogo, não á paz”. Além disso, a geopolítica mudou com a ascensão do Irã, que é temido pelos países árabes. Israel deixou há muito de ser visto como o inimigo principal, e dois países, Egito e Jordânia, já têm acordos bilaterais com Israel desde a década de 70.

Em segundo lugar, o conhecimento mútuo: há inúmeras iniciativas conjuntas de israelenses e palestinos para vencer o medo recíproco, através de ações culturais , especialmente na música e no cinema. A mais conhecida é uma orquestra sinfônica formada por jovens judeus e árabes, fundada por um dos maiores músicos israelenses, Daniel Barenboim, e pelo maior intelectual palestino, Edward Said, já falecido.

Em terceiro lugar, a ação política conjunta. Por exemplo, a ONG de direitos humanos nos territórios ocupados, B´Tselem, é formada por israelenses e palestinos, e é a mais importante no Oriente Médio. Muitos israelenses são também solidários em ações de resistência não-violenta à ocupação, como a ação retratada no filme “Budrus”.

A exposição recíproca dos dois povos tem contribuído para mudar a imagem que um tem do outro. É um processo que levará algumas gerações, e que um Estado Palestino reconhecido e que reconheça Israel contribuir para aprofundar.

Aqui há um papel importante que outros países poderão desempenhar: desenvolver o diálogo entre suas comunidades judaicas e as comunidades árabes, para que se conheçam e transmitam a seus amigos que vivem em Israel e na Palestina impressões que levem a superar os preconceitos. O Brasil é um país que conta com as melhores condições para desempenhar esse papel.

Por que o Estado Palestino não foi criado antes?

A identidade palestina era ainda pouco nítida quando a ONU aprovou, em 1947, a criação de dois estados, um judeu e um árabe, na terra então chamada Palestina. A região estava sob mandato britânico desde o fim do império otomano, derrotado na Primeira Guerra Mundial. O estado árabe então aprovado não chegou a se constituir. O estado de Israel, ao se constituir e declarar independência, foi atacado, em 1948, por exércitos de sete países árabes. Foi uma guerra cruenta, vencida por Israel, que ocupou parte dos territórios que tinham sido designados para o novo estado árabe. Dois países árabes tomaram a parte remanescente do que deveria constituir o novo estado: a Jordânia tomou a Cisjordânia e o Egito tomou a faixa de Gaza. O novo estado árabe, que seria um estado palestino, não foi então criado, e os palestinos passaram a ser um povo sem terra, disperso pelos países árabes e no resto do mundo.

Pode-se considerar que a luta por um Estado Palestino teve início apenas a partir de 1964, com a criação da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). E somente em 1993, após a primeira Intifada – levante palestino nos territórios ocupados — tiveram início a negociação e conhecimento recíproco, com a solução Dois Estados para Dois Povos. Até então a OLP tinha em seu estatuto o objetivo de destruir Israel.

Quem teve culpa por essa demora?

Ambos os lados. Israel, por motivos alegadamente de segurança, adotou uma política habitacional para estender suas fronteiras. Essa política foi praticada por governos dos vários partidos, e minou a confiança dos palestinos no cumprimento do acordo de Oslo. Essa política habitacional tornou-se conveniente, pois permitiu atender à demanda de habitação para as novas ondas migratórias, especialmente a de mais de um milhão de judeus que não tinham podido até então sair da União Soviética, e que emigraram após a queda da URSS, em 1989.

Do lado palestino, a humilhação de viverem sob ocupação, com as várias violações de direitos humanos daí decorrentes, levou à radicalização de parte de sua população e ao início de uma série de atentados terroristas, que passaram a fustigar a população israelense, cujo medo passou a realimentar a ansiedade por mais segurança.

A atribuição de culpas a apenas um dos lados é uma forma simplista de entender um conflito complexo como esse, caracterizado por uma espiral de injustiças e violência que não têm uma única causa, a não ser a causa já remota, que se encontra na segunda década do século 20, quando ingleses e franceses dividiram entre si toda aquela região (Líbano e Síria para os franceses, Jordânia e Palestina para os ingleses), e praticaram a política de dividir para dominar, da mesma forma que os ingleses fizeram na Índia, onde o conflito explodiu na mesma época, após a Segunda Guerra Mundial.

Mas não há como resolver?

A solução já passou por várias etapas, e pode estar muito próxima. Ambos os lados estão cansados de conflitos, e a cada ano é aparentemente menor a quantidade de pessoas em ambos os lados que favorecem a intransigência. Os jovens de ambos os lados desejam vidas normais. O ressentimento mútuo é alimentado pela opressão da ocupação e pelas reações terroristas. Hoje pode-se dizer que há maior conflito interno em cada um dos lados do que o conflito que os separa. Em Israel, os radicais que estão no atual governo, que foram reforçados pela imigração russa, tendem a dar lugar para governos mais moderados (e pode ser que o impasse na ONU provoque um rearranjo na coalizão de poder). Na Palestina, os radicais (não só no partido religioso Hamas mas também em facções seculares) também perdem espaço para aqueles que optaram pela resistência não-violenta.

Pode ser que incidentes provocados por radicais de algum dos lados acabem provocando uma nova espiral de violência, ou mesmo uma guerra. A criação do Estado Palestino é o caminho para ambos os lados poderem escapar disso e passarem a oferecer vida normal para seus cidadãos.

Tudo já foi discutido, e o que ambos os lados precisam encontrar agora são saídas honrosas para poder prosseguir nas negociações dos detalhes. O maior problema de cada um está no front interno. Em Israel, o governo de direita, que inclui um segmento claramente fascista — mas já contestado, como vimos,  nas manifestações sociais  pela recuperação do estado de bem estar social, destruído com políticas neoliberais. Na Palestina, a disputa de poder entre o partido nacionalista Fatah e o partido religioso Hamas.

A exigência mais forte dos palestinos é a criação do seu Estado com continuidade territorial, pois a expansão dos assentamentos israelenses penetrou fundo nos territórios ocupados, com estradas protegidas e que os árabes não podem utilizar, criando uma situação que pode ser chamada de apartheid (nos territórios ocupados, não em Israel, como muitos imaginam acontecer). Os palestinos querem que seu estado não seja um conjunto de áreas separadas por estradas israelenses. Por isso, exigem as fronteiras anteriores a 1967. Mesmo assim, a separação entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza é impossível de contornar, a não ser através de uma autoestrada que passe por território israelense.

O que os israelenses mais exigem?

Os israelenses precisam minimizar a transferência para Israel dos israelenses que hoje residem nas terras que serão devolvidas. É uma população de 300 mil pessoas, o que envolve um esforço muito grande, que Israel não poderá fazer em tempo curto. Israel quer minimizar esse número para cerca de 100 mil, e isso depende do traçado das fronteiras que separarão os dois Estados. Eles sabem que não conseguirão manter Jerusalém unificada, mas os interesses da especulação imobiliária continuam produzindo novas construções nessa área. Serão negociações detalhistas, pois no atacado as grandes questões já foram tratadas.

Porém, o ponto que mais divide a sociedade israelense hoje é a suposta necessidade de uma garantia formal de que Israel seja aceito como um Estado judeu. Isso implicaria o abandono explícito do chamado direito de retorno dos refugiados palestinos, posição que a Autoridade Palestina não pode assumir de direito, pois os setores radicais interessados em derrubar os moderados insuflariam uma revolta popular que desestabilizaria as conquistas já alcançadas pelos palestinos. É o principal nó da questão, do qual Netanyahu não abre mão, mas no qual a maior parte da sociedade israelense acredita que deva haver flexibilidade.

E o tal do sionismo, o que é?

O sionismo é a ideologia que levou à criação do Estado de Israel, e que preconiza que ele seja um Estado seguro para todo o povo judeu espalhado pelo mundo. Foi uma resposta dada no final do século 19 à história de dois milênios em que os judeus raramente tiveram direitos iguais aos de seus vizinhos, nos países que habitavam. Todos os judeus gozam do “direito ao retorno” para Israel. O sionismo não é inerentemente expansionista nem antiárabe. Se Israel fosse apenas a cidade de Telaviv, o sionismo se praticaria com o direito de retorno a esse outro Israel. Muitos confundem isso com a opressão que Israel exerce hoje sobre os palestinos, seja na ocupação da Cisjordãnia ou no bloqueio à faixa de Gaza. Essa opressão é reconhecida e combatida também por pessoas que se consideram sionistas (usa-se o termo “sionismo de esquerda”, que está também associado à busca de uma sociedade israelense igualitária).

O fim da ocupação e a criação do Estado Palestino são uma condição imprescindível para que o sionismo seja reconhecido mundialmente como um nacionalismo semelhante a diversos outros, que resultaram em estados nacionais hoje considerados normais, a exemplo da Alemanha e da Itália. São condição para que Israel deixe de ser estigmatizado como um país opressor e violador do direito internacional, e seja reconhecido como um país normal e pelas contribuições que tem dado para o desenvolvimento social, cultural, científico e tecnológico da humanidade, fortalecido pela economia do seu vizinho Estado Palestino. Já há muita cooperação entre as sociedades israelense e palestina — por exemplo, na área da saúde — e as oportunidades de desenvolvimento conjunto são imensas. Faz parte do documento Iniciativa Israelense de Paz, produzido por lideranças civis e militares israelenses fora do governo, a proposta de um desenvolvimento regional integrado.

Talvez Netanyahu não seja capaz de dar o passo de estadista para que esse potencial se viabilize (leia um artigo que reflete o pensamento da oposição israelense). Se não for, a plasticidade da democracia israelense permite prever que essa coalizão de direita comandada por Netanyahu poderá ser substituída, por novos arranjos entre os partidos ou em novas eleições, por um governo mais inteligente e mais flexível. Neste momento alguns passos têm que ser dados para que todos saiam da ONU com boas respostas para seus públicos internos. E a história continua… Outro Israel é possível…

* Sérgio Storch é consultor em Planejamento, ativista de diversas causas ligadas à transformação social. Escreve, em Outras Palavras, a coluna Outro Israel é Possível

MANIFESTAÇÕES EM LISBOA E NO PORTO JÁ COMEÇARAM




TSF - Direto

Os protestos da CGTP, em Lisboa e Porto, já começaram. A Intersindical espera milhares de pessoas nas manifestações e muitas já responderam à chamada.

Este é o primeiro protesto desde que o Governo de Pedro Passos Coelho está em funções. Em Lisboa, o ponto de concentração é a Praça do Saldanha.

Na manifestação estão professores, operários têxteis, utentes dos transportes públicos de Setúbal e população de Vendas Novas contra o fecho das urgências.

No Saldanha estão também oito camiões da TNC que apelam para que a situação da empresa seja resolvida o mais depressa possível.

O desfile começa na Praça do Saldanha, segue para o Marquês do Pombal, via Avenida Fontes Pereira de Melo, para se dirigir depois à Avenida da Liberdade até à Praça dos Restauradores.O protesto termina às 17:00 com o discurso de Carvalho da Silva.

No Porto, a manifestação parte de dois locais diferentes, a Praça da Batalha e Praça dos Leões.



Mais Portugal:

Portugal: MILHARES DE PESSOAS EM PROTESTO DESCEM A AVENIDA DA LIBERDADE EM LISBOA




DESTAK - LUSA

Milhares de trabalhadores estão a descer a Avenida da Liberdade, cerca de uma hora após o início da manifestação que começou no Saldanha, em protesto contra as medidas de austeridade e a retirada de direitos laborais e sociais.

A manifestação, convocada pela CGTP para o dia em que a central comemora o seu 41º aniversário, tem como objetivo a defesa do emprego, dos salários e de melhores condições de vida.

O desfile está a ser encabeçado pelos camionistas da TNC (empresa que abriu insolvência deixando os funcionários sem receber há dois meses), que foram fortemente aplaudidos à entrada da Avenida da Liberdade, em Lisboa, pelos transeuntes que observam a manifestação dos passeios.

Os organizadores do protesto ainda não conseguem estimar o número de participantes, uma vez que, cerca das 16:30, ainda havia gente a sair da Praça do Saldanha, ponto escolhido para o início do desfile.

Apesar do percurso bem definido, milhares de manifestantes estão a optar por integrar o desfile apenas na Avenida da Liberdade, onde aguardam a chegada dos manifestantes à sombra das árvores que os protegem das elevadas temperaturas que se fazem sentir hoje em Lisboa.

A manifestação decorre ao som de palavras de ordem como “O custo de vida aumenta e o povo não aguenta” ou “Roubar os subsídios de natal é vergonha nacional”, “Assim não vai dar, sempre os mesmos a pagar”.

Atrás dos camiões da TNC segue o executivo da central sindical e depois a Interjovem, que se faz acompanhar pelo grupo Homens da Luta, que prometem animar os manifestantes com várias canções e palavras de ordem.

Logo atrás vão manifestar-se trabalhadores do distrito de Leiria, liderados pelos trabalhadores da fábrica de cerâmica das Caldas da Rainha Bonvida, que estão em luta há alguns meses numa tentativa de evitar o encerramento da empresa.

A CGTP convocou para hoje, em Lisboa e no Porto, duas manifestações “contra o empobrecimento e as injustiças”, porque considera que as medidas de austeridade que têm sido impostas aos portugueses levam à recessão económica e consequentemente ao aumento do desemprego e da precariedade.

No Porto, a imagem repete-se, com milhares de pessoas a participar na manifestação nacional que começou po rvolta das 16:15.

Portugal: MILHARES DE PESSOAS DESFILAM NO PORTO EM PROTESTO NACIONAL




DESTAK - LUSA

Milhares de pessoas participam hoje no Porto na manifestação nacional convocada pela central sindical CGTP contra “o empobrecimento e as injustiças” e em defesa de “melhores salários e emprego”.

Os participantes começaram por se reunir em dois pontos distintos da cidade, na Batalha e nos Leões, e deslocavam-se, cerca das 16:15, em direção à Avenida dos Aliados, onde João Torres, membro da comissão executiva da CGTP, fará um discurso.

Ao longo do percurso, os participantes entoam frases como “Assim não pode ser, trabalhar sem receber”, “O país não se endireita com políticas de direita” e “Assim não vai dar, são sempre os mesmos a pagar”.

São visíveis muitas bandeiras da CGTP, faixas e cartazes de protesto contra as políticas do Governo, nomeadamente contra o corte no subsídio de Natal.

À agência Lusa, um agente da PSP admitiu que a manifestação conte com três mil pessoas até ao momento.

A CGTP convocou para hoje, em Lisboa e no Porto, duas manifestações “contra o empobrecimento e as injustiças”, porque considera que as medidas de austeridade que têm sido impostas aos portugueses levam à recessão económica e, consequentemente, ao aumento do desemprego e da precariedade.

Macau: Cerca de meio milhar nas ruas em protesto pacífico no Dia Nacional da China




DM - LUSA

Macau, China, 01 out (Lusa) -- Cerca de 500 pessoas manifestaram-se hoje à tarde pelas ruas de Macau, de forma pacífica, aproveitando o 62º aniversário da implantação da República Popular da China para vincar as suas preocupações.

A marcha até à sede do Governo decorreu sem incidentes de maior, de acordo com a PSP que estimou em 480 o número de pessoas que responderam à convocatória das cinco associações que decidiram sair à rua pelo 1º de outubro.

A polícia acompanhou de perto os protestos, tendo sido destacados 120 agentes, segundo dados divulgados pela PSP ao fim da tarde e no rescaldo das manifestações, que duraram cerca de três horas, e cujos itinerários foram cumpridos.

A Associação da União Familiar de Macau, que arrancou por volta das 15:00 horas locais do Jardim Triangular -- na zona norte da cidade -- foi a que juntou, de longe, o maior número de pessoas, entre idosos e crianças. Dados não oficiais apontam para a presença de mais de duas centenas de pessoas.

Envergando camisolas vermelhas -- a cor da bandeira da China -- os membros da Associação da União Familiar, bem como simpatizantes da causa abanavam cartazes amarelos -- cor das estrelas da bandeira da China -- clamaram o regresso dos filhos que habitam para lá das Portas do Cerco, num itinerário mais longo do que o percorrido pelas demais organizações.

Antes de seguir para a sede do Governo -- o destino final comum a todos os grupos para a entrega de uma petição -- a associação que reivindica a reunião de famílias chinesas separadas quando os pais se fixaram no território e deixaram os filhos a viver no continente rumou ao Gabinete de Ligação do Governo Central.

No local entregaram uma outra missiva na esperança que a sua voz chegue a Pequim, a quem cabe tomar uma decisão final sobre todos os processos.

A esta associação, acabaram por se "juntar" dois cidadãos de Macau, que com frequência se manifestam no Senado -- praça no centro da cidade -- contando na sua missão com o apoio da Associação da Força do Povo.

As camisolas roxas e cor-de-rosa denunciaram a presença de outras associações, uma das quais forçou as grades colocadas pela polícia e correu para a sede do Governo, sem que, contudo, se tenham registado conflitos. Já momentos antes, e também nas proximidades do destino final, um dos manifestantes "provocou" o cordão policial, mas sem sucesso e sem tumultos.

O deputado Ng Kuok Cheong marcou presença no protesto, aliando-se a uma associação de trabalhadores da área da construção civil, limpeza e segurança que vivem com dificuldades em manter o seu emprego, já que os empresários preferem contratar ao exterior -- dado que a mão-de-obra é mais barata -- e mantêm trabalhadores ilegais.

"Eles querem ter um emprego estável", afirmou Ng Kuok Cheong, ao apontar que o Governo deve ter uma posição mais efetiva no controlo ao trabalho ilegal e que decidiu juntar-se para "apoiar a voz" destes trabalhadores.

Os protestos ocorreram num dia pleno em atividades comemorativas do 62º aniversário da implantação da República Popular da China, como o içar das bandeiras, uma cerimónia que contou com mais de 300 personalidades, e uma marcha organizada pelo Instituto do Desporto que reuniu mais de 15 mil participantes.

Seguiu-se uma receção oficial, presidida pelo chefe do Executivo de Macau, Chui Sai On, com as atividades a incluírem ainda um Sarau Desportivo e Cultural.

Para a noite estão reservados outros espetáculos, como de fogo de artifício, cujo concurso internacional chega ao fim com as exibições da França e da China.

Timor-Leste: UM PROFESSOR DE PORTUGUÊS QUE GOSTARIA DE VER MELHORES RESULTADOS




VALSA PRODUÇÕES EM SAPO TL

Retirado dos vídeos do Sapo relativo a Timor-Leste, com produção e realização da Valsa Vídeo para o programa Timor-Leste Contacto, exibido na RTP, achamos por bem trazer ao conhecimento dos interessados sobre a educação em Timor-Leste e o ensino da língua portuguesa, quase um quarto de hora de uma entrevista com o professor universitário Nelson Gonçalves, que já vai para seis anos que leciona em Timor.

A gravação é de Abril deste ano mas nem por isso perde atualidade. É provável que Nelson Gonçalves já tenha regressado a Portugal… Ou terá ficado mais um ano para lecionar? Efeitos da água de coco?

VALSA PRODUÇÕES – OITO ANOS A MOSTRAR TIMOR-LESTE AO MUNDO




TIMOR LESTE CONTACTO

UMA VALSA TIMORENSE BEM ORQUESTRADA QUE PRODUZ AUDIOVISUAIS

Podemos tomar conhecimento em página da internet da Valsa Produções que esta empresa timorense de audiovisuais tem o "objetivo de conceber e produzir conteúdos em vídeo que possam ser emitidos em ´broadcast´ ou difundidos em cassetes vídeo e/ou DVD, em sistemas particulares individuais ou comunitários: e ainda que a Valsa Produções é composta por uma equipa profissional, que se identifica com uma perspectiva humanista para os meios de comunicação e que queira estar ao serviço da Nação timorense".

Na verdade a Valsa é a empresa timorense pioneira em produções para a RTP. Há exatamente oito anos que produz o programa Timor Leste Contacto (presentemente reduzido) que corre as ondas hertezianas por todo o mundo através da RTPi, promovendo e levando o país e a sua vocação impar para o turismo.

Desde há oito anos que através desta produção da Valsa vimos paisagens impares de Timor Leste. Vimos as suas gentes e os seus costumes, as suas culturas e os sorrisos de um povo que tão bem sabe receber apesar das limitações por que ainda passa.

O Timor Leste Contacto é o único programa de televisão totalmente produzido em Timor Leste em bom português. Com o único apresentador timorense de qualidade internacional que domina corretamente quatro línguas...

Mas a Valsa Produções não é só o Timor Leste Contacto que vimos na RTP. Ao longo deste período de existência tem mostrado a sua mais valia em produções para a Secretaria de Estado do Conselho de Ministros, outras instituições e empresas timorenses, cobertura de eventos oficiais e de índole desportiva, publicidade comercial e institucional. Um manancial de produções de qualidade que têm revelado que integra na sua pequena equipa elementos empenhados, que apostam no rigor e que entre si somam cerca de 50 anos de experiência profissional – um deles contando cerca de 30 anos naquelas lides.

Para além do que consta do seu portfólio divulgado na sua página na Web, esta empresa timorense de audiovisuais tem em carteira projetos futuros que visam a divulgação e promoção do país no exterior, incluindo um documentário que já se “desenha” com a habitual qualidade da Valsa Produções. Comentário de índole histórico sobre Timor Leste.

Em carteira existem outros projectos de produções que são mais-valias para a empresa e para o próprio país pelo conhecimento que vem dando ao mundo sobre Timor Leste, à semelhança do trilho por onde enveredou e que com propriedade nos permite afirmar que em televisão, como empresa timorense, tem sido a produtora que mais tem divulgado os aspetos positivos de Timor Leste, o empreendedorismo e o desenvolvimento implícito nos vários setores da economia, do social, da cultura, do desporto, etc.

VER TIMOR LESTE CONTACTO, RTP – magazine de Setembro

OS 99 POR CENTO QUE OCUPARAM WALL STREET




Amy Goodman - Democracy Now – Carta Maior

Duas mil pessoas ocuparam Wall Street no dia 17 de setembro. A sua mensagem era clara: “Somos os 99% da população que não toleram mais a ganância e a corrupção do 1% restante”. Se dois mil ativistas do movimento conservador Tea party se manifestassem em Wall Street, provavelmente haveria a mesma quantidade de jornalistas cobrindo o acontecimento. Mas o interesse da mídia em divulgar protestos contra Wall Street parece ser bem menor. O artigo é de Amy Goodman.

Se dois mil ativistas do movimento conservador Tea party se manifestassem em Wall Street, provavelmente haveria a mesma quantidade de jornalistas a cobrir o acontecimento. Duas mil pessoas ocuparam de fato Wall Street no dia 17 de setembro. Não levavam cartazes do Tea party, nem a bandeira de Gadsden com a serpente em espiral juntamente com a ameaça “Não te metas comigo”. Mas a sua mensagem era clara: “Somos os 99% da população que não toleram mais a ganância e a corrupção do 1% restante”, diziam. Ali estava uma maioria de jovens a protestar contra a especulação praticamente incontrolável de Wall Street, que provocou a crise financeira mundial.

Um dos multimilionários mais conhecidos de Nova York, o presidente da Câmara, Michael Bloomberg, comentou sobre o momento que vivemos: “Muitos jovens saem da universidade e não encontram trabalho. Foi isso que aconteceu no Cairo e em Madri. Não queremos este tipo de distúrbios aqui”. Distúrbios? A Primavera Árabe e os protestos na Europa trataram-se disso?

É provável que, para desilusão do presidente da Câmara Bloomberg, o que aconteceu no Egito e na Europa seja justamente o que inspirou muitas pessoas a ocupar Wall Street. Em comunicado recente, a coligação de organizações que protestam em Nova York informou: “No sábado, realizámos uma assembleia geral com duas mil pessoas. Na segunda-feira, às 20h, ainda estávamos ocupando a praça, apesar da constante presença policial. Estamos construindo o mundo que queremos, tomando por base as necessidades humanas e a sustentabilidade, no lugar da ganância das empresas”.

Falando de Tea Party, o governador do Texas, Rick Perry, tem provocado polêmica durante os debates presidenciais republicanos com a sua declaração de que o elogiado sistema de segurança social dos Estados Unidos é “um esquema do tipo Ponzi”. Charles Ponzi dedicou-se a fraudar milhares de pessoas em 1920 com a promessa enganosa de que receberiam enormes ganhos a partir de investimentos. Um típico esquema Ponzi consiste em tomar o dinheiro de vários investidores e pagá-los com o dinheiro de novos investidores, em vez de pagar a partir de ganhos reais. O sistema de segurança social dos Estados Unidos é de fato sério: tem um fundo confiável de mais de 2,6 mil milhões de dólares. O verdadeiro esquema que ameaça o povo norte-americano é a insaciável ganância dos bancos de Wall Street.

Entrevistei um dos organizadores do protesto “Ocupemos Wall Street”. David Graeber é professor em Goldsmiths, Universidade de Londres, e é autor de vários livros. A sua obra mais recente é "Dívida: os primeiros 5.000 anos". Graeber assinala que, no meio da crise financeira de 2008, renegociaram-se dívidas enormes de bancos. No entanto, pouquíssimas hipotecas receberam o mesmo tratamento. Graeber disse: “As dívidas entre os mais ricos ou entre governos podem sempre ser renegociadas e, de fato, sempre foi assim na história mundial. Não estão gravadas em pedras. Em termos gerais, quando os pobres têm dívidas com os ricos, automaticamente as dívidas convertem-se numa obrigação sagrada, mais importante do que qualquer outra coisa. A ideia de renegociá-las é impensável”.

O presidente Barack Obama propôs recentemente um plano de criação de emprego e maiores esforços para reduzir o défice público. Uma das propostas é o chamado “imposto sobre os milionários”, que conta com o apoio do multimilionário e partidário de Obama Warren Buffet. Os republicanos denominaram o imposto de “guerra de classes”.

Graeber explica: “Durante os últimos 30 anos vimos os mais ricos da nossa sociedade liderarem uma guerra política contra todos os demais, e esta é considerada a mais recente disputa, uma medida totalmente disfuncional do ponto de vista político e económico. Esse é o motivo pelo qual os jovens simplesmente abandonaram qualquer ideia de recorrer aos políticos. Todos sabemos o que acontecerá. Os impostos de Obama são uma espécie de simulação com carácter populista, que todos sabem que será rechaçado. Na realidade, o que provavelmente vai acontecer é que haverá mais cortes nos serviços sociais”.

Lá fora, na manhã fria de quarta-feira, os manifestantes iniciaram o quarto dia de protestos com uma marcha no meio de forte presença policial. Fizeram soar a campainha de abertura da “bolsa do povo” às 9h30, exactamente na mesma hora em que soa a campainha da Bolsa de Nova York. Enquanto os banqueiros continuam seguros dentro dos seus bancos resgatados, lá fora, a polícia prende manifestantes. Num mundo justo, com uma economia justa, caberia perguntar: quem deveria estar passando frio lá fora? Quem deveria ser preso?

(*) Artigo publicado em "Democracy Now" em 22 de Setembro de 2011. Denis Moynihan colaborou na produção jornalística desta coluna. Texto em inglês traduzido por Mercedes Camps para espanhol. Texto em espanhol traduzido para o português por Rafael Cavalcanti Barreto, e revisto por Bruno Lima Rocha para Estratégia & Análise

PORTUGAL “TEM SIDO UM APOIANTE FERVOROSO”, AFIRMA DIRIGENTE PALESTINIANO





Portugal “tem sido durante muito tempo um apoiante fervoroso” da Palestina, disse à Lusa Nabil Shaath, membro da equipa negociadora palestiniana, apelando para que Portugal vote a favor de um Estado Palestiniano no Conselho de Segurança da ONU.

O dirigente aproveitou para sublinhar “o quanto” ele próprio e o presidente Abu Mazen (apelido por que o presidente palestiniano Mahmud Abbas é conhecido popularmente) trabalharam "para conseguir que Portugal fosse eleito para o Conselho de Segurança” das Nações Unidas.

“Não temos voto, mas temos amigos em todo o lado que ajudaram Portugal a tornar-se membro [não permanente] do Conselho de Segurança”, explicou o negociador e assessor do presidente palestiniano.

Portugal, membro não permanente do Conselho de Segurança desde Janeiro, ainda não divulgou qual vai ser o seu voto, defendendo uma posição comum da União Europeia e a importância das negociações entre palestinianos e israelitas.

Em referência à confirmação oficial feita à Agência Lusa de que o presidente Abbas “irá viajar a Portugal”, Shaath não especificou datas, tendo informado que a ronda de visitas planeadas a Lisboa e ao Conselho Europeu “poderá ter início a qualquer momento a partir já desde amanhã”.

"O primeiro-ministro português endereçou um convite ao presidente Mahmud Abbas para visitar Portugal mas, até ao momento, nada se concretizou", disse na passada sexta-feira uma fonte palestiniana em Lisboa, que acrescentou estar tudo em aberto e que "não há datas marcadas".

A deslocação a Portugal foi referida na sexta-feira passada pelo chefe da diplomacia palestiniana, Riad Malki, à agência Associated Press, que diz que uma deslocação à Colômbia está marcada para o dia 07 de outubro, e que a "visita a Portugal estava a ser planeada".

Vários membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas já disseram que vão aprovar o pedido palestiniano: China, Rússia, Brasil, Índia, Líbano, África do Sul, Nigéria e Gabão.

A posição europeia quanto à proposta palestiniana, que defende uma resposta em bloco, ainda não está definida, sendo o objetivo da viagem a Estrasburgo “apelar em conjunto ao maior número de países europeus”, informou uma fonte palestinina em Ramallah.

As atenções da campanha palestiniana estão agora voltadas para Portugal e Colômbia, membros não permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Para ser aprovada a proposta necessita de uma maioria de nove votos e de não ter qualquer veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China.

Washington prometeu vetar, se necessário, o pedido palestiniano, mas espera poder evitá-lo para não arriscar as suas relações com o mundo árabe.

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, apresentou no final de setembro o pedido de adesão de um Estado da Palestina como membro de pleno direito da ONU, com base nas fronteiras de 04 de junho de 1967 e tendo Jerusalém Oriental como capital.

*Foto em Lusa

GUIA DE NOVAS REGRAS ORTOGRÁFICAS DE PORTUGUÊS DISPONIBILIZADO NA INTERNET




RTP

As novas regras da língua portuguesa estão sintetizadas e explicadas no guia "Nova Ortografia -- Modo de usar" que está a ser disponibilizado gratuitamente na Internet em http://www.flip.pt/acordo.

Desta forma a empresa especialista em software informático, Priberam, festeja o seu 22.º aniversário. Segundo dados facultados pela empresa, nas últimas 48 horas mais de 135 mil pessoas descarregaram o guia.

Esta edição "on-line" gratuita tem como objetivo "explicar, numa linguagem simples, o que muda na escrita do português europeu e como se aplica o novo Acordo Ortográfico", disse à Lusa fonte da empresa.

"Este guia é o ponto de partida ideal para esclarecer as dúvidas que cada vez mais pessoas têm em relação ao Acordo Ortográfico, que recentemente começou a ser aplicado no sistema educativo", acrescentou a mesma fonte.

Carlos Amaral, responsável da empresa, salientou que o guia "complementa os produtos e serviços da Priberam para o Acordo Ortográfico".

"Este guia tem por base a análise do texto legal e os apontamentos preparados pela nossa equipa linguística para servir de suporte às acções de formação que temos realizado sobre o Acordo. Nele explica-se, numa linguagem muito acessível e com exemplos concretos, o que muda no português", asseverou.

Há 22 anos no mercado, a Priberam é uma empresa especialista na conceção e desenvolvimento de software e conteúdos digitais, uma experiência que pretende capitalizar de forma "a uma implementação do Acordo Ortográfico de forma simples na linguagem, mas rigorosa no conteúdo".

A empresa, uma das primeiras "spin-off" do Instituto Superior Técnico, destaca-se com produtos como o FLiP, conjunto de ferramentas de revisão e auxílio à escrita, e ainda o LegiX, um conjunto de soluções para pesquisa da legislação, jurisprudência e doutrina, sendo a primeira empresa em Portugal a ser reconhecida como Gold Certified Partner pela Microsoft.

*Foto em Lusa

Governo e Oranto Petrolium retomam negociações para partilhar petróleo em São Tomé





O Governo são-tomense poderá chegar a acordo de partilha de produção com a Oranto Petroleum, empresa nigeriana a que adjudicou o bloco número três da zona económica exclusiva de São Tomé e Príncipe (ZEE), confirmou o primeiro ministro são-tomense.

Patrice Trovoada, em declarações à Rádio e Televisão publica de São Tomé, esclareceu que a segunda ronda de negociações com a Oranto iniciam "brevemente" e que apesar das dificuldades nas negociações, disse acreditar, contudo, que as duas parte vão chegar a um acordo.

"Vai haver um pouco de drama, mas tem que se chegar a um acordo, porque se uma empresa participa num leilão (de blocos de petróleo), ela tem vontade de concluir e antes de participar ela sabe quais são os termos fiscais, modelo de contrato, etc.", disse Partice Trovoada.

O primeiro bloco petrolífero da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de São Tomé e Príncipe foi adjudicado à Oranto Petroleum, na primeira semana de maio deste ano e anunciado pelo governo são-tomense em comunicado.

O bloco em questão é o número três, com uma superfície de 4.228 quilómetros quadrados e localizado na Zona de Exploração A, e na altura o executivo considerou a empresa nigeriana como "uma companhia com operações desde 1991 e com uma presença ativa em vários Blocos no Golfo da Guiné e na África Ocidental".

Patrice Trovada disse acreditar na capacidade negocial da Agencia Nacional de Petróleo (ANP) do seu país, avançando que se vai discutir "pequenas coisas" uma vez que "o bónus já está definido".

"O que é importante é chegar-se a um contrato e as empresas começarem a trabalhar", diz Patrice Trovoada que alerta, entretanto, para "o grande risco" nos negócios envolvendo petróleo.

"O grande risco disso tudo é os especuladores. [O risco é que] venham, consigam um bloco depois vão dar a volta ao mundo para encontrar alguém que possa ceder, que possa ser sócio e nós estamos a perder tempo", refere.

Sete blocos de petróleo na ZEE são-tomense foram a leilão em novembro de 2010. Duranta a abertura das propostas, a Agencia Nacional de Petróleo considerou que apenas quatro empresas do conjunto que concorreram reuniam os requisitos, mas apenas um bloco acabou por ser adjudicado à empresa nigeriana.

"Há uma questão que temos que tomar em consideração: nós não conhecemos muito bem o potencial, então vai ser necessária fazer-se muito mais sísmica e é por isso que a nível do governo, achamos que não vale a pena também dar tudo", justificou Patrice Trovoada.

"É preciso não largarmos tudo, porque no dia em que a nível internacional acontecer que São Tomé se tornar o produtor do petróleo, o valor daquilo que temos vai subir muito mais" acrescentou.

"Colocamos alguns blocos no mercado, guardamos outros, mas forçar as empresas a trabalhar, a fazer sísmica, procurar dados e no dia em que houver uma descoberta isso vai criar maior excitação do mercado", frisou o chefe do executivo são-tomense.

Relativamente a Zona de Desenvolvimento Conjunto (ZDC), o primeiro-ministro são-tomense considera que é necessário fazer-se "pressão" a Total e Sinopec.

"Nós temos a zona de desenvolvimento conjunto que é uma zona que já foi atribuída há muitos anos, temos que ser um pouco mais persistentes em pôr pressão hoje na Total e na Sinopec, que são os dois operadores que nós temos nos blocos 1, 2, 3 e 4., concluiu.

*Foto em Lusa

Rio 2016: Cidade ainda enfrenta muitos desafios dois anos após escolha para sede dos Jogos




Fabiane Roque, da Agência Lusa

Rio de Janeiro, 01 out (Lusa) -- Dois anos após a escolha do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o dossiê oficial indica obras em dia com o calendário, mas ainda são muitos os desafios que a cidade precisa ultrapassar.

Em pleno Rock in Rio, um dos maiores festivais de música do mundo que decorre este fim-de-semana, a cidade mostra como a sua rede hoteleira é escassa, com turistas de toda parte hospedados em cidades próximas como Niterói, a cerca de 14 quilómetros da capital.

A questão da segurança pública, um tema que já parecia ter sido resolvido após as mudanças realizadas nos últimos dois anos com entrada do poder público em territórios antes dominados por traficantes de droga, voltou a assombrar em episódios recentes.
No início de setembro, criminosos de um grupo criminal remanescente no Complexo do Alemão, na zona norte da cidade, iniciaram uma troca de tiros contra soldados do Exército que fazem a segurança da região desde novembro do ano passado.

Na comunidade Fogueteiro/Fallet, outra favela já pacificada, um ataque de traficantes locais a um grupo de polícias culminou na morte de um dos militares e na posterior substituição do comandante responsável pela área.

O episódio mais grave, no entanto, ocorreu esta semana, quando um tenente-coronel foi preso por suspeita de ter sido o mentor do assassínio da juíza Patrícia Acioli, brutalmente morta a tiro em agosto, quando chegava à sua casa.

A prisão levou ao pedido de demissão do comandante-geral da Polícia Militar, que havia sido o responsável pela nomeação do tenente indiciado.

A falta de segurança também se sente no pitoresco caso das caixas subterrâneas da companhia de gás e energia que andaram a explodir em diversos pontos da cidade, a denunciar a falta de manutenção na infraestruturas de distribuição destes serviços.

Por todos os lados, em especial no bairro de Copacabana e no centro da cidade, podem-se ver obras para tentar resolver este problema, o que, pelo menos por enquanto, apenas ajuda a criar maiores problemas para o trânsito.

O sistema de transportes também passou por uma crise recente, quando um acidente com o elétrico de Santa Teresa terminou com a morte de seis pessoas e dezenas de feridos. O episódio acabou por interromper temporariamente a linha, símbolo do turismo do bairro.

Quanto aos projetos olímpicos, apesar do otimismo dos governantes, os órgãos criados para administrar e coordenar as construções desenvolvidas especialmente para os Jogos ainda não conseguiram definir as prioridades de ação.

No início de agosto, o prefeito Eduardo Paes criou a Empresa Olímpica Municipal, e nomeou a executiva Maria Sílvia Bastos para a presidir. Na ocasião, questionada sobre a criação de mais um órgão para cuidar do tema, a executiva afirmou que o primeiro trabalho a fazer era deixar claro as atividades que seriam conferidas a cada esfera, e organizar o que chamou "matriz de responsabilidades".

Na última declaração à imprensa brasileira, há pouco mais de uma semana, ela disse, no entanto, que a divisão de tarefas ainda não tinha sido concluída.

Entretanto, as obras no principal estádio de futebol da cidade, o famoso Maracanã, já foram ameaçadas em mais de um momento com greves de operários. Mais do que para os Jogos Olímpicos, o estádio precisa ficar pronto para sediar o Mundial de 2014.

Após três tentativas fracassadas, o Rio de Janeiro venceu a disputa para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 no dia 2 de outubro de 2009, tendo como os principais adviersários Madrid, Chicago e Tóquio.

*Foto em Lusa

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