domingo, 13 de maio de 2012

Timor-Leste: A MONTANHA MÁGICA




Pedro Rosa Mendes - UP Magazine

Timor-Leste comemora este mês dez anos de independência. Na exígua metade de uma ilha, nos confins da Ásia, a Nação do Milénio é um mosaico de povos e de línguas, unidos por tradições seculares e mitos ancestrais. Timor é, também, um sonho coletivo onde a geologia faz a síntese entre cultura e território, Estado e recursos, esperança e memória. Bem-vindos à montanha mágica.

Primeiro, um nome. Lorosa’e, ou Sol Nascente – título oficial do jovem país – é um sedimento inscrito no chão timorense, de diversas formas, todas importantes para definir e viabilizar a República Democrática de Timor-Leste nascida a 20 de maio de 2002. Sol é o astro masculino, referência primordial e cósmica deste povo de “filhos do céu, filhos das estrelas”, como diz uma recitação sagrada do povo Mambai, no coração montanhoso da ilha. O Sol, símbolo de poder, continua a ser usado, sob a forma de medalhão dourado, em todas as cerimónias tradicionais, não apenas religiosas ou folclóricas, mas também políticas. É normal, aliás, que os principais homens da política timorense passem – no sentido mais sério de mediação, de trânsito entre mundos – por celebrações em que vestem o lorosa’e e esse outro símbolo mais visível de poder na cosmogonia timorense, o caibau (ou kaibauk), representando a Lua. Ter poder sobre o Sol e a Lua é dominar a vida e a morte, ou seja, ter o poder absoluto.

Em Timor-Leste, a independência governa-se a partir das duas únicas cidades do país – Díli e Baucau, ambas situadas na costa norte – mas foi ganha nas montanhas, ali tão longe e tão perto. Foi lá, nos maciços do Matebian e do Mundo Perdido, a leste, e do Ramelau, no centro, que os guerrilheiros liderados por Xanana Gusmão mantiveram acesa durante 24 anos a chama da causa timorense. Há uma literalidade topográfica, física, na relação simbólica entre independência, nação e montanha, como fica patente no primeiro verso de “Pátria”, o mais famoso poema-de-prisioneiro do próprio Xanana Gusmão (atual primeiro-ministro): “Pátria é, pois, o sol que deu o ser”.

O sol “dá o ser” a Timor-Leste de outras formas vitais. A viabilização do pequeno país depende do petróleo – que mais não é que sol acumulado no coração da Terra, conforme explicam os geólogos na sua linguagem evidente. É o petróleo – sedimentação de passado, cozedura mineral de muitos tempos que já foram mas que guardam intacta a sua energia – que pode pagar o projeto da independência para as gerações futuras. Isso é crucial para um pequeno país onde apenas quatro por cento do território é arável – a montanha é em todo o lado – e que regista, nos últimos anos, o maior crescimento demográfico do mundo.

Uma das realizações da independência foi a constituição, em 2005, do Fundo Petrolífero, o fundo soberano de Timor-Leste, onde a riqueza proveniente das jazidas do Mar de Timor é acumulada e aplicada segundo regras que pretendem garantir a sustentabilidade deste tesouro nacional. O Fundo e as suas regras rígidas “tem como objetivos a preservação da equidade intergeneracional e a manutenção da responsabilidade fiscal”, na explicação do Governo timorense. A transparência e racionalidade do Fundo têm sido, de resto, elogiadas por várias instituições internacionais. Essa prudência de gestão, vinculada constitucionalmente, salvou o Fundo Petrolífero de Timor-Leste de levar um golpe profundo na crise financeira de 2008, como aconteceu à generalidade dos fundos soberanos de muitos países, incluindo de muitos Estados bastante mais desenvolvidos. Em fevereiro de 2012, o saldo do Fundo era de 9,9 mil milhões de dólares. O Fundo tem hoje investido 12,5% do seu capital (aproximadamente 1,2 mil milhões de dólares) em 1800 empresas em 23 países desenvolvidos.

Os desafios da jovem nação, que são consensuais entre Governo, oposição e parceiros internacionais, situam-se, naturalmente, na criação e diversificação da economia não petrolífera e na redução dos níveis de pobreza, que afeta cerca de 40 por cento da população. Timor-Leste continua a ser, nesse aspeto, “um problema florestal”, como resumia um governador português do território no século XIX que tentou – à força e pela força, diga-se – introduzir a cultura intensiva do café, reproduzindo o “sucesso” das plantações holandesas de Java, exemplo precoce do desastre da repetição de modelos “de fora”. É da terra, em qualquer sentido, que pode sair o equilíbrio económico que salve Timor-Leste da “resource curse”, ou “mal holandês” de países muito dependentes de recursos minerais finitos. O maná do Mar de Timor acaba já na próxima geração e “Timor-Leste é um país petrolífero sem muito petróleo”, conforme têm alertado organizações não-governamentais timorenses.

Percorrendo o país, hoje, o “problema florestal”, em senso lato, ganha provavelmente mais acutilância. A ilha, que no século XVI era definida pelo português Tomé Pires (autor da magnífica Suma Oriental) como o lugar “lá onde nasce o sândalo”, há muito que deixou de produzir e exportar madeira preciosa. Foi o sândalo, recordemos, que levou os chineses a esta periferia do Arquipélago Malaio – o Mediterrâneo chinês, chamou-lhe o historiador francês Denis Lombard –, muito antes da chegada dos primeiros europeus. Diz-se que, outrora, era possível apanhar o odor quente do sândalo ao longe, mesmo antes de avistar a ilha. Hoje, exaurida a cultura autóctone do sândalo, os esforços dirigem-se, por exemplo, para dar nobreza (e rendimento) à cultura do café, com certificação de produção biológica e a afirmação de uma marca-Timor em mercados internacionais dispostos a pagar bem o café de exceção – ou o arroz, ou, outro exemplo, a baunilha, autêntica pedra preciosa aromática de alta rentabilidade que os agrónomos procuram difundir junto dos agricultores timorenses.

Para onde olhemos, pois, Timor-Leste é uma ecologia. Isto é: um universo que exige a procura constante – e milenar, dizem os registos arqueológicos que na última década têm produzido revelações surpreendentes – da linguagem adequada para o Homem se inscrever na paisagem. Até a paisagem se transformar na única possibilidade de articulação do indivíduo com o seu grupo, o seu clã, a sua nação e, hoje, com o seu Estado. A paisagem – a árvore, a pedra, a água, a cobra, o crocodilo, a montanha – é vida e vive com alma, é a alma. Não por acaso, a luta pela independência foi assumidamente uma luta por um chão que, na tradição animista dos povos timorenses, é orgânico e é divino. O Tata Mai Lau, o pico mais elevado da ilha, na cordilheira do Ramelau, significa “Pico do Avô”. Essa etimologia ganha evidência quando se assiste ao nascer do sol lá do alto. Não pelo Lorosa’e, magnífico e puro, mas pela sombra pontiaguda da montanha, uma sombra maciça, que por momentos, entre a noite e o dia, cobre todo o país para Poente, nas nossas costas. Quanto a Matebian, o grande maciço do Leste do país, santuário antropológico, que tem dois picos (o “Homem” e o “Mulher”, que é aliás o mais elevado, ao contrário do que dizem os mapas estrangeiros) significa “Casa dos Mortos” ou “Monte dos Mortos”, no sentido de morada dos antepassados. Que ambas as montanhas tenham sido santuários das Falintil, a resistência timorense, tem uma implicação espiritual que vai muito além do uso da topografia em táticas de guerrilha…

Um mito fundador do reino de Wehali, no centro da ilha, conta que esta terra foi “a primeira a ficar seca quando o mar primordial recuou”. O ataque à identidade timorense, sob a ocupação indonésia, foi também (sobretudo?) uma ofensiva de substituição cultural – em Timor alude-se à “javanização” do território. Porque a resistência não termina quando termina a ocupação, a primeira década de independência tem assistido a uma política consistente de recuperação de várias expressões culturais tradicionais timorenses, das quais a mais visível é a arquitetura. Arquitetura, em Timor-Leste, não é “apenas” o desenho e a solução física – também, mas não sobretudo. A casa sagrada, ou uma lulik, é o lugar correto do homem no cosmos. Os pilares são cardeais – orientam os mundos – e as portas são passagens entre um interior original e o exterior mundano. As portas, aliás, têm nome, além de terem códigos e interditos. Não é de estranhar que, em algumas regiões, as portas das uma lulik sejam nomeadas pelo mesmo vocábulo que designa o útero ou a vagina.

Construir a casa é fazer renascer simbolicamente o clã, um grupo que se reclama descendente de um mesmo antepassado mítico e que, em ocasiões específicas, se reúne para que os seus guardiões da palavra (literalmente, lia nain) repitam a narrativa constitutiva e diferenciadora do clã. A narrativa não é um hino. A lenda partilhada por todos é a pátria. É desta forma, certamente, que Timor-Leste assinalará no próximo 20 de maio o seu renascimento como clã alargado: um país é uma casa sagrada. A sua construção é uma sagração – e nada menos.

* Pedro Rosa Mendes, escritor, jornalista

UNMIT: Capitão Átila (Brasil) envia suas primeiras impressões sobre o Timor Leste


UN Police

"O pais

Aqui não existe muita desigualdade social, pois aparentemente não há classes sociais muito distintas. Geograficamente o pais e lindo, montanhoso, repleto de florestas e com muitos campos de arroz irrigado, plantado manualmente pelos camponeses, maior parte da população. Existe a participação no comércio entre australianos, portugueses e alguns países orientais, especialmente com foco no petróleo do litoral e em contratos de construção de estradas, pontes e alimentação. Os australianos mantêm boas relações comerciais. Lideraram no passado a INTERFET e estão presentes com contingentes do seu exército na "International Stabilization Force", além de muitos integrantes da UNPOL.

Cultura local

Normalmente muitos problemas locais são solucionados com a intervenção dos chamados “chefes dos sucos” ou líderes tribais, com reuniões de conselhos tribais fora dos tribunais. Mas são pessoas humildes, respeitosas, honestas e servis.

Nosso distrito: Baucau

Moramos em casas locadas (geralmente dois colegas do mesmo país) ou nosso caso) em pousadas. A entrada da cidade fica no alto do platô e abaixo vemos a cidade nova, a vila com as vendinhas de telhas de zinco. Ao fundo vemos a usina de energia e no horizonte, ao leste, as montanhas. Suas florestas são preservadas e o povo vive em harmonia com a natureza no meio da selva equatorial.

Dados Gerais

A economia luta pela recuperação, o que faz das províncias lugares toscos e com recursos escassos. Dados apontam para um território com 14.609 km quadrados, tendo como recursos naturais o ouro, petróleo, gás natural, manganês e mármore. A agricultura é, em regra, para a subsistência, importando-se muitos alimentos. Seu regime político é a república presidencialista, cuja capital é Dili. Nela vivem aproximadamente um terço da população - ou seja -, 300.000 pessoas. As demais se espalham por 13 distritos. São 98% católicos, além de muçulmanos, budistas e outras denominações. Tem a língua portuguesa como idioma oficial. Todavia, menos de 10% efetivamente fala o idioma. Aparentemente não há problemas com drogas ou crimes graves e a índole do povo é idônea. A expectativa de vida e próxima dos 56 anos, com mortalidade infantil em torno de 64 mortes a cada 1.000 nascimentos. Um dos motivos parece ser a débil resistência para doenças como dengue e malária. A fertilidade é bastante alta, atingindo 7.8 filhos por mulher, fazendo a população crescer 4.7% ao ano, algo hoje perto de 1.065.000 (estimativa). Essas mães geram filhos de uma etnia composta pela maioria austronésia (malaio-polinésia) e papua. Poucos imigrantes chineses, indonésios, se fazem notar. Sua subdivisão transparece ainda a existência de 65 subdistritos, compostos por 442 sucos (lideranças tribais regionais), com influência sobre 2.189 aldeias e, logicamente, sobre o processo eleitoral.

Capitão Átila Mesadri Pezzzeta - UNPOL - UNMIT - 2012 "

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REUNIÃO DOS PARCEIROS DE DESENVOLVIMENTO DE TIMOR-LESTE



Governo

De 15 a 16 de Maio

A última reunião dos Parceiro de Desenvolvimento de Timor-Leste, no âmbito do mandato do IV Governo Constitucional irá decorrer nos dias 15 e 16 de Maio no Centro de Convenções de Díli.

A reunião deste ano tem como tema “Uma Nação em direcção ao futuro – Entrega do Processo de Governação, Desafios e Oportunidades para o Futuro”.

O objectivo do encontro é reflectir sobre os desafios do passado, as realizações alcançadas e as oportunidades do futuro, para traçar uma direcção estratégica comum que passe pelo reforço do alinhamento entre parceiros, e pela eficácia na implementação dos programas de desenvolvimento.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Zacarias Albano da Costa, e a Ministra das Finanças, Emília Pires irão presidir ao encontro, que será oficialmente aberto pelo Presidente da República, Dr. José Ramos-Horta.

Depois de dois breves discursos, pelo representante do Secretário Geral das Nações Unidas em Exercício, Shigeru Mochida, e pelo Director do Banco Mundial para Timor-Leste, Luís Constantino, o Primeiro-Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão, irá fazer uma reflexão sobre os dez anos da construção do Estado de Timor-Leste. Ainda antes de uma sessão fotográfica com os chefes de delegação, irá discursar o Assessor de Assuntos Económicos do Ministro da Cooperação Internacional no Egipto e presidente do Grupo de trabalho da OCDE-CAD sobre a eficácia da Ajuda, Talaat Abdel-Malek.

A reunião terá suas sessões, divididas pelos dois dias.

A primeira sessão, no dia 15, incidirá sobre a “Apresentação dos Desafios do Passado e do Presente e as realizações de 2007-2012”.

A segunda sessão, no dia 16, abordará “Os desafios Futuros e as Oportunidades”.

Antes do discurso de encerramento, pelo Primeiro-Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão, terá lugar a cerimónia de entrega do Processo de Governação do IV Governo Constitucional.

Brasil: Sem regulamentação, comerciários trabalham até 70 horas semanais...




… próximo a datas comemorativas

Correio do Brasil, com Portal Vermelho – de São Paulo (com foto)

Em datas comemorativas, como o Dia das Mães, a sobrecarga de trabalho dos comerciários aumenta. Apesar de haver uma elevação nas contratações temporárias para o comércio, o quadro de funcionários formado pelas lojas ainda não é suficiente para suprir a demanda de procura dos clientes.

- O excesso de jornada duplica nesses dias. Já demos autuações Brasil afora em que se constatou mais do que 70 horas de trabalho semanal – revela o presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores do Comércio (CNTC), Levi Fernandes Pinto.

Na ânsia por garantir a clientela e obter mais lucros, as empresas repassam aos funcionários o ônus da extensão do período de funcionamento. De acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), os comerciários trabalham em média 53 horas semanais, enquanto a jornada oficial de trabalho é de 44 horas.

Pereira, vendedor de uma loja de materiais de construção e decoração, que trabalha há 23 anos como comerciário, lembra que na época em que iniciou na profissão as condições de trabalho eram melhores, porque não se trabalhava aos domingos nem aos feriados, e nos sábados as lojas funcionavam até as 13 horas apenas. “Com o passar do tempo, a demanda acabou obrigando as lojas a atenderem em um horário diferenciado. Antes fechava cedo, agora às 22h. No domingo não abria, agora abre. E a carga de trabalho foi só aumentando”, relata.

Ainda, segundo o presidente da CNTC, Levi Fernandes Pinto, em alguns segmentos do comércio trabalhadores acabam excedendo 60 horas semanais de trabalho. “Os comerciários de supermercados e os de shoppings são os mais penalizados. Estes, com certeza, chegam a 60 ou até um pouco mais do que 60 horas, porque é muito comum trabalharem de segunda a domingo”, afirma.

Jairo, que trabalhou em uma loja de calçados de um shopping da zona sul de São Paulo, conta que a extensão do horário de trabalho além da jornada contratual é comum. “Nos dias de semana o horário de entrada era às 16h, mas a gente tinha que entrar 15h30 para arrumar o estoque. Quando a loja não tinha batido a cota, a gente trabalhava além do horário. Se ficasse uma, duas horas a mais e não vendesse, não ganhava nada”, relata.

Banco de horas

Os trabalhadores das lojas de calçados, que são remunerados através de comissões sobre as vendas, não são os únicos que não recebem pelas horas trabalhadas a mais. Segundo Josimar Andrade de Assis, diretor de Relações Sindicais do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, a maioria das empresas do comércio trabalham com a política de banco de horas, ou seja, ao invés de pagar um valor a mais pelo período extra trabalhado, a empresa acumula essas horas para, em data posterior, o funcionário tirar folga. No entanto, Assis destaca que nem sempre os trabalhadores conseguem tirar as folgas devidas. “As empresas acabam não respeitando o banco de horas, às vezes essas horas somem ou são descontadas”, denuncia.

Além disso, conforme o diretor sindical, a escala de folgas é determinada pela empresa segundo suas necessidades, e não as do trabalhador, contrariando o que estabelecem as convenções coletivas da categoria. “A vantagem tem que ser sempre do funcionário, essa é a primeira condição [para utilização da política de banco de horas]”, explica.

O banco de horas também não pode exceder duas horas além da jornada de trabalho de oito horas diárias. Assim como domingos e feriados não podem ser computados, pois têm regras específicas que definem o pagamento de horas extras. A empresa deve, ainda, disponibilizar ao funcionário uma planilha com os créditos que possui, para que ele acompanhe as horas a mais e possa se programar para tirar folga. “Se a empresa quiser usar essa política do banco de horas tem que seguir à risca essas indicações. Mas temos dados que indicam que a maioria das empresas não cumpre na íntegra”, afirma Assis.

Para o secretário-geral do Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região (Secor), Luciano Pereira Leite, a política de banco de horas é prejudicial ao trabalhador, porque flexibiliza a jornada de trabalho. Além disso, Leite afirma que o banco de horas atende apenas ao interesse das empresas, que não querem pagar pelas horas extras e seus reflexos sobre os demais direitos dos trabalhadores.“Para nós, o ideal seria não ter o banco de horas e que o trabalhador também não executasse horas extras, para que se possa gerar mais empregos”, defende o sindicalista, que lembra que tal pensamento faz parte da campanha das centrais sindicais pela redução da jornada de trabalho para a geração de mais postos de trabalho.

Além da utilização do banco de horas, o diretor do Sindicato dos Comerciários de São Paulo diz, ainda, que tem conhecimento de empresas que, após o funcionário cumprir a jornada de oito horas, o obriga a registrar o horário de saída contratual no cartão de ponto e continuar trabalhando. “Dá baixa no cartão de ponto, mas permanece no local, continua vendendo, continua atendendo clientes. E essas horas de trabalho não são computadas como hora extra, nem como banco de horas”, descreve.

Segundo Assis, quando o sindicato toma conhecimento de situações como esta, faz denúncia junto ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O presidente da CNTC, no entanto, reclama da dificuldade de levar a fiscalização do Ministério do Trabalho a essas empresas para proceder com a autuação. “Infelizmente, o Ministério do Trabalho está sucateado, principalmente nessa área de disposição dos auditores fiscais do trabalho. Chegamos ao absurdo de, em uma capital, ter cinco auditores fiscais para atender 300, 400 mil comerciários”, protesta.

De acordo com o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), atuam hoje no país em torno de 3 mil auditores fiscais do trabalho, conforme a última atualização da coordenação-geral de recursos humanos do MTE, divulgada no início de março. Fernandes Pinto, contudo, lembra os auditores têm que atender não somente os comerciários, mas todas as outras categorias, o que torna o efetivo insuficiente.

Leite afirma que os comerciários estão “jogados à própria sorte” diante das irregularidades impostas pelas empresas e pela falta de atuação dos órgãos públicos que deveriam fiscalizar as condições de trabalho. “Não tem nenhum tipo de fiscalização e o sindicato não tem o poder de punir”, lamenta.

Precarização

Mas não é somente com a extensa jornada de trabalho que os comerciários sofrem. De acordo com levantamento do Dieese, “no comércio há um grande descompasso entre os ganhos verificados no setor – crescimento este acima do PIB – e o repasse para a melhoria das condições de trabalho da categoria”. Os trabalhadores do comércio padecem com baixa remuneração, instabilidade profissional e falta de registro profissional.

Outra dificuldade apontada pelos comerciários é o trabalho aos domingos. “Você pode perguntar para o shopping inteiro, ninguém gosta de trabalhar no domingo, porque é o único dia de folga que a gente tem para ficar com a família”, afirma o comerciário Jairo. O vendedor de lojas de calçados ainda reclama da falta de pessoal nas lojas. “Quando eles dão folga para um vendedor, tem que sacrificar o outro, fazendo com que ele dobre o horário de trabalho”, afirma.

O presidente da CNTC conta que, em diversas situações, flagrou a sobrecarga de trabalho de comerciários justamente pela falta de pessoal. “Chegamos ao absurdo, inclusive, de constatar caixas de supermercado em Belo Horizonte que tem que usar fraldão, porque não podem nem sair para ir ao banheiro”, relata Fernandes Pinto.

Já em Osasco (SP), Leite conta que trabalhadores do hipermercado Carrefour, para poderem ir ao banheiro, têm que entrar em uma fila de espera. “O Carrefour faz o controle híbrido dos trabalhadores. As pausas para ir ao toalete têm que ser agendadas”, afirma. Segundo o secretário-geral do Secor, tal conduta impõe aos trabalhadores o controle híbrido: como as idas ao banheiro são limitadas, o trabalhador deixa de beber água. “Isso acaba gerando problemas de bexiga, de rim, de útero, etc. É uma situação que traz vários problemas de saúde para o trabalhador, principalmente para as mulheres”, ressalta.

Falta regulamentação

Segundo Fernandes Pinto, os problemas enfrentados pelos comerciários, principalmente com a extensão da jornada de trabalho, poderiam ser solucionados com a regulamentação da profissão. “Nós entendemos que com a regulamentação isso vai mudar, porque o comércio passará a ter que cumprir a jornada de 44 horas semanais, que só poderá ser mudada mediante convenção coletiva”, afirma.

Apesar de ser uma das profissões mais antigas, o trabalho no comércio ainda não possui uma legislação específica. Desde 2007 tramita no Congresso o Projeto de Lei do Senado 115, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), que visa legalizar a profissão de comerciário.

- Aqui no Congresso, é difícil aprovar um projeto quando há divergência entre trabalhador e empregador, mas nesse projeto houve um grande entendimento entre os empregados e os empregadores – afirma o senador, que acredita que o projeto seja aprovado ainda no primeiro semestre deste ano.

Para o comerciário Pereira, entretanto, a regulamentação da profissão não trará melhorias para o trabalhador. “Vai ser mais um reconhecimento da profissão de comerciário. Mas benefício para o comerciário, acho que não vai ter muito não, porque o sindicato patronal é muito forte”, analisa. Na opinião de Pereira o poder do sindicato patronal é maior do que o dos comerciários, por isso demorou-se tanto para conseguir o acordo para regulamentar a profissão. O comerciário acredita que, mesmo com a aprovação do projeto, o poder das empresas vai continuar sendo forte. “A maioria das empresas é multinacional hoje, o poder delas é muito grande, até mesmo dentro da Câmara e do Senado”, diz.

O presidente da CNTC, por sua vez, pondera que o fato de a profissão ser regulamentada poderá não impedir que empresários continuem impondo as condições precárias de trabalho a seus funcionários, “mas vai servir como um instrumento a mais para o trabalhador poder reivindicar [seus direitos] judicialmente”, afirma.

OCUPEM OS BANCOS BRASILEIROS



Eliakim Araújo* - Direto da Redação

Na semana que passou, os membros do movimento dos 99%, aquele mesmo que andou ocupando Wall Street e outras cidades estadunidenses, promoveu uma big manifestação na porta da sede corporativa do Bank of America, em Charlotte, Carolina do Norte.

O BofA é o maior banco de varejo dos EUA e um dos principais responsáveis pela desgraça que se abateu sobre o mercado de hipotecas lá pelo final de 2007.

Até hoje, o banco abusa em seus procedimentos de retomada dos imóveis de devedores insolventes. Foi pego usando laranjas para assinar documentos exigidos pela Corte e, para se salvar de punição mais grave, teve que fazer um acordo com o governo e reembolsou milhares de proprietários lesados .

Contra essas práticas irregulares e contra a distribuição de bonus milionários aos executivos do banco é que os manifestantes organizaram o protesto. Uma das organizadoras, Amanda Starbuck, disse com todas as letras: “o BofA é o pior entre os piores”.

Depois de ler a notícia, fiquei me indagando: por que o povo brasileiro, tão capaz de se reunir aos milhões para celebrar a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo, não se organiza e ocupa as portas dos bancos para exigir um atendimento mais humano e digno e a redução da cruel taxa de juros cobrada nos cartões de crédito, nos empréstimos de um modo geral e nos tais consignados que estão infernizando a vida de milhões de idosos que caem nessa arapuca?

Casamento gay: bom negócio para a economia

Acima das questões políticas e religiosas, o casamento entre pessoas do mesmo sexo pode garantir um significativo impulso para a combalida economia do Tio Sam, segundo pesquisa do Instituto Williams de Orientação Sexual e Políticas Públicas, da Universidade de Los Angeles. Veja estes números.

O estudo apurou que existem 646.464 casais do mesmo sexo nos EUA, mas apenas uns 50 mil se casaram de papel passado e cerimônia religiosa. Os casais gastam em média $27,021 dólares, de acordo com pesquisas em sites especializados em casamentos.

Se esses 600.000 casais resolverem sacramentar a união numa cerimônia religiosa, com direito a uma baita festa, vai haver uma explosão da atividade econômica, especialmente no comércio e no setor de serviços.

Já imaginou a festa que vai ser para hotéis, bufês, fotógrafos, cinegrafistas, decoradores de igreja, comércio de roupas, flores, lojas presentes e quejandos? O site TheKnot.com acredita que a indústria do casamento entre casais do mesmo sexo pode gerar uma movimentação de uns 17 bilhões de dólares.

Mas, por enquanto, o casamento gay só é legal em sete Estados: Massachusetts, Connecticut, Iowa, Vermont, New Hampshire, Nova York e no Distrito de Columbia.

Casamento gay vira plebiscito

A propósito, se alguém chegasse hoje aos EUA e prestasse atenção no noticiário iria imaginar que a eleição de novembro não será nada mais que um plebiscito sobre o casamento homossexual, tal o destaque que o assunto ganhou na mídia política.

Desde que Obama anunciou seu apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o tema virou objeto de acalorados debates na TV, enquanto pipocam pesquisas de opinião pública sobre o assunto.

Dessas pesquisas, pode-se concluir que a mentalidade dos estadunidenses vem mudando gradativamente em relação ao casamento homossexual. O próprio Obama mudou. Na campanha de 2008, era favorável apenas à união civil.

No ano passado, pela primeira vez, as pesquisas indicaram que a maioria dos estadunidenses está a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que é surpreendente se compararmos com os números de duas décadas atrás.

Em 1996, o Gallup indicava que somente 27 por cento dos estadunidenses apoiavam o casamento homossexual, enquanto 68 por cento a ele se opunham radicalmente.

No ano passado, 53 por cento dos americanos apoiavam o casamento homossexual, enquanto 45 por cento eram contra. Este ano, o Gallup concluiu que o país está praticamente dividido em relação ao assunto, com 50 por cento a favor e 48 por cento contra.

Com Obama favorável e o republicano Mitt Romney contra, o assunto virou um prato cheio para a mídia estadunidense, e se a eleição fosse hoje certamente ela seria encarada como um plebiscito. Um duelo entre liberais e conservadores.

* Ancorou o primeiro canal de notícias em língua portuguesa, a CBS Brasil. Foi âncora dos jornais da Globo, Manchete e do SBT e na Rádio JB foi Coordenador e titular de "O Jornal do Brasil Informa". Mora em Pembroke Pines, perto de Miami. Em parceria com Leila Cordeiro, possui uma produtora de vídeos jornalísticos e institucionais.

INCÊNDIO GREGO REACENDE-SE




José Ignacio Torreblanca - El País, Madrid – em Presseurop, com foto

A saída da Grécia da zona euro é mais uma vez referida por causa da crise política em Atenas. Mas esse cenário é ainda mais perigoso hoje, numa altura em que Espanha está mais vulnerável. E as consequências seriam geopolíticas, para além de económicas.

Esta Europa não nos dá tréguas, como se odiasse a previsibilidade que, durante tantas décadas, fez com as pessoas deixassem de lhe prestar a menor atenção. Poucos dias depois de a vitória de Hollande em França ter aberto uma nesga de esperança, encontramo-nos cara a cara com os dois problemas que definem esta crise.

Por um lado, a fragilidade dos sistemas políticos, que, como vemos na Grécia, se autodestroem através do empenho em convencer os seus cidadãos a submeterem-se a uma austeridade sem limites nem perspetivas e a serem eles a suportar sozinhos o peso principal da crise. Por outro, como está a acontecer em Espanha, a fragilidade de partes significativas do sistema financeiro, fruto de uma década de excesso de liquidez, má gestão e pior supervisão.

Reação em cadeia

Essas duas fragilidades completam-se e alimentam-se a si mesmas, arrastando-nos para uma situação insustentável: na Grécia, porque a perspetiva de uma renegociação dos termos do pacote de resgate implica abrir caminho para o limiar da saída do euro; em Espanha, porque a condição absolutamente necessária para que funcione a combinação de reformas e cortes que, neste momento, constitui a única agenda do Governo é que essa seja posta em prática num quadro de estabilidade financeira e confiança externa.

Tanto para manter a Grécia dentro do euro como para evitar que a sua eventual saída produza uma reação em cadeia que afetaria a Espanha, os governos da zona euro teriam que tomar medidas de grande alcance. Essas medidas deveriam garantir aos mercados que a Grécia tem futuro dentro do euro ou, então, que a sua saída seria um facto isolado. Mas, como não veem os líderes europeus erguer os corta-fogos necessários, os mercados não acreditam em nenhuma dessas afirmações. Esse pessimismo preocupante começa a encontrar eco junto de muitos que, dentro das instituições europeias, se deram conta de até que ponto a Grécia e a Alemanha tinham chegado ao limite dos seus esforços: de um lado, temos o esgotamento da austeridade grega; do outro o esgotamento da solidariedade alemã.

É imprescindível recuperar o alento e assumir uma perspetiva: a saída da Grécia do euro seria um desastre de grande magnitude, para os gregos e para o resto dos membros da zona euro. Além de as condições de vida dos gregos se deteriorarem ainda mais, os partidos extremistas tornar-se-iam ainda mais fortes. Mesmo que a Grécia não saísse formalmente da União Europeia, a sua saída afetaria todas as políticas em que se baseia a sua condição de membro da UE, em especial no que se refere ao mercado interno, pelo que, na prática, seria o mesmo que uma saída da UE.

Deseuropeização

As consequências seriam também geopolíticas: precisamente quando, depois de uma turbulenta história, a UE tenta atrair para o seu seio os Balcãs ocidentais e se dispõe a admitir a Croácia, a saída da Grécia do euro abriria uma nova frente de desorganização e fracasso estatal, numa região bastante complicada. Psicologicamente, os gregos identificariam o projeto europeu com o fracasso e, assim, logicamente, quereriam afastar-se dele. Para cúmulo, a deseuropeização da Grécia poderia estimular as vozes e forças antiocidentais que, historicamente, têm sido mais fortes naquele país do que noutros vizinhos do sul da Europa, como Espanha, Itália ou Portugal, o que poderia ter repercussões importantes em matéria de segurança, quer mediante o questionamento da qualidade de membro da NATO, quer através de um pico de nacionalismo e das tensões com a Turquia e com a Macedónia.

Para o resto da Europa, as consequências não poderiam ser piores. O eufemismo que está na moda (uma saída controlada) esconde a esperança bastante cínica de que os gregos sejam os únicos afetados. Contudo, na prática, essa saída verificar-se-ia no pior momento, uma vez que Portugal, Itália e Espanha estão num ponto de máxima vulnerabilidade, porque os cortes causaram danos máximos, as reformas ainda não produziram resultados e o pacote de crescimento ainda não está em cima da mesa. Por outras palavras, a saída da Grécia verificar-se-ia no pior momento, que é precisamente aquele em que o seu fator de contágio seria mais elevado e a sua probabilidade de ser um caso isolado seria mais baixa.

A Comissão Europeia tem na gaveta, e está a tirar-lhes o pó a toda a pressa, medidas para estimular o crescimento, que poderiam ter um impacto significativo no sentido de introduzir alguma esperança no horizonte. Tratar-se-á de um cocktail em que se misturam fundos estruturais, empréstimos do BEI e alguma flexibilidade na aplicação dos objetivos de redução do défice. Mas, pondo os olhos na Grécia, o otimismo que se seguiu à vitória de Hollande e que fez com que, em Bruxelas, se respirasse um ar completamente diferente, tem que conviver com uma dúvida muito incómoda: e se Hollande tiver chegado demasiado tarde?

A CONEXÃO, A FESTA E OS SONS DA LUSOFONIA



Sapo MZ, com foto

Lisboa recebeu na noite de sábado a celebração da lusofonia. O Mercado da Ribeira encheu-se de cor, de jovens e “cotas”, ao som da música cantada em português e com muitos sotaques.

A organização Conexão Lusófona lançou o mote e preparou um festival onde fosse celebrada a lusofonia. Do cartaz constavam nomes como Yuri da Cunha (Angola) Sara Tavares e Tito Paris (Cabo Verde), Costa Neto (Moçambique) ou Susana Félix (Portugal), entre muitos outros, não foi de admirar que a sala enchesse com uma moldura humana amante de música.

A noite em Lisboa estava abafada e previa-se que aquecesse ainda mais quando os ritmos quentes de África, América do Sul e até da Ásia começassem a soar no Mercado da Ribeira.
Eram várias as misturas visíveis, gente mais velha, jovens e crianças, portugueses, angolanos, cabo-verdianos, são-tomenses, espanhóis, etc. As diferenças acentuavam ainda mais as semelhanças e quando as primeiras músicas começaram a ser tocadas, as vozes soltaram-se num apoio constante a todos os artistas, fundindo-se numa miscelânea de vozes.

O festival convidava a dança e muitos não resistiram perante as mornas do Tito Paris ou dos ritmos quentes do Guineense Manecas Costa. O bom “feeling” que Sara Tavares canta várias vezes estava no ar e ouve mesmo quem comentasse “que há muito tempo que não via tanta gente a partilhar tanto amor”. Comentário que veio corroborar o que o músico Yuri da Cunha disse ao SAPO antes de entrar em Palco, “o que une os povos lusófonos é o amor. O amor é que transforma o calor destas pessoas no que nós vemos aqui hoje”. De facto a alegria e o amor estavam presentes.

Não faltou desejos de paz ao povo da Guiné-Bissau, assim como votos de união entre os povos que falam português, porque mesmo com sotaques diferentes, foi possível ver que existe harmonia. Para prova disso foram os vários duetos que marcaram a noite lusófona, como o de Aline Frazão com Tubias Vaiana ou ainda o de Susana Felix com o músico Manecas Costa.

Assim, a conexão ia sendo feita música após música com o público eufórico a entrar na festa.

Tito Paris viu em parte os desejos realizados, quando disse que “era importante unir os povos, juntar todas as culturas de cada povo para ser uma só cultura”.

Para Aline Frazão “o conceito de lusofonia aproxima-nos uns dos outros, a língua aproxima-nos. Dentro das nossas muitas diferenças eu acho que se vamos encontrar uma ponte, uma irmandade”.

Susana Félix afirma que “a língua é importante, mas não só, porque o que nos une foi a nossa experiência em comum. Aquilo, não só, que Portugal deixou em África ou no Brasil, mas o que Portugal recebeu e deu. Isso é lusofonia para mim".

Um dos maiores momentos da noite foi quando o músico Yuri da Cunha entrou em palco, com a sua energia habitual, levando a que o público cantasse ainda mais alto. A presença de Yuri da Cunha foi contagiante e não houve quem não dançasse com o cantor angolano. Depois de um dueto com a cantora brasileira Luanda Cozetti, foi a vez de Sara Tavares cantar com Yuri da Cunha e de fazerem as delícias dos espectadores.

A noite iria terminar depois de dois “encores” e um desejo claro que lusofonia seja mais vezes celebrada, com muita música, alegria, calor e união.


@Edson Vital e Renato Mkaima

Alemanha: Social-democratas e verdes com maioria para governar estado mais populoso



Deutsche Welle

Pleito na Renânia do Norte-Vestfália termina com vitória para coalizão entre verdes e social-democratas. A CDU, partido de Merkel, cai na preferência do eleitorado.

A União Democrata Cristã (CDU), partido da premiê Angela Merkel, saiu visivelmente derrotado – com apenas 26,3% dos votos – das eleições estaduais na Renânia do Norte-Vestfália, o estado com maior número de habitantes (13,2 milhões) do país.

O Partido Social Democrata ficou com 39% dos votos. Os verdes registraram uma pequena perda em relação às eleições realizadas há dois anos, ficando com um percentual de 11,6%. O Partido Liberal Democrático (FDP) conseguiu ultrapassar o limite mínimo dos 5% exigido para ocupar cadeiras na Assembleia Legislativa, contabilizando 8,4% dos votos.

Piratas na Assembleia Legislativa

O Partido dos Piratas chega pela primeira vez à Assembleia do estado, com 7,7% dos votos. Este é o quarto estado onde os piratas têm agora representação em assembleias legislativas. Os outros três são Berlim, o Sarre e Schleswig-Holstein.

Para as cadeiras na Assembleia Legislativa haviam sido registradas 1.805 candidaturas. Eleitos foram 93 social-democratas, 63 democrata-cristãos, 27 verdes, 20 liberais e 18 piratas. Sendo assim, verdes e social-demoratas conseguirão compor uma maioria de 120 dos 221 assentos.

Consequências para o governo Merkel

A Assembleia Legislativa em Düsseldorf, capital do estado, foi dissolvida há apenas dois anos, depois que o governo de minoria formado pelo SPD (Partido Social Democrata) e pelos verdes não conseguiu aprovar o orçamento para o ano de 2012.

Na Renânia do Norte-Vestfália vive mais de um quinto da população alemã, por isso os resultados do pleito no estado são considerados como uma prévia das eleições para o Parlamento, que acontecerão no segundo semestre de 2013. O pleito neste estado poderá surtir efeitos sobre a coalizão de governo em esfera federal, formada por democrata-cristãos e liberais e conduzida pela premiê Angela Merkel.

Imediatamente depois da divulgação dos primeiros resultados das eleições estaduais, o ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, anunciou sua renúncia à presidência de seu partido (a CDU) na Renânia do Norte-Vestfália. "A derrota é amarga, é claro, e dói muito. Para todos nós e para mim especialmente", declarou Röttgen.

SV/dpa, afp, dapd, rtr

“INDIGNADOS” SÃO RETIRADOS DO CENTRO DE MADRID




A polícia espanhola expulsou manifestantes da praça central de Madri. Manifestantes e policiais ficaram feridos. Novas mobilizações foram convocadas.

A polícia espanhola dispersou cerca de 200 pessoas que permaneciam na praça Puerta del Sol, em Madri, na manhã deste domingo (13/5), depois de terminar o prazo imposto pelas autoridades locais para a mobilização. Vários protestos contra a situação econômica do país e as estratégias para enfrentar a crise foram registrados ainda no sábado.

A polícia iniciou a retirada dos "indignados" da Puerta del Sol sete horas depois do limite estabelecido oficialmente para dispersar a manifestação. Muitos participantes da mobilização se retiraram ao perceberem a chegada da polícia, mas houve quem resistisse. A mídia local reporta 17 detidos e quatro pessoas feridas, incluindo dois policiais.

Nas cidades de Valência e Palma de Maiorca, outras desocupações foram realizadas por forças de segurança. Conforme a polícia madrilenha, aproximadamente 30 mil pessoas foram para as ruas da capital espanhola no sábado, dia "oficial" de manifestações do movimento dos "indignados". Cerca de 80 eventos semelhantes foram realizados em diversas regiões da Espanha.

Controle

A mobilização deste final de semana pretende também marcar a criação do Movimento dos Indignados (ou 15-M), que completa um ano no dia 15 de maio. As manifestações do ano passado transformaram-se em semanas de ocupação da praça central de Madri. Um acampamento foi feito no local e organizações civis disponibilizaram serviços básicos para os participantes.

Os manifestantes têm o direito de realizar assembléias em espaço público por um período de 10 horas durante o dia, porém são proibidos de permanecer na praça durante a noite. A porta-voz do governo, Soraya Saenz de Santamaría, disse que seria assegurado o respeito aos horários.

A Espanha passa por uma série de reformas e cortes de gastos públicos para enfrentar a crise da dívida e não seguir os passos de outros parceiros da zona do euro, como Grécia, Irlanda e Portugal, que apelam hoje por empréstimos internacionais.

O país enfrenta o maior índice de desemprego da zona do euro. Conforme dados oficiais do governo, 24,% da população está sem trabalho e, neste grupo, 52% tem entre 18 e 25 anos. O primeiro-ministro Mariano Rajoy, que assumiu o governo em dezembro último, defendeu uma política de austeridade para estabilizar a economia espanhola.

MP/afp/ap/dpa - Revisão: Soraia Vilela

AMPLA CIDADE


Arte de Malangatana
Rui Peralta

Estamos juntos

Tenho um amigo judeu, Chris Two é o seu nome, filho de pai irlandês e de mãe dinamarquesa (de origem judaica) e que por isso tem as duas nacionalidades, vivendo em Itália, repartindo a sua vida entre Turim, onde dá aulas na respectiva universidade e Veneza, onde tem um delicioso restaurante cujo mestre de cozinha (que é também sócio) é um Palestiniano casado com uma boliviana (também sócia do restaurante) que desempenha as funções de chefe-de-sala.

Numa bela tarde Chris Two tomava um longo banho de imersão. Estava uma tarde quente, as ruas da cidade pareciam fumegar como a chaminé de um vulcão. O sol brilhava com uma intensidade invulgar e o calor penetrava na alma ardente.

Foi quando ela do nada surgiu. Chris sentiu a presença estranha. Abriu os olhos e viu um anjo feminino de pele castanha, com asas brancas, que sorriu com o olhar felino.

Visão perturbante. Chris ergueu-se, assustado com o anjo deslumbrante. O ser angelical fez-lhe apenas um sinal, dedo indicador espetado, ao nariz encostado (gesto arrogante). Chris não falou e nem um gesto esboçou.

Ficou imóvel e calado apreciando a feminina e angélica beleza felina. Quanto tempo passou nesta contemplação? Segundos, minutos, horas, ou…Seria uma alucinação? Sentia-se fascinado de forma estranha pela pele castanha daquele sublime corpo alado.

O anjo, por sua vez, nada disse e nada fez, limitando-se a permanecer imóvel, com as asas abertas, olhando para Chris, como a dizer: “Aceita as minhas ofertas”. O anjo as asas moveu e no nada desapareceu.

Chris Two da banheira saiu, com uma toalha posta, questionando o que viu mas sem resposta. Talvez o calor o tenha afetado (com esta ideia sorriu). Mas aquele anjo revelador, a sua beleza e a súbita aparição, deixava-o intrigado. Mal refeito da situação buscou a sageza no sofá sentado, a apreciar a frescura do ar condicionado. Procura a solução enquanto a pele se arrepia e a cabeça rodopia.

Foi então que ela surgiu de súbito ao seu lado (de onde ele não viu). “Quem és tu? Que queres de mim?” Questiona Chris Two. “Sou o Anjo teu” disse o ser alado Chris interrogou, assustado: “Um Anjo? O Anjo meu?” Ela respondeu: “Vem comigo, não fiques assim”. A cabeça de Chris disse que sim.

Os lábios ela não os movia, mas aquela voz serena ele a ouvia, a voz aquela, transmitindo tranquilidade plena. “Ir contigo?” Ele perguntou, ao que o anjo respondeu: “Ao Paraíso! Vem...” Disse o belo ser. “O Paraíso? Vou morrer?” O pânico tomou a alma dele e ela sentindo o medo que ele tem. “Vem comigo” sua mão estendeu.

Chris Two, temeroso, pegou na mão estendida e o anjo num ápice o transportou a uma planície de verde revestida.

Esta aventura do meu amigo Chris continua pelo que irei descrevê-la, tintim por tintim, exactamente como ele contou-nos, a mim e aos seus dois sócios, durante as várias publicações da Ampla Cidade, para que a partilhem comigo. Foi uma história que impressionou-me, de tal forma que nessa noite sonhei com um anjo feminino de pele castanha a quem ofereci mil flores coloridas... (Afinal os anjos têm sexo...).

Mas vamos lá ao motivo de hoje que tem um pouco a ver com o sexo dos anjos. Os escribas da demagogia que vivem da prosa verbosa da luta contra o que eles chamam “regime angolano”. É uma coisa que nunca encontrei em nenhuma obra de ciência politica essa noção de regime angolano. Já fiz várias pesquisas nesse sentido, nas mais diversas bibliografias sobre os regimes mas nunca encontrei nenhuma que definisse esse fantasma de alguns profissionais do verbo fácil: o terrorífico regime angolano. Houve até uma altura em que andei a fazer estudos comparados entre o regime constitucional de Angola com outros, europeus, asiáticos, africanos, sul-americanos e francamente não vejo onde é que a Republica de Angola, em termos constitucionais e no funcionamento das instituições seja assim tão terrificamente especifica.

É claro que temos podres e corruptos e incompetentes e ladrões de gado e assaltantes de bancos (aos quais nem o BNA escapa) e oportunistas que nunca mais acaba e racistas e xenófobos e bufos e vendidos e vendilhões e bajuladores e mentecaptos e assassinos e suicidas e lambe-botas, sapatos e chinelos, para além dos que cultivam o fetiche dos pés, feiticeiros e metafísicos e fascistas e papistas e seitas e pedófilos e tarados e policiomaníacos e militaristas e um monte de jabardice e uma lista extensa que nunca mais acabava se fosse mencionar item a item.

Mas temos uma outra lista, muita mais extensa que a anterior, dez vezes mais, no mínimo, de luta, sacrifícios, alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, momentos de indescritível glória, orgulho, inteligência, perspicácia, subtileza, que só nos honra. No passado, no presente e no futuro que construímos a pulso.

         Derrotámos o colonial-fascismo, numa luta árdua de guerra de libertação nacional, internacionalista na solidariedade com os povos da Guiné, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe, de Moçambique, de Timor e de Portugal. Depois vieram os mobutistas que espezinhavam o seu povo e os racistas do apartheid apoiados pelo arsenal do imperialismo, derrotados pela nossa frontalidade e pela solidariedade dos povos da Namíbia e da Africa do Sul e de Cuba e da Linha da Frente. Depois os agentes internos dos interesses externos. E estamos aqui, em paz, com um passado de luta vitoriosa, certos da vitória na continuidade da luta, agora na batalha do desenvolvimento, numa sociedade democrática, deficiente é claro, porque não existem paraísos, conscientes de um caminho árduo que ainda temos pela frente, dos imensos problemas por resolver, cometendo erros, corrigindo, tornando a cometer erros, continuando a corrigir, enquanto a luta de classes persegue a sua dinâmica histórica.

         Estamos aqui e estamos vivos. Com a experiencia e a sabedoria dos sobreviventes. Sempre solidários. De Cabinda ao Cunene. Do Cabo ao Cairo. De Paris a Pequim. De Washington a Tóquio. Cientes de que a luta continua e de que a vitória é certa. Sempre com uma mão solidária estendida, prontos a dar o que temos.

         Quanto aos escribas, aos de lá e aos de cá, parafraseando o meu mais-velho camarada Martinho Júnior: “É dar-lhes com o pau!”

         Estamos juntos!

ROUBO DE CÉREBROS NA MEDICINA EM ÁFRICA



Tudo para Minha Cuba

“Os países da África Subsaariana investem em treinamento para médicos, acabam perdendo US $ 2.000 milhões porque muitos especialistas clínicos abandonam as suas terras em busca de emprego nas nações ricas”.

Um estudo de cientistas canadenses revelou que a África do Sul e Zimbawe sofrem as piores perdas económicas devido à migração de médicos, enquanto a Austrália, Canadá, Estados Unidos e Grã-Bretanha são aqueles que beneficiam mais ao recrutar médicos estrangeiros.

Os pesquisadores, liderados por Edward Mills, Chefe da Global Health, Universidade de Otawa, exortaram todos os estados de destino para reconhecer esse desequilíbrio e investir mais na formação e evolução dos sistemas de saúde nos países com os maiores cérebros médicos".

"Muitos países ricos de destino, que treinam menos médicos dos que são necessários, são dependentes dos médicos imigrantes para atenuar o défice", escreveu Mills no estudo, publicado no British Medical Journal.

"Países em desenvolvimento estão realmente pagando para formar pessoal que logo apoia os serviços de saúde em países desenvolvidos", acrescentou.

Especialistas apontam que a migração, ou "fuga de cérebros", de profissionais de saúde treinados de regiões mais pobres para países mais ricos agrava ainda mais o problema do já enfraquecido sistemas de saúde nos países de baixa renda, nações que lutam contra epidemias e doenças infecciosas tais como o HIV/SIDA, a tuberculose e a malária.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) adoptou um código de conduta em 2010, previsto para o recrutamento de pessoal médico internacional que destaca a questão da fuga de cérebros e insta países ricos para prestar ajuda financeira aos países mais pobres que estão a ser afectados.

O código é considerado particularmente importante na África subsariana, que está enfrentando uma grave escassez de médicos e apresenta a maior prevalência de doenças como HIV, tuberculose e malária.

O último relatório global das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA, publicado na segunda-feira, indicou que 68 por cento dos quase 34 milhões de doentes que têm vírus da imunodeficiência humana (HIV) no mundo, que causa a AIDS, vivem na África.

Através de diversos dados, incluindo relatórios publicados pela UNESCO sobre as despesas em escolas primárias e o secundários, o equipe do Mills estimou qual e o custo de formar um médico durante sua vida académica– desde a escola primária - em nove países da África subsaariana com maior incidência de HIV no mundo.

Os países estudados foram a Etiópia, Quénia, Malawi, Nigéria, África do Sul, Tanzânia, Uganda, Zâmbia e Zimbawe.

Os pesquisadores adicionaram as estatísticas para estimar quanto eles pagaram em geral, os países de origem para a formação dos médicos e quanto poupavam as nações de destino ao empregá-los.

Os resultados mostram que os governos africanos gastam entre US $ 21.000 -estatísticas em Uganda - e $ 59.000 -na África do Sul - para formar um médico que em muitos casos só vai migrar para países mais ricos.

"Entre os nove países da África Subsaariana mais afectados pelo VIH/SIDA, mais de 2.000 milhões de dólares de investimento são perdidos pela emigração de médicos treinados".

"Nossos resultados mostram que a África do Sul tem os custos mais elevados de educação médica e a maiores perdas por falta de retorno sobre esse investimento", acrescentaram. Os resultados sugerem que o benefício para a Grã-Bretanha era de aproximadamente $ 2. 700 Milhões e para os Estados Unidos, a US $ 846 milhões”.

Entretanto, o benefício para a Austrália se beneficiariam de cerca de US $ 621 milhões, enquanto o Canadá poderia poupar cerca de US $ 384 milhões. [Cubadebate]

RAPIDINHAS DO MARTINHO – 78


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Martinho Júnior, Luanda

O FIM DUM DINOSSAURO

Todos os anos a Assembleia Geral da ONU se reúne para condenar massivamente o bloqueio contra Cuba, uma política típica da hegemonia unipolar imposta por via dos Estados Unidos, uma política com mais de 50 anos de existência.

O bloqueio é não só um “dinossauro” típico das geo estratégias do período da Guerra Fria, mas também um resíduo que vingou com a hegemonia unipolar erigido pela aristocracia financeira mundial, no quadro de suas políticas capitalistas neo liberais mais conservadoras, saudosistas das mais cruéis ditaduras da América Latina do século passado.

Com as novas gerações e com o crescimento relativo das comunidades de origem latino americana nos Estados Unidos, o bloqueio começa a dar os primeiros sinais de brecha em vários dos estados norte americanos, mas também na Florida, onde se encontra concentrada a migração cubana que se tem manifestado fanaticamente contra a Revolução do seu país de origem e das suas tão significativas conquistas.

A Odebrecht, empresa brasileira multinacional presente em muitos países da América Latina, da Europa e de África, está a ser protagonista de um dos últimos episódios de tensão: de um lado a hegemonia unipolar, com seus mais conservadores “lobbies”, que começam a dar sinais de fragilização e contradição nos próprios Estados Unidos, do outro a emergência interdependente e multipolar arreigada aos BRICS, neste caso com o Brasil à cabeça.

A Odebrecht é neste caso duplamente desafiadora por que em primeiro lugar possui negócios na Florida e em Cuba, em segundo lugar, a obra do porto de Mariel, a oeste de Havana, permitirá o surgimento dum entreposto oceânico que será utilizado principalmente pelos emergentes, com a China e o Brasil num plano dinamizador, contribuindo para impulsionar o comércio dos interdependentes que se propõem ao multipolarismo.

Em Mariel, as mercadorias provenientes da Ásia serão recebidas dos grandes cargueiros trans-Pacífico, para depois, via cabotagem, seguir para os portos da costa Atlântica da América, Europa e África!

Poucos poderão avaliar qual será o desfecho da presente batalha que se reflectirá no bloqueio a Cuba, mas uma coisa é certa: o “dinossauro” dá sinais de estar em vias de extinção!

De facto, conforme a Presidente Dilma: “não há diálogo entre desiguais” e a Florida, por si, ou acompanha a mudança dos paradigmas globais, ou fragilizará suas potencialidades por manifesta auto-exclusão em relação ao futuro!

Ler:

- Promulgação no estado americano da Florida de uma lei que proíbe as instituições públicas para celebrar contratos com as empresas que fazem negócios em Cuba – http://tudoparaminhacuba.hazblog.com/Primeiro-blog-b1/Promulgacao-no-estado-americano-da-Florida-de-uma-lei-que-proibe-as-instituicoes-publicas-para-celebrar-contratos-com-as-empresas-que-fazem-negocios-em-Cuba-b1-p18.htm

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