terça-feira, 1 de outubro de 2013

Portugal: 490 mil desempregados não recebem qualquer subsídio do Estado

 

Margarida Bon de Sousa – Jornal i

Os últimos dados da Segurança Social referem que em Agosto havia 387 047 pessoas a receber alguma prestação, mais 3049 que em Julho
 
A Segurança Social só atribuiu subsídios de desemprego a 387 mil desempregados em Agosto, enquanto um número superior, 490 mil desempregados, deixaram de receber qualquer apoio, nomeadamente o subsídio social de desemprego.
 
De acordo com os últimos dados disponibilizados pela Segurança Social, em Agosto havia 387 047 beneficiários a receber prestações de desemprego, mais 3034 pessoas que em Julho, o equivalente a 44% do último número total de desempregados contabilizados pelo Eurostat. O gabinete de estatísticas europeias contabilizou nesse mês um total de 878 mil pessoas sem trabalho, o equivalente a uma taxa de desemprego de 16,5%.
 
Os números da Segurança Social incluem o subsídio de desemprego, o subsídio social de desemprego inicial, o subsídio social de desemprego subsequente e o prolongamento do subsídio social de desemprego, prestações que atingiram em Agosto o valor médio de 481,94 euros face aos 501,54 euros observados um ano antes.
 
O Porto é o distrito com o maior número de beneficiários com prestações de desemprego, com 85 363 subsídios atribuídos em Agosto. Seguiu-se o distrito de Lisboa, com 78 856 mil desempregados a receber esta prestação. Os beneficiários do sexo masculino são em número superior, mais 16 397, com 201 722 pessoas, contra 185 325 do sexo feminino.
 
Execução orçamental
 
O saldo global da Segurança Social registou um excedente acumulado de 491,4 milhões de euros em Agosto. A receita efectiva acumulada atingiu 17 161,4 milhões de euros (2253,7 milhões de euros em Agosto), o que representou um aumento de 7,9% em relação ao período homólogo. A evolução ficou a dever-se principalmente a um aumento de 21% das transferências da administração central face ao mesmo período do ano passado, que é explicada pela antecipação de parte das transferências mensais do OE previstas até ao final de 2014. Já quanto à despesa efectiva acumulada, atingiu os 16 670,0 milhões de euros, mais 6,6% que no período homólogo de 2013. Na base deste aumento estiveram sobretudo as despesas com pensões, que este ano acumularam os oito primeiros duodécimos correspondentes ao pagamento do 13.o mês dos pensionistas e ainda de parte do 14.o A despesa com prestações de desemprego e medidas de apoio ao emprego foi de 1858,1 milhões de euros, mais 9,8% que até Agosto do ano passado.
 
Menos gastos
 
A última execução orçamental mostrou que os gastos mensais do Estado com o subsídio de desemprego estão cada vez mais em linha com a despesa mensal registada em 2012 com esta prestação social, apesar de o desemprego estar em níveis mais elevados.
 
As novas regras impostas no ano passado começaram a ter efeitos na despesa mensal deste ano da Segurança Social: em termos acumulados, a diferença em Janeiro foi caindo gradualmente até 9,8%, com o Estado a gastar mais 165,7 milhões entre Janeiro e Agosto.
 
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Portugal: SEIS VERDADES SOBRE AS ELEIÇÕES

 


Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
 
1. A abstenção foi elevada mas não atingiu os 47,4% apontados pelos dados oficiais. O censos de 2011 indica que havia então 10 milhões e meio de habitantes em Portugal. Não é possível termos nove milhões e meio de eleitores, como os cadernos eleitorais apontam, pois há pelo menos dois milhões de portugueses sem idade para votar (podem confirmar os dados no site Pordata). A abstenção real de domingo variará entre 39% e 42% dos que realmente poderiam participar no sufrágio. O coro de lamentações habitual sobre uma crise nacional de participação política é, assim, factualmente exagerado.
 
2. O PS não teve a maior vitória de sempre. Ganhou 150 câmaras (contando com a coligação no Funchal) é verdade, mas perdeu 241 mil votos, ou seja, registou, em relação a 2009, menos 11% de cruzinhas nos boletins de votos camarários, manuscritas no quadrado colocado à frente do seu símbolo. Mesmo em Lisboa, na sua maior vitória, perdeu quase sete mil votos.
 
3. A hecatombe do PSD soma uma perda, contadas as coligações, superior a 560 mil votos e a 26% de eleitorado. O CDS, apesar do contentinho Paulo Portas, deve estar aflito com a perda de 18 400 votos e de 10,8% de eleitorado. O Bloco tem a maior queda percentual de todas: mais de 45 mil pessoas diminuíram 27% ao universo do seu apoio autárquico.
 
4. Para onde foram aquelas perdas de votos, quem os ganhou? A abstenção terá ficado com 659 mil mas, dado o ponto 1 deste texto, sei lá se isso é verdade!... Os votos brancos e nulos duplicaram e quase chegaram aos 300 mil eleitores. Os independentes conquistaram 122 mil votos e subiram 45%. A CDU é a única formação partidária a melhorar votação mas subiu 13 600 votos e ganhou apenas 2,5%.
 
5. Os comentários de José Socrates (PS) e Morais Sarmento (PSD) são interessantes e pertinentes. Acho bom a RTP tê-los no ecrã. Não aceito é essas contratações terem transformado o serviço público de televisão num serviço de pensamento único pela televisão. É incrível uma noite eleitoral penalizadora do bloco central ser analisada, apenas, por dois porta-vozes de fações de dois partidos castigados pelo eleitorado. Soa a frete e viola a mais elementar das obrigações do serviço público.
 
6. As vitórias mais sublinhadas na noite eleitoral foram as de Rui Moreira, António Costa, Bernardino Soares e Paulo Vistas. Um independente apoiado pelo CDS, um PS que quer ser líder, um prestigiado parlamentar do PCP e um adorador do condenado Isaltino Morais. Quem consegue ver coerência e linhas mestras para o futuro do País, pós Passos Coelho, neste panorama tão diverso? Eu, desculpem, não consigo. Devo ser muito limitado.
 
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Itália: BERLUSCONI “EMPURRA-NOS PARA O CAOS”

 


Corriere della Sera, La Stampa, Il Giornale, La Repubblica
 
A demissão, em 28 de setembro, de cinco ministros do Povo da Liberdade do Governo dirigido pelo democrata Enrico Letta provocou um sismo político em Itália. Esta decisão pessoal de Silvio Berlusconi é criticada quase unanimemente pela imprensa italiana.
 
O chefe do PDL, Silvio Berlusconi, provocou esta crise governamental poucos dias antes de o Senado votar a sua possível destituição, na sequência da sua condenação por fraude fiscal. Motivo oficial: a recusa de aceitação de várias medidas orçamentais, entre as quais o aumento do IVA.
 
O Corriere della Sera apresenta-se como porta-voz dos “moderados”, que constituem o essencial dos seus leitores, mas também do eleitorado de Silvio Berlusconi, que hoje se mostra “indignado”. Para o seu diretor, Ferruccio de Bortoli,
 
"a decisão irresponsável de Berlusconi e dos seus fiéis aliados […] tem o gosto amargo dos gestos impensados e desesperados. Não serve para nada. Não altera em nada o destino judicial do Cavaliere, e empurra um país refém para a beira de um novo precipício. O golpe desferido contra o Governo de Letta […] causa danos incalculáveis, em especial ao eleitorado de referência de Berlusconi, constituído por famílias e empresas. […] O argumento utilizado pelo Cavaliere – uma reação instintiva ao excesso de impostos – não passa de um pretexto sem sentido. O preço do “pronunciamiento” de Arcore [a residência de Berlusconi], se for preciso realizar eleições antecipadas, é fácil de calcular: os modestos sinais de retoma desvanecem-se, os grandes investidores internacionais passam a desconfiar ainda mais de um país que não compreendem e no qual não querem arriscar o seu dinheiro. O custo da dívida está destinado a aumentar. […] As empresas continuam a morrer e muitas delas não conseguem tirar partido da brisa do crescimento. […] O emprego continua a diminuir. O orçamento de 2014 […] é ditado por Bruxelas. Os benefícios resultantes do facto de, em maio último, se ter saído de um processo de défice excessivo desaparecem. O Governo que sair das próximas eleições deverá ser obrigado a assinar uma capitulação incondicional perante a troika UE-BCE-FMI."
 
O diretor do jornal La Stampa, Mario Calabresi, também se empenha em dizer “basta” a uma crise considerada “inútil e desastrosa”:
 
A decisão inesperada de Silvio Berlusconi de forçar a demissão dos seus ministros, para fazer cair o Governo representa um golpe muito duro contra o nosso país. Uma humilhação que nos lança no caos, na falta de credibilidade; que volta a colocar-nos sob vigilância, que confirma os piores preconceitos sobre os italianos. Esta semana, durante a qual deveríamos discutir apenas o facto de a primeira empresa de telecomunicações do país passar para as mãos de estrangeiros ou o facto de a Alitalia ir em breve deixar de ser a nossa companhia aérea nacional, somos arrastados para o turbilhão dos problemas judiciais de um único homem. […] Dentro de 15 dias, será preciso apresentar o orçamento para 2014, uma etapa chave para aqueles que, como é o nosso caso, têm as contas públicas em risco; em 15 de novembro, realizar-se-ão as avaliações europeias; a nossa dívida aumenta perigosamente; há apenas dois dias, o FMI falou do risco da Itália. E nós, que precisávamos desesperadamente de um escudo de proteção e de credibilidade, apresentamo-nos a juízo nus e desarmados.
 
Na imprensa próxima de Berlusconi, o tom é diferente. Assim, o diretor de Il Giornale, Alessandro Sallusti, acusa o primeiro-ministro, Enrico Letta, e os seus impostos de terem “feito cair o Governo”. E defende a decisão do Cavaliere de proteger os seus interesses, com vista às próximas eleições:
 
"Mais uma vez, os políticos e os comentadores não perceberam nada. Pensavam ou receavam, ou talvez desejassem, – conforme os casos – que Berlusconi fizesse cair o Governo, como reação aos seus problemas pessoais. Este não o fez por sentido de responsabilidade […], mas sobretudo porque não quis pôr em risco o único património, depois dos filhos, que lhe interessa verdadeiramente: os seus eleitores. Qual teria sido o destino dos seus muitos votos, se o PDL tivesse dado o seu aval a uma decisão que mete a mão no bolso dos italianos? […] Não sabemos o que vai acontecer depois da queda de Letta. Mas, hoje, tivemos uma confirmação: aqueles que querem mais impostos são incompatíveis com a Forza Italia, o novo-antigo partido de Berlusconi."
 
Um partido cuja refundação o Cavaliere anunciou recentemente e que deverá apresentar-se às próximas eleições, em lugar do PDL, considerado demasiado indisciplinado. Porque, salienta, no jornal La Repubblica, o sociólogo Ilvo Diamanti,
 
"Berlusconi continua a dispor de consenso político e, mais ainda, de poder económico e mediático. E utiliza-os, se não para impor as suas opções, pelo menos para bloquear as de terceiros. Ultimato após ultimato. E, sobretudo, para controlar as dissensões que se verificam nas suas fileiras. É por isso que Berlusconi resiste. Até ao fim. Porque luta pela sua sobrevivência política e pela da Forza Italia. […] É por isso que quer ir para eleições o mais rapidamente possível. Porque, desde a sua fundação, em 1994, até às últimas eleições, em fevereiro de 2013, o “partido pessoal” de Berlusconi sempre deu o melhor de si nas legislativas. Por isso, Berlusconi transformou a vida política numa campanha eleitoral permanente. E, hoje, para resistir às ameaças externas e às tensões internas do partido, precisa de novas eleições – o mais depressa possível."
 
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“A AUSTERIDADE NÃO FUNCIONA E SÓ PROTEGE OS RICOS”

 

Eleonora de Lucena
 
A austeridade é uma ideologia fracassada que é esgrimida pelos ricos para repassar o custo das crises para os pobres. Historicamente tem provocado desemprego, conflitos sociais, guerras.

Esse é o cerne de Austerity, the History of a Dangerous Idea [Austeridade, a história de uma ideia perigosa], de Mark Blyth. Professor de política econômica internacional na Universidade Brown, ele é doutor em ciência política pela Universidade Columbia, as duas nos EUA.

Filho de talhante, Blyth nasceu em 1967, na Escócia. Houve tempo em que ia para a escola com furos nos sapatos. O Estado do bem-estar social europeu lhe proporcionou ensino de qualidade e ele ascendeu socialmente – hoje, integra instituições de alto prestígio.

Agora, esse arcabouço que viabilizou seu avanço está colocado em xeque pelas políticas de austeridade que se estabelecem por todo lugar. O acadêmico teme que as próximas gerações não tenham as chances que ele teve e que o futuro esteja garantido apenas aos já privilegiados. Por isso decidiu escrever o livro, conta no prefácio.

Dedicado ao estudo da política das ideias, Blyth navega pela história, pela filosofia, pela economia. Vasculha as origens da ideologia da austeridade nos escritos de John Locke (1632-1704), David Hume (1711-1776) e Adam Smith (1723-1790), feitos num tempo em que a noção de deficit público estava associada a gastos de reis e suas cortes.

Mesmo assim, lembra que no clássico "A Riqueza das Nações" Smith reconhece que o mercado não pode existir sem o Estado – essencial para a defesa externa, segurança da propriedade privada, estabelecimento de um sistema judiciário, policial, educacional etc.
 
DEPRESSÕES

Na análise dos séculos 20 e 21, Blyth ressalta que as lições dos erros cometidos em torno da Grande Depressão advinda do crash de 1929 foram esquecidas. Didaticamente, explora os casos da Alemanha, do Japão, dos EUA e da França após a Primeira Guerra Mundial. Em todas essas situações, as políticas austeras fracassaram em recuperar as economias, levando os países ao desastre.

Nos EUA, as medidas de aperto e de corte nos gastos públicos fizeram o desemprego saltar de 8%, em 1930, para 23%, em 1932. No Japão, a austeridade criou a pior depressão da sua história, fez eclodir assassinatos políticos e deu poder à elite que encaminhou o país à guerra.

Na Alemanha, o autor descreve as sucessivas políticas de arrocho que, com o acréscimo de erros dos social-democratas de então, ajudaram a trazer Hitler ao comando do país. Na França, modelo semelhante também provocou uma hecatombe, pavimentando o caminho para a perda de soberania nacional.

Blyth mostra como o Banco da França atuava em defesa dos interesses das 200 famílias mais ricas do país, beneficiando rentistas e prejudicando a maioria da população.

Entre 1932 e 1936, os gastos governamentais foram cortados em 20% (derrubando despesas militares), a produção industrial encolheu e os salários afundaram.

"As elites francesas estavam tão preocupadas com a inflação e tão determinadas a manter o valor do franco que paralisaram a capacidade militar da França de se mobilizar contra Hitler. A austeridade não apenas falhou -- ela ajudou a explodir o mundo. Essa é a definição de uma ideia muito perigosa", afirma o autor.

Blyth vê semelhanças entre a França dos anos 1920 e a crise atual. "A alternativa a cortar é taxar", defende. Para ele, a crise foi gerada pelo setor privado e está sendo paga pelo setor público.

"Os bancos prometeram crescimento, entregaram perdas, passaram o custo para o Estado e depois culparam o Estado pelo deficit", ataca. "Os de baixo estão ouvindo o discurso de apertar os seus cintos feito por aqueles que estão vestindo calças muito largas", diz.

Na sua visão, há risco de as políticas de austeridade, como no passado, produzirem crises políticas e sociais. Desconstruindo a cantilena oficial das "crises soberanas", o professor argumenta que talvez os bancos não devessem ter sido resgatados pelos governos. Compara casos como o da Irlanda e da Islândia.

Em linguagem aguda e clara, o livro ajuda a entender o momento para além dos números.


Esta resenha encontra-se em
http://resistir.info/
 

A PETROLÍFERA “YUKOS” ENQUANTO UM FALÍVEL “CAVALO DE TRÓIA”

 

Martinho Júnior, Luanda

Em simultâneo à jogada geo estratégica dos Americanos do “lobby” do petróleo, tirando partido da aristocracia financeira mundial de que faz parte integrante, no Cáucaso, não passou despercebida a situação de “volte face” do presidente russo Vladimir Putin em relação à quinta maior empresa petrolífera do mundo, a “Yukos”, que levou à prisão, a 25 de Outubro de 2003, do seu Director Executivo Mikhail Khodorkovsky, com várias acusações, entre elas as de fraude e fuga ao fisco.

A decisão que no entanto tem também carácter político, pois Mikhail Khodorkovsky apoia partidos de oposição a Vladimir Putin que utilizam as bases de apoio externas do poder hegemónico e por dentro dos processos e interesses da aristocracia financeira mundial no quadro da “globalização”, era um sinal de que o presidente russo procura parar a fragilização dos interesses nacionais num sector vital para o seu país, fragilização essa que havia influenciado negativamente, segundo a visão geo estratégica do estado da Rússia, na crítica Região do Cáucaso.

De facto, a 3 de Novembro de 2003 a “BBC” publicava o perfil de Mikhail Khodorkovsky, um magnata Russo do petróleo com uma riqueza estimada em 8 mil milhões de USD, apoiante dos partidos “Yabloco” e o “União das Forças de Direita” (“SPS”), incluindo com apoios de carácter financeiro, qualquer deles de tendência liberal , que participaram nas eleições russas de princípios deste mês, não fazendo alguma vez segredo disso.

A “BBC” referia também que o apoio financeiro fornecido àqueles partidos por parte da empresa petrolífera, feria o seu papel na sociedade.

Por outro lado Vladimir Putin, que parece pautar as suas opções por uma visão multi polar do poder económico em contraste com as pretensões que a aristocracia financeira mundial sustenta ao concentrar seus interesses num poder hegemónico uni polar, punha em guarda a elite muito estrita dos “novos” oligarcas russos, cujo papel é similar ao de “um cavalo de Tróia” ao serviço desses interesses, numa altura em que na Rússia, tal como na Geórgia, se aproximava a atmosfera das eleições.

A CNN foi dando imediatos sinais do desacordo das “elites globais” à decisão do presidente russo:

A 4 de Novembro de 2003 evidenciava que o senador John McCain considerava que “o governo russo sob as ordens de Vladimir Putin estava-se rapidamente a mover na direcção errada”, pois interpretava a prisão de Khodorkovsky como uma amostra do que “aos olhos do Kremlin havia o pior dos crimes – o apoio à oposição política do presidente Putin e um centro de poder alternativo que era interpretado como uma ameaça ao controlo político supremo do Kremlin”.

O Senador John McCaina concluía: “é tempo de enviar um sinal ao Governo do Presidente Putin que uma atitude não democrática, excluirá a Rússia da companhia das democracias Ocidentais”.

O Departamento de Estado, encetando contactos com os Russos , obteve a confirmação do ponto de vista Russo:

“É evidente que há um factor político aqui que se tornou no factor crítico, de acordo com o nosso ponto de vista e explica as razões da aplicação da lei efectivamente em relação a um oligarca e não em relação a qualquer outro, pelo menos por agora”.

Desse modo ficava implícito que Khodorkovsky, ao apoiar “actividades muito abertas e agressivas” incluindo apoios a partidos políticos e a direcção duma fundação de apoio à democracia e à sociedade civil , representou “uma ameaça à autoridade do estado”, apesar do estado russo pretender manter o quadro dos seus relacionamentos estratégicos com os Estados Unidos, continuando a implementar uma economia de mercado e tendo em conta os “dossiers” mais quentes, entre eles os que se prendem com a evolução da situação no Cáucaso.

As acusações de fraude, fuga ao fisco e “lavagem de dinheiro” tornaram-se extensivas, para além da “Yukos” sob a direcção de Mikhail Khodorkovsky, a bancos como o “Menatep” (que foi por si fundado em 1987), conforme acompanhamento do caso por parte do “The Rússia Daily Journal” de 10 de Novembro de 2003 e com base em provas que estão a ser divulgadas até hoje, implicando idênticas acções no exterior, como na Suiça, no Luxemburgo, nas ilhas Virgens Britânicas, nas Seychelles, no Panamá e nas Bahamas, em benefício de bancos como o “J. P. Morgan Chase”, o “Banco de Nova York”, o “Citibank” , o “Finter Bank”, o “Banque LEU”, o “Lombard Odier”, o “Danier”, o “Ruegg SG”, ou o “Helenic Bank”, entre outros.

A 28 de Novembro o mesmo jornal noticiava que na Suiça fora feita uma “acusação de crime contra Mikhail Khodorkovsky, Platon Lebedev e Alexei Golubovich”, com base em “lavagem de dinheiro e apoio a organizações criminosas”, a partir de investigações levadas a cabo pela polícia sobre Delegações na Suiça do “Menatep SA”, “Menatep Finances SA & Valmet” e “Banco LEU”.

Platon Lebedev já se encontra preso na Rússia desde Julho do corrente ano sob a acusação de sonegar interesses do estado durante a privatização levada a cabo em 1994 duma empresa de fertilizantes, o que abriu caminho para a prisão de Milhail Khodorkovsky.

Ao estado russo por outro lado, tornou-se evidente que o papel de Mikhail Khodorkovsky era muito mais de que o dum Director Executivo duma empresa estratégica com as dimensões da “Yukos”, até por que ele não procurou evitar o choque com Vladimir Putin ao comprar o jornal “Moskovskiye Novosti” que colocou sob a direcção dum jornalista investigador que é crítico do Presidente.

De facto, parece ser com uma “Yukos” respondendo à geo estratégia do poder hegemónico, tendo ao comando um homem como Mikhail Khodorkovsky, que os interesses estratégicos no sentido da multi polarização do poder económico “global” ficavam em causa na Rússia (até por que a “Exxon Móbil” se preparava para comprar a “Yukos”), contrariando a estratégia do presidente Vladimir Putin e fragilizando a estratégia russa no Cáucaso, com a única vantagem de melhor se esclarecerem em rescaldo os papeis e o sinal da aliança de James Baker com George Soros, tendo como dinâmica os interesses do poder hegemónico em relação ao petróleo no leste da Europa e no Cáucaso.

Desde que se registou a prisão de Mikhail Khodorkovsky e com isso se inviabilizou a compra da “Yukos” pela “Exxon Mobil”, que as suas cotações na Bolsa desceram 20 %, de acordo com uma apreciação da BBC a 12 de Novembro de 2003 (imagine-se quanto não terá deixado de ganhar George Soros através dos seus “negócios de especulação” pela via dos seus expeditos processos de ingerência).

A comprovar o papel de Mikhail Khodorkovsky como um homem completamente alinhado com os interesses da aristocracia financeira mundial, (que é determinante na nova revolução capitalista, como o é do exercício do poder hegemónico norte americano), está também o facto de ele, à imagem, semelhança e inspiração de George Soros, que concebeu a “Open Society” para camuflar as suas jogadas de mega especulador (muito provavelmente também com derivas para algum dos casos do “Menatep”), fundou em nome da “Yukos” a “Open Rússia Foundation” em 2001, “uma Organização Internacional, Independente e de caridade, operando como doadora privada” e “apoiando Instituições Académicas e as Organizações não lucrativas”.

A “Open Russia Foundation” é uma Organização que está a captar a fina flor dos cérebros russos em todas as disciplinas de actividade, aparentemente com objectivos filantrópicos, o que pode ser uma perfeita “cortina” para se alcançarem outro tipo de fins, se levarmos em consideração o facto dos países desenvolvidos continuarem a atrair gente com capacidade e conhecimento, para engrossar o caudal investigativo das indústrias de ponta, incluindo as tecnologias militares (e a Rússia nesse aspecto é bem reconhecida).

É sintomático que para além de Milhail Khodorkovsky o “board of trustees” da “Open Rússia Foundation” seja formado por personalidades como Henry Kissinger, ou Lord Jacob Rothschild, este último o decano da poderosa família que gravita acima de George Soros, entre outros.

Parece não ter havido surpresa por parte das autoridades russas quando George Soros, precisamente em entrevista ao “Moskovskiye Novosti” em princípios de Novembro de 2003, (entrevista citada pela “BBC” a 7 de Novembro de 2003), criticou a prisão de Mikhail Khodorkovsky:

“Está-se agora a entrar numa fase de capitalismo de estado, em que todos os detentores de capital terão de ficar dependentes do estado”…

… E parece não ter havido surpresa por que, de acordo com a “BBC” e o “The St. Petersburg Times” de 11 de Novembro de 2003, “homens vestidos de camuflado invadiram os escritórios da Open Society do bilionário George Soros, não deixando sair os seus funcionários e levando todo o equipamento e documentos num camião fechado , de acordo com um advogado da Instituição” (Pavel Kuzman).

Os referidos homens, mais de 50, teriam agido por conta e risco da empresa proprietária do edifício, a “Sektor – 1”, que confiscava todo o recheio por causa de alegadas falhas de compromisso da “Open Society” em relação ao regime de aluguer e de compra acordados para o nº 8 Ozerkovskaya Naberetzhnaya em pleno centro de Moscovo.

Se George Soros estava por dentro do “afastamento” de Eduard Chevardnadze pela via da “Revolução das Rosas”, saindo-se com ganhos e em ascensão nas eleições da Geórgia, as perdas pré eleitorais na Rússia em oposição a Vladimir Putin com “módulos” de actuação em tudo similares foram aparentemente muito importantes, mesmo que não sejam apresentadas, a público, estimativas financeiras.

Artigo publicado a 12 de Dezembro de 2003 no nº 376 do semanário ACTUAL, em Luanda.

Foto: Página do ACTUAL onde foi publicado o artigo.


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. Novas tecnologias ao serviço da hegemonia e da morte;
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. O início do “efeito boomerang”;
. A longa batalha por detrás dos cenários (a publicar).
 

JORNALISTA BRASILEIRA É HUMILHADA EM PALESTRA DE JOAQUIM BARBOSA – nos EUA

 

Pragmatismo Político
 
Jornalista brasileira é algemada e presa nos EUA durante visita do presidente do STF na Universidade de Yale. "Nunca me aconteceu nada remotamente parecido em todos os anos de carreira", disse
 
Uma jornalista do Estadão foi humilhada em New Haven, Connecticut, numa das mais prestigiadas universidades do mundo, quando tentava cobrir palestra de Joaquim Barbosa. Ela foi mantida presa por cinco horas.
 
“Eu não invadi nenhum lugar. Passei cinco anos na China, viajei pela Coreia do Norte e por Miamar e não me aconteceu nada remotamente parecido com o que passei na Universidade de Yale”, disse ela ao Estado de S. Paulo.
 
O escândalo põe Joaquim Barbosa em evidência. Ele viajou a Yale, que fica em New Haven, Connecticut, na mesma época em que foi a Nova York receber um prêmio da Time. Em outubro, JB participará de conferência patrocinada pela Shell, petroleira anglo-holandesa com interesses no pré-sal. É preciso discutir essa exposição de um presidente do supremo em vitrines estrangeiras. É preciso, no mínimo, haver transparência em todas essas participações. Políticos tem de publicar suas posses regularmente na internet. Se juízes querem mesmo rodar o mundo participando de regabofes internacionais, então deveriam fazer o mesmo.
 
Abaixo, a matéria mencionada:
 
Jornalista brasileira é presa nos EUA durante visita do presidente do STF
 
Cláudia Trevisan, do Estado de S. Paulo, foi algemada e presa na Universidade de Yale ao aguardar a saída de Joaquim Barbosa de uma conferência
 
Ao aguardar a saída do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, de uma conferência na Universidade de Yale, em Connecticut (EUA), uma jornalista de O Estado de S. Paulo foi detida e algemada. Cláudia Trevisan foi mantida incomunicável dentro de uma viatura e em uma cela do Departamento de Polícia da universidade, segundo informações do periódico. A liberação ocorreu somente após ela ser autuada por “transgressão criminosa”.
 
O Itamaraty acompanhou o caso em Brasília e colocou à disposição da jornalista seu apoio jurídico. Claudia Trevisan é correspondente do jornal em Washington desde o final de agosto e nos últimos cinco anos trabalhou na China.
 
A jornalista havia sido destacada para cobrir a visita do ministro Joaquim Barbosa à Universidade Yale, onde participaria do Seminário Constitucionalismo Global 2013. Ela trocara e-mails com a assessora de imprensa da Escola de Direito da universidade, Janet Conroy, que lhe informara ser o evento fechado à imprensa. Claudia aquiesceu, mas disse que, por dever de ofício, esperaria pelo ministro do lado de fora do Woolsey Hall, o auditório onde se daria o seminário.
 
Ela também havia conversado previamente, por telefone celular, com o próprio ministro Barbosa, a quem solicitou uma entrevista. Barbosa disse que não estava disposto a falar com a imprensa. Claudia, então, informou o presidente do STF que o aguardaria e o abordaria do lado de fora do prédio.
 
O prédio é percorrido constantemente por estudantes e funcionários da universidade e por turistas. Suas portas estavam abertas às 14h30 de quinta-feira. Claudia ingressou e, na tentativa de confirmar se o evento se daria ali, dirigiu-se ao policial DeJesus, em guarda no primeiro andar. Ele pediu para Claudia acompanhá-lo. No piso térreo do prédio, a pedido do policial, Claudia forneceu seu endereço em Washington, telefone e passaporte. Ao alcançarem a calçada, do lado de fora do prédio, DeJesus recusou-se a devolver seu documento.
 
“Nós sabemos quem você é. Você é uma repórter, temos sua foto. Você foi avisada muitas vezes que não poderia vir aqui”, disse o policial, segundo relato de Claudia Trevisan, para em seguida agregar que ela seria presa.
 
Algemas
 
O processo de prisão teve uma sequência não usual nos EUA. Os argumentos de Claudia não foram considerados pelo policial. Na calçada, ele a algemou com as mãos nas costas e a prendeu dentro do carro policial sem a prévia leitura dos seus direitos. Ela foi mantida ali por uma hora, até que um funcionário do gabinete do reitor da Escola de Direito o autorizou a conduzi-la à delegacia da universidade, em outro carro, apropriado para o transporte de criminosos.
 
Na delegacia, Claudia foi revistada e somente teve garantido seu direito a um telefonema depois de quase quatro horas de prisão, às 21h20. O chefe de polícia, Ronnell A. Higgins, registrou a acusação de “transgressão criminosa”. Ela deverá se apresentar no próximo dia 4 diante de um juiz de New Haven.
 
“Eu não invadi nenhum lugar. Passei cinco anos na China, viajei pela Coreia do Norte e por Miamar e não me aconteceu nada remotamente parecido com o que passei na Universidade de Yale”, disse ela ao Estado de S. Paulo.
 
Portal Terra, via Tijolaço - Miguel do Rosário
 
Foto: Divulgação
 
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