quarta-feira, 17 de julho de 2013

VOANDO COM EVO




José Ribamar Bessa Freire – Pátria Latina

Diga lá: quem informou aos americanos que Edward Snowden estava no avião de Evo Morales? Descobrimos, enfim, o mistério que tanto intrigou a opinião pública internacional. Mora em Manaus, no bairro D. Pedro, o blogueiro que fez essa denúncia. Esse é um furo que dou aqui no Diário do Amazonas, passando a perna no The Guardian e no The New York Times.

Tudo começou no Brasil, quando Glenn Greenwald, jornalista americano, residente na Gávea, Rio de Janeiro, entrevistou Edward Snowden, que revelou como a CIA controla diretamente a internet e as redes sociais em todo o planeta. A entrevista, feita há um mês em Hong Kong, teve repercussão na mídia do mundo inteiro.

Edward Snowden, 29 anos, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) subordinada ao Pentágono e vinculada à CIA, é hoje o homem mais caçado do planeta. Ele denunciou corajosamente o governo americano, que criou um programa chamado PRISM para bisbilhotar a vida de qualquer cidadão em todos os recantos da terra. Esse esquema de vigilância monitora, além das contas telefônicas, informações do Yahoo, Microsoft, Google, AOL, YouTube, Apple, Skype, PalTakl, Facebook e The devil on four, ou seja, o diabo a quatro.

Foi justamente xeretando uma mensagem no facebook que os serviços de espionagem dos EUA tomaram conhecimento de que Snowden, estava no avião do Evo. Conto como foi. A coisa funciona assim. Uma simples mensagem familiar, como a que postei ontem, pode ser lida pelo Obama na Casa Branca. Escrevi: "Pão Molhado, não faz terrorismo com a Giza". A palavra "terrorismo" foi o suficiente para alertar os espiões que capturaram a postagem e, em um milionésimo de segundo, sabiam o que meu sobrinho, conhecido pela CIA como Wet Bread, fazia com sua esposa.

Um micropaís

Foi uma dessas mensagens, postada no facebook pelo paraense de Santarém, Onildo Elias Castro Lima, ex-Secretário Municipal de Finanças de Manaus, que alertou a CIA sobre a presença de Snowden. Ele escreveu:

"A Bolívia com seus "cocaleros" têm suas ações internacionais sob suspeição há muito tempo! Um país que exerce práticas produtivas à margem da legalidade pode exigir respeito de alguém?"

Os espiões americanos desconfiaram. Eles descobriram, bisbilhotando, que o economista Onildo é sócio proprietário na empresa Instituto de Consultoria e Pesquisa S/C Ltda - CEAG. Oferece consultoria na área de gestão empresarial como ele mesmo diz no seu perfil do face:

"Coloco-me à disposição dos organismos nacionais e internacionais com minha experiência profissional com mais de 30 anos na área da Micro e Pequena Empresa".

Ora, a CIA acredita que a Bolívia é um micropaís e, portanto, que Onildo tem legitimidade para opinar sobre o tema. Aproveitou a consultoria oferecida por Onildo, com mais de trinta anos de experiência, cruzando-a com outra informação proporcionada por Vicente Pinheiro, também do Amazonas, que postou colocando a mãe de Deus no meio da história:

"Mas não adianta. O Brasil não é, e nem NUNCA VAI SER mais uma republiqueta bolivariana, como a pobre Venezuela chavista, a Bolivia do índio cocalero e o Equador, assim que Deus e Nossa Senhora Aparecida continuem nos protegendo e livrando das garras desse pessoal.

A CIA matou a charada. O "índio cocalero" Evo Morales estava na Rússia, em uma reunião para celebrar um acordo bilateral com o presidente Vladimir Putin. Acontece que Snowden, caçado como ratazana pela CIA, por "pura coincidência" estava também no aeroporto de Moscou. Depois da reunião, o avião de Evo Morales decolou para a Bolívia. É evidente que Snowden entrou no avião do "cocalero à margem da legalidade".

Opinião hedionda

A partir daí aconteceu o que foi noticiado. Os americanos deram a ordem e os governos europeus, apesar de serem também vítimas da espionagem, botaram o rabinho entre as pernas e obedeceram. O avião de Evo, que precisava reabastecer para cruzar o Atlântico, não teve a permissão para aterrissar na França, em Portugal, na Itália, nem na Espanha, colocando em risco a vida do presidente da Bolívia e de seus colaboradores. Só não aconteceu uma tragédia, porque a Áustria concedeu um "pouso vigiado" da comitiva presidencial.Vasculharam o avião e Snowden havia se derretido.

A opinião pública internacional ficou indignada. A presidenta Dilma, em uma nota oficial, se solidarizou com Evo Morales e expressou "repúdio e indignação ao constrangimento imposto ao presidente. Considerou que a ação dos europeus "compromete o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações".

O que faltou dizer é que esses americanos são mesmo uns abestalhados. Gastam bilhões de dólares com serviço de espionagem e contra-espionagem para nada. São uns incompetentes. Dá vontade de rir na cara deles e gritar: - Otários, babacas! Também quem manda acreditar no Onildo e no Vicente.

Ora, o que Onildo entende do assunto, se Evo não é uma micro ou pequena empresa? O que é que ele sabe sobre a coca? De coca, só mesmo a cola, como consumidor, mas com o Evo não cola. Recentemente, Evo subiu à tribuna da Comissão de Estupefacientes das Nações Unidas, em Viena, com folhas de coca na mão e com amostras de vários produtos:

“Peço a todos os países, a todas as organizações internacionais que corrijam um erro histórico” - disse Evo Morales, apelando para excluir a coca da lista de entorpecentes proibidos: “Fabricantes de folhas de coca não são narcotraficantes, consumidores de folhas de coca não são viciados em drogas, e a folha de coca no seu estado natural não é cocaína”.

A coca vem sendo utilizada há milênios como planta sagrada, milagrosa, alimento cuja folha representa a força, a vida e que é oferecida aos deuses fazendo a ponte entre os homens e a divindade. De qual legalidade fala Onildo? Quem extraiu a cocaína da planta não foram os bolivianos, quem produz e consome cocaína também não são os bolivianos. Cocaleros são os outros.

O Senado, que aprovou projeto transformando a corrupção em crime hediondo, devia classificar algumas opiniões como "opinião hedionda, sórdida, nauseabunda", como essa manifestada em relação a um presidente de uma nação soberana eleito pelo voto popular.

Como escreveu uma historiadora, em outra postagem: "Evo Morales tem que ser recebido porque é o presidente eleito de um país no caso a Bolívia. A Itália, a Áustria e a França faltaram com respeito ao povo boliviano. Criaram um problema diplomático. Em vez de se orgulharem de receber um Aymara que chegou a presidência do seu país ficam com preconceito. Isso é coisa de americanos que querem se meter na vida de todos os países. Por isso não consigo ter pena quando acontece alguma reação contra os EUA".

DESCULPE, PRESIDENTE EVO MORALES




Sinais dos tempos, Senhor Presidente: a arrogância colonial europeia já não pode ser exercida sem subserviência colonial. Este continente está ficando demasiado pequeno para poder ser grande sem ser aos ombros de outrem. Nada disto absolve as elites europeias. Apenas aprofunda a distância entre elas e tantos europeus.

Boaventura de Sousa Santos – Carta Maior

Esperei uma semana que o governo do meu país pedisse formalmente desculpas pelo ato de pirataria aérea e de terrorismo de estado que cometeu, juntamente com a Espanha, a França e a Itália, ao não autorizar a escala técnica do seu avião no regresso à Bolívia depois de uma reunião em Moscou, ofendendo a dignidade e a soberania do seu país e pondo em risco a sua própria vida. 

Não esperava que o fizesse, pois conheço e sofro o colapso diário da legalidade nacional e internacional em curso no meu país e nos países vizinhos, a mediocridade moral e política das elites que nos governam, e o refúgio precário da dignidade e da esperança nas consciências, nas ruas e nas praças, depois de há muito terem sido expulsas das instituições. Não pediu desculpa. 

Peço eu, cidadão comum, envergonhado por pertencer a um país e a um continente que é capaz de cometer esta afronta e de o fazer de modo impune, já que nenhuma instância internacional se atreve a enfrentar os autores e os mandantes deste crime internacional. O meu pedido de desculpas não tem qualquer valor diplomático mas tem um valor talvez ainda superior, na medida em que, longe de ser um ato individual, é a expressão de um sentimento coletivo, muito mais vasto do que pode imaginar, por parte de cidadãos indignados que todos os dias juntam mais razões para não se sentirem representados pelos seus representantes. O crime cometido contra si foi mais uma dessas razões. Alegrámo-nos com seu regresso em segurança a casa e vibrámos com a calorosa acolhida que lhe deu o seu povo ao aterrar em El Alto. Creia, Senhor Presidente, que, a muitos quilômetros de distância, muitos de nós estávamos lá, embebidos no ar mágico dos Andes.

O Senhor Presidente sabe melhor do que qualquer de nós que se tratou de mais um ato de arrogância colonial no seguimento de uma longa e dolorosa história de opressão, violência e supremacia racial. Para a Europa, um presidente índio é sempre mais índio do que presidente e, por isso, é de esperar que transporte droga ou terroristas no seu avião presidencial. Uma suspeita de um branco contra um índio é mil vezes mais credível que a suspeita de um índio contra um branco. Lembra-se bem que os europeus, na pessoa do Papa Paulo III, só reconheceram que a gente do seu povo tinha alma humana em 1537 (bula Sublimis Deus), e conseguiram ser tão ignominiosos nos termos em que recusaram esse reconhecimento durante décadas como nos termos em que finalmente o aceitaram. 

Foram precisos 469 anos para que, na sua pessoa, fosse eleito presidente um indígena num país de maioria indígena. Mas sei que também está atento às diferenças nas continuidades. A humilhação de que foi vítima foi um ato de arrogância colonial ou de subserviência colonial? Lembremos um outro “incidente” recente entre governantes europeus e latino-americanos. Em 10 de Novembro de 2007, durante a XVII Cimeira Iberoamericana realizada no Chile, o Rei de Espanha, desagradado pelo que ouvia do saudoso Presidente Hugo Chávez, dirigiu-se-lhe intempestivamente e mandou-o calar. A frase “Por qué no te callas” ficará na história das relações internacionais como um símbolo cruelmente revelador das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colónias. De fato, não se imagina um chefe de Estado europeu a dirigir-se nesses termos publicamente a um seu congénere europeu, quaisquer que fossem as razões.

O Senhor Presidente foi vítima de uma agressão ainda mais humilhante, mas não lhe escapará o fato de que, no seu caso, a Europa não agiu espontaneamente. Fê-lo a mando dos EUA e, ao fazê-lo, submeteu-se à ilegalidade internacional imposta pelo imperialismo norte-americano, tal como, anos antes, o fizera ao autorizar o sobrevoo do seu espaço aéreo para voos clandestinos da CIA, transportando suspeitos a caminho de Guantánamo, em clara violação do direito internacional. 

Sinais dos tempos, Senhor Presidente: a arrogância colonial europeia já não pode ser exercida sem subserviência colonial. Este continente está a ficar demasiado pequeno para poder ser grande sem ser aos ombros de outrem. Nada disto absolve as elites europeias. Apenas aprofunda a distância entre elas e tantos europeus, como eu, que veem na Bolívia um país amigo e respeitam a dignidade do seu povo e a legitimidade das suas autoridades democráticas.

Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).

EM SEMINÁRIO DO CDES, DILMA DIZ QUE O BRASIL NÃO QUER VOLTAR AO PASSADO




Presidenta faz um paralelo entre os dez anos de atuação do Conselho e os avanços econômicos e sociais conquistados pelo país e diz que é apenas o começo.

Maurício Thuswohl – Carta Maior

Em sua primeira participação como chefe de Estado em um seminário internacional do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, a presidenta Dilma Rousseff traçou um panorama das conquistas obtidas pelo Brasil nos últimos dez anos, desde que o CDES foi criado, e exortou seus integrantes a darem continuidade à missão de debater propostas oriundas dos diversos setores da sociedade brasileira para o desenvolvimento do país. A presidenta afirmou também que o atual momento de reivindicações populares por mais avanços sociais indica que o os brasileiros não desejam um retorno ao passado, mas sim o aprofundamento de conquistas que somente foram possíveis a partir da mudança de paradigma do governo, que passou a encarar o combate à desigualdade como prioridade.

“Quando nós promovemos a ascensão social – e hoje estamos perto de eliminar a pobreza extrema - sabíamos que isso era só o começo para maiores exigências. Quando criamos um grande contingente de cidadãos com melhores condições de vida e com maior acesso à informação, vimos surgir um cidadão com novas vontades, anseios, desejos, exigências e demandas. Ninguém, neste último mês de várias manifestações, pediu a volta ao passado. Pediram, sim, o avanço para um futuro com mais direitos e mais democracia. Exigiram avanços, e tudo o que ocorreu floresceu justamente em meio a um processo de mudança que estamos fazendo no Brasil há uma década”, disse a presidenta.

Dilma lembrou que entre 2003 e 2013 “ocorreu a maior redução da desigualdade dos últimos 50 anos” no Brasil: “Foi nesta década que criamos um sistema de proteção social que vai nos permitir praticamente superar a extrema pobreza. Em um mundo que desemprega, criamos quase 20 milhões de empregos com carteira assinada. Onde os países se endividaram e o déficit público chegou a níveis extraordinários, nós construímos o controle da inflação”, enumerou.

Agora, segundo a presidenta, o Brasil quer mais: “Fizemos nestes dez anos o mais urgente e necessário para superar aquele nosso momento histórico, mas agora fomos cobrados a fazer mais. Queremos e devemos fazer mais. Democracia gera o desejo de mais democracia. Inclusão provoca cobranças por mais inclusão. Qualidade de vida desperta o anseio por mais qualidade de vida. Para nós, o fim da miséria e todos os outros avanços conquistados são só o começo. Todos nós queremos mais”, disse.

Dilma afirmou querer “incorporar empresários e trabalhadores cada vez mais nesse processo” e saudou o papel cumprido pelo CDES neste novo momento vivido pelo país na última década: “O CDES merece calorosos cumprimentos pelos dez anos de atividades. Tem sido um interlocutor muito importante do governo, seja por sua capacidade de análise e formulação, seja por sua representatividade. O diálogo travado no Conselho tem sido fundamental, e o Brasil hoje não pode prescindir de canais desse tipo, conectado como o Brasil real. Essa conexão é estratégica para que de fato possamos melhorar as questões de representatividade no Brasil. Este Conselho demonstrou nestes dez anos que, ao representar os segmentos mais diferentes colocou os interesses do país acima de interesses específicos”.

Ao assumir a luta contra a desigualdade como prioridade para o país, o CDES, disse a presidenta, ajudou a pavimentar o caminho hoje trilhado pelo governo: “O maior obstáculo ao desenvolvimento era a desigualdade. Ao colocar isso no centro de suas discussões, o CDES deu um passo à frente para que possamos reduzir a desigualdade entre regiões, entre homens e mulheres, entre negros e brancos, entre empresas de diferentes tamanhos, entre setores produtivos, ente cidadãos na base e no topo da pirâmide social. Avançamos muito no combate, mas o CDES nunca deixou de registrar que ainda há um longo caminho a percorrer para que o Brasil seja um país sustentável e justo. Esse processo de avanço não deve, não pode e não será interrompido. Ao contrário, está sendo mantido e ampliado. Estamos vencendo focando nos desafios que queremos superar”.

Críticas infundadas

Dilma criticou o que qualificou como críticas infundadas a atual situação do país: “Aproveito para repelir as posturas pessimistas contra a economia brasileira em um futuro próximo. Os dados desmentem esse pessimismo, hoje temos melhores condições do que tivemos em anos passados. Não estou dizendo que não temos que melhorar, mas temos a força necessária para superar os desafios”, disse. Ao falar das “parcerias e concessões que estão atraindo investidores”, a presidenta citou a 11ª rodada da ANP, que teve recorde de participação com 39 empresas de doze países, e da “expectativa positiva para outubro”, quando será realizada a rodada de leilão do pré-sal.

Dilma citou ainda os dois leilões de energia elétrica ocorridos em maio e junho e as novas regras aprovadas para os portos brasileiros: “O país precisa enfrentar seus custos e o desafio de transformar o ambiente de negócios. Haverá um anúncio público de 50 terminais de uso privativo, o que indica que esse processo será também bem-sucedido ao abrir a participação de investimentos privados de nosso país”, disse, antes de afirmar que novos investimentos serão feitos entre agosto e dezembro nas rodovias, ferrovias e aeroportos.

A presidenta garantiu aos conselheiros do CDES que a inflação está sob controle; “A inflação vem caindo de forma consistente nos últimos meses e temos certeza de que vamos fechar o ano com a inflação dentro da meta. A solvência do estado brasileiro está garantida. Podemos ter a certeza de que o Brasil tem uma situação de solvência e robustez fiscal. A dívida líquida é muito menor do que há dez anos e o déficit da previdência está em torno de 1% do PIB, um dos menores da década, assim como as despesas do governo. Os números reais mostram que é incorreto falar de descontrole da inflação ou das despesas do governo. É desrespeito aos dados ou a lógica, para dizer o mínimo. A exploração parcial dos fatos confunde a opinião pública e visa criar um ambiente de pessimismo. Trata-se de um barulho muito maior do que o fato. Temos problemas, sim, mas a situação é muito melhor do que no passado”.

Pactos

Dilma apresentou oficialmente ao CDES os cinco pontos do pacto que propôs à sociedade brasileira após as recentes manifestações: responsabilidade fiscal; reforma e planejamento urbano; educação; saúde e reforma política. Antes de serem apresentados ao CDES, os cinco pontos foram discutidos pela presidenta com lideranças do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos movimentos sociais.

“A reunião do CDES tem uma pauta muito importante, que é discutir as ações necessárias para dar respostas à nova realidade brasileira, inclusive o ambiente político criado pelas manifestações de junho. Enfatizei que era necessário ouvir a voz das ruas, interpretar e perceber que tinham um norte bem diferente das manifestações que vemos no mundo. Aqui, é uma questão de mais direitos sociais, mais valores públicos, éticos e de maior representatividade. É meu dever traduzir essas demandas em ações práticas do governo. Não devemos nem podemos ficar indiferentes, mas ter a humildade de reconhecer que lutar por mais direitos é algo que só honra o nosso país”.

Fotos: Fábio Nassif
 

CPLP QUER APOSTAR NO COMÉRCIO COM ECONOMIAS EMERGENTES



Deutsche Welle

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa, CPLP, celebra nesta quarta-feira (17.07.) 17 anos de existência, com o seu empresariado a assumir o compromisso de inovação e expansão para novos mercados.

Os empresários da CPLP, a Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, assumiram esta quarta-feira (17.07.), em Maputo, o compromisso de incrementarem as trocas comerciais entre si, captar novos investimentos e melhorar os negócios.

Esta posição foi defendida durante o primeiro encontro económico e empresarial público-privado do grupo que tinha como objetivo explorar oportunidades de negócios entre os países membros da organização.

O moçambicano Salimo Abdula é o novo presidente da Confederação empresarial da CPLP, e apresentou aos microfones da DW África as ideias do grupo lusófono: "Pretendemos dinamizar e capitalizar em nome dos empresários dos países da CPLP com outras plataformas, nomeadamente a China e a Índia de forma aproveitarmos grandes oportunidades de negócios de maneira coletiva e mais robusta."

A união faz a força

O ex-presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique lembra ainda que a união faz a força: "Todos países, sozinhos, somos mais fracos, do que numa confederação forte em que podemos fazer valer a língua como uma grande vantagem, mas também a cultura empresarial que nos une."

Os empresários pretendem através do reforço da cooperação dinamizar o desenvolvimento dos Estados membros.

O Brasil destaca-se

O Brasil, um dos países que se destaca no cenário mundial entre as nações em desenvolvimento, manifestou de imediato disponibilidade para transmitir a sua experiência.

Soraya Rozar, da Confederação nacional da indústria do Brasil, deu exemplos da cooperação com um dos outros membros da CPLP: "Temos uma vasta experiência no Brasil, por ser um país-continente, e podemos trazê-la para os países africanos em termos de cooperação. Já há coisas que estão a ser feitas aqui em Moçambique, inclusive. Por exemplo, a Vale está com um grande projeto que não é meramente um projeto de investimento e comércio, mas que vai além, com toda uma questão de responsabilidade social", sublinhou Soraya Rozar.

Rogério Manuel, Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, afirma por seu lado que o seu país tem muito a oferecer e a receber: "Moçambique é um país com muitas oportunidades, diria que em todos os sectores económicos Moçambique considera-se ainda virgem. Portanto, existem oportunidades para investimentos em todas as áreas."

Os desiquilibrios económicos e as grandes distâncias geográficas que separam os países membros têm sido apontados como alguns obstáculos à integração dos oito países da CPLP, uma organização que completou esta quarta-feira (17.07.) 17 anos da sua criação.

Ainda falta o essencial

Nelson Lima, da delegação de São Tomé e Princípe, faz uma avaliação positiva da cooperação ao nível daquela comunidade: "Tenho uma avaliação um pouco positiva tendo em conta que tudo o que definimos aqui foi lindo, e por isso acho que o futuro tem um bom caminho."

O santomense cita alguns exemplos: "Temos o caso do projeto capoeira mas também outros que trouxeram benefícios para o meu país e por isso acho que igualmente acontece com os grandes projetos de outros países."

Paulo Nascimento, da delegação Portuguesa, defende, igualmente, que a cooperação no espaço da CPLP está a ganhar uma dinâmica muito própria que tem a ver com o crescimento de um grupo de países da organização.

Mas Nascimento aponta alguns desafios que têm de ser ultrapassados: "A questão coletiva da estabilidade, que diria é o fator essencial e a boa governação, são essenciais para a promoção do desenvolvimento humano e do desenvolvimento económico."

NA GUINÉ-BISSAU IMPUNIDADE PÕE EM CAUSA O ESTADO DE DIREITO



Deutsche Welle

A Impunidade no aparelho do Estado guineense continua a minar a estabilização do país. Os responsáveis consideram que a impunidade é um dos maiores desafios para a promoção e respeito dos Direitos Humanos.

Num país onde tem acontecido com frequência assassinatos e atentados aos Direitos Humanos sem que os responsáveis sejam identificados e julgados, a impunidade é considerada como o principal fator de instabilidade na Guiné-Bissau.

A contribuir para isso existe um sistema judicial inoperante tal como frisou Luís Vaz Martins, presidente da Liga dos Direitos humanos (LGDH) "que tem ajudado na degradação do quadro global dos Direitos Humanos".

A titulo de exemplo Luís Vaz cita alguns casos: "Doze cidadãos foram executados e não se ouve responsável algum a falar do assunto. Refiro-me ao caso que aconteceu aqui em Bissau, para não falar dos que aconteceram em Bolama e noutras paragens, onde cidadãos indefesos, muitos deles civis, foram executados. E as autoridades não movem uma palha e nem sequer falam disso."

Para o presidente da LGDH era preciso fazer mais, pelo menos em nome dos valores humanos: "Por respeito às vítimas e aos familiares as pessoas deviam ter mais consideração ao abordarem esta delicada questão."

Riscos sérios de conflitos

Sem a tomada de medidas adequadas contra a impunidade que reina no país, observadores acreditam que existem sérios e permanentes riscos de conflitos capazes de pôr em causa a própria existência do Estado de Direito.

Na observação do Procurador-Geral da república, Abdu Mané, é a impunidade que divide os guineenses, que "os fragilizam, que os tornam vulneráveis e que permitem cometimentos de crimes de mais diversa natureza".

Abdu Mané desfila um rol de irregularidades e apresenta também uma solução: "A excisão e a mutilação genital feminina, a violência doméstica, espancamentos e deputados encapuzados com imunidade parlamentar. Isto não é aceitável num Estado de Direito. A estratégia de combate à impunidade passa necessariamente por uma melhor educação sobre os direitos humanos."

Para combater a impunidade que grassa na sociedade guineense, os responsáveis da Justiça alertam que o país precisa de um poder judicial forte e independente, sem medo ou preconceitos.

O Bastonário da Ordem dos Advogados, Domingos Quadé ilustra também inúmeras irregularidades no poder judicial guineense.

"O combate sem tréguas à corrupção junto dos tribunais, nomeadamente praticada por alguns juizes, através de negociatas sujas, sem pudor e nada claras, o combate a transformação do património público em privado, o combate ao contínuo e preocupante estravio de processos incómodos, e finalmente o combate à não execução de sentenças contra certas categorias de pessoas."

Na I Conferência sobre a Impunidade e Justiça realizada em Bissau os participantes concluiram que "a impunidade é um vício do sistema e que só se pode garantir a paz e a segurança na Guiné-Bissau se forem erradicadas as causas profundas dos conflitos, da instabilidade e da impunidade".

O povo perdeu a confiança

Para os analistas, os cidadãos guineenses divorciaram-se abertamente da justiça, sobretudo em virtude da sua ineficácia mediante os vários crimes de sangue, crime organizado e crimes económicos que se verificam no país, muitos deles envolvendo titulares de órgãos públicos.

Para os resposáveis judiciais deve ainda ser criada uma Comissão de Inquérito Internacional para a Guiné-Bissau, com competência para investigar os crimes políticos desde a independência, com vista evitar futuros atos do género.

Por outro lado, consideraram também a impunidade e a Justiça como problemas prioritários do país, cuja resolução depende da vontade política. Para tal, esses responsáveis pedem reformas nos setores de Justiça, Segurança e Defesa como "pré-requisitos e alicerces para a consolidação da democracia e do Estado de direito na Guiné-Bissau".

Para os participantes o Tribunal Militar não deve ter competência para dirimir conflitos de natureza militar quando estes constituem uma violação grave dos direitos fundamentais. 

Na declaração final afirma-se ainda que a polícia judiciária deve ser descentralizada para o interior do país, que se deve evitar mais uma lei de amnistia, "que poderá ser vista como um instrumento de incentivo à impunidade", e que devem ser ratificados os estatutos do Tribunal Penal Internacional e do Tribunal Africano dos Direitos Humanos. 

Posto isto o país deve ratificar as principais convenções e protocolos adicionais sobre os Direitos Humanos a nível internacional, continental e sub-regional.

Monitoramento

Participou no encontro Ivan Simonovic, secretário-geral adjunto da ONU para os Direitos Humanos. Para Simonovic o momento é "de oportunidades", mas que deve ser "cuidadosamente monitorizado".

Quanto à impunidade Simonovic sugeriu às autoridades guineenses uma investigação conjunta,independentemente dos suspeitos e das vítimas serem civis ou militares, criando-se uma espécie de força de elite que fizesse investigações, sobre crimes e sobre o tráfico de droga.

Portugal: O PESADELO




Baptista-Bastos – Diário de Notícias, opinião

Não me recordo de um Presidente, na II República, ter sido criticado com tanta veemência e haver sido objecto de tantos enxovalhos como este dr. Cavaco que nos coube no infortúnio. Pelos vistos e feitos, tem tripudiado sobre a natureza da função, denegrido as características de "independência" constitucionais que jurou defender e resguardar, e tomar atitudes de soba com a displicência de quem não tem satisfações a dar. A sua presença em Belém tem sido assinalada por uma série de disparates, incúrias, pequeninas vinganças, intrigas baratas, aldrabices indolentes como a das falsas escutas. O pobre homem, por lacuna cultural e outras, não está hipotecado aos princípios republicanos que o 25 de Abril reanimou, embora fugazmente. Pertence a outra vigília, a outra aposta, e a um passado vazio de sentido histórico. Não soubemos evitar o triste incidente do seu surgimento, que se tornou uma pavorosa ameaça. Os cavaquinhos que por aí pululam correspondem às debilidades das nossas respostas, à alteração dos sistemas ideológicos e ao facilitismo da "era de acesso."

Houve, no Brasil dos anos 60, século passado, um cómico famoso, o Chacrinha (aliás, homem culto e lido), que dizia: "Eu não estou aqui para explicar; estou aqui para complicar." O epítome pode, e deve, ser aplicado ao dr. Cavaco. Nada, ou pouco mais do que nada, se lhe pode aduzir, politicamente, em seu abono. Onde toca, dificulta ou emaranha. A bizarria de criar um "compromisso de salvação nacional" que envolve três partidos e exclui outros três alimenta, ainda mais, as divisões na sociedade portuguesa e não soluciona nenhuma questão. O que, retoricamente, separa o PS do PSD e do CDS parece, no momento, irreparável. Seguro quer, nos diálogos, a presença de todos; porém, o PCP, e explica as razões, "não tem nada a ver com aquilo." Os dados estão, à partida, viciados, e a manobra resulta numa piada de mau gosto. E Seguro envolve-se numa ambiguidade grotesca: diz que vai "dialogar" com partidos e não com o Governo, como se aqueles não fossem componentes deste. A confusão acentua-se quando afirma apoiar a moção de censura de "Os Verdes". Entrámos, em definitivo, no reino da feira cabisbaixa.

Ninguém sabe em quem acreditar. Para salvaguarda da nossa saúde mental é melhor, pura e simplesmente, não acreditar em nada. Com perdão da palavra, penso que Seguro está longe da solução adequada, pois pertence ao sistema; mas também penso que é a solução emergente que se arranja. Como dizia o outro, pior do que está, é impossível. Haverá outros caminhos a percorrer, fora deste sistema horroroso de "alternância", que nos leva até ao desgosto de tudo. Mas a organização das "democracias ocidentais" impede a mudança, porque isso conduziria a uma substancial alteração do próprio capitalismo. Todavia, esta impossibilidade aparente não significa que nos resignemos. Capitular é deixar de ser.

Portugal - Frente Comum: DEPUTADOS DA MAIORIA REVELAM “COMPORTAMENTO PIDESCO”



Denise Fernandes - Económico

A Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública acusa os deputados de terem manifestado comportamentos "pidescos".

A Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública enviou hoje uma carta à comissão parlamentar de Orçamento e Finanças, onde acusa os deputados Jorge Paulo Oliveira (PSD) e Artur Rêgo (CDS) de terem manifestado comportamentos "pidescos" durante a audiência de ontem àquela federação sindical.

Segundo a Frente Comum, os deputados questionaram a presença da estrutura sindical na comissão parlamentar, por esta ter participado no protesto que ocorreu quinta-feira passada nas galerias da Assembleia da República, durante a votação na generalidade das propostas de lei que aumentam, o horário de trabalho da função pública para as 40 horas e instituem o novo sistema de requalificação.

Ontem, no início da comissão parlamentar que discutiu os mesmos diplomas, o deputado Jorge Paulo Oliveira afirmou: "Quero repudiar a participação activa da Frente Comum nessa ofensa ao Parlamento", referindo-se ao protesto ocorrido nas galerias da Assembleia na quinta-feira. "Aproveito para denunciar e revelar a nossa perplexidade por a Frente Comum se fazer representar nesta sala por uma pessoa que ofendeu a democracia, o Parlamento e os portugueses", acrescentou o deputado social-democrata.

Segundo a Frente Comum, estas declarações foram apoiadas pelo deputado do CDS-PP, Artur Rêgo.

Na carta enviada à comissão, a Frente Comum considera as declarações "deploráveis" e, "mais grave", a federação conta que durante a reunião da comissão o deputado do PSD fez circular uma fotografia ampliada dos participantes no protesto de quinta-feira passada nas galerias, num comportamento que a Frente Comum considera "pidesco".

Contactado pelo Económico, o deputado Jorge Paulo Oliveira sublinha que mantém tudo o que disse. "Não retiro uma palavra", diz.

Jorge Paulo Oliveira diz que em causa "não está o direito à manifestação ou à indignação", mas que, "no mínimo", a Frente Comum não devia ter levado à comissão parlamentar "uma das pessoas que insultou os deputados, os portugueses e o Parlamento" na passada quinta-feira.

A Assembleia da República "tem regras de funcionamento e a Frente Comum violou essas regras na quinta-feira, que podem constituir matéria criminal", diz.

Quanto à fotografia que terá circulado pelos deputados da comissão, o deputado do PSD conta que retirou as imagens do site da TVI e que os deputados da comissão depois "quiseram ver".

"Quem ofendeu a democracia foi a Frente Comum, nomeadamente através dos seus representantes", conclui Jorge Paulo Oliveira.

Já o deputado Artur Rêgo sublinha que não confunde "entidades com pessoas", explicando que "é mentira" que tenha repudiado a participação da Frente Comum na reunião da comissão parlamentar. O deputado contesta sim a presença "de uma pessoa" da delegação da Frente Comum na comissão que, no dia do protesto nas galerias, violou a lei do Parlamento.

"A Frente Comum, por respeito ao Parlamento, não deveria ter trazido essa pessoa à comissão", defende o deputado do CDS-PP. "Essa pessoa que integrava ontem a delegação da Frente Comum violou a lei porque nas galerias não são permitidos distúrbios e porque, mesmo depois da presidente da Assembleia ter mandado evacuar as galerias, essa pessoa recusou-se a sair, resistindo às autoridades", acrescenta Artur Rêgo.

Portugal: VAI HAVER ACORDO!



Nicolau Santos – Expresso, opinião

PSD, CDS e PS estão à beira de chegar a um acordo, que respeita os três princípios exigidos pelo Presidente: marcação da data de eleições, acordo sobre o memorando e entendimento quanto ao pós-troika.

O PSD está tão empenhado em que isso aconteça que se mostra disponível para aceitar a flexibilização das metas orçamentais e das políticas, bem como dos prazos para os seus cumprimentos.

O líder do PS também pende claramente para a assinatura do acordo. Por um lado, porque talvez este não seja o momento ideal para ir para o Governo. Depois, porque a Europa pode mudar após as eleições alemãs e essa mudança vir a favorecer Portugal.  

Com o acordo, o PSD e o CDS ganham tempo para recuperar da sua desgastada imagem. Eleições agora seriam provavelmente dramáticas para os dois partidos. O PS ganha respeitabilidade e as mudanças que vinha pedindo. E o país respira de alívio.

Há, claro, algumas incógnitas. A troika aceitará a flexibilização que lhe pedem? O Presidente considerará o acordo sólido e credível? E quem ganhará mais com o adiamento das eleições antecipadas, o centro-direita ou o centro-esquerda?

A partir de Junho de 2014 se saberá. Até lá, podemos dormir mais descansados. Vai haver acordo, o Governo vai continuar em funções, as taxas de juro da dívida pública descerão e o PS votará a moção de censura dos Verdes contra o executivo sem que isso perturbe esta "ménage a trois".

Até porque, se não fosse assim, o Presidente da República não iria dormir na quinta-feira à casa do vigilante nas Selvagens. Habemus salvação!

MANIFESTO APELA A ENTENDIMENTO DOS PARTIDOS DE DIREITA





Ricardo Costa - Expresso

Um conjunto de personalidades acaba de assinar um manifesto - que o Expresso divulga em primeira mão - dirigido ao PSD, PS e CDS - para que alcancem um acordo de salvação nacional.

Rui Vilar, Alexandre Relvas, Daniel Bessa ou João Talone são alguns dos signatários que entendem ser fundamental que os três partidos cheguem rapidamente a acordo. 

O manifesto, que o Expresso publica em primeira mão, surge num momento em que continuam a decorrer as negociações entre PSD, CDS e PS para que se chegue a um "compromisso de salvação nacional".

O texto, ao que o Expresso apurou, começou a ser elaborado ontem e ainda está a recolher assinaturas. 

Texto do manifesto:

"O Presidente da República convocou o CDS, o PS e o PSD a um compromisso de "salvação nacional". Decorridos mais de dois anos sobre a assinatura do "Memorando", foram conseguidos alguns resultados positivos (por exemplo, nas contas externas), há objetivos que só foram parcialmente alcançados (sobretudo em matéria de finanças públicas e de reformas estruturais), as medidas adotadas provocaram, como não poderiam deixar de provocar, um rasto de sofrimento (de que o desemprego constitui o exemplo maior). O tempo não é de recuar mas de avançar, de forma concertada, cumprindo a nossa parte, enquanto a União Europeia não cumpre, também ela, a sua própria parte no processo de refundação da Área do Euro.

O Presidente da República estipulou três condições, para que esse avanço seja possível:

* um compromisso de curto prazo, que permita dar por cumpridos, no essencial, os objetivos do Memorando, sobretudo em matéria de finanças públicas;
* um compromisso de médio prazo, capaz de oferecer às finanças públicas portuguesas a trajetória de sustentabilidade sem a qual não haverá desenvolvimento possível;
* a antecipação das eleições legislativas em cerca de um ano, como forma de equilibrar os ganhos e perdas, presentes e futuros, das três forças políticas chamadas ao compromisso.

Ao tomar esta iniciativa, o Presidente da República colocou-se em linha com os anseios mais profundos manifestados pela população portuguesa. Sabemos o risco que corre: o de que CDS, PS e PSD não cheguem a acordo, em prejuízo de todos nós. Por isso, só por isso, nos permitimos este apelo: entendam-se, nos termos que só os próprios determinarão, condicionados, para que o exercício cumpra os objetivos pretendidos, ao acordo das entidades que hoje nos financiam, enquanto não conseguirmos dispor da autonomia que só poderá ser assegurada por um regresso pleno aos mercados financeiros."

Daniel Bessa; Francisco van Zeller: João Bento: João Talone; José Manuel Morais Cabral: Rui Horta e Costa; Alexandre Relvas; António Palha; António Ramalho; Duarte Calheiros; Frederico Lima Mayer; João Melo Franco: João Soares da Silva; Nuno Fernandes Thomaz; Nuno Galvão Teles; Paulo Azevedo P. Silva; Paulo Sande; Rui Vilar; Salvador de Mello; Vasco de Mello.

*Título alterado por PG. Na circunstância acrescentou-se “DE DIREITA” porque entendemos que os partidos (PS incluído)  que acordarem no proposto pelo PR Cavaco darão o aval a políticas ainda mais de direita, tão ou mais neoliberais e gravosas que aquelas que há cerca de 3 anos estão a destruir Portugal e a miserabilizar os portugueses. (Redação PG-CT)

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Portugal: A MÚMIA FURIOSA



Luís Rainho – Jornal i, opinião

Cavaco Silva enganou-nos bem. A mumificação afinal era calculada e a paralisia medricas escondia a hesitação teatral do comediante circense (ou lá como se chama). O homem, assim de repente, lá nos surpreendeu. Mas só mesmo por culpa nossa. Bastava a recordação daquela crise caricata em torno do estatuto dos Açores para entendermos a mola que faz com que a criatura de quando em vez se mova: o orgulho ferido. Há uns anos, Cavaco deixou o país suspenso de uma importante comunicação, que na volta versou apenas uma ínfima perda de território presidencial. Mas suficiente para desencadear um ataquito dos grandes.

Agora devíamos ter prestado mais atenção ao episódio em que a cavacal figura surgiu nas pantalhas a comentar, de queixo professoral bem esticado, a imaginária fortaleza parlamentar do governo, quando na realidade este já se esboroava ante a vaidade de Paulo Portas. Uma figura ridícula, de verdadeiro truão (ou lá como se chama).

Imagino a ira, os perdigotos furibundos. Ele tão empenhado na defesa dos seus meninos e estes entretidos a urinar sobre os pés da sua augusta estátua. A vingança, para ficar gravada nas parangonas dos tablóides e nos livros vindouros, tinha de ser tremenda: caiam calduços sobre o governo, sobre o PS e sobre a desprezada Esquerda, a leste de convites e de dignos arcos.

Agora, eis-nos perdidos num labirinto de conversações estéreis, de enviados e mirones, de jogos florais que só servem para adubar o ego do presidente. Ou lá como se chama aquilo.

Publicitário - Escreve à quarta-feira

Portugal - Manuel Alegre: "SEGURO PROMETEU-ME QUE O PS NÃO FAZIA CEDÊNCIAS”



Pedro Rainho – Jornal i

Histórico socialista quer entendimentos à esquerda e acusa PCP de se enganar no adversário

António José Seguro "não vai fazer cedências" aos partidos da maioria nas negociações em curso para tentar alcançar um "compromisso de salvação nacional", exigido pelo Presidente da República. Manuel Alegre, que "veria sempre melhor um entendimento à esquerda", diz ter recebido essa garantia do líder socialista. "Estou convencido - e tenho a palavra do secretário-geral - de que o PS não vai fazer nenhuma cedência" ao PSD e ao CDS para cumprir as exigências de Cavaco Silva, refere o histórico socialista ao i.

Alegre diz confiar "na palavra e na honestidade" de Seguro e acredita que o PS irá manter-se fiel aos princípios que tem defendido: convocação imediata de eleições, renegociação do Memorando, mais atenção ao emprego e crescimento económico.

Após três encontros com a maioria, o PS reuniu ontem com uma delegação do BE, a convite dos bloquistas, com vista a discutir e aprovar as "bases programáticas de um governo de esquerda". Algo que Alegre vê como um "acto positivo", porque "é bom que [o PS] dialogue à sua esquerda".

Mas o diálogo nasce coxo. O PCP recusou ontem sentar-se à mesa com o PS, depois de já ter criticado os socialistas por terem entrado na ronda de negociações com a maioria. "O PCP engana-se no adversário e continua a fazer do PS o adversário principal", lamentou Manuel Alegre. "Espero que da parte do PS não se cometa um erro semelhante. Eu sou um homem de esquerda, veria sempre melhor um entendimento à esquerda."

Alegre admite, porém, que "esses entendimentos neste momento são difíceis", mas realça que existe "uma atitude muito mais construtiva da parte do Bloco de Esquerda".

O TRIUNFO NEOCOLONIAL




Martinho Júnior, Luanda

1 – O desfile militar do 14 de Julho de 2013 em Paris é um testemunho mais confirmando a continuidade das políticas de domínio dirigidas a África e ao ocidente asiático do tandem Sarkozy – Hollande, correspondendo à saga visando a exploração de matérias-primas baratas, ainda que com recurso às armas e em conformidade com a estrita cartilha ocidental de âmbito NATO!

De certa maneira a França está de tal modo em sintonia com a hegemonia protagonizada pelos anglo-saxónicos, (Estados Unidos e Reino Unido à cabeça), quanto até na personalidade dos dirigentes a sucessão francesa corresponde à “evolução” obtida por exemplo com o tandem Bush – Obama!

O actual Presidente francês é mais refinado sob o ponto de vista de argumentação e de “praxis” que Sarkozy, tal como Obama o é em relação a Bush (não é por acaso que os que estão no activo são apologistas do “soft power” que as novas tecnologias favorecem, até por que ficam adequadamente mais baratas)!

As geo políticas neo coloniais instrumentalizadas através de sucessivas guerras, tendo em conta as características da “ameaça terrorista”, implicam novas tecnologias, grande capacidade táctica utilizando transportes e veículos blindados ligeiros, domínio avassalador do espaço aéreo, unidades especiais e… submissos “parceiros” africanos, reconhecidos aos seus mestres que tudo controlam (desde a logística, ao fabrico das armas, até à decifragem de todo o tipo de comunicações)!

Um desfile “soft power” foi servido neste 14 de Julho, dia da tomada da Bastilha, mas que com Sarkozy – Hollande reproduz uma certa tomada de África, adaptada aos parâmetros neo liberais do século XXI!

Nada de equipamentos terrestres pesados, pelo contrário o mais ligeiro e manobrável possível, muita infantaria especializada e a aviação para encher os céus e os olhos.

Malianos, Chadianos, os outros africanos que integram o MISNA e unidades francesas presentes no teatro da Operação Serval constituíram-se numa das principais “atracções” no desfile em terra.

2 – Tendo a par do Reino Unido assumido o controlo do espaço aéreo líbio e a proliferação de unidades especiais no derrube de Kadafi em apoio aos seus aliados, entre eles o braço da Al Qaeda que dá pelo nome de Lybian Islamic Fighting Group, ao mesmo tempo que garantia o domínio sobre todas as comunicações no terreno, o governo de Sarkozy sabia que no fim das acções militares propriamente ditas haveriam repercussões por todo o Sahel.

Por um lado os arsenais líbios ficariam devolutos e à mercê dos “terroristas” aliados (que os passariam a outros grupos com a mesma matriz espalhados na região), por outro por todo o Sahel se sentiriam impactos de natureza sócio-política, impactos esses mais sensíveis nos estados mais vulneráveis, entre os quais se perfilava o Mali!

A França com toda a panóplia de meios disponíveis no Sahel, podia recorrer a esse manancial e atempadamente fazer todo o tipo de previsões de forma a escolher a melhor altura para depois agir, preparando sobretudo as conjunturas psicológicas, sócio-políticas, do âmbito dos serviços de inteligência, militares e… as ementas neo coloniais que garantem a exploração das riquezas naturais tornadas matérias-primas baratas!

Por isso o tandem Sarkozy – Hollande pôde facilmente escolher e separar as condutas em relação a uns e aos outros: os “terroristas amigos” (os da Líbia e da Síria) e os “terroristas inimigos” (como os que actuam no Mali e na Somália), até por que seu financiamento era garantido por “aliados” como as monarquias Arábicas, da Arábia Saudita ao Qatar e nunca seria a França a perder dinheiro com eles, quando com o petróleo barato tanto dinheiro há a ganhar!…

Por fim o tipo de ameaça de grupos “terroristas” como esses, podia assumir um grau elevado para as frágeis nações africanas e um ónus de peso para as sociedades desses países, conforme ocorreu aliás no Mali, mas para o “soft power” das potências, longe das fronteiras da “mãe pátria”… é quase como se estivessem num contínuo exercício, passando ao lado do caos, senão mesmo tocando, sem perigo de contágio, o caos!

Foi muito fácil às potências criar o facto geo político da ameaça dum “terrorismo inimigo” no Mali e nessa conjuntura, fácil para a França preparar os cenários de domínio, com toda a persuasão possível, com desfile atempadamente preparado e um carácter garantidamente neo colonial!

3 – A França está hoje perante uma aberração: combate com o seu arsenal “soft power”, a coberto do sistema de vigilância disponível no âmbito do AFRICOM, os “terroristas inimigos” do AQMI no Mali e ao mesmo tempo está a ajudar os “terroristas amigos” do Al-Nusra que combatem na Síria o regime de Hassad!

Foram os próprios serviços de inteligência franceses que começaram por dar conta desse aparente absurdo, esquecendo-se que o “terrorismo” fora do espaço nacional não passa duma relativamente diminuta ameaça táctica para as suas forças, em especial se elas garantirem uma grande capacidade de logística, de manobra, de mobilidade, de vigilância e observação e tiverem o suporte dos satélites, das comunicações e o domínio do espaço por inteiro!

Este desfile do 14 de Julho foi quase perfeito enquanto triunfo neo colonial, a modos como o “triunfo dos porcos” de George Orwell: desfilaram as unidades especiais da Operação Serval, bem como os malianos e os chadianos à cabeça e com todas as bandeiras desfraldadas… só falta mesmo fazer desfilar o Lybian Islamic Fighting Group, ou a frente Al-Nusra!

Foto: Desfile nos Campos Elísios sob a coroa do Arco do Triunfo, com os malianos e chadianos à cabeça: uma apologia alegórica do triunfo neo colonial em África, uma reedição do “Triunfo dos porcos”!

A consultar:
- Os gendarmes da colonização de África no século XXI – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/04/os-gendarmes-da-colonizacao-de-africa.html
- "L’émirat récolte ce qu’il a semé" au Nord-Mali – http://www.humanite.fr/tribunes/l-emirat-recolte-ce-qu-il-seme-513874
- 50 ans d’interventions militaires françaises en Afrique – http://www.rfi.fr/afrique/20100714-1960-2010-50-ans-interventions-militaires-francaises-afrique
- A invasão real de África não está no noticiário – http://resistir.info/pilger/pilger_31jan13.html
- Un gouvernement au service des entreprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- Liste des opérations militaires impliquant la France depuis 2000 – http://fr.wikipedia.org/wiki/Liste_des_op%C3%A9rations_militaires_impliquant_la_France_depuis_2000

SÍRIA ACUSA EUA E ALIADOS DE DAREM COBERTURA POLÍTICA A TERRORISTAS




Damasco, (Prensa Latina) A Síria acusou hoje os Estados Unidos e seus aliados de dar cobertura política aos grupos opositores armados que cometem atentados terroristas no país, mediante posturas e declarações que só os incentivam a continuar seus crimes e derramar mais sangue.

Uma fonte do Ministério de Exteriores e Emigrantes declarou à agência de notícias SANA que, cada vez que o Exército Árabe Sírio consegue avanços em seu direito constitucional de proteger os cidadãos dos ataques dos grupos takfiries (extremistas), são emitidos comunicados de críticas ao governo e de respaldo e justificativa dos chamados rebeldes.

Os Estados Unidos e seus aliados, sócios no derramamento do sangue dos sírios, procedem de imediato a lançar posturas e declarações destinadas a dar cobertura política aos terroristas armados, criticou a fonte.

Exemplificou citando que há alguns dias, foram lançadas campanhas de tergiversação e calúnia para incriminar Damasco pela ofensiva militar que busca restaurar a segurança na cidade de Homs e eliminar os grupos mercenários que ali se encontram intalados.

Não obstante, os mesmos que criticam o governo guardam silêncio com relação aos crimes dos irregulares, que aterrorizam os civis inocentes na estratégica cidade, os obrigam a abandonar seus lares e inclusive os utilizam como escudos humanos para evitar os ataques dos soldados governamentais e perpetrar seus crimes, sublinhou.

Enfatizou que as autoridades desempenham seus deveres e direitos constitucionais com toda responsabilidade para proteger a sociedade e liquidar todo terrorista em solo desta nação levantina.

O porta-voz da Chancelaria explicou que o governo solicitou formalmente ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha para enviar uma equipe de ajuda humanitária em colaboração com a Meia Lua Vermelha Árabe Síria, com o fim de facilitar assistência aos civis presos no centro histórico da terceira cidade mais importante do país.

Reafirmou, por último, que as Forças Armadas sírias estão empenhadas em devolver a paz a todo o território nacional e garantir o retorno de todos os cidadãos deslocados pelo conflito às suas moradias.

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