domingo, 30 de setembro de 2012

OS DESCAMINHOS DO DINHEIRO: A COMPRA DE ELEIÇÕES

 


A grande corrupção é aquela que é tão grande que se torna legal. Trata-se do financiamento de campanhas. A empresa que financia um candidato – um assento de deputado federal tipicamente custa 2,5 milhões de reais – tem interesses. Estes interesses se manifestam do lado das políticas que serão aprovadas mais tarde. Do lado do candidato, apenas assentado, já lhe aparece a preocupação com a dívida de campanha que ficou pendurada, e a necessidade de pensar na reeleição. O custo da campanha é cada vez mais descontrolado. O artigo é de Ladislau Dowbor.
 
Ladislau Dowbor (*) - Carta Maior
 
No quadro acima, o crescente custo das campanhas nos Estados Unidos, segundo The Economist, Sept. 8th-14th p. 61

“The idea that in a democracy you should be able to trade your wealth into more influence over what the government does is just wrong.” Lawrence Lessig [1]

“Les vices n’appartiennent pas tant à l’homme qu’à l’homme mal gouverné” Rousseau [2]


Transformar o exercício da justiça em espetáculo midiático não é correto nem ético. Fazê-lo em nome da ética, menos ainda. Para muita gente, parece tratar-se de uma catarse política, canalização de ódios acumulados. Não se resolve grande coisa desta maneira. e gera-se sim dinâmicas perigosas. E sobre tudo, canaliza-se toda a energia contra pessoas, obscurecendo os vícios do sistema. O sistema agradece, e permanece. A realidade, é que há um imenso desconhecimento, por parte de não economistas, de como se dão os grandes vazamentos de recursos públicos.

Bem, vamos por partes. Primeiro, a grande corrupção, a grande mesmo, aquela que é tão grande que se torna legal. Trata-se do financiamento de campanhas. A empresa que financia um candidato – um assento de deputado federal tipicamente custa 2,5 milhões de reais – tem interesses.

Estes interesses se manifestam do lado das políticas que serão aprovadas, por exemplo contratos de construção de viadutos e de pistas para mais carros, ainda que se saiba que as cidades estão ficando paralisadas. As empreiteiras e as montadoras agradecem. Do lado do candidato, apenas assentado, já lhe aparece a preocupação com a dívida de campanha que ficou pendurada, e a necessidade de pensar na reeleição. Quatro anos passam rápido. Entre representar interesses legítimos do povo – por exemplo, mais transporte coletivo, mais saúde preventiva – e assegurar a próxima eleição, ele que estudou economia ou direito, e por tanto sabe fazer as contas e sabe quem manda, está preso numa sinuca.

O próprio custo das campanhas, quando estas viram uma indústria de marketing político, é cada vez mais descontrolado. Segundo The Economist, no caso dos EUA, os gastos com a eleição de 2004 foram de 2,5 bilhões de dólares, em 2010 foram de 4,5 bilhões, e a estimativa para 2012 é de 5,2 bilhões. Isto está “baseado na decisão da corte suprema em 2010 que permite que empresas e sindicatos gastem somas ilimitadas em marketing eleitoral”. Quanto mais cara a campanha, mais o processo é dominado por grandes contribuintes, e mais a política se vê colonizada. O resultado é a erosão da democracia. E resultam também custos muito mais elevados para todos, já que são repassados para o público através dos preços. [3]

Comentando os dados dos gastos corporativos na campanha eleitoral de 2010, Robert Chesney e John Nichols, da universidade de Illinois, escrevem que os financiamentos corporativos “se traduziram numa virada espetacular para a direita: a captura da vida política por uma casta financeira e midiática mais poderosa do que qualquer partido ou candidato.

Não se trata apenas de um novo capítulo no interminável romance entre o dinheiro e o poder, mas de uma redefinição da própria política pela conjunção de dois fatores: o fim dos limites de doações eleitorais por parte das empresas e a renúncia por parte da imprensa ao exame dos conteúdos das campanhas. Resulta um sistema no qual um pequeno círculo de conselheiros mobiliza montantes surrealistas para orientar o voto para os seus clientes. Este ‘complexo eleitoral dinheiro-mídia’ constitui presentemente uma força temível, subtraída a qualquer forma de regulação, liberada de qualquer obrigação de prudência por uma imprensa que capitulou. Esta máquina é permanentemente mediada por cadeias comerciais de televisão que faturaram, em 2010, 3 bilhões de dólares graças à publicidade política”. [4]

No Brasil este sistema foi legalizado em governos anteriores. A lei que libera o financiamento das campanhas por interesses privados é de 1997. [5] Podem contribuir com até 2% do patrimônio, o que representa muito dinheiro. Os professores Wagner Pralon Mancuso e Bruno Speck, respectivamente da USP e da Unicamp, estudaram os impactos. “Os recursos empresariais ocupam o primeiro lugar entre as fontes de financiamento de campanhas eleitorais brasileiras. Em 2010, por exemplo, corresponderam a 74,4%, mais de R$ 2 bilhões, de todo o dinheiro aplicado nas eleições (dados do Tribunal Superior Eleitoral)”. [6]

E a deformação é sistêmica: além de amarrar os futuros eleitos, quando uma empresa “contribui” e por tanto prepara o seu acesso privilegiado aos contratos públicos, as outras se vêm obrigadas a seguir o mesmo caminho, para não se verem alijadas. E o candidato que não tiver acesso aos recursos, simplesmente não será eleito. Todos ficam amarrados. Começa a girar a grande quantidade de dinheiro no sistema eleitoral. Criminalizar as empresas, ou as pessoas, não vai resolver, ainda mais se os criminalizados são apenas de um lado do espectro político. É preciso corrigir o sistema.

Mas custos econômicos incomparavelmente maiores resultam do impacto indireto, pela deformação do processo decisório na máquina pública, apropriada por corporações. O resultado, no caso de São Paulo, por exemplo, de eleições municipais apropriadas por empreiteiras e montadoras, são duas horas e quarenta minutos que o cidadão médio perde no trânsito por dia. Só o tempo perdido, multiplicando as horas pelo PIB do cidadão paulistano e pelos 6,5 milhões que vão trabalhar diariamente, são 50 milhões de reais perdidos por dia. Se reduzirmos em uma hora o tempo perdido pelo trabalhador a cada dia, instalando por exemplo corredores de ônibus e mais linhas de metrô. serão 20 milhões economizados por dia, 6 bilhões por ano se contarmos os dias úteis. Sem falar da gasolina, do seguro do carro, das multas, das doenças respiratórias e cardíacas e assim por diante. E estamos falando de São Paulo, mas temos Porto Alegre, Rio de Janeiro e tantos outros centros. É muito dinheiro. Significa perda de produtividade sistêmica, aumento do custo-Brasil.

Este tipo de corrupção leva a que se deformem radicalmente as prioridades do país, que se construam elefantes brancos. A deformação das prioridades mediante desvio dos recursos públicos daquilo que é útil em termos de qualidade de vida para o que é mais interessante em termos de contratos empresariais, gera um círculo vicioso, pois financia a sua reprodução.

Uma dimensão importante deste círculo vicioso, e que resulta diretamente do processo, é o sobre-faturamento. Quanto mais se eleva o custo financeiro das campanhas, conforme vimos acima com os exemplos americano e brasileiro, mais a pressão empresarial sobre os políticos se concentra em grandes empresas. Quando são poucas, e poderosas, e com muitos laços políticos, a tendência é a distribuição organizada dos contratos, o que por sua vez reduz a concorrência pública a um simulacro, e permite elevar radicalmente o custo dos grandes contratos. Os lucros assim adquiridos permitirão financiar a campanha seguinte.

Se juntarmos o crescimento do custo das campanhas, os custos do sobre-faturamento das obras, e sobre tudo o custo da deformação das grandes opções de uso dos recursos públicos, estamos falando em muitas dezenas de bilhões de reais. Pior: corrói o processo democrático, ao gerar uma perda de confiança popular nos processos democráticos em geral.

Não
que não devam ser veiculados os interesses de diversos agentes econômicos. Mas para a isto existem as associações de classe e diversas formas de articulação. A FIESP, por exemplo, articula os interesses da classe industrial do Estado de São Paulo, e é poderosa. É a forma correta de exercer a sua função, de canalizar interesses privados. O voto deve representar cidadãos. Quando se deforma o processo eleitoral através de grandes somas de dinheiro, é o processo democrático que é deformado.

A moral da história é simples. Comprar votos é ilegal. Vincular o candidato com dinheiro não é ilegal. Já comprar o voto do candidato eleito é de novo ilegal. A conclusão é óbvia: vincula-se os interesses do candidato à empresa, o que é legal, e tem-se por atacado quatro anos de votação do candidato já eleito, sem precisar seduzi-lo a cada mês [7]. O absurdo não é inevitável. Na França, a totalidade dos gastos pelo conjunto dos 10 candidatos à presidência em 2012 foi de 74,2 milhões de euros. [8]

A grande corrupção gera a sua própria legalidade. Já escrevia Rousseau, no seu Contrato Social, em 1762, texto que hoje cumpre 250 anos: “O mais forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o dono, se não transformar a sua força em direito e a obediência em dever” [9]. Em 1997, transformou-se o poder financeiro em direito. O direito de influenciar as leis, às quais seremos todos submetidos. Ético mesmo, é reformular o sistema, e acompanhar os países que evoluíram para regras do jogo mais inteligentes, e limitaram drasticamente o financiamento corporativo das campanhas.

(*) Ladislau Dowbor, economista, é professor da PUC de São Paulo, e consultor de várias agências das NNUU. http://dowbor.org

NOTAS
[1] “A ideia que numa democracia você deveria poder trocar a sua riqueza por maior influência sobre o que faz o governo é simplesmente errada” – Lawrence Lessig – Republic Lost: how money corrupts congress – and a plan to stop it – Twelve, New York, 2011, p. 313
[2] “Os vícios não pertencem tanto ao homem, quanto ao homem mal governado” – J.J. Rousseau, Narcisse
[3] Ver dados completos em The Economist, Of Mud and Money, September 8th 2012, p. 61; Sobre esta decisão da corte suprema americana, Hazel Henderson produziu uma excelente análise intitulada “Temos o melhor congresso que o dinheiro pode comprar” (We have the best congress money can buy).
[4] Robert W.McChesney e John Nichols – Et les spots politiques ont envahi les écrans – Le Monde Diplomatique, Manière de Voir, n. 125, Où va l’Amérique, Octobre-Novembre 2012, p. 62 – A liberação do financiamento corporativo das campanhas eleitorais foi conseguida pelo lobby conservador Citizens United, junto à Corte Suprema dos Estados Unidos, em 21 de janeiro de 2010, em nome da “liberdade de expressão”.
[5] O financiamento está baseado na Lei 9504, de 1997 "As doações podem ser provenientes de recursos próprios (do candidato); de pessoas físicas, com limite de 10% do valor que declarou de patrimônio no ano anterior no Imposto de Renda; e de pessoas jurídicas, com limite de 2%, correspondente [à declaração] ao ano anterior", explicou o juiz Marco Antonio Martin Vargas, assessor da Presidência do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo.” – Revista Exame, 08/06/2010, Elaine Patricia da Cruz, Entenda o financiamento de campanha no Brasil.
[6] “Pouquíssimos candidatos conseguem se eleger com pouco ou nenhum dinheiro”, comenta Mancuso, que coordena o projeto de pesquisa Poder econômico na política: a influência de financiadores eleitorais sobre a atuação parlamentar. Ver
em Bruna Romão, Agência USP.
[7] No plano propositivo, há um excelente trabalho de Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade de Harvard, Republic Lost: how money corrupts Congress and a plan to stop it, Twelve, New York 2011, em particular p. 266 e seguintes.
[8] Le Monde Diplomatique, Manière de Voir, Où va l’Amérique, Octobre-Novembre 2012, p.11
[9] “Le plus fort n’est jamais assez fort pour être toujours le maître, s’il ne transforme sa force en droit et l’obéissance en devoir”. Du Contrat Social, 1762. “Maître” em francês é muito mais forte do que “mestre” em português, implica força, controle.
 

Brasil: SERRA PERDE A CABEÇA E CHAMA JORNALISTA DE “SEM VERGONHA”

 

Pragmatismo Político
 
Ao ser questionado sobre seu programa de governo, Serra devolveu pergunta a repórter: “para qual jornal você trabalha?”. Não é a primeira vez que Serra faz essa pergunta a um jornalista durante uma coletiva de imprensa. Ele costuma ter essa postura quando é questionado de forma mais incisiva
 
O candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra, se irritou nesta sexta-feira com uma questão de um repórter sobre seu programa de governo. Durante visita ao bairro da Mooca, onde passou a infância, Serra se desentendeu com um repórter da Rede Brasil Atual e chegou a chamá-lo de “sem vergonha”.
 
Durante coletiva de imprensa, o candidato do PSDB anunciou que pretendia criar “o sistema municipal de ensino técnico” para dar uma “chance” a crianças de “famílias humildes”. Mas admitiu que esta era uma ideia que lhe veio à cabeça no momento da entrevista. “Como administrador público (…) nós vamos criar o sistema municipal de ensino técnico e profissionalizante. Para aumentar em dezenas de milhares os alunos de ensino técnico e profissionalizante. Esta é uma chance imensa para crianças de famílias mais humildes. Essa é a minha ideia. É o que me veio agora há cabeça vindo aqui à Mooca, me lembrando a minha infância e a juventude”, disse.
 
Após o comentário do candidato, o repórter da Rede Brasil Atual questionou Serra sobre a proposta: “Veio a cabeça agora ou está no seu plano de governo?”, perguntou. O candidato, então, quis saber o veículo no qual o jornalista trabalha. “De qual veículo você é?“, retrucou. Como o repórter não quis se identificar, Serra ameaçou deixar a coletiva. Mas parou para ouvir a pergunta de outros profissionais na sequência, sem ainda responder o primeiro jornalista.
 
Ao final da entrevista, enquanto Serra se dirigia ao carro da campanha, o mesmo repórter da Rede Brasil Atual voltou a questionar o candidato. “Por que você só responde perguntas favoráveis?”, disse. Foi então que o tucano xingou o profissional. “Não, eu não respondo pergunta de sem vergonha“, afirmou.
 
Depois da confusão, Serra foi a uma padaria da região e comentou a discussão com outro repórter. “Eu não tenho direito de saber de qual veículo ele é?”, questionou. Não é a primeira vez que Serra faz essa pergunta a um jornalista durante uma coletiva de imprensa. Ele costuma ter essa postura quando é questionado de forma mais incisiva.
 
Antes disso, um repórter do CQC, programa humorístico da Rede Bandeirantes, também voltou a falar sobre programa de governo. “Que solução você tem para resolver o problema do trânsito em São Paulo se nem programa de governo você apresentou?”. “Eu apresentei o programa de governo”, disse antes de complementar. “Está na televisão, no rádio, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE)”, afirmou em referência às notícias sobre suas propostas que são publicadas na imprensa diariamente.
 
O documento mencionado pelo tucano, cujo registro no TRE é obrigatório, tem dez páginas. Em boa parte do texto, a campanha ataca candidaturas de adversários. Na outra metade há um resumo de algumas propostas e ideias, sem especificar detalhes e custos.
 
Agências
 

TIMOR-LESTE QUER SAIR DA AGENDA DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU

 

PDF - Lusa
 
Nações Unidas, Nova Iorque, 30 set (Lusa) - Timor-Leste quer sair o mais rápido possível da agenda do Conselho de Segurança, que dá uma imagem de instabilidade ao país, afirmou à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros.
 
"Não queremos mais que Timor-leste seja inscrito na agenda do Conselho de Segurança, esse é ponto base da nossa posição", disse o ministro José Luís Guterres, na conclusão da participação timorense no debate anual da Assembleia Geral da ONU.
 
O primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, disse este mês que o país pretende ter uma relação inovadora com as Nações Unidas após o fim do mandato da Missão Integrada da ONU (UNMIT) no país, previsto para 31 de dezembro, excluindo a presença de qualquer tipo de missão daquela organização no país, depois dessa data.
 
Na sua intervenção na Assembleia Geral, terça-feira, exprimiu a "gratidão" do povo de Timor-Leste pelo apoio da comunidade internacional à construção do Estado timorense, sublinhando que o país está agora "pronto para liderar" o seu próprio desenvolvimento.
 
Perante as provas de "maturidade" do povo timorense, depositando "confiança nos líderes eleitos e instituições estatais", "mais do que nunca" o país está "pronto para liderar" o processo de desenvolvimento, disse Xanana.
 
Guterres sublinha que a presença das agências da ONU manter-se-á e "será sempre bem-vinda", mas a inscrição do país na agenda do Conselho de Segurança "dá uma imagem de um Timor-Leste sempre em conflito, de que não e estável, o que não é verdade".
 
"A realidade desde há algum tempo é que há estabilidade completa. Fizemos reformas no setor de segurança e defesa, fizemos investimentos no capital humano e muitos investimentos na área social, de maneira que hoje há paz em Timor-Leste", disse à Lusa.
 
"Queremos focar-nos no desenvolvimento construção de infraestruturas e atração de investimento estrangeiro. E não se pode atrair investimento estrangeiro quando a imagem do país no mundo continua a ser de pais instável ou em perigo de instabilidade", adiantou.
 
As formas de envolvimento futuras da ONU no país competirá ao secretário geral Ban Ki-moon decidir, refere o ministro timorense.
 
Durante a participação no debate da Assembleia-geral, Xanana manteve encontros bilaterais com a Presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf, e com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, que em agosto realizou uma visita a Timor-Leste.
 
José Luís Guterres participou numa reunião ministerial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para discutir a situação na Guiné-Bissau e preparar a liderança de Timor-Leste da organização, prevista para 2014.
 

Guiné-Bissau: "Voz do povo guineense foi silenciada na ONU" - Timor-Leste

 

PDF - Lusa
 
Nações Unidas, Nova Iorque, 30 set (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, José Luís Guterres, afirmou à Lusa que a suspensão da intervenção do presidente deposto da Guiné-Bissau no debate da Assembleia Geral da ONU "silenciou a voz do povo guineense" no plenário internacional.
 
"Foi silenciada a voz do povo da Guiné-Bissau na ONU. É uma situação que não devemos permitir", disse Guterres, em declarações à Lusa no final de uma semana diplomática intensa na ONU, em que na sexta-feira, após queixa da CEDEAO, o presidente deposto Raimundo Pereira viu suspensa a sua intervenção.
 
CPLP e CEDEAO têm estado divididas sobretudo em relação ao reconhecimento do governo saído do golpe de Estado militar em abril, que o bloco lusófono rejeita, trabalhando apenas com o executivo deposto de Carlos Gomes Júnior.
 
A queixa da CEDEAO, sob pretexto de que a intervenção aumentaria a instabilidade na Guiné-Bissau, está a ser apreciada pelo comité de credenciais da Assembleia-Geral, que deverá fazer uma recomendação ao presidente o plenário, o sérvio Vuk Jeremic, sobre se Pereira pode ou não intervir no debate anual.
 
Jeremic terá depois de submeter a decisão a votação pela Assembleia-Geral, adiantou o diplomata, sendo difícil que tal venha a acontecer até à conclusão do debate anual, na segunda-feira.
 
Para Guterres, é "profundamente lamentável que presidente da Assembleia Geral não tenha dado voz a representante legitimo do povo da Guiné-Bissau".
 
"O nosso desejo é que se encontre rapidamente uma solução para que a voz [da Guiné-Bissau] seja restabelecida aqui na ONU", adiantou o ministro.
Raimundo Pereira afirmou sábado à Lusa que a credenciação da sua delegação para representar o país na Assembleia Geral da ONU foi uma "vitória", por ter sido recebido pelo Secretariado da ONU e a comitiva do presidente de facto, Serifo Nhamadjo, não ter sido creditada, apesar dos esforços da comunidade regional.
 
José Luís Guterres sublinha que ONU e CPLP continuam a reconhecer como representante legítimo do povo guineense o executivo de Gomes Júnior, eleito em eleições "livres e transparentes".
 
É necessária uma solução rápida para "repor a legalidade constitucional" no país, afirma o chefe da diplomacia timorense, cujo país conhece o tipo de "instabilidade" que afeta a Guiné.
 
"É a nossa experiência própria e falamos com o coração nas mãos quando olhamos para o povo das Guiné que continua a sofrer", disse à Lusa.
 
Isto, refere, "quando há muitas possibilidades para o país ser desenvolvido", dados os recursos naturais e recursos humanos de que dispõe.
 
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique afirma que a comunidade da África Ocidental (CEDEAO) apenas "defendeu a sua dama" minando na ONU o governo deposto da Guiné-Bissau, e que dos contactos entre os dois blocos sai uma "dinâmica" positiva.
 
Já sobre o argumento apresentado pela CEDEAO de que uma intervenção do governo deposto na Assembleia Geral elevaria as tensões em Bissau, o ministro Oldemiro Balói afirma que é "sensível e eventualmente pouco prudente" de ser utilizado.
 

José Maria Neves cria "tabu" em relação à sua manutenção como líder do PAICV

 

JSD/CLI - Lusa
 
Cidade da Praia, 30 set (Lusa) - O presidente do PAICV escusou-se hoje a falar sobre se irá recandidatar-se à liderança do partido que comanda desde 2001, nas eleições diretas que se realizarão até ao final deste ano.
 
José Maria Neves falava aos jornalistas antes da sessão de encerramento dos três dias de trabalhos da Conferência Nacional que o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, no poder também desde 2001) organizou na Cidade da Praia.
 
O líder do PAICV, igualmente primeiro-ministro há 11 anos, sublinhou que, enquanto presidente do partido, vai ser "árbitro" na contenda, defendendo o surgimento de candidatos para que haja debate de ideias e uma remodelação na cúpula partidária.
 
"No momento certo haverá a disputa da liderança. Esperemos que haja várias candidaturas. Eu, enquanto presidente do PAICV, vou ser árbitro desse processo e não vou tomar partido nesse debate ou nessa disputa, que terá regras claras", sublinhou.
 
"[Uma eventual recandidatura] vai depender das discussões que vamos fazer para que eu deixe a liderança do partido. Vai ser um processo normal. Mas vou fazer tudo para se governar com estabilidade até 2016, para que se cumpra o Programa do Governo", acrescentou.
 
Sobre os resultados da conferência, José Maria Neves dividiu-os em dois segmentos, o partidário e o governamental, salientando que "todas as recomendações" serão tidas em conta, quer dentro do PAICV, quer dentro do executivo.
 
Ainda no plano partidário, o presidente do PAICV salientou que, aos debates da Cidade da Praia, seguir-se-ão outros, em cada uma das nove ilhas, para que o partido possa sair reforçado, já com uma nova liderança, no Congresso do primeiro trimestre de 2013.
 
"Vamos ser consequentes, todas as recomendações serão adotadas como princípios. Vamos continuar o debate nas ilhas, para construir novas soluções para acelerar o ritmo de transformação de Cabo Verde, para mais crescimento, mais emprego, mais riqueza e mais rendimentos para as pessoas", sustentou.
 
"Há recomendações que levam ao reforço das estruturas do partido, a um maior diálogo entre as estruturas do partido, o Governo, o Grupo Parlamentar e as autarquias locais, intensificar as relações entre o partidos e a sociedade e transformar o PAICV numa escola de cidadania", acrescentou.
 
Na esfera governamental, José Maria Neves pediu que se acelerem as reformas em curso - "há alguma lentidão em relação a algumas delas" -, que levem o país a dar "um salto qualitativo" no desenvolvimento.
 
"Haverá rigor e transparência no exercício das funções públicas e combateremos o 'amiguismo' e o nepotismo, o 'job for the boys' ou o 'job for the girls'. Onde houver deficiências ou desvios, estarei lá para tomar decisões necessárias", frisou.
 
José Maria Neves, lembrando os efeitos nefastos que a crise económica internacional tem estado a provocar no arquipélago, defendeu que Cabo Verde tem conseguido "aguentar" uma taxa de desemprego (12,2 por cento em fins de 2011), quando comparado com outros países.
 
Nesse sentido, sublinhou que o seu executivo está a envidar todos os esforços para criar mais postos de trabalho, ao mesmo tempo que pretende aumentar a competitividade e combater a pobreza e a crescente insegurança no país.
 

EUA: SANTA IGNORÂNCIA

 

José Inácio Werneck*, Bristol - Direto da Redação
 
Bristol (EUA) - Amigos, rola na Internet um vídeo de Bill Nye, conhecido durante muitos anos como “The Science Guy” por causa de um programa de televisão que fazia, com um apelo patético aos pais americanos: “Precisaremos de seus filhos no futuro. Por favor, não os ensinem a duvidar da evolução”.
 
O apelo é dirigido principalmente aos evangélicos e sua crescente e perniciosa influência. Os evangélicos sustentam que o mundo foi criado há cerca de seis mil anos, precisamente como está na Bíblia, com Adão e Eva passeando no Paraíso em companhia dos animais feitos por Deus, entre eles os dinossauros.
 
É mais ou menos uma crença nos moldes daquela história em quadrinhos, Brucutu, em que nosso herói cavalgava seu fiel dinossauro (como era mesmo o nome dele, Dino?) e namorava a simpática Ula.
 
Mas, pasmem, 46 % de americanos acreditam que o mundo surgiu mesmo como está na Bíblia. Deus fez Adão, tirou sua costela, fez Eva, Noé levou os bichos para a Arca (os dinossauros ao que parece chegaram atrasados para o embarque), etc. Esta história de que o Universo surgiu há 14 bilhões de anos, que a Terra apareceu há 4,5 bilhões de anos, toda a evidência fóssil e geológica de que estamos cercados, a evolução das espécies segundo Charles Darwin - tudo isto, para os evangélicos é mentira, para não dizer pecado.
 
Ora, o que preocupa Bill Nye é que tal ignorância acabe prejudicando o futuro dos Estados Unidos como uma nação que progrediu e progride por causa da qualidade de seu ensino, de suas universidades, de sua ciência, de suas inovações tecnológicas. Num momento em que países como a China, a Índia, o Japão e a Rússia investem no campo científico, Bill Nye teme que novas gerações de americanos mergulhem nas trevas da ignorância.
 
Seu medo é bem fundado. Hoje a maioria dos mais brilhantes alunos de universidades americanas vem do exterior, sobretudo da Ásia. Alguns ficam nos Estados Unidos, depois de se formarem, mas a maioria volta para seus países de origem.
 
Nos Estados Unidos, enquanto isto, a influência evangélica tem levado um crescente número de políticos e administradores escolares a introduzirem no currículo estudantil a tese do “Criacionismo”, a teoria de que o mundo foi feito ao pé da letra como populações primitivas escreveram ou narraram oralmente há três mil anos ou por aí e nos chegou em traduções em cima de traduções.
 
Contra todos os avanços da ciência, os evangélicos invocam “a palavra de Deus”. Construíram recentemente o “Creation Museum”, em Kentucky, onde ensinam tudo de acordo com o Velho Testamento.
 
Só bradando, como Castro Alves: “Deus, ó Deus, onde estás que não respondes”?
 
* É jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut. Trabalha na ESPN e na Gazeta Esportiva.
 

Alemanha: Ministro alerta para disseminação de ideologia neonazista no Leste alemão

 

Deutsche Welle
 
Ministro do Interior da Alemanha demonstra preocupação com disseminação de ideologias neonazistas no Leste alemão, mas vê com ceticismo proibição de partido de extrema direita.
 
"Estou preocupado que em algumas regiões do Leste da Alemanha os neonazistas marcam presença e se infiltram propositalmente na sociedade civil para atingir suas metas. Não deveríamos permitir que isso aconteça", afirmou o ministro alemão do Interior, Hans-Peter Friedrich, ao jornal berlinense Der Tagesspiegel.
 
O ministro chamou também a atenção para o fato de que a Alemanha, como país que vive de exportações, não possa de forma alguma se apresentar como nação xenófoba. "Se queremos vender nossas mercadorias em todos os lugares do mundo, temos também que nos mostrar abertos aos que se interessam pelo nosso país", salientou Friedrich. Especialmente no Leste alemão, lembrou o ministro, o êxodo da população é notável, o que faz com que haja uma grande demanda de força de trabalho estrangeira.
 
"NPD em decadência"
 
Friedrich, por outro lado, confirmou em entrevista ao jornal berlinense sua postura de ceticismo frente a um novo requerimento de proibição do partido de extrema direita NPD perante o Tribunal Constitucional Federal. "O NPD é um partido totalitário, avesso aos princípios constitucionais, que não tem absolutamente nada a ver com a nossa democracia. Mas a postura de um partido não basta para proibi-lo", explicou o ministro da conservadora União Social Cristã (CSU).
 
Friedrich sugeriu, inclusive, que o NPD possa sair fortalecido de um novo confronto em nível jurídico visando sua proibição. Os últimos resultados eleitorais, alertou o ministro, demonstraram que o NPD está "em plena decadência".
 
Friedrich vê também como problemática, no caso de um novo processo para a proibição do partido de extrema direita, a conduta frente aos informantes das autoridades de segurança dentro do NPD: "Nós nos encontramos em um dilema: de um lado, ficamos sabendo através dos informantes o que o NPD de fato pensa e quer. Por outro lado, não podemos utilizar este material porque não podemos dizer perante o tribunal os nomes verdadeiros destes informantes".
 
Mesmo assim, Friedrich rejeita a ideia de publicação aberta dos nomes dos informantes. Pois com isso, acredita o ministro, "todo o sistema de informantes das autoridades de segurança perderia sua função. E precisamos destes informantes, sobretudo no combate ao extremismo", argumentou o ministro.
 
Em 2003, um processo de proibição do NPD na Alemanha acabou fracassando em função da problemática que envolve os informantes dos serviços secretos. As provas da inconstitucionalidade do partido vinham em parte dos informantes, que são, ao mesmo tempo, membros do NPD. Os juízes responsáveis pelo caso viram aí um conflito de interesses dos informantes e revidaram, por isso, o pedido de proibição do partido.
 
Novo dossiê sobre o NPD
 
Além do Partido Social Democrata (SPD), diversos políticos da União Democrata Cristã (CDU), nas esferas federal e estadual, defendem um novo requerimento de proibição do NPD. Segundo informações divulgadas pela mídia, o serviço de proteção à Constituição reuniu, em um novo dossiê, mais de 3 mil provas da inconstitucionalidade do partido.
 
O ministro do Interior, bem como os secretários estaduais da pasta, irão se reunir no dia 5 de dezembro, a fim de avaliar este material e tomar uma nova decisão a respeito de um possível novo processo para proibir o NPD.
 
SV/dpa/afp/dapd/rtr - Revisão: Roselaine Wandscheer
 

Espanha: PEDRO ALMODÓVAR CRITICA GOVERNO RAJOY POR REPRESSÃO A MANIFESTANTES

 


João Novaes – Opera Mundi – foto efe
 
Diretor afirma que, mesmo que muitos espanhóis como ele não tivessem protestado, a maioria está descontente com o governo
 
O cineasta espanhol Pedro Almodóvar escreveu um artigo nesta sexta-feira (28/09) ao jornal El País em que fez duras críticas ao governo de seu país, comandado pelo conservador Mariano Rajoy. O principal ponto de críticas foi a repressão aos manifestantes que tentaram cercaram o Congresso de Deputados, em Madri, na última terça-feira (25).
 
No texto “Realidade e Narração”, Almodóvar ironizou a declaração do presidente de governo que, no dia seguinte à tumultuada manifestação, elogiou a “imensa maioria dos espanhóis que não se manifestaram”.
 
“Sr. Rajoy, eu sou parte dessa maioria silenciosa que não se manifestou no dia 25 de setembro, e peço que não tergiverse e muito menos se aproprie de meu silêncio. O fato de não estar presente fisicamente na Praça Netuno não significa que eu não me indigne ante a violência policial, a desmedida reação da delegada de governo (de Madri, Cristina Cifuentes), a manipulação da TV estatal pelas imagens do ocorrido, a petulância dos policiais que se negaram a se identificar na estação (de metrô) de Atocha e intimidaram os passageiros – nenhum deles estava protestando no Congresso, enquanto proibiam alguns fotógrafos de trabalhar”, protestou o diretor.
 
Segundo ele, muitos dos madrilenhos que preferiram não protestar também estão contra o governo, já que este foi eleito por “fatalidades” e por uma lista eleitoral fechada.
 
Para ele, a imprensa manipulou as informações para favorecer a versão do governo, mas muitos dos manifestantes que conseguriam gravar os abusos por meios das novas tecnologias “(benditas sejam elas agora)”, trabalho o qual classifica semelhante ao dos repórteres de guerra.
 
Os protestos
 
Os manifestantes, chamados de “indignados” pedem o fim da adoção das medidas de austeridade fiscal, principalmente os cortes na saúde, educação e auxílio-desemprego, e a convocação de novas eleições.
 
Na ocasião, 64 pessoas ficaram feridas e 35 foram presas, com a ocorrência de vários casos de abuso policial. Rajoy, que estava em Nova York, defendeu a repressão e cumprimentou o que ele classificou de “maioria que não se manifesta”: “Trata-se da maioria das 47 milhões de pessoas que vivem na Espanha. (...) Essa imensa maioria dos espanhóis está trabalhando, fazendo o que pode e dando o melhor de si”. Na quinta-feira, o governo apresentou seu orçamento e um novo plano de reformas.
 
O governo de Madri, que já obteve uma promessa de empréstimo de seus sócios europeus de até 100 bilhões de euros para sanear seu bancos, tem o objetivo de reduzir seu déficit público a 2,8% do PIB em 2014, frente a 8,9% em 2011.
 
Neste sábado, os manifestantes se reuniram uma vez mais na praça Neutno. Além das reivindicações anteriores, eles pedem a libertação dos ativistas que foram presos.
 
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Madrid: POLICIAIS AGRIDEM GARÇOM ESPANHOL QUE PROTEGEU MANIFESTANTES

 


Opera Mundi, São Paulo – foto WorldRiots24h/Divulgação
 
Alberto Casillas não deixou a polícia entrar no restaurante para deter ou dispersar as muitas pessoas que ali se refugiaram
 
Alberto Casillas, o garçom espanhol que protegeu manifestantes dentro de seu restaurante e tornou-se um símbolo nacional da oposição ao governo de Mariano Rajoy, foi agredido por policiais durante protestos em Madri, neste sábado (29/09). As informações são da World Riots 24h, comunidade internacional que monitora e registra casos de repressão a manifestantes.
 
Na terça-feira (25/09), Alberto Casillas serviu de escudo humano para proteger os manifestantes e virou um símbolo instantâneo do movimento 25S. Ele não deixou a polícia entrar no estabelecimento para deter ou dispersar as muitas pessoas que ali se refugiaram. Casado, pai de dois filhos, Villa trabalha no Restaurante Prado, parte do hotel Vincci Soho, no centro de Madri, perto do epicentro da manifestação.
 
Sua atitude virou destaque nos principais jornais espanhóis e foi "trending topic" no Twitter. "Não sou herói, foi um ato humano e qualquer cidadão teria feito o mesmo", disse à imprensa espanhola. "Ouvi um dos agentes dizer que ia entrar para 'identificar' as pessoas. Disse-lhe que ali não entravam, porque só tinha gente inocente. Eu estava com muito medo, porque caso eles entrassem, poderia ser um banho de sangue", afirmou.
 
Durante a meia hora de tensão, algumas pessoas que estavam no outro lado da rua começaram a atirar pedras contra a polícia e uma delas acabou acertando o braço de Casillas. O garçom pediu para que parassem imediatamente, como é possível ver no vídeo. "A ação policial foi desmedida. Havia mulheres feridas. Reconheço que votei no PP [Partido Popular], mas não concordo com isso, com um governo que se esconde atrás das pistolas", desabafou.
 
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Portugal: OS PRIMEIROS 35 DIAS DO GOVERNO DE ANTÓNIO BORGES

 


Paulo Gaião – Expresso, opinião, em Blogues
 
Nem é Passos, nem Cavaco quem governa. Há 35 dias que António Borges tomou conta do país.
 
Em 23 de Agosto, lançou a ideia da concessão da RTP a privados. Não se falou de outra coisa nos quinze dias seguintes.
 
Em 7 de Setembro, Passos fez de ventríloquo de Borges e anunciou o aumento da TSU para os trabalhadores e a diminuição para as empresas. Na verdade, foi um "mix" feito à medida do ex- homem da Goldman Sachs e ex- FMI. Reduzia-se o salário dos trabalhadores e tornavam-se as empresas mais competitivas através da redução do custo do trabalho, tal como Borges sempre defendeu. Não se falou de outra coisa até a medida dar origem às maiores manifestações de sempre desde o 1º de Maio de 1974 e da Fonte Luminosa e a medida cair (para não cair o governo).
 
Em 21 de Setembro, António José Seguro desafiou Passos Coelho a dizer se ia privatizar a Caixa Geral de Depósitos. Passos não conseguiu dizer que não ia privatizar.
 
António Borges foi pioneiro na defesa da privatização do banco do Estado há cinco anos, causando então forte polémica. Na altura estava praticamente isolado. Hoje há cada vez mais vozes que defendem a privatização da CGD. Não se falou de outra coisa na última semana.
 
O perigo de a CGD ser privatizada levou Seguro a ter o desempenho mais encarniçado desde que chegou à liderança, avisando Passos, olhos nos olhos, que se trata de uma luta de vida ou de morte.
 
Muitos defendem mesmo que se referende a questão, como se fez com a regionalização e o aborto.
 
Que próxima medida tem Borges na calha?
 
Será que vamos chegar aos cem dias do seu governo?
 
PS
 
Os benfiquistas acordaram
 
O Acordai de Fernando Lopes Graça na manifestação de 15 de Setembro deve ter influenciado os benfiquistas a acordarem também e chumbarem o relatório e contas do clube na Assembleia Geral da noite de ontem. Chega de jogadas de Luís Filipe Vieira contra o FC Porto e Sporting para disfarçar a má gestão interna e a falta de resultados desportivos. Chega do Disney Benfica com as cabeçadas de Luisão e a equipa inteira, técnicos e dirigentes deitados no chão a rir. Agora é preciso que surja um candidato forte capaz de derrotar Vieira nas eleições de 27 de Outubro.
 
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Encontro com Cavaco - PS diz que reunião com chefias militares é importante

 


Lusa, publicado por Graciosa Silva em Diário de Notícias
 
O deputado socialista Marcos Perestrello considerou hoje que a reunião de segunda-feira, entre o Presidente da República e os chefes militares, "é importante" pelos "sinais preocupantes" de "mal-estar, no seio das Forças Armadas".
 
"O Presidente da República é o Comandante Supremo das forças Armadas e, perante os sinais que eu diria preocupantes que têm vindo a púbico de algum mal-estar no seio das Forças Armadas, esta reunião é importante e até já peca por ser tardia", declarou à agência Lusa o antigo secretário de Estado da Defesa do PS.
 
Perestrello frisou que "é importante que alguém se preocupe em compreender o que se está a passar" na instituição militar.
 
"Têm vindo a público sinais que devem chamar à atenção dos responsáveis militares e políticos", considerou.
 
O dirigente do PS fez também um comentário às declarações proferidas pelo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Luís Araújo, que há alguns dias afirmou que os militares estão "atentos" à situação do país e não são "submissos".
 
"Um dos papéis mais importantes de qualquer chefe militar é compreender e saber interpretar o sentimento dos militares, e é a essa luz que devemos ler essas declarações. Um chefe militar não pode deixar a outros e a outras organizações que falem pela sua instituição", defendeu.
 
O Presidente da República, Cavaco Silva, recebe na segunda-feira, às 12:45, os quatros chefes militares no Palácio de Belém.
 
Entretanto, na sexta-feira, o Conselho de chefes de Estado-Maior emitiu um comunicado no qual rejeitava as afirmações públicas "irresponsáveis" proferidas nos últimos dias "por entidades exteriores à cadeia de comando das Forças Armadas".
 
Os quatros generais disseram não aceitar "quaisquer interferências" em matérias "da sua responsabilidade direta e exclusiva".
 
- Foto Orlando Almeida/Global Imagens
 

Portugal: BORGES, O AUTO-ADMIRADOR

 

 
Paulo Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
 
O consultor do Governo para as privatizações, António Borges, chamou ontem "ignorantes" aos empresários que se atreveram a criticar a famigerada taxa social única (TSU). O primeiro-ministro já tinha dito que a medida fora mal entendidada e desvirtuada pelos empresários. Ontem, no Algarve, certamente embalado pela anterior consideração de Passos Coelho, Borges ultrapassou os limites da decência, da boa educação e da racionalidade política.
 
"Que a medida [TSU] é extremamente inteligente, acho que é. Que os empresários que se apresentaram contra a medida são completamente ignorantes, não passariam do primeiro ano do meu curso na faculdade, isso não tenham dúvidas", afirmou o consultor perante uma plateia com 300 empresários, economistas e políticos de Portugal, Brasil, Angola, Índia, Emirados Árabes Unidos e Moçambique.
 
Há sempre a possibilidade de o sol algarvio ter batido com inusitada força na moleirinha de António Borges, provocando-lhe um passageiro curto-circuito nos neurónios. É a hipótese mais benevolente que encontro para que um avençado do Governo maltrate em público e com tamanho despudor os empresários portugueses, exatamente os mesmos a quem o Governo endereça declarações de amor quando usa o aumento das exportações como exemplo da infinita capacidade e resiliência, como agora se diz, do nosso tecido empresarial.
 
António Borges faz lembrar o trágico Narciso. É fácil imaginá-lo a contemplar a sua beleza (intelectual, no caso) frente ao espelho, enquanto se escanhoa vagorosamente. Como Narciso, Borges há de achar-se incomparável, semelhante a um deus, incompreendido pelo comum dos mortais, (quase) todos incapazes de o acompanhar nos frenéticos exercícios intelectuais que o distinguem.
 
Sabemos todos como acabou a figura da mitologia: encantado pela sua própria beleza, deitou-se no banco do rio e definhou até morrer enquanto mirava o seu reflexo. As ninfas construíram-lhe uma pira, mas, quando foram buscar o corpo, apenas encontraram uma flor no seu lugar: chamaram-lhe narciso.
 
As centenas de milhares de pessoas que têm vindo para a rua protestar também entram, por maioria de razão, na galeria dos "ignorantes" criada por Borges, porque é contra a TSU e medidas de impacto semelhante nas suas vidas que gritam. O povo, essa massa informe que não sabe governar-se nem se deixa governar, sempre atrapalhou os superiores desígnios dos infalíveis. Uma chatice.
 
Não imagino o que fará Passos a Borges depois deste episódio. Afastá-lo, já, do cargo é a única medida higiénica que vislumbro. Continuar a pagar-lhe 25 mil euros por mês será um insulto atirado à cara dos empresários e de todos os que sofrem com a crise.
 
Relacionados em Jornal de Notícias
 

Trabalho de António Borges no Goldman Sachs é um mistério, diz jornalista

 


Expresso - 2 de junho de 2012 – reposição em Página Global

O jornalista do "Le Monde" Marc Roche estabelece um paralelo entre as políticas de austeridade na Europa e a presença de "veteranos" do Goldman Sachs na política europeia

Marc Roche, jornalista do "Le Monde" e autor do livro "O Banco - Como o Goldman Sachs dirige o mundo", disse à Lusa que o português António Borges é um "mistério", tal como outros antigos "veteranos" da instituição.

O autor do livro publicado em Portugal esta semana disse que a doutrina financeira anglo-saxónica liderada pelo banco norte-americano Goldman Sachs está atualmente colocada nos bastidores do poder na Europa o que põe em causa a regulação em nome do lucro, e estabelece um paralelo entre as políticas de austeridade na Europa e a presença de "veteranos" do Goldman Sachs na política europeia.

"Em novembro de 2011, o Fundo Monetário Internacional anunciou a demissão do diretor do seu departamento europeu, o português António Borges, por 'razões pessoais'. António Borges, 63 anos, passou apenas um ano em Washington, em funções que o levaram a supervisionar alguns dos maiores empréstimos da história da instituição: à Grécia e à Irlanda, ambos membros da zona euro. Este economista, presidente no momento do seu recrutamento de uma organização de ética no setor dos fundos especulativos, tinha sido selecionado pelo FMI pelo seu conhecimento dos mercados financeiros", escreve Roche na primeira página do livro.

Grupo de "iluminados"

"Oficiosamente, António Borges, que, no seio do Banco de Portugal na década de 1990, foi um dos arquitetos da criação da moeda única, acabou por ser dispensado do FMI. De facto, esta partida poderia estar ligada ao facto de ele ter sido também durante oito anos (2000-2008) um dos dirigentes do Goldman Sachs International, filial europeia do banco americano", refere o autor.

"Com efeito, o papel do banco americano na maquilhagem das contas gregas em 2002-2003 poderia não ser estranho àquilo que aparece como uma destituição", continua Roche, que refere que a nacionalidade portuguesa do "interessado" jogou contra ele no momento em que a troika, composta pelo FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, dava ajuda em troca de medidas de rigor "draconianas".

Para Marc Roche a "filosofia" Goldman Sachs está presente na política europeia através de um grupo de "iluminados" que são "simultaneamente um grupo de pressão, uma associação de colheita de informações, uma rede de ajuda mútua" eficaz, competente e treinada na instituição norte-americana, apesar de se saber muito pouco sobre o que andaram a fazer no Goldman Sachs os "tecnocratas" que atualmente são protagonistas na Europa.

Bastidores das influências políticas
 
"O que é que eu encontrei sobre esta gente? Muito pouco a não ser que o Goldman Sachs quer esta gente nos bastidores das influências políticas. O que é que eu descobri sobre o senhor Borges? Pouco. Sei que ele esteve no Goldman Sachs mas não sei o que é que ele fez ou em que secção trabalhou. Tal como os outros: Draghi ou Monti", explicou.

"De vez em quando perguntamos 'o que diabo andou a fazer no Goldman Sachs?' mas eles não respondem. A não ser Dragi que disse ter lidado com situações corporativas e que nunca mexeu em assuntos relacionados com dívida soberana dos países. Mas tal como os outros, o senhor Borges é um mistério para mim", disse Roche, autor do livro sobre a influência do Goldman Sachs na Europa.
 

Portugal – MINISTRO GASPAR: NÃO QUER TAXAR O AR QUE RESPIRAMOS?

 


Tiago Mesquita – Expresso, opinião, em Blogues
 
Não era genial? Veja bem, caro ministro. O ar é de todos, certo? E não vivemos (literalmente) sem ele. É um bem comum, dizem. Mas não tem de ser assim. Vamos nacionalizar o 'ar de Portugal', ok? Depois privatizamos a coisa. Vendemos a uma empresa angolana, brasileira ou chinesa. Fale com o seu colega Relvas, vai ver que ele tem logo um contacto interessado. Nestas coisas de vender ar e vento ele é especialista.
 
Se pagamos a água, a luz, o gás, a televisão, a gasolina e quase tudo o resto a preço de ouro, pagamos os dislates e incompetências de governos, os bancos privados que aldrabões levam ao charco, as milhentas autoestradas (Portugal é uma espécie de pista de F1 da Europa) para enriquecer construtoras que contratam ex-governantes e a seguir pagamos para meia dúzia de concessionarias encherem os bolsos (onde trabalham ex-governantes), as PPP escandalosas que deviam levar muitos à cadeia, pagamos submarinos, helicópteros e tanques que nem existem. Por que motivo não tributa V. Exa. o ar que respiramos? "Quer respirar? Tem de pagar". Quanto mais respirar mais paga. É o princípio do utilizador-pagador. Se parar de respirar faz-se o acerto. Se o cidadão estiver ao abrigo de respiração assistida tem de preencher um formulário a pedir escusa.
 
A ideia é a seguinte: à imagem daquela empresa, a JP qualquer coisa, que fez aquelas preciosidades tecnológicas que os miúdos venezuelanos e panamianos ainda usam: os 'Magalhães' ( só um minuto, vou parar para me rir um bocadinho...). Bem, continuando, a ideia é contratar uma empresa de um amigalhaço qualquer (adjudicação direta, entenda-se) e começar a fabricar um aparelho medidor dos consumos de ar atmosférico que a pessoa faz ao longo do mês. Aplica-se o chip no cidadão/consumidor (mediante o pagamento de uma taxa de instalação - 45€) e a pessoa fica obrigada a ligar para uma linha de apoio (paga, obviamente, sugiro 0,60€ + IVA) a dar a leitura todos os meses. Quanto mais arzinho entrar nos pulmões mais o Estado enche os cofres e mais atrativa fica a empresa aos olhos dos privados.
 
Tem toda a lógica. Quer melhor bandeira para sinalizar o sufoco generalizado que V. Exa. e o outro senhor de Massamá estão a promover? Acho inclusivamente que há muita gente que respira muito mais do que devia e não paga mais por isso. Normalmente é assim que funciona, os que mais ar têm fazem com que os que mal respiram paguem a factura. Fica a dica.
 
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