terça-feira, 17 de abril de 2012

PR e PM de Cabo Verde felicitam Taur Matan Ruak e elogiam "dignidade" de Horta



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 17 abr (Lusa) - O Presidente e o primeiro-ministro de Cabo Verde congratularam-se hoje com a eleição de Taur Matan Ruak para chefe de Estado de Timor-Leste, deixando também elogios à "dignidade" do Presidente cessante, José Ramos-Horta.

Em declarações separadas aos jornalistas, Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves felicitaram o povo timorense pela forma ordeira e pacífica como decorreram as duas voltas das presidenciais timorenses e manifestaram vontade em aprofundar as relações de cooperação entre os dois países.

"Queria felicitar o novo presidente eleito, Taur Matan Ruak e desejar-lhe muitos sucessos e também o povo de Timor-Leste pelo processo democrático. Foram as primeiras eleições feitas e superintendidas totalmente pelo Governo e pelas instituições de Timor-leste", realçou Jorge Carlos Fonseca.

Por seu lado, José Maria Neves, felicitou Taur Matan Ruak e considerou que o ato eleitoral timorense constitui uma "grande vitória da democracia", sublinhando que contribuiu para a consolidação do Estado de Direito Democrático, para a densificação da sociedade civil e para a afirmação da cidadania em Timor-Leste.

Ambos reiteraram disponibilidade para estarem presentes, se para tal forem convidados, na tomada de posse de Taur Matan Ruak, cerimónia marcada para 20 de maio, data do 10.º aniversário da independência de Timor-Leste.

Sobre o Presidente cessante, Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves consideraram-no uma "grande personalidade", tendo o chefe de Estado cabo-verdiano lembrado o percurso "relevante e importante" de José Ramos-Horta não só na luta de libertação timorense como também no plano das relações internacionais.

"É uma grande personalidade. Sobretudo a sua humildade, generosidade e toda a disponibilidade para trabalhar para o Povo Maubere. Foi muito digna a forma como encarou os resultados das eleições e a sua determinação e vontade em continuar a trabalhar para a consolidação de um Estado de Direito democrático e para a afirmação de uma agenda de desenvolvimento para Timor-Leste", disse, por sua vez, o primeiro-ministro cabo-verdiano.

"É um grande lutador pela liberdade e dignidade do povo maubere e hoje deve merecer todo o reconhecimento dos timorenses e de todos nós que falamos a Língua Portuguesa", concluiu.

Taur Matan Ruak, ex-chefe das forças armadas timorenses, foi eleito domingo presidente de Timor-Leste após vencer a segunda volta das presidenciais timorenses.

Segundo os resultados provisórios distritais divulgados pelo Secretariado Técnico da Administração Eleitoral, o general venceu com 61,23 por cento, derrotando Francisco Guterres Lu Olo, que obteve 38,77 por cento dos votos.

Eleições no Timor Leste: ONDE OS MAIS POBRES LUTAM CONTRA OS MAIS PODEROSOS



John Pilger - O Diário
 
A frase de Milan Kundera, “a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento” descrevia o Timor Leste. Um dia antes de viajar para filmar lá clandestinamente, em 1993, fui à loja de mapas Stanfords, no Covent Garden de Londres. “Timor?” repetiu o vendedor, hesitante. Lá ficamos, olhando para as prateleiras marcadas com “Sul-Leste Asiático”. “Desculpe, mas… Onde fica, exatamente?”
 
Depois de procurar, ele voltou com um velho mapa aeronáutico, com áreas vazias onde alguém carimbara “Dados Incompletos”. Ninguém jamais lhe pedira mapas do Timor Leste. Era assim o silêncio que envolvia aquela colônia portuguesa, desde que foi invadida pela Indonésia em 1975. Mas nem Pol Pot conseguiu matar tantos cambodianos quanto o ditador Suharto da Indonésia matou, à bala ou de fome, no Timor Leste.
 
Em meu filme Death of a Nation[1], há uma sequência a bordo de um avião australiano que sobrevoa a ilha do Timor. Há uma festa a bordo, e dois homens de terno brindam com champanhe. “Vivemos momento histórico único”, diz um deles, “realmente historicamente único.” É Gareth Evans, ministro das Relações Exteriores da Austrália. O outro é Ali Alatas, principal porta-voz de Suharto. É 1989, e estão naquele avião, num sobrevoo simbólico, para celebrar a assinatura de um tratado de pirataria, pelo qual a Austrália e várias empresas internacionais de petróleo e gás foram autorizadas a explorar o subsolo marinho do litoral do Timor Leste. Em terra, abaixo deles, veem-se os vales marcados com cruzes negras: ali a força aérea conjunta EUA-Grã-Bretanha matou gente aos magotes.
 
Zilhões de dólares
 
Em 1993, a Comissão de Assuntos Estrangeiros do Parlamento australiano registrou, em relatório, que “pelo menos 200 mil pessoas”, um terço da população do Timor Leste, desapareceu durante o governo de Suharto. Em boa parte graças a Evans, a Austrália foi o único país ocidental que reconheceu formalmente a conquista genocida de Suharto. As mortíferas forças especiais indonésias conhecidas como Kopassus eram treinadas na Austrália. O prêmio, disse Evans, foi “zilhões” de dólares.
 
Diferente de Saddam Hussein, Suharto morreu confortável e pacificamente em 2008, cercado pelos melhores médicos que seus bilhões puderam comprar. Jamais foi ameaçado de processo pela “comunidade internacional”. Margaret Thatcher disse-lhe pessoalmente: “O senhor é dos nossos melhores e mais valiosos amigos.” O primeiro-ministro australiano Paul Keating via nele uma figura paternal. Um grupo de editores de jornais australianos, liderados por Paul Kelly, veterano auxiliar de Rupert Murdoch, voou até Jakarta, para apresentar suas homenagens ao ditador; há uma foto em que se veem eles todos, curvados.
 
Em 1991, Evans descreveu o massacre de mais de 200 civis, por tropas indonésias, no Cemitério da Santa Cruz em Dili, capital do Timor Leste, como “uma aberração”. Mas quando manifestantes plantaram centenas de cruzes à frente da Embaixada da Indonésia em Canberra, Evans mandou destruí-las.
 
Dia 17/3/2012, mês passado, o mesmo Evans estava em Melbourne, convidado a falar num seminário sobre a Primavera Árabe. Hoje dedicado ao rico negócio dos “think tanks”, lá pontificou sobre estratégia das grandes potências, sobretudo a, hoje em voga, “responsabilidade de proteger” (que a OTAN usa para atacar ou ameaçar ditadores hoje caídos em desgraça, sob o falso pretexto de que a OTAN lá estaria como libertadora dos respectivos povos). Também presente ao mesmo seminário estava Stephen Zunes, professor de política da University of San Francisco, que lembrou aos presentes o longo apoio que Evans prestou a Suharto, crucial para a longa sobrevivência do ditador.
 
No final da sessão, Evans, que é homem de pavio curto, saltou sobre Zunes, aos berros: “Quem é você, porra?!” “Onde, porra, você trabalha?” Contaram a Zunes que Evans dissera, e Evans confirmou, que aqueles comentários críticos mereciam “um soco nas fuças”. O episódio não poderia ser mais eloquente. Como que em celebração ao 10º aniversário de uma independência que Evans sempre negou e tentou impedir que acontecesse, o Timor Leste vive hoje as dores do processo de eleger um novo presidente.
 
Para muitos timorenses e seus filhos maltrapilhos e malnutridos, a democracia é só uma ideia. Depois de anos de ocupação sangrenta apoiada por Grã-Bretanha, EUA e Austrália, os timorenses conheceram campanha incansável movida contra eles pelo governo australiano, interessado sempre em afastar a pequena nação para bem longe de seus direitos sobre a renda do petróleo e do gás extraídos do subsolo de suas águas territoriais. Depois de recusar-se a cumprir a Lei do Mar, a Austrália simplesmente alterou, unilateralmente, as suas fronteiras marítimas.
 
Mortos pelo xerife
 
Em 2006, afinal, assinou-se um acordo que atendia, praticamente, a tudo que a Austrália sempre quis. Pouco depois, o primeiro-ministro do Timor Leste Mari Alkatiri, nacionalista [e muçulmano], que se opusera a Canberra e a qualquer interferência estrangeira, foi deposto no que o próprio Alkatiri chamou de “tentativa de golpe” por “forças estrangeiras”. A Austrália tinha soldados de tropas de “manutenção da paz” já presentes no Timor Leste, e treinara a oposição a Alkatiri.
 
Segundo declarações da Força Australiana de Defesa a um embaixador europeu, comunicadas aos EUA em telegrama diplomático vazado por Wikileaks[2], o “primeiro objetivo” da Austrália no Timor Leste sempre foi “abrir e garantir acesso, para militares australianos”, de modo que possam atuar “para influenciar a tomada de decisões no Timor Leste”.
 
Nas eleições no Timor Leste em 2012 concorrem dois candidatos[3], um dos quais é Taur Matan Ruak, general do exército e homem de Canberra – um dos cabeças do golpe que, em 2006, derrubou Alkatiri.
 
O Timor Leste é um pequeno país independente, farto em recursos naturais lucrativos e localizado em região altamente estratégica, do ponto de vista dos interesses dos EUA e de seu ‘xerife’ na região, a Austrália (nomeada como ‘xerife com plenos poderes’ por George W Bush). Isso ajuda a entender por que o regime de Suharto sempre recebeu tão empenhada atenção de seus patrocinadores ocidentais.
 
Hoje, a obsessão de Washington na Ásia é a China – que oferece aos países em desenvolvimento, investimentos, competências e infraestrutura, em troca de recursos.
 
Em visita à Austrália, em novembro de 2011, o presidente Barack Obama lançou mais uma rajada de suas ameaças veladas à China, e anunciou o estabelecimento de uma base naval militar dos EUA em Darwin, praticamente ‘em frente’, por mar, do Timor Leste. Obama sabe que países pequenos, muito empobrecidos, são, muitas vezes, a maior ameaça que se ergue contra potências predatórias, porque, se esses países não forem intimidados e controlados, adeus obediência servil…
 
3/4/2012, The Statesman, UK
http://www.newstatesman.com/global-issues/2012/04/east-timor-%E2%80%93-lesson-why-poorest-threaten-powerful
 
NOTAS:
[1] Death of a Nation: The Timor Conspiracy, 1998, dir. John Pilger, 76’. Pode ser visto em http://johnpilger.com/videos/death-of-a-nation-the-timor-conspiracy Código (embedded)
2] O telegrama pode ser lido (em inglês), em http://wikileaks.org/cable/2006/06/06LISBON1014.html#. Sobre repercussões, 5/5/2011, “WikiLeaks Australian Citizen Alliance”, em http://wikileaksaustraliancitizensalliance.net/2011/05/05/australia-incited-timor-unrest-wikileaks/ [NTs].
[3] “O primeiro turno das presidenciais no Timor Leste aconteceu dia 17/3 passado. O segundo turno, está marcado para 16/4/2012. Concorrem no segundo turno: Francisco Guterres Lu Olo, candidato apoiado pela Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin [de Al-Katiri]), e Taur Matan Ruak, ex-chefe das Forças Armadas, apoiado pelo Conselho Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), do primeiro-ministro Xanana Gusmão” (4/4/2012, de Dili, em português, em http://paginaglobal.blogspot.com.br/2012/04/timor-lesteeleicoesseguranca-em-todo-o.html) [NTs].

Presidente angolano enviou mensagem a presidente da União Africana



EL - Lusa

Luanda, 17 abr (Lusa) - O Presidente José Eduardo dos Santos enviou hoje uma mensagem ao seu homólogo do Benin, Thomas Yayi Boni, que preside atualmente à União Africana, sobre a situação na Guiné-Bissau, mas cujo teor não foi revelado, noticiou a Angop.

A agência angolana cita o secretário de Estado das Relações Exteriores, Manuel Augusto, enviado especial de José Eduardo dos Santos, à chegada do governante a Luanda, proveniente do Benim.

Angola preside à Comunidade dos Países de Língua portuguesa (CPLP), organização que se reuniu no último fim-de-semana, em Lisboa, num encontro de onde saiu a proposta de constituição de uma força de interposição para a Guiné-Bissau.

Segundo a proposta da CPLP, a força deve ter um mandato definido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e cada Estado-membro da organização terá uma participação na mesma.

No documento saído da reunião de Lisboa, a CPLP refere que a proposta de criação de uma "força de interposição", terá "o aval das Nações Unidas" e será feita "em articulação com a CEDEAO (Comunidade Económica dos Países de África Ocidental), a União Africana e a União Europeia".

A CPLP ameaçou ainda com a aplicação de sanções individualizadas contra os golpistas.

Um autodenominado Comando Militar protagonizou um golpe de estado na Guiné-Bissau na passada quinta-feira, véspera da campanha eleitoral para a segunda volta das eleições presidenciais, disputadas pelo primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e Kumba Ialá, que no entanto se recusa a participar na votação.

Desde quinta-feira que se desconhece o paradeiro de Carlos Gomes Júnior e do Presidente interino, Raimundo Pereira.

Um Conselho Nacional de Transição foi criado no domingo por alguns partidos de oposição, numa reunião em que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), não participou.

O golpe de Estado na Guiné-Bissau mereceu ampla condenação internacional.

Missão da CEDEAO vai ajudar a encontrar solução constitucional para crise - militares



FP - Lusa

Bissau, 17 abr (Lusa) - A Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (CEDEAO) vai enviar uma missão técnica a Bissau para "encontrar uma solução por via da Constituição" para "a saída da crise" na Guiné-Bissau, disse hoje um responsável da Forças Armadas.

Dabana Na Walna, porta-voz do Estado Maior das Forças Armadas e que tem aparecido a comentar o golpe de Estado na Guiné-Bissau de quinta-feira passada, disse hoje à Rádio Nacional do país que "não foi difícil" chegar a um entendimento com a CEDEAO, numa reunião realizada segunda-feira à noite, porque os militares aceitam que o poder seja devolvido aos civis.

"A delegação (da CEDEAO) tinha uma missão apenas de vir saber se nós, militares, aceitaremos que a normalidade constitucional seja restabelecida", disse Dabana Na Walna, acrescentando que "ficou combinado que a CEDEAO vai mandar uma equipa técnica para ajudar a encontrar uma solução por via da C
onstituição para a saída da crise".

O mesmo responsável explicou que os militares deixaram "bem claro" que "está fora de questão" a repetição da segunda volta das eleições presidenciais e que "está fora de questão" o retorno de Carlos Gomes Júnior ao cargo de primeiro-ministro.

"Chamámos a classe política para gradualmente repor a ordem constitucional e os militares voltarem para o quartel", disse Dabana Na Walna à Rádio Nacional, acrescentando que há uma comissão que está a trabalhar nesse aspeto mas não "em versão definitiva ", porque haverá a missão técnica da CEDEAO para discutir "a modalidade de arranjo constitucional".

"Bureau político" do PAIGC condena golpe e acusa líder da oposição de envolvimento

Lusa

Bissau, 17 abr (Lusa) - O "bureau político" do PAIGC, maior partido da Guiné-Bissau, condenou hoje "veementemente" o golpe de Estado de dia 12 e acusou o presidente do PRS, segundo maior partido, e "militantes armados" de "envolvimento direto e assumido".

Num comunicado sobre uma reunião realizada na segunda-feira, mas só hoje divulgado, o PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde) exige também a divulgação pública de um acordo secreto que os militares alegam existir entre a Guiné-Bissau e Angola e que terá motivado o golpe.

O "bureau político" acusa também os candidatos às eleições presidenciais de março passado Serifo Nhamadjo, Henrique Rosa, Afonso Té e Serifo Baldé (que com Kumba Ialá, líder do PRS, contestaram os resultados eleitorais) de "incitação e execução" do golpe de Estado.

União Europeia condena expropriação de petrolífera espanhola na Argentina




Após anúncio da estatização da YPF, filial da espanhola Repsol, Comissão Europeia adia encontro previsto com governo argentino. Espanha afirma que tomará medidas "diplomáticas e comerciais" contra Buenos Aires.

A Comissão Europeia adiou a reunião que teria nestas quinta a sexta-feira (19 e 20/4) com representantes da Argentina devido à decisão de Buenos Aires de nacionalizar a empresa petrolífera YPF – filial da espanhola Repsol. Segundo afirmou a porta-voz da Comissão nesta terça-feira (17/04) em Bruxelas, ainda não há data para um novo encontro.

Desde segunda-feira, quando a presidente argentina, Cristina Kirchner, anunciou a expropriação, a UE vem dando apoio político à Espanha, embora admita tratar-se de uma questão bilateral sobre a qual as normas do bloco limitam sua atuação.

"Esperamos que as autoridades argentinas mantenham seus compromissos e suas obrigações, especialmente no que diz respeito a um acordo bilateral para a proteção dos investimentos espanhóis", apelou o presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso.

Segundo a nova organização da entidade, introduzida há dois anos com o Tratado de Lisboa, a UE deve ter competência para lidar com disputas envolvendo investimentos. No entanto, ainda faltariam regulamentações que permitam uma atuação mais contundente por parte da Comissão Europeia.

Principal empresa de energia da Argentina, a YPF viu-se submetida a uma crescente pressão do governo de Kirchner para aumentar a produção. O valor das ações da companhia vinha despencando nos últimos meses exatamente devido a especulações sobre uma possível estatização.

Barroso afirmou que espera convencer a Argentina a chegar a um acordo que solucione o problema. "Enfatizamos a necessidade de se alcançar soluções de mútuo acordo que não estraguem o clima empresarial", disse o português.

Reação espanhola

A Repsol, que detém 57% das ações da YPF, declarou que vai exigir uma indenização pela desapropriação da empresa. A Espanha já afirmou que adotará medidas diplomáticas, comerciais, industriais e energéticas contra a Argentina em represália à estatização, segundo ressaltou o ministro espanhol da Indústria, José Manuel Soria.

O ministro espanhol do Exterior, José Manuel García-Margallo, disse que medidas "claras e contundentes" devem ser definidas na próxima reunião de ministros, que acontecerá na próxima quinta-feira. De acordo com o jornal espanhol El Mundo, uma das represálias comerciais será o veto à entrada de carne e de soja argentinas no país.

Durante encontro nesta terça-feira com o embaixador argentino em Madri, Carlos Bettini, García-Margallo afirmou que a decisão de Cristina Kirchner foi muito mal recebida pelo governo espanhol e que Buenos Aires quebrou a confiança da Espanha e de toda a comunidade internacional. "O prejuízo para a Argentina pode ser irreparável", salientou, ao falar de um possível corte no acesso a crédito internacional.

Para Soria, a questão envolvendo a Repsol levará outras empresas multinacionais a reconsiderar seus possíveis investimentos no país sul-americano. A intervenção na YPF teria aberto "uma porta difícil de fechar".

Apoio venezuelano

Já o ministro venezuelano de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, afirmou que seu país respalda a decisão da Argentina e que o governo liderado por Hugo Chávez ofereceu apoio para lidar com as questões financeiras que envolvem a operação. Ramírez afirmou ainda que, como qualquer outro país, a Argentina tem o direito de fazer uso soberano de seus recursos naturais.

Ao anunciar a decisão, Cristina Kirchner afirmou que a proposta busca dar ao país maior liberdade para decidir sua política energética e citou o exemplo de muitos países com petrolíferas estatais. "Eu represento o povo argentino. Sou uma chefe de Estado, e não uma criminosa", disse Kirchner, ressaltando que não vai reagir a "ameaças".

MSB/rtr/dpa - Revisão: Roselaine Wandscheer

HILLARY AFIRMA QUE LUTA CONTRA CORRUPÇÃO FAZ DE DILMA UM EXEMPLO




Brasil-América Economia – Agência Brasil

Secretária de Estado norte-americana elogiou a postura da presidente frente à corrupção em seu governo

Brasília. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, elogiou nesta terça-feira a atitude da presidente Dilma Rousseff frente à corrupção em seu governo e afirmou que a brasileira "está estabelecendo um exemplo global".
 
Hillary participou na manhã desta terça-feira, ao lado de Dilma, da abertura do primeiro encontro anual da Parceria para Governo Aberto (Open Government Partnership), em Brasília.
 
"Não há melhor parceira que a presidente Dilma Rousseff. O comprometimento dela com a abertura, transparência, a luta dela contra a corrupção está estabelecendo um exemplo global", disse Hillary, que deixa Brasília na tarde desta terça, concluindo dois dias de visita.
 
Hillary ressaltou ainda a necessidade de participação da sociedade civil no controle da transparência dos governos. Ela também afirmou que é a vontade política que faz com que poderes prestem contas à população de suas ações e uso de recursos.
 
"Nós sabemos que corrupção mata os potenciais de um país... e a cura para corrupção é a abertura", disse.
 
Mais cedo, o ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União, abriu o evento afirmando que a democracia real "não se trata simplesmente de ter eleições periódicas, mas de fazer governos mais transparentes a suas populações".
 
A Parceria para Governo Aberto reúne 55 países que, ao aderir, se comprometem a realizar ações para ampliar a transparência de suas gestões e combater a corrupção.

"HOJE É UM DIA TRANSCENDENTE PARA OS ARGENTINOS", diz Solanas




Francisco Luque, Buenos Aires - Carta Maior

O cineasta e deputado nacional pelo Projeto Sul, Fernando “Pino” Solanas, celebrou a decisão da presidenta Cristina Fernández de Kirchner de expropriar 51% das ações de YPF e considerou que “hoje é um dia transcendente para todos os argentinos”. Solanas considerou que “os governantes que modificam as políticas erradas não se debilitam, mas sim o contrário, porque é um gesto de honestidade e de grandeza que será acompanhado por seu povo”. O artigo é de Francisco Luque, direto de Buenos Aires.

Buenos Aires - Lideranças políticas, sociais e econômicas da Argentina manifestaram seu respaldo ao projeto de lei enviado pelo governo ao Congresso para a expropriação de 51% das ações da Repsol na YPF e à declaração da autossuficiência em combustíveis como assunto de interesse público, conforme anunciado nesta segunda-feira (16) pela presidenta Cristina Fernández de Kirchner.

“A YPF volta a ser argentina”, assinalou o secretário da Central Geral de Trabalhadores, Hugo Moyano, após o anúncio. O líder sindical destacou a decisão de “retomar o controle sobre a empresa nacional de petróleo”. Por outro lado, Moyano disse que “esperamos que, no calor da alegria popular que essa decisão provoca, não apareçam aproveitadores que, como na privatização, queiram tirar proveito pessoal deste ato manifesto de soberania”. Moyano disse ainda que todas as privatizações realizadas na Argentina significaram o “esvaziamento da pátria”, e enfatizou a coerência do movimento operário que sempre se opôs a essas medidas.

O deputado nacional pelo Projeto Sul, Fernando “Pino” Solanas celebrou a decisão de expropriar 51% das ações de YPF e considerou que “hoje é um dia transcendente para todos os argentinos”. Solanas considerou que “os governantes que modificam as políticas erradas não se debilitam, mas sim o contrário, porque é um gesto de honestidade e de grandeza que será acompanhado por seu povo”.

Já a deputada nacional Victoria Donda, de Libres del Sur, aplaudiu a decisão do governo de passar [a YPF] para as mãos do Estado, e se mostrou partidária de que as autoridades nacionais “desenhem uma política para que essa ação tenha efeito correlato na vida das pessoas”. “Queremos que as pessoas voltem a ver a gasolina comum nos postos de combustíveis, uma vez que evidentemente a política de hidrocarbonetos não impacta só o bolso, mas também a inflação”, declarou a deputada Donda para a Telam.

Um comunicado da Corrente Nacional da Militância, por sua vez, qualificou a decisão da presidenta Cristina Fernández como um “duro golpe para as políticas neoliberais implementadas na Argentina desde a última ditadura militar”.

Os governadores das províncias petroleiras de Chubut, Santa Cruz, Rio Negro e Entre Rios apoiaram o anúncio da presidenta Cristina Fernández de Kirchner de expropriar 51% das ações da YPF e destacaram o papel que isso outorga às províncias em seu próprio desenvolvimento.

O governador de Chubut, Martín Buzzi, agradeceu à presidenta da Nação “pelo fato de dar às províncias produtoras de hidrocarbonetos a condição de detentoras de 49% desse 51% que o Estado possui”, referindo-se ao projeto de expropriação de YPF.

“É um enorme prazer este reconhecimento às províncias produtoras de hidrocarbonetos”, o que permite recuperar a ação estratégica por parte do Estado, decidir de maneira autônoma e convocar outros investidores, operadores e valorizar o solo dos argentinos, que tem enormes possibilidades. “Pedimos ao conjunto de deputados e senadores a aprovação desta lei, que é tão importante para todos”, acrescentou.

O governador de Santa Cruz, Daniel Peralta, pronunciou-se a favor de que a YPF esteja “a serviço da produção e do trabalho e não da especulação financeira” a assegurou: “Não queremos que a YPF se destrua, queremos valorizá-la e colocá-la a serviço do país”. Além disso, disse que está garantido que se sustentará a “cadeia de pagamentos e, absolutamente, as fontes de trabalho”.

O economista Eduardo Curia, por sua vez, se mostrou “de acordo” com a decisão presidencial, observando que “a gestão da Repsol na YPF não dava mais para aguentar”. “Parece-me correta a tentativa de recuperação, de afirmação e controle estatal da YPF. Agora haverá um controle estatal, emendou Curia.

O economista avaliou que, a partir desta decisão, o governo poderá “aplicar uma estratégia diferencial de preços dos combustíveis que favoreçam o mercado interno”. E considerou que poderá fazer isso “de maneira que não prejudique o rendimento da empresa e pensando nas necessidades do país”.

Ministro De Vido assumiu como interventor na YPF

Na tarde de segunda-feira, seguindo o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), firmado pela presidenta, o governo designou o ministro do Planejamento, Julio De Vido, como interventor da companhia petroleira, e o vice-ministro da Economia, Alex Kicillof, como assessor em temas econômicos e financeiros de gestão.

O Decreto de Necessidade e Urgência estabelece “a intervenção transitória na YPF S.A. por um prazo de 30 dias com o objetivo de assegurar a continuidade da empresa, a preservação de seus ativos e de seu patrimônio, o abastecimento de combustíveis e de garantir o atendimento das necessidades do país”.

Tradução: Katarina Peixoto

COMO OS REIS SE DIVERTEM




Manuel António Pina – Jornal de Notícias, opinião

Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Duas Sicilias, Rei de Espanha (e ainda, a crer nos seus títulos, de "reinos" como o de Jerusalém, de Nápoles, da Sicília, da Sardenha e das Índias Orientais e Ocidentais...), decidiu, cansado dos entediantes afazeres da realeza, divertir-se. E que melhor maneira de se divertir do que pegar numa carabina e matar elefantes?

O "Público online" divulgou uma fotografia do viril monarca, de falo significante na mão, posando orgulhosamente diante do cadáver prostrado de um elefante. A imagem ilustrava a triste notícia de que, durante um divertido safari no Botswana, o Rei caíra e fracturara uma anca.

Juan Carlos tem especial apetência por armas, tendo estado envolvido na morte a tiro de seu irmão mais novo, Alfonso, no Estoril, segundo a versão oficial quando ambos limpavam um revólver que se terá disparado acidentalmente. O seu neto mais velho, de 13 anos, herdou-lhe a vocação e ainda há dias também se atingiu acidentalmente num pé (nas casas dos reis, ao contrário do que acontece nas casas dos súbditos, as crianças podem brincar com armas de fogo).

A Espanha tem 23,6% de desempregados (50,5% entre os jovens) e atravessa uma gravíssima crise económica, com um défice de 20 668 milhões de euros. Apesar disso, os contribuintes espanhóis pagam por ano 8,434 milhões para a Casa Real. Dá para muitos, muitos safaris. Tremam, elefantes e demais espécies protegidas.


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Portugal: UGT AMEAÇA DENUNCIAR ACORDO DE CONCERTAÇÃO SOCIAL




Jornal de Notícias

O secretário-geral da UGT ameaçou, esta terça-feira, denunciar o acordo de concertação social se o Governo continuar a não cumprir e a adiar as medidas para o crescimento e emprego.

João Proença, secretário-geral da UGT, disse em conferência de imprensa que deixava um aviso claro ao Governo e aos empregadores "ou respeitam na íntegra o acordo tripartido ou a UGT denuncia o acordo".

No fim da reunião do secretariado nacional da UGT, João Proença reafirmou aos jornalistas que o Governo não tem cumprido o Compromisso para a Competitividade, Crescimento e Emprego, nomeadamente no que toca às portarias de extensão, que continuam por publicar e à dinamização da contratação coletiva.

Para além disso, Proença afirmou que "o Governo negociou medidas no âmbito do Memorando da 'Troika' que vão contra o acordo de concertação social" e acusou o executivo de ainda não ter avançado com medidas que promovam o crescimento económico e o emprego.

"O desemprego aumentou num ano cerca de 20% mas parece que a única preocupação do Governo é a desregulação laboral e a redução das prestações sociais", acrescentou o secretário-geral da UGT.

A União Geral de Trabalhadores vai pedir uma reunião com caráter de urgência ao primeiro-ministro para o alertar para a necessidade de cumprir os acordos de concertação e para discutir as alterações que estão a ser feitas ao nível da segurança social.

Opinião Página Global

João Proença fala, fala… e “ameaça” mas todos sabem que o que está a fazer é “teatro” do pior. Proença não ignorava que quando assinou o “acordo” tudo isto ia acontecer e que ainda vêm aí piores medidas contra os trabalhadores. Tudo porque ele se dispôs a pactuar com um Bando de Mentirosos. Aliás, Proença não fica nada mal incluído naquele Bando.

O que vai acontecer é mais “teatro”, mais “falinhas mansas”, mais ilusões, mais falsas promessas, mais mentiras e a certeza de que Proença é um colaborador de medidas inadmissíveis impostas pelo governo de Passos. Com o seu “teatro” Proença quer aparentar o contrário. Sem dúvida que cabe folgadamente no Bando de Mentirosos. (Redação PG – LV)

Desde quando há uma relação de confiança entre os donos do reino e os seus escravos??




Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*

O líder parlamentar do PS afirmou hoje que o primeiro-ministro tem cada vez maior dificuldade em sair do "escritório de contabilidade" que montou em São Bento, acusando o Governo de arrogância e de distorção sistemática da verdade.

Embora nada disto seja novidade, creio que faz sentido ir lembrando os esqueléticos súbditos do sumo pontífice do governo de Portugal do que se passa, sobretudo porque a central de informação de São Bento todos os dias produz coisas novas, qual delas a pior.

Carlos Zorrinho, que falava na sessão de abertura das Jornadas Parlamentares do PS, em Bragança, mostrou também a a sua angelical ingenuidade ao apelar ao governo que abdique do que ele tem de mais sólido, "arrogância política".

E como se não bastasse uma ingenuidade, Carlos Zorrinho resolveu acrescentar outra, neste caso completamente inexequível por parte de quem é dono da verdade. Ou seja, que o governo vá ao terreno "ver as consequências da sua política de flagelação aos portugueses".

O presidente do Grupo Parlamentar do PS acusou ainda os partidos da maioria de "sistemática distorção da verdade", método político que disse ter sido utilizado já no ano passado "quando houve uma coligação contra natura com o PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes para forçarem Portugal a pedir ajuda externa".

"Essa distorção da verdade prossegue hoje quando o governo fala sobre medidas como a suspensão das reformas antecipadas ou sobre os cortes dos subsídios de férias e de Natal. O Governo está a quebrar a relação de confiança com os cidadãos", considerou Carlos Zorrinho.

Nova argolada. Desde quando há uma relação de confiança entre os membros de uma casta superior e os seus escravos?

E é assim que o primeiro-ministro desse reino que já foi nação aposta reiteradamente na estratégia de tratar a maioria dos portugueses como trata a maioria dos seus súbditos partidários: mentecaptos.

Pelo menos os sociais-democratas aplaudem, o que se calhar é normal... Aliás, cada vez mais, o que é normal para Passos Coelho não o é para os potugueses. A seriedade e o rigor não são compatíveis nem com o presidente do PSD, nem com o primeiro-ministro.

Brincando política, material e mentalmente com os portugueses, sobretudo com os mais de 1.200 mil desempregados, com os 20 por cento de pobres e com os outros 20 por cento que passam a vida a olhar para os pratos vazios, Passos Coelho veste a farda do político impoluto que, no mínimo, se assemelha a Deus e que só não fez mais pelos seus servos porque foi Judas quem lhe deixou a gamela vazia.

Afinal quem reduziu os salários, quem congelou as pensões, quem impede as reformas antecipadas, quem rouba os subsídios de férias de Natal, quem pôs Portugal com uma mão atrás e outra à frente, foi Passos Coelho por culpa óbvia de Sócrates que, por sua vez, remete o ónus para Salazar.

Portugal, pelos vistos, nunca teve dois tão bons primeiros-ministros como o que está e o que esteve. E se o próprio José Sócrates dizia que "estava para nascer um primeiro-ministro que faça melhor do que eu", Passos Coelho bem pode dizer que está para nascer um primeiro-ministro que, para além de mentiroso, tanto tenha feito para institucionalizar o esclavagismo em Portugal.

E quando assim é, e quando os portugueses permitem que assim seja, o melhor é nomear uma comissão liquidatária.

Passos Coelho usou todos os meios para chegar a primeiro-ministro. O país pouco o preocupa. Os cidadãos nada o preocupam. O que o verdadeiramente preocupa é o poder e, eventualmente, a situação de carência absoluta do presidente da República.

Quem de facto faz tudo, saltando das mentiras em campanha eleitoral para as aldrabices governativas, para dar aos portugueses uma máquina de fazer sonhos que é capaz de projectar comida nos pratos, é Passos Coelho.

Mas, ao que parece, os portugueses continuam a dizer que “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti”.

E a ser assim, parafraseando José Sócrates e Passos Coelho, ainda está para nascer um povo que consiga contar até 12 sem ter de se descalçar...

E enquanto isso, Passos Coelho continua a garantir que com ele Portugal não vai morrer da doença. Vai morrer, está a morrer, da cura.

* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Título anterior do autor, compilado em Página Global: SEM VIOLÊNCIA NÃO SE VAI LÁ…

Moçambique: GOVERNO APROVA NOVOS SALÁRIOS MÍNIMOS NACIONAIS



Lusa

Maputo, 17 abr (Lusa) - O Governo moçambicano aprovou hoje novos salários mínimos nacionais, propostos pelos empregadores e sindicatos, que variam entre seis e 22 por cento nos diferentes setores de atividade, anunciou o Conselho de Ministros de Moçambique.

De acordo com a nova tabela salarial, que entra em vigor este mês, o escalão mais baixo, os setores da agricultura, pecuária, caça e silvicultura, terão um aumento na ordem dos 14,71 por cento, para 2300 meticais (63 euros).

Na administração pública, que é o maior empregador, o salário mínimo vai subir seis por cento, mas "haverá uma tabela específica consoante cada setor", disse aos jornalistas o porta-voz do Conselho de Ministros, Alberto Nkutumula.

Quatro detidos na posse de obras de arte em marfim

MMT - Lusa

Maputo, 17 abr (Lusa) - Quatro moçambicanos foram detidos em Maputo, na posse de quatro caixas contendo obras de arte feitas de marfim, anunciou hoje o Comando Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM).

Segundo o relatório semanal do Comando Geral da PRM, as autoridades policiais moçambicanas admitem que o marfim utilizado no fabrico destas obras seja produto da caça furtiva.

Nos últimos anos, vários cidadãos nacionais e estrangeiros foram detidos indiciados de caça de marfim, cujo comércio mundial foi abolido em 1989.

No ano passado, cerca de uma centena de elefantes foram ilegalmente abatidos nas zonas de conservação nacionais, com maior destaque para Quirimbas e Niassa, no norte de Moçambique.

Angola: Mais de 300 mil pessoas em situação de "extrema carência alimentar"...




...devido à falta de chuva

NME - Lusa

Luanda, 17 abr (Lusa) -- Mais de 300 mil pessoas ficaram em situação de "extrema carência alimentar" em Angola, disse hoje à Lusa fonte oficial, que admitiu que o cenário poderia ser pior se chuva não tivesse finalmente começado a cair, embora com três meses de atraso.

Segundo o diretor do gabinete de Segurança Alimentar do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e Pescas, David Punga, as autoridades chegaram a encarar que Angola iria experimentar "uma situação difícil em termos de segurança alimentar".

Todavia, o reinício das chuvas e a rápida distribuição de instrumentos agrícolas e sementes reverteu a situação.

"Acreditamos que as produções a serem obtidas não estarão ao nível daquilo que seria se a primeira época da campanha agrícola tivesse tido os resultados esperados, mas pensamos que a segurança alimentar não será abalada em níveis que sejam preocupantes", referiu aquele responsável.

A seca que afetou quase todo o país levou o Governo a realizar uma avaliação de emergência do impacto da estiagem sobre as culturas, que decorreu entre 27 de fevereiro e 07 de março, em onze das 18 províncias de Angola.

O relatório, a que a Lusa teve hoje acesso, refere que das onze províncias avaliadas cinco delas estão em situação crítica, nomeadamente o Bengo (8.670 pessoas), Benguela (87.280), Huíla (101.290) e Namibe (11.700), com numerosas pessoas a necessitarem de assistência alimentar.

O plano de ajuda, que custou ao Estado 4,7 mil milhões de kwanzas (cerca de 4 milhões de dólares), contemplou ainda a entrega de sementes de hortícolas, cereais, milho, raiz de mandioca e batata-doce e de 700 motobombas.

O documento recomendava o acionamento de um Plano de Ajuda Alimentar de Emergência para as populações "em estado de vulnerabilidade, afetadas pela estiagem, através da aquisição de produtos alimentares básicos", que já foi aprovado pelo Governo.

Para o município do Porto Amboim, na província do Kwanza Sul, foi solicitado o fornecimento de água potável, devido à sua carência nessa região.

O relatório recomenda igualmente o aproveitamento dos esquemas de regadio tradicional (valas de irrigação, represas e furos), a provisão e fornecimento de materiais de construção para reparação de valas de regadio e o fornecimento de motobombas para uso em sistemas de regadio a partir de furos artesianos.

Como medidas de sustentabilidade o documento sugere a criação de um Fundo de Contingência, que permita uma "rápida, pontual e coordenada" intervenção em situações semelhantes.

Segundo David Punga, é objetivo do Governo aumentar a quantidade de fazendas de maior porte, para que o país passe a ter "uma reserva estratégica", com vista a colmatar situações de emergência, além de ajudar a estabilizar preços, em caso de distorção no mercado de produtos alimentares.

Guiné-Bissau: Solidariedade leva água, comida e combustível ao Hospital Simão Mendes



Mussá Baldé - Agência Lusa

Bissau, 17 abr (Lusa) - Enquanto os políticos e os militares da Guiné-Bissau debatem as soluções para a saída da crise motivada por mais um golpe de Estado, centenas de pessoas estão a levar solidariedade ao hospital Simão Mendes, através da água, comida e combustível.

Quase sempre o Simão Mendes (hospital de referência na Guiné-Bissau) tem carência de tudo. Mas o golpe militar do passado dia 12 veio agravar ainda mais a situação.

Para superar as carências, já que não há Governo no país e os bancos estão fechados, a direção do hospital decidiu lançar um SOS na Internet e criou uma página com um pedido de apoio: água, comida, material sanitário, combustível. Tudo o que se pode arranjar para socorrer os doentes, sobretudo as crianças internadas na pediatria ou as mães parturientes.

Adilson Teixeira e Albano Barai são dois amigos. Viram o anúncio na Internet (numa página do Facebook que o hospital criou) e decidiram agir, juntando apoios para responder ao grito de socorro do Simão Mendes. Juntaram-se no grupo Amigos de Boa Vontade e fizeram uma 'vaquinha', com outros companheiros e no total são já 15, tendo feito já três visitas ao Simão Mendes.

A Agência Lusa testemunhou hoje o momento em que o grupo, constituído essencialmente por jovens licenciados recém-regressados ao país, distribuía o pequeno-almoço para os doentes e enfermeiros nos serviços da pediatria, maternidade e recobro.

Não era até muita coisa, mas deu para perceber que leite, a água ensacada e uma sanduíche de atum fizeram as delícias dos doentes e do pessoal de apoio médico que recebeu as ofertas das mãos dos jovens.

"Como esta sandes e bebo leite e ponho-me a dormir durante várias horas", disse à Lusa, uma doente nos serviços do recobro (unidade dos queimados).

Quem não esconde também a sua satisfação com a onda da solidariedade é o chefe da cozinha, Flaviano Silva. "Tenho comida suficiente para dar aos doentes nas próximas duas semanas", disse à Lusa, com visível satisfação.

O cozinheiro regozija-se sobretudo que as ofertas lhe estão a facilitar a vida. "Dantes tinha algumas dificuldades para arranjar certos ingredientes para preparar as refeições, agora não. Tenho quase tudo graças às ofertas que as pessoas trazem ao hospital", diz o chefe Flaviano.

A solidariedade é tanta que a direção do Simão Mendes decidiu hoje mandar algumas ofertas para uma outra unidade clínica de Bissau. Os jovens Amigos da Boa Vontade prometem ajudar outros hospitais, mas para já é o Simão Mendes que prende as atenções.

Ainda os jovens não tinham terminado a distribuição do pequeno-almoço, já alguém anunciava que estava a dar entrada no hospital um camião cisterna com "7 mil litros de gasóleo para o gerador".

"Deus seja louvado", grita uma jovem do grupo dos que servem o pequeno-almoço aos doentes.

A comunidade libanesa anunciou que vai entregar uma tonelada de alimentos na terça-feira. Os bancos, as empresas das telecomunicações também prometem trazer ajudas, conta Albano Barai, um dos impulsionadores da iniciativa.

Normalmente o guineense é solidário mas não é comum levar essa solidariedade para fora da sua casa. O que se vê esses dias, então, é uma nova faceta nestes dias de crise no país, onde na quinta-feira um golpe militar depôs o Presidente interino e o primeiro-ministro, ambos em parte incerta.

Um Conselho Nacional de Transição foi criado no domingo pelos partidos de oposição, numa reunião em que o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), não participou.

O golpe de Estado na Guiné-Bissau mereceu ampla condenação internacional, incluindo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que, após uma reunião de ministros no sábado em Lisboa, decidiu propor uma força de interposição com aval da ONU e sanções individualizadas contra os golpistas.

MB (HB)

PR de Angola enviou mensagem a PR de Cabo Verde a pedir apoio na busca de soluções



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 17 abr (Lusa) - O presidente angolano enviou hoje uma mensagem ao seu homólogo cabo-verdiano a pedir o apoio de Cabo Verde na busca de uma solução "que acautele os interesses superiores dos guineenses" e resolva o problema militar na Guiné-Bissau.

A revelação da mensagem foi feita pelo próprio Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, que falava aos jornalistas antes de receber o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, para, inicialmente, dar conta da satisfação pela eleição de Taur Matan Ruak como chefe de Estado de Timor-Leste.

"Recebi há pouco uma mensagem pessoal do presidente angolano (José Eduardo dos Santos) sobre a Guiné-Bissau e que irá merecer toda a nossa atenção. É uma mensagem que procura uma solução que seja durável e que acautele os interesses superiores dos guineenses", afirmou.

"(A mensagem procura também) preservar o processo de democracia, que passa pela resolução do problema militar na Guiné-Bissau e cuja solução, ao que parece, é quase consensual, não será encontrada se também não se encontrar uma saída para o problema dos militares, que têm de se subordinar ao poder político legitimado pelo voto popular", acrescentou.

Jorge Carlos Fonseca nada mais disse sobre a mensagem de Eduardo dos Santos.

Sobre a situação no terreno, e sublinhando que as informações de que dispõe não são muito diferentes das veiculadas pela imprensa, o Presidente cabo-verdiano disse persistir o "impasse", justificando com a ideia de que ainda não há a reposição da ordem constitucional que foi posta em causa pelo golpe militar.

"A situação continua num impasse. Pensa-se na criação de uma força de interposição ou de manutenção de paz, em que estejam envolvidas várias instâncias internacionais, como as Nações Unidas, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para que se possa ter uma intervenção desejável e eficaz na Guiné-Bissau", referiu.

"Interessa que haja uma posição firme, decidida e realista da comunidade internacional, qualquer que seja a modelação concreta dessa força", disse, aludindo à criação de uma força envolvendo as Nações Unidas e a CPLP e a CEDEAO.

Questionado sobre o fracasso da mediação do seu homólogo da Guiné-Conacri, Lansana Conté, recusado pelo Comando Militar golpista, e sobre o pedido nesse mesmo sentido feito ao presidente cessante de Timor-Leste, José Ramos-Horta, o chefe de Estado cabo-verdiano recusou entrar em polémicas.

"O que interessa em qualquer processo de mediação é que o mediador tenha as condições para poder trabalhar com todas as partes envolvidas e que seja uma figura aceite por todos, facilitando-lhe assim o trabalho", respondeu, assumindo, porém, que o eventual apoio de Lansana Conte "não deu os frutos esperados".

"O importante é encontrar uma solução que vá ao encontro do interesse dos guineenses e que seja capaz de patrocinar uma solução que garanta estabilidade política e institucional e condições para que, finalmente, a Guiné-Bissau possa trilhar os caminhos do desenvolvimento e de bem-estar para os guineenses", concluiu.

GUINEENSES TEMEM QUE ACONTEÇA O QUE NÃO QUEREM: MAIS VIOLÊNCIA


Habitantes de Bissau estão a refugiar-se no interior do país
Redação

Ameaças de repressão “severa” por parte do Comando Militar. Proibição de manifestação. Cidadãos que vivem na capital a refugiarem-se no interior do país. Comunidade internacional e eclesiásticas a pressionar os militares golpista guineenses. Falta de alimentos e serviços públicos encerrados.

Bissau está repleta de militares aderentes ao Comando Militar. No entanto alguns militares abandonaram os quartéis por discordarem da ação golpista. Paira a sombra do caos em Bissau e por consequência na Guiné-Bissau. Os guineenses preparam-se e estão à espera do que não querem: a violência que tem ceifado inúmeras vidas e causado a ingovernabilidade naquele país.

Os guineenses estão tementes de que a situação se complique ainda mais e que o “cerco” das organizações mundiais, incluindo africanas, cause reações violentas por parte do autodenominado Comando Militar. As notícias são contraditórias sobre se o espaço aéreo guineense foi liberado (como anunciado) ou não. Também sobre o recolher obrigatório foi anunciado que fora revogado pelo Comando Militar, contudo, fonte que pediu o anonimato declarou que ainda “ontem à noite, quando ia deslocar-me a casa de minha mãe, militares que passaram em ronda, numa viatura, ordenaram-me que fosse imediatamente para casa porque tinha de respeitar o recolher obrigatório. Assim nós ficamos sem saber o que fazer”, concluiu.

A União para a Mudança, pequeno partido político, acusa algumas forças políticas de se estarem a aproveitar do golpe militar. O clero já manifestou a sua reprovação pela situação repudiando a “opção militar e todas as formas de violência para resolver problemas”. Disso nos dá conta a Agência Lusa em despachos que reproduzimos a seguir. (Redação PG – LV)

Partido UM acusa outras forças de se aproveitarem do golpe de Estado

MB - Lusa

Bissau, 17 abr (Lusa) - O partido União para a Mudança (UM), força política extraparlamentar na Guiné-Bissau, acusou hoje os líderes partidários da oposição de se aproveitarem do golpe de Estado militar para chegar ao poder.

Em comunicado de imprensa assinado pelo seu líder, Agnelo Regalla, a UM denuncia "a tentativa de aproveitamento político da presente conjuntura, por parte de algumas forças politicas, através da instauração de um alegado Conselho Nacional de Transição (CNT) para a realização dos seus intentos".

Para a UM, a via constitucional é aquela que deve ser respeitada, dando desta forma, ao PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), a possibilidade de formar um novo Governo e um novo Presidente da República interino sair do Parlamento, que na opinião do partido, não está extinto.

O líder da UM, ex-porta-voz do Presidente Malam Bacai Sanhá, falecido em finais de dezembro, citando as deliberações da comissão política do partido, reafirma que em caso de as forças politicas guineenses avançarem para a via extra constitucional na resolução da crise desencadeada com o golpe de Estado no dia 12, a sua formação política não reconhecerá "o referido CNT nem os órgãos dele emanados".

Bispos repudiam opção militar e todas as formas de violência para resolver problemas

Lusa

Bissau, 17 abr (Lusa) - Os bispos da Igreja Católica da Guiné-Bissau repudiaram hoje "mais esta opção militar e todas as formas de violência escolhidas" para resolver problemas do país e pediram um "respeito sagrado" pelas leis "e pelas instituições democraticamente eleitas".

Numa mensagem lida pelo bispo auxiliar de Bissau, D. José Lampra Cá, os bispos dizem que o país está colocado perante um problema nacional de enorme gravidade e de consequências ainda imprevisíveis.

"Os sinais explícitos de mal-estar vêm de longe, mas alguns desses sinais manifestaram-se mais fortemente durante o último ato eleitoral. De facto, houve ainda algum esforço para, através de um diálogo franco e honesto, se ultrapassarem as dificuldades encontradas. Infelizmente, o golpe de Estado do dia 12 veio agravar a situação", dizem os bispos.

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